expectadora Bárbara Thomás

Em um mundo coberto pela fome, a sobrevivência do mais forte reina por suas terras. Nesse contesto destaca-se a crueldade dos dragões. Terríveis predadores que não se importam com os vermes ao seu redor. O reino humano não tem quem os proteja, os nobres se preocupam apenas consigo mesmo explorando e deixando o povo no mais complexo e absoluto caos. O povo é comida, o povo é gado, o povo é nada. E eles são menos que nada pois nem povo são. Eles não tem para onde fugir. Só os resta morrer. Ou viver.


Conto Para maiores de 18 apenas.

#Fairytail #fanfic #234 #tragédia #crítica #consequênciasescravidão
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A questão é como você vê

Fome. Dor. Fome. Comida. Comida. Dor. Cansaço. Quente. Seco. Sede. Sede. Água. Garganta. Seco. Dor. Comida. Dor. Barulho. Dor.
Sua mente estava um caos. O barulho o incomodava. Estava muito apertado. Tinha muitos de sua espécie.
Esses eram os únicos pensamentos que conseguia processar. Os guinchos dos homo sapiens não o deixavam raciocinar; perturbavam-no e o confundiam. Não que ele tivesse idade para entender o que estava acontecendo. Ele só aceitava. Seu corpo não tinha forças para protestar. Estava magro, músculos se deteriorando e ossos salientes, sua gordura corporal era quase nada, sinal de má alimentação. Não sentia mais o resto do corpo senão as traseiras que ardiam pedindo misericórdia, não aguentava continuar mas não podia parar, se movia no automático. Ele se sentia seco e quente. Seu estomago o único órgão que sentia também implorava por clemência. E suas dianteiras que eram puxadas. Ele estava em um estado de semiconsciência.
Contudo ele sabia que coisas ruins aconteceriam se ele parasse.
Desde que se conhecia, ele viu que em sua espécie se separava em três raças:
Os grandes: muito parecidos com ele, os grandes eram maiores e por isso mais fortes, só se moviam quando era para se moverem e paravam quando não era. Apesar de parecerem mais espertos, pareciam também mortos, sem vontade. Só cumprindo sua obrigação, mas não gostavam quando eram perturbados.
Os pequenos: esses pareciam inocentes, como presas ao abate, não entendiam nada com nada, nem procuravam entender. Eram os menos assustadores e mais fáceis de interagir. Ele se encaixava nesse grupo.
E os outros.
Se os pequenos eram as presas, os outros eram os predadores. Eram os que estavam em menor quantidade. São os que mais fazem barulho, guincham por nada, se acham melhores e olham para os dois grupos com desprezo. Sempre cobertos por algum tipo de proteção fina e de objetos malucos, coisas que ele não entendia para que serviam. Eram assustadores. Não se podia ir contra um outro.
Coisas ruins aconteciam quando se voltava contra um outro.
Muito ruins.
As cordas de metal com seu chacoalhar irritante, o som do qual ele já estava se acostumando, o forçava a seguir adiante; elas eram pesadas e duras, machucavam suas dianteiras. Mas desobedecê-las deixaria os outros com raiva.
O barulho de guinchos soavam cada vez mais altos e ele encontrava homo sapiens onde quer que olhasse, como se estivesse cercado por ervas daninhas. Hominídeos de todas as raças, outros ali e acolá grasnando e perturbando a paz em sua mente. Aquilo tudo era novo para ele, sentia-se vulnerável e assustado. E aconteceu algo mais estranho ainda.
As cordas de metais pararam e um Chicote estava soltando as dianteiras de cada um. Pulso por pulso. Chicote era o nome que ele dava ao outro que chegava perto das outras raças. Ficava rugindo o tempo todo, obrigando-os a fazer algo, e eles obedeciam.
Coisas ruins aconteciam quando não obedeciam.
Os grandes são os nomeadores. São eles que dão nomes para a maioria das coisas nas raras vezes que falavam, eles compreendiam a língua dos outros. Foram os grandes que deram o nome aos Chicotes.
O Chicote que o livrou da corda de ferro era bruto e raivoso, o outro observou-lhe atentamente e rosnou :
—Não tente fazer nada, moleque. Senão... – Ele levou o indicador à região que conectava o crânio à coluna, todos sabiam o que significava: cortar cabeças.
Logo ele foi encaminhado para o resto do rebanho sentindo-se muito mais abafado e calorento. Era apertado, corpos chocavam entre si, ancas com ancas, virilhas com ancas, cabeças com cabeças, cabeças com virilhas – nesse caso para os pequenos que estavam rodeados por grandes –, não havia espaço e ele pensou que seria esmagado até ser puxado por Angel que estava por perto.
Angel era uma fêmea de pequenos. Ela era animada fazia todos se sentirem melhor quando estava por perto, os grandes a deram esse nome porque ela parecia um anjo, ele não sabia o que era um anjo, mas achou que o nome soava legal. Angel tinha cabelos claros, cabelos de luz e olhos de flor, possuía couro liso e claro. Era a favorita dos Chicotes. Toda noite eles a levavam para longe do rebanho e brincavam com ela como os grandes brincavam entre si algumas vezes. Ela voltava sempre amuada e machucada, mas se recompunha logo depois . Todos gostavam da Angel.
Angel era um dos poucos com quem interagia, mas também tinha o Racer. Racer conseguia ser mais magro que ele. Sua pelagem era cor de palha, era fraco e também medroso, ficava sempre encolhido e amuado, mas sempre era o mais rápido do rebanho, levando coisas de um Chicote para outro Chicote.
Angel e Racer, por conviverem muito com os Chicotes aprenderam algumas palavras enquanto ele não entendia nada de muita coisa.
Cobra também não, era bastante esquisito, parecia não ter medo de nada e não se importava com a presença dos outros, seu couro era escuro e tinha receptores auriculares pontudos como um cachorro, sua pelagem era cor de lama e barro, uma cor esquisita que não dava para saber muito bem. Cobra tinha esse nome por que vivia com a cara virada pra terra interagindo com uns bichos estranhos e sem pernas, mais tarde ele aprendeu que o bicho se chamava “cobra”, mas aquilo que Cobra fazia o assustava. Cobra até mesmo pegou um dos bichos e cismou em levá-lo consigo escondido nos cabelos. Ele não gostava da ideia, se os Chicotes descobrissem não queria nem imaginar o que fariam com Cobra.
Mas nesse momento só estavam ele e Angel, que o fez inconscientemente procurar pelos outros. Angel percebeu sua intenção e disse:
—Não se preocupe, Midnight. Eles estão bem.
Midnight era o nome que os grandes haviam dado a ele. Angel dizia que era porque ele vivia cansado e sempre procurando um lugar pra dormir como se fosse noite. Ele ficou bravo quando descobriu, não era culpa dele se quase não tinha forças pra nada. Angel tentou disfarçar dizendo que poderia ser por causa da cor de seus cabelos, mas ele não achava que era isso pois muitos do rebanho tinham cabelo igual ao deles.
Midnight ainda não conseguia pensar direito, mas queria encontrar os companheiros e foi se espremendo entre os hominídeos procurando algum sinal dos outros dois.
Ele achou Racer como imaginou que acharia: encolhido no chão com risco de ser pisoteado. Chegava a ser irritante mas isso nem passava pela cabeça de Midnight que tentou ajudá-lo a erguer-se no meio daquela confusão.
No entanto algo o empurrou e por um momento ele saiu do rebanho.
Era um péssimo momento!
Uma fêmea de outro estava diante dele. A fêmea não parecia com os outros outros. Ela era grande e de pelagem cor de moeda, moedas essas raras quase nunca vistas que ele descobriria depois serem feitas de um material chamado ouro. A Fêmea tinha ancas e peitoral largos e avantajados, seu couro era brilhante e liso, sem marcas ou cicatrizes. E como todo outro, a fêmea não trazia sinais de fome e utilizava objetos estranhos e pelagens estranhas.. Ela o encarava com nojo, imaginando um verme asqueroso se pondo em sua frente, por isso desferiu um coice nele.
Midnight não entendeu o que aconteceu, apenas sabia que tinha sido rápido e doloroso. Ele raspou o chão e o fino líquido escarlate escapava de seu tecido celular.
—Pare a compra que estávamos fazendo, há gado desnutrido no meio desse bando de lixo, não vou comprar mercadoria quebrada – proferiu feroz com as ventas dilatadas bufando ar a cada segundo.
—Por favor, Lady Heartfilia... – ele ouviu o barulho findo de um Chicote.
—Cale-se! – rosnou a Fêmea. – Francamente eu peço um pouco de carinho ao meu pai e ele me manda comprar gado?! “Aproveite e compre um mascote para você, minha filha.” Ele só queria se livrar de mim, às vezes eu penso que ele só me olha como um objeto de lucro. E acha que eu vou encontrar um mascote decente no meio dessa ralé!
A Fêmea parecia agitada, grasnava sem parar para um outro ao seu lado. Midnight não entendia nada. Mas ele sabia que o Chicote estava brabo, indo em sua direção.
Aquilo era ruim.
De repente Cobra apareceu e saiu do rebanho, ele estava prestes a fazer algo maluco e Angel estava logo atrás com Racer se tremendo ao lado.
Mas assim que a Fêmea viu Cobra e Angel, ela começou a se agitar, seus relinchos agora agudos:
—Minha nossa! Uma albina! Eu não tenho nenhuma albina em minha coleção! Que olhos lindos! Os cabelos são naturais?
O Chicote por algum motivo mudou sua postura, e guinchou agudo:
—Sim, Lady Heartfilia! Foi extremamente difícil de obter esta espécime!
—E esse é da tribo dos bárbaros não é? – Ela latiu enquanto analisava Cobra por todo o corpo. –Dá pra ver pelas orelhas e pela pele. Eu quero os dois na minha coleção! Loki! Compre o resto como cortesia!
—Sim, senhorita – respondeu um outro esquisito de cabelos de fogo.
Midnight sentiu um arrepio com cena sem saber o porquê.
A Fêmea pegou Angel e Cobra pelo couro e mostrou a arcaria dentária.
—Eu vou brincar tanto com vocês!
Mais outros significava mais coisas ruins. Midnight estava assustado com tudo aquilo. Seus instintos gritavam para fugir, mas as pernas não lhe obedeciam.
Isso foi apenas a menor das calamidades.
Um estrondo forte foi ouvido por todo o local.
Algo havia chegado.
—Senhorita, ele está aqui! Vamos embora – rugiu o outro de fogo.
A Fêmea estava desesperada.
—Era pra estar do outro lado do oceano! Por que está aqui?
—Não sei , senhorita. Só corra!
Algo aconteceu. Algo que era capaz de deixar até mesmo os outros assustados.
Ele só não sabia se era bom ou ruim.
Futuramente, quando tivesse idade para entender as coisas, Midnight entenderia que aquilo que havia presenciado era chamado de Pandemônio. Um evento raro que somente significava uma coisa: Em um mundo onde a Nobreza explorava e esbanjava dos pobres, utilizando-os como gado, existia raças ainda mais poderosas que os hominídeos. A maior delas eram os Dragões, seres terríveis e invencíveis que reinavam sobre todos os seres vivos, eles eram predadores cruéis que enxergavam as outras espécies somente como vermes prestes a serem devorados. Quando eles chegavam uma calamidade acontecia e fritavam e comiam tudo ao seu redor.
No entanto havia algo pior, eles de início eram chamados de heróis, homo sapiens habilidosos e detentores de tamanho poder que eram capazes de rivalizar com os Dragões, eles protegiam a todos, e não ligavam de sacrificar a vida para cumprir esse feito de eliminar o terrível mal. Também conhecidos como caçadores de Dragões eles se assimilavam aos seus próprios predadores para poderem eliminá-los. No meio de tal carnificina suas mentes entravam em colapso e eles perdiam sua sanidade e aos poucos se assemelhavam cada vez mais aos seres que deveriam eliminar, ao ponto de se tornarem monstros sem razão. Aberrações mais temíveis que qualquer outro ser cujo único instinto é saciar sua fome de carne e sangue. Um Pandemônio significava o aparecimento de um desses seres que passava a ser chamado de...
—Quimera! Uma quimera socorro!
—Alguém ajude!
—Por favor! Socorro!
Essa quimera era antes um cavaleiro chamado Natsu Dragneel, conhecido como Salamander, mas naquele momento ele só tinha um nome:
E.N.D.
Homo sapiens correndo por toda parte, grandes, pequenos, outros, não importava a raça todos lutavam por sua sobrevivência e tudo que Midnight enxergava era relinchos, fogo, e carnificina.
Ele andava lentamente queimando tudo que tocasse, tinha características da sua antiga espécie mas mesmo assim não se parecia com ela. Seus cabelos eram rosados como o sangue em neve. Seus olhos eram como vislumbrar o mais quentes dos infernos, ele estava coberto de escarlate líquido e trazia vestígios dos objetos estranhos que os outros costumavam ter junto ao corpo. A primeira que ele agarrou foi a Fêmea. Ele a pegou e enfiou sua boca na dela. Se alguém parasse essa cena poderia até achar romântico, mas a fera cravou suas presas e arrancou a carne espalhando os vestígios por todos os lados. Ele a devorou como um animal faminto sem nenhum tipo de remorso. E os outros presentes não escaparam do destinos, esmagados, asfixiados, queimados ou comidos todos tinham o mesmo destino. O mundo foi manchado de vermelho e as cenas continuavam entrando na mente de Midnight. Ele não conseguia pensar ou entender, e mais uma vez foi salvo por seus companheiros.
—Corre! – gritou Angel.
De repente os quatro se puseram a correr na direção contrária, lutando por suas miseráveis vidas. Eles desviavam dos outros, dos grandes, das outras espécies, tentando o máximo possível escapar. Porém ele eram somente pequenos, estavam desnutridos e fracos, bastou a primeira construção desmoronar para Midnight perder o equilíbrio e ter outro encontro com a terra. Tudo estava vermelho e ele estava ofegante.
Estava deitado, cansado. Ele só queria dormir como sempre fazia. Na terra dos sonhos era quente e aconchegante, ele sempre se sentia bem nela. Por que não? O que tinha de mais? Aquilo era tudo um sonho afinal.
Ele ficou cara a cara com a fera. Midnight sentia um medo que jamais sentiu antes, algo que ele nunca ouviu falar mas que parecia impregnado em seus instintos.
Morte.
Ele ia morrer. De alguma forma, quando pensou nisso, ele não temia a ideia.
Mas a fera o trazia a um mundo de terror só de observá-la. Tinha feições de suas espécie, até cabelo, mas sua mandíbula era avantajada e suas presas salientes, capazes de quebrar qualquer osso, porém sua pele era ora coberta de escamas, ora não. A quimera estava salivando, fumaça saía de suas ventas e ele inspirava como se estivesse analisando o sabor da presa. Ela era quente. Muito quente. E não possuía qualquer sinal de sanidade.
Midnight não tinha idade o suficiente para saber ler expressões, ler o clima de uma conversa, ou se importar com hora e ocasião, todavia ele conseguia entender o único sentimento que passava pela cabeça da quimera.
Fome. Uma sensação de vazio avassaladora. Apesar de Midnight ser fraco e incapaz, ele estava na mesma situação que a quimera, ambos estavam famintos.
Se fosse para acabar que fosse logo, de qualquer forma os dois acabariam com a fome, de um jeito ou de outro. Não temia a morte. Não parecia ter muita coisa pra valorizar. Mas a verdade é que não tinha muita consciência da morte.
“Seja rápido” tentou pedir ao monstro mas não emitiu nem um som.
Sua mente já estava prestes ao colapso e aqueles eram somente seus últimos delírios. Aos poucos, a mente foi se apagando.
Não sentiu mais nada.
Até que acordou.
Ele era um dos raros sobreviventes de um Pandemônio.
Por quê?
Porque era magro, a fera não o achou nem um pouco saboroso pois somente era ossos e pele, talvez achasse a mesma coisa de Racer. Fêmeas ao menos tinham as tetas avantajadas de gordura mas nem isso. Pra o monstro, ele valia tanto quanto uma pedra. Então desistiu dessa presa decidiu ir a outro lugar.
Quem o havia acordado era Angel. Por algum motivo dentre todos os pequenos, grandes, e outros, somente aqueles quatros eram sobreviventes. A construção por pouco não os esmagou, mas Racer era rápido e demonstrou isso pela primeira vez na vida, levou tanto Angel quanto Cobra para uma parte segura e foram soterrados pelos detritos, mas não esmagados. Cobra só permitiu que tentassem sair quando ele parou de ouvir qualquer ruído. Estranho foi que a cobra que ele levava na cabeça os ajudou a encontrar uma brecha. Foi muita sorte.
Contudo uma sorte ridícula quem teve foi Midnight que eles acharam vivo e inconsciente perto do local de desabamento. Vivo. Em um lugar que nada mais restou senão ossos, sangue, carvão e cinzas. Ele conseguiu de alguma forma não ser devorado.
Eles se voltaram contra os outros. Poderia ter acontecido as coisas ruins, mas agora nada importava. Outros, pequenos, grandes, só importava quem vivia.
E quem vivia agora eram os pequenos.
Não tinha mais rebanho, ou Chicote, cordas de ferro, outros. Só tinha eles.
E não tinha mais nada.
Era literalmente um caos. E mesmo tendo liberdade os quatro não sabiam como sobreviver após isso. Não tinham ninguém para ajudar. Comida, água, frio, nada mudou nesse quesito, o que eles não tinham ainda faltava e o que eles queriam não ter os atormentava.
Eles não sabiam o que fazer. Estavam sós, mas livres. Livres, mas sós. Livres. Sós. Livres. Sós.
Livres.
Sós.
Livres.
Não estavam mais sós.
Dias se passaram e a situação dos quatro só piorava. Conseguiram sobreviver achando restos entres as ruínas, mas morreriam logo.
E de repente chegou alguém. Era maior que eles mas não sabiam se era grande ou se era outro. Ou melhor, ele parecia não se encaixa muito nos dois, e se encaixar ao mesmo tempo. Tinha pele escura como cobra e cabelos como os de Angel. Usava objetos estranhos como outros mas tinha tamanho de grandes.
Ele parecia não se importar com o que quer que tinha acontecido ali. Somente se sentou fez fogo com as próprias mãos e começou a mexer em algo que logo ativou o sentido do grupo.
Comida. Como eles estavam famintos.
Midnight foi o primeiro a se aproximar. Estava fraco mas seu estômago rocava e ele salivava por alimento. Ficou perto o suficiente para aquele ser perceber sua presença e rosnar em aviso:
—O quê? Pensei que aqui não tivesse ninguém mas tem quatro?! Vaza daqui, moleque, e fique longe da minha comida.
O mesmo começou a tacar um bastão em sua cabeça que o obrigou a se afastar. Porém nenhum deles saía de lá. Suas barrigas não permitiam e ficaram observando aquele estranho ser agindo como se o mundo não importasse.
Como se raças ou monstros não importasse.
Como se pobreza não importasse.
—Eu já mandei sair daqui, moleque!
Midnight não saiu. Mesmo se saísse não tinha pra onde ir. E ainda assim não queria. Estava fascinado por aquele ser que o olhava diferente de todos os outros de sua espécie. Eles estavam o irritando mas não saíam.
O pobre ser passou a observá-los. E viu como eram tão jovens e pelo que deviam ter passado. Provavelmente era escravos, estavam desnutridos e secos, sujos e cobertos de feridas e cicatrizes. Não sobreviveriam muito tempo.
Sobreviveram ao Pandemônio, mas perderam para a fome.
O mundo as vezes poderia ser bastante irônico e cruel.
O quão forte deveria ser o desejos desses garotos para passarem por tudo isso? Brain cedeu:
—Vem aqui, moleque! – mandou.
Midnight obeceu e lentamente chegou perto do estranho que passou uma tigela com a preciosa fonte de aroma que havia provocado tanto seu estômago.
—Coma – mandou Brain. – Você tá magro, tem que comer para se manter saudável. Mas que merda eu fui me meter – resmungou consigo mesmo.
E ele atacou a comida como se não houvesse nada melhor no mundo. E não havia, ele nunca tinha experimentado sensação tão deliciosa! Comida era tão saborosa assim?
Brain lentamente colocou a mão em cima da cabeça de Midnight e começou a bagunçar seus cabelos com um singelo sorriso.
Logo os outros apareceram também e Brain deu um pouco para cada um que comeram com vontade.
Aquele foi o início de uma relação que Midnight jamais esqueceria. Foi o que mudou sua vida. Naquele momento ele não via pequeno, grande ou outro, gado, rebanho, couro, nada. Foi a primeira vez que ele não viu um animal. Ele viu um ser humano. Um ser humano com outros quatro ao redor.
Foi a primeira vez que ele se viu como um humano.

31 de Maio de 2020 às 05:31 0 Denunciar Insira Seguir história
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Fim

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Bárbara Thomás Por enquanto só olhando

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