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Quando Hoseok olha nos olhos do marido, Seokjin, tudo que consegue ver são os segredos que ele guarda. E numa dança sem ritmo e silenciosa a vida deles vai desmoronando, tendo como telespectador o jovem tenista Taehyung, que ao contrário de Hoseok, quando olha nos olhos de Seokjin consegue ver apenas amor. [TAEJIN | 2SEOK]


Fanfiction Bandas/Cantores Para maiores de 18 apenas.

#bts #taejin #2seok #traição #bl #gay #lgbt
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Tudo o que você não diz

O silêncio das seis da manhã sempre foi reconfortante para Hoseok. Ele era uma pessoa matinal e não havia nada que o agradasse mais do que levantar-se bem cedo e aproveitar tudo o que a quietude tinha a oferecer. A luz ainda fraca entrava pela janela semi aberta, aquela coloração azul clara o deixava calmo e a figura que ainda ressonava tranquila ao seu lado na cama, foi por muitos anos a peça principal de todo o seu conjunto perfeito.

Ele e Seokjin se conheceram no início da faculdade, o Kim tinha acabado de entrar para o curso de medicina e parecia um filhotinho caído da mudança. Hoseok sempre se lembrava de seus olhos brilhantes e assustados. Ele, por sua vez, estava mais animado do que qualquer um, o sonho de se tornar um grande jornalista começava naquele momento e com sua confiança sempre exalando, nada poderia ser realmente um problema.

Dez anos depois, Hoseok já não via mais aquele filhote nos olhos de Seokjin, que agora carregava consigo seu sobrenome e uma aliança dourada e pesada no anelar. Ser marido de Seokjin foi, por muito tempo, seu melhor papel, mais do que o de jornalista, mais do que qualquer outro papel que ele viesse a desempenhar. Ver aquele homem sorrir era tudo que ele queria, fazer parte de suas conquistas, vê-lo se tornando confiante e independente.

Há quem diga que talvez Hoseok tenha se apaixonado por um homem e se casado com outro. Mas não era exatamente verdade. O Jung sabia muito bem que todas as mudanças de Seokjin faziam parte de um processo natural. O garoto do interior que sonhava em ser um pediatra não existia mais, afinal, nem pediatra ele havia se tornado. Era uma das promessas da cardiologia do hospital universitário. Era óbvio que ele se tornaria alguém ligeiramente diferente. Mas isso não queria dizer que seria alguém oposto ao que fizera Hoseok se apaixonar.

Ao menos era nisso que o mais novo deles queria acreditar.

Mas ao voltar àquele momento tranquilo das seis da manhã de mais um dia comum, Hoseok deixou seus olhos passearem pelo marido. As costas largas descobertas, a pequena borboleta azul tatuada nas costelas, os cabelos castanhos caindo sobre o rosto, e o leve arroxeado abaixo da orelha esquerda.

Feito por outra pessoa já há algum tempo. Alguém que Hoseok não conhecia. Alguém que tocava a pele de seu Seokjin da mesma forma que ele fazia. Não, não da mesma. Talvez diferente o suficiente para fazer com que ele voltasse para casa com uma daquelas marcando a pele e ao menos se desse o trabalho de esconder.

Seokjin estava traindo Hoseok.

Ele sabia.

E por mais que tentasse dizer a si mesmo que aquele garoto de 18 anos ainda estava dentro dele, cada vez que as coisas não ditas se faziam presentes daquela forma, ele perdia um pouco mais da memória do Seokjin de sorriso fácil e piadas baratas.

O rádio relógio começou a tocar às seis e quinze, como todos os dias. Seokjin se remexeu, resmungando pelo cansaço. Hoseok sabia que aquele era seu dia de folga, sabia que ele passaria o dia todo sozinho. Seu estômago revirou ao pensar nas possibilidades, mas seu marido se virou para ele e sorriu, daquele jeito suave e desconcertante que só ele conseguia fazer.

— Bom dia, meu amor — disse com a voz sonolenta e rouca.

— Bom dia, amor — respondeu esboçando um sorriso. — Por que acordou tão cedo?

— Minha mãe me intimou para ir ajudar na mudança da minha irmã. Eu disse pra você ontem.

Ele tinha dito, sim.

— Ah, claro, é verdade — confirmou, mantendo a expressão leve e casual.

Ao menos isso não era mentira, Hoseok pensou.

Por vezes ele se "esquecia" de algo que o marido havia dito, e então o fazia confirmar. Era uma de suas jogadas mais bobas, mas era também uma das mais eficazes. De dez vezes que fizera Seokjin reafirmar algo, em sete delas ele se contradisse. E nessas sete vezes Hoseok viu seu dia se tornar um inferno.

— Você chega cedo hoje? — Seokjin perguntou, já de pé, caminhando pelo quarto.

— Talvez… vou até Muji, temos uma entrevista lá. Por quê?

Por que, Seokjin? Por que precisa saber? Sua cabeça rodava, os pensamentos se aceleravam e ele tentava muito não se distrair ou parecer nervoso.

— Nada. Pensei que podíamos jantar em algum lugar. Me avise… se não puder talvez eu chame algum amigo para tomar um vinho.

— Que amigo? — perguntou no automático, se repreendendo logo em seguida.

— Yoongi… ou Namjoon. Talvez os dois. — Seokjin não olhou para ele ao responder, e isso o incomodou mais do que esperava.

Hoseok não disse mais nada, não havia razão para prolongar o questionamento. Yoongi e Namjoon também eram médicos, amigos da faculdade. Era normal, seria fácil provar se estava ou não com eles.

Ele precisava respirar, ainda estava sentado na cama da mesma forma há quase meia hora. Seokjin já estava no banheiro se arrumando, e ele lá, perdido em seu próprio emaranhado de mentiras, meias-palavras e angústia.

Se levantou e seguiu para o banheiro, compartilhou a pia dupla com o marido, como em uma cena de filme. Trocaram olhares e Seokjin sorriu ainda com pasta de dente na boca, parecendo tão tranquilo e feliz que Hoseok não resistiu em retribuir.

Ao ver Seokjin se despir para um banho rápido, se perdeu observando o corpo que tanto adorou durante todos aqueles anos. Ainda adorava, não conseguiria negar. Cada parte do mais velho era perfeita, inclusive os defeitos. Talvez, principalmente os defeitos.

A marca arroxeada puxava seu olhar como se fosse um ímã. E ele se perguntava se Seokjin não sabia da existência dela ou se era dissimulado o suficiente para fingir que ela não estava ali. Os olhos castanhos do marido não o deixaram ao entrar no boxe, e ele entendia que era um convite.

Hoseok foi. Entrou debaixo da água quente e abraçou o corpo dele, deixando um beijo carinhoso nos lábios pomposos com gosto de menta. Seokjin não resistia a nenhum de seus toques, pelo contrário, era sempre tão fácil tê-lo nos braços. Sua manha o deixava excitado e foi simples fazer o caminho que queria.

Seus lábios encontraram a marca, e a sugaram com certa força, Seokjin reagiu, gemendo baixinho e apertando o abraço em sua cintura. Hoseok estava sendo territorial, não conseguia evitar. A reação do marido o deixou ainda mais confuso, ele era um ator tão bom quanto era médico. Talvez até melhor.

Ele seguiu com os toques lentos e com muito pouco conseguiu fazer Seokjin gemer seu nome ao pé do ouvido, com os olhos bem fechados e rosto escondido na curvatura de seu pescoço. Sua respiração quente causava em Hoseok um arrepio gostoso, e perdido naquele momento, Seokjin se desfez nas mãos do marido, que lhe beijou a pele mais uma vez antes de se separar e voltar a olhar para aqueles olhos. Era satisfatório vê-lo gozar para si, imaginar que, por mais que outro alguém o estava tocando fora dali, ele ainda era seu marido, ele ainda dormia e acordava ao seu lado e ainda tinha seu corpo daquela forma tão natural.

Seokjin o beijou uma última vez e sorriu, como se estivesse vivendo sua história mais doce de amor. Deixou Hoseok continuar o banho e saiu, tranquilo e relaxado. Um ótimo ator, realmente, era o que ele pensava sempre que o via lhe dar as costas.

O café da manhã não foi compartilhado, Seokjin estava apressado e sairia logo depois de uma xícara de café. Quando Hoseok chegou pronto até a cozinha, tudo que recebeu foi um selar rápido e um pedido para que o avisasse caso pudesse sair para jantar.

Quando a porta enfim se fechou e o som do elevador descendo pôde ser ouvido, Hoseok tinha o rosto corado e a respiração descompassada. A caneca vazia que Seokjin deixara no balcão foi atirada contra o chão e se quebrou em mil pedacinhos.

[...]

— Por isso precisamos ter cuidado, se fizermos uma pergunta errada, ele não vai responder mais nada — Jeongguk explicou, mas percebeu que o olhar do amigo estava distante. — Ouviu, hyung?

Hoseok piscou algumas vezes, voltando à realidade.

— Claro, claro. Relaxa, ele quer pagar de esperto, mas no fim só quer que a gente dê palco pra loucura dele. Não esquece que ele é só um assassino, não tem nada de especial como ele quer que acreditemos.

Jeon concordou, ele ainda era relativamente novo na redação. Aquela era sua segunda entrevista presencial, e ser em um presídio com um dos mais famosos assassinos do país não ajudava em seu nervosismo. Diferente de Hoseok, que fazia aquilo desde que se formou e ganhou a efetivação do estágio.

Os dois dirigiram até Muji e durante todo o caminho Jeongguk percebeu que Hoseok não estava em seu melhor estado, o que não era exatamente uma surpresa. O Jung parecia viver em uma montanha russa, às vezes chegava como se tivesse a vida mais perfeita de todas, em outras, como aquela, ficava distante o dia todo e apenas se concentrava de verdade quando o trabalho estava de fato acontecendo.

Mas durante a entrevista Hoseok se transformou. Era prático, impessoal e não deu o protagonismo fantasioso que Lee Ryunji queria. Ele havia sido condenado há quarenta anos de prisão pelo assassinato de duas irmãs adolescentes. Confessou o crime apenas quando os corpos foram encontrados em uma velha chácara em que ele havia trabalhado. Desde então tentava conseguir notoriedade na mídia e gostava que o fizessem parecer o mais cruel e inteligente que pudessem.

Estar diante de um jornalista que não parecia fascinado com ele não ajudou no processo simples que Hoseok e Jeon queriam para formar a base de informações necessárias. Eles teriam apenas aquela chance, precisavam de algo que ninguém conseguiu antes, e talvez tratá-lo como uma pessoa comum não fosse a melhor estratégia.

Lee interrompeu a entrevista por diversas vezes e passou a dificultar a comunicação. Os pontos que queriam para que a matéria conseguisse a manchete estavam se perdendo, e por um momento Jeon percebeu que Hoseok precisava de um tempo.

— Hyung, eu sei que você não quer deixar ele à vontade para se vangloriar de alguma coisa… mas, estamos perdendo qualquer conexão com ele — disse assim que saíram para uma pausa.

— É, eu sei. Desculpa, eu acho que deixei alguns problemas pessoais virem a tona hoje e não foi nada útil.

Jeongguk não sabia muita coisa sobre a vida dele. Hoseok era divertido e fácil de lidar, ao menos na maior parte do tempo, mas às vezes, como daquela, ele se fechava e não parecia nada disposto a deixar que alguém soubesse do que sua ansiedade se tratava.

Os dois respiraram e fumaram um cigarro do lado de fora, e quando voltaram, Hoseok entrou de novo no papel de jornalista, equilibrou as medidas para que Lee voltasse a confiar neles e desse ao menos o mínimo do que precisavam. Se ele queria parecer inteligente, então o Jung o faria parecer.

[...]

Quando terminaram, ambos estavam cansados, estar na presença de Ryunji era difícil, ele drenava qualquer energia que estivesse no ambiente. A tarde já caía e o caminho de volta pareceu longo demais. Jeongguk pensou em oferecer uma refeição local para o hyung, que estava ainda mais exausto do que já parecia estar mais cedo.

Hoseok ouviu o convite e olhou para o relógio, se aceitasse não voltaria a tempo para sair com o marido, ainda precisavam ir até a redação e preparar a prévia para o editor chefe. Antes de responder ao mais novo, checou o celular, não havia nenhuma mensagem. Ele se dividia entre a vontade de ir até Seokjin e garantir que ele passaria a noite consigo, e a estranha sensação de que aquilo era em vão.

Acabou aceitando e acompanhando o mais novo até um dos restaurantes tradicionais da cidade. Como não dirigiria até Seul, pediu uma garrafa de soju e esperou que Jeon pudesse guardar segredo. Só precisava de um pouco de ânimo. Sentia que aquela noite seria longa demais, independente do que escolhesse fazer.

Jeongguk não pareceu se importar, deixou que Hoseok se concentrasse na bebida e na refeição, e apenas fez comentários pontuais sobre a entrevista. Em pouco mais de duas horas eles já estavam se despedindo da senhora do caixa e saindo em direção ao carro.

— Espere um minuto, Jeon. Eu já volto — ele pediu, se afastando um pouco com o celular na mão.

Procurou pelo contato de Seokjin e ligou, sentindo aquela sensação de formigamento no estômago enquanto a chamada não era atendida.

— Oi, amor — Seokjin falou assim que atendeu.

— Oi… tudo bem?

— Sim, acabamos de subir tudo, agora falta arrumar boa parte dos móveis. E por aí, deu tudo certo?

— Deu, já estamos voltando. Mas, acho que não posso sair para jantar, tenho que entregar o esboço ainda hoje.

Seokjin soltou uma exclamação, soando decepcionado, mas não surpreso.

— Tudo bem, Seok. A gente se vê em casa, tá?

— Sim… E, Jin, você vai chamar os meninos?

— Não sei, vou ver como vai ser aqui, talvez eu só vá para casa mesmo. Não se preocupa, tá?

— Claro. Qualquer coisa me liga — respondeu, fechando os olhos. — Eu te amo.

— Eu te amo, Seokie. Até mais tarde.

Seokjin desligou logo em seguida.

Droga, foi o que Hoseok pensou. Droga, droga.

Ele sabia o que aconteceria. E mesmo tendo a chance de impedir, apenas o que fez foi entregar tudo de mão beijada. Seokjin não chamaria Yoongi e Namjoon para tomar um vinho, tampouco voltaria cedo para casa. Hoseok sabia.

Sempre soube.

Voltou ao encontro de Jeongguk, que o esperava com a expressão cansada.

— Podemos ir… tá muito cansado?

— Não, não... Mas, tá tudo bem com você? — o mais novo perguntou, arriscando levar um fora curto e grosso.

— Bom, de certa forma sim — respondeu já entrando no carro. —, só não sei bem o que vai me esperar em casa… ou se não vai.

Jeongguk tentou acompanhar o raciocínio, mas no fim, só faria sentido para Hoseok. Seus fantasmas pareciam ser muitos e ele pouco disposto a compartilhar. Mesmo que Jeon tivesse interesse em saber mais sobre ele ou até mesmo ser de alguma ajuda, não conseguiria forçar mais nada. Não quando os olhos do Jung pareciam tão murchos e tristes.

8 de Outubro de 2020 às 21:33 0 Denunciar Insira Seguir história
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