lara-one Lara One

Por décadas, os segredos sombrios do antigo sanatório Saint Giles ficaram ocultos, mas as vozes dos mortos ecoam em desespero por entre as velhas paredes. Agora Mulder e Scully, juntamente com sua equipe formada por Baba e os Pistoleiros, terão que desvendar os mistérios mais profundos de um lugar infestado por entidades enquanto procuram por Alex Krycek que está desaparecido. Mas nem todas as entidades querem a mesma coisa...


Fanfiction Seriados/Doramas/Novelas Para maiores de 18 apenas.

#x-files #terror #sanatório #fantasmas
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S07#06 - ABANDONED

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INTRODUÇÃO AO EPISÓDIO:

Noite. Tempestade. Chuva forte.

Close na placa de bronze no muro: "Saint Giles - Asylum"

O carro estaciona na frente do prédio. Wade, meia idade, abre a porta do carro e o guarda-chuva. Sai correndo, subindo os degraus da entrada do velho prédio. Fecha o guarda-chuva. Leva a mão ao bolso e coloca rapidamente os fones nos ouvidos.

Corte.


[Som: Procol Harum - A Whiter Shade Of Pale]

Ouvimos apenas a música pelos fones de Wade, que entra no saguão do prédio. Ele coloca o guarda-chuva na lixeira.

Raios iluminam o local através das janelas. É um saguão enorme, teto alto. No centro um elevador antigo, de grades, com porta pantográfica. De cada lado do elevador, escadas, com cordas impedindo o acesso.

Wade tira o casaco. Pendura no cabide. De costas para o elevador e escadas, não percebe a orbe (bola de luz) descer rapidamente pela escada da direita, sumindo no chão.

À direita do saguão, uma porta dupla de metal, daquelas de hospitais, trancada com corrente e cadeado. Ela movimenta-se como se alguém a empurrasse do outro lado, balançando o cadeado.

Wade leva a mão ao interruptor. O lustre enorme e antigo se acende. As luzes piscam, revelando uma pequena sala de estar no canto esquerdo, como se fosse a recepção, bem moderna e com plantas - e uma porta dupla igual a da direita, mas essa aberta, com um corredor bem iluminado, de tapete vermelho. Wade entra no corredor e depois em sua sala, acendendo a luz. Tranca a porta com chave.

Computadores ligados. Wade senta-se em frente a um deles. Mantém os fones nos ouvidos. Começa a trabalhar.

Cessa a música. Agora ouvimos o ambiente, enquanto Wade escuta música nos fones.

O som do choro de uma mulher. Um choro triste, de abandono e desespero.

Passos no corredor. Alguém corre.

O som do alarme dispara. Wade demora a perceber o painel à frente que pisca uma luz vermelha indicando "porão". Wade suspira. Volta a seus afazeres.

Ouvimos um grito de mulher. Pancadas fortes nas paredes. Wade nada ouve e continua trabalhando.

VINHETA DE ABERTURA: A VERDADE ESTÁ LÁ FORA



BLOCO 1:

Residência de Barbara Wallace - 6:04 A.M.

Krycek entra no quarto do bebê, segurando um cachorrinho husky de pelúcia. Observa o quarto todo decorado com o personagem Nibbles usando fraldas (o sobrinho do rato Jerry). Um pote de lembrancinhas - chaveiros de pelúcia dos personagens de desenhos animados que são ratos: Mickey, Jerry, Speedy González (Ligeirinho), Pinky e Cérebro, Fievel, Bernardo. Krycek começa a rir.

KRYCEK: - Malyshka e sua obsessão por ratos...

Krycek coloca o cachorrinho no berço, junto a outros bichinhos de pelúcia. Sai do quarto e entra no quarto de casal. Senta-se na poltrona, observando Barbara dormindo.

KRYCEK: -(MURMURA) Obrigado, Barbara Wallace, por me fazer um homem decente.

Krycek leva a mão ao lado da poltrona e puxa uma caixa de papel. Abre a caixa. O filhote de husky siberiano fica em pé, apoiando as patinhas na borda da caixa, que quase vira. Krycek o pega no colo, fazendo carinhos.

KRYCEK: - Tá vendo? Aquela ali é a sua humana. Você vai tomar conta dela quando eu não estiver em casa. Quero ver a cara que ela vai fazer quando acordar.

Krycek se levanta e coloca o cachorro na cama. Vai para o banheiro. O cachorro corre pela cama, cheira o rosto de Barbara e começa a lambê-la.

BARBARA: - (MEIO DORMINDO) Hum, Ratoncito, chegou empolgado... Eu sei que não ando transando mais com você, mas amor, eu tô me sentindo desconfortável pra fazer sexo nesses últimos meses de gravidez...

Corta pro chuveiro. Krycek tomando banho.

BARBARA: - (GRITA) Ai meu Deus um cachorrinho!!!!! Eu vou chorar, Ratoncito!!! Ele tem olhos azuis e é russo!!!!!! Ahhhhhhhhhhhhhhhhh!!!!!!!!!!

Krycek começa a rir.

BARBARA: - (GRITA) Ai que tudo!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Tô apaixonada!!!!!!!!!!!!!!

Barbara entra no banheiro, cabelos desgrenhados e olhos inchados de quem mal se acordou. Segura o cachorro.

KRYCEK: - Como é fácil fazer essa mulher feliz. E barato. Qualquer coisa que eu dê, ela faz uma festa!

BARBARA: - Aposto que as outras só queriam joias e grana.

KRYCEK: - Ah, está aí me ouvindo?

Ela solta o cachorro e entra no box com camisola e tudo. Rouba um beijo debaixo do chuveiro.

KRYCEK: - Doidinha de pedra.

BARBARA: - Minha maior riqueza é você, Ratoncito. E o nosso ratinho. E agora... Agora é o Rasputin também!

KRYCEK: - Quem é Ras... (RINDO) Fala sério! Rasputin? Pobre cachorro! Malyshka, mas você é rápida pra nomes!

BARBARA: - Não gostou? Adoro o Rasputin. Ele foi um bruxo doido e incompreendido.

KRYCEK: - Ele foi é espertalhão, manipulava as pessoas pela crença e usava o medo do desconhecido para subjugar. Só espero que o cachorro não seja louco como ele.

BARBARA: - Ele gostou do nome, né, Rasputin?

O cachorro brinca com o tapete. Barbara tira a camisola molhada.

BARBARA: - Deixa eu esfregar suas costas?

KRYCEK: - Ok... Eu já comprei ração, tá na mesa da cozinha. Já tá vacinado, castrado e por favor, tenta fazer ele ser um cão de guarda e não o bebê da casa.

BARBARA: - Ai, mas ele também é bebê! Vou criar dois bebês!

KRYCEK: - Pronto, vai estragar o cachorro! Huskies já são teimosos, se der moleza... E ele é um russo americano. Veio de Montana. Russo só na linhagem. É falsificado. Duvido que saiba distinguir vodca de uísque.

BARBARA: - E daí, ele é russo de qualquer jeito. E não vai beber mesmo!

KRYCEK: - (RINDO) Rasputin...

BARBARA: - Ratoncito, para de rir do nome do cachorro!


Residência dos Mulder - 7:01 A.M.

Mulder fazendo café com os olhos inchados de sono. Victoria entra na cozinha, já pronta pra escola. Mulder abre o armário colocando os cereais na mesa já servida.

VICTORIA: - Posso fazer meu lanche?

MULDER: - Esqueci do lanche!

Victoria sorri. Abre a geladeira e começa a tirar pão, geleia, manteiga de amendoim, calda de chocolate.

MULDER: - Pega o leite.

Victoria obedece. Fecha a geladeira e senta-se, servindo cereais. Coloca leite e depois calda de chocolate em cima. Mulder observa com cara de nojo. Victoria coloca açúcar.

MULDER: - Tem certeza que isso não vai virar uma meleca?

VICTORIA: - Pedaço de mim, eu preciso de energia, muita energia!

MULDER: - O que sobra pra mim que mal dormi? Seu irmão fez hora extra essa noite, assustado com a tempestade. Nunca vi um verão tão chuvoso! Vai estragar suas férias e os nossos planos de pegar aquele trailer na garagem e fazer uma trilha atrás do Pé Grande... E não diga nada pra sua mãe que o Pé Grande está incluído no pacote. (PISCA O OLHO) É apenas alguns dias em família, no meio da natureza para acampar, pescar e respirar ar puro.

VICTORIA: - (SORRI) Pode deixar, papai. Eu cuidaria do Bryan, mas vocês não deixam eu ficar acordada.

MULDER: - Bem provável que sua mãe e eu permitiríamos que você trocasse o dia pela noite, nem pra cuidar o seu irmão. Conhece o ditado, quem pariu Mateus que embale?

VICTORIA: - Vocês foram bobos. Deviam ter tido filhos mais cedo. Agora a casa estaria cheia de adolescentes e vocês estariam curtindo a velhice e dormindo na boa.

Mulder atira um pano de prato nela. Victoria começa a rir.

MULDER: - Aqui, mocinha, velho é o seu pai, tá entendendo? Eu não estou velho. Estou usado e fora da garantia de fábrica.

Os dois riem. Mulder puxa o nariz dela e senta-se à mesa.

MULDER: - Sua mãe tá pregada no sono, parece que não dorme há meses.

VICTORIA: - Ontem, quando você tava na agência, ela não parou. Lavou, secou, passou, limpou a casa e o Bryan berrando de hora em hora. Ela nem tirou um cochilo na tarde. Eu sei porque quando cheguei da escola ela tava falando com vovó no telefone que não tinha parado um minuto.

MULDER: - Quem sabe arrumo uma babá?

VICTORIA: - E o negócio do Mateus? Hum? Nah! Baba é a única babá que pode colocar os pés aqui, mas ela tá tão feliz na agência. Eu posso ajudar a mamãe depois da escola.

MULDER: - Ah sim. Depois da escola você tem a tarefas da escola pra fazer, andar de bicicleta e brincar. Isso é problema de adulto. Você é criança. É a coisa do Mateus. Quando você tiver os seus filhos, lá pelos cinquenta, aí vai entender.

VICTORIA: - Só posso namorar depois dos cinquenta?

MULDER: - Tá, como sou um pai legal, depois dos quarenta. Combinado? E depois do candidato responder uma série de perguntas sob a mira da minha arma.

VICTORIA: - (RINDO) Hoje é dia da mamãe levar a gente pra escola.

MULDER: - Sério? Pensei que fosse a Angela.

VICTORIA: - Nah. O Darius já deve estar pronto.

MULDER: - Ok, então eu vou levar vocês hoje.

Victoria perde os olhos no prato de cereal. Parece em transe.

MULDER: - Eu disse que essa sua mistura ia virar uma meleca. Ficou muito ruim?

VICTORIA: - ... São muitos. Eles não sabem, seguem a vida. Bukavac é o nome dele.

Mulder olha pra filha a questionando.

MULDER: - Pinguinho, do que você está falando?

Victoria sai do transe.

VICTORIA: - Eu? Não falei nada.

MULDER: - Falou sim. Buck, vaca, sei lá, alguma coisa é o nome dele. Quem?

VICTORIA: - Não sei, falei?

Batidas na porta da cozinha. Mulder se levanta e abre a porta. Darius parado ali, todo arrumadinho.

MULDER: - E aí, Bob Marley? E esse visual pega menina?

DARIUS: - Seu Mulder eu tô mais pra pegar o chinelo da minha mãe, porque ela anda brava comigo. Um chinelo voou na minha orelha ontem.

MULDER: - E o que você aprontou?

DARIUS: - Nada, eu juro! O Chris que apronta e eu que levo a culpa de tudo! Ser caçula é dose, tá ligado?

VICTORIA: -Deixa, Darius, vamos aprontar pra ele no fim de semana.

MULDER: - Hoje eu vou levar vocês dois. No caminho ensino como aprontar com estilo e omitir a cara de culpado.

DARIUS: - (EMPOLGADO) Jura? Legal!!!

MULDER: - Mas não contem pras mães de vocês, ou quem vai levar chinelo na orelha sou eu!


Residência de Barbara Wallace - 5:17 P.M.

No quarto, Barbara vestida num roupão de banho aberto, mostrando a gravidez. Sentada na poltrona, com as pernas em cima da cama, passando hidratante nelas, enquanto fala no celular. Rasputin dormindo na cama, com a barriga pra cima.

BARBARA: - (AO CELULAR) No madrecita. Y dile a esa lengua de serpiente que mi matrimonio es maravilloso y que tener un hijo tan rápido fue una decisión de mutuo acuerdo entre Alex y yo...

Barbara começa a passar hidratante na barriga. Krycek espia pra fora do closet e olha desconfiado pra ela.

BARBARA: - (AO CELULAR/ IRRITADA) Sí, sí, estoy segura.¡Teresa está celosa de que yo tenga un esposo hermoso! Sí, ella vio nuestra foto de boda que usted publicó... Madrecita,no digas nada de que estoy embarazada de un niño. Ella se enoja aún más!

Krycek acena negativamente com a cabeça e volta para o closet.

BARBARA: - (AO CELULAR)Te amo, quédate con Dios! ... Sí, cuando Dimitri nazca, te lo haga saber. Besos a papacito... Sí, si, diré. Adios.

Barbara desliga.

BARBARA: - Ratoncito, se está procurando a sua camisa, eu coloquei no cabide! Mamãe mandou um beijo pra você!

Krycek sai do closet só de calças, colocando a camisa.

KRYCEK: - Quando vocês duas conversam tão rápido até parece que estão brigando. Aviso: já entendo alguma coisa de espanhol. Obrigado pelo "marido lindo".

BARBARA: - (SORRI) Mas é lindo mesmo, até minha prima Teresa viu a foto do nosso casamento em Moscou e tá me invejando, aquela lontra fanha! Imagina se eu digo que além de bonito é gostosão, me traz presentinho, arruma a casa e cozinha pra mim? Perco o marido!

KRYCEK: - Perde nada. Solo tengo ojos para ti.

Krycek se agacha ao lado dela. Abraça-a pela cintura, recostando a cabeça na barriga de Barbara, num suspiro. Barbara brinca com os cabelos dele.

BARBARA: - Você não anda legal, Ratoncito. Que bicho tá pegando?

KRYCEK: - Trabalhar e deixar você sozinha à noite, isso é o que tá pegando. Quando o Fumacinha dizia que alguém pode sair ileso da máfia, mas do Sindicato nunca... Eu não acreditava. Posso matar todos, mas o Coin... O desgraçado não morre. Tô sentindo na pele o mesmo drama que o Mulder passou e com medo de que você e o nosso filho paguem pelos meus erros, assim como Marita pagou.

BARBARA: - Prefiro ficar sozinha à noite e ter você durante o dia.

KRYCEK: - Eu tenho medo de perder vocês. Eu já perdi uma vez. Eu não sei se aqueles caras me esqueceram ou estão esperando pra se vingar de mim.

BARBARA: - Amor, eu tranco a casa, temos alarmes, um búnquer pra escape e agora um cachorro pra dar aviso sobre intrusos. Ai, olha como ele é lindo! Dorme feito bebê!

KRYCEK: - É, dorme feito bebê mesmo. Esse peludo aí roncando na minha cama, achando que é cachorro de madame. Eu deveria ter comprado um pastor do cáucaso, eles são ótimos guardas. O máximo que esse cachorro vai fazer é carregar o Dimi pra cima e pra baixo pensando que tá puxando trenó.

BARBARA: - Ai, não fala assim dele, eles vão se divertir juntos, crescer juntos. "Ai, eu sou bebê ainda, Alex, deixa eu dormir na cama de vocês".Olha pra essa carinha...

KRYCEK: - É, foi essa carinha que me fez derreter. Caí no golpe do cachorro pidão e olha que nem Mulder nunca me enganou assim!

BARBARA: - E se não basta, Mulder não dorme à noite ultimamente. Acho que baixou o escritor nele ou é o bebê acordando. De madrugada vejo a luz do sótão acesa, algumas vezes vejo ele espiando pra cá, então, relaxa. Hum? Vou precisar que você troque de turno só quando o Dimitri nascer, pra me ajudar nos primeiros meses. Tá bom?

Krycek beija a barriga de Barbara.

KRYCEK: - Não sabe como é difícil deixar você sozinha aqui.

BARBARA: - Não tô sozinha. Tô com o Rasputin e com o nosso ratinho.

KRYCEK: - É, mas o ratinho tá quase nascendo. Vai que resolva nascer quando eu estiver trabalhando?

BARBARA: - (INDIGNADA) Alex Krycek, eu tenho celular pra chamar a ambulância! E em caso de extrema emergência ainda tenho a Scully que é médica e o Mulder que já tá calejado de fazer parto! Quer relaxar? É só um bebê, não é a terceira guerra mundial ou um ataque zumbi!

Krycek sorri e troca um beijo com ela. Barbara olha pra barriga, uma saliência surge, do bebê empurrando.

BARBARA: - Ratoncito, olha que sinistro!

Krycek sorri e coloca a mão na barriga de Barbara.

KRYCEK: - Isso é muito esquisito... (RINDO) E ele empurra mesmo!

BARBARA: - Né? Parece um alien! Bizarro!

KRYCEK: -(ASSUSTADO) Barbara, não fala isso nem brincando, por favor! Isso é normal, né? Porque eu sei nada de bebês! Ele parece estar querendo sair à força da sua barriga!

BARBARA: - (RINDO) Calma, hermoso! Scully disse que eles mexem e empurram mesmo, ele está apertado aí dentro, quer que o pobrezinho não se espreguice? Só que eu acho esquisito pra caramba! Deve ser o pezinho dele. Tá sentindo?

KRYCEK: - Garoto com chute forte. Vai ser jogador de futebol.

BARBARA: - (RINDO) Hum, acho que não. Dimitri vai ter o talento artístico do pai dele.

KRYCEK: - Não fala isso nem brincando. Pobre do menino, a arte já me fez fazer muita merda por amor a ela, não quero isso pra ele... Amor, tô indo, não posso me atrasar. Me liga, tá? E não fica assustada com a tempestade. É chuva de verão.

BARBARA: -(PREOCUPADA) Alex, tá com o meu rosário?

KRYCEK: - Sempre.

BARBARA: - Toma cuidado, tá? Volta pra nós.

KRYCEK: - Eu voltarei.

Eles trocam outro beijo. Krycek pega o sobretudo e sai. Barbara faz carinhos na barriga.

BARBARA: - Tá reclamando que papai vai trabalhar, né neném? Mas ele tem que trabalhar, a gente tem fraldas pra comprar, a mamãe deixou o trabalho de lado, preocupada com você... Vamos deitar, a mamãe vai ler um livro pra gente distrair, tá bom? Nicholas Sparks, pode ser? Pra você crescer, ser um homem romântico e sensível às mulheres e fazer uma garota feliz como a sua mãe é.


Residência dos Mulder - 10:23 P.M.

No quarto do casal, risadas altas de Mulder e Victoria. Scully no banheiro passando creme no rosto.

SCULLY: - Mulder, aonde você colocou as minhas pílulas?

MULDER: - (RINDO) O que foi Scully?

SCULLY: - As pílulas, Mulder!!!

MULDER: - Joguei fora!!!

SCULLY: - (INCRÉDULA) Você jogou fora as minhas pílulas? Quem deu direito a você de jogar fora as minhas pílulas pra enjoo?

MULDER: - (DEBOCHADO) Enjoo? Ah, pensei que fosse as outras. Não peguei.

SCULLY: - (INCRÉDULA) Mulder!!!!

MULDER: - Tá enjoada? Oba!!!!

Scully franze o cenho, indignada.

SCULLY: - Estou enjoada sim, mas é porque aquela sobremesa me fez mal. Pode tirar esse sorriso do rosto, que eu sei que você está fazendo agora nesse momento!

Scully sai do banheiro. Olha pra cama. Põe as mãos na cintura.

SCULLY: - Eu não acredito que reviraram a cama! Eu não vou dormir nessa bagunça e nesse aperto todo!

Mulder atirado na cama. Victoria em cima de Mulder, com cara de culpada, tira o travesseiro do rosto do pai. Alguma coisa se move embaixo do lençol. Scully puxa o lençol. Bryan deixa a chupeta cair e dá um sorriso com o rosto cheio de chocolate e um dentinho aparecendo. Engatinha rapidamente pra cima de Mulder, fugindo de Scully. Mulder o abraça sobre o peito.

SCULLY: - Os três, chispem daqui! Reviraram toda a minha cama!!!

MULDER: - Ah deixa de ser chata! A gente tá brincando!

SCULLY: - Mulder, você é mais criança do que eles! Olha o que você fez com o nosso filho, Mulder!!! Tem chocolate até pelas orelhas do Bryan! (DESANIMADA) Ai, Mulder... Eu já tinha dado banho nele.

Scully pega o filho. Bryan esperneia e se revira fazendo beiço de choro, estendendo o bracinho pra Mulder.

SCULLY: - Não acredito, meu filho, você tá todo sujo e babado! Victoria, busque uma fralda pro seu irmão.

Victoria sai correndo do quarto. Scully coloca Bryan na cama. Tira as fraldas dele. Bryan tenta fugir, Scully o segura.

SCULLY: -Não mesmo! Que menininho mais sujinho! Mais um porquinho Mulder nessa casa.

MULDER: - Ei, não fale assim do meu filho!

SCULLY: - (DEBOCHADA) É, percebe-se bem que é seu filho, Mulder.

MULDER: - (CONVENCIDO) Ele é lindo e maravilhoso como o pai dele.

SCULLY: - Eu mereço ouvir isso... (DEBOCHADA) Vou buscar algo pra tirar esse chocolate todo. E você, lindo e maravilhoso, vai trocar as fraldas do seu filho igualmente lindo e maravilhoso, porque eu avisei pra não dar chá antes dele dormir.

MULDER: - Vem aqui, Irlandês. Operação Bebê Limpinho.

Mulder tira a fralda de Bryan. Victoria entra no quarto com uma fralda. Entrega pra Mulder. Bryan morde as mãos. Victoria observa.

VICTORIA: - Quero aprender a fazer isso. Um dia vou ter bebezinhos também.

MULDER: - Você vai aprender a fazer isso. Depois dos 40 anos!

SCULLY: - Mulder, só pra reiterar o aviso, porque você tá acostumado a fazer isso em menina, ele é menino. Portanto, tome certa distância porque...

Scully não termina de falar. Bryan faz xixi acertando a cara de Mulder. Victoria começa a rir. Se rola na cama, rindo de Mulder. Mulder olha debochado pro filho.

MULDER: - É... Pelo menos o Irlandês tem uma boa pontaria.

Scully olha pra Mulder, segurando o riso. Mulder vai pro banheiro, olhando debochado pra ela. Scully termina de trocar Bryan. Mulder volta do banheiro secando o rosto. Atira a toalha no sofá. Joga-se na cama. Olha pra Victoria que ainda ri dele.

MULDER: - Não ria. Você já fez pior!

VICTORIA: -(RINDO) Eu não!!!!

MULDER: - Fez sim! Comeu mingau até não poder mais e vomitou em cima de mim!

Scully deita-se ao lado de Mulder. Os filhos entre eles.

SCULLY: - Não acham que essa cama é apertada demais pra quatro?

VICTORIA: - Mas mamãe, tem um monstro no meu armário. Ele quer pegar o meu maninho.

SCULLY: - Victoria Mulder, não invente coisas.

MULDER: - Ok, acabou a folia. Bryan e Victoria, cama pra vocês. Eu e a mamãe queremos... (OLHA MAROTO PRA SCULLY) Dormir.

SCULLY: - Pensando bem, crianças... Durmam aqui que eu me sinto mais segura.

Mulder olha em pânico pra Scully. Victoria se agarra em Mulder. Fecha os olhos. Mulder apaga a luz do abajur. Scully ajeita Bryan ao seu lado. Fecha os olhos. Bryan procura o seio dela.

SCULLY: - Ai, filho, isso não é fome, já é mania!

MULDER: - (DEBOCHADO) Não condene o garoto, Scully. Ele sabe o que é bom.

SCULLY: - Mulder!!!

MULDER: - Tá vendo? Você escapa do pai, mas não escapa do filho.

SCULLY: - Cala a boca, Mulder!

Scully se ajeita, dando de mamar ao filho.

VICTORIA: - Que gosto tem, mamãe? Igual leite de vaca?

SCULLY: - Não, filha, mais aguado. (RINDO) Quer experimentar?

VICTORIA: - Nah!!!! Que ridículo isso! Eu já sou grandinha!!!

MULDER: - É, mas quando era pequenina não largava os peitos da sua mãe por nada.

VICTORIA: -Sério? Mamãe, isso aí dói?

SCULLY: - (RINDO) Não, mas tem vezes que irrita.

VICTORIA: -Ele é lindo né? Adoro os cabelos dele!

MULDER: -(DEBOCHADO) Pinguinho, você não é minha filha. Quando nasceu era careca igual ao Skinner.

Victoria começa a rir.

MULDER: - (DEBOCHADO) Scully, tem certeza que esse garoto é meu filho? Ele é louro! Eu acho que você pulou a cerca para o lado do Canadá.

VICTORIA: - (RINDO) Bryan Adams Júnior?

SCULLY: - (DEBOCHADA) Lógico que é seu filho, Mulder. Bagunceiro, teimoso e birrento...

MULDER: - Bagunceiro tudo bem, mas o restoé característica dos Scullys.

VICTORIA: - Verdade! Eu já sou uma Mulder legítima!

MULDER: -Exceto quando faz beiço e implica comigo, filhote de Dana Scully.

SCULLY: - Vocês dois não iam dormir? Se ficarem de conversinha, Bryan não vai pregar o olho.

Mulder se vira de costas pra elas. Victoria se gruda em Mulder e fecha os olhos.


Saint Giles Asylum - 10:12 P.M.

Wade digitando no computador com os fones no ouvido. Leva a caneca à boca. Percebe que está sem café. Olha angustiado pra porta. Tira os fones de ouvido. Liga a música bem alta no computador.

[Som:Pink Floyd - The Trial]

Wade afasta-se com a cadeira. Levanta-se, pegando a caneca. Destranca a porta e abre. Espia para os dois lados do corredor, numa fisionomia nervosa. Atravessa rapidamente o corredor entrando na sala de reuniões. Coloca a xícara e aperta o botão da máquina de café.

A lata de canetas sobre a mesa se arrasta lentamente. Wade vira-se assustado, pressentindo alguma coisa, mas a lata para. Volta a olhar para o café que vai caindo na caneca.

WADE: - (MEDO)Vamos, anda rápido!

Wade pega a caneca e sai apressado da sala, atravessando o corredor e entrando rapidamente em sua sala. Não percebe a sombra na parede, ao fundo do corredor, de uma criatura alta, de chapéu, sobretudo e com um bico enorme, segurando uma longa vara na mão.

Wade tranca a porta. Respira aliviado. Faz o sinal da cruz. Senta-se ao computador, desliga o som.

Risadas loucas e insanas ecoam. Passos no corredor. O trinco da porta se mexe. Wade arregala os olhos. Coloca rapidamente os fones nos ouvidos, enquanto reza o Pai Nosso. O trinco da porta para de se mexer. Wade vê uma sombra por baixo da porta, que parece se afastar. Olha para o painel e a luz vermelha do alarme que pisca intermitente: Porão. Wade suspira desanimado.


Delegacia de Polícia - 10:31 P.M.

Krycek, molhado de chuva, passa entre os policiais, conduzindo algemado o sujeito barbudo, cabeludo e tatuado, com cara de encrenqueiro. Empurra ele pra sentar-se na cadeira em frente a escrivaninha.

KRYCEK: - Oficial Phil, faz a ficha desse cara e libera.

Krycek aproxima os lábios da orelha do sujeito.

KRYCEK: - Eu sei que você tá protegendo o Gary. Quero que saiba que, quando a casa dele cair, a sua vai junto, como cúmplice de assassinato. Se resolver abrir o bico e tirar o seu da reta, sabe aonde me encontrar.

Krycek se afasta. A Oficial Lena se aproxima dele com um envelope.

OFICIAL LENA: - Foi tudo o que consegui no arquivo morto, Checov. Me deve um jantar.

Krycek mostra o dedo com a aliança.

KRYCEK: - Lamento, Oficial. Fiel até a morte.

OFICIAL LENA: - (RINDO ALTO) Acredito! E pode me dar presente de natal porque acredito no Papai Noel também!

Krycek abre o envelope. Bishop se aproxima.

BISHOP: - Essa mulher colou no seu pé.

KRYCEK: - É, mas vai descolar rapidinho. Quando você é solteiro, elas correm pra longe. Quando coloca uma aliança no dedo, aí aparece um monte de pretendente.

BISHOP: - Vou comprar uma aliança. Vai que minha sorte melhore? Ah! Gionda Charles tá na sala de interrogatório. Posso? Diz que sim, estou doido pra dar uns gritos hoje.

KRYCEK: - Toda sua. Se eu tiver que falar com aquela mulher novamente, acho que vou vomitar. Joga alto pra ver se confessa e não preste atenção naquele decote, é intencional... Aqui está tudo do caso Hogan. Vamos reabrir porque a promotoria quer provas boas antes que o advogado tire o filho da mãe da cadeia. Nossos antecessores só conseguiram uma condenação com provas circunstanciais. Ele vai apelar até sair. E se sair, vai matar novamente.

O jovem Policial Jones passa cabisbaixo, vestido com capa de chuva.

OFICIAL LENA: -(RINDO) Jones!!! Rua River 300! Checar alarme disparado!

POLICIAL JONES: - (DESANIMADO) A empresa de informática de novo? Não tem outra viatura disponível?

OFICIAL LENA: -É a sua área, fofura. Não me culpe. Se o alarme deles soar dez vezes na noite, você tem que ir dez vezes até lá.

Krycek entrega o envelope pra Bishop.

KRYCEK: - Aguenta as pontas até eu voltar. Vou fazer uma ronda com o Jones.

Krycek se aproxima de Jones.

KRYCEK: - A empresa de informática novamente?

JONES: - É. Segunda vez nessa noite. Segunda vez nessa semana. Já perdi as contas quantas vezes nesse mês, e no anterior, e no anterior...

KRYCEK: - Vou com você.

Jones respira aliviado.


Saint Giles Asylum - 11:11 P.M.

Chuva forte. Jones para a viatura em frente ao portão de grades altas. A propriedade cercada por muros enormes. Krycek espia pra fora.

POLICIAL JONES: - Assustador, não é? Eu não sou medroso, mas esse lugar me dá arrepios!

KRYCEK: - Assustador pensar que colocavam as pessoas nesses lugares para terminarem de enlouquecer. Quem vai abrir o portão?

O portões se abrem.

POLICIAL JONES: - Eles automatizaram. É muita distância entre o portão e o prédio. O cara cansou de correr toda vez que eu chego pra checar alarmes. Isso virou rotina!

KRYCEK: - Eu dei sua dica pro meu amigo Mulder. Ele veio, mas não passou do portão depois que se identificou. Parece que o sócio do cara não acredita nessas coisas.

POLICIAL JONES: -Sim, mas não é ele quem fica à noite nesse lugar! Eu não ficaria aqui nem por todo o dinheiro do mundo!

A viatura vai entrando. Krycek desembaça o vidro da frente com o punho da camisa, olhando para o enorme prédio de quatro andares.

KRYCEK: - Não tinha um lugar menos pior pra colocar uma empresa? Que cliente viria aqui?

A viatura estaciona na frente, atrás do carro de Wade, que os aguarda debaixo da entrada, esfregando as mãos com frio. Krycek e Jones saem da viatura, sobem as escadas correndo para fugir da chuva. Krycek vestido com um sobretudo, Jones com a capa de chuva.

WADE: - Eu sei que o procedimento é verificar quando os alarmes acionam, mas podia ter buzinado, policial. Eu já fazia o velho sinal de ok e você evitava a chuva e o tempo perdido.

POLICIAL JONES: - Esse é o detetive Alex Krycek. Ele quer checar com os próprios olhos.

Wade troca um cumprimento com Krycek.

WADE: -Bernard Wade... O alarme que sempre dispara fica no porão. Não dá pra entrar por dentro, a entrada está trancada. Temos que ir pela porta lateral do prédio, embaixo da ala médica. Vai se molhar, detetive. É um longo caminho.

KRYCEK: - Sem problemas.

WADE: - Vou pegar as chaves, uma lanterna e vou com vocês...

Wade entra no prédio. Krycek tira a lanterna do bolso do sobretudo.

POLICIAL JONES: - Droga de chuva!

KRYCEK: - Gosto de chuva, mas pra ficar em casa namorando e assistindo um filme, comendo pipocas... Lendo um livro. Cozinhando com ela. Ouvindo música romântica ou dançando alguma coisa lenta pela sala...

POLICIAL JONES: - E se faz essas coisas com a namorada?

KRYCEK: - (INCRÉDULO) Mas é claro! Ô garoto, a sua geração só pensa em sexo e balada? Deprimente! Vocês não sabem o que é viver! É só azaração e pegação. Todo mundo doidão e alucinado, chacoalhando a bunda pra cima e pra baixo. Acha realmente que isso é diversão? Experimenta tomar um vinho com a garota, ouvindo música clássica no sofá...

POLICIAL JONES: - Eu perderia a garota.

Krycek acena negativamente com a cabeça.

KRYCEK: - E eu achando que era alienado por ter sido jovem num país comunista...

Wade sai com o guarda-chuva, segurando as chaves na mão e uma lanterna.


Residência dos Mulder - 11:21 P.M.

No sótão, Mulder de óculos, sentado à escrivaninha, digitando no computador. A chuva cai lá fora. Trovoadas. Bryan começa a chorar. Mulder se levanta e desce as escadas rapidamente, entrando no quarto. Victoria dormindo. Scully com cara de sono, ergue a cabeça, levando a mão em Bryan.

MULDER: - Deixa comigo.

SCULLY: - Se for fome, me acorda... Se for os dentes de novo...

MULDER: - Acho que ele está assustado com as trovoadas.

Mulder pega Bryan e sai do quarto, embalando o filho que chora muito.

MULDER: - Calma, Campeão. É só uma tempestade. Vamos checar as fraldas?

Mulder entra no quarto de Bryan. Ele para de chorar. Mulder o coloca no fraldário.

MULDER: - Hum... Quem vai conseguir dormir com xixi no traseiro, hum? Chove lá fora e nas fraldas do meu Campeão?

Bryan morde a mãozinha, olhos azuis focados em Mulder, que pega uma fralda.

MULDER: - Agora vou tomar distância, fiquei esperto com a sua pontaria. Só espero que seja tão boa no basquete! Talvez devesse comprar uma roupa especial pra trocar você, tipo aqueles trajes que se usam em ambientes controlados... Talvez uma capa de chuva...

Bryan sorri pra ele.

MULDER: - Tá rindo do quê, Irlandês? Hum? É o seu pai bobão? Quem sabe uma mamadeira pra gente não acordar a mamãe agora?

Bryan mexe os braços, olhando curioso pra Mulder e soltando sons de bebês.

MULDER: - Vou entender como um sim... Vem garotão. Você toma seu leite e eu faço o meu café. E a gente deixa as meninas dormirem. Combinado? Hora do clube do Bolinha.

Mulder termina de trocar o filho. Pega ele no colo.


Saint Giles Asylum -Acesso ao porão da Ala Médica -11:31 P.M.

Chuva. Krycek e Jones observam Wade, apoiando o guarda-chuva no ombro e abrindo o cadeado na corrente que fecha a velha porta dupla de metal.

KRYCEK: - Sem luzes no pátio?

WADE: - O senhorio disse que ia colocar lâmpadas e arrumar toda a fiação externa... Faz quase um ano que estamos aqui e escuto a mesma desculpa: sem dinheiro agora. Acho que vou ter que pagar o serviço se quiser iluminação.

KRYCEK: - Esse lugar é enorme, fica afastado, é um chamariz pra vagabundos se esconderem.

Wade tira a corrente, abrindo a porta e revelando um corredor escuro com degraus e uma rampa ao lado. Apenas a luz vermelha do alarme pisca, bem distante.

WADE: - Não tem energia elétrica aqui embaixo, como no prédio todo, em todas as alas. Tivemos que fazer uma instalação na parte alugada. Fios velhos e podres.

Krycek entra. Acende a lanterna. Os outros dois ficam do lado de fora.

KRYCEK: - Não vão entrar?

POLICIAL JONES: -(COM MEDO) Não, tá bom aqui na chuva fria! Adoro chuva fria!

Krycek segura o riso.

WADE: - Eu não entro mais aí. Vai me chamar de maluco, mas tem alguma coisa aí dentro que não é mais desse mundo. E fica observando a gente. Dá pra sentir a respiração no cangote!

POLICIAL JONES: - Concordo. Todas as vezes em que entrei aí, eu senti alguém atrás de mim.

Krycek segue, descendo a rampa, iluminando o extenso e largo corredor. Paredes descascadas, sujas, pichadas e velhas. Krycek acompanha com a luz da lanterna o fio do alarme. Quando eles falam em voz alta, as vozes ecoam pelo ambiente vazio e abandonado.

KRYCEK: - Já trocou a fiação e o dispositivo?

WADE: - Já! Três vezes, incluindo modelos e marcas! E ele sempre dispara!

KRYCEK: - Algum animal pode acionar isso! Esses detectores de movimento são muito sensíveis! Deixou ligado?

WADE: - Sim! Colocamos esse sensor aí porque tínhamos problemas com os sem-teto e os jovens! Eles entravam, pichavam e vandalizavam tudo! Sem contar que usavam drogas! Mas quase todas as noites essa coisa continua disparando! E você vai ver que não tem por onde alguém entrar!

Krycek para antes do alarme. Leva a mão. O alarme dispara.

KRYCEK: - Desliga! Deixa desligado!

Wade aperta o controle na mão. Krycek segue o corredor, observando tudo. Chega ao final. O corredor termina em outro corredor que vai para a direita. À frente, outra porta dupla de metal, essa com janelas redondas de vidro. Krycek espia pra dentro.

Uma sala com paredes de azulejos quebrados e pichados. Entulho de concreto e madeira, papelões e colchões. Latas e garrafas vazias. Krycek se afasta. Mira a lanterna para o corredor e segue, tentando andar entre os entulhos de construção.

WADE: - (GRITA) Não fique muito tempo aí embaixo! Tem muito amianto por toda a parte!

Krycek vê a porta do elevador aberta. Espia pra cima. Olha pra baixo, o fosso cheio de água suja. Ele aperta o botão várias vezes.

KRYCEK: - (GRITA) E esse elevador?

WADE: - (GRITA) Estragado! Ficou trancado em algum andar!!! Cuidado pra não cair em cima de você!!!

Krycek vira-se para o lado e vê uma porta vermelha de metal. Tenta abrir. Está trancada. Mira a lanterna para o lado e vê uma escadaria. Krycek sobe. Observa o vitral colorido com a imagem de um santo. Sobe outro lance da escada. Uma porta de metal com cadeado e corrente. Krycek leva a mão e tenta empurrar, mas está trancada.

VOZ FEMININA: - (SUSSURRA) Alex...

Krycek olha pra trás, assustado. Mira rapidamente a lanterna para a escada. Nada. Krycek desce as escadas, mirando a lanterna por tudo, voltando por onde veio, sem encontrar nada.


12:17 A.M.

Krycek anda debaixo da chuva, ao lado de Jones, na escuridão do pátio, mirando a lanterna pelo prédio. Os dois tentam andar entre mato alto e arbustos ressequidos.

KRYCEK: - Guaxinins ou ratos. Isso aqui serve pra qualquer bicho morar... E ratos roem a fiação, o que pode causar a falha na rede elétrica nova. Não entendo como o cara não tem medo de ficar num lugar enorme desses e isolado, sem nenhuma arma. Qualquer um pode pular esses muros.

POLICIAL JONES: - Ele me disse que coloca fones nos ouvidos ou não ficaria aqui nem ferrando! Disse que já ouviu e viu coisas estranhas... Gritos, risadas e passos no corredor. Bolas de luz. Vultos...

KRYCEK: - Jones, vamos com calma, ok? O ambiente é propício para alucinação. Somos policiais, não podemos descartar gente de carne e osso aprontando. Olha pra esse lugar! Esconderijo perfeito pra vagabundo! Isolado, escuro, não chama a atenção, fica ao lado do Potomak. Ok, também sou supersticioso, eu nunca entraria em sã consciência em algum hospital abandonado, imagine num hospital que fazia tratamentos mentais.

POLICIAL JONES: - Não gosto desse lugar e agradeço que tenha vindo comigo, detetive. Se tiver que atender mais um chamado daqui, eu vou pedir transferência de delegacia.

KRYCEK: - Confesso que não tem mesmo como entrarem pelo porão, mas vi uma porta vermelha trancada. Talvez alguém a abra por dentro. E pra isso, teriam que entrar por outro lugar: Por dentro do prédio.

POLICIAL JONES: -E o que estamos procurando, detetive?

KRYCEK: - Entradas arrombadas. Qualquer um pode estar entrando e passando pelo corredor do porão, o que dispara o sensor do alarme.

POLICIAL JONES: -Já verifiquei isso, não tem entradas, apenas a da frente. Vim aqui durante o dia só pra caminhar em volta desse prédio enorme! Tem janelas com vidros quebrados, mas todas elas têm grades. Ninguém conseguiria passar por elas, nem o Homem Elástico!

KRYCEK: -E nem precisa ser o Homem Aranha pra subir pelas grades das janelas e chegar ao telhado e obter acesso ao prédio inteiro. Já tirei caras entalados de chaminés e de telhados quebrados. E caras que andam com serras pra cortarem grades. Espere qualquer coisa de quem tá decidido a fazer merda.

POLICIAL JONES: -Vou checar os fundos do pátio. Pode contar mais de meia hora pra fazer isso. E vou ser bem rápido, acredite!

KRYCEK: -(SORRI) Ok, espero você na entrada do prédio.

O Policial Jones sai apressando o passo e sumindo na escuridão. Krycek mira a lanterna nas janelas, todas com grades. Algumas janelas dos andares superiores com os vidros quebrados e cortinas rasgadas que voam com o vento da tempestade. Krycek observa.

KRYCEK: - É... Nem subindo nas grades alguém chegaria lá em cima. E escalar essas paredes seria improvável.

Krycek vai iluminando as janelas. Um vulto preto o observa no segundo andar. Krycek segue iluminando as janelas, então volta rapidamente para a janela anterior. Nada.

KRYCEK: - ... Tá, foi uma cortina voando. Apenas uma cortina voan...

VOZ FEMININA: -(SUSSURRA/ CHORANDO) Me ajuda, Alex!!!

Krycek começa a ficar nervoso. Vira-se procurando alguém. Nada. Apenas árvores secas, capim alto e o ambiente totalmente mal cuidado e acabado pelo tempo. Um relâmpago. A silhueta negra aparece novamente na janela e sai do foco rapidamente.


1:16 A.M.

Krycek todo molhado sobe as escadas da entrada do prédio. Jones o aguarda, conversando com Wade.

KRYCEK: - Gosto de arquitetura antiga. Posso entrar?

WADE: -Claro. Aceitam um café quente, policiais? É o mínimo que posso fazer depois de perderem tempo e se molharem nessa tempestade.

KRYCEK: - Se não for incômodo.

Wade entra e vai diretamente para o corredor do escritório. Krycek e Jones entram no saguão. Krycek olha pra cima, para o lustre antigo e o teto alto pintado com gravuras de anjos acolhendo pessoas nos braços. Ele fica fascinado.

KRYCEK: - Parece com as pinturas que existem em catedrais ortodoxas na Rússia. Talvez o pintor tenha vindo de algum país eslavo.

POLICIAL JONES: - Você conhece a Rússia? Que legal! Eu nunca saí daqui.

KRYCEK: - É, nasci lá. A Europa é um mundo antigo, Jones. Diferente da América. Essa arte remete aos povos antigos eslovenos. É o estilo deles. Sou apaixonado por arte sacra.

Wade volta com os cafés e entrega pra eles.

KRYCEK: - Incrível! Esse lugar é antigo e enorme! Sabe quem construiu e a época?

WADE: - Não faço ideia. Sei que era um sanatório e fecharam nos anos 80. Colocamos as cordas nas escadas para que ninguém suba. Lá em cima é inabitável. Lacraram com chapas de madeira os acessos aos corredores das alas. O elevador está quebrado, a porta enferrujada. Não abre de jeito nenhum. Como pode ver, só tem uma entrada e uma saída: A porta da frente.

Krycek olha para o elevador. Olha para a direita, a porta dupla de metal, trancada pelos puxadores, com correntes e cadeado.

WADE: - Ali também não temos acesso. Só desse outro lado.

Krycek olha pra esquerda, para a dupla porta de metal aberta, o tapete vermelho em toda a extensão do corredor cheio de portas, todo pintado e arrumado.

WADE: -Nesse lado ficam nossos escritórios, onde era a ala da administração. É a única parte reformada e habitável. O proprietário começou a reformar o prédio e desistiu, acho que faltou dinheiro. Então nos alugou a parte já reformada. Sei o que vai dizer, quem colocaria uma empresa num lugar desses? Bom, nosso ramo não exige que o cliente venha nos visitar muitas vezes. Temos bastante espaço e o aluguel daqui é três vezes menor que o de uma sala pequena num prédio no centro. Estamos há quase um ano aqui, meu sócio e eu. Apenas eu trabalho na noite. Ele fica durante o dia.

KRYCEK: - Qual exatamente o ramo de negócios de vocês?

WADE: - Tecnologia. Nós criamos e desenvolvemos chips para empresas de produtos linha branca, tipo geladeiras, fogões, máquinas de lavar... Antes tudo isso era mecânico, agora é digital. Quando você aperta um botão, nós estamos por trás disso.

KRYCEK: - Jones, você disse que era informática.

POLICIAL JONES: -Sei lá, detetive. Pensei que tudo que envolvesse computador e tecnologia fosse informática...

WADE: -Longe disso, policial, estamos em 2008. Por isso sou fã do Steve Jobs, ano passado ele lançou o tal Iphone. O portão automático daqui foi criação minha, vou patentear. Ele funciona por comando de voz usando o meu Iphone.

KRYCEK: - Isso é sério? Um celular abre e fecha o portão?

WADE: -É o futuro, detetive. Não será mais apenas um telefone, mas um computador de bolso. Um dispositivo que você poderá usar pra tudo. E agora, com essa novidade, muitas empresas estão querendo sua fatia no mercado de telefones inteligentes. Isso é ótimo! Celulares melhores, as pessoas farão mais coisas através deles e eu posso criar infinitas programações. Tudo pode funcionar via wi-fi.

KRYCEK: - Minha esposa me deu um desses de presente, mas ainda não me acostumei com o infeliz, nem sei tudo o que ele faz, esqueço até de recarregar. Essa coisa de dedo na tela me atrapalha, eu fico procurando teclas, não acho onde apertar pra ligar, essa coisa apaga, não sei como ligar de novo... Por fim me irrito, jogo na gaveta e pego o velho de volta.

WADE: - É diferente, parece complicado, mas você se acostuma.

KRYCEK: - A única coisa que aprendi bem rápido são os joguinhos. É um ótimo passatempo. E a câmera pra fazer vídeo e tirar fotos. Admito, é impressionante ter um telefone onde você acessa internet rapidamente, sem precisar de um computador... Mas é caro pra caramba!

WADE: - Vai popularizar rápido, assim que a concorrência começar a fabricar telefones parecidos e de qualidade, isso sempre acontece com qualquer inovação tecnológica. Quero entrar no ramo das casas inteligentes... Parece ironia. Fabricar e pensar modernidade num lugar velho como esse.


1:56 A.M.

Krycek e Jones entram no saguão do prédio. Wade atrás deles.

POLICIAL JONES: - Não entendo... A viatura passou na revisão ontem. Chegamos aqui e agora a porcaria não liga. O motor morreu.

WADE: - Posso dar uma olhada, não sou expert, mas...

POLICIAL JONES: - O detetive Krycek olhou, não tem nada de errado...

Krycek puxa o celular. Olha incrédulo.

KRYCEK: - Que droga! Odeio essa porcaria de telefone inteligente! Não falei? Sem bateria! Eu juro que recarreguei antes de sair!

WADE: - Acontece, as baterias saturam com o tempo... E aqui nesse lugar, eu não sei porquê, mas as baterias acabam rapidinho. Quer que eu leve vocês até a delegacia?

KRYCEK: - Não precisa. Pode me emprestar o bom e velho telefone pra ligar pra central?

WADE: - Claro! Tem um aqui na recepção, ali no canto... Pode usar. Vou dar uma olhada na viatura, às vezes também é a bateria.

Eles riem. Wade e Jones saem. Krycek pega o telefone. Liga.

KRYCEK: - (AO TELEFONE) Oi, aqui é o detetive Alex Krycek... Ah, oficial Lena é você... Sim, o Jones e eu estamos na ocorrência da River 300 e a viatura estragou. Alguém pode nos pegar? ... Tá, valeu...

Krycek desliga. As correntes do elevador fazem barulho. Ouvimos o choro triste de uma mulher.

VOZ FEMININA: - (ANGUSTIADA) Alex...

Krycek vira-se rapidamente. O elevador começa a subir.Ele puxa a arma. Aproxima-se com cautela da porta. O elevador para. Vazio. Krycek desconfiado. Guarda a arma e leva as mãos tentando abrir a porta pantográfica. A porta se abre. Krycek entra no elevador, olhando pra cima. Aperta o botão.


Residência dos Mulder - 6:30 A.M.

Mulder no sótão, usando óculos, segurando a mamadeira e Bryan no colo, tentando niná-lo. O celular toca. Mulder atende.

MULDER: - (AO CELULAR) Fala Barbara... (SORRI) Não me acordou não. Quem dorme com um bebê? ... Não, primeiro foi a tempestade, agora são os dentinhos incomodando... É, vá se preparando para noites insones... Relaxa, o Rato deve ter se atrasado, policial tem turno estipulado, mas nunca tem hora certa pra entrar e sair, depende do caso que está investigando...

Corta pra Barbara em pé na cozinha, nervosa, com a mão acariciando a barriga.

BARBARA: - (AO CELULAR/ ANGUSTIADA) Mulder, Alex é um homem de rotina certa. Ele nunca chega atrasado, ele larga tudo e vem pra casa. E se precisa ficar, ele me liga avisando. Sei a hora dele, sempre o espero acordada, ele nunca passa das 6:10. Eu ligo pro celular e ele não atende. E tô com medo de ligar pra delegacia e ouvir que aconteceu alguma coisa com meu Ratoncito... (ENCHE OS OLHOS DE LÁGRIMAS) Eu tô nervosa e angustiada... E se ele morreu num tiroteio? E se a viatura do Norris chegar na frente da minha casa... Ai meu Deus, eu tô passando mal!

Corta pra Mulder que coloca Bryan dormindo na cama, ao lado de Scully, que se acorda.

SCULLY: - Mulder, vem dormir. Se o Bryan chorar é minha vez...

Mulder pega as calças jeans e começa a vestir. Visivelmente nervoso.

MULDER: - Barbara tá tendo um ataque de nervos. Krycek não chegou em casa.

Scully senta-se na cama, nervosa. Victoria se vira, ainda dormindo.

SCULLY: - Como assim? Ela ligou pra delegacia?

MULDER: -Não, mas a delegacia acabou de ligar pra mim. Eu nem sabia que era o contato de emergência do Krycek. O parceiro dele, o tal Bishop, disse que estão procurando por Krycek a madrugada inteira. Ele sumiu. Não retornei a ligação pra Barbara porque não sei como dizer isso e pedi pro Bishop não avisá-la. Sabe o estado dela. Vou pra lá ajudar nas buscas. Preciso que você conte pra Barbara do seu jeito, caso ela passe mal, você é médica.

Mulder coloca a carteira no bolso de trás. Começa a calçar os tênis.

SCULLY: - Mulder como assim? Eu não tô entendendo nada! Como Krycek sumiu?

MULDER: - Ele foi atender uma ocorrência. No antigo sanatório Saint Giles.

SCULLY: - Aquele em que fomos e o sujeito foi grosso nos chamando de charlatões oportunistas e caçadores de dinheiro?

MULDER: - É. Aquele que não tem nada de paranormal, que "é coisa da cabeça do meu sócio".

Scully põe a mão na boca.

MULDER: - É. Nem precisa falar. Agora eu entro naquele lugar com ou sem permissão e quero ver o filho da mãe do tal Jacob tentar me impedir! Aconteceu alguma coisa com o Krycek!

Mulder pega o celular e a jaqueta. Entra no closet. Sai com a arma na mão.

SCULLY: - Mulder, não faz besteira.

MULDER: - Não farei. Eu vou primeiro na delegacia e no caminho ligo pra Baba.

Mulder dá um beijo em Scully, outro em Victoria e sai do quarto. Scully pula da cama e começa a vestir o robe.

SCULLY: - Lamento, filhotinho. Agora que você finalmente dormiu, a mamãe vai ter que pegar você e atravessar a rua. Tia Barbie precisa da mamãe. Vamos deixar um bilhete pra maninha, caso ela acorde.


Delegacia de Polícia - Divisão de Homicídios - 6:48 A.M.

Mulder entra na sala. Norris tentando acalmar os detetives Chambers, Peter e Bishop, que falam todos ao mesmo tempo. O policial Jones sentado e cabisbaixo, quase catatônico. Mulder bate na porta. Norris o reconhece.

NORRIS: - Ah! Aceitou o emprego? Chegou na hora certa, vai nos ajudar a revirar aquele lugar atrás do Checov!

BISHOP: - Assim que o mandado chegar. O dono daquele lugar disse pra gente ficar longe!

CHAMBERS: - Ele vai ver ficar longe! Checov tá lá em algum lugar e quanto mais tempo a gente esperar, menos chances ele vai ter. E se algum filho da mãe que odeia policial tá com ele?

POLICIAL JONES: - Não foi humano, está bem? Pelo menos não vivo! Foi alguma coisa ruim que tem naquele lugar!

PETER: - Ah, moleque! Não vem você com essa história de fantasmas de novo!

Mulder se aproxima de Jones.

MULDER: - Pode me contar como o detetive Krycek sumiu?

BISHOP: - E quem é você?

MULDER: - Fox Mulder, detetive particular. Bishop me ligou. Sou o telefone de urgência do Krycek.

Bishop troca um cumprimento com Mulder.

BISHOP: - Desculpe, muito prazer, Mulder. Eu liguei, sou Bishop, o parceiro dele. Como a Barbara reagiu?

MULDER: - Não contei nada. Minha esposa foi fazer isso, ela é médica e não sei se vocês sabem, mas...

Mulder olha pra mesa de Krycek. Há um rato de pelúcia, com jaqueta de couro, usando fraldas, uma chupeta azul na boca e um distintivo de brinquedo pendurado no pescoço. Mulder segura o riso.

MULDER: - É, vocês sabem que a Barbara está grávida. O bebê vai nascer logo. Melhor não preocupá-la além do que ela já está... (RINDO) Fala sério, essa do rato foi genial! Vocês tão folgando pra caramba com ele!

CHAMBERS: - Que dúvida! Pra que servem os colegas?

Mulder senta-se ao lado de Jones.

MULDER: - Pode me dizer como ele desapareceu? Foi você quem estava com ele?

POLICIAL JONES: - A viatura falhou do nada...

PETER: - Bateria sem carga! Eu digo que esses mecânicos são incompetentes...

POLICIAL JONES: - (HISTÉRICO)Mas só falhou lá!!! Funcionou até chegarmos e depois falhou! Cara... Cara vocês não estavam lá, não sabem que lugar desgraçado é aquele!

NORRIS: -Ô Peter, traz uma água com açúcar pra esse garoto, ele tá passando mal!

POLICIAL JONES: -Eu saí pra fora com o Wade, um dos donos da empresa. O detetive Krycek ficou lá dentro ligando pra cá, pra pedir uma carona... Quando a gente voltou, ele tinha sumido!!!

CHAMBERS: -Vou rir muito se ele saiu pela porta dos fundos e deu uma escapadinha pra comprar presente pra esposa. Isso é típico dele!

POLICIAL JONES: - (NERVOSO) Ele não saiu! Não tem como sair! Só tem uma entrada e uma saída! O lugar é todo trancado e lacrado por dentro e por fora! Tem coisa ruim lá dentro, eu tô falando há meses! Eu não sou louco!

MULDER: - Policial, tente se acalmar, respire. Eu acredito em você.

Mulder se levanta.

MULDER: - Preciso falar com o senhor, delegado.

Norris vai pra sua sala, Mulder o segue. Norris bate a porta.

NORRIS: - Fale, detetive Mulder.

MULDER: - Sei que vai pensar que sou maluco...

NORRIS: - Ok. Você é maluco. Sei do seu passado no FBI e sei que saiu de lá pra continuar caçando fantasmas, alienígenas, demônios, duendes, lobisomens e todo o tipo de coisa esquisita. E eu pagando impostos como todo o cidadão americano para o FBI caçar bruxas...

MULDER: - Não peço que acredite em mim, delegado Norris. Só mantenha a mente aberta. Aquele sanatório tem um história terrível de maus tratos e mortes. Eu acredito naquele policial sentado lá fora! É um policial, um sujeito treinado pra enfrentar todo o tipo de situação, mas o rapaz está completamente perturbado! Aconteceu alguma coisa que foge à lógica racional dele!

NORRIS: - Vou conseguir um mandado e vamos revirar aquele lugar. Krycek não ia desaparecer assim no nada.

MULDER: - Concordo, mas só vai perder tempo que Krycek não tem.

NORRIS: - Qual sua sugestão, Mulder?

MULDER: - Mantenha seus homens longe daquele lugar para evitar mais desaparecimentos. Eu vou com minha equipe. Se não for paranormal, eu tenho porte de arma, sei lidar com vagabundo e chamo vocês pra fazerem a festa.

NORRIS: - E se for paranormal?

MULDER: - Escolheu o cara certo para o serviço.

Norris recosta-se na mesa, cruza os braços.

NORRIS: - Não vai conseguir entrar lá sem permissão. O dono daquele hospício desativado é um porre, não deixou nem meus homens entrarem lá, mesmo com um policial desaparecido. Estou aqui esperando um mandado...

MULDER: - Me dá o nome e o telefone do cara, eu vou ter uma conversa com ele e só saio de lá com as chaves na mão. E acredite, eu não sei ouvir não como resposta.

NORRIS: - Percebi. Mas tenho outra alternativa. Bishop vai com você levando um mandado. Aí tenho um policial lá dentro e você aproveita e entra com ele.

MULDER: - Prefiro minha equipe. Eles sabem o que esperar e estão preparados. Seu policial pode ser meu ponto fraco dependendo do que está lá dentro.

NORRIS: -Sabe que não posso dar um mandado pra você entrar. Você é detetive particular.

MULDER: - Como sei que não pode ficar de fora ou vai parecer negligência com um subordinado e o Comissário vai cair em cima de você. Deixe um homem de vigia na frente do portão, para cumprir a burocracia do sistema. Eu vou falar com o proprietário. Tenho coisas pra dizer que vão fazer ele mudar de ideia rapidinho.

NORRIS: - E se ele não mudar de ideia?

MULDER: - Deixe Bishop com o mandado por perto. Em último caso, deixo ele se arriscar comigo.

Norris abre a porta.

NORRIS: - Bishop, nome e telefone do dono daquele hospício! Entregue para o detetive Mulder. E quando chegar o mandado, pegue alguém e fique de vigilância no portão daquela pocilga!

Norris olha pra Mulder.

NORRIS: - Sabe que vou ouvir merda se você pisar na bola. Entendeu? É um policial, um dos meus homens. Posso perder a minha aposentadoria!

MULDER: - Ele é meu amigo, meu irmão. E eu vou encontrá-lo. Se não me deixarem entrar, eu dou um jeito e entro. Amanhã você me prende e eu pago a fiança.

NORRIS: - Gosto de caras como você, Mulder. Sem medo de arriscar. E admito, eu acredito em fantasmas, porque eu já vi um, com os meus próprios olhos. E por ser tão maluco quanto você, eu vou permitir essa loucura toda! Mas não fode comigo!

MULDER: - Pode deixar, delegado. (DEBOCHADO) Você não faz o meu tipo.


Saint Giles Asylum - 8:21 A.M.

Mulder estaciona o carro em frente ao portão. Baba ao lado dele. Mulder acena pra Bishop, parado ao lado da viatura estacionada.

BABA: - Jesus! Meus pelos estão todos arrepiados e nem entrei ainda!!! Se Krycek sumiu aí dentro, eu não queria estar sozinha nesse lugar quando anoitecer! Precisamos ser rápidos!

MULDER: - Espero que nos deixem ao menos entrar no pátio. Quer ouvir a história desse lugar?

BABA: - Não! Não me fala nada, deixa eu absorver a coisa toda e depois comento o que descobri e você compara com o que sabe. Assim me mantenho honesta com o meu dom.

Os portões abrem. Mulder entra. Estaciona na frente do prédio, atrás de um carro.

MULDER: - Dr.Helmut Zimmer. É o dono da propriedade. Me disse ao telefone que estaria aqui. Vamos ver se está mesmo.

BABA: - Médico alemão? Que se pronuncia "hell"? Se ele for nazista estamos os dois ferrados, a negra e o judeu! E se ele nos coloca pra correr?

MULDER: - A gente vai embora. Pego minhas tralhas, escalamos o muro que fica ao lado do rio durante a noite e estamos dentro.

BABA: -Tá maluco, Raposo? Olha pra minha forma física e a minha idade e me diz se eu escalaria alguma coisa!

MULDER: - (DEBOCHADO) O Frohike?

Baba mete uns tapas, Mulder se defende rindo.

BABA: - Olha aqui, seu judeu narigudo, mais respeito comigo! Não sou sua mãe! Olha que eu faço um voduzão sinistro pra você! Pra aumentar mais o tamanho do seu nariz e diminuir o tamanho da coisa que a Scully gosta!

MULDER: - (DEBOCHADO) Ui! Você é má, Oda Mae!

BABA: - Meu negócio é café, não leite! Frohike... Hum!

MULDER: - (DEBOCHADO) Misturas sempre caem bem...

BABA: - Não tô com paciência hoje. Vou agendar sua surra. Amanhã às quatro da tarde, pode ser? Ah não, tem que ser às cinco, porque às quatro é a surra que a Scully vai te dar! Sou vidente, esqueceu?

Um velho e albino desce da porta de trás do carro, usando bengala e chapéu. Mulder olha pra Baba.

MULDER: - (DEBOCHADO) Acho que você vai ter que encarar é leite puro hoje...

BABA: - Meu Deus! O cara é albino? Nunca tinha visto um de perto!

Os dois descem. O velho se aproxima.

DR. ZIMMER: - Senhor Mulder?

Os dois trocam um cumprimento. Ele tira o chapéu pra Baba.

DR. ZIMMER: -Senhora...

Ele coloca o chapéu de volta.

DR. ZIMMER: -Por favor, vamos entrar e conversar lá dentro. O sol não é meu amigo.

Corte.

Mulder observa o saguão com curiosidade e empolgação. O velho médico senta-se no sofá da recepção, apoiando as mãos na bengala. Baba anda de um lado pra outro, observando tudo.

DR. ZIMMER: -Então, quanto está me oferecendo pela propriedade?

Baba olha incrédula pra Mulder.

MULDER: - Na verdade, senhor Zimmer, eu menti. Não quero comprar sua propriedade, mas era a única maneira do senhor me ouvir. Há sérios problemas nesse lugar.

DR. ZIMMER: -É engenheiro, senhor Mulder? Se for eu concordo. Mas não tenho interesse em reformas. Estou falido e não disponho de recursos.

Mulder entrega o cartão pra ele.

DR. ZIMMER: -Ah! Jacob, um dos meus inquilinos, comentou que você já esteve aqui vendendo seus serviços de caça-fantasmas. Quero lhe dizer que não preciso disso, não acredito nessas coisas e não há nada aqui que possa lhe interessar. É apenas um prédio velho e barulhento.

MULDER: - Ontem à noite um policial desapareceu dentro da sua propriedade. A polícia está lá fora. Eles vão conseguir um mandado e entrar aqui, chutando, quebrando e destruindo tudo, porque estão realmente furiosos. Sabe como a polícia é corporativa. Entretanto, se me der permissão para investigar...

DR. ZIMMER: -Não gosto de oportunistas e o senhor é um oportunista. Seu ramo de negócios é uma enganação para tirar dinheiro de pessoas emocionalmente perturbadas.

Baba se aproxima do elevador. Fecha os olhos, nervosa.

MULDER: - Vamos deixar de lado a enrolação, senhor Zimmer. Acredito que saiba que exista algo nesse lugar. Algo paranormal. Se não acreditasse, não teria lacrado os acessos todos. Nem teria parado com a reforma. O que parou sua reforma, pode me dizer? Não foi falta de dinheiro como alegou para seus inquilinos, embora possa acreditar que investiu tudo o que tinha para reformar esse lugar e perdeu tudo com isso. Não é o primeiro, posso lhe garantir. Por isso eu trabalho nesse ramo. Para ajudar as pessoas a recuperarem o que é seu por direito.

DR. ZIMMER: -...

MULDER: - O que existe aqui reagiu mal, não é mesmo? Espíritos não gostam de reformas. Seus construtores devem ter desistido, o boato foi se espalhando e ninguém mais quis o serviço. Provavelmente acidentes aconteceram aqui e você ainda precisou pagar indenizações por martelos que voavam em cabeças desavisadas e escadas que caíam misteriosamente derrubando seus empregados.

Baba se afasta do elevador, sem dar as costas.

DR. ZIMMER: -É bastante perspicaz, senhor Mulder. Então serei direto. Não quero gente aqui, caçadores de fantasmas, histéricos malucos invadindo esse lugar e muito menos chamar a atenção para o nome da minha família. Desisti sim das reformas por esse motivo. E pelo jeito vou perder os inquilinos também. Sim, fali na compra desse lugar. Tinha planos para transformar isso no maior shopping center da Virgínia. Perdi cada tostão que investi, porque ninguém mais quer comprar esse lugar pela fama que ele tem.

MULDER: - Esconde que é o proprietário e esconde a verdade sobre o lugar, tudo para proteger sua reputação. Eu posso entender. Só não posso entender porque não resolve o problema.

DR. ZIMMER: -E existe alguém que resolva um problema desses? A única tentativa que fiz foi contratar um bando de caçadores de fantasmas, que chegaram aqui com equipamentos de cinema, cheios de empolgação e terminaram indo embora dizendo apenas que o prédio era assombrado e levando o meu dinheiro! Mas isso eu já sabia, eu queria era me livrar dos fantasmas! Então mandaram uma mulher que veio aqui com pedras, cristais e amuletos, cantando com roupas estranhas em um idioma mais estranho ainda. Ela garantiu que havia limpado o lugar, que todos os fantasmas haviam partido e ainda tive que pagar por isso também! Acha mesmo que eles foram embora? Depois disso as coisas só pioraram, senhor Mulder. Aquela maluca deve ter irritado mais ainda as entidades aqui dentro! Ou chamou mais coisas ruins para dentro dessas paredes para voltarem e me arrancarem mais dinheiro!

Mulder olha apiedado para o velho.

DR. ZIMMER: -Vocês são todos enganadores! Quando reclamei do serviço, ela disse que apenas os bons espíritos ficaram. Não mesmo! Eu não quero nem os bons e nem os maus aqui dentro! Eu gastei as economias de uma vida para deixar um shopping aos meus herdeiros e tudo o que estou conseguindo é deixar contas de honorários de advogados e processos trabalhistas e que não venço os pagamentos! Não bastasse, meu senhor, ainda tive que processá-los por quebra de contrato, pois filmaram tudo e iriam passar na televisão denegrindo o nome da minha família e ganhando mais dinheiro ainda em cima da minha desgraça! Não, senhor Mulder, estou velho e doente demais pra isso. Ninguém vai resolver o meu problema e só vão atrair atenções desnecessárias. Oportunistas. Só dinheiro e mais dinheiro... Vocês me enojam!

MULDER: - Lhe dou minha palavra, nada de atenção. Sigilo total. Venho com minha equipe, encontramos o policial, investigamos o problema e damos a solução. Se concordar...

Baba se irrita.

BABA: -Deixa eu lhe falar uma coisa, senhor Zimmer. Lamento que tenha pedido socorro às pessoas erradas. Não coloque todos no mesmo saco de gatos, eu não gosto quando nos chama de oportunistas, porque não somos. Cobramos porque isso leva tempo e recursos, como qualquer tipo de investigação particular, fosse sobrenatural ou bem natural mesmo. Mulder e a esposa são profissionais, ex-agentes do FBI, pessoas sérias e competentes. Por justiça, eles merecem pagamento pelo que fazem porque é o trabalho deles. O meu salário é de secretária na agência deles. O que faço como médium é de graça, porque meu dom foi dado de graça por Deus. Não posso cobrar esse tipo de coisa. Trabalho há anos com este homem e desconheço alguém com mais competência profissional e integridade pessoal.

DR. ZIMMER: -Meu neto disse que eu deveria aproveitar a oportunidade e deixar que o lugar fosse famoso. Assim ganharíamos dinheiro com turnês para amantes do paranormal. Sim, e processos com acidentes aqui dentro! (INCONFORMADO) Deus, era apenas um bom terreno, ao lado do Potomak, com vista para turista se encantar. Com algumas reformas, daria um ótimo shopping center... Esse lugar me aborrece, senhor Mulder, mas não quero me desfazer dele. Não passarei a ruína para outro. Não desejo isso a ninguém.

O velho se levanta e anda em direção à porta.

DR. ZIMMER: -Não vou jogar meu dinheiro fora com oportunistas. Não creio que consigam me livrar do problema, ninguém pode. Passe bem, senhor Mulder. (INCLINA A CABEÇA RESPEITOSO) Senhora...

MULDER: - Não quero o seu dinheiro, senhor Zimmer. Não cobrarei nada pela investigação e ninguém vai saber o que estamos fazendo aqui. Minha equipe é de confiança. Quero ajudá-lo. E mais que isso, eu preciso encontrar o policial. Ele é meu irmão.

O velho para. Vira-se pra Mulder. Tira um molho de chaves do bolso.

DR. ZIMMER: -(SAUDOSO) Eu tenho um irmão e assim como eu, ele é médico psiquiatra e compartilhamos o mesmo mal hereditário. Há muitos anos atrás, meu irmão ficou perturbado com as coisas do ofício e desapareceu sem deixar nenhum bilhete... Encontre seu irmão e dê o fora daqui. O mais rápido que puder. Prefiro você à polícia, eles não serão complacentes comigo e nem entenderão o que esse lugar foi um dia e o que deixou aqui para sempre. De resto, senhor Mulder... Pode investigar o que quiser, mas não me prometa nada. Só peço que não atraia atenções para o nome da minha família, porque minha família é tudo o que eu tenho de mais sagrado. Não vai conseguir limpar esse lugar dos horrores do que aconteceu e do que ficou aqui por causa de tanto sofrimento. Tenha um bom dia!

O velho sai, apoiando-se na bengala. Baba olha pra Mulder.

BABA: - Precisamos ajudar esse homem. E a Scully vai matar você porque vai ser de graça. E eu concordo com você, Mulder, é preferível perder dinheiro que deixar uma pessoa sofrendo sem solução alguma. Ele foi vítima de espertalhões, é lógico que perdeu a confiança em todos. E não tá nada bem, nem é preciso ser médium pra ver isso. Se quer minha opinião, tem muita coisa acontecendo aqui dentro, a luta vai ser bem grande.

MULDER: - Eu seguro as pontas com a Scully, e afinal como Krycek tá envolvido, ela nem vai chiar dessa vez com a contabilidade. Mas teremos que trabalhar todos juntos ao mesmo tempo. Vou reunir toda a equipe, vamos encontrar Krycek e vamos checar o que existe aqui dentro. E depois... Depois a gente vê como pode resolver. Vou ligar pra Scully e chamá-la, ela já deve ter largado Victoria na escola. E ligar pro Frohike e os rapazes. Não podemos perder mais tempo.


Residência de Barbara Wallace - 9:12 A.M.

Barbara seca as lágrimas com um lenço, sentada no sofá do estar íntimo, com o cachorro ao lado dela. Scully entra pela porta dos fundos, com Bryan dormindo nos braços e uma sacola de bebê. Scully coloca a sacola na poltrona.

SCULLY: - Tem certeza que dá conta?

BARBARA: - Tenho. Já tô cuidando de dois bebês, mais um não faz diferença.

SCULLY: - (SORRI) Seu cachorro é uma graça, parece até de brinquedo!

BARBARA: - (SORRI) Parece né? Quando ele fica assim quietinho e dormindo parece uma pelúcia daquelas bem peludas. O pelo dele é tão fofinho!

SCULLY: - Trouxe três mamadeiras prontas, papinha e sopinha. Vou colocar na geladeira. Victoria vai e volta da escola com a Angela, não se preocupe, já combinei com ela. Angela vai largar Victoria aqui com você... Tem certeza mesmo? Não vai ficar louca?

BARBARA: - Não. Já vou treinando pra ser mãe.

SCULLY: - Se Dimitri ameaçar nascer, liga pra mim. Volto correndo. Sei que me quer por perto.

BARBARA: - Com certeza. Vou me sentir mais segura com você. Mas tô pedindo pra ele esperar o pai voltar.

Scully sorri. Entrega Bryan pra ela. Barbara admira Bryan em seus braços.

BARBARA: - Tão lindo o meu afilhado... Scully, encontra o meu Ratoncito. Por favor.

SCULLY: - Vamos encontrá-lo. Não sairemos de lá até acharmos o seu "Ratoncito". Eu prometo. Pode levar horas, o lugar é enorme, mas vamos em peso pra lá. Tenta se acalmar, tá?

BARBARA: - Tô mais calma. Confio em vocês. E pode ficar tranquila, vou cuidar das suas preciosidades, seus filhos são como se fossem meus filhos.

SCULLY: - Ah! Victoria tem mania de comer muito doce. Controla. De resto, tudo nessa bolsa. Fica com as chaves da minha casa, pode precisar de alguma coisa. Victoria sabe onde tudo está.

BARBARA: - O que eu faria sem vocês?

SCULLY: - O que eu faria sem você! Não dá pra levar um bebê numa investigação e a Baba hoje é totalmente necessária. Liga, tá? Não hesita. Assim que encontrarmos o seu marido, eu ligo pra você. Krycek vai estar bem.

BARBARA: - Acredita mesmo que alguma coisa pegou ele? Tipo um fantasma, um demônio...

SCULLY: - Barbara, eu não sei o que levou o seu marido. Também não descarto a possibilidade de ser algo completamente científico: um ser humano vivo. Pode haver fantasmas, mas desconhecemos o que possa existir a mais dentro daquele lugar.


Saint Giles Asylum - 9:33 A.M.

[Som: Martin Grech - Open Heart Zoo]

Ambiente iluminado apenas pela luz do sol que atravessa um vitral. No vitral o desenho de um anjo de cabelos negros e longos, vestes brancas. Numa das mãos uma rosa vermelha e na outra uma espada.

A luz incide sobre o corpo de Krycek desacordado, de bruços, no chão de ladrilhos. A arma caída perto da mão dele.

Vemos a ponta da vara que cutuca as costas de Krycek, verificando se ele está inconsciente ou não.

As mãos com luvas negras agarram os tornozelos de Krycek, o arrastando pelo ladrilho.



BLOCO 2:

10:14 A.M.

No saguão, Mulder com as mãos na cintura, observa Langly e Frohike. Baba encara o sócio de Wade, Jacob, que bebe café escorado na porta de acesso aos escritórios, olhando pra eles como se fossem malucos.

MULDER: - Quero duas câmeras de tripé com infravermelho e sensor de movimento. Uma na frente de cada escada. Se alguma coisa se mexer aqui, vamos detectar.

LANGLY: - Byers e eu vamos ficar monitorando de dentro da Kombi e se algo estranho aparecer nas imagens, chamamos você pelo rádio.

MULDER: - E não esqueçam de gravar. Não vamos usar as imagens, elas vão para arquivo, não temos autorização pra divulgar essa investigação. Certo? Omitam nomes e o lugar se forem falar disso na revista, dei minha palavra ao proprietário. Outra coisa. Quero uma câmera fixada naquele corredor que vai pro porão. Infravermelho e sensor de movimento também.

FROHIKE: - Ainda bem que investimos em brinquedinhos caros. Byers foi buscar a escada.

JACOB: - Acreditam mesmo nesse show de vocês? Nessa palhaçada toda? Ganham a vida assim? Não devem saber o que é trabalho duro!

MULDER: - Ficaria surpreso do quanto ralamos pra ganhar a vida e essa investigação está saindo de graça... Ok, amigos. Ao trabalho!

Frohike e Langly saem do saguão. Mulder vai até o elevador. Tenta abrir.

JACOB: - Não abre. Está emperrada com a ferrugem.

MULDER: - Vamos esperar a Scully. Enquanto isso vou buscar alguma coisa pra destravar esse elevador. Acho que Frohike tem spray antiferrugem nas coisas dele. Não vejo escadas dando acesso lá pra baixo.

BABA: - Será que sai no porão?

MULDER: - Talvez. Quer me dar suas impressões agora ou esperamos a Scully?

BABA: - (OLHANDO PRA JACOB) Não posso. Tem uma energia cética nessa sala. Depois é a gente que não rala na vida...

Jacob começa a rir e entra no corredor indo pra seu escritório. Baba segura a raiva.

BABA: - Esse cara tá me atrapalhando a concentração. Ele tem que ficar aqui?

MULDER: - Quer tentar sugerir que ele saia?

BABA: - Preciso de um copo de água. Esse lugar me dá náuseas. E esse elevador... Tem algo bem ruim que emana dele. Algo que sobe... Chego a sentir a energia subindo do meu estômago e me sufocando. Não gosto de nada aqui dentro, menos ainda desse elevador.

Baba vai até o bebedor. Mulder sai. Baba senta-se no sofá, com o copo de água, olhando para o elevador, receosa. Scully entra.

SCULLY: - Barbara ficou com Bryan. Agora estou tranquila. Meu Deus! Isso aqui é... Impressionante!

Scully olha pra cima e pra todos os lugares.

SCULLY: - Olha essas escadas de mármore e madeira nobre! Esse lustre... Pinturas no teto... Esse lugar tem uma arquitetura antiga, pena que mal preservada.

BABA: - Não tem nada bonito aqui, Scully. Apenas as aparências.

Mulder volta chacoalhando um spray e segurando uma mochila no ombro. Vai até o elevador, espalhando spray entre as portas. Frohike entra com outra mochila.

BABA: - Não gosto da energia que sobe por esse poço. Não consigo decifrá-la. Sei que não é boa.

MULDER: - Sente alguma presença?

BABA: -Sabe que geralmente essas presenças só se revelam à noite. Mas sinto uma presença lá embaixo. Na verdade, é estranho, mas parecem várias... E-eu não sei explicar. São presenças muito vivas... Mas tem mortos também... Ou um morto? Estranho isso...

FROHIKE: - Viva? Gente viva? Então pode ser o Krycek.

BABA: -Eu não sei, é tudo confuso, parece mais de uma pessoa viva... Preciso andar por esse lugar. Ele é muito intenso, tem muitas coisas aqui dentro, muitas presenças, muita tristeza, dor, morte... Pessoas sofreram aqui... É muita coisa pra absorver e distinguir o que é o quê. Sou como uma antena, mas estou recebendo tanta transmissão que não decodifico o sinal. Pena Victoria ainda ser nova demais... Aposto que ela decifraria.

FROHIKE: - Victoria é tão médium quanto você?

BABA: - Victoria é muito mais médium do que eu, Frohike. Eu sinto, algumas vezes escuto ou vejo, mas Victoria faz tudo isso e muito mais além.

Scully morde os lábios, baixando a cabeça e colocando o cabelo atrás da orelha, num semblante de preocupação.

MULDER: - Esse elevador não vai abrir agora.

Mulder se vira. Então encara Frohike.

MULDER: - Seu departamento não é a vigilância?

FROHIKE: - Estou vigiando.

MULDER: - E posso saber o quê está vigiando se está aqui dentro e não lá fora?

Frohike assovia, colocando as mãos nos bolsos da jaqueta de couro. Scully segura o riso.

MULDER: -Não tenho um mapa desse lugar. Existem três andares, mais o térreo e o porão para procurarmos o Krycek. Temos como entrar no porão pelo acesso embaixo da ala médica, onde geralmente o alarme ativa sem motivo aparente. Provavelmente temos alguma entidade acionando esse alarme. Vamos descer e procurar Krycek, baseados na intuição da Baba. (DEBOCHADO) E a minha intuição diz que ratos sempre acabam no porão.

Mulder olha pra Scully.

MULDER: -(DEBOCHADO) Bem vinda de volta ao trabalho, detetive Scully. Acabou sua licença maternidade. Pegue sua lanterna, mulher. Vamos dar uma voltinha romântica num porão de um sanatório assombrado. Hum?

SCULLY: - (SUSPIRA) Você entende tanto de lugares românticos, Mulder...

Baba se levanta.

BABA: - Eu já aviso, não vou segurar velas! Detesto fazer isso com vocês dois juntos, é provocação e piadinha o tempo todo, fora a discussão sobre quem tem a razão.Vou circular por aí.

FROHIKE: - Viu? Vigilância. Vou com você para protegê-la.

Scully leva a mão à boca, disfarçando o riso.

BABA: - Pensei que tivesse medo de lugares assombrados.

FROHIKE: - Medo? Eu? Os borra calças estão dentro da Kombi! Eu nunca tive medo. Lógico, um pouco, mas não a ponto de sair correndo! Eles só estão nessa com o Mulder por minha causa, ou já teriam fugido pra bem longe!

Mulder tira a argola de chaves do bolso.

MULDER: - Vamos nos dividir, assim varremos esse lugar mais rápido enquanto é dia. Não quero estar aqui durante a noite. Vou abrir aquela ala fechada ali, a ala médica. Pode haver uma escada para o porão. Deixo com vocês dois. Scully e eu ficamos com a entrada externa do porão, estaremos embaixo de vocês. Krycek tem que estar aqui dentro.

BABA: - (DEBOCHADA) Mulder, tem uma arma reserva? Posso precisar.

FROHIKE: - Fique calma, minha adorável bruxinha do Mississipi. Eu protejo você.

Mulder olha incrédulo pra Frohike. Scully não aguenta e começa a gargalhar.

BABA: - E quem vai me proteger de você?

Mulder abre a mochila e tira dois radiocomunicadores. Entrega um pra Frohike.

MULDER: - Vamos nos comunicando. E o que não abrir com chave, chute.

FROHIKE: - Tenho ferramentas na mochila. Cadeados e tapumes não vão me impedir.

MULDER: - Tem microcâmeras aí?

FROHIKE: - Tenho. Quer colocar por onde passamos?

MULDER: - Sim, em locais estratégicos como corredores centrais e aonde Baba apontar atividade. Estamos investigando assombrações, mas estamos aqui principalmente pra achar o Rato. Precisamos ficar vigiando, pode ser que esteja andando por aí perdido, levou uma pancada na cabeça, nunca se sabe.

Acesso ao porão da Ala Médica - 10:38 A.M.

Mulder e Scully se aproximam da entrada do túnel. Langly desde da escada. Assustado, ajeita os óculos.

LANGLY: - Coloquei a câmera. Agora vou dar o fora. Tem alguma coisa aí dentro.

MULDER: - Que coisa?

LANGLY: - Vi um vulto, tá legal? Mirei a lanterna e vi uma coisa passando do tamanho de um homem. E depois ouvi risadas. Nunca, em nenhuma investigação de vocês, eu tinha visto isso assim de cara. Então, adeus! Tô na Kombi! Nem ferrando que entro aí, arrume outro cinegrafista!

Langly pega a escada e sai às pressas. Mulder olha debochado pra Scully.

MULDER: -E você me criticou por gastar dinheiro em equipamentos como microcâmeras de última geração com infravermelho e tudo... Primeiro as damas?

SCULLY: - Como você é cavalheiro, Mulder...

Scully ergue a lanterna e a acende, olhando debochada pra ele. Entra. Mulder a segue.

SCULLY: - Aqui é onde o alarme aciona sem motivo aparente?

MULDER: - É. Cuidado com os degraus. Melhor andar pela rampa.

Eles seguem andando, cada vez vai ficando mais escuro. Passam pelo alarme.

SCULLY: - Checaram a fiação? Ratos? Guaxinins?

MULDER: - O policial e Krycek já checaram.

SCULLY: - Tem certeza que isso vai dar no porão?

MULDER: - Por quê? Também acha estranho uma rampa e escadas?

SCULLY: - Estamos embaixo da ala médica, Mulder. Eu não chamaria isso de porão. Isso me parece mais...

Scully mira a lanterna na porta dupla com janelas redondas de vidro.

SCULLY: - É um corredor da morte. Por isso a rampa, para as macas saírem para os carros funerários.

Mulder arregala os olhos. Scully empurra a porta. Olha para o ambiente lúgubre e sujo, cheio de entulhos. Chuta alguns com o pé. As paredes de azulejos quebradas e pichadas.

SCULLY: - Necrotério, Mulder. Isso já foi um necrotério. Veja as marcas das mesas de necropsias no chão.

Scully mira a lanterna pelas paredes.

SCULLY: - Ali deveriam ficar as câmeras de refrigeração.

MULDER: - Scully, impressão minha ou tá ficando frio aqui dentro?

SCULLY: - Impressão sua, Mulder. O ambiente é propício para devaneios e...

Ela não termina de falar e fumaça surge na frente de seus lábios, indicando o choque entre o ar quente que sai da sua garganta com o ar frio do ambiente gelado.

SCULLY: - Ok, Mulder. Realmente esfriou aqui dentro.

Mulder abre a boca e fica brincando de fazer fumaça. Scully revira os olhos, em ironia. Mulder abre a mochila e tira um aparelho. Scully o encara com indignação.

SCULLY: - Mulder, o que é isso?

MULDER: - Medidor de temperatura ambiente... Ah, Scully, eu comprei uns brinquedinhos novos pela internet. Me deixa ser feliz e testá-los! ... Nossa! Tá fazendo dez graus aqui dentro! Lá fora tá dezoito...

SCULLY: - Made in China? Talvez isso explique tanta diferença de temperatura entre ambientes.

MULDER: - Ah sim, e como explica essa fumacinha saindo da sua boca? Ahn? Anda fumando escondida de novo? Mentolados ou aqueles que o Bob Marley curtia e por isso atirou no xerife? Ahn? (CANTANDO)I shot the sheriff, but I did not shoot the deputy... (MALANDRO DEBOCHADO) Sabe né? Mó barato gata! Umas viagens estranhas, tá ligada nessas paradas alucinadas?

Scully acena a cabeça negativamente, segurando o riso e continua observando o local. As pequenas janelas no alto, com vidros pintados de preto.

SCULLY: - Mulder, como maconheiro, você é bem melhor como carpinteiro de casa de cachorro.

Mulder tira uma microcâmera da mochila e fixa na parede.

MULDER: - Pronto, vamos dar o fora que, ao contrário de você, eu não gosto de necrotérios.

Scully sai, desvia dos entulhos no chão e mira a lanterna pra dentro do fosso alagado do elevador. Mulder se aproxima. Scully mira a lanterna pra cima.

SCULLY: - Está parado no último andar. É, Mulder. Desciam os mortos por aqui mesmo.

MULDER: - Sai da beira desse negócio, Scully! Pode despencar em cima de você!

Scully vira-se de costas para o elevador. Mira a lanterna na escada. Não percebe a mão com garras pretas longas e pele de anfíbio que sai do fosso alagado do elevador e tenta agarrar seu tornozelo. Scully se aproxima dos degraus. Mulder observa a porta vermelha e tenta abrir.

MULDER: - Droga! Não tem fechadura! Deve estar trancada por dentro.

SCULLY: - Deve ter outro acesso lá em cima. Vamos subir.

Os dois sobem o primeiro lance de escadas. Scully para diante do vitral com a imagem de um santo.

SCULLY: - São Giles ou Santo Egídio, um dos catorze santos auxiliares da Igreja Católica. Seu túmulo está na abadia onde viveu, que é local de peregrinação e parada oficial dos Caminhos de Santiago. Ele era filho de nobres e quando seus pais morreram, Egídio doou tudo o que herdou aos pobres e foi viver numa floresta como eremita, se dedicando ao estudo de Deus e sua única companhia era um cervo. Teve sua mão atingida por uma flecha enquanto tentava proteger uma corça dos caçadores do rei. Ele é o santo protetor dos loucos, inválidos, doentes, mendigos e ferreiros.

MULDER: - Não sabia que conhecia tanto sobre santos.

SCULLY: - Sou católica, sempre gostei da história dos santos.

MULDER: - Acredita realmente que todos eles mereciam canonização? Na Idade Média bastava você ter dinheiro e ajudar a Igreja Católica pra depois virar um santo. É santo que não acaba mais! Até Papa vira santo! E não se esqueça que Lucrécia Bórgia, ícone da espécie "piranhus famintus", era filha do papa Alexandre VI. É, os padres e papas já puderam casar, ter amantes e filhos fora do casamento, Scully. Santo sou eu!

SCULLY: - Não generaliza, Mulder! São pessoas iguais a nós, mas muitos realmente foram dotados de extrema compaixão pelas pessoas.

MULDER: - E compaixão deve ser reconhecida como mérito? Compaixão é dever do ser humano. É como fazer caridade anunciando em voz alta. A caridade se faz no silêncio, fora disso é autopromoção e marketing pessoal.

Mulder sobe o outro lance de escadas. A porta dupla trancada com cadeado e corrente. Mulder pega a argola de chaves e começa a procurar, experimentando chaves.

SCULLY: - Acredita mesmo que vai achar a chave certa no meio desse monte de chaves?

MULDER: - (DEBOCHADO) Quer que eu reze pra um santo me ajudar?

SCULLY: - Mulder, respeita a minha crença porque as minhas orações mantiveram você vivo até hoje, muito mais que o seu juízo!

Scully puxa a arma, irritada. Empurra Mulder.

SCULLY: - Sai da frente!

Scully atira no cadeado. Mulder faz cara de pânico. O cadeado arrebenta. Scully chuta a porta. Guarda a arma.

SCULLY: - Primeiro os idiotas. Tenha a bondade, Mulder. Ah! E não tem santo padroeiro pra idiota. Com sorte, você será canonizado, "São Mulder, padroeiro dos idiotas e dos alienígenas".

Mulder entra, olhando calado e assustado pra ela. É uma ante-sala, atravessada por um corredor extenso e várias portas abertas.

Barulhos.

Os dois puxam as armas, assustados, cada um mirando para uma direção do corredor.

Baba e Frohike saem de trás de uma porta, mais assustados ainda.

BABA: - Pelo amor de Deus, em quem vocês atiraram?

Os dois abaixam as armas, relaxando.

MULDER: - (DEBOCHADO) Scully tem problemas com cadeados trancados.

Scully passa esbarrando de propósito nele, dando um empurrão. Baba se aproxima de Mulder.

BABA: - Eu não previ que a sua surra estava agendada? Você se esquece que sou vidente?

Mulder faz careta e bota a língua pra ela.

SCULLY: - Ok, saímos no térreo. O que tem aqui?

FROHIKE: - Salas cirúrgicas, enfermaria, muitas banheiras, banheiros, vestiário, elevador e uma escada. Tem umas salas daquele lado ali, com aparelhos de eletrochoque e outras coisas esquisitas, umas cadeiras com tiras de couro, acho que serviam para prender os pacientes sentados...Nem se deram ao trabalho de tirarem os móveis e essas coisas todas.

Mulder entra numa das salas. Frohike o segue. Mulder vê macas, máquinas de eletrochoque, cadeiras com tiras de couro e uma cadeira giratória. Percebe os ganchos pendurados no teto. Mulder tonteia.

FROHIKE: - Mulder, você está bem?

MULDER: - A sensação que eu sinto aqui é a mesma de uma cobaia numa mesa de abdução... Tortura e mais tortura humana... (OLHOS MAREJADOS) Para justificar ciência... Pacientes sem socorro, sem saída, apenas dor. Abandonados, Frohike. Abandonados à própria sorte, expulsos da sociedade, rejeitados por suas famílias... E-eu... Eu posso entender isso muito bem.

Frohike passa a mão nas costas dele, num alento.

MULDER: - Isso tudo era mais prática de tortura do que prática médico-científica. Conhecimento zero, tentativa e erro e todas essas pessoas eram cobaias. Eles acreditavam que o tratamento moral precisava passar pelo tratamento físico. A sensação intensa do choque deveria tirar o paciente de seu estado de alienação. Mesmo depois de Pinel, ainda praticaram essa coisas por um bom tempo. Até hoje, alguns ainda acreditam no eletrochoque como tratamento.

FROHIKE: - E aqueles ganchos?

MULDER: - Penduravam as pessoas de cabeça pra baixo, para o sangue fluir ao cérebro, acreditando que isso melhorava os sintomas da "loucura". Aquela cadeira. Eles giravam as pessoas até ficarem tontas. Tontas elas ficavam mais calmas. Mais calmas significava avanço no tratamento... Me deixa sair daqui, estou passando mal.

Mulder sai da sala, com a mão na boca. Scully percebe.

SCULLY: - Mulder, você não está bem. Vamos sair e tomar um ar?

Mulder atravessa o corredor e entra na sala da frente. Eles vão atrás dele. Uma sala com muitas banheiras velhas e encardidas. Canos quebrados, poças de água com ferrugem.

MULDER: - Banheiras. Não é um spa. Serviam para tratamentos. Banhos gelados ou extremamente quentes, afogamento rápido para obter reação do paciente... Imagine uma criança com autismo passando por isso...

BABA: - Crueldade. Por isso há tanta dor nesse lugar. As paredes ecoam dor.

Eles saem da sala.

FROHIKE: - Já coloquei uma câmera no corredor e outra na Sala 13. Baba pediu.

BABA: - Senti uma presença naquela sala. Uma presença estranha. Pode ser uma criança...

Eles entram na Sala 13. Uma mesa de cirurgia, lâmpadas, aparelhos envelhecidos pelo tempo. Bisturis e instrumentos cirúrgicos empoeirados e espalhados pelos balcões. Mulder pega um instrumento, similar a um picador de gelo pontudo. Observa. Scully fecha os olhos, angustiada.

MULDER: - (REVOLTADO) Bando de açougueiros! A história da medicina nunca foi bonita e a do tratamento mental pior ainda!

SCULLY: - Mulder, sei o quanto isso é aterrador, mas os médicos tentavam o que podiam para obterem respostas a fim de melhorar a vida desses pacientes...

MULDER: - Sua justificativa não me convence, Scully. Sabem o que é isso aqui na minha mão? Um orbitoclast. Introduziam através da órbita ocular e faziam lobotomia... Me diz que mente imbecil fez a suposição de que, retirando parte do cérebro, poderia curar uma pessoa? Ahn? Comparando um ser humano com uma laranja estragada, que você tira um pedaço e aproveita o resto?

FROHIKE: - (ASSUSTADO) Me diga que anestesiavam antes.

MULDER: - Não.

FROHIKE: - Mulder, fala sério!

MULDER: - Estou falando sério. Geralmente faziam isso com esquizofrênicos. Geralmente. Alguns médicos achavam interessante também aplicar o método da lobotomia para outros tipos de transtornos, já que depois do procedimento, o paciente ficava calmo e não incomodava mais.

FROHIKE: - Também pudera! Quem não ficaria calmo, depois de ter parte do cérebro furada?

MULDER: - Furada? Não, eles cutucavam e remexiam o córtex pré-frontal para destruir um pedaço do cérebro.De um paciente com transtorno para um vegetal calmo. Isso era ótimo! Não incomodava mais, ficaria atirado numa cama até morrer. Dinheiro fácil. Sim, porque não pensem que tudo era em nome da ciência. Em nome do bolso também sempre foi! Os manicômios não foram construídos com o objetivo de tratar, mas de excluir aqueles que não se encaixavam no que eles definiam como uma pessoa normal.

Mulder tira um mini gravador da mochila. Scully olha incrédula. Mulder liga o gravador.

MULDER: - Tem alguém aqui nessa sala? ... Pode falar comigo?... Quem é você?

Scully leva a mão à testa, num suspiro de descrença.

MULDER: - Não queremos perturbar, ok? ... Só queremos ajudar você...

Mulder desliga. Volta a fita. Encosta o gravador no ouvido. Scully morde os lábios, querendo rir, olhando para o marido.

MULDER (OFF): -Tem alguém aqui nessa sala?

VOZ MASCULINA (OFF): - Eu.

Scully arregala os olhos, tirando o sorriso dos lábios. Aproxima-se de Mulder, para escutar melhor.

MULDER (OFF): - ... Pode falar comigo?... Quem é você?

VOZ MASCULINA (OFF): - Bi-billy.

Mulder sorri. Scully assustada. Baba e Frohike curiosos.

MULDER: - Resposta inteligente. Está curioso conosco também.

MULDER (OFF): - Não queremos perturbar, ok? ... Só queremos ajudar você...

VOZ MASCULINA (OFF): - Medo... Doutor Crow.

Mulder desliga. Pede silêncio pra todos. Aperta o botão para gravar.

MULDER: - Billy, quantos anos você tem? ... Quem é o Dr. Crow? Não precisa ter medo dele... Onde ele está?

Mulder desliga, volta a fita e torna a ligar.

VOZ MASCULINA (OFF): -26... Foge! Ele vai te pegar!

Silêncio na gravação. Mulder desliga.

BABA: - Pensei que fosse uma criança pela energia boba e inocente...

MULDER: - Faz sentido, Baba. Provavelmente ele sofreu uma lobotomia ou tinha retardo mental. Sentiu o medo na voz dele? Medo como uma criança sente de adultos que a maltratam. Tem muita coisa aqui. Se nos detivermos nelas, o tempo vai passar e precisamos encontrar Krycek.

BABA: - Ok, então vamos pras escadas.

MULDER: - Dr. Crow... Quem foi esse médico?

FROHIKE: - Bom, aposto que não era nada amigável. E o sobrenome "corvo" não ajuda muito.

Eles caminham pelo corredor, espiando para dentro das portas.

MULDER: - Em 1903 inauguraram o Saint Giles como um sanatório público. Primeiramente para tratar mulheres com histeria. Mulheres de diversas idades e classes sociais eram internadas aqui com a promessa de cura através de métodos inovadores. TPM e problemas hormonais, depressão e depressão pós-parto, ansiedade generalizada, fobias e outros transtornos emocionais eram diagnosticados como histeria, que era considerada uma doença para a medicina da época. A palavra vem do latim Hystéra, que significa útero. Eles acreditavam que a energia do órgão se deslocava para outras partes do corpo, causando os ataques.

BABA: - Meu Deus! Tempos pré-históricos!

MULDER: - E pré-histéricos. Um dos métodos inovadores para acabar com a histeria era a histerectomia cirúrgica. Retiravam o útero da paciente para acabar com o seu problema "mental". Outros médicos eram adeptos das seções diárias de introduções vaginais com vibradores. Foi como inventaram o vibrador. Em resumo: o problema também poderia ser falta de sexo.

SCULLY: - O pai da medicina ocidental Hipócrates, influenciou por anos a misoginia médica com sua teoria sobre as doenças mentais das mulheres provirem do útero. Não fazer sexo ou não ter filhos podiam causar histeria. Também mulheres rebeldes eram consideradas histéricas. O problema todo era visto como doença a ser tratada pela medicina, enquanto muitas questões eram apenas da doença social, um grito calado na garganta das mulheres, que viviam submissas e segregadas pela sua condição social de sexo frágil, relegadas a autoridade dos maridos e pais, e submetidas aos caprichos chauvinistas.

FROHIKE: - Pobres mulheres. O mundo nunca foi fácil pra vocês!

MULDER: - Se uma mulher gostasse muito de sexo, era histérica. Se gostasse pouco, também. Qualquer comportamento social que fugisse do padrão estipulado era considerado sintoma de histeria. Banhos frios, jatos de água na barriga, lavagens vaginais com mangueira para retirar a "sujeira" do útero e outras coisas absurdas, eram usados também no tratamento. Em 1911, o Saint Giles passou a atender outros tipos de doenças mentais, criando uma ala para pacientes masculinos. Dementes conviviam entre pessoas com transtornos emocionais e psicológicos. Tudo na mesma panela. Freud ainda não tinha convencido a Psiquiatria com suas teorias revolucionárias. Todos tratados como malucos e submetidos a experiências de cura, choques elétricos, sangria, trepanação e lobotomia.

BABA: - O que é trepanação?

MULDER: -Uma lobotomia mais radical. A abertura de um ou mais buracos no crânio. Era a cirurgia para curar doenças mentais ou tirar os demônios da cabeça. Em 1921 começaram a internar os tuberculosos aqui. Depois dos tuberculosos, os presos violentos, diagnosticados como incuráveis. Assassinos seriais, canibais, necrófilos... Por fim os indigentes que não podiam ficar na rua, as crianças órfãs com sintomas de carência afetiva e até alguns velhos com doença da "caduquice ou esquecimento", que hoje sabemos ser Alzheimer. Isso era um depósito de gente que a sociedade não queria. Mulheres, homens, crianças, velhos, doentes, presos... Todos nesse prédio em alas diferentes. Em 1980 fecharam as portas. A luz dos avanços científicos na área, medicamentos eficazes e estudos sobre diversos transtornos contribuíram para que as pessoas refletissem que esse tipo de lugar servia mais como experimento e crueldade do que para curas. Denúncias de maus tratos, desaparecimentos estranhos e suicídios encerraram as atividades do Saint Giles.

FROHIKE: - (INCRÉDULO) Só em 1980? Mas já tinha tecnologia e computadores!

MULDER: - É. Somente em 1980 perceberam que mais de 80% dos "malucos" poderiam ser curados apenas com seções de terapia e talvez o uso de algum medicamento associado. Se você pensar que antes da clorpromazina, criada em 1950, tratavam as pessoas com opioides como morfina e até cocaína... Se algum de nós tivesse vivido nas cinco primeiras décadas do século passado, certamente teríamos enfrentado tratamentos tortuosos, afinal de contas, hoje sabemos que todas as pessoas tem a necessidade de consultar um psicólogo. Nem todos os problemas psiquiátricossão casos de internações, grande parte é emocional além do mental. Até o psiquiatra Dr. John Kellogg's, o pai dos cereais e acho que o primeiro defensor da alimentação vegetariana da América, entendeu que também a alimentação saudável e atividades físicas melhoravam o humor e a saúde das pessoas.

BABA: - Pensei que fosse o irmão dele Will quem tinha inventado.

MULDER: - Will ajudou e depois comprou os direitos do irmão, já que o Dr. John tinha olhos apenas para o uso dos cereais na alimentação dos pacientes do seu sanatório em Battle Creek e se negava a entrar na então nova e bastante competitiva indústria alimentícia. Will era considerado um alienado com problemas mentais e incapaz de fazer as coisas, tudo porque era um sujeito quieto e tímido. Como eu digo, muitos julgamentos errôneos se fizeram sobre problemas emocionais e doenças psiquiátricas. Nem Dr. John se escapou dessa. Mas ele ganha pontos, por ter criado acidentalmente queimando os flocos de trigo, a melhor, mais rápida e nutritiva alimentação matutina americana.

SCULLY: - Ele só não contava que no futuro viriam as plantações transgênicas.

Eles param nas escadas.

MULDER: - Em 1981, a propriedade foi comprada por Allan Parker, um especulador imobiliário que pensou transformar isso tudo numa prisão de segurança máxima. Quando as reformas começaram, problemas misteriosos surgiram. Parker vendeu rapidamente o prédio para Richard Lusk, um milionário que pensou fazer daqui um hotel cinco estrelas com vista para o Potomak. As reformas começaram novamente e logo em seguida Lusk vendeu a propriedade a um preço abaixo de mercado para um comprador anônimo, que hoje descobrimos ser o Dr. Helmut Zimmer, psiquiatra já aposentado, que também tentou reformar para a construção de um shopping. Assim como os outros, as perturbações das entidades aqui dentro o fizeram desistir, deixando o lugar abandonado por um bom tempo e agora, com inquilinos na única ala que ele conseguiu reformar.

BABA: - Espíritos não gostam que mexam em suas coisas. É a casa deles. É o único lar que conheceram, morreram aqui, não querem intrusos perturbando. Estão presos nesse lugar, coisas inacabadas, sentimentos confusos...

MULDER: - Frohike, você e Baba sobem para o primeiro andar. Scully e eu vamos descer e tentar acessar a sala da porta vermelha que não conseguimos abrir lá embaixo.


Porão da Ala Médica - 11:04 A.M.

Mulder e Scully, com as lanternas ligadas, chegam a um enorme porão, completamente escuro. Caldeiras, restos de carvão, fiação caída, infiltrações. Cadeiras de rodas e equipamentos quebrados jogados e espalhados. Scully olha pra cima.

SCULLY: - Estamos embaixo da ala médica. É achamos o porão.

Mulder procura com a lanterna. Vê a porta vermelha. Há uma tranca. Mulder aproxima-se, destrancando-a. Vê a sala do necrotério.

MULDER: - Mistério da porta resolvido, Watson. O porão dá no necrotério mesmo.

Mulder tira uma câmera da mochila e fixa na parede, focando o porão.

MULDER: - Melhor ideia que Frohike teve, colocar essas fitas super colantes...

SCULLY: - (ERGUE A SOBRANCELHA) Sherlock, pode me explicar a existência daquilo?

Mulder vira-se. Mira a lanterna.

MULDER: - (SURPRESO) Um poço?

Os dois se aproximam. Mulder, curioso, mira a lanterna dentro do poço. Scully também espia pra dentro.

MULDER: - Talvez usassem água daqui para algum tipo de terapia. Água mais pura.

SCULLY: - Não dá pra ver o fundo...

Scully se inclina.

SCULLY: - (GRITA) Olá!!!

A voz dela ecoa lá, lá, lá, lá, lá. Scully olha pra Mulder, segurando o riso.

MULDER: - (DEBOCHADO) Não teve infância? Vai brincar de eco agora?

Scully sorri. Mulder se inclina sobre o poço.

MULDER: - (GRITA) Oi!!!!

A voz dele ecoa oi, oi, oi, oi, oi. Os dois riem. Mulder gosta da brincadeira.

MULDER: - (GRITA) Scully!!!

A voz dele ecoa ly, ly, ly, ly, ly. Scully dá as costas, rindo.

MULDER: - (GRITA) Tem alguém aí?

A voz ecoa eu, eu, eu, eu, eu.

Scully vira-se com os olhos arregalados pra Mulder, que se afasta do poço, andando de costas para trás, assustado. Mulder olha pra Scully. Os dois apavorados disparam, subindo as escadas, quase se atropelando. Chegam ao térreo, esbaforidos.

MULDER: - (ASSUSTADO) Fala sério... Você ouviu aquilo?

SCULLY: - (ASSUSTADA)Mulder, vamos logo pro segundo andar. Vamos encontrar Krycek e dar o fora daqui!

MULDER: - Isso foi radical!

SCULLY: - (IRRITADA) Fox Mulder, se quiser coisas radicais compre um skate ou tente escalar o Everest sem equipamento de segurança porque vou me sentir bem mais tranquila!

Scully sobe as escadas irritada. Mulder espia para a escada que desce ao porão. Então corre atrás de Scully.


Corredor do Primeiro Andar sobre a Ala Médica - 11:17 A.M.

Local lúgubre e quase escuro, iluminado apenas pelas janelas dos quartos que estão com as portas abertas. Frohike fixa a microcâmera na parede do corredor. Baba anda pelo corredor, desviando de entulhos e equipamentos hospitalares, espiando para dentro dos quartos. Observa a parede de um quarto onde está escrito à mão: "Você está aqui porque o mundo lá fora rejeita você".

BABA: - ... O pior de tudo é que nada lá fora mudou. Tudo o que não se encaixa continua sendo banido. Tudo que requer cuidado, é jogado fora. Não há empatia com a dor alheia. Nem mesmo as famílias querem cuidar dos seus... Nunca houve tantas doenças psicossomáticas e emocionais como há agora. Depressão, ansiedade. Somos uma sociedade doente, mergulhada no caos da busca pelo ter e consumir. Isso não fica restrito a coisas, mas também a pessoas. Ninguém mais tem respeito, dedicação ou paciência e vemos isso todos os dias dentro de casa e na rua. Não serve mais o fogão, joga fora e compra outro. Não serve mais o marido, joga fora e arruma outro.

FROHIKE: - É uma verdade, Baba.

BABA: - Eu cresci numa igreja pentecostal. Um dia perguntei ao pastor por que tudo era culpa do diabo. Ele me respondeu que foi o diabo quem trouxe o pecado ao mundo. Então perguntei sobre o livre-arbítrio que temos para escolher entre o bem e o mal. Ele não soube me responder porque as pessoas preferiam o mal. Foi quando entendi que é mais fácil culpar o diabo do que assumir erros e responsabilidades pelos nossos atos e escolhas. E nunca mais voltei àquela igreja. Compreendi a parábola do joio e do trigo e o baixo número de salvos no Armagedom. Há mais joio nessa plantação sufocando o pouco trigo do campo planeta Terra.

Frohike olha com admiração pra Baba.

BABA: - Deixa pra lá. Devaneios de uma "bruxa" velha e calejada da vida.

FROHIKE: -Pensamentos de uma mulher experiente... Bom, é quase meio dia e nem chegamos na metade do prédio. Ainda temos dois andares e todos os andares da ala esquerda... Isso é um pesadelo!

BABA: - Acho que vamos levar o dia todo. E talvez a noite. Esse lugar é enorme.

O rádio faz barulho. Frohike atende.

FROHIKE: -(AO RÁDIO) Fala Mulder.

MULDER (OFF): - Vocês não vão acreditar! Quando Baba puder descer, diga pra ela checar o poço no porão.

FROHIKE: -(AO RÁDIO) Poço?

MULDER (OFF): - Alguma coisa respondeu pra mim. E veio de dentro do poço! Não tô maluco, Scully também ouviu, foi uma resposta inteligente.

FROHIKE: -(AO RÁDIO) E se for o Krycek?

MULDER (OFF): - Não foi o Krycek! Alguma coisa dentro daquele poço zombou da gente. Respondeu rápido. Tomara que o áudio da câmera tenha captado.

FROHIKE: -(AO RÁDIO) Por que não tenta os brinquedinhos novos? Tipo o medidor K2 pra checar o campo eletromagnético do poço?

MULDER (OFF): - Nem ferrando que eu desço lá novamente! Estamos indo para o segundo andar.

FROHIKE: -(AO RÁDIO) E a adorável e cética detetive Dana Scully? Qual a teoria dela?

MULDER (OFF): - Continua detetive e adorável, cheia das teorias, mas cética nem tanto... Au! Para de me beliscar, mulher!

Frohike coloca o rádio na cintura, segurando o riso. Sai espiando pra dentro dos quartos. Ele de um lado e Baba de outro.

FROHIKE: -Acho que Krycek não está aqui... Mulder quer que chequemos o poço no porão. Nunca vi um poço em porão!

BABA: - Duas coisas completamente bizarras, poços e porões. Geralmente casas antigas à beira de rios tinham poços no porão, dentro da própria casa. Talvez tenham construído esse lugar em cima de ruínas de casas. O fato de haver um rio aqui ao lado só piora a coisa toda.

FROHIKE: - Mas não tem um lance que diz que água corrente afasta coisas ruins?

BABA: - A água tem energia como tudo no universo. Ela é um condutor, tanto de energias boas quanto ruins. E num lugar repleto de energias ruins como esse, não me surpreenderia em descobrir que os vizinhos próximos tenham problemas com atividades paranormais.

Baba para diante de uma sala. Pinturas infantis nas paredes. Brinquedos antigos de metal e madeira e um cavalinho de balanço, pelúcias rasgadas, bonecas, tudo atirado em meio aos entulhos amontoados. Bolas velhas e um triciclo de metal velho e enferrujado.

BABA: - Estamos no que um dia deve ter sido a ala das crianças... Não posso conceber a ideia desse lugar cheio de crianças... Isso é muito triste. Mais triste ainda pensar que uma criança escreveu aquilo na parede. A sabedoria dos pequenos é admirável.

Frohike se aproxima.

FROHIKE: - Posso fazer uma pergunta pessoal? Quando você descobriu que era médium?

BABA: - Com seis anos de idade. Eu conversava com pessoas mortas. Logicamente eu não sabia que estavam mortas. Foi minha avó quem percebeu o meu dom. Ela e mamãe eram médiuns também e me incentivaram. Minha avó era a curandeira que todos procuravam quando alguém ficava doente. Ela aprendeu poções, chás e encantos com sua mãe, ainda nas fazendas escravagistas de algodão no Mississipi.

Os dois saem andando pelo corredor, lado a lado, observando o lugar.

FROHIKE: - Você deve ter uma enorme história de vida pra contar.

BABA: - Aposto que você também.

FROHIKE: - Nem tanto quanto você. Fiquei um bom tempo preso na tentativa frustrada de me encaixar na vida normal, casamento, trabalho comum... Não deu certo. Nunca culpei Maryah por isso. Terminamos o relacionamento na amizade. Não tivemos filhos. Ela mora em Nova Iorque e sempre me manda um cartão de natal endereçado ao "Tigrão".

Os dois riem.

BABA: -Isso é admirável, "Tigrão". Eu me casei com meu primeiro namorado. Tivemos uma menina linda, doce, encantadora e tagarela. Victoria lembra muito minha filha Katrina.

FROHIKE: - Katrina. Nome bonito.

BABA: - Theo tinha uma carreira no exército, nos mudamos para perto do quartel. Tínhamos uma vida boa. Eu era dona de casa, cuidava da minha família e visitava meus parentes todos os finais de semana para ajudar, sabe? Éramos pobres, eu dei sorte na vida me casando com um soldado que virou tenente. Para um negro sulista era o prêmio da loteria. Até que...

FROHIKE: - Não precisa falar. Eu sei. Eles foram abduzidos dentro da sua casa e você paralisada não pode fazer nada. Como ele era militar, o exército precisava encobrir. Você foi acusada de matar marido e filha e sumir com os corpos. Cumpriu pena por quase 20 anos e saiu em condicional.

BABA: - (SEGURA AS LÁGRIMAS) Melhor não falar mesmo sobre assuntos tristes. Esse lugar tem coisas que se alimentam da sua energia e não posso baixar a minha guarda.Mas agradeço você.

FROHIKE: - E por que deveria me agradecer?

BABA: - Porque anos atrás, você estava conversando com um sujeito numa cafeteria e falando sobre o que Mulder fazia. Eu estava matando o tempo e procurando emprego no jornal, ouvi você e foi como descobri o Mulder. Peguei o endereço na lista e fui atrás dele pra pedir ajuda com as respostas que eu não tinha. E enquanto tentava criar coragem pra bater na porta dele, percebi o monte de babás que entravam e saíam. Eu precisava de emprego e respostas. E entendi na hora que meu lugar era ali. Eu tinha que ajudar o Mulder. Era a minha missão.

FROHIKE: - (SORRI) Destino?

BABA: - Deus... E você acredita nessas coisas que Mulder acredita?

FROHIKE: - Se não acreditasse nunca teríamos feito amizade.

Baba para repentinamente.

BABA: - Alguém passou por nós. A câmera tá filmando?

FROHIKE: - Tá... Fantasma?

BABA: - (SORRI) Um menininho. Pude ouvi-lo rindo.

Barulho de rodas enferrujadas. Os dois se viram para trás. O triciclo que estava no quarto, agora está no meio do corredor. Frohike olha assustado pra Baba.

BABA: - Apenas mais um abandonado nesse lugar, sem saber pra onde ir. Mas eu vou tirá-los daqui. Eu prometo.


Corredor do Segundo Andar sobre a Ala Médica - 12:12 P.M.

Local escuro, pouco iluminado. Mulder e Scully abrem as portas checando os quartos. A cada porta aberta, o corredor se torna mais iluminado. Scully entra num quarto. Camas quebradas, objetos e pertences pessoais ainda jogados por ali em meio a entulhos. Scully percebe a cadeira de rodas caída, um xale velho no meio dos escombros. Scully sai do quarto, cabisbaixa e triste. Sente o tapa no traseiro. Scully revira os olhos, irritada e se vira.

SCULLY: - Mulder, você não...

Scully arregala os olhos ao ver Mulder no fim do corredor colocando a câmera. Scully fica nervosa, procurando algo com os olhos, sem ver ninguém. Então acelera o passo em direção a Mulder.

SCULLY: - A-alguma coisa me tocou, Mulder.

MULDER: - Tocou? Como assim? Machucou você?

SCULLY: - ... Não... Ahn... Deu um tapa no meu traseiro.

MULDER: - (DEBOCHADO) Nem os fantasmas resistem a sua beleza, Scully. Eles sabem que você é quente e gostosa!

Mulder passa a língua nos lábios, bem canalha e sai andando pelo corredor. Scully, num beiço de irritação, acelera o passo atrás dele.

MULDER: - Já vai fazer beiço?

SCULLY: - Isso não teve graça, Mulder.

MULDER: - Não era pra ser engraçado mesmo. Não sabe como ando doido pra pegar você de jeito, mulher. Sem pressa, na calma... Tô na secura, só me aguarda. Deixa o moleque dormir de tarde, Victoria na escola, vou escurecer aquele quarto, encher de velas aromáticas, passar óleo em você, amordaçar você com uma echarpe e juro que você vai revirar os olhos e atingir o nirvana. Não brinque comigo.

Scully ergue as sobrancelhas, num sorriso empolgado.

SCULLY: - Promessas, promessas... Mulder, você só fala.

MULDER: - (DEBOCHADO)É, sou bom de sexo "oral".

Mulder para diante de uma placa na parede: Ala Geriátrica.

MULDER: - (DEBOCHADO) Yhaaaa Scully! Você anda mexendo com a imaginação dos velhinhos, é?

SCULLY: - (IRRITADA) Dá pra apertar o passo e irmos logo para o terceiro andar? Ahn?

Os dois seguem o corredor.

SCULLY: - Homens... Até velhos e mortos pensam em sexo!

MULDER: - Qual o problema de virar um fantasma tarado e sair dando tapa em traseiros gostosos?

SCULLY: - Pra você nenhum, porque aposto que é o seu futuro depois de morto. Um fantasma tarado.

MULDER: - Pode apostar, Scully. Se eu morrer antes de você, não vou voltar pra puxar seus pés na cama. Vou voltar pra sua cama.

SCULLY: - Você vai é descansar em paz e me deixar em paz, Mulder!

MULDER: - Descansar nada! Que paz eu vou ter deixando a viúva na seca? Toda essa carne gostosa e quente aí pra um outro aproveitar? Nem pensar, Scully! Desista, nem reza brava vai fazer eu me afastar de você. Serei o seu encosto eterno!

SCULLY: - Mulder, meu querido, antes de sepultar você, pretendo fazer a necropsia e cortar o que você tem de maior, que não é o seu nariz, e colocar no formol. Vou guardar seu raposão de lembrança.

Mulder olha em pânico pra ela.

SCULLY: - Depois encomendo uma cópia em silicone com pilhas.

MULDER: - Como pode caber tanta perversão numa mulher tão pequena?

Scully passa na frente dele rebolando, com o nariz em pé. Mulder sorri. Eles chegam a uma sala, com o elevador. Mulder verifica o elevador.

MULDER: - Droga! Está lá em cima!

SCULLY: - Mulder...

Scully aponta para o corredor que deveria seguir em frente, mas há uma porta de grades com cadeado e atrás dela uma porta de metal com uma janela fechada, impedindo o acesso para o lado administrativo. Mulder se aproxima, verificando. Tenta empurrar a porta de metal ou abrir a janela através das grades, mas não consegue.

MULDER: - Trancado. Vamos voltar pra escada e verificar o terceiro andar. Deixamos esse lado pra depois.


Corredor do Terceiro Andar sobre a Ala Médica - 12:47 P.M.

Mulder fixa a câmera no corredor. Scully observa o marido.

MULDER: - Eu sei que tecnologia custa caro, mas é algo muito útil. Nosso negócio tá ampliando e a equipe não aumenta. Ando pensando em arrumar estagiários...

SCULLY: - E acha que algum universitário ficaria interessado em ter você como patrão em seu currículo?

MULDER: - Ao contrário do que pensa, Scully, existem universidades que admitem estudos na área da parapsicologia, sem que isso afete o currículo.

Scully faz uma fisionomia debochada.

MULDER: - Vai omitir seus anos de FBI e a nossa agência quando for pedir emprego na universidade? Eu envergonho você tanto assim?

SCULLY: -(INCRÉDULA) Estou fazendo uma piada com você, Mulder!

Mulder sai andando pelo corredor, magoado, checando os quartos. Scully corre atrás dele.

SCULLY: - Mulder! Mulder, espera!

Scully o segura pelo braço. Mulder olha pra ela.

SCULLY: - Mulder, é isso o que pensa? Que eu tenho vergonha de você? De todos os anos em que trabalhamos juntos atrás de coisas das quais nem sempre encontrei explicações científicas? É isso?

Mulder sorri triste pra ela. Scully abre um sorriso e o abraça.

SCULLY: - Mulder, meu Mulder... Eu jamais teria vergonha de tudo o que vivemos e passamos juntos.

Mulder envolve os braços nela, apoiando o queixo no ombro dela, numa fisionomia abatida.

MULDER: - Por um momento achei que você sentisse vergonha de mim, Scully.

Scully toma o rosto dele nas mãos e olha em seus olhos.

SCULLY: - Mulder, se há alguma coisa em nosso passado da qual eu sinta vergonha foram os meus erros e principalmente o quanto eu fiz você sofrer. Eu nunca tive vergonha de você, eu tenho é orgulho da pessoa e do profissional que você é. Orgulho do marido, do homem, do amigo, do parceiro, do pai dos meus filhos...

Os dois recostam as testas.

MULDER: - Acho que estou meio carente. Desculpe por pensar que...

SCULLY: - Não diz nada. Sabe aquela proposta indecente que você me fez? Eu vou melhorá-la. Deixa comigo.

Scully aproxima os lábios e o beija suavemente. Afasta os lábios num sorriso. Mulder sorri pra ela. Os dois ficam se olhando bobos e sorrindo.

MULDER: - Eu te amo, Scully.

SCULLY: - Eu te amo, Mulder.

MULDER: - Pra sempre, pra sempre, pra sempre.

SCULLY: - Eternamente...

Os dois sorriem, trocando um selinho. Seguem o corredor, checando os quartos. Saem do corredor numa sala aonde está o elevador de portas pantográficas. O corredor continua para o outro lado do prédio, acima da ala administrativa. Completamente escuro. Mulder para na frente do elevador.

MULDER: - Ah, aí está você, elevador do inferno! Então está parado no terceiro andar.Ok, vamos ver se por aqui tem como abrir.

Mulder aperta os botões, nada do elevador funcionar.

SCULLY: - Não tem energia nessa parte do prédio, Mulder.

MULDER: - Não me interessa, essa coisa tem que abrir!

Mulder tenta abrir a porta com as mãos. Scully cruza os braços, ergue a sobrancelha e observa o marido tentar de todas as maneiras e até aos chutes, completamente irritado.

SCULLY: - Vamos em frente, Mulder? Hum? Seguimos e checamos os andares sobre a administração e vamos descendo.

MULDER: -Não dá. Se seguirmos adiante descendo esses andares, vamos ficar trancados. Tem um tapume no alto da escada principal fechando o acesso no primeiro andar. Vamos descer por onde viemos.

Mulder puxa o rádio.

MULDER: - (AO RÁDIO) Frohike, na escuta?

FROHIKE (OFF): - Positivo. Onde vocês estão?

MULDER: - (AO RÁDIO) Estamos no terceiro e último andar. E vocês?

FROHIKE (OFF): - Saímos do porão e estamos subindo para o térreo. Você tinha razão, Baba não gostou nada daquele poço. Alguma coisa saltou em cima dela e tentou sufocá-la.

MULDER: - (AO RÁDIO) Scully e eu vamos descer e nos encontramos no saguão.

1:21 P.M.

Ambiente na penumbra. Krycek em roupa de hospital, deitado e amarrado numa cama com tiras de couro nos pulsos. Abre os olhos, tentando se localizar. Tenta se soltar, sem sucesso. Sente a agulha no braço. Meio zonzo, só consegue ver a sombra na parede, da criatura com chapéu e um bico comprido. Krycek adormece.

Saguão de entrada- 1:22 P.M.

Scully, com as mãos na cintura, encara Baba sentada no sofá, com a mão sobre os olhos.

BABA: - Eu já disse, Scully. Alguma coisa pegajosa pulou em mim e tentou me sufocar. E-eu podia sentir as mãos frias e gosmentas daquela coisa no meu pescoço. Frohike não viu nada, estava de costas. Então a coisa me largou... Ai, minha cabeça está explodindo! Pensei que ia morrer!

SCULLY: - Tenho analgésicos no carro, vou buscar.

Baba se levanta.

BABA: - Vou com você, preciso tomar ar. Esse lugar está sugando todas as minhas energias. Aquele poço lá embaixo... Aquela presença horrível que me atacou deve vagar entre o porão e o necrotério. Aposto que é o que aciona o alarme. Talvez um demônio. Tem uma presença demoníaca lá embaixo com certeza.

Scully arregala os olhos. As duas saem do prédio. Mulder e Frohike saem pela porta de acesso aos escritórios da empresa.

MULDER: - Por que lacraram as escadas daquele lado com uma parede? Deve ter um porão daquele lado também.

Frohike observa as escadas do saguão.

FROHIKE: - Mulder, vamos considerar o senso estético do arquiteto desse prédio. Ele criou os andares direitos e esquerdos iguais. O acesso esquerdo ao primeiro andar, fechado com um tapume, tá vendo? Quebramos, entramos na ala esquerda e provavelmente encontraremos a escada que nos levará a outros andares e ao porão. Foi assim no lado direito, tem que ser assim no lado esquerdo.

Mulder olha intrigado para o chão.

MULDER: - E por que só aquele elevador tem acesso pra baixo desse saguão? O que tem aqui?

FROHIKE: -Você e eu estivemos no porão e não vimos nenhum acesso ao elevador. Significa que no outro porão também não haverá acesso. Não conseguimos abrir o elevador, quem garante que ele desce? E se for apenas pra subir?

MULDER: - Tem que haver alguma sala enorme aqui embaixo, outro porão, aquele elevador tem que descer. Olha o tamanho do espaço desse saguão, é enorme!

FROHIKE: - Por quê? Estamos no térreo, ele só sobe.

MULDER: - Mas presumindo que há porões dos dois lados... Deve haver algum espaço entre eles... A não ser que o porão da ala administrativa seja maior e venha até embaixo do saguão... É, faz sentido. Vamos quebrar aquele tapume lá em cima e começar a vasculhar os andares sobre a ala administrativa.

FROHIKE: - Tem marreta no seu carro? Me recuso a andar quilômetros até o portão pra pegar ferramentas na Kombi.

MULDER: - Sempre tenho uma marreta no meu carro, Frohike. Nunca sei o que vou precisar derrubar...

FROHIKE: - Não vai pedir autorização ao proprietário?

MULDER: -Ele me autorizou a investigar tudo! Vou achar o Krycek, nem que tenha que quebrar esse lugar inteiro!

Mulder sai do prédio. Frohike pega o rádio.

FROHIKE: - (AO RÁDIO) Ninho da águia na escuta?

LANGLY (OFF): - (MASTIGANDO) Positivo.

FROHIKE: - (AO RÁDIO)Nada nas câmeras?

LANGLY (OFF): - (MASTIGANDO) Nada. Nem a coisa que você disse ter atacado a Baba.

FROHIKE: - (AO RÁDIO/ INCRÉDULO) Você está almoçando e nem foi capaz de nos trazer um lanche? Me passa o Byers!

BYERS (OFF): - Fala Frohike. Pelo que vejo nos monitores das câmeras, vocês ainda não tiveram sucesso em encontrar Krycek.

FROHIKE: - (AO RÁDIO) Byers, você que é mais centrado podia dar uma volta ao redor do prédio. Dá uma verificada. De repente o cara saiu e passou mal, tá caído por aí... Eu não acho que ele esteja aqui dentro.

BYERS (OFF): - (AO RÁDIO) Sozinho?

FROHIKE: - (AO RÁDIO) Claro! Alguém tem que ficar monitorando as câmeras e o cabeça de pudim aí pode fazer isso sozinho... Não vai dizer que está com medinho?

BYERS (OFF): -(AO RÁDIO) Não tenho medo, mas a polícia já revirou todo o pátio! Tem muito mato alto, os caras até desistiram de chegar no fundo da propriedade. E pulgas. Pulgas pra todo lado, animais mortos, abelhas e...

FROHIKE: - (AO RÁDIO) Sabe a teoria que diz que se até os 40 anos o cara não vira gay, tá livre desse mal? Não acredite, porque você já passou dos 40 e tá ficando fresco e medrosinho! Levanta o traseiro daí e vai lá fora! Você tem faro jornalístico, eles podem ter deixado passar alguma coisa.

BYERS (OFF): -Eu posso levar comigo o parceiro do Krycek que tá parado aqui?

FROHIKE: - (AO RÁDIO) Vocês dois me enlouquecem! Faça o que quiser, mas tira esse traseiro daí e seja mais útil!

Frohike guarda o rádio, irritado.

FROHIKE: - Mereço! Eu vivo cercado por idiotas que beberam água do parto. Espero que a filha dele cresça logo pra me ajudar, porque ela é mais inteligente que o idiota do pai dela. Deve ter puxado a mãe, só pode!

Jacob sai do corredor de escritórios e vai até o bebedor servir água. Mulder entra com a marreta. Jacob arregala os olhos.

JACOB: - Ei, tem permissão pra isso? Não pode vandalizar propriedade privada!

MULDER: - Se um idiota por aqui não tivesse colocado uma parede pra fechar uma escada...

JACOB: - Eu pago meu aluguel, ok? O senhor Zimmer me deixou colocar a parede. O que eu ia fazer com uma escada no meio do meu corredor bonito, com acesso para o resto desse pulgueiro sujo e encardido?

Mulder sobe a escada esquerda de mármore. Frohike vai atrás dele.

MULDER: -(INDIGNADO) Impressão minha ou só tem idiota na nossa volta? Meu "corredor bonito"... Vá se ferrar ele e o corredor bonito dele!

JACOB: - (GRITA) Eu vou ligar agora para o proprietário! Você não pode sair quebrando as coisas aqui dentro!

Mulder para na escada. Vira-se pra Jacob lá embaixo.

MULDER: - (GRITA) Eu quebro e depois fecho de novo!

Jacob puxa o celular.

JACOB: - Não mesmo! Vou ligar agora para o senhor Zimmer! E vocês vão fazer barulho atrapalhando meu trabalho!

Mulder suspira. Frohike senta-se na escada.

MULDER: - Tenho uma mira boa. Se eu atirar a marreta daqui de cima, pego na cabeça dele. Aposta quanto?

FROHIKE: - Ele tem razão, Mulder. Você pode ser processado. Vamos esperar.

MULDER: - Esperar, esperar e esperar! Krycek tá em algum lugar aqui, talvez ferido e precisando de socorro médico e esse filho da mãe se mete no que não devia e...

Mulder se cala. Observa alguma coisa no saguão. Jacob volta pro corredor falando ao celular.

FROHIKE: - Melhor ir pelo certo. Não que eu seja totalmente ético ou respeito as leis, mas nesse caso estamos aqui pagando pra fazer um favor com o objetivo de encontrarmos o Russo e...

MULDER: - Frohike, olha para o piso lá embaixo. Me diz que vê o que estou vendo.

Frohike se levanta. Olha para o saguão lá embaixo. Há uma cruz desenhada com ladrilhos.

FROHIKE: - É uma cruz.

MULDER: - Como não vimos isso antes?

FROHIKE: -Eu vi, mas é um hospital. Hospitais tem cruzes.

MULDER: - Está invertida.

FROHIKE: - Depende do ponto de vista. Vendo daqui não.

MULDER: - É, mas faria mais sentido você entrar pela porta e ver a cruz em pé e não invertida. Invertida seria ao sair.

FROHIKE: - Satanistas?

MULDER: - Estou cansado dos fãs do Moedinha!

Mulder sobe mais degraus. Frohike vai atrás dele. Mulder tira a máscara do bolso e coloca no nariz. Atira a mochila no chão. Ergue a marreta diante do tapume que fecha o corredor da ala.

MULDER: - Chega pra lá amigão, vai voar pó e baratas pra todo o lado! E com a raiva que eu tô daquele cara, eu derrubo isso rapidinho!

FROHIKE: - Mulder, cinco minutos a mais ou a menos não farão diferença. Quem sabe a gente desce, come um lanche, espera o proprietário dar a permissão...

Mulder dá a primeira marretada. Frohike cruza os braços, observando. Trovoadas. Mulder revira os olhos.

MULDER: - Eu não acredito que o tempo vai fechar de novo! Vai escurecer mais cedo!

FROHIKE: - Mulder, eu espero que a gente saia daqui bem antes disso e levando o Krycek junto!


1:46 P.M.

Tempestade lá fora. Mulder, todo suado, olha para o corredor aberto, escuro, repleto de entulhos, móveis e bancos. Tira a máscara do rosto. Então leva a mão ao nariz.

MULDER: - Sente o cheiro? Mofo, pó e crisântemos. Cheiro da morte.

FROHIKE: - Dá pra entender porque Zimmer lacrou essa ala toda. Não foi limpa como a do outro lado. Corredores entulhados, vazamentos, fios caindo, baratas e aposto que ratos mortos!

MULDER: -Só espero que o Rato que estamos procurando não esteja morto... Vou colocar uma câmera daqui pra lá.

FROHIKE: - Quer que eu entre pra investigar com você ou vai esperar a Scully?

Mulder começa a fixar a câmera na parede.

MULDER: - Elas estão almoçando. Poucas coisas deixam Scully nervosa, locais assombrados é uma delas. Acho que já deu pra Scully.

FROHIKE: - Acha que Scully não tem mais aptidão pra investigar? Ora, Mulder, tenha paciência!

MULDER: - Não é isso, Frohike. Antes ela era obrigada a fazer essas coisas porque era uma agente do FBI designada pra isso. Agora Scully tem opções bem melhores do que ficar atrás de coisas que a deixam com medo. Só quero proteger a minha esposa. Agora eu posso. Se depender de mim, ela vai voltar a estudar e lecionar medicina legal. É o sonho dela.

Mulder olha pra Frohike. Sorri. Frohike devolve o sorriso.

FROHIKE: - Entendi, Mulder. E concordo com você. Uma mulher como Scully merece mais que ficar chafurdando locais lúgubres na companhia do marido maluco.

MULDER: - Você e os rapazes também merecem mais. Vai chegar a hora que vão cansar disso. Mesmo assim agradeço pela ajuda.

FROHIKE: - Você está nos ajudando também. Ampliamos as matérias na revista e agora sim temos muitos assinantes e uma revista de verdade nas bancas. Chega de boletins por e-mail e meia dúzia de assinantes. Aliás, Byers quer entrevistar você e Scully pra próxima edição.

MULDER: - Chamo isso de corporativismo.

FROHIKE: - Chamo isso de parceria.

MULDER: - Então, quer encarar o primeiro andar comigo?

Frohike abre a mochila e tira uma lanterna de cabeça. Coloca na testa. Liga.

FROHIKE: - Vamos nessa. Meu editorial do próximo mês vai assustar os assinantes.

Mulder abre a mochila e tira um aparelho e a lanterna. Entrega o aparelho pra Frohike.

MULDER: - Fica com o K2. Não tira os olhos dele. Se os leds chegarem do verde ao vermelho, temos presença.

Frohike liga o aparelho. As luzes rapidamente evoluem do verde para o vermelho. Os dois se entreolham. Barulhos de correntes. Eles se viram para o elevador.

FROHIKE: - Mulder... Vem dali.

As correntes do elevador se mexem, balançando. Mulder e Frohike se aproximam das grades de proteção do elevador. Mulder ilumina as correntes com a lanterna, para cima e para baixo.

MULDER: - Não dá pra ver nada... O elevador não está descendo...

FROHIKE: - A não ser que...

MULDER: - Alguma coisa esteja subindo pelas correntes...

Mulder se afasta assustado, puxando Frohike para trás. Os dois mantém os olhos nas correntes.

A criatura humanoide com pele de anfíbio, chifres longos e retorcidos, seis pernas finas e longas, passa rapidamente subindo pelas correntes para o andar de cima, tão rápido quanto uma aranha. Frohike arregala os olhos. Mulder olha pra cima. Pega o rádio rapidamente.

MULDER: - Langly, na escuta?

LANGLY: - Fala, Mulder.

MULDER: - Me diz que viu isso.

LANGLY: - Não vi nada.

MULDER: - Checa a gravação e amplia. Uma coisa subiu pelas correntes do elevador. Quero uma foto, a melhor que você conseguir.

Frohike leva a mão ao peito. Recosta-se na parede. Mulder olha preocupado pra ele.


2:19 P.M.

Scully agachada ao lado de Frohike, sentado no chão, olhando assustado para o elevador, com a mão sobre o peito. Scully leva o braço atrás dele, o segurando. Baba morde o dedo, nervosa, olhando para Frohike. Mulder sobe as escadas com a maleta de Scully, às pressas. Scully ajuda Frohike a beber um copo de água.

MULDER: - (PREOCUPADO) Ele tá bem, Scully?

SCULLY: - Foi um ataque de pânico. Ele está bem sim. Me dá a maleta, vou medir a pressão dele.

Mulder respira aliviado.

MULDER: - Não dá mais. Estamos ficando velhos demais pra essas coisas. E você mais ainda!

FROHIKE: - Agora me chama de velho... Sou velho, mas estou nos braços da sua garota.

Scully sorri. Abre a maleta, tirando o aparelho de medir a pressão sanguínea.

SCULLY: - Mulder, vou ficar com Frohike. Vá com a Baba procurar o Krycek.

BABA: - Primeiro vamos fazer uma coisa que já devíamos ter feito e daqui por diante será um ritual sagrado que faremos antes de entrar em qualquer lugar maldito. Deem as mãos. Vamos rezar um Pai-Nosso.

MULDER: - Isso é necessário?

BABA: - (DEBOCHADA) Não, você está protegido de ataques demoníacos numa redoma de ceticismo religioso. Contudo não falo de religião, falo de Deus e da oração poderosa que o Filho Dele nos deixou.

Mulder dá a mão pra ela. Estende a mão para Scully, que segura firme a mão de Frohike. Baba fecha os olhos e inicia a oração.

BABA: - Pai Nosso que estais nos céus...

VOZ (OFF): - Shhhh!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Mulder arregala os olhos. Aperta mais a mão de Baba, que continua orando com firmeza. Scully e Frohike de olhos fechados oram juntos. Mulder procura com os olhos algo que não vê. Baba termina a oração. Abre os olhos.

BABA: - Vamos, Mulder. O tempo escureceu lá fora, a noite se aproxima e se essas coisas se revelam pra nós durante o dia, não quero imaginar como isso aqui deve ser movimentado durante a noite! E antes que me pergunte, sim. Tem um demônio aqui dentro, além dos espíritos presos nesse lugar. E é ele quem me preocupa.

MULDER: - É a coisa que Frohike e eu vimos no elevador?

BABA: - Talvez, se o que vocês viram mora no porão e se oculta naquele poço. Agora sabemos que vaga por todos os lugares aqui e certamente mantém os espíritos sob ameaça.

MULDER: - Então vamos ter que chamar um padre para exorcizar o lugar?

BABA: - Posso tentar, mas é bem forte e não está disposto a sair daqui. Não sem antes levar mais gente com ele.

Mulder coloca as mãos na cintura, fecha os olhos e respira fundo.

MULDER: - Queria minha filha aqui.

SCULLY: - (INCRÉDULA) Ficou louco? Ahn?

Scully se levanta, olhando pra Mulder e com o dedo apontado pra ele.

SCULLY: - Nunca, entendeu? Nunca mais insinue qualquer coisa desse tipo, Victoria jamais vai se envolver nas suas loucuras! Mulder, você não tem noção do perigo? Imagine trazer nossa filha numa investigação dessas?

MULDER: - Um dia você vai parar de fingir que não enxerga a verdade, Scully. E sinceramente eu tenho medo do tombo que você vai levar se continuar mentindo pra si mesma que Victoria é uma menina como as outras. Ela não é!

SCULLY: - Eu sei que ela não é, mas se depender de mim, Victoria terá uma infância normal como todas as crianças! Enquanto eu puder mantê-la debaixo das minhas asas e protegê-la dos monstros, eu farei! (CERRA O CENHO PRA CHORAR) Ela é minha filha também, Mulder! Minha garotinha, meu tudo!

Mulder sorri com ternura. Recosta a testa na testa de Scully. Olham-se nos olhos.

MULDER: - Eu sei, Scully.

Mulder a beija na testa.


Corredor do Primeiro Andar sobre a Ala Administrativa - 2:34 P.M.

Mulder e Baba caminham pelo corredor escuro, com lanternas, desviando de entulhos. As portas dos quartos todas fechadas. Eles se dividem, um pra cada lado, abrindo portas e espiando para dentro dos quartos abandonados. Baba para de repente, arregalando os olhos. Barulho no rádio.

LANGLY (OFF): - Mulder, na escuta?

MULDER: - (AO RÁDIO) Fala.

LANGLY (OFF): -Uma sombra se ergueu do chão atrás de você, perto da parede.

Mulder e Baba se viram. Não veem nada.

LANGLY (OFF): -Subiu rápido pela parede sumindo no teto. Parecia uma cobra. Filmamos.

MULDER: - (AO RÁDIO) Ótimo porque não dá pra ver nada aqui. Tudo muito escuro.

Os dois seguem caminhando.

BABA: - Sobre aquele seu assunto com Scully. Eu tenho pena de você, Mulder. Vai ter que desenvolver muito jogo de cintura para ser o conciliador entre duas mulheres de temperamento forte e obstinado. Victoria pode ser fisicamente parecida com você e até ter os mesmos gostos do pai dela, mas tem uma Scully enrustida ali dentro, que um dia vai sair e se não houver simbiose entre mãe e filha, vai haver atrito constante. Sabe que a criança vai crescer e a adolescência virá. E aí tudo é tempestade.

MULDER: - Já percebo isso. Victoria fica mais tempo comigo do que com Scully, pergunta até coisas de menina pra mim. Meus assuntos interessam mais a ela. Quando vou escrever ou fazer alguma coisa no escritório, Pinguinho já vem atrás. Sempre foi assim. Ela fica limpando e organizando minhas coisas, lendo meus livros, ouvindo minhas músicas, em silêncio, só pra me fazer companhia, estar perto do pai dela. Minha filha é muito parecida comigo, e não posso negar que tenho uma ligação enorme com ela. Acho que o cordão umbilical nesse caso é paterno. Victoria é um pedaço do Fox Mulder. A continuação dele. (SORRI) Eu tenho orgulho da minha Pinguinho, Baba. Eu amo demais a minha filha.

Eles passam pelas escadas e seguem conversando, abrindo portas e procurando Krycek.

MULDER: - Scully está envolvida com o Bryan, então não percebe muito, mas sei que ela fica correndo atrás de atenção da filha, o que algumas vezes consegue, quando propõe ensiná-la coisas que ela não sabe. Victoria gosta de aprender tudo, desde tarefas domésticas, culinária, jardinagem e aí Scully a segura por perto alimentando a curiosidade da nossa filha. E eu posso passar mais tempo com o meu Irlandês insone, marrento e risonho. No fundo, inconscientemente, Scully quer compensar com o Bryan a ausência dela com Victoria quando bebê. Por isso está o tempo todo ao redor do garoto. E eu também quero cheirar o meu filho, né? O que Scully entende de basquete e coisas de meninos?

BABA: - (SORRI) Entendo o senso de proteção de uma mãe. Contudo, Scully precisa entender que, mesmo seus motivos sendo bons e afetuosos, isso só vai atrasar o inevitável. Foi o que minha avó e minha mãe disseram ao meu pai quando meus dons começaram a aflorar. Que eu só perderia tempo precioso, já deveria estar desenvolvendo e aprendendo mais, pois um dia eu não suportaria mais viver com eles e, ou desistiria de vez, ou assumiria totalmente. E no caso da sua filha, pela condição genética dela, acredito que a opção desistir não exista.

MULDER: - Me pergunto o que o destino tem pra Victoria. E isso me deixa nervoso. E fico mais nervoso quando ela entender realmente que é a exceção entre as regras e me perguntar aonde se encaixa na evolução humana. Porque eu não tenho as respostas que ela precisa.

BABA: - Mulder, não pergunte. Talvez as respostas que ela precisa serão dadas por outros. Apenas mantenha a sua mente aberta, seu amor incondicional de pai e o seu apoio. Sabe que ela necessita da sua aprovação em tudo o que faz, você é o exemplo, o ídolo, o super-herói da Victoria. Entenda que sua filha agora é uma criança, mas ela vai crescer e saber muito mais do que você sabe sobre a verdade. Talvez precise escutá-la e acreditar nela e aprender a deixar as coisas acontecerem conforme elas devem acontecer. Todos nós temos um motivo para existirmos nesse universo. Não cabe a ninguém, nem pai ou mãe, impedir e atrapalhar o caminho que os filhos precisam seguir, mesmo que seja doloroso ou incompreensível aos nossos olhos... Ultima porta. Vamos voltar.

Os dois voltam pelo corredor até as escadas.

MULDER: - Descemos e depois subimos ao segundo andar.

Os dois descem dois lances de escadas, desviando de entulhos. Mulder para, observando a parede, uma construção bem mais recente.

MULDER: - Aqui seria a entrada pra ala administrativa, que aquele idiota fechou. Vamos pro porão.

Os dois continuam descendo, iluminando o caminho com as lanternas.

BABA: - Acredita que ele se negou a emprestar o banheiro pra nós? Disse que tinha muitos banheiros no prédio. Scully e eu tivemos que encarar um banheiro na ala médica rezando pra não resvalar e cair dentro do vaso entupido.

MULDER: - Idiota egoísta! Queria que ele visse essas coisas todas e não o Wade que é gente boa. Cuidado aí, Baba, tem uma tábua apoiada na parede...

Eles descem. Mulder quase cai, segurando-se no corrimão enferrujado.

MULDER: - Se não sofrermos um acidente com fratura, podemos pegar tétano... Que fedor horrível! Krycek não deve estar aqui, mas agora eu quero ver o tamanho desse porão. E espero que não tenha outro poço.

BABA: - (NOJO) Parece cheiro de esgoto... Arhg!

Os dois param nos degraus, iluminando a água no chão. Miram as lanternas. O porão inundado, canos enferrujados e quebrados no teto, gotejando água. Armários de arquivos e móveis imersos, papéis e pastas boiando na água escura e podre.

BABA: - Com certeza Krycek não está aqui e eu não vou entrar nesse armadilha submersa e fedida nem ferrando!

MULDER: - Deve ser aqui aonde guardavam as fichas dos pacientes e os documentos da administração... É a sala de arquivos.

Mulder segura na parede, se inclinando pra frente e tentando iluminar a lateral do porão.

BABA: - Vai cair aí homem! Eu não vou mergulhar pra salvar você!

MULDER: - Preciso ver o tamanho desse lugar e se tem uma porta que sai debaixo do saguão... Segura firme nas minhas calças, que eu vou me inclinar mais pra frente.

BABA: - Ah sim! E se você cair e bater a cabeça e morrer afogado? Faça favor, já era o tempo que você devia ser pele e osso, agora é churrasco e muita cerveja.

MULDER: - (DEBOCHADO) Admita, Oda Mae, você não quer me segurar pelas calças. Se eu cair e virar fantasma, juro que volto e perturbo você o resto da sua existência.

BABA: - Ô criatura teimosa e marrenta! Quando enfia uma coisa na cabeça, não sai mais nem com reza brava! Não vou deixar que morra, prefiro o Patrick Swayze como encosto, ele era lindo, fofo e incomodava bem menos!

Baba leva as mãos nas costas de Mulder e ergue a jaqueta dele.

MULDER: - (DEBOCHADO) Não se apaixona.

Baba bota a língua pra ele e o agarra pelo cós das calças jeans com as duas mãos. Mulder se inclina mais pra frente, mirando a lanterna para a lateral do porão.

BABA: - (DEBOCHADA) Precisa pegar um bronzeado nessa bunda branca. Pena que eu não tenho alguns trocados pra depositar no seu cofrinho.

MULDER: - (DEBOCHADO)Segura firme aí e para de olhar pra minha bunda! Eu disse que ia se apaixonar!

BABA: - (INCRÉDULA)Quer que eu solte você? Vou adorar ouvir um plaft na água fedida. Embora você não vá afundar, porque merda flutua.

MULDER: - Segura aí que vou me inclinar mais um pouco... E para de reclamar, porque muita mulher gostaria de estar no seu lugar.

BABA: - Sei. E muito homem também? Assim que Krycek se apaixonou por você?

MULDER: - Não, Krycek se apaixonou por mim quando eu estava no seu lugar segurando ele pelas calças... Me puxa de volta.

Baba o puxa pelas calças. Mulder ajeita as calças.

MULDER: - Só parede, nenhuma entrada. Que droga! Eu disse que tem alguma coisa escondida debaixo do saguão e só vamos ter acesso mesmo por aquele elevador.

BABA: - Não está pensando em entrar naquela gaiola com aquela coisa que escala correntes lá dentro?

MULDER: - E tem outro jeito? Mas primeiro vamos subir e ir para o segundo andar. Quero checar todo esse lugar e eliminar todas as possibilidades. Depois vou encarar aquele elevador.

Os dois sobem as escadas, voltando pra cima.

Percebemos as bolhas que se formam na água suja, como algo submerso que está respirando ali embaixo.



BLOCO 3:

Corredor do Segundo Andar sobre a Ala Administrativa - 3:11 P.M.

Mulder e Baba sobem as escadas. Uma placa velha, quase despencando, indica o segundo andar. Tudo completamente escuro. Os dois miram as lanternas. Entulhos de concreto e madeira pelo chão, cadeiras de rodas, camisas de força, macas. Todos os quartos fechados. Todos possuem portas de metal com trancas e janelas fechadas também com trancas.

BABA: -Sentiu que esfriou? Não gosto desse andar.

MULDER: - É o andar das celas de isolamento. Aqui ficavam os malucos violentos e agressivos. Ou alguém que irritasse demais os enfermeiros. Por isso vi do outro lado uma porta de grades e uma de metal com janela.

As lanternas começam a falhar.

MULDER: - Tá sentindo alguma coisa?

BABA: - É, e não estou gostando da energia.

MULDER: - Está se alimentando das pilhas, está querendo se manifestar.

As lanternas apagam de vez.

MULDER: - Ok, me dá sua mão, assim se um tropeçar no meio dessa bagunça, o outro segura. Vamos caminhar até o fim do corredor aonde está a porta de metal, vou colocar a câmera e damos o fora daqui. Subimos para o terceiro andar.

BABA: - Concordo. Não gosto daqui tanto quanto do porão do poço.

Som de porta batendo.

MULDER: - (MEDO) Fala sério, as portas estavam fechadas!

BABA: - Fala sério você, nunca vi uma mão tão gelada!

MULDER: - Minha mão não tá gelada. Vamos, me dá sua mão.

BABA: - (MEDO) Mulder... Eu estou... Segurando... A sua... Mão.

MULDER: - (MEDO) Baba... Não está não.

Os dois gritam apavorados e descem correndo as escadas.


Corredor do Primeiro Andar sobre a Ala Administrativa - 3:38 P.M.

Mulder com a lanterna de Frohike na cabeça, parado, olhando para as escadas. Scully acende a lanterna dela. Olha debochada pro marido.

SCULLY: - Eu vou na frente e protejo você, amor.

Mulder dá um olhar debochado e coloca as mãos nos ombros de Scully, olhando pra ela.

MULDER: - Seguinte. Sabe aquelas grades e a porta de metal que vimos do outro lado do segundo andar? Pois então, eu quero ir até ela, colocar uma câmera, você me dá cobertura iluminando o lugar. Se a lanterna falhar, a gente dá o fora e escapa para o terceiro andar. Entendeu?

SCULLY: - (DEBOCHADA)Sim, Bwana!

Mulder sobe as escadas lentamente, olhando pra cima, concentrado, com medo e nervoso.

LANGLY (OFF): - Mulder, na escuta?

Mulder toma um susto que quase cai, recostando as costas e as palmas das mãos na parede. Scully leva a mão ao olhos, porque a lanterna na cabeça de Mulder cega sua visão. Mulder solta o ar dos pulmões, indignado. Pega o rádio do bolso.

MULDER: - (AO RÁDIO) Se fizer isso de novo, eu juro que vou até aí esganar você! Quer me matar do coração?

LANGLY (OFF): - É que tem uma porta no banheiro da enfermaria que se abriu sozinha.

MULDER: - (AO RÁDIO) Deve ser o Billy Fantasma, ele não é perigoso. Estou indo colocar uma câmera no segundo andar da ala administrativa, quero que fique de olho, ali tem coisa pesada. Entendeu? Só me chama pelo rádio se alguma coisa aparecer na câmera nova. Me dá cinco minutos pra chegar lá.

Mulder coloca o rádio no bolso. Respira fundo, subindo o segundo lance de escadas e atento à frente. Scully o segue. Os dois entram no corredor escuro e cheio de entulhos. Agora todas as portas das celas estão abertas.

SCULLY: - Pelo jeito, aqui ficavam os malucos perigosos. Quer que eu cheque essas celas?

MULDER: - Não! Fique aí, se a lanterna falhar me avisa. Eu vou até a porta de acesso. Fique de olho em mim.

Mulder entra no corredor, olhando pra baixo e iluminando tudo, desviando das coisas, entulhos e sujeiras. Scully mira a lanterna para o lado dele, procurando qualquer coisa. Scully vira a lanterna pro outro lado, mirando o corredor escuro e as portas abertas, vendo a maca no meio do corredor. Volta a iluminar Mulder, que chega na porta ao fim do corredor. Mulder tira a câmera da mochila e fixa na parede.

Estrondo. Mulder e Scully dão um pulo ao mesmo tempo. Scully novamente mira a lanterna para o outro lado. Arregala os olhos ao ver a maca derrubada no chão, com as rodas ainda girando.

SCULLY: - (MEDO) Mulder... Vamos dar o fora daqui!

Mulder corre, pulando por onde dá, puxa Scully pela mão e sobem correndo para o terceiro andar.


Corredor do Terceiro Andar sobre a Ala Administrativa - 4:12 P.M.

Tudo escuro. Scully segura o rádio com uma das mãos e com a outra ilumina com a lanterna o quadro na parede com uma enfermeira pedindo silêncio com o dedo indicador sobre os lábios.

MULDER: - Desde criança acho essa foto tão sensual...

SCULLY: - Desde criança já tinha tara por profissionais da saúde, Mulder?

MULDER: - Quer brincar de médica comigo? Ahn? Ando tão dodói...

SCULLY: - (SEGURANDO O RISO) Aonde dói, Mulder?

Mulder pega a mão dela e coloca em seu peito sobre o coração.

MULDER: - Aqui. Dói tanto de amor por você, Scully.

SCULLY: - Sorte sua que estamos num lugar assombrado, porque de outra forma eu atacaria você agora... (SUSPIRA) Vamos, Mulder, é o último andar. Eu já tô cansada desse lugar. Se colocasse um taxímetro no pescoço, certamente cobraria por quilômetro percorrido!

O rádio faz barulho. Scully para e olha para o rádio.

SCULLY: - Estranho... Ninguém chamando.

HOMEM NO RADIO (OFF): - Foda-se cadela!!!!

Scully quase se engasga. Mulder olha assustado. Os dois ficam observando o rádio. Mais chiados.

HOMEM NO RADIO (OFF): -Eu vou te matar!!! Cala a boca!!! Fica quietinha!!!

Scully arregala os olhos azuis para Mulder, que sinaliza pra ela ficar quieta. Scully ilumina a lanterna para todos os lados. Apenas escombros, macas, nenhum movimento. Mulder pega o gravador e aperta pra gravar.

MULDER: - Quem é você?

Silêncio.

MULDER: -Quem é você?

Silêncio.

MULHER NO RADIO (OFF): - (GRITOS DESESPERADOS)

Scully fica nervosa. Agora é Mulder quem ajeita a lanterna na cabeça e vira-se procurando alguma coisa. Não vê nada. Volta a fita e escuta. Na fita apenas a voz de Mulder aparece sem resposta. Mulder desliga.

SCULLY: - Mulder, o que...

MULDER: - Não tem nada, Scully. É apenas residual. Como um eco do passado preso no tempo. Alguma coisa aconteceu aqui. E foi tão intensa e terrível que ficou presa nesse lugar.

Os dois seguem andando. Há uma placa envelhecida na parede: Ala Feminina. Mulder morde os lábios.

MULDER: - Enfermeiros e até médicos estupravam pacientes nesses lugares. Elas eram "loucas" e "histéricas". Não era raro mulheres engravidarem dentro de sanatórios e terem seus filhos tirados e entregues para adoção, quando não eram abortados propositalmente. Algumas vezes até vendidos para casais de outros estados, para não saberem a procedência da criança. Se soubessem que era filho de uma "louca"...

SCULLY: - Isso me enoja, Mulder.

MULDER: - Houve boatos que nunca foram comprovados de que matavam e vendiam bebês no Saint Giles nos anos 60, na época em que o diretor era o Dr. Wagner Van Der Vein, um psiquiatra renomado na comunidade.

SCULLY: - Mulder, vamos seguir em frente e descer pelas escadas da ala médica. Eu não quero passar novamente pelo andar dos malucos trancafiados.

MULDER: - Concordo. Um quilômetro a mais ou a menos não vai fazer diferença. Melhor não arriscar.

Os dois seguem andando, abrindo portas e procurando. Mulder para. Pressente alguma coisa. Barulho. Scully também para. Ilumina a lanterna perto de Mulder, que abre a mochila e retira uma espécie de caixa de som redonda.

MULDER: - Você fez barulho?

SCULLY: - Não. Vai escutar música agora?

MULDER: - Isso é uma spirit box. É uma espécie de rádio que varre todas as frequências, inclusive as inativas, em busca de EVPs.

Mulder liga. Ouvimos chiados de frequência de rádio.

MULDER: - Quem está aí?

Chiados.

MULDER: - Não estamos aqui para perturbar vocês. Queremos ajudar. Eu sou o Mulder. Se entende o que eu digo, fale o meu nome.

BETTY (OFF): - Mulder.

Mulder sorri empolgado. Scully ergue as sobrancelhas e se aproxima dele.

MULDER: - Como você se chama?

BETTY (OFF): -Betty Snider.

Scully observa curiosa.

MULDER: - (EMPOLGADO) Betty, quantos anos você tem?

BETTY (OFF): - 18.

Scully morde os lábios.

MULDER: - Você foi paciente ou enfermeira nesse lugar?

BETTY (OFF): -Paciente.

MULDER: -Você sabe que morreu?

BETTY (OFF): -Sim. Suicídio.

MULDER: -Lamento, Betty. Por que fez isso?

BETTY (OFF): - Ele prometeu amor, mas me deixou grávida e sozinha...

Scully arregala os olhos.

MULDER: -Você quer sair daqui?

BETTY (OFF): -Sim, mas não encontro a saída.

MULDER: -Existem quantos aqui dentro com você?

BETTY (OFF): -Muitos. Dezenas. Cuidado, Mulder. Dr. Crow está por aí.

MULDER: -Quem é Dr. Crow? Onde encontro ele?

BETTY (OFF): -Oh não! Eles estão aqui. Corre!!!

MULDER: -Eles quem, Betty?

Apenas chiados. Mulder desliga a spirit box.

MULDER: - Ok, Scully. Hora de juntar as peças e partir pra resolução.

SCULLY: - Mulder, se essa coisa supostamente capta vozes se utilizando de frequências de rádio, pode ser alguma transmissão por perto, alguém brincando com você, rádio amadores...

MULDER: - Acredite no que quiser, Scully. Eu acredito que falei com uma garota morta, que cometeu suicídio porque foi abandonada por um canalha que se aproveitou dela aqui dentro, prometendo amor, não assumiu o filho e antigamente não era fácil ser mãe solteira, menos ainda para alguém considerada louca pela sociedade. Ela pareceu louca pra você?

SCULLY: - Nenhum pouco.

MULDER: - Isso só reforça a afirmação de que pessoas com problemas emocionais eram jogadas aqui como se fossem malucas sem cura.


Sala de Recreação - 5:24 P.M.

Um salão enorme.Krycek se acorda, levando a mão à cabeça. Fora de localização. Está deitado no piso. Olha para a jovem morena de cabelos curtos e revirados, com roupa de paciente, sentada na frente dele, o encarando. Ela abre um sorriso.

CINDY: - (GRITA/ FELIZ) Ele acordou!!! Ele acordou!!! Ele está vivo!!!

Krycek senta-se no chão, levando a mão à cabeça, olhos cerrados. Várias pessoas o cercam. Umas cinquenta pessoas entre homens, mulheres e crianças, jovens e velhos, em roupas e aventais de hospital. Muitos deles com partes de membros amputados, outros com bandagens na cabeça. A jovem enfermeira Hollie abre espaço pra passar entre eles. Em seus trajes de enfermeira, olhos azuis e cabelos louros longos, lábios cor de rosa, ela parece uma boneca de porcelana com a pele perfeita.

ENFERMEIRA HOLLIE: - Queridos, querem se afastar? Deem espaço pra ele respirar!

Eles se afastam, ansiosos e curiosos. A enfermeira se agacha, preocupada, analisando com mãos e olhos a cabeça de Krycek.

KRYCEK: - (CONFUSO)Onde estou? O que aconteceu?

ENFERMEIRA HOLLIE: - Graças à Deus só vai ter um belo galo na cabeça! Onde está? No Sanatório Saint Giles. O que aconteceu? Bom, o mesmo que aconteceu com todos. Estamos presos aqui. O Doutor pegou você como nos pegou. Não lembra? Eu tirei você da sala de experiências. Ele ia acabar matando você!

Eles repetem assustados "O Doutor". Um deles, Vince, um jovem de cabeça raspada com um curativo na cabeça, coloca as mãos nas orelhas e fica agitado, emitindo sons e gemendo em desespero. Ele começa a dar com os punhos fechados na cabeça, enquanto mexe o corpo pra frente e pra trás.

ENFERMEIRA HOLLIE: - Cindy, acalme o Vince. Ele fica nervoso só de ouvir o nome, entende?

CINDY: - Sim, enfermeira Hollie!

Cindy pega o braço de Vince e faz carinhos na cabeça dele. Vince se acalma, recosta a cabeça no ombro dela, sorrindo. Cindy o abraça.

ENFERMEIRA HOLLIE: - Vince parece retardado, mas ele não é. Ficou assim por causa da lobotomia. E não fala mais nada. Teve a língua cortada por "mal comportamento". O Doutor achou que ele falava palavrões demais. Eu já acho que ele tem esquizofrenia. Ou tinha.

Krycek se levanta, assustado. Olha para o ambiente e para as pessoas magras e maltratadas. Uma senhora idosa pinta um quadro de paisagem num cavalete, tranquilamente. Mantém o outro braço sobre as pernas revelando a mão amputada.

KRYCEK: - Quem são vocês? O que está acontecendo aqui?

Um homem empurra todos e se aproxima. Não tem alguns dentes, cabelos compridos e com roupas e luvas de lã encardidas.

RED: - Quem somos nós? Ele tá brincando! Pensei que ele fosse nos tirar daqui! Ele é maluco também?

Outro começa a rir e bate com a cabeça sucessivamente na parede.

ENFERMEIRA HOLLIE: - Vamos nos acalmar, ok? Ele levou uma pancada na cabeça, precisa de tempo para se localizar. Deem espaço. Vamos voltar as atividades de recreação. Quero todo mundo fazendo alguma coisa e me deixando cuidar do policial, ok?

Eles se afastam, alguns quietos, alguns reclamando sozinhos ou com os outros. Krycek procura sua arma na roupa e não encontra.

KRYCEK: - Perdi minha arma!

ENFERMEIRA HOLLIE: - Eu sei, o Doutor deve ter pego sua arma. Então? Está se sentindo melhor? Consegue se localizar?

KRYCEK: - Eu não sei... Ouvi alguém no elevador, desci e não lembro de mais nada. Quem é o Doutor? O que vocês fazem aqui nesse lugar? Você é enfermeira?

ENFERMEIRA HOLLIE: - Está bem, vou colocar você a par da nossa situação. Eu sou a enfermeira Hollie. Lembra?

KRYCEK: - Como vou lembrar se não conheço você?

ENFERMEIRA HOLLIE: - Alex, pode não se lembrar agora, mas eu lembro de você, nos conhecemos no hospital.

KRYCEK: - Quando eu quase morri?

ENFERMEIRA HOLLIE: - Ah, está lembrando, viu? O que importa mesmo é você entender o que está acontecendo. O Doutor nos trancou aqui. Ele costuma fazer experiências com essas pobres criaturas. Sou o único apoio que eles tem. E agora tenho esperança que vamos sair daqui porque você apareceu.

KRYCEK: - Como sabe que sou policial?

ENFERMEIRA HOLLIE: - Eu disse que conheço você. Precisa me ajudar a tirar essas pessoas daqui. Eu não sei até quando elas vão aguentar essa tortura. Ele está fazendo experimentos com eles. É um sádico, um maldito assassino! Vai terminar matando essa gente!

Krycek anda de um lado pra outro. Olha pra porta. Corre até ela e tenta abrir. A porta está trancada por fora.

KRYCEK: - Isso é um pesadelo! Eu vou acordar! Me tira daqui!!!!!!!!!!!!!

Os outros começam a ficar agitados. Hollie se aproxima.

ENFERMEIRA HOLLIE: - Alex, por favor! Não entre em pânico ou eles vão entrar em pânico também. Não vai querer ver isso, me acredite.

KRYCEK: - Me belisca e diz que estou dormindo ou morto!

Ela o belisca, ele pula.

ENFERMEIRA HOLLIE: - (SORRI) Viu? Não está dormindo, nem está morto. Estamos todos vivos aqui embaixo, em cativeiro e abandonados. Ninguém sabe que estamos aqui. Somente o Doutor. Precisa nos ajudar, você é o único que pode fazer isso. Se conseguir escapar pode chamar a polícia e voltar aqui para nos resgatar.


Saguão de entrada - 5:57 P.M.

Mulder sentado no sofá, visivelmente esgotado, encarando o elevador. Baba sentada na outra extremidade do sofá.

BABA: - Reunião de avaliação do problema?

MULDER: - É a hora. Deixa Scully e Frohike voltarem.

BABA: - Pelo jeito vamos passar a noite nesse lugar.

MULDER: - Tudo o que eu não queria. E o pior: sem café. E nem sinal do Rato. Quanto mais tempo passa...

Scully e Frohike entram pela porta da frente.

SCULLY: - Ok, as crianças estão bem, enrolei a Barbara e liguei pra Ellen ir até lá dar um apoio emocional. Chá e torta vão distrair a grávida nervosa.

FROHIKE: - O que vamos fazer agora?

MULDER: - Sentem-se. Reunião de avaliação.

Wade entra com os fones de ouvido. Ao vê-los ali, sorri, tirando os fones.

WADE: - Finalmente deixaram vocês resolverem o problema?

MULDER: - E que problema vocês tem por aqui! Não sei como encara ficar sozinho nesse lugar durante a noite, porque de dia já é bem agitado.

WADE: - Fones nos ouvidos. Música. Ou eu não ficaria aqui de jeito algum.

FROHIKE: - Nem com a melhor música do mundo eu ficaria aqui.

WADE: - Vão passar a noite?

MULDER: - Sim, ainda não encontramos Krycek. Vamos fazer uma reunião agora para discutir ações.

WADE: - Sentados aí nessa recepção? Me sigam, tem uma sala de reunião com uma máquina de café e alguns biscoitos, é bem mais confortável. Um bom cappuccino pode fazer milagres!

Scully sorri aliviada. Eles se levantam, seguindo Wade pelo corredor com tapete.

WADE: - Aqui, sala de reuniões, tem um notebook com internet, mas deixem sempre ligado porque a bateria acaba muito rápido. Banheiro, terceira porta à direita. No fundo tem uma sala de descanso, caso alguém se sinta cansado e queira dormir um pouco. Eu sempre faço um lanche, se quiserem alguma coisa, eu já faço o pedido...

MULDER: -Por que você demorou tanto pra aparecer?


Sala de Reuniões - Ala Administrativa - 6:17 P.M.

Os quatro sentados à mesa de reunião, lanchando. Scully digitando algo no notebook, enquanto come um sanduíche.

SCULLY: - ... Achei, Mulder! O Saint Giles foi construído como hospital público, com recursos da cidade, por Boris Gniewko, um engenheiro esloveno. Boris não era bem quisto nas comunidades eslavas.

MULDER: - Um parente do Krycek? Coincidência?

BABA: - Russos são eslavos?

SCULLY: -Eslavos é um termo usado para se referir a uma ramificação étnica e linguística indo-européia, como a Bulgária, República Checa, Polônia, Sérvia, Eslováquia, Rússia... Eram povos bastante místicos e supersticiosos. A comunidade eslava na Virgínia acreditava que Boris estava envolvido com o sobrenatural, algum tipo de bruxaria e ritual pagão.

MULDER: - Bom, ele odiava católicos, a cruz no saguão indica isso. Um comunista devotado?

SCULLY: - Acredito que falamos de satanismo, visto que tem uma matéria falando que o padre da paróquia local se negou a abençoar o Saint Giles em sua inauguração porque Boris havia construído o prédio.

MULDER: - Procura alguma coisa sobre Betty Snider.

SCULLY: - Mulder, não acredita que...

MULDER: - Apenas procure.

Wade entra na sala com a caneca de café e se aproxima da máquina.

WADE: - Quem é Betty Snider?

MULDER: - É o que eu quero saber. Talvez uma paciente daqui...

WADE: - Se ajuda você, o Dr. Zimmer juntou todos os arquivos dos pacientes antes que o porão fosse alagado e colocou numa sala fechada no fundo desse corredor. Está trancada, mas acho que pode tentar abrir...

Mulder salta da cadeira, empolgado.

Corte.


Mulder, em frente a porta, tenta uma chave do chaveiro de argolas. Wade o observa, bebendo café. Scully ansiosa. Frohike curioso. Baba olhando pra todos os lados. Mulder gira a chave e a porta se abre. Mulder empurra a porta. Uma sala escura.

MULDER: - Me apaixonei pelo Dr. Zimmer agora.

WADE: - É, ele é um sujeito esquisito, é albino, vive sempre de chapéu e bengala fugindo do sol... Tem vezes que ele aparece de surpresa, até me assusto!

BABA: -Sério? E o que ele vem fazer aqui?

WADE: - Organizar os arquivos... Eu não sei bem. Na verdade ele gosta desse lugar. Um dia saí da sala e dei de cara com ele carregando uma caixa de instrumentos cirúrgicos. Pensa, eu tô sozinho aqui e de repente dou de cara com um sujeito usando chapéu, de bengala, branco feito fantasma, num sobretudo negro, carregando bisturis e seringas de vidro com agulhas enormes...

MULDER: - (RINDO) Imagino... Dr. Jekyll?

WADE: - (RINDO) Por aí. Bom, se precisarem de mim, vou deixar minha sala aberta. Me sinto seguro com mais gente aqui. Não vou colocar os fones, vocês podem me chamar e eu não vou ouvir...

Scully e Baba entram na sala. Frohike procura e acha o interruptor, iluminando o lugar. É uma sala ampla com arquivos.

SCULLY: - Me ajudem a procurar um arquivo médico sobre Betty Snider. Provavelmente deve se chamar Elizabeth.

BABA: - Achei, letra B!

Baba abre a gaveta. Scully se aproxima ao lado de Frohike.

Som do alarme.

Eles se entreolham. Wade corre pra sala. Mulder corre atrás dele. Os dois olham para o painel com a luz vermelha piscando: Porão. Mulder puxa o rádio.

MULDER: - (AO RÁDIO) Langly, na escuta?

LANGLY (OFF): - Fala, Mulder...

MULDER: - (AO RÁDIO) Cheque agora a câmera da entrada do necrotério. Alguma coisa acionou o alarme.

LANGLY (OFF): - Aproximando...

MULDER: - (AO RÁDIO)Langly, o que está vendo?

LANGLY (OFF): -Uma sombra enorme, Mulder... Tem um bico?

Wade olha assustado pra Mulder.

MULDER: - (AO RÁDIO) Quê? Manda isso agora pra mim!

LANGLY (OFF): -Espera... Mulder, você tem que ver isso...

MULDER: - (AO RÁDIO) Langly, o que tá acontecendo lá embaixo?

LANGLY (OFF): - (ASSUSTADO) Eu nunca vi uma coisa dessas... Essa coisa não pode ser humana! Mulder, essa coisa tem um bico de ave! ... Sumiu em direção ao necrotério!


Sala de Reuniões - Ala Administrativa -7:11 P.M.

Mulder, Scully, Baba e Frohike em frente ao notebook observando o vídeo.

MULDER: - Ele passa pelo alarme de costas e segue em direção ao necrotério ou ao porão. Aqui!

Mulder dá pausa.

MULDER: - Tão vendo? Dá pra ver um bico na sombra da parede. E um chapéu na cabeça. Ele tem alguma coisa na mão, se apoia nisso...

BABA: - Dr. Crow?

MULDER: - Bingo! O nome dele não é Crow. É um apelido por causa do bico! Por isso não encontramos nenhum médico que trabalhou aqui que tivesse esse sobrenome!

FROHIKE: - Mulder, o que pode ser essa criatura?

MULDER: - Já vimos aves bem assustadoras, lembra Scully? Mas nada como isso. Parece um homem, uma mutação... Eu já vi isso em algum lugar...

SCULLY: - Acha que é um fantasma ou alguém bem vivo? Que tal o Dr. Zimmer?

Mulder olha pra Scully.

MULDER: - Continue, Scully. Sua teoria me parece interessante.

SCULLY: - Quem tem as chaves todas desse lugar? Wade mesmo disse que o Dr. Zimmer aparece de surpresa. E se tem vindo aqui, durante as vezes em que o alarme dispara?

MULDER: - E por que viria aqui? E por que não admitiria que entra e sai pelo necrotério, assustando seus inquilinos?

SCULLY: - Algum segredo que oculta?

MULDER: - E por que ele sequestraria Krycek? E por que nos deixaria checar esse lugar?

BABA: - Ele falou algo sobre o irmão desaparecido... E se ele esconde o irmão aqui?

SCULLY: - E se não for ele, mas o irmão dele? Que também é psiquiatra.

FROHIKE: - Vocês estão pensando que o velho ou o irmão dele estão fazendo experiências com seres humanos aqui dentro, por isso pegaram Krycek?

Scully, Baba e Mulder olham assustados pra Frohike.

SCULLY: - Faz sentido, Frohike. Muito sentido.

MULDER: - Eu quero saber é por que aquela coisa tem um bico, ou esse detalhe passou desapercebido por vocês? Eu não acredito que seja o Dr. Zimmer. Não o conheço direito, mas não acho que um velho reumático faria uma coisa dessas.

SCULLY: - Por que não? Sabe mesmo se ele é reumático ou finge? Por que pela imagem que vimos, ele se apoia em alguma coisa, mas logo em seguida segue andando, erguendo essa coisa.

MULDER: - Acontece, Scully, que essa coisa não me parece uma bengala, me parece mais um tipo de vara...

SCULLY: - Mulder, você acredita demais nas pessoas. Eu acho que existem coisas paranormais aqui dentro sim, porque também as vi. Não estou negando isso, só estou dizendo que essa coisa que aparece na imagem me parece bastante viva e que Zimmer ou seu irmão podem mesmo estarem agindo criminosamente nesse lugar. Isso justificaria porque ele não quer se desfazer desse sanatório assombrado, Mulder!

FROHIKE: - Scully tem razão. Temos fantasmas, mas temos algo bem vivo aqui também. Até Baba sentiu isso.

Mulder vira-se pra Baba.

MULDER: - Dois contra um. Me dá sua opinião. Não vou ficar bravo se ficar ao lado deles.

BABA: -Lamento. Empate. Estou com o Mulder.

Eles sentam à mesa. Scully senta-se em frente ao notebook. Pega duas pastas sobre a mesa e abre, lendo papéis.

SCULLY: -(LENDO) Ok, primeiro a senhora Elizabeth Snider... Internada pelo marido aos 16 anos, em março de 1964... Diagnóstico: histeria... Ela se recusa a cumprir seu papel de esposa com o marido... (INCRÉDULA) de 55 anos? ... Que os pais arrumaram pra ela! ... Betty cometeu suicídio em setembro de 1968, enforcou-se com um lençol no quarto... Aqui tem uma anotação sobre gravidez... (REVOLTADA) Eu não posso acreditar no que estou lendo!

BABA: - (INCRÉDULA) Espera! Internaram a garota porque ela não queria transar com o cara que não amava, que servia pra ser pai dela e foi forçada a se casar com 16 anos? Pelo amor de Deus! Isso nos anos 60 com todo o movimento hippie de paz e amor? Quem era louco nessa história necessitando de tratamento urgente? A pobre moça é que não era!

MULDER: - Histeria. Tudo era "histeria". A histeria de ontem nas mulheres é a hiperatividade de hoje nas crianças. Eu sou muito radical em algumas questões. Dependendo do paciente, quem precisa de tratamento é a família. Você nunca vai conseguir recuperar uma pessoa se o ambiente social em que ela está inserida é doente. Como uma gripe. Se ficar no meio dos gripados, você nunca vai se curar. Chega a ser piada, como a do ex-drogado que morava com traficantes.

SCULLY: -Diga-me com quem andas...

MULDER: - Quando os pais não dão limites e educação, virou modismo os psicólogos dizerem: Ah, ele é hiperativo. Minha mãe acabou rapidinho com a minha tentativa de "hiperatividade" aos oito anos, quando derrubei um monte de latas no mercado e chutei elas pelo chão, só porque a Dona Teena não comprou um gibi da Marvel. Ela me arrastou pela orelha até o carro, tirou todos os meus gibis por uma semana e ameaçou colocar o Homem de Ferro n.º 1 na churrasqueira. Eu fiquei curado da hiperatividade sem medicação alguma ou tratamento!

Scully olha pra ele, incrédula.

SCULLY: - Agora sim eu sei a quem o nosso filho puxou quando chuta a mamadeira e fica de birra porque queria os biscoitinhos da Victoria... E eu acusando os genes do velho William Scully, outro teimoso feito mula!

MULDER: - (DISFARÇA) Ahm, então Bettyengravidou aqui? Só pode! Eu teria internado os pais e o marido pedófilo dela.

SCULLY: - Como você mesmo disse, Mulder. Nunca provaram, mas estupros aconteciam nesse lugar. E se aquela mulher na spirit box falou a verdade, talvez algum médico ou enfermeiro prometeu amor, engravidou a garota e passou a desprezá-la, até que desesperada, Betty cometeu suicídio... (LENDO) William Dickinson, acho que é o seu Billy. Paciente homem, 26 anos, portador de retardo mental. Morreu durante o terceiro tratamento de trepanação. Eu vou poupar vocês e não lerei os comentários médicos e a descrição das coisas que fizeram com o pobre Billy.

Mulder fecha os olhos.Scully solta os papéis e volta a atenção para o notebook. Começa a procurar algo.

SCULLY: - Esse lugar até pode ter começado com boas intenções, mas terminou virando um açougue, um depósito de gente enferma e excluída socialmente, um lugar aberto a todo o tipo de experiências com seres humanos. Maus tratos e estupros eram frequentes. O Saint Giles era tudo, menos um lugar aonde as pessoas poderiam encontrar uma cura. Estou enojada! Achei registros do Dr. Van Der Vein sobre nascimentos de crianças e nomes de pessoas anotados ao lado. E se investigarmos a fundo, creio que vamos descobrir um esquema de acobertamento de estupros e venda de bebês. Nos anos 60 isso era uma fábrica de crianças, filhos de mulheres que a sociedade não queria mais. Elas eram consideradas reprodutoras e não pacientes que precisavam de ajuda médica.

MULDER: - Não me surpreende, Scully. Eu não disse pra você, desde o início, que esse lugar era um inferno? Acha que existem tantas presenças aqui à toa, incluindo demoníacas? Desde a inauguração esse sanatório já foi dedicado ao mal!

BABA: - Se essas paredes falassem, não contariam boas histórias.

MULDER: - Agora vamos pra ação. Depois podemos checar mais a fundo esses arquivos e descobrir toda a podridão desse lugar.

Mulder pega uma caneta e uma folha de ofício.

MULDER: - Ok, Baba. Vamos começar.Porão...

SCULLY: - Esperem. Achei a planta do prédio. Não tem nada abaixo do saguão. Pelo menos não consta na planta.

MULDER: - Tem alguma coisa lá. O meu instinto diz que é onde vamos encontrar o Krycek. Talvez Boris não tenha colocado isso na planta, já vimos acontecer até na nossa casa! Continuando. Porão.

BABA: - Ala médica tem a coisa do poço e do necrotério. E o Bico de Ave. Na ala administrativa nada.

MULDER: - Térreo.

BABA: - Ala médica tem o Billy. Administrativa nada. Saguão tem o "Escalador" do elevador.

MULDER: - Primeiro andar.

BABA: - Na ala médica tem uma criança e administrativa uma sombra em forma de cobra.

MULDER: - Segundo andar.

BABA: - Ala médica tem o Velho Tarado. Administrativa tem o nervosinho "Derruba Macas".

MULDER: - Terceiro e último andar?

BABA: - Na ala administrativa nada. Na ala médica temos a Betty e assombração residual supostamente de um enfermeiro ou médico que ameaça e uma mulher que grita.

MULDER: - Ok. Assombração residual não conta. A criança, Billy, Betty e o Velho Tarado não vão nos causar problemas. O Escalador do elevador, a coisa do poço e necrotério, o Derruba Macas, a sombra em forma de cobra e o Bico de Ave é que são nossas preocupações.

Frohike e Scully se entreolham, apenas observando Baba e Mulder.

BABA: - O "Derruba Macas", é humano. É maligno sim, mas ainda é humano. A sombra em forma de cobra é uma manifestação demoníaca. O "Escalador" e o Bico de Ave são a minha dúvida.

MULDER: - Dois ou mais demônios, contando com a coisa do poço e necrotério?

BABA: - Mulder, pela energia que senti no porão, a coisa do poço e necrotério podem ser a mesma entidade do elevador, o Escalador. Sinto um demônio lá embaixo. Não tenho dúvidas que existe um demônio aqui dentro. O que sei é que precisamos de um padre. Posso chamar aquele exorcista que trabalhou conosco da última vez. O cara é bom.

MULDER: - Certo. Liga para o padre. Eu vou abrir aquele elevador e me certificar que não existe nada debaixo do saguão. E se não existir nada...

BABA: - Então oKrycek tá mais ferrado do que a gente pensa.

SCULLY: - Como assim?

MULDER: - O que sabe sobre portais, Scully?

SCULLY: - Portais dimensionais? Tipo buracos de minhoca? Bom, acredito neles, Einstein acreditava!

MULDER: - Então torça pra que não exista nenhum portal desses nesse prédio.

FROHIKE: - E por que existiria?

MULDER: - O Dr. Zimmer disse que outra equipe de investigação esteve aqui. Não sabemos quem eram e nem as besteiras que fizeram. Nem mesmo a tal médium que veio depois deles...

BABA: - Scully, nesse ramo existem pessoas de todos os tipos, dispostas a tudo. Existem estudiosos sérios, oportunistas e o pior de todos os tipos: os aventureiros. Eles leem sobre o assunto, acham que sabem tudo e estão preparados, só que acabam...

MULDER: - Fazendo merda e deixando a coisa pior do que já era. Brincam com tábuas ouija, equipamentos que não tem preparo para usar, abrem portais sem conhecimento do que estão abrindo...

BABA: - Com toda a minha experiência, eu mesma não gosto de abrir portais. Só abro o que conheço, sempre do mesmo jeito e não mudo nada.

MULDER: - Vamos ao trabalho. Baba, você vai fazer agora o que sempre faz. Leva a Scully com você. Frohike, preciso de outro homem pra abrir a porta daquele elevador.

BABA: - Levar a Scully comigo? Ela não acredita nisso!

MULDER: - Ela pode não acreditar, mas eu tive uma ideia. Scully vai ser muito útil pra você nesse lugar. Scully é mulher, passa confiança, tem uma compaixão enorme com as pessoas e ainda é médica.

BABA: - (SORRI) Mulder, que ideia genial! Scully vai facilitar o meu trabalho!

SCULLY: -(IRRITADA) Ei, estou aqui, ok? Aonde querem me enfiar? Eu nem sei o que é que a Baba faz! Achei que só ficasse falando com espíritos!

BABA: - Então se prepare, Scully. Você vai me ajudar a chamá-los. Vamos encontrar um jaleco e um estetoscópio pra você, doutora. Eles vão te ouvir mais do que a mim.

Scully arregala os olhos. Frohike disfarça, se levanta, ajeita as calças.

SCULLY: - Eu não vou sair falando com espíritos, Mulder! Vocês dois estão malucos! Eu sou Dana Scully, não sou Fox Mulder!

BABA: - Você vai sair falando com pacientes dentro de um hospital, doutora. O fato de não enxergá-los ou achar que eles não estão aqui, não fará diferença. Seu linguajar médico e sua compaixão com os doentes, os fará sentir-se seguros para nos seguirem.

SCULLY: -Ma-mas, e-eu não quero nada me seguindo! (CERRA O CENHO/ AFLITA) Mulder, por favor! (PIDONA) Mulder, fantasmas não... Deixa pra quando forem lobisomens ou vampiros...

MULDER: -(DEBOCHADO) Não precisa se preocupar com os fantasmas, Scully. Exceto com o velho tarado. E comigo.

Scully o fulmina com os olhos.

SCULLY: - Fox William Mulder...

Frohike olha assustado pra Scully.

SCULLY: - (IRRITADA) Sabe o que combinamos? Esqueça TUDO! Quando chegar em casa, vai ver a surpresa que eu vou te dar!

BABA: - (DEBOCHADA)Amanhã, às quatro, lembra, Mulder? Hum? Surra agendada. E nem precisa ser vidente pra isso!


Saguão de entrada - 8:34 P.M.

Mulder se aproxima do elevador com um pé de cabra. Olha pra dentro.

MULDER: - (GRITA) Krycek!!!!!!!!!!!!!!!!!

Nenhuma resposta. Mulder aperta os botões tentando fazer o elevador descer. Nada. Mulder mete o pé de cabra na porta pantográfica. Faz força. Não abre. Frohike se aproxima, ajudando. Os dois fazem força e nada da porta abrir. Desistem.

MULDER: - Me diz que tem um maçarico na sua Kombi. Cortamos a porta ou as grades de aço laterais e entramos nesse fosso.

FROHIKE: - Não tenho, mas posso arrumar um. MacGyver é o meu sobrenome. Só preciso encontrar um tubo de oxigênio e um isqueiro e vamos abrir essa droga nem que seja explodindo. A única questão é a coisa que habita aí dentro não gostar disso.

Mulder fica irritado. Começa a chutar a porta. Um vento forte sobe rapidamente jogando os dois quase na porta de entrada. Mulder e Frohike se entreolham.

MULDER: - Essa coisa quer guerra, ela vai ter guerra!

Mulder se levanta enfurecido e se aproxima do elevador. Uma névoa começa a surgir dentro do elevador, formando um rosto demoníaco com dentes pontiagudos que se projetam pra cima de Mulder querendo o devorar. Mulder recua de olhos arregalados.


Sala de Reuniões - 8:59 P.M.

Mulder morde o polegar, andando de um lado pra outro. Scully pensativa, sentada à mesa, brincando com uma caneta. Frohike assustado, bebendo café. Baba entra na sala.

BABA: - Temos um problema. O padre está em Minnesota fazendo um exorcismo. Onde vamos conseguir um exorcista a essa hora?

SCULLY: -(DEBOCHADA) Busca do Google? Tele-entrega?

Mulder olha incrédulo pra Scully, que segura o riso. Ela se levanta. Mulder fica de frente pra ela, de costas pra porta.

SCULLY: - (DEBOCHADA) Aposto que é um homem-rã. Liguem para a Marinha ou os bombeiros que eles resolvem o problema...

MULDER: -Scully, quando você quer ser irônica, consegue ficar pior do que eu! Sabe como chamo isso? Medo! Você acabou dando de cara com as duas únicas coisas que fazem você arrepiar a espinha: demônios e fantasmas! E não minta pra mim, mulher. Não vem com aquele discurso cético e científico de que (IMITANDO A VOZ DELA/ DEBOCHADO) "Mulder, o medo é irracional"... Você tá com medo, Dana Scully. Morrendo de medo. Quer pular no meu colo e se agarrar no meu pescoço!

SCULLY: - (DEBOCHADA) Eu? Grudar no seu pescoço? Desce daí, Mulder! É mais fácil você pular no meu colo, grudar no meu pescoço e ficar gritando feito menininha!

Baba e Frohike observam a discussão.

MULDER: - Eu não grito feito menininha! Eu sou macho!

SCULLY: - Tem certeza, "macho"?

Wade entra pra pegar café, passa por trás de Mulder que não o percebe, e sem querer derruba a caneca no chão. Mulder dá um berro histérico e apavorado. Scully pula em Mulder, se agarrando no pescoço dele, olhos azuis arregalados e assustados. Frohike e Baba olham para os dois.

BABA: - (DEBOCHADA) Frohike, acho que isso encerra a discussão sobre quem tem a razão...

Mulder bota a língua para os dois. Scully desce dos braços de Mulder, ajeita a roupa, disfarçando e senta-se, sem graça. Wade sai.

MULDER: - Baba, você pode tentar?

BABA: - Eu? Essa coisa é muito poderosa! Não é um demônio qualquer, Mulder! É um mal antigo, aquele tal Boris eslavo deve ter invocado essa coisa quando construiu o prédio! Eu poderia tentar se soubesse o nome! Você não manda um demônio embora de um lugar dado a ele! E menos ainda se não sabe o nome dele! Isso é regra! Até Jesus perguntava!

MULDER: - Então pergunta!

BABA: - Você tá maluco? Um padre pode fazer isso, eu não! Acha que vou chegar naquela coisa pegajosa e dizer "Oi, muito prazer, eu sou a Baba, e você?" Não sei nada da mitologia eslava, quem poderia saber é o Krycek!

MULDER: - É apenas um demônio! Um maldito extraterrestre da máfia do Moedinha! Se fala russo, chicano ou português, não importa! Eles falam em muitas línguas!!!

BABA: - Ok, já que você tem essa visão tão lógica da coisa toda, vai lá no elevador e se apresenta pra ele, diga que conhece Lúcifer pessoalmente e troca umas idéias.

Scully morde os lábios, olhando pra Mulder.

MULDER: - Próxima meta da minha vida: virar exorcista! Minha filha tem razão nisso! Scully, você que tem fé...

SCULLY: - Nem ouse terminar a frase, Fox Mulder!

Mulder olha pra ela com cara de cachorrinho pidão.

MULDER: - E se a gente... Chamasse... Reforço...

SCULLY: -Que reforço?

MULDER: - Victoria poderia...

Scully se levanta tão irritada que Mulder se afasta com cara de assustado.

SCULLY: - Não!!! Não mesmo!!! Você já me arrastou pras suas loucuras, não vai arrastar a minha filha pra isso!!!

Mulder se encolhe, em pânico.Scully está furiosa.

SCULLY - Mulder, você perdeu completamente o juízo? Esse lugar afetou a sua sanidade mental??? O que conversamos sobre Victoria? Ahn?

Scully sai da sala. Mulder cai sentado na poltrona. Fecha os olhos.

BABA: - Avisei, não avisei? Vou ver o que posso fazer.

Baba sai. Frohike senta-se à mesa.

FROHIKE: - Acha mesmo que Victoria conseguiria colocar aquela coisa pra correr?

MULDER: - Não sei, mas pelo menos ela poderia saber o nome daquele escalador batráquio eslavo...

Mulder se levanta num estalo de ideia. Senta-se de frente para o notebook. Começa a digitar.

FROHIKE: - Baixou?

MULDER: - Victoria falou uma coisa esquisita ontem, no café da manhã... Buck... Buck alguma coisa. Vaca... Pode ter sido uma premonição!

Mulder fica digitando e procurando.


9:22 P.M.

Scully entra na sala de reuniões. Baba e Frohike observam Mulder.

MULDER: -Bukavac é uma criatura demoníaca da mitologia eslava. Um monstro anfíbio, humanoide, de seis pernas e com cornos torcidos, que mora em lagos e grandes piscinas, vindo para fora da água durante a noite, fazendo grande barulho e pulando sobre pessoas e animais, os estrangulando.

BABA: -Por isso eu senti uma coisa pulando em mim e tentando me asfixiar! Ok, é essa coisa que habita no poço, no necrotério e a que vocês viram no elevador. Então é um demônio, talvez invocado pelo construtor do sanatório. Acha que existe alguma ligação com Krycek pelo fato dele ser russo?

MULDER: - Não faço ideia. Mas não vai ser esse batráquio chifrudo que vai me impedir de entrar naquele elevador. E ainda temos o Bico de Ave ou Dr. Crow. (DEBOCHADO) Esse é fácil, eu posso atrair com sementes de girassol...

Scully põe a mão na testa, olhando com reprovação. Agora é Mulder quem fica irritado.

MULDER: - Por que essa cara? Ahn? Quem sabe vamos embora e deixamos o Krycek se ferrar?

SCULLY: - Não é isso! Por que acha que existe alguma coisa lá embaixo? Você viu a planta do prédio...

MULDER: - E você viu a planta da nossa casa! Levamos anos pra descobrir que havia um búnquer escondido lá embaixo!

BABA: - (COCHICHA PRA FROHIKE) Vamos dar o fora daqui, isso já passou de provocação e quem tem a razão. É tesão acumulado mesmo, como nos velhos tempos!

Baba e Frohike saem da sala.

MULDER: - Se não quiser ficar, vá pra casa. Acho que você deve ficar com a Barbara e as crianças. Barbara pode precisar de você e...

SCULLY: - Eu vou ficar aqui, Mulder! Só estou nervosa, ok? Posso sentir medo de que alguma coisa aconteça com o meu marido ou isso é idiota demais pra você entender?

Mulder sorri. Leva o braço até ela. Scully, num beiço, recua. Mulder a agarra, a levando contra si, envolvendo-a em seus braços. Beija a cabeça de Scully com afeto.

MULDER: - Scully, minha Scully... Sabe que preciso fazer isso. Hum?

SCULLY: - Eu sei, mas a cada dia fica mais difícil ver você se meter em encrencas, Mulder. Se vai entrar naquele elevador, eu vou com você.

MULDER: - Não. Se alguma coisa acontecer comigo, quem vai cuidar dos nossos filhos?

SCULLY: - Entendeu, Mulder? Temos duas crianças que precisam dos pais! Eu não quero ficar viúva e admito que conforme o tempo passa, mais sensível e temerosa eu fico só de pensar nesse assunto! Sim, pode dizer que estou ficando velha. Estou velha demais pra essas coisas mesmo!

MULDER: - (DEBOCHADO) Não se preocupe, você e as crianças ficarão bem, tenho duas apólices de seguro e troquei os títulos ao portador por barras de ouro, como o Rato me aconselhou. Você pode arrumar um garotão sarado, comprar uma mansão com piscina e levar uma vida de rainha.

Scully dá um tapinha nele.

SCULLY: - Eu não quero um garotão sarado e nem vida de rainha, Mulder! Eu quero o traste teimoso com quem me casei!

MULDER: - Péssima escolha, Scully. Você realmente não tem bom gosto.

SCULLY: - Mulder, é sério! Eu vou descer com você. Isso é inegociável.

MULDER: - Scully, é sério. Prefiro que você vá com a Baba, de andar em andar, limpando o lugar. Você é médica, pode fazer os espíritos presos aqui acreditarem em você. Quanto menos almas humanas aqui dentro, menos forças as entidades malignas terão. Me ajuda? Hum?

SCULLY: - Eu? Mulder...

MULDER: - Por favor, hum? Vista um jaleco e coloca um estetoscópio no pescoço e ajude Baba a ordenar que eles saiam. Diga que estão curados, que podem ir embora, eles ouvirão você.

SCULLY: - (CERRA O CENHO) Mulder, isso é ridículo!

MULDER: - Não é não. Mesmo que não acredite...

SCULLY: - Eu acredito, Mulder! Eu acredito que existam almas presas nesse lugar, mas não acredito que irão embora desse jeito!

MULDER: - Custa tentar? Você nunca participou dessa etapa, aposto que vai se surpreender com o resultado. Hum? E peça pro Wade deixar o prédio. Eu não sei o que pode acontecer aqui quando começarmos a mexer com essas coisas.

Saguão de entrada - 9:36 P.M.

Mulder de frente para o elevador, com a mochila nas costas. Scully passa por ele vestida num jaleco, com um estetoscópio ao pescoço.

SCULLY: - Me sinto ridícula, Mulder. Mortos não precisam de médicos!

MULDER: - Scully, você praticamente já é médica de mortos! Só está acostumada com os corpos, agora acostume-se com as almas.

Scully revira os olhos, num deboche. Baba passa por ela.

BABA: - Mulder, vou sem pressa como combinamos, para dar tempo de você descer, encontrar Krycek e voltar.

MULDER: - Meu medo é que você traga todos pra cá e aquele batráquio não os deixe sair. Eles vão se dispersar assustados pelo prédio e será difícil convencê-los e juntá-los novamente.

BABA: - É o risco que iremos correr. A não ser que queira encontrar Krycek e ficamos aqui mais um dia esperando pelo padre. Apenas você e eu.

SCULLY: - Nem pensar! Vamos acabar logo com isso!

BABA: - Ok. Está pronta, Dra. Scully?

SCULLY: - Eu não acredito que vocês dois me convenceram a fazer isso!

BABA: -O negócio é o seguinte. Acreditando ou não, eu vou abrir um portal de luz na porta de entrada do prédio, para eles irem embora. Vou pedir que sigam a doutora. E você vai passar confiança pra eles como se fossem seus pacientes, reiterando que devem seguir você até o saguão porque você vai dar alta pra eles. Vamos começar no quarto andar e descer para a enfermaria, trazendo todos conosco. Só vamos pular o segundo andar da ala administrativa, aquele das celas, porque o Derruba Macas vai colocar medo neles e a coisa do porão também. Espíritos maus e demônios não vão querer que as boas almas presas aqui vão embora. Entendeu? Eles as mantém sob medo e precisam da energia delas para ganhar poder. Vamos resgatar os perdidos, dar o descanso que eles merecem e as coisas ruins vamos deixar pra depois. Essas não sairão fácil.

Scully cruza os braços, num semblante cético.

SCULLY: - Entendi.

BABA: - Scully, isso é sério. Precisa passar confiança ou não seguirão você. Tem coisas aqui dentro que não querem a liberdade dessas almas e farão de tudo para assustá-los e mantê-los presos. Billy teme o tal Dr. Crow, que provavelmente muitos temem, e acho que é uma alma humana muito ruim que ainda os ameaça apenas para não ficar sozinho aqui. E ainda temos um demônio que fará de tudo para impedi-los de sair.

MULDER: - Eu vou tomar o tempo do sapão fedido e tentar segurá-lo por aqui.

Baba e Scully entram na ala médica. Mulder espia. Ao ver que elas se foram, retira um tubinho de plástico do bolso. Joga água benta na porta do elevador, fazendo uma cruz. Guarda o tubinho rapidamente. Frohike se aproxima com o pé de cabra.

FROHIKE: - Agora vai ter que ir. E não pensa que não vi você jogando água nessa coisa. É benta?

MULDER: - Não me amola, deixa pra folgar comigo na sexta-feira, dia de boliche!

Os dois forçam o pé de cabra e a porta se abre. Eles se olham rindo. Mulder se aproxima do fosso. Olha pra cima.

MULDER: - Ainda está parado no último andar.

Mulder olha pra baixo. Então se deita no chão, espiando pra baixo, com a cabeça dentro do fosso do elevador.

MULDER: - Frohike, tem uma abertura lá embaixo. Tem mesmo um porão escond...

Frohike puxa Mulder pelos tornozelos segundos antes do elevador descer silenciosamente quase o decapitando. Mulder se vira pra Frohike e arregala os olhos, assustado.

FROHIKE: -(NERVOSO) Acho que vai precisar mais do que água benta. Essa coisa não vai desistir fácil, Mulder. Baba tem razão. Quer levar um de nós com ele.

Mulder se levanta.

MULDER: - Então o sapão achou um inimigo a altura, pois eu também não desisto fácil.

FROHIKE: - Mulder, tem certeza de que isso é um demônio? Também pode ser um criptídeo como o Pé Grande, o Chupacabras ou o Rougarou...

MULDER: - É demônio, Frohike. Baba disse que existe um demônio no porão. É ele. Você viu, ele nos atacou!

Mulder joga água benta em forma de cruz pra dentro do fosso.

FROHIKE: - O que vai fazer?

MULDER: - Pular em cima do elevador, abrir o alçapão e sair por dentro dele pra alcançar a entrada do porão.

FROHIKE: - Mulder, que ideia mais estúpida! E se essa coisa fizer o elevador subir e prensar você lá em cima?

MULDER: - Não tenho outra opção. Cortaria as correntes, mas olha a grossura delas! Frohike, tenha fé, ok?

Mulder segura-se na porta e pula pra cima do elevador.

FROHIKE: - Olha quem me pedindo pra ter fé! Mulder, assim como você, eu vejo demônios como alienígenas de carne e osso! O que um punhado de água benta em forma de cruz vai ajudar? Acho que uma arma atômica seria muito mais eficaz!

MULDER: - Eu não sei o porquê, mas eles temem a água benta e o sinal da cruz. É ilógico, Frohike, eu sei, mas deve ter algum significado pra eles que não sabemos.

Mulder tenta abrir o alçapão do elevador.

MULDER: - A cruz tem algum significado além de Cristo, eu acredito nisso. Porque a primeira coisa que eles fazem quando possuem uma casa ou pessoa é inverter os crucifixos do ambiente.

FROHIKE: -Uma forma de deboche?

MULDER: - Para povos antigos, bem antes do cristianismo, a cruz significava um sinal de proibição. Como uma placa de proibida a entrada. Talvez eles invertam a cruz pra dizer que a entrada está conquistada e agora é permitida.

Mulder consegue abrir o alçapão. Desce pra dentro do elevador.

FROHIKE: - Mulder, mantenha contato pelo rádio! Se em meia hora você não responder, vou descer atrás de você!!!


Porão do Saguão - 9:57 P.M.

[Som: Martin Grech - Open Heart Zoo]

Escuridão completa. A lanterna de Mulder acende. Mulder sai do elevador. Ilumina o ambiente. Na frente dele há uma porta dupla de metal trancada com corrente e um cadeado grosso. Mulder ilumina para a esquerda e direita. Vai para a esquerda.

Mulder chega num espaço vazio. Vê o vitral do anjo de cabelos negros e longos, vestes brancas, com uma rosa vermelha na mão e uma espada na outra. Mulder se aproxima, curioso.

MULDER: - Que anjo mais feminino!

Mulder observa a figura com cuidado. Os cabelos negros e longos, vestes brancas, formas femininas e delicadas. A rosa vermelha na mão e a espada na outra. Mulder se aproxima mais, olhando para os olhos verdes do anjo.

MULDER: - (SORRI) Acho que conheço você de algum lugar, meu anjo. Posso sentir seu cheirinho de rosas. Sei que está comigo me protegendo. Sempre está comigo, pedaço de mim.

Mulder se afasta de costas, admirando a figura angelical. Sente que chutou algo. Mira a lanterna no chão. Vê a arma de Krycek. Mulder se agacha e pega a arma.

MULDER: - Ok, Rato. Eu tinha razão. Você está aqui.

Mulder guarda a arma de Krycek na cintura. Volta por onde veio. Ilumina o corredor escuro. Segue andando. Vê uma porta. Ilumina a placa de bronze na porta: "MD. W. Van Der Vein". Mulder leva a mão na maçaneta, girando-a lentamente.

MULDER: - Vamos descobrir seus segredos, Dr. Van Der Vein...

Corte.


Frohike nervoso, observando pra dentro do elevador.

BYERS (OFF): - Mulder, na escuta?

Frohike leva um susto. Pega o rádio.

FROHIKE: - (AO RÁDIO) Mulder tá ocupado. Fala.

BYERS (OFF): -Não vai acreditar no que o detetive Bishop e eu encontramos no pátio. Acho que a polícia vai ter muito trabalho pela frente.

FROHIKE: - (AO RÁDIO)Acharam Krycek?

BYERS (OFF): -Não. Mas encontramos um monte de túmulos no meio do mato alto. Eles enterravam os pacientes mortos aqui mesmo. Não há nomes, apenas data e número de identificação. Como Krycek diz, a cada enxadada uma minhoca. Esse lugar tem muitos segredos escondidos e enterrados.

FROHIKE: - (AO RÁDIO) Você nem faz ideia de quantos! Essa investigação pode se arrastar por meses ou anos, envolve satanismo, experiências médicas, estupros e venda ilegal de bebês... E acho que se o tal Dr. Vein fazia isso livremente, sem medo de ser pego, ele deveria ter amigos políticos e na polícia. Amigos influentes que ocultavam as práticas dele. Tem uma sala enorme cheia de arquivos sobre pacientes, empregados e o sanatório em si, desde a sua fundação. Muito material pra ler e investigar. Até arquivos de contabilidade!

BYERS (OFF): - Sempre chegamos a uma conspiração, percebeu? Que matéria de capa isso vai dar pra nossa revista!Minha amiga Barbara Wallace vai pirar com uma matéria dessas, porque eu tô pirando só de pensar em quanta coisa vamos achar! Eu vou dividir o doce com ela, afinal se não fosse o marido dela sumir aqui, jamais teríamos acesso a esse lugar.

FROHIKE: -(AO RÁDIO) Byers, não fique tão animado porque temos um problema. Mulder prometeu anonimato ao Dr. Zimmer. A não ser que ele esteja envolvido em alguma coisa aqui, não vamos poder publicar nada com o nome do lugar ou vamos comprometer o Mulder.

BYERS (OFF): -Droga! Mesmo assim vamos ter que revisar horas de gravação porque Langly e eu vimos muitas coisas acontecerem, mas sempre há coisas que passam desapercebidas. Eu estava voltando gravações e percebi que a câmera do porão capturou a criatura anfíbia saindo do poço. Minutos depois ela voltou, parecia machucada e entrou novamente no poço e até agora não saiu mais. Entre esse espaço de tempo, a câmera gravou orbes que saíam do poço e névoas.

FROHIKE: - (AO RÁDIO) Espíritos?

BYERS (OFF): - Era o que eu ia perguntar ao Mulder. Talvez existam corpos dentro daquele poço. Que lugar melhor pra esconder cadáveres indesejados?

Corte.


Krycek, sentado no chão, recostado na parede, desacordado. Abre os olhos. O rosto da enfermeira Hollie em sua frente, lhe sorrindo, levando o dedo indicador aos lábios, pedindo silêncio. Krycek percebe que todos estão dormindo no chão, alguns amontoados, outros separados.

A enfermeira Hollie estende a mão pra ele, ajudando-o a se levantar.

ENFERMEIRA HOLLIE: - Precisa se mexer. O Doutor aplicou muito sedativo em você.

KRYCEK: - Deve ser porque pressentiu que sou maluco.

ENFERMEIRA HOLLIE: -(SORRI) Você não é maluco. Apenas um pouquinho doidinho, Alex.

KRYCEK: -Sério, enfermeira Hollie. Eu não consigo lembrar de você, me desculpe. E sinceramente, você é muito bonita pra que eu não me lembre... Não leve isso como atrevimento, por favor. É só um comentário que você deve estar cansada de ouvir.

ENFERMEIRA HOLLIE: -(SORRI) Tudo bem, Alex. Foram as drogas que ele lhe deu, elas o deixaram confuso. Vai começar a lembrar, eu tenho certeza que toda a confusão vai passar quando o efeito das drogas acabar. Aquele miserável, ele ia matar você. E sabemos por quê. Mas você me encontrou, ouviu meu chamado e veio me salvar.

KRYCEK: -Espera... Era você quem estava me chamando?

ENFERMEIRA HOLLIE: -Sim. E você me ouviu. E sei que vai tirar a todos nós daqui, sãos e salvos. Vem comigo!

Ela puxa Krycek pela mão, atravessando o salão e indo para outra sala. Fecha a porta. Krycek observa a sala, com instrumentos musicais e um piano. Uma velha vitrola. Krycek abre um sorriso.

KRYCEK: -Sala de música? Me sinto em casa!

ENFERMEIRA HOLLIE: -Eu sei! (SORRI) Sua sala favorita!

Corte.

Mulder ilumina a sala escura. Uma escrivaninha empoeirada. Papéis e canetas empoeirados e um velho estetoscópio. Mulder tenta ligar o interruptor na parede. Não funciona. Continua observando a sala. Abre a gaveta da escrivaninha. Revira. Tira um diário. Abre. Passa os olhos e sorri. Então coloca o diário dentro da mochila. Mulder percebe alguma coisa dentro da gaveta, que muda sua fisionomia. Leva a mão e ergue uma moeda de ouro. Ilumina com a lanterna.

MULDER: -(SURPRESO) ... Filho da mãe! Ele conhecia o Moedinha? Mas como? No que esse cara estava envolvido? Ele fazia experiências para o governo? O Sindicato? Por isso nunca o denunciaram!

Mulder guarda a moeda no bolso. Se vira e vê uma estante com livros. Mulder observa os livros.

MULDER: - ... Tratado das degenerescências na espécie humana, de Benedict-Augustin Morel... (SORRI) Dementia Praecox and Paraphrenia, de Emil Kraepelin... Caramba! E ainda estão em estado impecável! Isso aqui é a biblioteca dos sonhos de qualquer estudioso da história da Psiquiatria! ... Hum, também temos Darwin e a Teoria da Evolução das Espécies... A peste negra... A Europa e a peste bubônica... Ratos e outros transmissores de doenças... Pandemias... Mais livros sobre a peste negra e ratos... O cara era obcecado pela peste negra!

Mulder continua observando os livros. Mira a lanterna para baixo. Observa as prateleiras.

MULDER: - ... (INCRÉDULO) Rituais e magia negra... A bíblia satânica... Invocações e conjurações... Sacrifícios e rituais... O desgraçado não era do Sindicato, ele era um satanista! E se ganhou essa moeda, aposto que foi jurado de morte pela Ordem dos Treze! Ele já não servia mais aos propósitos deles!

Mulder segue caminhando e iluminando o local. Há um cabide com um casaco preto longo e um chapéu. Mulder percebe outra sala. Entra.

Mulder ilumina o ambiente com a lanterna. É um quarto. Há um esqueleto masculino deitado na cama, vestido com um tipo de uniforme antigo, preso com tiras de couro nos pulsos e tornozelos. Maxilar aberto, indicando que morreu gritando. Mulder põe a mão na boca.

MULDER: - Desgraçado... Ele devia trazer pessoas aqui e fazer experiências com elas às escondidas.

Mulder se aproxima. Percebe o crachá no uniforme. Lê o nome.

MULDER: - Fala sério! É muita coincidência, senhor Stevens... Lamento que tenha sofrido nas mãos desse degenerado. Aposto que foi uma morte lenta e dolorosa em nome da ciência e da indústria de fármacos. Se ele era da Ordem, tinha interesses econômicos na jogada.

Mulder examina o crânio. Nenhuma perfuração.

MULDER: - Estranho... Se ele não perfurou o seu crânio, que experiências psiquiátricas ele fazia aqui então? Pode me contar como morreu, senhor Stevens?

Mulder se afasta. Bate na mesinha com uma antiga serra para amputação, seringas de agulhas longas e grossas, anestésicos e vidrinhos. Mulder pega um dos vidrinhos e lê o rótulo.

MULDER: -Yersinia pestis... Que merda é essa? Yersinia... (PÂNICO) A bactéria causadora da peste bubônica!

Mulder, nervoso, coloca o vidrinho lentamente e com cuidado sobre a mesinha. Olha para o esqueleto.

MULDER: - Foi uma morte lenta e dolorosa. Levou de dois a cinco dias após a inoculação com a bactéria. Começou com grandes manchas negras na pele, seguidas por inchaço nos gânglios do sistema linfático, que ficavam enormes e quentes e causavam muita dor.Febre, calafrios, dor de cabeça, fadiga e dores musculares... Lamento que tenha morrido sofrendo e amarrado. Só não entendo qual a relação de um psiquiatra com a peste negra. O que esse cara estava fazendo aqui? O que queria provar? Amputava as pessoas pra quê? A não ser que fosse um satanista louco querendo vítimas fáceis para sacrifícios, se divertindo ao ver com os próprios olhos como as pessoas morriam infectadas pela peste...

Mulder mira a lanterna na parede, em direção a um quadro. Arregala os olhos.

MULDER: -(INCRÉDULO) Merda!!! Agora faz todo o sentido!!!

Corte.


Hollie se aproxima da vitrola. Coloca a agulha sobre o disco.

[Som: Procol Harum - A Whiter Shade Of Pale]

KRYCEK: - Gosto dessa música... Como sabe tanta coisa sobre mim? Eu nada sei sobre você...

Ela ajeita o uniforme, sorrindo pra Krycek. Ajeita o quepe, os cabelos louros e longos. Krycek olha pra ela, confuso. Percebe o anel de compromisso na mão dela.

ENFERMEIRA HOLLIE: - Dança comigo?

Krycek fica sem graça. Ela se aproxima, tomando as mãos dele. Leva uma delas a sua cintura. Começa a se embalar. Krycek dança com ela, constrangido e confuso, evitando contato. Ela deita a cabeça no ombro dele, num sorriso de felicidade.

KRYCEK: - Enfermeira Hollie, eu não acho que isso seja uma boa ideia. Eu não quero parecer estúpido e grosseiro, você é linda, mas eu sou casado, tenho uma mulher que amo, nosso filho está a caminho e sou bem mais velho que você, poderia ser o seu pai...

ENFERMEIRA HOLLIE: -Você sempre fazendo piadas, querendo me fazer rir, Alex. Eu sei que vamos nos casar e ter bebezinhos lindos, é o nosso sonho, teremos uma família grande e piqueniques aos finais de semana. Você vai voltar pra polícia, eu vou conseguir aquele emprego na maternidade do Hospital de Caridade, vamos sair desse lugar, vamos nos casar e seremos felizes pra sempre, porque a vida é linda, meu amor. Temos tanto pra sonhar e viver!

KRYCEK: - ???

ENFERMEIRA HOLLIE: -Lembra por quê você gosta dessa música? Porque é a nossa música, Alex! Sempre que podemos, descemos aqui para dançar e nos beijar, sem que ninguém nos veja. Não sabe como senti sua falta, amor da minha vida. Mas eu sempre soube que você me encontraria e me tiraria daqui.

Krycek se afasta dela, olhando incrédulo.

KRYCEK: - Meu Deus, você não é enfermeira! É uma paciente!

ENFERMEIRA HOLLIE: - Alex, acho que ele sabe de nós dois, por isso pegou você, mas eu consegui te salvar. Precisamos sair daqui o mais rápido possível, meu amor. E precisamos levar essas pessoas conosco, temos que contar a verdade que a gente descobriu, as coisas que o Doutor faz aqui dentro! Nós temos as provas todas. E ele já deve saber isso e pode tentar nos matar, estou com medo! Me abraça, meu querido, por favor. Seu abraço é meu conforto!

MULDER: - (GRITA) Krycek!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Krycek sai correndo da sala de música e atravessa a sala de recreação. Vê a porta de metal chacoalhando.

KRYCEK: - (GRITA) Mulder!!! Estou aqui dentro!!!

MULDER: - (GRITA) Graças à Deus, Rato! Encontrei você! Se afasta, vou atirar no cadeado!

Krycek se afasta.

Ouvimos o som de um tiro. O barulho das correntes.

A porta se abre e Mulder surge, nervoso e ao mesmo tempo aliviado. Mulder entrega a arma pra Krycek.

MULDER: -Te devo uma bala, seu russo desgraçado! Achei que tinha perdido você! Vamos dar o fora daqui rápido! Explico tudo lá em cima! Anda!

KRYCEK: - Precisamos levar essa gente toda conosco!

Mulder olha para Krycek que está nervoso e angustiado.

KRYCEK: - Eles não podem ficar aqui! Vamos levá-los, vou chamar reforços...

MULDER: - Krycek... Respira e se acalma, ok?

KRYCEK: - (AGITADO) Respirar e me acalmar? Tá maluco, Mulder? Tem um médico doido à solta aqui dentro, ele me pegou, me trancou aqui, assim como pegou todas essas pessoas e as trancou aqui dentro! A enfermeira sabe a verdade, tem provas e pode testemunhar...

MULDER: - Krycek!!!!

KRYCEK: -O quê?

MULDER: -Não tem ninguém aqui! Apenas você e eu!

Krycek se vira. Vê o salão vazio, paredes queimadas por um incêndio. No chão, aonde ele viu as pessoas dormindo amontoadas, apenas cinzas e ossos queimados, revelando os corpos que ali jazem, morreram juntos e agarrados. Krycek acena negativamente com a cabeça, recuando.

KRYCEK: - (PERTURBADO)Não... Não é verdade...(GRITA) Hollie!!!!

Krycek corre até a sala de música. Tudo queimado. Apenas a vitrola intacta e com o disco retorcido. Aos pés dela, o corpo frágil e carbonizado, com a mão estendida e o anel de compromisso entre as cinzas. O quepe de enfermeira chamuscado, ao lado dela. Krycek enche os olhos de lágrimas e se agacha perto dela. Mulder se aproxima.

MULDER: -Krycek, maluco você não é. Então pode me dizer o que está acontecendo?

KRYCEK: -Ele matou todos eles!!! (REVOLTADO/ EM LÁGRIMAS) O desgraçado matou ela! Matou pra esconder seus segredos sujos!!! Hollie... Eu entendi agora. Eu não sou o seu Alex, criança. Mas eu vou encontrá-lo pra você. Eu prometo que vão ficar juntos novamente, como devia ser.

MULDER: - (VOZ EMBARGADA)Eu já o encontrei, Rato... Alexander Stevens, segurança do hospital... Vem comigo, precisamos sair daqui. Agora!



BLOCO 4:

Saguão de entrada - 9:49 P.M.

Mulder entrega um copo de água pra Krycek, que segura o copo tremendo, sentado no sofá da recepção. Mulder se agacha na frente de Krycek. Frohike está bem longe deles, observando os dois.

MULDER: - Você escapou por um fio de sofrer uma amputação novamente. E dessa vez não teria Strughold pra fazer "milagre".

KRYCEK: - (OLHOS VERMELHOS/ NERVOSO) ... A-acha que... Mas como uma coisa que não está mais respirando pode agir contra alguém vivo?

MULDER: - Eu não sei ao certo. Tenho apenas teorias que levaria horas que não temos para explicar.

FROHIKE: - Por que eu tenho que ficar longe de vocês dois? Atrapalho alguma coisa nessa relação? Querem que eu saia, pra ficarem mais à vontade?

Mulder leva a mão à testa de Krycek, que se afasta, irritado.

KRYCEK: - Eu tô bem! Para de bancar minha mãe!

MULDER: -É, não está com febre. Krycek, olha pra mim.

Krycek olha pra ele. Mulder gesticula.

MULDER: - Nos meus olhos. Olha pra mim.

KRYCEK: - Tô olhando.

MULDER: - É, saiu do choque.

Mulder se levanta, nervoso.

MULDER: - Krycek, quero que tire a camisa.

KRYCEK: - (IRRITADO) O que foi, "amorzinho"? Vai ficar me zoando agora? Isso não é hora pra piadas...

MULDER: - Isso não é piada! Você pode ter sido infectado com a peste negra!

Krycek arregala os olhos. Frohike se afasta mais deles.

KRYCEK: - Quê? Mulder, você tá maluco?

MULDER: - Quer me escutar? Tira a droga da camisa!

Krycek se levanta e tira a camisa. Frohike acena negativamente com a cabeça.

MULDER: - Levanta os braços...

Krycek faz. Mulder o examina.

MULDER: - Não vejo manchas ou gânglios inchados... Talvez o tempo de incubação ainda não tenha chegado a ponto dos sintomas aparecerem...

FROHIKE: - Mulder, de onde tirou essa ideia? Nem ratos eu achei nesse lugar, com exceção desse rato aí! E ele não me parece transmitir peste alguma!

KRYCEK: - (IRÔNICO) É, eu sou um rato bem limpinho e cheirosinho. E não tenho pulgas.

Mulder, num deboche, vem por trás e aproxima o nariz do cangote de Krycek, que se afasta, olhando irritado.

KRYCEK: - Sai fora, Mulder! Vai cheirar sua avó com esse narigão aí!

MULDER: - O fato de não haver ratos aqui me preocupa. Porque o primeiro sinal de um local infectado pela peste é a ausência deles. Os ratos são os primeiros a morrerem. Podemos todos estar infectados sem saber... Estende os braços, Krycek.

Krycek estende os braços, num suspiro de impaciência. Mulder analisa os braços dele e os vasos linfáticos debaixo do braço. Frohike cruza os braços e segura o riso.

FROHIKE: - Krycek, agora ele vai elogiar seus músculos másculos e viris... Mulder, fala sério, você tem um grave problema de bissexualidade reprimida! Aproveita que tá na moda e dá de uma vez e termina essa novela infinita! Se você gostar, eu cuido da Scully pra você.

KRYCEK: - (SORRINDO) Tá vendo? Depois eu que levo a fama! Ele fica sempre inventando desculpas pra passar a mão em mim. Vou prender você por assédio sexual a um policial!

MULDER: - Parem de me zoar vocês dois! A coisa é séria!

FROHIKE: - Ah é, esqueci! O dia de zoar é na sexta-feira, no boliche. Hoje não pode.

MULDER: - Tem uma picada aqui. Tá vendo? Lembra se injetaram algo em você?

KRYCEK: - Acho que alguma coisa pra me fazer apagar. Eu dormi horas. Mulder, eu não sei de onde tirou essa ideia maluca sobre a peste negra, mas se esse lugar estivesse infectado, os inquilinos já saberiam, não é mesmo?

MULDER: - Não. Porque se você foi contaminado lá embaixo e eu trouxe você aqui pra cima, todos que tiverem contato com a gente, a partir de agora poderão se contaminar.

Mulder caminha de um lado pra outro, pensativo. Krycek coloca a camisa e senta-se. Frohike se irrita e senta-se ao lado de Krycek.

FROHIKE: - Contaminado por contaminado... Continuando o assunto.A banda Procol Harum lançou A Whiter Shade of Pale em 1967... Então, desde os anos 60 eles estão lá? Não sabem que morreram?

MULDER: - Pelo que Krycek falou, não. Eles seguem a vida... Merda! Pinguinho falou isso pra mim, como não associei essas coisas? Aquela gente foi trancada lá embaixo e o desgraçado ateou fogo nelas! Umas cinquenta pessoas! Não há registro de incêndio na história desse lugar!

KRYCEK: - Por que nunca descobriram o porão abaixo do saguão?

MULDER: - Não. Porque omitiram isso. O Dr. Crow ou Vein, como queiram chamar esse filho da puta sádico, dirigiu esse hospício até as portas dele se fecharem nos anos 80. Chegamos com quase 30 anos de atraso pra salvar aquelas pessoas lá embaixo!

FROHIKE: - Só não entendi a coisa do bico de ave...

Mulder entra no corredor da administração.

FROHIKE: - Você interagiu mesmo com eles? Ouviu a tal Hollie chamar você?

KRYCEK: - Pensei que era eu quem ela chamava, mas era o noivo dela. Desci até lá, alguma coisa acertou minha cabeça e ela me salvou, fez por mim o que não pode fazer pelo noivo. Mulder tem razão, eu atendi o chamado dela e Hollie viu o que queria ver: o seu Alex. Pobrezinha, ela acreditava que estava viva. Todos acreditavam. E eles pareciam vivos... Tinha uma senhorinha pintando um quadro, crianças, mulheres, homens... Hollie... Ela era linda, parecia uma boneca, sabe? ... Era apenas uma jovem dos anos 60, cheia de sonhos e uma vida pele frente. Tinha planos com ele. Os dois iam se casar. Filhos e piquenique aos finais de semana... (ENCHE OS OLHOS DE LÁGRIMAS) Merda, cara! Só tem maldade nessa droga de mundo? Eu tô cansado disso tudo!Sempre tem um desgraçado filho da puta pra atrapalhar a felicidade das pessoas!

Frohike olha incrédulo pra Krycek.

FROHIKE: - Sem querer voltar ao passado, Krycek, mas voltando... Você já foi um desgraçado filho da puta desses.

KRYCEK: - (DERRUBANDO LÁGRIMAS) É, eu sei! Eu fui um enorme desgraçado filho da puta mesmo! Mas eu tô aqui chorando agora... E eu nem sei porquê eu tô tão sentimental! Eu só fico pensando que vou ter um filho, tenho a mulher que eu amo e aquela pobre enfermeira e o namorado dela não puderam ter isso! E ela ainda acha que pode ter, nem faz ideia de que está morta!

Mulder volta com uma folha impressa.

MULDER: -Frohike, não ligue pra ele. O Ratoestá grávido com os sentimentos aflorados, isso é perfeitamente normal... Aqui. O Dr. Crow ou Dr. Vein, ou simplesmente "O Doutor". O nosso "Bico de Ave".

Mulder mostra a figura impressa na folha. Um médico com roupas da peste: uma vara, chapéu, sobretudo negro, luvas e uma máscara com bico de ave. Krycek e Frohike arregalam os olhos.

MULDER: -Ele tinha um quadro desses na parede. Ele admirava a peste negra. Usava até as roupas que os médicos usavam na época, a cada vez que praticava o ritual de contaminação da sua cobaia. Os experimentos que ele fazia com os pacientes não eram psiquiátricos. Vein inoculava neles a bactériaYersinia pestis, responsável no século 14 por matar mais de 50 milhões de pessoas na Europa. E por que amputava suas cobaias? Eu só posso pensar que talvez esses pedaços de pessoas ainda vivas serviam como oferendas satânicas. Vein é o fantasma que aciona o alarme do porão. É o fantasma dele aqui dentro mantendo as almas presas e com medo! E querem saber o quê mais?

FROHIKE: -(INCRÉDULO) Ainda tem mais?

Mulder tira a moeda do bolso e mostra pra eles. Krycek arregala os olhos.

MULDER: - Acredito que Vein fazia isso para a Ordem dos Treze. Talvez fosse da Ordem. O que eles queriam com isso é o mistério. Mas eu encontrei o diário do canalha e vou ler aquilo até descobrir toda a verdade.

FROHIKE: - E o sapão eslavo?

KRYCEK: - Quem é sapão eslavo?

MULDER: - Osapão eslavo é outra coisa! Deve estar aqui desde que inauguraram esse hospício! Eu tô com mais raiva é do Doutor Crow! O Doutor Peste! Quero mandar esse desgraçado pro inferno depois de tudo o que ele causou!

Mulder olha pra Krycek.

MULDER: - (DEBOCHADO) Ô "bad boy" que virou "cry baby", nenhum celular funciona aqui dentro, baterias sugadas pelos espíritos. Pega aquele telefone e liga agora pra sua gata cubana porque ela vai acabar parindo o seu filho antes da hora se continuar preocupada com você.

Krycek se levanta e corre até o telefone. Mulder puxa o rádio.

MULDER: - (AO RÁDIO) Baba, na escuta?

BABA (OFF): - Fala, Mulder. Estamos no segundo andar ainda.

MULDER: - (AO RÁDIO)Estou com Krycek no saguão.

BABA (OFF): -Graças à Deus! Ele está bem?

MULDER: - (AO RÁDIO) Vivo e respirando. Vamos aguardar vocês duas. Sei quem é o Doutor. É um fantasma mesmo.

BABA (OFF): -Bom saber disso. Vai ser mais fácil chutar o traseiro dele pra fora daqui.

MULDER: - (AO RÁDIO) Mas temos outros problemas, preciso da Scully. Apressem-se.

Mulder guarda o rádio no bolso. Senta-se no sofá, colocando as mãos no rosto.

MULDER: - Espero que a Baba consiga fazer um exorcismo. Ou a coisa vai ficar feia.

FROHIKE: - Mulder, a Baba não precisa fazer isso. Nunca nos metemos nessas coisas, esqueceu? Você e Scully investigam, eu apoio com os rapazes na parte técnica da coisa e Baba guia os mortos pra luz. A parte do mal fica para o padre, feiticeiros e o que for necessário...

MULDER: - É, mas é um caso para o padre e ele está no Mississipi. E temos a sorte de ter conseguido um padre que é exorcista e não está mais na Igreja Católica, porque aí o pedido se arrastaria por meses ou anos, se fosse atendido!

FROHIKE: - Um pastor, pregador, alguém de outra religião?

MULDER: - Conhece alguém?

FROHIKE: - Bom, não frequento igrejas, admito...

Krycek senta-se ao lado deles.

KRYCEK: - Barbara está mais calma. Pobrezinha... E de novo, o cuidado dela me salvou.

Krycek tira o rosário do bolso e coloca no pescoço.

MULDER: - Minha filha disse que se eu tiver fé, eu coloco qualquer coisa pra correr. Scully tem fé, mas tem medo. Eu tenho coragem, mas não tenho fé.

FROHIKE: - Precisamos de alguém que tenha fé e tenha coragem...

Mulder e Frohike olham pra Krycek, num sorriso.

KRYCEK: - Que foi? Por que estão me olhando desse jeito?

MULDER: - Quer botar um sapo eslavo pra correr?

KRYCEK: - Mas que diabos de sapo eslavo é esse que vocês tanto falam?

MULDER: - Sabe alguma coisa sobre o Bukavac?

KRYCEK: - (ASSUSTADO) Como sabem dele?

MULDER: - Bom, o construtor do prédio, Boris Gniewko, um engenheiro esloveno, dedicou o lugar ao batráquio do inferno. E pelo jeito, ele gostou e não vai sair fácil daqui. Ou talvez tenha sido o Dr. Crow quem o invocou, já que era satanista... Agora já não sei de mais nada!

FROHIKE: - É a coisa que habita no porão e naquele elevador. Uma espécie de homem sapo, com seis pernas, chifres retorcidos...

Krycek fecha os olhos.

KRYCEK: - Da pomozhet nam Bog! (Que Deus nos ajude!)

MULDER: - Sabe como se livrar dessa coisa?

KRYCEK: - Você não pode se livrar dessa coisa, Mulder! Essa coisa se livra de você. Não existe nada na literatura eslava conhecida que o expulse. Os antigos o temiam e pediam proteção quando entravam em pântanos, banhados, lagoas... É o lugar dele.

Os três ficam cabisbaixos e desanimados.

MULDER: - Nunca pensei em dizer isso, mas como um padre faz falta! Se Donald Mallet tivesse continuado na profissão...

FROHIKE: - Byers disse que encontrou túmulos no pátio, com números de identificação. E que vamos ter muito trabalho para analisar todas as imagens. A câmera do porão capturou orbes e névoa saindo do poço. Pode haver restos humanos lá dentro. E também capturou a imagem do sapo demoníaco entrando e saindo do poço. Pelo menos parece que estava machucado.

Mulder olha pra Frohike.

MULDER: - O que você disse? Machucado?

FROHIKE: - É. Byers quem disse.

Mulder se levanta rapidamente e beija a cabeça de Frohike.

MULDER: - Eu te amo, Frohike!

Krycek olha irônico pra Mulder.

KRYCEK: - Ah, é assim, "amorzinho"? Já me trocou é?

MULDER: -(DEBOCHADO) É que eu gosto das baixinhas. Você é muito alto.

Frohike abaixa os óculos por sobre o nariz, encarando Mulder. Krycek segura o riso. Mulder sorri sacana e vai até o elevador.

MULDER: - Rato, quer tirar aquela gente de lá?

KRYCEK: - Mulder, eu não sou médium. O meu "portal" entre realidades se fechou. Passou o efeito da droga. Não sei se vou vê-los e interagir com eles novamente.

MULDER: - Vendo ou não, eles estão lá e eu tenho um plano. Você tem coragem e tem fé. Desce e os liberta daquela sala, trazendo todos aqui pra cima. Baba e Scully estão descendo e trazendo mais almas perdidas. Baba abre o portal e libertamos todos.

FROHIKE: - E o sapão? E o Doutor?

MULDER: - Deixa o sapão e o corvo comigo. Eles não conhecem o que a raposa, o rato e a loba podem fazer juntos.

FROHIKE: - E posso saber quem é a loba ou você tá me zoando antes do dia do boliche?

MULDER: - Mary Valentine Wolf, mais conhecida como Baba. E ela é quente, Frohike.

Mulder e Krycek vão para o elevador. Krycek pula para dentro. Mulder puxa a água benta do bolso.

MULDER: -Krycek, mantenha o rosário no pescoço. Traga eles o mais rápido possível e caia fora. Eu vou ficar aqui vigiando. E se vir o sapão, atira nele. Fuja do médico. Se não voltar em 15 minutos, vou atrás de você.

Mulder entrega o rádio pra ele. Krycek pula pra dentro do alçapão do elevador.

FROHIKE: - Mandou Krycek atirar no demônio e fugir do fantasma, Mulder? Você pirou?

MULDER: - Eu sei o que tô fazendo, Frohike. Confia em mim. Depois eu explico. Pega a minha mochila na sala de reuniões, dentro dela tem o diário do "Doutor". Traz ele pra mim o mais rápido que puder. E já traz a bolsa da Baba. Ela vai precisar do que tem lá.

Frohike sai correndo. Mulder observa o elevador.

MULDER: - Vem, desgraçado. Vem que eu tô prontinho pra você!


Corredor do térreo - Ala Médica - 10:36 P.M.

Baba desce as escadas chegando no corredor escuro. Scully atrás dela. A única luz está distante, vinda do saguão.

BABA: - Continuem seguindo a doutora. Quem quiser ter alta e sair daqui, por favor sigam a doutora até o saguão!

SCULLY: - (SEGURANDO O RISO) Estão todos curados! Já podem sair! Preciso que me encontrem no saguão!

Scully segue Baba. Para na frente da Sala 13. Baba continua. Scully mira a lanterna e olha para a sala de cirurgia.

Close da trêmula e transparente mão humana se aproximando e segurando a mão dela.

Scully arregala os olhos com medo, sentindo a mão segurando a mão dela. Scully respira fundo. Olhos em lágrimas. Sorri.

SCULLY: - Está seguro agora, Billy. Não precisa ter medo. Confie em mim. Ninguém nunca mais vai fazer mal pra você. Vem comigo.

Scully segue caminhando, de mão dada com algo que não enxergamos.


Porão do Saguão - 10:38 P.M.

Krycek abre a porta dupla da sala de recreação, segurando o sobretudo dele. Observa o lugar incendiado.

KRYCEK: - Enfermeira Hollie?

Nenhuma resposta. Krycek fica parado na porta.

KRYCEK: - Hollie, eu sei que você está aí com os outros. Pode me ouvir?

Ouvimos o choro de uma mulher, triste e angustiado.

KRYCEK: -(TRISTE) Hollie...

Krycek senta-se no chão, apoiando as costas na porta aberta.

KRYCEK: - Hollie, me escuta. Eu preciso falar com você.

A enfermeira Hollie sai da sala de música, entrando na sala de recreação, chorando aos prantos. O ambiente está intacto. Os pacientes olham pra ela.

CINDY: - Enfermeira... Acho que o Doutor pegou o Alex de novo.

ENFERMEIRA HOLLIE: - E ninguém viu nada?

Eles se entreolham e se dispersam. Cindy abaixa a cabeça, consternada. Hollie corre até a porta trancada, tentando abrir.

ENFERMEIRA HOLLIE: -(GRITA) Alex!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

KRYCEK: - (GRITA) Hollie!!!!!!!!

Eles não se escutam e não se veem. Realidades diferentes. Krycek tira a caneta e o bloco de anotações do bolso do sobretudo. Começa a escrever um bilhete.

Hollie, ao lado dele, tenta desesperadamente abrir a porta, que pra ela está fechada. Ela bate esmurrando a porta sucessiva vezes.

ENFERMEIRA HOLLIE: -(GRITA) Estamos aqui!!!! Alex!!!!

Krycek tira a folha de papel do bloco. Se agacha. Coloca a folha no chão e a empurra como se ela passasse por baixo da porta que está aberta.

[Som: Martin Grech - Open Heart Zoo]

Hollie olha para seus pés e vê a folha de papel passando por baixo da porta fechada. Pega o bilhete e começa a ler. Leva a mão aos lábios, enchendo os olhos de lágrimas, acenando negativamente com a cabeça e recuando em choque. Olha para os pacientes parados ali olhando curiosos pra ela.

Aos poucos, o mundo de Hollie vai sumindo, dando lugar às lembranças que ela trancou dentro de si. A fumaça toma conta do ambiente e as chamas. Os pacientes gritam, tossem, alguns tentam apagar as chamas inutilmente com as almofadas das poltronas. Os mais perturbados correm, se atirando contra as paredes e tentando abrir passagem. A senhorinha corre deixando o quadro cair, as tintas se espalham pelo chão, pegando fogo rapidamente. As crianças choram, Cindy as abraça e Vince chora batendo a cabeça na parede. Hollie vê ela mesma, passando por ela e tentando em desespero abrir a porta.


FLASH BACK:

1967 - Porão do Saguão

O alto e sisudo Dr. Vein, usando o sobretudo e o chapéu preto, sai da sua sala segurando uma lata de gasolina. Empurra lentamente a porta da sala de recreação. Alguns pacientes dançam sem música, outros assistem o seriado "A Noviça Voadora" na televisão. Hollie anda entre os pacientes, observando num sorriso o que eles fazem. Vince mostra uma folha de papel cheia de rabiscos feitos com giz de cera.

HOLLIE: - Nossa, Vince! Que coisa mais linda!

Vince sorri bobo e mostra o desenho pra todos, mesmo que ninguém olhe. Hollie passa a mão na cabeça dele, com carinho. Aproxima-se da senhorinha.

HOLLIE: - Pode ter perdido sua mão direita, senhora Clark. Mas a esquerda tem todo o talento.

SENHORINHA: - O Doutor disse que seria melhor cortar a minha mão. Não sei como fui pegar essa bactéria que ele falou e nem sei o que é isso, mas ele é médico, sabe das coisas e está aqui pra me curar desse esquecimento de velha. Eu vou terminar esse quadro e dar pra você. (PISCA O OLHO) Presente de casamento. Não conte para as outras enfermeiras, você é a minha favorita. Eu sempre disse que você é o nosso anjo da guarda, minha querida.

Hollie sorri. O Dr. Vein cerra o cenho com ódio e fecha a porta. Espalha gasolina por baixo da porta. Coloca a lata no chão. Tira um cadeado grosso do bolso do casaco e uma corrente. Tranca a porta por fora.

DR. VEIN: -(ÓDIO) Vagabunda curiosa. Não foi minha e não será de mais ninguém, menos ainda de um verme pobre e fedido como aquele segurança. Vai morrer antes de me delatar. Uma pena queimar uma carne tão linda e desejável. Escolha errada, minha jovem. Morra com ela.

Alex o agarra pelo braço. Usa o uniforme de segurança. Lembra um pouco Krycek quando jovem.

ALEX: - O que pensa que está fazendo, Dr. Vein?

DR. VEIN: -(ARROGANTE) Tire suas patas sujas de mim, serviçal. Seu analfabeto ignorante, escória da sociedade. Você e sua ralé não merecem beijar nem o chão que eu piso!

O Dr. Vein se livra dele, olhando-o com nojo e desprezo.

ALEX: - Você se acha melhor que todos por que tem um diploma de médico? Você não passa de um louco!Você é mais louco que todos os pacientes desse lugar! Eu sei o que faz aqui, Doutor. Está contaminando essas pessoas com a peste negra e tirando pedaços delas enquanto ainda estão vivas! Eu vejo suas saídas à noite, os pedaços humanos que coloca naquele poço, invocando o demônio! Você é o próprio demônio! Vende os bebês mais bonitos e sacrifica os outros que acha feios e indignos da vida! Se acha o juiz da evolução! Permite que as pacientes sejam estupradas aqui dentro e ainda tira os filhos dessas pobres mulheres! Você me dá nojo!

Alex o empurra com ódio. O Dr. Vein tira discretamente a seringa do bolso.

DR. VEIN: -E vai fazer o quê? Me denunciar? Pessoas importantes me devem favores. Eu limpo suas casas e suas ruas dessa escória de dementes, mendigos e inválidos, pessoas desprezíveis e inferiores que tiram a beleza de um mundo perfeito! Não são evoluídos e nunca serão! Servem apenas para cobaias e deveriam me agradecer por dar essa utilidade a elas!

ALEX: - (REVOLTADO) Eu vou denunciar sim! Alguém vai me dar ouvidos. Você enlouqueceu completamente, ia colocar fogo no prédio? Seu animal nazista, tem pessoas dentro daquela sala! Eu vou ligar pra polícia agora!

Alex dá as costas. O Dr. Vein acerta a seringa nele, injetando anestésico. Alex vira-se, segurando o médico pelos pulsos, com a seringa cravada no ombro. Os dois lutam algum tempo, mas Alex cai tonto. Tenta se levantar, as pernas não respondem. Com dificuldades, ele arranca a seringa.

DR. VEIN: -(SORRI) Quem acreditaria em vocês dois? É a palavra de um segurança e uma enfermeira contra a de um médico de prestígio na comunidade científica! Agora durma, Alex. Durma bastante porque o seu pesadelo nem começou. Você vai morrer lentamente, com muita dor. É uma promessa.

O Dr. Vein tira os fósforos do bolso e acende um, admirando a chama. Percebemos o anel em seu dedo, com o símbolo de um octagrama e um punhal.

ALEX: - (DESESPERADO/ SEM FORÇAS) Hollie...

O médico permanece com os olhos fixos na pequena chama.

DR. VEIN: - Eu administro esse lugar. Não há janelas nesta sala. Nenhum escape, exceto por essa porta corta-fogo. Quando as chamas consumirem tudo, elas se apagarão sozinhas. Ninguém nunca vai saber o que aconteceu aqui, porque você e sua enfermeira vadia abandonaram seus empregos e eu dei alta para todos aqueles pacientes. A sala de recreação estará fechada para sempre. Malucos não terão mais terapia de artes. É a minha decisão, minha ordem. Ninguém mais descerá aqui, apenas eu.

O Dr. Vein deixa o fósforo cair em frente a porta. O fogo não sobe pela porta de metal, mas corre por baixo da porta para dentro da sala de recreação. Alex observa as chamas, impotente e paralisado, derrubando lágrimas.

ALEX: - (MURMURA/ CHORANDO) Hollie, minha Hollie...

DR. VEIN: - Como é bela a morte pelo fogo. Há uma certa arte nisso, como uma bela ópera, em seus atos já pré-definidos pelo comportamento da mente. A pessoa sente o cheiro da fumaça, o cérebro responde ao sinal de perigo, liberando adrenalina e enviando sinais de pânico. Todo o sangue se concentra em partes vitais para uma fuga da situação, que nesse caso, não existe. A fumaça vai irritando as narinas e a garganta, tornando a respiração mais difícil. O calor aumenta até deixar o ar quente, que começa a arder e cozinhar os pulmões a cada inspiração. O corpo e o cérebro já dão sinais de exaustão, mesmo assim a pessoa não desistirá de buscar o ar, que é a vida, diante da morte, que é anunciada...

Alex perde a consciência.

DR. VEIN: -(SORRI) As células de defesa numa tentativa desesperada liberam enzimas, mas atacam as próprias células do pulmão, onde estão as substâncias tóxicas. A parede do alvéolo se rompe e onde deveria haver ar, agora há sangue. Não há mais oxigênio, a consciência é perdida e o indivíduo sucumbe finalmente para a morte. O calor aumenta mais e mais. As chamas consomem primeiramente a pele, que vai se descolando da carne, encolhendo pela desidratação intensa e se tornando escura. Depois consome a carne, veias e artérias ressecam, órgãos explodem e por fim, o fogo chega aos ossos, a única coisa que não pode destruir se a temperatura não chegar aos mil graus. Se chegar... Tudo o que restará de um adulto se resumirá a algo entre 1 ou 2 quilos de pó cinza e alguns farelos teimosos de minerais calcificados. Sheramforash!!!

O médico arrasta Alex pelos tornozelos para a sua sala.

Corta para:


Dentro da sala de recreação, a enfermeira Hollie começa a tossir. Então percebe o fogo que se espalha pelo piso, consumindo os móveis de madeira e iniciando a fumaça.

ENFERMEIRA HOLLIE: -(PÂNICO) Oh, meu Deus!

A enfermeira Hollie tenta abrir a porta. Não consegue. As chamas começam a se espalhar mais, fazendo as pessoas recuarem todas para um canto. A fumaça toma conta. As pessoas tossem. Hollie esmurra a porta.

CINDY: - Enfermeira nos ajude!!!

ENFERMEIRA HOLLIE: - (AOS GRITOS) Estou tentando!!! Fiquem longe das chamas!!!! Deitem-se no chão, tentem não respirar a fumaça!!!

Hollie dá com os ombros na porta. Sem sucesso. Ela força com as mãos e as retira rápido, porque a porta está quente.

ENFERMEIRA HOLLIE: - (AOS GRITOS/ DESESPERADA) Socorro!!!! Nos tirem daqui!!!

Hollie, num desespero, empurra a porta com as mãos, aguentando a dor. A porta não abre. Ela tira rapidamente as mãos, num grito, deixando a pele delas colada na porta quente. As chamas começam a tomar conta do lugar. Os pacientes desesperados sem ter pra onde correr. Alguns já caem intoxicados pela fumaça. Hollie corre para a sala de música. Pega o telefone ao lado da vitrola, sentindo dor na mão, ela se atrapalha e deixa seu quepe cair ao chão. Tenta discar e pedir ajuda. Então percebe que o fio do telefone foi cortado. A fumaça encobre o lugar.


TEMPO REAL:

[Som: Procol Harum - A Whiter Shade Of Pale]

A enfermeira Hollie abre os olhos, olhando para o bilhete em sua mão. Aperta o bilhete, mordendo os lábios rosados. Olha para os pacientes ali parados. Vê o lugar queimado, as cinzas e ossos. Cindy brinca com as crianças de pega-pega. Hollie derruba lágrimas, num sorriso triste.

ENFERMEIRA HOLLIE: - Queridos, acabou a recreação. Vamos dar um passeio? Quero todos atrás de mim. Sigam a enfermeira Hollie, ok? Não vamos nos perder. Quero que todos deem as mãos e me sigam. Ajudem quem não consegue entender, tá? Não soltem a mão do outro.

Vince se empolga, batendo palmas, agitado. Hollie olha para a porta fechada. Se aproxima com medo. Leva as mãos à porta e dessa vez, ela consegue abrir. Hollie abaixa a cabeça chorando. Então respira fundo, secando as lágrimas e colocando um sorriso no rosto. Cindy dá a mão pra ela. Hollie vira-se e vê todos os cinquenta de mãos dadas, esperando por ela. Ela sorri amável.

ENFERMEIRA HOLLIE: - Vamos, amores da Hollie. Vamos embora daqui.

Saguão de entrada - 11:02 P.M.

Baba e Scully saem da ala médica entrando no saguão. Mulder parado na porta do elevador, segurando a água benta e o diário. Frohike perto dele. Scully ao ver Mulder com água benta, esboça incredulidade.

MULDER: -Baba, sua bolsa tá no sofá. Me dá mais uns minutinhos, Krycek vai trazer os abandonados embaixo desse saguão. Tem mais de cinquenta almas. E o pior de tudo: esses não sabem que estão mortos.

Scully arregala os olhos.

BABA: -Eu nunca vi um lugar como esse tão cheio de almas confusas e perdidas! E espero nunca mais ver! O que essas pessoas fazem lá embaixo? Afinal, como encontrou Krycek e o que descobriu abaixo de nós? Outra ala? E Mulder, desde quando Krycek é médium?

MULDER: - Ele não é médium. O Rato acabou drogado, abriu as portas da percepção e acabou interagindo com os mortos. Conquistou uma enfermeira e acho que ela só acreditará nele. E os outros só acreditarão nela.

Scully e Baba se entreolham.

MULDER: - Krycek quase morreu, lembram? Ele esteve do outro lado. Deixa o Rato pensar que a droga afetou o juízo dele. Na verdade eu acredito que não foi a droga. Pessoas que passam pela experiência de quase morte, geralmente voltam com um dom paranormal (OLHA PRA SCULLY), mas é difícil convencê-las disso. Eu não quero assustar o Rato nesse momento. Quando terminarmos esse caso, vamos ter uma reunião com todos os envolvidos. Temos muita coisa pra conversar, a história é longa e a polícia vai ter que entrar nisso. Precisamos juntar os fatos todos pra fazer um bom relatório e entregar para o Dr. Zimmer. Aposto que o velho vai ficar mais pálido do que já é.

BABA: - Eu disse que me sentia confusa nesse saguão, agora entendo o porquê! Eu falei que sentia gente morta e gente viva... Claro! Eles achavam que estavam vivos! Quem foi o morto que senti? Alguém entre eles sabe que está morto. Só não sei se permanece nesse lugar por medo ou se tem algo aqui que o prende.

MULDER: -É o Alex, um dos seguranças e também noivo da enfermeira. Deve estar preso aqui tentando encontrá-la desesperadamente, sem descanso. Como ela também quer encontrá-lo, mas acha que ele virá salvá-la, afinal ela está "viva". Por isso as almas deles nunca se encontram.

Scully começa a ficar visivelmente afetada e tenta disfarçar a angústia.

BABA: - Espera... Então ela confundiu Krycek com o Alex dela? Foi ela quem o pegou?

MULDER: - Não, Krycek ouviu a voz dela pedindo ajuda e desceu pra armadilha do Dr. Crow. O Doutor deve ter achado que Alex voltou pra entregar a sujeira dele. Scully, temos um problema médico aqui. O Dr. Vein é o Doutor Crow. Ele fazia experiências lá embaixo, com os pacientes, injetando neles a bactéria da peste negra. Talvez tenha injetado em Krycek. Podemos estar contaminados. O desgraçado era fascinado pela peste negra e ainda era satanista da Ordem.

SCULLY: - Deus! Por isso o bico de ave! Os médicos da peste tinham uma indumentária sinistra que os cobriam dos pés à cabeça e carregavam uma vara na mão, para afastar os infectados. Usavam uma máscara com um bico semelhante ao de um pássaro. Estas máscaras eram assim por um equívoco deles sobre a origem da doença. Dentro do longo bico eles colocavam um composto com mais de 55 ervas aromáticas e outros componentes. Eles acreditavam que as ervas filtravam o ar, assim teriam tempo suficiente para o ar ser absorvido pelas ervas antes de chegar às narinas e pulmões. Pensavam que assim não seriam infectados.

BABA: -Scully me faz um favor? Diz pra eles ficarem aí. Estão nervosos. Billy até soltou a sua mão.

Scully arregala os olhos.

SCULLY: - Por favor, fiquem atrás de mim. Estamos decidindo algumas coisas aqui. Tenham paciência que a doutora logo vai atendê-los.

Mulder morde os lábios, olhando com ternura pra Scully.

BABA: - Então podemos estar infectados? Mas essa coisa não havia sido extinta?

SCULLY: - Por incrível que pareça não. Ainda existe a peste. Logicamente em locais com baixo índices de higiene e saneamento, com muitos ratos. A culpa não é dos ratos, é das pulgas deles. Elas carregam a bactéria, contaminam o rato e este passa a doença para o ser humano. Mas a Yersinia Pestis é um bacilo Gram negativo. O bacilo não sobrevive a luz solar ou em temperaturas acima de 40 graus Celsius.

MULDER: - O que não é o caso daquele porão úmido, frio e escuro. Mas a especialista aqui é você.

SCULLY: - Mulder, eu não sou especialista. Não acredito que a bactéria possa ter sobrevivido aqui por tantas décadas, mas se tratando de uma peste mortal, eu não vou descartar a hipótese porque não sabemos que tipo de experiências com a bactéria o Dr. Crow fazia. O tempo de incubação varia muito, os sintomas podem aparecer entre um e sete dias. Existem duas variações,a bubônica e a pneumônica. A bubônica se manifesta nos linfonodos criando bulbos ou inchaços e a outra nos pulmões, a forma mais grave da doença, que se não tratada pode terminar em peste septicêmica espalhando a infecção pelo corpo todo e a morte rápida.

MULDER: - Vai chamar o Centro de Controle de Doenças? Coloque o governo nisso e se aquela bactéria estiver viva e mutada, sabe bem o prato cheio que será pra eles!

SCULLY: - Não, mas ligarei pra um amigo de confiança, um especialista no hospital universitário e seremos removidos com segurança daqui e faremos exames.

Baba vai até a bolsa. Scully fica parada de costas pra entrada da ala médica. Baba retira água benta, um isqueiro e um chumaço de sálvia. Scully observa, com ceticismo. Baba olha pra ela.

Vemos pelos olhos de Baba as mais de 30 pessoas transparentes atrás de Scully. Billy pertinho dela. Billy tem uma bandagem na cabeça, ainda suja de sangue, vestido num avental de hospital.

BABA: - Scully, você confia em mim? Acho que confia, porque cuidei da sua filha como se fosse minha. Então preste atenção. Quero que seja firme e quando eu disser para eles irem, quero que mande eles saírem pela porta como se fosse a doutora deles dando a alta tão esperada.

SCULLY: - (À CONTRAGOSTO) Tá.

Mulder olha apaixonado pra Scully. Depois volta a atenção para o elevador. Krycek vem saindo. Mulder o ajuda. Krycek veste o sobretudo.

KRYCEK: - Espero que Hollie tenha acreditado em mim.

Baba olha pra Krycek.

BABA: - Não sei ela, mas o jovem atrás de você acreditou. Lamento, mas ele é mais jovem e mais bonito que você. Não vai ter chances contra o noivo dela.

MULDER - (SORRI) Ele tá aqui? Seguiu o Rato?

BABA: - Seguiu.

KRYCEK: - Vamos esperar mais um pouco. Ela vai vir, eu sei que virá. Hollie ama demais seus pacientes, ela vai querer trazer todos com ela.

As correntes do elevador começam a se mexer. Baba se desespera.

BABA: - Ah não, não agora!!! Mulder, não posso mais esperar. Scully me escuta! Precisa passar confiança pra eles, ok? Você é a médica deles! Os proteja! Imponha-se pra esse demônio que vai tentar assustá-los para que eles se dispersem e nunca saiam daqui.

SCULLY: - (ANGUSTIADA) Mas o que eu faço?

Mulder entrega a água benta pra Frohike.

MULDER: - Você está num hospital defendendo seus pacientes de um colega louco que acha que é o dono deles e deseja matá-los.

Baba olha incrédula pra Mulder.

BABA: - Não estou falando do Dr. Crow, estou falando do sapão!

Mulder puxa a arma.

MULDER: - Krycek pega sua arma. Se o Bukavac descer, atire pra assustar, não o mate. Se um médico louco subir... (ERGUE O DIÁRIO) Eu vou entregar isso pra polícia agora!

Krycek puxa a arma, mirando dentro do elevador.

MULDER: - Eu sei que está aí, Dr. Vein! Sugiro que deixe a enfermeira passar com os pacientes. Afaste-se deles agora, entendeu? Ou vou expor seus segredos sujos! E a Ordem não vai gostar disso!

BABA: - Scully, se imponha agora! Eles estão com medo e recuando!

SCULLY: -(SÉRIA/ IRRITADA) Eu sou a médica deles agora, Dr. Vein! Você está proibido de tocar nos meus pacientes! Fique longe deles! E vocês fiquem atrás de mim, não saiam daqui até eu mandar saírem! Eu vou proteger vocês! Ele não pode fazer nada, não tem autoridade mais nesse hospital!

Mulder tira a moeda do bolso e joga no fosso do elevador. Baba e Scully nada entendem.

MULDER: - Não terá outro aviso. Esse é o último! Entendeu? Sabe o que essa moeda significa!

Mulder olha pra Baba.

MULDER: - Vai Baba, diga para o Alex chamar a enfermeira agora.

BABA: - Alex, está me ouvindo? Sua garota precisa de você agora! Ajude-a a subir com os outros! O Dr. Crow não pode mais causar mal algum à vocês!

Baba se aproxima da porta de entrada. Acende o chumaço de sálvia e espalha a fumaça ao redor dos batentes, fazendo o contorno de uma porta, enquanto recita preces.

BABA: - Miguel, príncipe dos anjos, nos proteja de todos os demônios e almas vis que aqui habitam. Gabriel, anunciador e coletor das almas perdidas, resgate estas almas abandonadas. Rafael, a vontade de Deus, acolha este peregrinos em seu caminho de volta. Uriel, ouvidos do Senhor, dê-lhes o lugar devido de descanso na misericórdia de Deus.

Scully observa, curiosa.

BABA: -Aos quatro arcanjos que protegem os quatro cantos, diante da humildade dessa serva de Deus, abra-se a passagem desse mundo para o mundo das almas!

Frohike olha curioso para a porta. Cochicha com Mulder.

FROHIKE: - Não estou vendo nada. Isso funciona?

MULDER: - Deve funcionar. Também nunca vejo nada e os clientes não voltam pra reclamar!

Scully abaixa a cabeça, segurando um riso de incredulidade. Então percebe que o ambiente ficou mais iluminado, como um dia de sol. Scully ergue a cabeça e vê Billy lhe sorrindo. Scully arregala os olhos, dando um passo pra trás. Vira-se e vê todos os pacientes agradecendo e sorrindo pra ela.

BABA: - Scully, manda eles pra luz!

Scully está tão perplexa que não atina nada. Mulder olha pra ela, sem entender. Scully olha para a porta aberta, levando o braço aos olhos, tamanha a luz forte que emana.

BABA: - Scully!!!! Agora!!! Manda eles saírem!!! A luz!!!

Scully cai em si. Vira o rosto e aponta para a porta.

SCULLY: - Todos podem sair agora!!! Quero todos saindo, tem um dia de sol maravilhoso lá fora!!! Estão curados e livres!!!

Eles vão aos poucos entrando na luz. Billy acena pra ela. Scully enche os olhos de lágrimas, acenando pra ele num adeus. Percebe o garotinho com um chapéu de cowboy que corre em direção da luz dando adeus pra ela. O velhote, que passa e olha com vergonha, abaixando a cabeça. Scully segura o riso. Betty Snider, uma jovem negra e bela, que leva as mãos ao coração agradecendo.

Krycek abaixa a arma. Mulder e Frohike trocam olhares sem entender e ver nada. Mulder volta a atenção para o elevador.

Baba enche os olhos de lágrimas. Olha para o elevador. Hollie de mão dada com Alex, os cinquenta abandonados atrás deles. Hollie para na frente de Krycek, olhando pra ele com ternura. Solta o noivo e aproxima-se, dando um beijo afetuoso no rosto de Krycek.

ENFERMEIRA HOLLIE: - (SORRI) Obrigada.

Krycek sorri de volta, tímido. Baba arregala os olhos. Hollie dá a mão pra Alex, os dois se olham num sorriso de felicidade e entram na luz. Os outros os seguem. Scully observa num sorriso, admirada e impressionada com tudo o que vê.

BABA: - Ficou alguém pra trás?

As correntes balançam. Mulder e Krycek miram as armas. Baba corre até a porta.

MULDER: - Fecha o portal!!!! Krycek, pegue o Frohike e a Scully e vão pra sala do Wade. Agora!!!

Krycek faz sinal pra Scully e Frohike o seguirem. Eles vão pra ala administrativa. Scully ameaça voltar, mas Krycek a puxa firme pelo braço. Baba pega a água benta. Faz uma cruz no chão.

BABA: - Daqui você não passa!!!!

Baba começa a fechar o portal, passando fumaça de sálvia nos batentes da porta, em sentido contrário e orando baixinho alguma coisa. Mulder mantém a mira no elevador.

A moeda de ouro salta de dentro do elevador, tilintando no chão, aos pés de Mulder. Mulder guarda a arma no coldre.

BABA: - Isso é demônio. Bukavac?

MULDER: - Dr. Crow. Entendeu agora?

Baba arregala os olhos. Mulder se afasta de costas, sem desgrudar os olhos do elevador. Um vento quente e forte passa por ele, fazendo os cabelos dele voarem. Mulder vira o rosto.

MULDER: - (GRITA) Baba!!!!

Baba corre até Mulder. Faz um círculo com água benta ao redor deles. O vento cessa.

BABA: - Estamos ferrados! Por que não me disse antes que o Doutor era o demônio?

MULDER: - Você disse que tinha um demônio no porão. Eu aindatinha dúvidas sobre qual deles era um demônio. Agora não tenho mais. É o Vein. Sabemos que o conceito de demônio é espírito do mau. E estes podem ser humanos ou angelicais. Nesse caso, é humano. Não é um anjo caído que está aqui, mas um humano que em vida servia a eles. Também errei feio. Achei que tinha um parente do Moedinha nesse lugar, mas era apenas um fã devotado dele!

BABA: - Mulder, se fosse apenas um fantasma maligno, como o "Derruba Macas" lá em cima, eu colocaria pra correr. Mas é um demônio! Entende a diferença da força da maldade nessa alma? Entende que esse homem um dia vendeu sua alma às trevas? Acha que ele anda na companhia do quê? Viu o poder que ele tem? Certamente ao sentir-se acuado, vai buscar ajuda porque conhece aonde está a ajuda do outro lado! Ou desse, já que você e eu sabemos que essas coisas transitam entre dimensões que sequer conhecemos! Você mesmo já foi buscar Scully em uma delas! E eu pude abrir o portal pra trazer vocês de volta? Não! Endereço desconhecido pra mim!

Mulder está indignado, andando de um lado pra outro, levando os cabelos pra trás com a mão.

BABA: - Tudo o que posso fazer para afastar espíritos malignos é rezar e espalhar sálvia pelo ambiente. O cheiro da sálvia os afasta temporariamente, e não me pergunta porquê, só sei que funciona com todo o tipo de demônio. Mas tirá-lo daqui, eu não consigo. É melhor recuarmos e deixar o padre fazer isso. O padre vai expulsar todos os malignos daqui.

MULDER: - Droga, eu não vou perder pra esse filho da...

BABA: - Mulder, me escuta! Precisa saber quando desistir, ok? Não temos como vencer essa briga. O melhor a fazer é recuar. Estão presos e sozinhos aqui. Não podem mais se esconderem atrás dos espíritos que se foram ou se alimentar do medo deles.

Mulder fica frustrado. Baba passa a mão nas costas dele, o confortando.

BABA: - Vamos pra casa Mulder. O padre vem amanhã e limpará o lugar.

Baba respira fundo e solta os ombros. Caminha em direção ao sofá. Pega a bolsa.

BABA: - Esse foi o pior caso que arrumamos. Estou esgotada, sem energia alguma. Imagina que tentaria um exorcismo? Além de não ser exorcista, ainda estou cansada. Não teríamos chances.

Mulder observa o elevador. Olha pra Baba. Olha para o elevador.

BABA: - Mulder... Por favor. Não seja idiota. Você não pode com ele. Eu não posso com ele! As coisas com as quais ele anda, são espíritos acima da nossa inteligência, não temos chance alguma! Você não pode chegar como se ainda fosse um agente do FBI e dar um carteiraço no Doutor. Vamos atrás do Bukavac, depois damos o fora daqui. Amanhã voltaremos com o padre e o senhor Zimmer terá seu prédio limpo e finalmente poderá dizer que é só dele...

Mulder se atira no sofá, olhando para o elevador. Baba vai pra ala administrativa. Mulder continua olhando o elevador.

MULDER: -(INDIGNADO) Não é justo. Não é justo mesmo!

Mulder se levantae vai até a frente do elevador. Pega a moeda no chão. Volta pro sofá. Senta-se, brincando com a moeda nas mãos.

MULDER: - (INDIGNADO) Não posso dar um carteiraço nele... Satanista desgraçado que anda com "espíritos acima da nossa inteligência"... Ahn! Só porque o DNA angelical é mais alto na cadeia evolutiva e fazem coisas que eu não posso fazer? Sempre terminam nos ganhando no medo. Sejam os cinzas, os anjos ou qualquer outra raça! No fim das contas, eu também tenho genes da espécie anjo, somos parentes, e parentes deviam fazer favores...

Mulder abre um sorriso sacana. Se levanta e vai até o telefone. Disca um número e aguarda.

MULDER: - (AO TELEFONE) ... Eu gostaria de falar com o senhor Alberthi, por favor. Diga que é sobre a Ordem dos Treze. (DEBOCHADO) Sim, é importante e ele me conhece, somos parentes. Distantes, mas somos...

Um grito infernal ecoa no lugar. Mulder arregala os olhos. Baba volta correndo pro saguão.

BABA: - O que você fez?

MULDER: - Nada. Só estou ligando pra um parente distante...

A porta da frente se abre num supetão. Os dois olham assustados. Fumaças negras surgem de todos os lugares saindo pela porta rapidamente e fechando a porta atrás de si. Mulder desliga o telefone, incrédulo. Baba olha para o ambiente.

BABA: - Consegue sentir? Está leve... O que havia aqui foi embora.

Baba coloca as mãos na cintura.

BABA: - Mulder, fala sério! O que você fez? Como fez isso? Virou exorcista de repente?

MULDER: - (SORRI) Acho que tenho os contatos certos na minha agenda. Apenas isso... Bem que a minha filha disse que eu devia ter mais fé... Mas você estava errada, Oda Mae. O carteiraço funciona no mundo espiritual também.

Mulder sorri debochado pra ela enquanto vai pra ala administrativa. Baba fica sem entender nada.


Porão da Ala Médica - 1:26 A.M.

Krycek, Mulder e Frohike olham pra dentro do poço.

MULDER: - Tem certeza de que ele está aí dentro?

Frohike puxa o rádio.

FROHIKE: - (AO RÁDIO) Byers, na escuta?

LANGLY (OFF): - Foi tirar água do joelho. Serve eu?

FROHIKE: - (AO RÁDIO) Tem certeza absoluta de que essa coisa não saiu do poço?

LANGLY (OFF): -Absoluta. Byers e eu não descolamos os olhos desses monitores. Entrou aí e ficou. Está ferido.

Frohike guarda o rádio.

FROHIKE: - Eu disse que era um criptídeo. Eu falei! Essa teoria foi minha! Me deem o crédito!

MULDER: - Ok, Frohike. Você estava certo na sua teoria. O Bukavac é um criptídeo como o Chupacabras, o Rougarou e o Pé-Grande. E agora, nós temos a prova da existência de criptídeos. Quero ver a ciência explicar isso! E quando eu capturar o Pé-Grande e aquele Yeti lá na Rússia...

KRYCEK: -Não olha pra mim, eu não vou até aquelas montanhas siberianas com você, nem ferrando!

Mulder coloca o braço em Krycek.

MULDER: - (DEBOCHADO) Pensa bem, "amorzinho"...

KRYCEK: - (SEGURANDO O RISO) Hum, fala "amorzinho".

MULDER: - Montanhas geladas, neve, temperaturas abaixo de zero, muita vodka, você e eu, uma fogueira, um saco de dormir...

KRYCEK: - Mulder, a última coisa desse mundo que eu desejaria é procurar um Yeti com você. Da última vez que você fez isso, Scully terminou se ferrando e ainda se ferra até hoje! Tô fora!

Eles riem.

KRYCEK: - E de pensar que muitas gerações eslavas temiam essa criatura por acharem que era um demônio. Como essa coisa veio parar aqui do outro lado do mundo?

MULDER: - Talvez nunca saberemos, mas o primeiro criptídeo a gente nunca esquece.

FROHIKE: - Ok, espertinho. E como vai tirá-lo desse poço? Acha que vai capturá-lo?

KRYCEK: - A pergunta deveria ser: o que vai fazer com ele?

MULDER: - (DEBOCHADO) Sempre tem lugar pra mais um bichinho de estimação em casa.

KRYCEK: - Certo. E a Scully vai adorar o novo membro da família? Vai criá-lo na piscina, afinal é um sapo...

MULDER: -Vou treiná-lo para atacar vizinhas fofoqueiras e o carteiro quando vier trazer boletos... Sério. Não sei o que fazer. Ele não é um animal e nem um homem. É uma espécie desconhecida ainda. Mas sangra, sente dor e é inteligente. Penso que atacou a Baba porque sentiu-se ameaçado, o poço é a sua toca. Então fugiu para o elevador, aonde provavelmente se machucou e voltou pro seu ninho. Em nenhum momento ele nos atacou. Nós é que estávamos atrás dele, querendo atacá-lo.

FROHIKE: - O governo vai saber e tomar essa coisa de você, Mulder. Vão fazer estudos com ele. Mais um sapo dissecado em aulas de anatomia.

MULDER: - A verdade é uma merda, rapazes. Você corre atrás dela, e quando acha as provas... Não sabe o que fazer com elas. O mundo realmente não está pronto pra verdade.

Scully e Baba descem as escadas. Mulder espia pra dentro do poço, com receio.

MULDER: - Bem... Só há uma maneira de descobrir.

Mulder pega a corda.

SCULLY: - Não! Eu não acredito que você pensa em entrar nesse poço, Fox Mulder!

FROHIKE: -Isso nunca é bom sinal. Quando sua mãe ou sua esposa chamam você pelo nome completo...

KRYCEK: - Vem bomba...

MULDER: - Eu não vou entrar nesse poço! O Krycek é o mais indicado.

KRYCEK: - Eu???? Pirou? Eu nada! Entra você que eu já me ferrei demais nessa história. Agora é a sua vez, "amorzinho".

Mulder olha pra Frohike.

FROHIKE: - Nem pela nossa velha amizade. E eu tô fora de forma, sabe? Vocês dois vão ter mais trabalho pra segurar a corda.

Mulder olha pra dentro do poço, com medo.

SCULLY: - Ah, criou juízo! Tá com medo!

MULDER: - Eu não tô com medo, mulher! Eu não tenho medo de poço escuro, frio e fundo com uma criatura desconhecida dentro. É que eu sou pesado...

KRYCEK: - Sei... Afrouxou.

MULDER: - Quem afrouxou aqui foram vocês dois, seus frescos. (DEBOCHADO) Eu não tenho medo de encarar buracos escuros e úmidos.

Mulder coloca a corda na cintura e se amarra. Scully põe a mão na testa, indignada.

MULDER: - Bando de viadinhos medrosos! Vocês dois me dão nojo! Péssimos amigos... Não tem homem nesse lugar. O único macho aqui sou eu!

KRYCEK: - Prefiro ser um viadinho vivo que um macho morto. Tenho uma esposa e um filho e eles precisam de mim. Chega de vida louca. Isso aí é insanidade, Mulder.

SCULLY: - Pelo menos alguém aqui tem juízo! Você não vai entrar aí, Mulder. Vamos embora, deixa o resto pra polícia resolver!

MULDER: - A polícia? E o que eles vão fazer quando virem essa criatura? Entregar para o governo? E a polícia já está representada aqui, pelo rato frouxo da corporação.

Krycek cruza os braços e olha debochado pra Mulder.

SCULLY: - E o que você vai fazer? Hum? Levá-lo pra casa?

MULDER: - (DEBOCHADO) Admita, Scully. Você gosta de sapos. Eles já choveram na sua cabeça e pode chamá-lo de Jeremy e cantar pra ele todos os dias aquela música do Creedence que você tanto adora!

SCULLY: - Mulder, por favor! Já liguei para o meu amigo na universidade, em meia hora estarão aqui para verificarem a sala do Dr. Vein e nos levarem para exames! Vamos pegar nossas coisas e aguardar lá em cima e...

MULDER: - Os dois boiolas aí podem segurar a corda? Eu vou descer.

BABA: - Quanto mais velho, menos juízo tem esse judeu marrento!

SCULLY: - Depois não sabe a quem o Bryan puxou, teimoso feito mula empacada! Mas aquele lá eu ainda posso mudar rapidinho, antes que se torne a versão loura do idiota do pai dele!

Scully solta o ar das narinas com raiva. Se aproxima de Krycek.

SCULLY: - Alex, estou preocupada com você. Acho melhor fazer um exame rápido. Pode tirar a camisa pra mim, hum? Não tenha vergonha, já conheço bem o que vou ver. E depois, eu sou médica.

Mulder arregala os olhos. Krycek segura o riso, entrando no jogo de provocação.

KRYCEK: - Pra você? Claro, Scully! Sem problemas. Só a camisa?

Mulder abre a boca, incrédulo. Krycek começa a abrir a camisa. Mulder olha irritado pros dois. Baba e Frohike seguram o riso. Krycek tira a camisa. Scully pega o braço dele, sente as axilas, procurando algum inchaço.

SCULLY: - Hum... Anda malhando, "Alex"? Músculos rijos...

MULDER: - Depois de velho quer virar garoto!

Baba olha incrédula pra Mulder. Abre a boca pra falar, mas desiste.

KRYCEK: - Não muito. Apenas pra manter a forma. Policial, você sabe. Quando quiser, tenho uma academia em casa.

Mulder fuzila Krycek com os olhos. Scully leva as mãos ao pescoço de Krycek, procurando nódulos. Baba se vira pra rir.

FROHIKE: - (DEBOCHADO)Scully, estou me sentindo mal. Quer me examinar também?

MULDER: - (INCRÉDULO) Até tu, Brutus?

SCULLY: - É, não vejo nenhum inchaço aqui. Hum... Perfumado?

KRYCEK: - Eu sou um rato limpinho e cheirosinho.

MULDER: - (ENCIUMADO) Podem parar os dois! Eu vou atirar rapidinho no cheirosinho aí se vir inchaço nas calças dele!

SCULLY: - (DEBOCHADA) É, a bactéria também pode inchar a virilha...

MULDER: - Checa a virilha dele agora e atiro os dois dentro de poço! Resolvo rapidinho o problema!

Scully coloca as mãos na cintura e encara Mulder.

SCULLY: - Vai descer mesmo dentro desse poço, Mulder? Ótimo! Vou receber um seguro de vida muito bom. Quer gastar comigo, "Alex"?

MULDER: - (EMBURRADO) Vou descer sim! Eu quero ver o que tem aqui dentro! E se eu morrer, vou assombrar vocês dois pro resto da vida! Os dois, ouviram?

BABA: -Vai descer ou quer um empurrãozinho?

MULDER: - Três! E acredite, Oda Mae, não vou cantar a música do elefantinho pra você não!

Mulder senta-se na beira do poço. Coloca a lanterna de cabeça. Olha pra dentro.

KRYCEK: -(NERVOSO) Mulder, sem brincadeira. Isso é loucura!

MULDER: - Estou num sanatório e sou louco. Segura a corda, já que tem músculos rijos, "amorzinho".

Mulder enfia o corpo pra dentro do poço, segurando-se na beirada. Frohike e Krycek seguram a corda.

FROHIKE: - Vai falando enquanto desce, assim sabemos que está bem. Tá com o rádio, por via das dúvidas?

MULDER: - Tô.

KRYCEK: - E tá com a arma?

MULDER: - Claro! Acha que sou tonto?

BABA: - Acaba de admitir que é louco, vamos pensar o quê?

Mulder entra no poço. Eles vão descendo Mulder pela corda. Scully puxa a arma e a lanterna e se aproxima do poço, irritada.

SCULLY: -Mulder, eu juro pra você que se sair vivo e inteiro desse poço, quando chegar em casa você me paga!

MULDER: - Para de gritar, mulher! Vai dar eco aqui dentro!

SCULLY: - Tomara que o eco responda de novo!

MULDER: - Não vai responder, os fantasmas todos foram embora.

KRYCEK: - É muito fundo?

MULDER: - Acho que sim, não vejo nada. É muito escuro. E fede! Que cheiro horrível aqui dentro!

SCULLY: - (DEBOCHADA) O que esperava? Tem caca de sapo aí dentro!

MULDER: - Scully, você anda insuportável, sabia? Tá com TPM?

SCULLY: - Não. A falta de sexo faz isso, Mulder. Acho que ando com histeria. Meu homem prefere passar o dia procurando encrenca e outros buracos. Fedidos ainda por cima! Resolveu trocar perereca por sapo.

Baba solta uma gargalhada. Eles não se aguentam e riem. Scully olha debochada pra dentro do poço.

MULDER: - Você vai ver, mulher! Maculando minha imagem na frente dos meus amigos! Não quero mais você com a Ellen e a Barbara, tá ouvindo? Você tá ficando boca suja igual a elas!

SCULLY: - Que imagem? Que boca suja? Deixa minhas amigas em paz! E não viu nada ainda, eu disse pra não entrar nesse poço! Me aguarda!

MULDER: - Tem um buraco na parede... Acho que é um túnel.

Scully revira os olhos.

SCULLY: - Deixa o túnel pro rato do Krycek, Mulder! Sai daí, por favor!

MULDER: - E tá cheio de parentes seus aqui, Krycek! Enormes e gordinhos!

Baba se afasta do poço.

BABA: - Se sair um rato daí eu berro! Tenho pavor de ratos! Menos do Krycek, claro.

KRYCEK: - Vou ter que mudar meu sobrenome. A fama da família não colabora muito com a minha imagem.

MULDER: - Tem ratos mortos na entrada do túnel e... Alguns devorados parcialmente. Será que sapo come rato?

Scully fica mais nervosa.

SCULLY: - Mulder, volta pra cá, agora! Já viu o que queria! Anda, Mulder!!!!

KRYCEK: - É, Mulder, chega! A corda tá acabando e você fugiu da dieta!

MULDER: - Espera, só mais um pouco, já passei do túnel. Pelo cheiro deve dar num esgoto. Ou no Potomak.

BABA: - É mais lógico que esse túnel saia no rio, Mulder. Pela idade desse poço, é bem antigo e eles não tinham essa coisa de cuidados com a água. O poço servia pra ter água mais perto de casa. Caso secasse, o rio abastecia.

MULDER: - O cheiro aumenta mais conforme eu desço... Não vejo sinal do sapão eslavo... Nem do fundo. Nem água... Espera, tem alguma coisa aqui. Tô vendo alguma coisa no fundo...

Scully amolece as pernas, em nervos. Baba percebe e segura o braço de Scully.

BABA: - Calma, Scully... Mulder, sua mulher vai desmaiar aqui em cima! Volta agora! Ou vai apanhar de mim também!

KRYCEK: - (IRRITADO)Eu vou puxar você, Mulder! Quem quer bater em você sou eu! Anda!

MULDER: - ...

BABA: - Mulder?

MULDER: -Me puxem agora!!!!!!!!!! Rápido!!!!!!!!

Eles começam a puxar a corda. Baba e Scully ajudam. As mãos de Mulder surgem se agarrando na borda do poço. Krycek e Frohike correm pra ajudá-lo a sair. Puxam Mulder pelas mãos. Mulder senta-se na beira do poço, angustiado e em nervos. Tira a lanterna da cabeça.

MULDER: - Tem ossadas lá embaixo saindo pra fora da água. Muitas ossadas.

KRYCEK: - Acha que o Bukavac arrastava pessoas e as devorava aí dentro?

MULDER: - Acredito que ele comia o que jogavam aqui dentro. Quando o sanatório fechou e pararam de jogar, o sapão passou a se alimentar de ratos. Por isso não vimos ratos aqui. Tem crânios pequenos demais lá dentro também. Acho que de bebês. Um verdadeiro descarte hospitalar. Ou talvez ritualístico.

SCULLY: - Pra mim chega, ok? Eu vou lá pra cima esperar os epidemiologistas chegarem!

Scully sai correndo e subindo as escadas. Mulder leva a mão ao bolso. Tira uma garra escura.

MULDER: - Encontrei na parede do poço. Acho que pertence ao Bukavac. Pelo menos, tenho uma recordação dele.

KRYCEK: - É. Pendura no para-brisas do carro, Mulder! Vamos embora! Eu tô morrendo de saudades da minha nanica e ainda nem sei se não vou ter que encarar uma quarentena antes de vê-la!


Hospital Universitário - Virgínia - 6:21 A.M.

Uma sala com paredes de vidro, ambiente de controle de doenças infecto-contagiosas. Krycek sentado numa maca, jogando no celular. Baba sentada em outra maca, Frohike escorado na maca ao lado dela.

Mulder recostado numa parede de vidro, mordendo o polegar, pensativo. Scully se aproxima dele.

SCULLY: - Só quero um banho bem gostoso e a minha cama cheirosinha. Acho que foi um dos dias mais tensos e malucos da minha vida. Não consigo assimilar as coisas, estou tão cansada...

MULDER: - (SORRI PRA ELA) Senti muito orgulho de você.

SCULLY: - ...

MULDER: - Você viu alguma coisa naquele lugar, eu sei que viu, Scully. Fiquei observando você, enquanto Baba lidava com aquele portal. Eu vi sua surpresa, sua emoção e aquela sua fisionomia de compaixão que eu tanto conheço. Você sempre foi o meu lado humano.

SCULLY: - Eram muitos, Mulder. Pessoas como nós. Apenas pessoas perdidas e abandonadas. Ninguém se importou com elas em vida e muito menos na morte. Elas tinham sonhos, planos, alegrias e tristezas... Crianças que nem sonhos puderam ter... Sinto que agora estão em paz. Aquele jovem casal também. A maneira como os dois se olhavam, felizes de estarem finalmente juntos depois de todo aquele sofrimento que passaram em vida, meio que mexeu comigo, acho que entende. Isso só me dá a certeza de que levamos o amor conosco.

Mulder sorri, abaixando a cabeça.

SCULLY: - Sabe o que eu quero? Não agora, não hoje, porque estamos cansados...

MULDER: - (RINDO) Sei. Bater em mim.

SCULLY: - (SORRI) Também. Mas eu queria tanto um jantar leve, num restaurante perto do mar... Ficar parada olhando pro mar, sentindo a brisa fresca no rosto e o calor da sua mão na minha.

Scully recosta a cabeça no ombro de Mulder. Ele a envolve no braço. Os dois fecham os olhos.

MULDER: -(OLHOS FECHADOS) Vinho branco?

SCULLY: - (OLHOS FECHADOS) Hum... É, vinho branco. Combina com um bom filé de peixe com molho de frutos do mar. Uma música calma e romântica.

MULDER: - (OLHOS FECHADOS) E... Esse seu restaurante teria uma mesa do lado de fora? Velas com chamas tremulando com a brisa do mar?

SCULLY: - (SORRI/ OLHOS FECHADOS) Hum... Perfeito!

MULDER: - (SORRI/ OLHOS FECHADOS) E que música está tocando durante o nosso jantar?

SCULLY: - (SORRI/ OLHOS FECHADOS) Não sei. Mas quando você toma a minha mão e começamos a dançar... Barry Manilow?

MULDER: -(OLHA PRA ELA) Uh! Pegou pesado, Dana Scully!

Os dois riem, olhando um pro outro.

Corta para Frohike cabisbaixo. Baba com um olhar perdido no nada.

FROHIKE: - De todas as confusões em que me meto por causa do Mulder... Essa foi de lascar!

BABA: - Faço das suas palavras as minhas. Só não entendo como o Mulder conseguiu fazer todos os espíritos ruins e aquele demônio saírem de lá. O Doutor se assustou com alguma coisa a ponto de cair fora rapidamente levando todas as almas ruins com ele. Pra onde foram, é outro mistério.

FROHIKE: - Acha que voltarão algum dia?

BABA: - Não, aquele lugar finalmente está limpo e habitável para os vivos.

FROHIKE: - ... Estive pensando. Se não tiver nada pra fazer no sábado, conheço um bar legal com música ao vivo. Jazz e blues sulista e raiz. Boa música, boa conversa, boa cerveja e eles tem os melhores petiscos da cidade.

BABA: - Pensarei no assunto.

A porta se abre. O médico olha pra eles.

MÉDICO: - Os resultados todos deram negativo. Estão liberados.

Eles respiram aliviados. Krycek se levanta e pega o sobretudo, guardando o celular.

MULDER: - Então amigos... Vamos descansar. Nos vemos amanhã na agência.

BABA: - Amanhã já é hoje! E não me espera antes do meio dia! Só porque sou negra, não sou escrava!

MULDER: - Nem você me espere antes das duas da tarde! E Rato, fala com o Norris. Esse caso é seu por direito. Tá na sua jurisdição, briga por ele e... (TRISTE) Se puder apenas me manter a par das descobertas da polícia...

Krycek sorri, colocando as mãos nos bolsos das calças.

KRYCEK: - Mulder... Eu sou a polícia nesse caso. E vocês estão comigo. Não vou tirar o doce da sua boca. Preciso de ajuda, né?

Mulder sorri empolgado. Krycek se aproxima.

KRYCEK: - Será que posso dividir o táxi com vocês? Afinal de contas, vamos pra mesma rua.

MULDER: - Cortesia de vizinhos? Rato, você sempre estragando o meu lado com a Scully.

KRYCEK: - O que posso fazer, Mulder? Hum? Eu amo vocês dois! Eternamente fadado a ser o terceiro nessa relação. Ai se a Barbara descobre! Me arranca o couro e faz tapete de rato!

Os três saem da sala rindo. Frohike olha pra Baba.

FROHIKE: - Quer carona? Mas vai ter que dividir o assento com dois paspalhões.

BABA: - Sem problemas. Talvez um dia sejam quatro.

Baba sai da sala, empinando o nariz, bancando a durona. Frohike fica pensativo. Então dá um sorriso empolgado, beija a lapela da jaqueta de couro.

FROHIKE: - Yes!!! Até que enfim funcionou!!!

Frohike sai correndo da sala.


Três dias depois...

Residência de Helmut Zimmer - 4:21 P.M.

O Dr. Zimmer toma chá na sala de estar, olhando para o sol lá fora. A empregada entra com Mulder e Scully. Mulder segura uma pasta de papel.

DR. ZIMMER: - Sentem-se, por favor. Desculpe não me levantar, senhora, mas meu joelho hoje está doendo muito.

MULDER: - Scully, esse é o Dr. Helmut Zimmer. Essa é minha esposa e detetive Dana Scully.

Scully o cumprimenta.

DR. ZIMMER: -Encantado, senhora... Me acompanham no chá?

Eles sentam-se.

MULDER: - Não, obrigado.

SCULLY: - Não irei recusar. Adoro chá.

A empregada serve o chá para Scully.

DR. ZIMMER: -Prefere um café, senhor Mulder?

MULDER: - Não, obrigado.

DR. ZIMMER: -Dóris, pode sair.

A empregada sai, fechando a porta.

SCULLY: - O que houve com sua perna, se posso perguntar?

DR. ZIMMER: -Herança de família. Além do albinismo herdei ossos ruins. Com a idade, as juntas desgastam mais ainda. Seu marido me disse que é médica.

SCULLY: -Sim, mas eu atuava na medicina legal. Hoje nem tanto.

DR. ZIMMER: -Cadáveres.... É uma mulher forte para lidar com a morte. Eu mesmo nunca gostei dessa parte, o que me fez optar por Psiquiatria.

SCULLY: -Mulder falou que é Psicólogo?

DR. ZIMMER: - Sim, mas creio que ele também tenha gosto por mortos. Você lida com corpos e ele com almas. Formam um casal perfeito. Então, senhor Mulder. O que tem pra mim? Além da polícia desenterrando corpos e da saúde pública procurando vírus no Saint Giles.

Mulder entrega a pasta para Zimmer.

MULDER: -Aqui está o relatório impresso.Eu lamento por isso. Prometi que manteria tudo em sigilo absoluto e...

DR. ZIMMER: -E como poderia evitar? Não lamente, senhor Mulder. Nem mesmo eu sabia das sepulturas no pátio. Agora lembro do dito sobre esqueletos no armário. Eu tenho esqueletos pelo quintal, dentro de um poço e sabe aonde mais a polícia encontrará ossos.

MULDER: -Então leu o relatório que mandei por e-mail. Aquele policial que desapareceu lá dentro, meu irmão. Não de sangue, mas irmão de vida... Krycek está oficialmente encarregado do caso e estamos ajudando. Ele tem feito o possível para que seu nome não seja revelado e mantendo segredo do que a polícia está fazendo no Saint Giles.

DR. ZIMMER: -Irmão é irmão. Sangue nem sempre significa irmandade. E será bem difícil manter a imprensa longe por muito tempo de um escândalo como esse, afinal afeta a história dessa cidade.

MULDER: -Bem... Esse relatório é preliminar. Conforme descobrirmos mais coisas...

DR. ZIMMER: -Mais páginas serão impressas. Tem as chaves, fique com elas. Salvei arquivos numa sala...

MULDER: -Sim, eu sei e estamos lendo tudo e juntando fatos e construindo uma história aterradora, bem pior do que os boatos que sabíamos sobre o lugar. E estou ligando fatos nos arquivos com fatos no diário assustador do Dr. Vein, que agora sabemos ser filho de uma família de imigrantes dos países baixos, mais conhecido erroneamente pelas pessoas como Holanda. Ele fazia parte da Sociedade de Thule na América.

DR. ZIMMER: - Um neerlandês, quem diria! Praticamente um irmão germânico! Eu que sou descendente de alemães sei o suficiente dos horrores do nazismo para odiar a Sociedade de Thule o suficiente! Imagino o senhor, que descende de judeus. Peço humildemente desculpas pela ignorância do meu povo contra o seu povo... Não entendo como um médico chega a um ponto como esse. Os advogados da família dele já vieram até mim querendo conversar.

MULDER: -Eu não queria trazer mais processos para o senhor e...

DR. ZIMMER: -Em absoluto! Quem vai processá-los serei eu e todas as famílias que perderam seus entes queridos dentro daquela instituição em rituais satânicos, experiências com a peste e Deus sabe mais o quê! Se isso vai espirrar em Washington? Eu não tenho medo de políticos senhor, Mulder. Eu tenho mais medo é da culpa por omissão, e essa eu não carregarei para o meu túmulo e nem serei vergonha para os meus descentes. Somos profissionais da saúde mental, conhecemos a história da Psiquiatria. O "em nome da ciência" não cabe mais aqui.

MULDER: - Doutor, isso vai trazer a publicidade que o senhor não gostaria. E certamente vai atrapalhar seus planos de construir um shopping center. O lugar vai desvalorizar mais ainda.

DR. ZIMMER: -Senhor Mulder, uma coisa é ser motivo de piadas pela ignorância das pessoas em não acreditarem no sobrenatural. Outra é ser omisso diante da crueldade dos homens e creio que agora é sobre isso o que estamos falando. Não me importo com a imprensa bisbilhotando minha vida e aquele lugar. Agora é uma questão de princípios morais e eu os tenho. E se quiser, aproveite tudo o que tem gravado e o que está fazendo e faça quantos programas de televisão quiser, porque a guerra será longa. E não me pague direitos ou investimentos de patrocinadores porque eu não os quero. Exponha toda essa sujeira. Vocês arriscaram suas vidas para me fazerem um favor, o mínimo que posso fazer para retribuir é lhe dando autorização para expor toda a sujeira do Saint Giles. A briga jurídica será comigo, não com o senhor. E sei que o fará sem pensar em dinheiro, mas é justo que o receba. Temos as mesmas intenções: justiça.

Mulder e Scully se entreolham surpresos.

DR. ZIMMER: -Senhor Mulder, eu quero a verdade sobre tudo. Tudo o que aconteceu naquele lugar, levante até os capachos das portas e os tapetes, porque estou completamente enojado e assustado! Eu pensei ter comprado um antigo sanatório e comprei o pior açougue da Virgínia! E quero reiterar minhas desculpas pelas coisas horríveis que disse sobre o senhor e seus colegas em nosso primeiro encontro. Chega um ponto em que desacreditamos das pessoas, mas felizmente ainda existem pessoas que se importam com as outras. Eu desconhecia quem era o senhor, sua história, seu currículo e me sinto bastante envergonhado, pelo erro crasso de julgar antecipadamente quem eu não conhecia.

MULDER: - Não posso condená-lo Dr. Zimmer. Eu sei bem como é a área em que atuo. Sei que existem espertalhões. Bom, quando a polícia liberar o lugar, o senhor pode pedir que retirem os túmulos e os corpos.

DR. ZIMMER: -Se os parentes quiserem, sem problemas. E se não quiserem, também não haverá problemas. Muitos ali não tinham famílias e as famílias nem queriam saber deles. Vou restaurar os túmulos e colocar nomes neles. É o mínimo de dignidade e respeito a esses mortos. A única pergunta que tenho é: tudo o que estava lá dentro foi embora?

MULDER: - Os bons e os maus. Com exceção da criatura anfíbia que não encontramos. Aconselho que sele aquele poço. Assim ele não tem mais como voltar. E ficou uma assombração residual. Assombrações residuais são como uma lembrança presa no tempo. Não há como retirar isso e não vai incomodar, porque de fato não está mais ali, é apenas um eco do passado.

DR. ZIMMER: -Mandarei os empreiteiros selarem o poço.

MULDER: -Bom, acho que finalmente vai conseguir construir um shopping center, mas não creio que um cemitério ao fundo será interessante. Sei que o lugar vale muito dinheiro, é bem localizado e o senhor terá o retorno de seus investimentos bem rápido...

DR. ZIMMER: -Mas? O que esconde atrás das suas reticências, senhor Mulder? Deixe-me saber.

MULDER: -É uma pena. Aquele lugar tem história. Uma história da Psiquiatria, da cidade, das pessoas, dessa comunidade... É uma pena que seja destruído, mesmo sendo uma história tão triste e que envergonhe a cidade e os profissionais da Psiquiatria nos dias de hoje.

DR. ZIMMER: - O nazismo foi triste também e envergonha a Alemanha até hoje, e mesmo assim museus foram criados para que as pessoas aprendam com os erros dos outros. A história é o maior dos professores. Se você fosse o dono do lugar, o que faria com ele, senhor Mulder?

MULDER: -Bem, eu... Eu iria restaurar tudo como era antes. Faria um museu em homenagem aos mortos, para que as pessoas nunca se esquecessem das vidas que se foram ali. Universidades, escolas, turistas, historiadores até cidadãos comuns poderiam visitar o sanatório, ver como eram as coisas no passado, os tipos de tratamentos que faziam, as documentações de pacientes e funcionários, pertences deles, fotos, fichas, há muita coisa histórica para ser exposta, incluindo a sala e as roupas do Dr. Vein... Livros, instrumentos médicos, macas, camisas de força, existe muito ali ainda para recriar o ambiente como era.... E nem estou falando dos curiosos, da molecada e dos amantes do paranormal que adorariam ver os corredores do Saint Giles, que já foi um sanatório assombrado. Agora ele é seguro.

SCULLY: - E as histórias de vida dos pacientes, como a história linda e trágica de amor entre a enfermeira Hollie e o segurança Alex. A sala em que ela morreu, protegendo os pacientes...

MULDER: - E logicamente o senhor cobraria pelas entradas, é justo para manter o museu, e os espíritos certamente não se ofenderiam pela homenagem e por deixarem aqui, mesmo que tragicamente, a sua história impressa para jamais serem esquecidos. Poderia criar uma cafeteria para os visitantes, um livro com a história do lugar, para ser vendido como recordação, postais... Sei que não daria o lucro de um shopping center, mas...

O velhote abaixa a cabeça. Sorri. Olha para os dois.

DR. ZIMMER: -Acho que essa cidade já tem shopping center demais. A América incentiva muito o consumo. Hora de incentivar a história. Escreve livros, senhor Mulder?

MULDER: - Ainda tô terminando o primeiro. Não sei se sou bom nisso, mas tenho uma amiga que vive me incomodando querendo ser minha editora. Barbara Wallace, conhece?

DR. ZIMMER: -Sim, a repórter bonitona e inteligente da televisão. Se uma mulher competente como aquela acredita em você, acho que deveria acreditar nela. Sobre o que é o seu livro, se posso perguntar.

MULDER: -É a história de amor verídica dos meus avós paternos, um médico judeu e uma pianista alemã, na época da Segunda Guerra Mundial, baseada no que meu tio-avô, que foi segurança de Himmler, me contou antes de morrer... Também é baseada no diário do meu avô que trabalhou forçado com Mengele em experiências com judeus em Auschwitz, em troca da vida dos filhos. Infelizmente, não tem um final feliz. Tem um lado místico na história, uma coisa meio espiritual, porque os dois...

SCULLY: - São bem parecidos comigo e com ele. Pra dizer a verdade, a foto deles me assusta até hoje. Não tenho explicações científicas para isso.

DR. ZIMMER: - (INTERESSADO) Sério? Eu gostaria de ler... História e paranormal juntos... Já que conhece bem sobre paranormalidade e médicos loucos e está lidando com outro Mengele novamente, se quiser, já tem a história do seu segundo livro, afinal está trabalhando na pesquisa do assunto dele mesmo e não fugirá da sua linha histórico-paranormal, baseada em fatos reais. Fique com seus direitos autorais, mas eu quero exclusividade da venda dele somente no museu.

Zimmer pega o talão de cheques.

DR. ZIMMER: -Quanto devo pelo serviço de vocês? Sei que ainda vai longe, mas quero dar um adiantamento...

MULDER: -Eu disse que não cobraria nada Dr. Zimmer. E sei que meus amigos também não querem o seu dinheiro. O senhor já nos deu um tema para vários episódios de televisão. Meus colaboradores tem uma revista e vão adorar escrever sobre isso. E acabo de ganhar a história de um segundo livro. E ainda tem a Barbara Wallace, que vai querer levar a história para os noticiários. Já ganhamos mais do que esperávamos ganhar por nosso trabalho.

DR. ZIMMER: - O senhor é um homem de palavra mesmo, senhor Mulder. Prometeu não cobrar nada e cumpriu. E o mais impressionante de tudo, é que me prometeu sigilo, e mesmo cercado de amigos jornalistas, conseguiu cumprir nosso acordo e fazê-los ficarem quietos. Isso sim é assombroso!

Eles riem.

DR. ZIMMER: -Quero apenas perguntar só mais uma coisa. Estou curioso, acha que aquela criatura anfíbia morreu? Ou fugiu? E aonde teria se escondido? Alguma ideia?


Rio Potomak, proximidades do Saint Giles Asylum - 5:26 P.M.

O sujeito passa de barco, remando tranquilamente, perto do cais.

Close debaixo do cais. As bolhas na água começam a surgir.


Saint Giles Asylum - 6:43 P.M.

Wade puxa o portão. Mulder o observa.

WADE: - E quase tive um treco quando o alarme do porão disparou novamente. Mas graças à câmera que você deixou, vi que era um rato! Começaram a aparecer muitos ratos agora.

MULDER: - Me acredite, isso é um bom sinal. Então, vai pra onde?

WADE: - Desfiz a sociedade com o Jacob. Ele vai se mudar e ficar no ramo. Eu vou alugar uma sala na rua principal, por mais cara que seja e abrir uma empresa só minha. Vou ficar apenas com casas inteligentes, vendendo os direitos do meu portão inteligente e descobrir mais coisas que possam ter um chip eserem ativadas por um um celular inteligente via sinal de wi-fi. Por que não uma televisão inteligente, onde você pode acessar a internet e ter muitas opções de entretenimento para assistir, ao invés de ficar preso aos canais abertos e fechados?

MULDER: - E acha que isso vai dar retorno financeiro algum dia? Celulares inteligentes? Aparelhos que funcionam com sinal de wi-fi? Televisão com internet?

WADE: - Gosto de apostar no futuro, Mulder. Com sorte eu fico rico. Com azar, amanhã o Iphone desaparece do mercado e a concorrência inteira junto. Mas eu acho que tenho sorte.

Wade tira um cartão e entrega pra Mulder.

WADE: - Se precisar de sistemas de monitoração, portas automáticas, lâmpadas e televisões que ligam sozinhas...

MULDER: - Não descarto sistemas de monitoração e portas automáticas. O resto eu tenho em casa. (DEBOCHADO) Minha televisão é inteligente, no meio de uma partida de basebol, ela muda de canal sem eu tocar no controle remoto, parando direto no canal de desenhos. Acredite. Eu tenho uma televisão muito malandra em casa. Inteligência ali não falta.

Mulder entrega um cartão pra ele.

MULDER: - Se precisar...

WADE: -Espero nunca ter que precisar dos seus serviços, nada pessoal.

Os dois riem.

WADE: - Me dá mais um cartão. Nunca se sabe quando alguém pode fazer aquela pergunta com uma cara embaraçada: Você vai achar que sou maluco, mas sabe aonde encontro um investigador paranormal?

Mulder entrega outro cartão, rindo. Entra no carro e vai embora, passando pelo Impala preto que se aproxima. Wade coloca o cadeado no portão.

WADE: - Adeus lugarzinho esquisito!

O Impalapreto estaciona. Wade se vira. Alguém assovia o chamando. Wade se aproxima do carro. O vidro vai baixando.

WADE: - Caramba, isso sim é uma máquina! Qual o ano?

Dean Winchester sentado ao volante olha pra ele.

DEAN: - É de 1967 e pega muita gata bonita. Cara, você sabe se esse lugarzinho aí escabroso é mal assombrado?

Sam no carona, mete o rosto perto de Dean.

SAM: - Você vai achar que somos malucos, mas sabe se tem algum demônio nesse lugar?

DEAN: - É, a gente anda doidinho atrás do Pazuzu. Conhece ele? Feio, alto, magrelo e fede a bafo de onça com indigestão. Adora locais abandonados e com histórias sangrentas.

WADE: - Lamento, mas um cara já teve aqui e botou eles pra correrem.

Wade entrega o cartão de Mulder. Dean o pega. Wade se afasta.

DEAN: -Valeu, cara! É, a concorrência tá aumentando, irmão... (RINDO) Fox??? O nome do cara é Fox??? Quem sabe a gente vai dar uma palavrinha com o Fox? Se ele não souber nada sobre demônios, com um nome desses certamente deve saber tudo sobre as galinhas do lugar!

SAM: -Dean, por favor! Podemos tentar falar com esse cara? Quem sabe ele nos ajuda?

DEAN: - Sim senhor, irmãozinho. Mas antes de falar com o raposo, quero achar um motel com uma cama decente, um hambúrguer decente e uma cerveja gelada decente. E quem sabe um show de garotas nada decentes?

Sam revira os olhos, desanimado. Dean liga o carro, sorrindo pra ele.



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25 de Julho de 2020 às 01:26 0 Denunciar Insira Seguir história
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Fim

Conheça o autor

Lara One As fanfics da L. One são escritas em forma de roteiro adaptado, em episódios e dispostas por temporadas, como uma série de verdade. Uma alternativa shipper à mitologia da série de televisão Arquivo X.

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