14 de Janeiro de 2015.
"Hoje a cidade acordou com uma notícia estranha. Ninguém sabe ao certo se foi apenas um ato doentio ou uma história de amor. A família de Estrela Santos e Lucas Sampaio estão em choque. Lucas, 20 anos, morto com uma bala cravada na cabeça. Enquanto Estrela, 18 anos, foi encontrada num quarto de motel, envenenada e coberta por sangue. Mais tarde, fomos informados de que a jovem estaria esperando um filho de Lucas. Autoridades ainda tentam entender o acontecimento. Esperamos notícias."
21 de Janeiro de 2015. Relato de Mirtes Arantes,vizinha de Estrela,ao jornal da cidade.
"Bom, ela foi uma garota normal, pelo menos para mim." Começou Mirtes, ao ser indagada por mim sobre Estrela. "Mas nunca foi uma garota simpática, bonitona ou que chamasse atenção. Quando pequena, eu cuidava dela quando a mãe saía. Aliás, a mãe sempre foi muito ausente, trabalhava bastante para sustentar e dar uma boa vida para a filha. Mas sabe, no fim, acho que isto acabou atrapalhando a vida de Estrela, se ela tivesse uma mãe mais presente...Quanto ao pai:um bêbado chato! Nunca deixava Estrela sair, nem mesmo depois que a garota chegou a adolescência. Por isso sempre teve poucos amigos e nunca um namorado. Mas não acho que ela se importava com namoricos, não até Lucas aparecer. O primeiro amor acontece numa hora ou outra."
Quando perguntei sobre Lucas, Mirtes bufou, parecendo com raiva do rapaz. "Era um homem estranho! Tinha os cabelos na altura dos ombros, se vestia de preto e tinha uma barba rala. Não posso negar que era um rapaz bonito, apesar de tudo. Sempre andava com um grupo de jovens estranhos, iguais a ele. Baderneiros? Talvez, tenho minha opinião sobre isso, mas não sou fofoqueira..." Perguntei sobre o relacionamento de Estrela e Lucas, e novamente bufou. "Estava bem claro que não daria certo. Estrela parecia um arco-íris perto dele; sempre com seus vestidos coloridos e longos. Amava flores, natureza, cristais, pedras e animais. O carinho que não tinha com as pessoas, ela entregava ao bichinhos de estimação. Esperta e curiosa, o rosto sempre colado nos livros. Aposto que tinha um futuro incrível. Esforçada e estudiosa. Era baixa e encorpada; ele alto e magro. Ela era quieta; ele não. Falava alto e vezes e outras, gritava pelas ruas. Vivia me chamando de velha fofoqueira só porque contei ao pai de Estrela do relacionamento dos dois. Mas eu precisava contar, entende? Considerava a garota como uma sobrinha, ou filha. Me senti na obrigação de avisar a família. E claro que o pai foi contra, mas depois de Estrela completar 18, ele já não tinha tanta autoridade sobre ela. Acho que foi aí que a coisa desmoronou."
5 de novembro de 2014. E-mail enviado por Estrela a sua amiga Priscila.
"Estou me sentindo confusa. Ele me deixa confusa. Me sinto atordoada com tudo que Lucas me causou, um bem estranho. Me apresentou as bebidas, festinhas, amigos e ao seu mundo tão colorido - ou preto, como ele prefere -, tenho que admiti que gosto disso. Lucas me libertou das garras do meu pai. Me setia sufocada e presa, nunca pensei que encontraria a independência um dia. Não estou errada em querer buscar minha própria vida sem meu pai, estou? Filhos são feitos para voar, Pri! Quero viajar, amar, beber, fazer amigos... Por que o meu pai não entende? Por que tanta proteção? Do que adianta um vida se não posso vivê-la?
Mas nem tudo é um mar de rosas, tenho medo de Lucas também. Sempre me trata de uma forma que nenhum garoto me tratou; de forma que passa pelo que posso descrever de amável a paranoico. Seria uma versão mais nova do meu pai?Ele não gosta que outros caras fiquem perto de mim. Lembro que quase matou o amigo, só porque o cara fez uma piada sobre meus seios. Não foi nada demais, eu juro. Pessoas bêbadas não têm noção do que falam. Então, eu não me importei com o comentário. Não sou uma garotinha. Não preciso da proteção de Lucas.
Outra pérola, foi quando saiu nos tapas com meu pai porque o mesmo me chamou de vadia quando descobriu meu nosso relacionamento. Aquela época encarei os atos como algo bonitinho, mas hoje em dia vejo que era o começo de um relacionamento perturbado. E não posso mais sair dele. Nem quero sair dele. Lucas faz parte de mim agora. Gosto do nosso relacionamento perturbado. Me sinto doente por isso. Desculpe. E eu sei, sei que ciúmes tem limite." Fim.
28 de Janeiro de 2015. Depoimento de Priscila ao site de notícias local:
"Mas é claro que eu sabia que eles não se fariam bem. Estrela era minha amiga e eu tentei avisar que Lucas estava longe de fazer o tipo certo. Era abusivo, uma pessoa que precisava de ajuda. Precisava curar suas próprias ferias antes de mexer nas de Estrela. Mas ela estava apaixonada! Quem dá ouvidos aos outros quando se está amando? Ninguém, ou quase ninguém. Quando conheci Lucas, fiquei feliz por minha melhor amiga ter achado alguém tão diferente, mas aí começaram os problemas.
Ele era ciumento demais, estourado e autoritário; se achava no direito de protegê-la de tudo e de todos. Seu mundo ideal seria o que Estrela ficaria presa numa bolha protetora.Tão ao contrário de Estrela, que era meiga e compreensiva. Os dois viviam brigando e pelo que sei, tudo acabava em sexo. Coisa de jovens e seria fofo, não fosse pelo fato de ser doentio. Lembro que quando soube dos problemas de Lucas com as bebidas, ela o tentou ajudar. E como tentou! Eu até achei que ele realmente ia melhorar, mas não. Acabou puxando-a para o mesmo caminho. Estrela parou de frequentar minha casa e só andava com o grupinho de Lucas. E sim, era o tipo de grupo errado. E o que mais eu poderia fazer nessa altura do campeonato? Nada. Meus conselhos só serviam para nos afastar ainda mais.
Ah, minha Estrela...sinto sua falta, de verdade. As pessoas tinham uma visão errada sobre ela. Queria que todos conhecessem a Estrela que sempre me trazia flores. Rosas. Clichê e tão marcante. Queria que Lucas tivesse conhecido isso também. Ele não sabia, mas tudo o que Estrela queria era flores e carinho. Tenho certeza que jamais olharia para outro homem. Eu não sei o que estou sentindo agora, além da dor. Ódio do causador dos problemas? Não deveria, mas acho que sim. Mas vai passar, em algum momento vai. Os dois só precisavam de ajuda."
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