O Ensino Médio é bem estranho, uma hora você é um Zé Ninguém e na outra já é bastante conhecido por alguma coisa - isso se ainda não tiver deixado de ser um Zé Ninguém. E é mais ou menos assim que é a minha história.
Entrei na Garden's C.A. School apenas como Louis, só Louis. Agora, no meu segundo ano, eu sou Louis, o Cupido. Foi assim que me taxaram depois que ajudei um dos meus professores favoritos, o senhor Burnes, a se declarar para a senhorita Kate, a bibliotecária. Segundo ele, meus conselhos deveriam ser compartilhados com os demais alunos.
A sala de som da escola fica no primeiro andar, bem ao lado da biblioteca. Graças ao senhor Burnes, o diretor cedeu-a para mim para que eu me comunicasse com os demais estudantes e os ajudasse com seus problemas amorosos. Alguns permaneciam em anonimato, outros não se importavam em dizer seus nomes.
De tanto ajudar os outros a encontrarem suas almas gêmeas, não demorou muito para perceber que estava na hora de eu encontrar a minha.
— Passa a bola! Passa a bola! - berra ele, correndo pela quadra.
— É sua, Lucas! - diz Clawd ao obedecer seu comando.
Lucas. Sim, esse é o nome dele. O típico galã de novela, príncipe encantado, garoto popular e jogador do time de basquete que chama atenção por onde passa. Maldita hora em que coloquei meus olhos nele.
— Cesta! - exclama.
Sei que não pode haver nada entre nós, mas mesmo assim algo em mim implora para que eu tente. Embora ele gostasse de garotas, nada me deixa mais inquieto do que imaginar nós dois juntos.
Meu melhor amigo, Dylan, insiste para que eu seja direto, mas nada que eu faça adianta para chamar sua atenção. Tudo bem que eu sou o cupido de todos e sempre sou bem sucedido nas minhas missões, mas dessa vez sou eu quem precisa de socorro e sou eu que tenho que me auto socorrer.
— Cara, só vai. - diz Dylan - É isso ou vai acabar perdendo ele para outra pessoa.
— Perder o que eu nem tenho?
— É. - sua mão corre para meu ombro - Vai perder o que não conseguiu ter por medo de tentar.
E ele tem razão. Eu sempre encorajei os outros alunos a se declararem uns para os outros, mas dessa vez eu é que tenho que seguir esse conselho. Eu solto uma cantada ou outra durante as narrações dos jogos de basquete ao lado de John.
Me aproveito do meu "emprego" para poder disfarçar meu interesse nele na esperança de ganhar uma resposta. Embora os outros não notassem bem o clima que rolava quando eu atirava bordões tipo: "Uou, vocês estão vendo como esse garoto é incrível?", "Nosso Lucas é maravilhoso" ou "A bola com certeza está satisfeita por estar em suas mãos"; o Lucas entendia muito bem o recado.
— Tá me cantando? - pergunta ele ao me ver tirar um livro da estante da biblioteca.
— Por que acha isso? - essa é minha tática favorita, fingir ser o inocente da história.
— Porque é o que parece. - diz com a cara fechada. Não, ele não gosta disso - Olha, não tem ninguém aqui, confessa, vai.
— Eu só faço meu trabalho. Tenho que ler declarações de amor que as pessoas mandam umas para as outras no meio dos jogos sem serem descobertas, talvez alguém tenha se interessado por você.
— Quem? - sorri descrente.
E essa é a parte que eu odeio, ver que ele sempre cogita pensar que outra pessoa, uma garota, o admire. Qual o problema de ele me notar?
— É confidencial até que a pessoa queira se revelar. - minto.
— Ou você poderia confessar. - insiste - Já percebi como me olha, Louis, mas... Sabe que eu não curto garotos.
— E é por isso que não sou eu. - minto mais uma vez - Se não gosta de garotos, por que eu insistiria?
— Tanto faz.
Lucas dá de ombros, dando meia volta para seguir um de seus amigos do time que cruzara a porta e abandonar-me na biblioteca. Não, acho que ele não acreditou. Ah, quem diabos eu quero enganar? Ele realmente não acreditou. Espero que não fique com raiva de mim se eu chegar no limite e disser tudo o que eu sinto. Seria meu fim.
Eu quero tentar, eu posso e devo ao menos tentar. É isso ou eu não sou o Cupido.
Obrigado pela leitura!