saaimee Ana Carolina

Dois estudantes sofrendo em um dia comum. ------------------------------------------------------------------- → Capa tirada do site: pixabay.


Conto Todo o público. © Todos os personagens aqui pertencem a mim e TsukiAkii. Portanto postar/reproduzir esta estória em qualquer página sem a minha autorização é completamente proibido. Plágio é crime e eu tomarei providências.

#amizade #menções-de-lésbica #estudantes #oc
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Capítulo único

O rapaz mordia os dentes com tanta força que chegava a sentir a mandíbula tremer com a pressão. Ouvindo sua própria respiração pesada ecoar pela sala, ele agarrava suas mãos firmemente ao livro, ligeiramente amassando as folhas brancas. Seus olhos observavam as frases enquanto sua mente gritava palavras de fúria.

Era segunda-feira, 11 da manhã, no pequeno quarto vazio da republica onde as paredes quase tremiam com a música alta vindo dos quartos vizinhos.

Rosnando, sem mais paciência, o jovem se levantou e, com algumas tossidas, começou a ler as frases em voz alta — alta o suficiente para parecer gritos — enquanto caminhava de um lado a outro em busca de autocontrole.

Como se seu incomodo pudesse ser ouvido, o volume da música se abaixou instantaneamente. Sua voz ecoou no vazio da sala até notar o silêncio. Olhando ao redor, ele pôde finalmente suspirar em paz, sentindo que agora conseguiria se concentrar no texto.

Se sentando no sofá bagunçado, ele se ajeitou e quase sorrindo retomou a leitura. Por pouco tempo. Quando o som da música explodiu ainda mais alto do que antes.

— Ah, puta que pariu!

Arremessando o livro para o outro lado da sala, ele esticou os braços, pegando o cabo da vassoura encostada na parede, subiu no sofá, puxou o corpo para trás, pronto para bater como um martelo contra a parede quando o som da porta ao lado o interrompeu.

Parada, com sacolas nos braços, uma jovem de longos cabelos ruivos o encarava confusa.

— Que isso?

— Esses merda… – falou, estalando a língua e jogando a vassoura no chão, desistindo de um plano que só traria mais prejuízos. — Eu não consigo ler.

— Faz tempo?

— Uma hora.

— Porra, Sigmo… – resmungando, jogou as compras na mesa e rapidamente se virou voltando para a porta. — Eu vou lá!

— Não!

— Vou sim – retrucou alto, parando no meio do caminho quando ele entrou em sua frente, segurando seus ombros. — Esse porra acha que é quem?

— Lia, para! – Fechando a porta, sem tirar os olhos dela, pediu. — Você briga com eles e depois chora.

— Mas eles desligam!

— Oh, vamo almoçar, tá? – Falando o mais gentil possível, pediu a vendo cruzar os braços, soltando um suspiro irritado. — Depois vê isso.

— Tá… – sem sair do lugar concordou, vendo o jovem caminhar até a mesa com um sorriso desajeitado.

— O que trouxe?

Sem esperar ela responder, abriu as sacolas retirando as duas marmitas ainda quentes de dentro. Um sorriso contente cruzou seus lábios quando viu os sabores marcados na tampa. Estava prestes a agradecer a jovem quando sua mão sentiu algo sobrando dentro da sacola. Revirando o interior encontrou o tímido, pequeno estojo de maquiagem tentando se esconder no canto.

— Lia…

— O que? – Perguntou e, assim que se virou para ele, sua expressão irritada se tornou surpresa, quase em pânico. — Ah… Sig…

— Eu não te disse pra economizar?

— Eu tô economizando!!

— Lia?!? – Repetiu o nome, balançando o produto na mão como se quisesse que ela se explicasse.

— Esse era o mais barato! Sério!

— Mas não era nem pra comprar!

Ela até abriu a boca para se explicar, mas acabou sem dizer nada. Sigmo tentou manter o rosto sério — igual ao de pais quando dão a bronca nos filhos —, mas não conseguiu. O olhar culpado, acompanhado das mãos nervosa o fez se derreter. Sabia que, de um jeito ou de outro, essa era a felicidade da amiga.

Suspirando e deixando tudo de lado, eles arrumaram a mesa do melhor jeito que podiam sem nem notar que a música já havia cessado no quarto ao lado.

Se sentando de frente um para o outro, eles saboreavam cada garfada com prazer. O rapaz estava aproveitando ainda mais já que nem tinha tomado o café — ocupado tentando estudar —, quando notou o sorriso de canto no rosto dela.

— Que foi?

Sua voz abafada pela comida chamou a atenção da garota que olhou por baixo, sem entender a pergunta.

— O que?

— Esse sorriso aí – apontou e automaticamente viu as bochechas ficarem ligeiramente vermelhas.

— Nada...

Mastigando devagar ele a encarou, esperando que respondesse a pergunta. Lia, entretanto, tentou esconder o rosto, comendo mais rápido, disfarçando sua vergonha. Sigmo apenas riu, sabendo da resposta.

— Você viu ela, né?

A pergunta risonha a fez estalar a língua antes de finalmente se sentar direito e o encarar.

— Vi.

— Falou com ela?

— Não...

A voz que antes parecia envergonhada agora soava quase tristonha. Sigmo a observou por alguns minutos. Sabia que a garota estava apaixonada por uma das jovens que morava no andar abaixo deles. Também sabia que Lia era tímida demais para tentar dizer um oi.

Se sentia mal por vê-la lutando contra si mesma, mas tinha um sorriso no rosto esperançoso de que ainda conseguiria ver as duas juntas.

— Um dia você consegue – comentou dando outra garfada sem a ver dando de ombros. — Eu vou te ajudar nisso, já falei.

— Eu sei...

— Eu só preciso passar nessa prova e prometo que a gente vai dar um jeito nisso.

Seu tom sério a fez levantar o rosto para observa-lo. Seus olhos se encontraram e um sorriso se desenhou nos dois.

— Por falar nisso, você precisa de ajuda? – Voltando a comer e trocando o assunto, Lia perguntou se lembrando do momento em que o rapaz estava prestes a quebrar a parede quando chegou.

— Preciso, mas você tem prova essa semana, não tem?

— Tenho, mas é na quarta.

— Amanhã?

A pergunta a fez olhar para ele confusa. Os olhos dele a questionavam e então ela olhou para o lado, vendo no calendário a data. Seu coração parou por um segundo.

— Amanhã… Puta merda!

Em um pulo, a jovem se afastou da mesa, correndo pela sala, procurando desesperada pelos livros embaixo de cobertas e outras tralhas espalhadas por ali. O rapaz, entretanto, apenas riu, continuando a comer, porque sabia que os dois já estavam com a corda no pescoço há muito tempo, nem adiantava mais se desesperar por coisas assim.

30 de Junho de 2020 às 22:23 0 Denunciar Insira Seguir história
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Fim

Conheça o autor

Ana Carolina Mãe de 32 personagens originais e outros 32 adotados com muito carinho, fanfiqueira nas horas vagas e amante das palavras em período integral. Apaixonada demais e, por isso, sou tantas coisas que me perco tentando me explicar. Daí eu escrevo. ICON: TsukiAkii @ DeviantArt

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