O Maioral! Foi chamado assim ainda na infância e fez questão de usar mais que o próprio nome.
Era uma questão de superstição. Onde ele não pudesse usar seu apelido não teria sucesso e acredita cegamente nisso desde que pode se lembrar. Superstição ou não no time que jogava com camisas lisas ele nem fardava, só alcançava água pros companheiros, porém, no time que tinha "Maioral" estampado nas costas ele vestia a 10 com faixa de capitão.
No bairro onde mora desde que nasceu poucos sabem quem é o Cleiton, mas todos sabem qual é a casa do Maioral. Na escola sua mesa era marcada com um "Maioral" talhado na tesoura, apesar de poucas vezes frequentar as aulas. Telefones públicos, muros, portas de banheiros ou o gesso de alguém que tivesse sofrido uma fratura. O Maioral! Sentia raiva por muitos professores, não todos, insistirem em lhe chamar pelo nome de batismo.
Se considerava um artista, porque era muito bom em deixar sua marca. Aos 16 anos começou na construção civil. Obviamente deixava sua marca no cimento fresco e por muitas vezes foi repreendido por reclamações após a obra ser entregue. Por superstição, ele deixou sua marca em toda construção que trabalhou. Fosse atrás de um azulejo, dentro de uma caixa de luz, na tampa da caixa de gordura. A marca sempre estava lá. Algumas vezes foram encontradas, mas em sua grande maioria permanecem intactas. Já não era mais a visibilidade que importava, mas sim, assinar a obra.
Até que surgiu uma grande obra. O presídio da cidade. Cleiton era muito competente apesar da fama de excêntrico. Ele já imaginava as possibilidades. Deixaria apenas uma marca ou uma em cada cela? Não foi surpresa alguma ser contratado, porém o que não esperava era ser vigiado durante todo o período de construção. A cada tijolo que ele colocava os muros ficavam mais altos e a vigilância era constante. Ele não foi ao banheiro sem deixar de ser observado. Não teve uma chance, nem uma brecha. Meses de agonia onde perdeu peso, ânimo, sono e apetite. Quando chegou o dia da entrega ele se viu desesperado, aos prantos e apenas foi embora sem se despedir.
Parecia prever que ali seria o presidio que seu filho morreria assassinado 23 anos depois.
Obrigado pela leitura!
Podemos manter o Inkspired gratuitamente exibindo anúncios para nossos visitantes. Por favor, apoie-nos colocando na lista de permissões ou desativando o AdBlocker (bloqueador de publicidade).
Depois de fazer isso, recarregue o site para continuar usando o Inkspired normalmente.