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As Edas Élficas, há mui perdidas, revelam mui sobre o passado do mundo, embora vós não acreditais nelas. Que acha de explora-las e tirar tuas próprias conclusões?


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Dos homens e Ítalos

Está escrito nas Edas dos Homens que quando os reinos dos elfos foram varridos do mundo, os deuses não permitiram que a Terra murchasse por muito tempo e garantiram que ela estivesse fértil novamente em pouco tempo. Didir, o Senhor Pai dos Homens, Elfos e Anões, reforjou os poderes sob o firmamento para que tudo fosse mais belo do que nunca: grandes peixes nadavam pelo mar interminável com o céu escuro e uma imensidão de ervas estendiam-se por toda a extensão da terra seca. Mas não havia mais elfos ou anões para desposar aquilo tudo, e o próprio Didir proibiu qualquer outro povo dos condados de voltar a realizar tal transgressão. A era dos condados precisava acabar para o tempo dos homens começar.

Adões, chegou o findo dia tão esperado pelos céus! Ordeno-lhes, brotem do pó! Didir disse para as indomáveis almas de fogo dos homens. E contasse que foi assim que Adão e sua esposa surgiram. Eles surgiram do espaço, mas suas almas não procrastinaram e trataram logo de materializar-se com matéria de carne e pó do mundo.

Os santos pais primordiais da humanidade se estabeleceram em uma terra preparada com carinho pelos deuses, chamada de Ilha de Migarde, que era suficientemente bonita para despertar o amor no coração das novas almas de Didir. E assim foi por muito tempo. Adão e sua esposa uniram-se e tiveram muitos filhos naquela ilha, que se espalharam tão rapidamente que até mesmo os deuses ficaram espantados; mas passados muitos anos, aqueles adões de Migarde viram que o mundo era muito maior do que todos estavam vislumbrando e decidiram partir para outros lugares novos e infinitamente mais vastos. Os homens trataram de cortar os grandes troncos de árvore do lugar para que seus filhos construíssem os barcos com as toras, enquanto suas mulheres e filhas teciam os panos para as velas. Porém, quando as grandes embarcações estavam prontas, as opiniões começaram a se divergir:

Meu coração me seduz para o norte, onde encontraremos terras fartas e eternas. Conduziremos os nossos navios até lá. Disse Eda, o primogênito de Adão.

E quando foi que nossos corações prevaleceram sob a vontade dos deuses? Os ventos e as aves de Didir nos levaram para o oeste. Ita, outro filho de Adão, questionou. Ele era inteligente e indominável, porém mais novo e menos influente que o irmão.

O poder da inteligência que os deuses deram aos homens suplantou o amor entre os irmãos e a grande hoste de Adão se separou pela primeira vez. Elu e seus barcos foram para o sul do mundo. Eda, para o extremo norte. Já Ita, cujo povo era o menor em números absolutos, dirigiu-se para o Canal da Mancha, entre a grande ilha de Us – que ficava bem mais ao oeste de Migarde – e a costa do continente. E contasse que quando Ita desembarcou naquelas praias frias, ajoelhou-se na areia fresca e chamou aos deuses: Senhores, guie os meus, mas não para a privação e sim para a terra cuja fartura responde ao trabalho do homem! O deus Balder ouviu as preces e atendeu-as colocando uma estrela guiadora no caminho daquela hoste nova, mas ao contrário do que os homens imaginavam, os duros dias do povo viriam através do mal dentro dos seus próprios corações e disso nenhuma terra abençoada os protegeria.

Ita seguiu a estrela de Balder sem excitar e seus próximos também trataram de aceitar a empreitada, rumo à terra prometida. Saíram do Canal da Mancha e adentraram o continente, passando por uma infinidade de montanhas acinzentadas em seus territórios escuros; mas por mais que eles andassem, a estrela guiadora permanecia orientando-os para lugares cada vez mais obscuros. Porém, em nenhum momento, mesmo com tantas adversidades, o povo de Ita nunca pensou em desistir, pois era uma gente de bravos corações e fieis aos deuses que lhes respondiam. Depois de duros dias de privação, Ita percebeu que seus sacrifícios não haviam sido em vão, pois viu que a estrela de Balder havia feito-os chegar até um reino belo e perfeito. Tratava-se do reino de montanhas circundantes outrora habitado por elfos e anões, e embora estivesse abandonado a muito tempo, ainda preservava a terra bem cultivada com sulcos de feijão e as muradas dos antigos castelos dos senhores élficos.

Ao contrário de hoje em dia, o formato das terras no primórdio da humanidade havia sido pouco alterado em comparação ao tempo dos elfos e dos anões, logo o novo lar do povo de Ita – chamado nas Edas de Ítalos – ficava no mesmo lugar em que sempre esteve: nas regiões centrais da terra de Cuxe, ao oeste do mar. Era uma região muito pedregosa e seus rios batalhavam uma guerra eterna contra suas numerosas colunas de montanhas altas e imponentes. Quanto mais se adentrava em Cuxe, mais se via o terreno se contorcendo e se transformando em grandes cumes e vales estreitos, mas bem no coração desse reino, o terreno regredia e as montanhas imponentes se acalmavam para dar lugar ás terras dos Ítalos, o povo de Ita. O coração de Cuxe era um território circular e verde, protegido por montanhas acolhedoras e outras inúmeras montanhas posteriores. Ali os Ítalos ergueram um reino rico e bom, cheio de trigo, vinhedos e estradas de blocos de pedra escura que se estendiam de um pico brando até outro. Era impossível alcançar aquelas terras estranhas por conta própria, e Ita só o conseguiu com a ajuda dos deuses, e por isso ele e seus descendentes sempre foram e ainda são devotos aos céus. Ali a pequena hoste se multiplicou sem perturbações externas por mil anos enquanto os demais povos de Adão se espalhavam como estrelas no firmamento em todas as outras regiões da Terra.

Ita viu a sua esposa e tiveram dois filhos: Baldeir e Epica, além de muitos outros moços e moças; e todos juntos governaram com sabedoria toda a fartura do Reino durante quatrocentos anos.

Porém conforme o tempo passava, mais os homens se multiplicavam mundo afora e cercavam as montanhas de Cuxe com suas cidades negras de pedra e fumaça. Isso preocupava muito Baldeir, que logo teria de tomar uma atitude ante a situação, já que seu pai estava ficando velho e logo este passaria a Coroa á diante. Porém o jovem príncipe foi cauteloso e tudo o que fez foi reunir as tropas do Rei e manda-los vigiar as fronteiras, acreditando que os Deuses os protegeria de qualquer agressão externa.

Já Epica, mais jovem e autodeclarado proativo, enfureceu-se com a atitude desleixada do irmão e foi até o Palácio tirar satisfações com o próprio rei: Senhor Meu Pai e Rei dos Ítalos, não vês que o Reino corre perigo e que o Príncipe age despreocupadamente? Perguntou.

Talvez, mas minha coroa será a dele, então ele não deve ser repreendido, mesmo que errado. Os Deuses cuidarão das consequências, se ele tiver que sofre-las.

Mas o Príncipe carrega um fardo muito pesado, e se ele sofrer as consequências, todo o Reino sofrerá.

De fato. Concordou, para a estranheza de Epica. Mas tu ainda és muito moço, e não entende as conduções de teu irmão, pois um dia você compreenderá que ele sabe mais do que qualquer um de nós que os Deuses nos protegem.

E então Epica saiu da presença do Rei, mas não concordou com nada do que ouviu e ainda acreditava piamente que o fim do Reino estava próximo. Decidiu agir por si próprio e foi apressadamente até seus aposentos secretos para arquitetar um plano de salvação dos Ítalos. Ele vislumbrou o mapa de Cuxe: uma grande região, repleta de colinas verdes que se estendiam do Grande Rio até o Oceano; e bem no centro havia montanhas donde se erguia o Reino dos Ítalos. Preciso de um exército grande o suficiente para varrer os descendentes de Eda que inundam as nossas fronteiras de volta para o buraco donde vieram! Pensou, maquiavelicamente. Mais maquiavelicamente, pensou em assassinar o príncipe, pois com o irmão morto, tornar-se-ia rei assim que chegasse a hora do pai. Não parou nem para pensar duas vezes, pois acreditava que cada segundo era dorsal, e foi reunir algum exército que lhe eram suficientemente leais para a empreitada.

Dez mil soldados e seis mil cavaleiros eram a força de Epica, e eles marcharam junto ao pretendente a fratricida para o norte do país, donde esperariam até que chegasse a hora perfeita para saltar ao campo e atacar as forças de Baldeir desapercebidamente. Mas acontece que um mensageiro do Rei viu o grande exército se movendo e imediatamente correu até o Palácio Real para comunicar o rei sobre o que estava acontecendo. Quando lá chegou, já era de madrugada e o rei já tinha adormecido, mas o Príncipe ainda estava acordado e por isso foi alertado primeiro pelo mensageiro:

Vossa Alteza, o Infante Epica marcha secretamente, sem estandarte. Temos que avisar o rei!

Não, não mesmo. Se Epica marcha sem estandarte, então suas intenções não são boas. O rei morreria de desgosto se soubesse disto agora. Eu mesmo resolverei esta situação.

Então Baldeir mandou uma mensagem para as fortalezas nas montanhas do norte, ordenando que suas guarnições marchassem para o sul e interceptassem Epica por uma frente de combate aberta ao norte, enquanto as tropas comandadas diretamente por Baldeir avançassem de encontra a Epica pela direção oposta, cercando-o e estrangulando sua rebelião.

E aconteceu que a terra que os deuses tanto se sacrificaram para torna-la boa e rica, a terra de Cuxe, acabou por se transformar no palco da primeira batalha travada entre as forças do homem; e foi a primeira de muitas. No primeiro dia de combate, Epica tomou a dianteira em um ataque avassalador que, embora tenha lhe custado a vida de grande parte de seu contingente, arrastou as unidades de Baldeir vindas das montanhas de volta para as fortalezas donde haviam saído. Mas o traidor não foi ambicioso e depois desta vitória se limitou a reunir suas tropas e montar suas linhas de defesa no topo das colinas íngremes de Cuxe que antecedem os cumes do norte.

Oh, Balder, deus que deu o nome que meu pai me deu, permita que eu puna meu irmão assim como tens permitido que os inocentes punam os culpados desde o início dos tempos. Baldeir pediu ao deus protetor de Cuxe.

Durante os dias seguintes, as forças reais montaram o cerco sobre as colinas de Epica e as atacaram três vezes, e nas três vezes foram rechaçados. Então o Príncipe viu que de nada adiantava tentar lutar contra o irmão, que estava baseado em terreno mais elevado e de difícil acesso. Aconteceu que no quarto dia de batalha os dois filhos do rei propuseram baixar as armas para sentar e conversar, e assim foi, quando eles se encontraram na terra de ninguém.

É triste ver que enlouqueceste, Epica. Disse Baldeir.

Poderia dizer o mesmo de ti e o Rei, respondeu. Embora ainda houvesse alguma cordialidade quando se apresentaram cara a cara, era claro que tudo o que um desejava era a morte do outro. Ou ainda não admitiram que não estão conseguindo observar a realidade nua e crua com clareza?

E tu não entende mais que entender tudo com razão não está acima do que a fé nos deuses?

Então peça ajuda aos deuses quando Eda cair sobre vós, que eu estou saindo desta terra condenada que chama de reino.

E assim foi, quando Epica cumpriu sua palavra: saiu da presença do príncipe, pegou tudo o que lhe pertencia e seus homens (e as famílias de seus homens) mais fieis para partir de Cuxe. Foram para longe, para o norte sombrio do mundo onde desapareceriam por um bom tempo.

Assim estava acabada a primeira grande batalha do mundo dos homens, assinalando com isso a cisão do povo de Ita e somente o início da desgraça da mesma. O Rei, vendo que a partida do filho e os desdobramentos do problema causariam inconcebível dor ao povo que era sangue de seu sangue; adoeceu de desgosto e morreu, passando a coroa para Baldeir em 602 E.M. Sob seu reinado as coisas no reino se aquietaram novamente, porém muitos grandes acontecimentos envolvendo os Ítalos aconteceriam sobre a Terra.

28 de Junho de 2020 às 22:57 0 Denunciar Insira Seguir história
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