yanasilva Tayná Martins

Uma tarde insolada e enfadonha fizeram Joyce, 20 anos, baixar o aplicativo de relacionamento "Par Perfeito" apenas por curiosidade. Porém, ao curtir a foto de um usuário chamado "Daddy" acidentalmente, ela percebe que esse incidente pode não ter sido tão ruim quanto imaginava.


Romance Contemporâneo Todo o público.

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Curti, e agora?

O tédio de uma tarde ensolarada fez com que eu me tornasse a Burguesinha57, no "Par Perfeito". não coloquei fotos minhas, claro. Deus me livre algum colega ou amigo meu vissem minha foto num aplicativo de relacionamento, eu seria motivo de chacota na certa. por esse motivo, coloque a foto de uma bonequinha fofa que encontrei no site de buscar. Sendo assim, apóspreencher as informações adicionais que consistia em idade, gênero e preferência, bem essa última era fácil, homens, eu estava pronta para encontrar meu "par Perfeito"

O aplicativo funcionava da seguinte forma: Se eu curtisse a foto de um pretendente e ele curtisse a minha.. Tcharam, um casal perfeito.

Para falar verdade, eu não utilizava aplicativos para flertar, os flertes sempre aconteciam cara a cara, seja em uma festa, no cursinho ou entre os amigos de amigos meus. Mas como eu estava naquela tarde tediosa, decidi baixar só para ver como funcionava.

Sendo assim, quando abrir a pagina inicial do aplicativo tinha váriassugestão de Boys magia, todos a minha disposição, era só escolher e curtir aquele que mais me agradava.

Dessa forma, fui rolando o feed entre as opções disponíveis, pois as fotos dos perfis eram muito variadas. Digo, algumas mostravam o rosto, outras a orelha, outras os lábios e em maior quantidade abdomens definidos. Esses eram os campeões.Continuei vendo as fotos distraidamente enquanto devorava um delicioso pote de sorvete ao meu lado, porém ao esticar minhas pernas que já começavam a formigar por permanecerem na mesma posição, meu celular escorregou de minha mão e ao pegá-lo rapidamente para salvá-lo da queda, acabei curtindo sem querer uma foto de um usuário chamado Daddy .

Ao perceber a merda que tinha feito, deixo o pote de sorvete de lado para tentar consertar o erro. Sendo assim, clico várias vezes na tela tentando desfazer uma curtida, mas foi em vão, porque 3 minutos depois recebo a mensagem do tal papai.

- Por visto gostou do que viu -Pergunta, e em seguida manda um emoji de diabinho.

-"Meu Deus, o que fiz?" - Penso e por um momento cogito não responder, mas antes que eu possa bloqueá-lo ele envia a seguinte mensagem.

- Não vai responder? Está com medo? - E mais uma vez adicionou um emoji de diabinho, o que me fez revirar os olhos.

- Não. só cliquei errado. - Envio por fim, cética.

- Clicou errado? É um novo tipo de cantada ou a Burguesinha57 está fazendo de difícil?

Bom, vamos combinar que neste momento eu poderia ter ignorado e deixar aquela conversa para lá, mas eu não consegui, pois a vontade de responder era muito maior. Sem contar que, de certa forma aquela conversa era o que estava me tirando do tédio e eu gostaria de saber onde aquilo daria. Sendo assim, respondi poucos minutos depois.

- Não, cidadão. Não estou me fazendo difícil ...

Ainda estava digitando quando ele mandou outra mensagem.

- Então quer dizer que você é fácil?

Fiquei sem palavras e senti as minhas bochechas esquentarem, confesso. O cara rebatia tudo, ou talvez, eu fosse muito lerda mesmo.

- Quero dizer que você me interpretou mal ... - Digito um pouco trêmula.

- Então, explique-se.

Suspiro aliviada e enfim ...

Depois deu me explicar, automaticamente damos inicio as conversas e por incrível que pareça as conversas eram bem agradáveis. não falamos sobre sexoou outras putarias que geralmente são abordadas em conversas de aplicativos de relacionamento. E foi por esse diferencial que passei a tarde, e grande parte da noite conversando com ele.

Fazia tempo que eu não conversa com ninguém por aplicativo e mais tempo ainda de uma boa conversa. sem perceber eu sorria á toa, toda boba como uma adolescente, e de fato, eu parecia mais uma adolescente boba de 16 anos do que uma adulta de 20.

Entre nossas conversas, descobrimos que morávamos próximos e, assim, ele propôs que nos encontrássemos. A principio não gostei da ideia, pois tinha medo que ele fosse um psicopata ou um serial killer como nos filmes ou noticiários da TV. Pensei por alguns minutos e analisei, no pior das hipóteses eu poderia me tornar estatística como garotas desaparecidas, ou na melhor delas poderia conhecer alguém realmente interessante.Minha consciência dizia que não, mas minha teimosia dizia sim, e no final das contas a minha teimosia ganhou. Dessa forma,Sugeri que nos encontrássemos em um lugar público.

- Shopping Central? Em frente á loja Girafas? - Pergunto incerta.

- Pode ser. - Ele concorda para a minha surpresa, talvez não fosse um psicopata, afinal ...

No dia seguinte, acordo com um misto de animação e ansiedade. Tomo um banho demorado tentando me livrar do embrulho em meu estômago, e em frente ao espelho do banheiro, enquanto me visto, fico imaginando como ele seria. Alto? Baixo? Branco? Moreno? Negro? Será que ele cheira bem? Será que irá gostar de mim? Balanço a cabeça e tento afastar os questionamentos que ecoavam em minha mente. Termino de me arrumar e antes de sair, compartilho a minha localização com uma amiga, tudo poderia acontecer.

Depois de vinte minutos dentro do ônibus, finalmente chego no shopping. Ele manda uma mensagem avisando que já está no shopping e meu coração ansioso dispara. Sinto o nervosismo batendo na porta e a cada passo a minha curiosidade aumenta. Caminho distraída em direção a escada rolante e esbarro em alguém, ao virar os olhos percebo que era Otávio, um amigo do meu amigo Wallace.

Eu não o conhecia de fato, só sabia seu nome e que ele era riquinho, família "boa". Certa vez até saímos juntos, quando digo "juntos" me refiro a mim e nossos amigos em comum, ou seja, Wallace. Porém, isso faz tempo, muito tempo. tínhamos 16 para 17 anos. E de lá para cá muita coisa mudou, ele mudou. já não tinha mais aquela carinha de menino fofinho. agora, tinha o semblante mais sério... Mas continuava bonito. Ele era da minha cor, tinha cabelos castanhos claros, que chegava nos ombros, olhos claros... e Covinhas que deixavam ele ainda mais bonito.

Com o esbarro, trocamos olhares por cerca de 3 segundos. E antes de eu tropeçar em meus próprios pés, ele de pronto segura meu braço com firmeza, me impedido de cair.

"Sempre desastrada" - Penso e dou um sorriso nervoso ao sentir minhas bochechas começarem a esquentar.

- Obrigada. - Digo forçando um sorriso simpático.

Ele sorri de volta e percebo as covinhas que se salienta com o gesto, o que faz as minhas bochechas esquentarem ainda mais. Ele sobe alguns degraus á minha frente, e pega o celular ao encostar casualmente no corrimão da escada. Da posição que estou, tenho visão privilegiada e observo sua postura, sua roupa, seus braços, seu cabelo, sua boca ...

"Han? Que merda é essa?" - Me pergunto enquanto desvio rapidamente o olhar. "Eu admirando o Otávio? Eu hein.. nem meu tipo faz"

Meus pensamentos são interrompidos quando sinto o celular vibrando em minha bolsa, mensagem de Daddy.

" Já estou na frente da loja ".

O nervosismo volta, respiro fundo e após sair da escada rolante caminho vagarosamente até a loja. Chegando próximo a ela, vejo apenas Otávio em pé encostado no parapeito. Estranho. Mesmo assim, me dirijo até lá. Assim que me vê chegar, ele também parece estranhar.

- O que esta fazendo aqui? - Pergunto ao me aproximar dele.

- Aqui é um shopping, né? - Diz impaciente.

- Sim, mas tem muitos lugares para se estar, não acha? - Rebato revirando os olhos.

- Acho. Inclusive, digo o mesmo a você ... Estou esperando alguém. - Diz antes de dar as costas para mim e volta a mexer no celular.

Caminho em direção ao parapeito oposto, quando chega mais uma mensagem de Daddy .

"Já estou aqui. Cadê você?" Olho rapidamente ao redor antes de responder.

"Também já cheguei, não estou te vendo." Olho mais uma vez ao redor e Otávio faz o mesmo, até que nossos olhares se encontram e a ficha cai.

- Você é o daddy? - Pergunto incerta ao me aproximar dele.

- Burguesia57? - Ele parece tão surpreso quanto eu.

- Não acredito. - Exclamo e seguro a cabeça entre as mãos, me sentindo uma palhaça. "Que vergonha, meu Deus." - Penso.

- Mano do céu, como? - Ele diz antes de começar a rir sem parar.

O que me irrita ainda mais. "Como pude ser tão idiota?"

- Burguesinha57 ... Essa foi boa. - Ele consegue dizer após controlar a risada. - A vida realmente é uma divina comédia.

- Você conhece os livros de Dante Ali ... alguma coisa? - Eu não sabia pronunciar o nome do cara.

- Quer dizer o criador do poema de viés épico e teológico da literatura italiana e mundial do século XIV?

"O quê? é homem e conhece literatura?" - Me pergunto mentalmente.

Deixa eu esclarecer, na contra os homens que gostam de literatura, mas combinar é muito raro de se encontrar.

- Estou chocada. - Digo incrédula.

- Não sou apenas um rostinho bonito, sou uma caixinha de surpresas. - Diz brincalhão, mas cruza os braços o que eu acho muito sexy, mas me repreendo pelo pensamento.

- ESTÁ BEM! Agora que eu sei que você é o daddye você sabe que eu sou ... - Dou uma pausa, pois não queria dizer Burguesinha 57

- Burguesinha57. - Ele completa uma frase com um sorriso irônico

- É ... - Digo limpando uma garganta. - E já que perdemos tempo ...

- Isso é uma questão de ponto de vista. - Ele me interrompe. - Ainda podemos aproveitar como amigos, conhecidos, estranhos ... - Ele faz uma cara apara - Enfim, sem compromisso. O que me diz? No cinema está passando It: A coisa . Gosta?

- Claro. Stephen King. - Digo sem pensar, e quando me dou conta já não dá para pegar as palavras de volta.

- O que me diz? Vamos? - Ele estende o braço me dando passagem, como um típico e lindo cavalheiro do século passado.

Sem pensar duas vezes, aceito ir com ele. Qual o problema, afinal? Se eu fosse para casa iria passar o resto da manhã vendo TV. Caminhamos em silêncio e, enquanto ele está comprando os ingressos para o filme me pergunto se aquilo era, de fato, uma boa ideia. ele volta com um sorriso no rosto balançando os ingressos na mão direita enquanto que na esquerda segura o balde de pipoca.

Entramos no cinema e no início, foi estranho ficar no escuro dividindo o balde de pipoca com ele, um quase completo estranho. Imagina se Wallace e Vanessa vissem? o que iriam dizer? será que zoariam a gente? eu que não duvido. Mas deixo esses pensamentos para trás, não sou de me importa com o que as pessoas acham, então dane-se.

O filme começou e com o passar do tempo o gelo entre nós começou a ser quebrado, fui relaxando e ele também. com o tempo ficou um clima de amizade, apenas bons amigos. e se quer saberfoi bem divertido estar com ele. Enquanto o filme passava, me pegueiolhando para ele e em alguns momentos o peguei me olhando de canto de olho.

As nossas mãos se tocaram de leve quando pegamos a pipoca ao mesmo tempo, e senti cada pelo do meu corpo se eriçar com o contato repentino. Nossos olhos se encontram e por um momento o mundo parece parar, até que um homem que estava na poltrona atrás de nós deu um salto da cadeira, me fazendo acordar.

O filme terminou e caminhamos lado a lado para fora da sala. Na praça de alimentação, quando eu estava prestes a me despedir, ele me chamou para almoçar. Olhei no celular e eram 12h45min, e mais uma vez pensei em dizer não. Porém, eu estava só aquela frase "Deus me livre, mas quem me dera". E outra, eu já estava na chuva, qual o problema se eu me molhasse mais um pouco? Topei.

Assim como as conversas, o almoço também foi agradável, entre as garfadas conversamos sobre livros, filmes e música. Nunca imaginei que Otávio era tão "culto". Bom, pela posição social dele, eu poderia imaginar .. mas nem todo riquinho tem uma boa conversa e uma bagagem de conhecimento como ele tinha. E isso me deixou encantada.

Quando terminamos de almoçar, ele pagou a conta mesmo eu insistindo que pagaria a minha parte. Se estávamos ali como amigos ou simples estranhos, não tinha porque ele pagar para mim. Porém, o mesmo insistiu e disse que se caso houvesse uma próxima vez, iria amar tomar um sorvete e ai sim, eu poderia pagar. Concordei com a cabeça, pois naquele momento pela primeira vez havia ficado sem palavras, então ele estava pensando em uma próxima vez?

Na frente do shopping era hora de nos despedirmos.

- Obrigada por essa manhã. - Digo com um sorriso sincero.

- Obrigado por ter ficado essa manhã. - Ele sorri de volta e mais uma vez como covinhas estão lá.

Começo a sentir um frio na barriga e desvio o olhar.

- Bom, então ... Tchau? - Ele estendeu a mão incerto.

- Tchau. - Apertei a mão dele com firmeza.

Ele sorriu novamente antes de virar-se e começar a caminhar na direção contrária.

Fiquei parada na frente do shopping, observando-o enquanto ele se afastava e sumia em meio ás pessoas. Quando o perdi de vista, senti uma tristeza no peito ao pensar na possibilidade de nunca mais vê-lo.

28 de Dezembro de 2020 às 23:59 0 Denunciar Insira Seguir história
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Fim

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