sahsoonya sahsoonya

[KaiSoo] [One shot] [menção SuLay] KyungSoo é um universitário observador e curioso sobre a vida, que passa seus dias tentando descobrir o que se passa pelos corações e mentes das pessoas. Mal sabe ele, que de longe alguém também o observa, apenas esperando o momento certo para revelar seu amor por si, mas que é desastrado demais para fazê-lo.


Fanfiction Bandas/Cantores Impróprio para crianças menores de 13 anos.

#exo #yaoi #ua #kaisoo #fluffy #os #sahsoonya
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Capítulo Único

Observar?


Uma função tão simples, porém ao mesmo tempo tão complexa, afinal, os maiores prazeres e desprazeres da vida estão associados ao que somos expostos. Ninguém é capaz de viver sozinho, e estar sempre à procura de algo ou alguém, faz parte desse mesmo processo. O processo de busca pela felicidade, seja ela motivada pelo amor, ou independentemente dele.


KyungSoo era um observador. Não do tipo que segue pessoas por aí, mas do tipo que gostava de imaginar, pelo que via das pessoas, quais eram seus sonhos, desejos, dificuldades e sempre curioso para descobrir nelas peculiaridades muito além do que os olhos podiam ver.


Não é como se o jovem de pele alva não tivesse mais o que fazer da vida para que tais pensamentos se acometessem sobre ele, longe disso. Tinha um estágio da faculdade pela manhã, um trabalho de meio período e a própria faculdade, para manter seus neurônios e músculos bem ocupados por boa parte do dia. Mas diariamente, aproveitava aqueles momentos que tinha sozinho no ônibus, com seus pensamentos e fones de ouvido para divagar em pensamentos à respeito da vida alheia.

Enquanto o coletivo fazia sua rota deixando centenas de pessoas em seus respectivos destinos, pois sim, o ônibus ia sempre cheio nos horários de pico, quase que instintivamente ele era levado a observar as casas e prédios ao redor. Notando com certa facilidade que a senhora da casa ao lado do primeiro ponto tinha os cabelos ligeiramente mais curtos. Talvez tivesse mudado para agradar o marido, já que ele sempre parecia indiferente quando KyungSoo fazia o mesmo caminho na volta, vendo o dito voltando do trabalho com uma carranca sempre que abria a porta da garagem. A esposa estava sempre no portão, mas ele mal se dignava a cumprimenta-la corretamente antes de entrar em casa. O rapaz alvo desejou que desse certo e que ela pudesse sorrir como uma única vez ele já havia visto. Podia ver com clareza, numa grande mansão próxima ao sexto ponto, como a madame dona da loja de roupas ludibriava o marido, que não fazia ideia que o entregador, na verdade era um de seus amantes e o cumprimentava alegremente enquanto o mesmo deixava a casa no mesmo instante em que ele chegara do escritório.


KyungSoo descobrira tais coisas apenas observando. Ele achava cômico que a rotina e responsabilidades além de prioridades, fizessem das pessoas tão cegas sobre sua própria situação na vida, o que era no mínimo triste. Ele não sabia se era mais triste para as pessoas que não tinham controle das próprias vidas ou para ele mesmo, que não fazia mais nada além de observar a vida alheia. Apesar de aprender muito com os feitos dos outros, dificilmente se dignava a ele mesmo viver as experiências, e assim tornou-se alguém calado, porém sábio.


O mais intrigante de seus ditos "amigos inconscientes" era um moreno que estava sempre com seu reluzente carro preto parado bem na frente do ponto onde tomava e descia do ônibus. Ele era um moço em seus vinte e poucos anos que estava todos os dias sentado naquele carro, ouvindo música e completamente estático. Isso chamou a atenção de Kyung desde que se mudara para ali e vira o moreno pela primeira vez. Em que será que ele tanto pensava dentro daquele carro, afinal? Por que sim, suas feições demonstravam um grande esgotamento e uma certa melancolia. O rapaz alvo estava tão curioso. Queria muito saber pra onde o rapaz iria e com quem. E o mais importante: O que será que se passava pela cabeça dele para que estivesse ali, alheio a tudo ao seu redor, inclusive aos olhos observadores do universitário?


KyungSoo estava louco para saber, mas não faria nada para sanar sua curiosidade.


***


Já era tarde da noite quando pegou o ônibus que o levaria pra casa. Estava mais cansado que de costume e um pouco mal humorado também. Aquele Yixing na aula de sociologia lhe tirava do sério com suas brincadeirinhas sem graça, sempre desviando o rumo da discussão com suas teorias viajadas motivadas pelo uso de substâncias ilegais. O melhor amigo de KyungSoo não parava de envolver aliens na teoria da evolução e não lhe deixava prestar atenção na aula.


Suspirou pesado ao conseguir sentar. Ele sabia que aquilo duraria pouco, afinal, logo alguém de mais idade entraria e ele seria educado o suficiente para levantar. Aproveitou aqueles breves minutos fazendo sua contagem mental e constatando que todos estavam ali. A mocinha da loja que sempre sorria discretamente para ele, cheia de segundas intenções; o vigia noturno que assistia a doramas pelo celular; o bêbado sem teto que zanzava pelos coletivos enquanto tirava uma soneca; a atendente de uma das lojas do shopping com uma amiga, sempre falando mal de uma tal Da Yang, que aparentemente era uma sem noção chata que adorava folgar nas costas das duas. E as demais pessoas que não chamavam tanta atenção assim... Só coexistiam em paz no transporte. Tudo estava como sempre, até que em certo ponto, uma pessoa entrou no ônibus, chocando a KyungSoo com sua presença repentina.


Era o moreno do carro preto, passando pelo motorista meio ofegante e segurando nas hastes e barras do teto do veículo, equilibrando-se no coletivo que sacolejava sem parar. Kyung tentou esconder a afobação que se acometeu sobre si, mas foi muito difícil, afinal o moreno tinha uma expressão indecifrável no rosto. O que houve com seu carro? Era o que o baixinho se perguntava, ao constatar que passara quase dois anos vendo a rotina do rapaz sentado em seu automóvel sem que o ciclo se quebrasse nem por um dia. E assim do nada, ele resolve mudar as coisas? Inaceitável!


O moreno misterioso fitava o celular, parecendo não perceber o olhar indagador do menor sobre si, até que uma senhora entrou no ônibus e ele se levantou para que ela se sentasse. Seus olhos se encontraram e o maior levou um susto, derrubando o aparelho, que com o balanço do veículo, deslizou pelo chão de um lado para o outro. KyungSoo se apressou a tentar pega-lo, se abaixando como podia, por causa da bolsa transversal pesada que insistia em impulsionar seu corpo mais pra baixo. Péssima ideia. Fora o mesmo que Jongin pensara e quando o ônibus freou bruscamente, os dois, um de cada lado, acabaram se chocando, dando de cara um com o outro com um enorme baque, que reverberou pelo ônibus, fazendo todos olharem espantados para os dois. Jongin ainda segurava uma barra, mesmo que curvado e não sofreu muito impacto, mas Kyung, que não segurava em nada, acabou caindo sentado no chão do coletivo, massageando o rosto enquanto o celular ainda deslizava pelo chão revestido de metal.


Jongin se abaixou para ajudar o rapaz, que choramingava de dor baixinho, mas ao motorista fazer uma curva, acabou batendo com certa força, seu cotovelo na testa do rapaz. Era mesmo uma confusão. KyungSoo praguejava de dor enquanto o outro lhe pedia mil desculpas, vermelho e arrependido, tão alheio a tudo que nem viu quando a senhora pegou o celular e lhe estendeu. Ele o pegou e ofereceu a mão novamente a KyungSoo, que agora esfregava a testa, como se de alguma forma isso fosse afastar a dor.


- Eu sinto muitíssimo... - disse Jongin, vendo KyungSoo fitar sua mão estendida com desconfiança.


- Será que devo pegar sua mão ou seria muito perigoso? - perguntou, mal humorado.


Por um minuto o estranho ficou a olhar para o menor sem mover um músculo. Estava muito surpreso para articular uma sílaba que fosse. Ok. KyungSoo o achava ainda mais esquisito ao vê-lo daquela forma.


- V-venha. Eu lhe ajudo. Juro que não te machucarei.


Kyung pegou a mão do moreno, surpreso por ela parecer tão quente mesmo naquela noite fria.


O ônibus ainda se movia e Jongin desejava de coração poder desculpar-se por ter machucado aquele garoto, mas toda vez que tentava dizer algo para ele, a palavra lhe fugia e era incapaz de fazê-lo. A verdade é que estar no mesmo ambiente que ele pela primeira vez o deixava muito nervoso. Não fazia ideia que ao se atrasar e ter ficado sem gasolina iria parar no mesmo ônibus que ele.


Sim, por que KyungSoo não era o único que andava observando aquele rapaz misterioso. Jongin já sabia o horário em que o rapaz saía da faculdade e um tanto desastrado como era, estava tentando a meses se aproximar para falar com ele, porém toda vez que tentava, falhava miseravelmente.


Na verdade, eles eram vizinhos, mas KyungSoo não fazia ideia disso. Jongin morava no mesmo prédio, mais especificamente na porta ao lado e se viu encantado desde que viu aquele rapaz se mudando para o mesmo prédio que si.


O viu pela primeira vez no dia da mudança e intentou se aproximar amigavelmente, mas devido à rotina do rapaz, não conseguiu vê-lo de forma alguma. Um tempo depois, descobriu que o mesmo descia no ponto em frente ao prédio todos os dias e viu a oportunidade perfeita para aproximar-se e tentar virar seu amigo.


- Por que não chega nele logo, Kai? - dizia seu amigo Junmyeon, certo dia, cansado de saber que o amigo vivia plantado no carro todas as noites, tentando criar coragem para começar um diálogo com o menor.


- Ah, claro que farei isso, SuHo... - jogou os cabelos para trás. Eles estavam correndo num parque no bairro de Jongin, como em toda semana.


- ‘Ué, porque não?


- Acontece que nem todo mundo gosta de ser abordado no meio da noite por uma pessoa que te espera no ponto de ônibus em que você desce, tipo "Ei, e aí, tudo bem? Fiquei aqui te esperando no escuro para oferecer minha amizade".


SuHo riu. O problema de seu amigo era que além de não ter coragem suficiente, ele ainda era desastrado.


- Não acho que ele veria desta forma. - tornou.


- Não acho que exista uma forma menos psicopata de ver toda esta situação. Jamais serei capaz de falar com ele.


- Por que não tenta outra tática? Poxa, vocês moram na droga do mesmo andar! Não tem como não se encontrarem!


- Hyung, se fosse fácil assim eu não estaria tendo essa conversa contigo. O KyungSoo quase não para em casa. Nos fins de semana vai para a casa dos amigos, e durante a semana só chega à noite. Não o vejo nem quando sai pra tirar o lixo!


- Ora, ache um jeito, pelo amor de Deus. Não aguento mais você sofrendo por esse cara que nem sabe da sua existência. Se você não fizer algo eu farei.


***


Ali, segurando nas barras, com suas mãos perigosamente perto das de seu vizinho, Jongin percebeu que ter ficado sem combustível parecia ter sido um sinal divino. Ou será que fora satânico? Ficara três minutos na companhia do baixinho, e já o espancara e se envergonhara. Que situação, Kim Jongin! O que faria agora? Eles acabariam descendo e o menor iria descobrir quem ele era, provavelmente formulando várias teorias nas quais ele, o publicitário solteiro da porta ao lado era algum tipo de maníaco sexual que o perseguia por aí. Queria morrer.


Realmente pensou em descer um ou dois pontos a frente, caminharia um pouco a fim de refrescar um pouco a cabeça após o encontro desastroso, mas o destino parecia ainda brincar consigo.


- Não vai puxar a cordinha? - KyungSoo perguntou na maior naturalidade do mundo, como se dirigir a palavra ao moreno não desencadeasse uma série de sensações adversas no mesmo. Jongin engoliu em seco.


- C-claro. - ao levantar o braço a fim de puxar a corda, acabou mais uma vez esbarrando no baixinho, vendo-o suspirar cansado. Se considerava uma besta mesmo.


Por outro lado, KyungSoo parecia divertir-se com o jeito desastrado do outro, sem que ele percebesse. Afinal, aquela aura de seriedade que o envolvia era apenas uma impressão.


Ambos desceram do ônibus e Jongin não sabia o que fazer, então atravessou a rua correndo, tendo seu braço segurado por Kyung bem a tempo de salvá-lo de ser acertado por um entregador de pizza em sua mobilete.


- Cuidado! - KyungSoo murmurou, puxando-o para trás.


Jongin respirou fundo, com os olhos fixos em seu braço, que ainda era segurado por seu vizinho. Kyung corou ao notar isso, soltando-o e sorrindo timidamente.


- Erm... Obrigado. - foi tudo que Jongin foi capaz de dizer antes de atravessar a rua, pegando sua tag para abrir a porta de vidro do prédio, deixando um KyungSoo de boca aberta para trás.


Espera... Espera aí. Aquele moreno misterioso morava no mesmo prédio que si? Como o observador KyungSoo não se deu conta disto?


Seguiu o agora conhecido vizinho, vendo-o abrir a grande porta e segurá-la para si. Passou por ele, e caminhou até o elevador, apertando o botão que fazia a caixa metálica descer até o térreo. KyungSoo estava perdido em pensamentos e mal processou o momento em que o elevador chegou ao seu destino. Kai abriu a porta, entrando e esperando por ele. Internamente, KyungSoo se questionava se seria capaz ou não de perguntar todas as coisas que sempre o deixaram tão curioso sobre o moreno. Afinal de contas... Se ele morava ali, por que ficava longos minutos sentado em seu carro do lado de fora? Jongin o olhava em expectativa e ele só se deu conta disso quando o outro pigarreou.


Já dentro do elevador, eles não trocaram uma palavra sequer, tão perdidos estavam nos próprios pensamentos. KyungSoo ficou surpreso ao ver que Jongin sabia seu andar, mas achou estranho que o mesmo não tivesse pressionado botão algum. Quer dizer que ambos moravam no mesmo andar ou que seu vizinho moreno era um pervertido doente que o observava de longe, bolando seus planinhos malignos consigo em mente, das duas uma. E Kyung se permitiu rir daquele pensamento bobo, afinal, como alguém tão desastrado como o seu vizinho poderia sequer pensar em fazer algo contra si? Que ultraje.


O elevador chegou ao andar indicado e KyungSoo viu Jongin caminhar até a porta ao lado de seu apartamento e abri-la em silêncio. Ele não foi capaz de fitar seu objeto de admiração nos olhos e ansiava por poder entrar em seu cantinho do aconchego e se auto sufocar com as almofadas lembrando-se de como fora estúpido. Mas deteve-se ao ouvir o menor:

- Ei vizinho. O que houve com seu carro?


Então KyungSoo tinha conhecimento de que era ele o esquisitão dentro daquele carro todo dia pontualmente na hora em que ele chegava? Jongin ficou ainda mais envergonhado. O outro certamente sabia que ele andava se espreitando por aí, tentando fingir um encontro ao acaso com ele.


- E-ele ficou sem combustível, e um amigo ficou de levá-lo à oficina. - falou pausadamente.


Kyung assentiu para si mesmo antes de falar:


- Hum, estranho nunca termos nos esbarrado sendo vizinhos de porta assim. - o olhar introspectivo parecia querer transpassa-lo. Jongin estava muito sem jeito.


- Pois é. Foi uma coincidência lá no ônibus


KyungSoo passou a chave na tranca, abrindo a porta de seu apartamento, antes de sorrir e dizer, pouco antes de adentrar o espaço:


- Não existem coincidências... Jongin.


Deixou o moreno ali plantado e confuso. O que será que o menor quis dizer com tudo aquilo? Será que percebera que estava a fim dele? E por Deus! Como ele sabia seu nome? Jongin tremeu, só de pensar no que o menor pensaria de si se descobrisse o quanto ele o desejava.



***


Mas é claro que KyungSoo sabia o nome de Jongin. Seu vizinho podia não encontrá-lo, porém o baixinho o via sempre passando na rua com seu amigo enquanto ele estava na janela. Ele tinha uma folga da faculdade nas quartas, só tinha o último período, e consequentemente aproveitava para relaxar em casa, mais precisamente na sacada de seu apartamento, que dava bem para a rua por onde Jongin e seu amigo costumavam passar em sua corrida. É claro que Kyung não sabia que o moreno morava em seu prédio, mas não poderia mentir que o observava todas as quartas imaginando que ao menos ele morasse por perto, o que já era um começo.


Descobrira seu nome poucas semanas após se mudar para a vizinhança. Ele e o amigo prosseguiam em sua corrida de fim de tarde e KyungSoo pôde ouvir com clareza o nome do moreno sendo chamado pelo amigo, ao quase se chocar com uma árvore. Pois é, ele sabia que Jongin era muito desastrado, mas e daí? Ele era tão bonito. Tão interessante. Além de tudo isso, o rapaz alvo estava muito curioso para saber por quê Jongin ficava lá parado toda noite sem lhe dizer um "boa noite" que fosse. Definitivamente descobriria o segredo de seu vizinho. Esse era seu objetivo.

***

Jongin passara boa parte da semana se lamentando em um profundo conflito interno. Agora que KyungSoo sabia de sua existência, o que ele diria se o visse em seu carro? Mas se ele parasse de fazê-lo, não seria ainda mais suspeito?


De qualquer forma estava ferrado, contudo, as vezes e só as vezes ele sentia-se um pouco melhor ao lembrar que ao menos conversara com o menor, e que fora mesmo que brevemente, tocado pelo mesmo. Sua voz era tão melodiosa, seu perfume era sem igual e aqueles olhos... Eram penetrantes de uma forma que ele não sabia explicar. De alguma forma não conseguia parar de pensar naqueles lábios carnudos e avermelhados, se movendo em câmera lenta em um loop eterno em sua mente, enquanto ele lhe perguntava sobre seu carro. Jongin sabia que uma hora ou outra teria que enfrenta-lo, mas não sabia de onde tiraria coragem para fazê-lo e assim acabou sumindo da frente do prédio nos momentos em que KyungSoo poderia aparecer.


Se odiava internamente por não mais poder vislumbrar, mesmo que por poucos segundos, a beleza delicada de KyungSoo, enquanto ele carregava a bolsa e livros pesados, sempre parecendo cansado, mas ao mesmo tempo esbanjando sempre um sorriso, feliz por aparentemente ter vencido mais um dia de trabalho e estudo. A verdade é que Jongin o admirava.


Nos primeiros dois dias já sentia falta de estar esperando por KyungSoo quando ele chegava de sua jornada rotineira, e se perguntava como as coisas seriam se fosse corajoso o suficiente.


E se eles realmente pudessem se conhecer melhor, sem que o maior estragasse tudo como sempre fazia? E se houvesse uma chance de KyungSoo gostar dele, apesar de seus defeitos e inseguranças? E se?


Mas, isso era tudo especulação, afinal, como Jongin poderia saber se nunca tentasse?



***


Sentou-se no assento achando muito estranho o quão vazio o coletivo estava numa quarta-feira comum. Em menos de uma semana estar sentado no transporte coletivo duas vezes, lhe parecia muito estranho, apesar de não se importar tanto assim de fazê-lo, afinal, nem mesmo tinha disposição mental para apreciar o conforto do assento, tão perdido estava em pensamentos que envolviam um certo vizinho.


E comicamente parecia que a vida comum de universitário de KyungSoo estava sendo retratada como nas literaturas, nas quais o estado de espírito do protagonista determinava como o clima e o ambiente ao redor. O dia não tivera a menor graça. Não sorrira uma vez sequer e a faculdade parecia tão enfadonha que mal prestou atenção nas aulas ministradas, tão distraído estava, pensando em "certo alguém". O dia estava nublado e não tinha pique nem para fazer sua análise diária de seus amigos inconscientes. Só queria ir logo pra casa e dormir.


Estava num impasse. Por um lado ansiava chegar a seu destino, pela esperança velada de que talvez ele estivesse lá, como em todos os outros dias, esperando por ele. Porém, no mesmo momento em que o sorriso ameaçava despontar em seus lábios voluptuosos sua pequena alegria se esvaía, ao lembrar-se de que ele não estivera lá no dia anterior e nem no dia antes desse.

Temia que aquilo se tornasse a nova rotina de sua chegada em casa e se odiava por fazer grande caso de uma possível coincidência que só estava em sua cabecinha ingênua. Sentia-se ingênuo e tolo como todas aquelas pessoas que observara com tamanho interesse por todo aquele tempo, como se fosse incapaz de perceber que o vizinho que tanto lhe encantava não ficava lá parado por sua causa e que provavelmente ficara tão desconfortável por não poder fazer o que quer que fazia lá que não mais voltara.


KyungSoo bateu levemente a cabeça no vidro do ônibus, sentindo-se frustrado por alimentar esperanças errôneas. Desejava tanto que Jongin realmente estivesse lá parado por si. Quando aquela curiosidade sua tomou proporções tão grandes, a ponto de abalar o tão animado Do KyungSoo?


Mas mesmo lutando contra a possibilidade, ainda queria acreditar nela. E se Jongin estivesse lá parado por si?


E se ele só estivesse esperando por sua atitude? E se ele fosse tímido e inseguro e não pudesse aproximar-se? E se?


***

A última das frustrações do dia se acometera sobre ele, e enquanto observava os números do painel do elevador se elevarem, indicando que seu andar estava chegando, se permitiu suspirar, depressivo. Jongin não estava lá. Como nos dias anteriores.


Era isso. Havia acabado. Ele não mais poderia admirar as madeixas cor de chocolate do outro, nem mesmo seus olhos aparentando uma seriedade que ele não possuía, ou seus lábios cheios sendo mordiscados por seus dentes enquanto olhava inquieto pelo retrovisor do utilitário preto. A visão de um Jongin calmamente ouvindo música em seu carro parecia querer se apagar a cada pensamento do menor sobre ele.


E foi ali, vendo o bilhete do síndico sobre a reciclagem indispensável do prédio que Kyung teve a certeza: Não deixaria seu vizinho escapar.


Não se importava se os motivos de Jongin não eram os que ele esperava. Não dava a mínima se fosse rejeitado. Tiraria aquela história a limpo, e Jongin teria que dizer na sua cara que não gostava dele.


Seus passos decididos ecoaram pelo corredor enquanto ele apoiava os livros no braço esquerdo, usando a mão direita para esmurrar a porta do vizinho com certa força, respirando fundo, enquanto buscava forças para fazer o que se dispôs a fazer quando adentrou o elevador.


Demoraram alguns segundos para que houvesse alguma resposta, mas quando ela veio, KyungSoo levantou bem a cabeça, fitando a expressão num misto de confusão e surpresa que Jongin lhe dirigira.


- K-KyungSoo...?


O baixinho olhou bem para o rosto do outro, dizendo com a voz trêmula:

- Mas o que pensa que está fazendo, Jongin?


O outro estava muito envergonhado.


- Perdão? - disse, confuso. O que KyungSoo fazia ali àquela hora, lhe encarando como se quisesse matá-lo? O que ele fez de errado?


- Não, não perdoo.


Jongin piscou, aturdido.


- O que quer dizer? Não estou compreendendo, vizinho.


KyungSoo pigarreou, momentaneamente hesitando. Será que Jongin realmente era sonso nesse nível ou estava fazendo um jogo consigo?


- Por que não estava lá embaixo hoje e nem nos dias anteriores?


Jongin engoliu em seco. Bingo! Isso não escapara a Kyung.


- E-eu...


- Você gosta de mim, Jongin? - a sobrancelha arqueada de KyungSoo e seu olhar flamejante fizeram Jongin sobressaltar-se, muito chocado por suas palavras. Ficou parado, incapaz de mover-se ou articular qualquer coisa coerente.


Ele sabia. Era fato. Não conseguiria negar, era um péssimo mentiroso e não é como se realmente quisesse fazê-lo. O que mais desejou durante quase dois anos fora que Kyung o notasse. Que soubesse como se sentia sobre si. A chance estava ali, diante de seus olhos.


Poderia acabar estragando tudo, como de costume. Mas... E se não fosse assim? E se de alguma forma milagrosa, Kyung sentisse o mesmo por si? Aquele era o momento de descobrir. Será que ele era capaz de dar aquele passo?


Os olhos enormes e profundos o fitavam em expectativa. Respirou fundo, sentindo o rosto em chamas conforme abria a boca, incerto do que dizer, e a fechava novamente. KyungSoo o encarava impaciente, ofegando conforme seu desespero e embaraço cresciam de tamanho e Jongin decidiu arriscar. O que de pior poderia acontecer?


- S-sim.


Viu as orbes negras se prenderem em suas próprias. A expressão chocada no rosto do menor.


- G-gosta? - ele não parecia crer.


- Sim. - foi o mais firme que seu nervosismo permitiu. - Eu gosto de você, KyungSoo.


O outro soltou o ar, parecendo se encolher um pouco. Parecia aliviado.


- E... Por que não me esperou como todo dia?


Jongin estava muito chocado que o outro realmente lhe descobrira e piscou freneticamente, tentando encontrar as palavras certas.


- E-eu... Achei que não gostava de mim. Que não havia me notado.


Kyung soltou uma risadinha, dissipando parcamente um pouco do clima desconfortável de antes.


- Como não gostaria de ter alguém todos os dias me esperando, Jongin?


- Não achava estranho?


- Sim, achava. - confessou. - Mas isso jamais me incomodaria. Por que eu te observava muito antes, Jongin.


Jongin se permitiu esbanjar um leve sorriso. Estava transbordando de alegria por saber que seu amado também gostava de si, mas não queria deixar transparecer ao outro.


- Por que não disse nada todo esse tempo? Por que não me disse que morava aqui? - KyungSoo questionou, sem desviar o olhar do outro.


- E-eu sou muito tímido e desastrado. Eu tinha medo de estragar tudo. - confessou de cabeça baixa.


Kyung fitou o outro, concordando internamente e depois externando:


- Tem razão. - tirando pela sua experiência no ônibus com ele naquela noite, finalmente percebeu que Jongin estava sendo sincero sobre si mesmo. E gostou disso. - Então suponho que eu deva tomar a atitude então, para garantir que nada de ruim aconteça.


Jongin levantou o olhar, o fitando surpreso, porém não teve muito tempo de assimilar o que dissera, ou reagir, pois teve seus lábios tomados pelo menor, que propositalmente segurou seus braços para trás, de modo a impedi-lo de tocá-lo e consequentemente acabar estragando tudo com seu azar natural.


Por um momento, foi apenas um pequeno encostar de lábios, mas assim que o choque passara, Jongin pôde tomar a atitude de entreabrir seus lábios, entrelaçando a língua à sua semelhante, sentindo o calor que emanava de seu vizinho, adorando o modo como seus lábios se moldaram tão bem aos seus, e achando gostoso aquele tremor que percorreu seu corpo enquanto KyungSoo o beijava com tanta satisfação, ainda mantendo seus braços para trás.

Continuaram o ósculo até que o ar se fez necessário, e KyungSoo lentamente foi libertando os braços de seu vizinho, selando mais algumas vezes seus lábios.


Quando se separaram, estavam ambos corados, porém sorridentes e Jongin ficou observando por longos segundos aquele rapaz que tanto o encantava.


- Quer dizer que também gosta de mim?


Kyung piscou para si.


- Sim. E quer dizer que você vai aceitar meu convite pra sair.


Jongin sorriu abertamente, feliz pelo desfecho de sua noite desastrosa no ônibus.


- Só que terá que ser no fim de semana, por que eu sou meio ocupado durante a semana... - KyungSoo coçou a nuca, envergonhado.


Jongin suspirou feliz.


- Eu esperei por quase dois anos. Posso esperar por mais dois dias.


KyungSoo sorriu e fitou seu livros no chão do hall, finalmente ciente de que os tinha largado enquanto investia para cima do vizinho.


- Agora eu preciso ir. Tenho que trabalhar pela manhã... – o menor falou e Jongin assentiu. KyungSoo, então, se abaixou para resgatar seus livros do chão.

Péssima ideia, pois Jongin pensara o mesmo, e os dois acabaram chocando as cabeças mais uma vez, só que desta vez ambos acabaram rindo, achando toda a situação muito engraçada.


- Desculpe. - Jongin afagou a testa alheia, onde uma marquinha vermelha se fez presente.


- Tudo bem. - Kyung sorriu. Beijou a bochecha alheia e correu até seu apartamento, sorrindo novamente para Jongin, que acenava abobalhado, de sua própria porta e suspirou ao fecha-la, não acreditando que realmente aquilo tudo havia acontecido.


Quem diria que o tão observador rapaz havia deixado passar, por tanto tempo, aquilo que estava bem embaixo de seu nariz? Ele riu baixinho, achando a vida muito irônica, porém bela... Ao mostrar a ele que ele também poderia ser ludibriado pela rotina e monotonia.


Mas não mais... Agora que ele estava ciente do interesse de seu vizinho charmoso, não o deixaria escapar, mesmo que a situação fosse desfavorável.

***

Já era tarde da noite quando o carro preto adentrou a garagem do prédio, em seguida estacionou e dele saíram os dois rapazes. Um deles carregava uma sacola de compras e o outro alguns livros. O casal conversou amenidades sempre com bom humor, e ao saírem do elevador, o menor deles passou a provocar o outro que tentava de forma tímida e falha abrir a porta do apartamento. O menor lhe dava beijos e cheirava o pescoço do maior, que tentava se desvencilhar sem sucesso.


O corredor foi preenchido pelas risadas, enquanto o maior finalmente abria a porta, equilibrando as compras recentes nos braços. Colocou as sacolas no balcão, ouvindo a bolsa do namorado ir ao chão enquanto ele trancava a porta do apartamento dos dois.


Pôde ouvir os passos sorrateiros, mas fingiu ignorá-los, até que sentiu os braços fortes envolvendo sua cintura, e o corpo menor se aconchegar a si.


Se virou, lançando seu olhar malicioso ao companheiro, bem ciente do que ele queria.


KyungSoo sorria malicioso, enlaçando seu pescoço com os braços, mordendo os próprios lábios.


- Devia parar de me provocar assim em público.


- Acho lindinho como você é tímido. - tornou o outro, divertindo-se.


Jongin agarrou a cintura do menor, aspirando seu perfume, antes de prensá-lo na parede e sussurrar em seu ouvido:

- Vou mostra-lo como posso ser ousado.

Ambos sorriram. Era sempre assim... Após anos de relacionamento, ainda se sentiam sempre dispostos a brincarem com o desejo que um sentia pelo outro. Kyung provocava seu namorado, só para vê-lo transformar-se dentro das quatro paredes do quarto, mostrando-lhe como poderia ser ousado e ardente. Jongin mudava quando estava na companhia do amado. Se tornava um homem completamente diferente em vários sentidos e KyungSoo amava isso.


Sentiu-se envolvido pelos braços do maior, e foi se enlaçando na cintura do outro, sentindo os beijos molhados atrás de sua orelha, muito ciente de que mais uma noite de amor se desenrolaria entre os dois. Não poderia estar mais feliz... Estava com o homem que amava, afinal.

- SuHo não iria vir com o Lay hoje nos visitar? - KyungSoo murmurou, absorto em prazer, enquanto Jongin o guiava no colo até o quarto do casal, muito concentrado em sugar a pele de seu pescoço alvo, deixando marquinhas vermelhas.


- Não. Eles vêm amanhã... - foi tudo que disse antes de jogar o namorado na cama.


Ambos sorriram enquanto Jongin fechava lentamente a porta do quarto do casal.


- Parece que somos só você e eu agora... - o moreno disse, retirando as primeiras peças de roupa, sob o olhar atento do namorado.


- Não existe coisa melhor.


A porta se fechou, enquanto as risadas do casal podiam ser ouvidas, vez ou outro, quando Jongin sem querer esbarrava em algo, ou quando se mexiam demais e quase caíam da cama.

Mais uma noite de paixão entre os dois começava, e ambos não podiam estar mais gratos por terem posto os olhos um no outro, afinal, este foi o passo inicial para que se iniciasse uma história de amor, mesmo que ela fosse meio desastrada às vezes... Os dois não ligavam, desde que estivessem juntos.




********** What if...? **********

9 de Julho de 2020 às 21:08 0 Denunciar Insira Seguir história
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