Talvez para as pessoas que morem no litoral não seja lá grande coisa. Tenho quase certeza que vocês até enjoam da praia e do mar.
Mas veja bem, eu moro a mais de mil metros acima do mar e viajo pra praia a cada três anos no mínimo - o resto das férias passando enfurnada em casa porque não tenho dinheiro nem amigos pra sair e curtir. Então eu sempre amei o mar e a praia, e nenhum outro lugar consegue me deixar tão ansiosa e animada quanto o mar de Santa Catarina.
Não é um Pernambuco ou Ceará da vida, mas aqui no sul talvez seja uma das melhores praias, lugar favorito dos argentinos e uruguaios. Santa Catarina tem algum amor às praias e cuida do saneamento, diferente do meu estado. Tanto que depois que meus pais descobriram Bombinhas, nunca mais quiseram voltar pra Guaratuba ou Matinhos.
Aquela não foi a primeira vez que eu fui pra praia, mas definitivamente foi a vez mais marcante de minha vida, por causa daquele amanhecer que estávamos chegando em Porto Belo - cidade que antecede Bombinhas.
Estava amanhecendo naquele momento depois de viajarmos a madrugada toda, chegando na praia logo pela manhã pra aproveitar o dia inteiro. Acordei com desconforto por dormir com a cara encostada na porta, as estradas esburacadas não ajudando muito. Não podia deitar atrás por causa do meu irmão e o espaço mínimo do Agile 2007 dos meus pais.
Acordei aos poucos conforme o céu clareava e deixávamos a serra, ainda irritada por ficar tanto tempo dentro do carro apertado. Fiquei olhando o mato e caminhões de grãos passarem do lado, a mesma paisagem de quase toda a viagem, sem ter outra forma de entretenimento. Foi quando meu pai me chamou a atenção e disse pra eu olhar pra frente.
Fazia muito tempo que não ia pra praia e nunca fui muito boa de memória pra essas coisas, e deve ter sido por isso que eu fiquei encantada com o nascer do sol. À vários quilômetros estava a cidade de Porto Belo, e logo atrás o mar de águas sem fim brilhando em dourado e laranja como um mar de moedas, com o astro rei a poucos metros do horizonte brilhando em toda a sua imponência, cercado de nuvens esculpidas perfeitamente no céu laranja e rosado.
Até hoje me odeio por não ter um celular pra bater uma foto do momento. Nunca mais consegui ver uma paisagem como aquela de novo. Mas o que importa e dá valor pra aquela imagem, foi que talvez ela seja a melhor viagem da minha vida até hoje. Essa lembrança me leva as várias outras - nos hospedar num hotel de terceira e passar o dia inteiro boiando no mar até a pele polaca parecer uma lagosta, rir da minha mãe comendo camarões com um metro e meio de bigode, jantar um bom e velho espeto corrido com músicas populares alegrando todo mundo, rir e passear na praia até de noite por três dias das férias perfeitas.
E quase sete anos depois achei um panfleto de viagem de barco perdido nas minhas coisas, me fazendo lembrar daquela mesma imagem: a miríade águas douradas como ouro se estendendo até o infinito do céus e da terra, hoje tão longínquo quanto a infância, e tão utópica quanto a alegria boba e inocente, uma criança grata e feliz apenas com a visão do litoral.
Obrigado pela leitura!
Uma narrativa curta mas com um conteúdo que te faz pensar por um bom tempo. Leve, a autora nos leva para o tempo de infância e de uma querida memória que nos faz abrir um sorriso. Excelente!
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