ellariamlamora EllariaM Lamora

Kagura só queria voltar aos dias de paz em que acordava de madrugada com os protestos do samurai bêbado ao ser recebido por Sadaharu. [kagura centred — spoilers de Silver Soul]


Fanfiction Anime/Mangá Todo o público.

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Aqueles que cuidam de samurais bêbados e zelam pelo passado são loucos,

pois isso não conta como hora-extra!


Os fios rosados moveram-se suavemente quando o corpo feminino foi envolvido pelo mais dócil soprar do vento. As pálpebras abriram-se revelando esferas de um índigo profundo e a Yato bocejou, prestando atenção no som da porta sendo empurrada na escuridão de uma noite sem estrelas. A voz de Sakata Gintoki envolveu o local, grunhindo para a divindade em forma de cachorro um tolo pedido de ajuda, embolado e falho pela bebida consumida no centro do distrito. A descendente da raça mais forte do universo trincou a mandíbula, já prevendo os gritos daquela velha dona do bar quando o guardião fugisse por ter gastado o dinheiro do aluguel nos pachinkos.

— Ai, Sadaharu!Ai, ai,cuidado com a cabeça do Gin-San! — A voz do samurai bêbado protestou e o som do corpo sendo arrastado pela casa anunciou à Kagura que o cachorro com certeza estava abocanhando o dono pelos fios prateados, como uma mãe cansada faria com um filhotinho teimoso e resmungão. — Está bem, está bem, o Gin-San não vai mais beber, então não precisa dessa violência. Vou separar o dinheiro do sukonbuda quela esfomeada para te dar mais ração, certo?

A divindade rosnou amigavelmente e a Yato conseguiu sentir o cheiro forte do saquê vindo do homem. Uma veia cresceu em sua testa, expondo toda sua fúria momentânea pelo guardião e ela estava pronta para abandonar seu minúsculo quarto em forma de armário, ordenando para que Sadaharu jogasse o líder dos Yorozuyas porta afora, para que dormisse na rua e no próprio vômito, quando o próprio se manifestou, em um sussurro tão baixo que foi como se contasse um segredo ao cachorro:

—Shh! Ou vai acordar aquela menina com a força de dez rinocerontes. Deixe-a a dormir depois de gastar sua energia escoltando a Princesa com o sadista do Shinsengumi...Ela merece.— A divindade latiu e o seu rabo balançando alegremente causou ondulações no vento, ao qual soprou gentilmente na direção da menina — Sim...Estou de volta, Sadaharu.

Um sorriso tomou conta dos lábios de Kagura e ela agradeceu a escuridão da noite, pois a falta das estrelas impossibilitava que Gintoki tomasse a percepção do quanto apreciava aquele momento esporádico. Nenhum deles era bom com palavras bonitas ou frases sentimentais, dado a bagagem de traumas que carregavam. Eram duros e brutos como o metal que forjavam suas espadas, carregando uma sinceridade mordaz que abandonava suas bocas como as balas disparadas pela sombrinha da Yato: certeiras e sem hesitação. No entanto, mesmo assim, ainda existiam as noites em que se pegavam sendo traídos pelo laço que haviam criado e a voz vibrava no ar, anunciando ao mundo toda a breguice de amor e carinho que uma família carregava.

Mesmo sem saber lidar direito com esse sentimento que a transportava para os dias felizes de sua infância com sua família de sangue, isso não a impediu de abandonar seu futon quentinho, caminhando pelo chão gelado com seus pés descalços, com um cobertor em seus ombros. O escuro não a atrapalhou de encontrar o dono dos fios de prata, largado ao chão em um sono já profundo: com as sobrancelhas relaxadas e sem nenhum vestígio de preocupação ou aquela irritante expressão enfadonha moldada em sua face de peixe-morto.

Sobrava apenas o som de sua respiração serena na quietude da casa.

Com delicadeza, a Yato fez questão de depositar uma almofada embaixo de sua cabeça, sabendo que se tentasse lhe puxar para a cama, encontraria apenas o estresse de um bêbado irritante que espernearia como uma criança birrenta. O cobertor foi aberto e envolveu o corpo que sempre a protegia e Kagura resistiu a tentação de rabiscar seu rosto por inteiro, imaginando que a ressaca já seria carma suficiente pela bebedeira descompromissada.

— Ele devia me pagar horas extras. — Comentou para o cachorro e coçando seu nariz gelado dele.O animal latiu baixinho, emitindo uma espécie de concordância e a garota sorriu ao perceber que ele se deitava ao lado do homem, embarcando em um sono pacífico — Bem-vindo de volta, Gin-chan.


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Os fios rosados moveram-se suavemente quando o corpo feminino foi envolvido pelo mais dócil soprar do vento. As pálpebras abriram-se, revelando esferas de um índigo profundo e a Yato bocejou, fitando um céu sem estrelas. O frio arrepiou sua pele tão clara e ela ficou sentada, assimilando o local em que estava, pronta para ouvir os resmungos de seu segundo pai e disposta a ofendê-lo por acordá-la de seus sonhos.

No entanto a realidade veio com uma torrente de informações quando percebeu que estava sozinha, embaixo de um abrigo improvisado, em um planeta que nada se parecia com aquela beleza azul que havia lhe presentado com todo tipo de alegria possível. Ali não existia a grama fofinha dos fim-de-tarde que deitava seu corpo para aproveitar o pôr-do-sol com Sadaharu, ignorando as provocações e injúrias de um certo ladrão de impostos, ao qual sempre afirmava que ia prendê-la por qualquer motivo fútil e tolo que surgisse em sua mente, enquanto largava-se ao seu lado e ficava ali, murmurando entediado sobre estar matando tempo. Naquele planeta que sua mãe sonhou, Kagura terminava suas tardes encharcada de suor pelas lutas com o sádico número um do Shinsengumi. Na terra que os samurais protegiam ela esporadicamente quase sempre acordava de noite para cuidar daquele homem diabético e se divertia em gastar seus dias irritando o pobre Shinpachi e seu fascínio pela cantora mais famosa de Edo.

Ali não havia nada disso, só a solidão e o peso de falhar com seu amado Sadaharu. A areia embaixo de seu corpo era áspera e lhe pinicava. O ar era pesado e ela desejava ardentemente ouvir a voz de Gintoki reclamando do tempo ruim, caçando as melecas em seu nariz e bocejando de tédio por andar naquele local. Ansiava pelos bordões de Shinpachi, por seu amor a Idol, por Okita chamando-a de “China”. Ela queria escrever para eles, mesmo sabendo que não conseguiria enviar suas cartas e que o ladrão de impostos provavelmente iria rir quando adicionasse seus “arus” na escrita. O samurai de cabelos claros certamente acharia um saco, já que desprezava cartas e o óculos a responderia com toda a polidez e educação de um japonês comum.

Como sentia saudades disso.

Entretanto não podia voltar enquanto não trouxesse Sadaharu ao normal.

Seu precioso Gin-Chan estava no planeta azul pagando o preço por seu passado, tentando resolver suas próprias coisas e esforçando-se para voltar para eles. Shinpachi com certeza estava cuidando da loja e preocupando-se com o dojo de seu pai — mesmo que ninguém mais se importasse com aquela premissa há muito esquecida. Ela não podia ser menosprezar o esforço de seus amigos e voltar sem nada em mãos. Precisava se empenhar para honrá-los. Oras, era uma Yato, carregava o sangue de sua mãe e daquele careca superprotetor.

Era discípula de Sakata Gintoki.

— Eu vou te salvar, Sadaharu. — Sussurrou ao erguer-se na escuridão de um deserto sem fim. —Nós vamos voltar ao Yorozuya que tanto amamos— Ao Norte pôde contemplar uma tempestade de areia aproximando-se e franziu as sobrancelhas, abrindo seu guarda-chuva e apontando na direção do perigo iminente. A imagem daqueles dois idiotas sorrindo com Sadaharu ao lado veio em sua mente e Yato Kagura encarou o fenômeno com determinação.

Dando um passo na direção da tempestade, murmurou séria:

—É uma promessa.

11 de Julho de 2020 às 11:52 0 Denunciar Insira Seguir história
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Fim

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EllariaM Lamora A vida é apenas uma escolha importante após a outra; siga em frente e observe até onde essas escolhas tolas podem levar você. — YATO. Abuto.

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