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Na terceira barraca de peixes da feira, depois de se certificar que o pescado elegido está fresco, Manoela pede para embrulhá-lo. O vendedor embrulha no jornal de ontem a primeira venda de hoje. Em casa ela desenrola a refeição do periódico que estampa em letras garrafais a notícia da inauguração de um novo restaurante cujos pratos custam mais de um salário mínimo. O papel foi para o lixo, o peixe para a panela, a panela para o fogo que depois habitou a mesa. O linguado cumpriu seu destino: calou o ruído da barriga das crianças e de Manoela que mastigava junto com o pirão a preocupação com o que ofertaria para o jantar. Nossa Senhora Aparecida, negra como ela, não estava lhe dando ouvidos naqueles tempos de rocha, mas não se pode questionar o descaso dos santos, pois há propósitos que não cabem ao entendimento dos homens. Os meninos mastigavam junto com o peixe a ansiedade de empinar pipa com os outros “caboquinhos”de pele encardida de sol e sorriso de pão doce.

29 de Junho de 2020 às 13:02 0 Denunciar Insira Seguir história
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