https://www.youtube.com/watch?v=V7deG88fT0I
~
Pobre criatura...
Crente, inocente, inerente ao amor,
padeceu por tê-lo tão
abundantemente dentro de si...
Cresceu cercada de doces afetos,
rodeada de mimos delicados e
constantes palavras de ternura
e aconchego protetor...
Cresceu achando que
encontraria tais dulçores
do outro lado dos muros
de seu castelo...
A fortaleza erguida ao seu redor
como redoma protetiva,
protegia-a dos perigos do mundo,
mas também a afastava das experiências
e aprendizados da vida...
Com isso, ela sofria...
Cansada demais de ver a vida passar
bem diante de seus olhos,
assistindo ao nascer e recair do sol
sentada de sua janela,
sem nunca provar uma gota sequer
das maravilhas do mundo lá fora...
Um dia, então, ela resolveu mudar
seu tão triste destino.
Desabrochou, quando a hora certa chegou e,
finalmente, atravessou os portões
de sua grande fortaleza.
E quando as portas se abrira, ah,
que gloriosa visão!
O mundo do lado de fora era lindo!
Reluzente, sonoroso e caloroso,
tão repleto de nuances e texturas,
um verdadeiro paraíso aos olhos e sentidos.
Aos pouquinhos,
a jovem criatura foi descobrindo o espaço,
conhecendo todas as suas facetas,
as boas, as incríveis, mas as más também.
Aprendeu que, às vezes, a sua felicidade
pode ser a dor de outra pessoa.
Aprendeu que nem todos os sabores são doces,
mas que até os mais amargos podem,
em algum momento, revelar um aprendizado.
Aprendeu que nem todos são capazes
de se doarem como ela fazia.
Aprendeu que todos são diferentes,
e isso abrange seus pensares e agires.
Aprendeu que sentimentos são
bichinhos sabidos e perigosos, que podem
te levar por caminhos inimagináveis.
Aprendeu que nem sempre ser forte
significa não sentir...
Ela aprendeu muito, tanto,
que finalmente entendeu a razão que motivou os amados pais
a construírem tão grandioso castelo ao seu redor...
Não era uma prisão, era um refúgio!
Porque eles sabiam que, cedo ou tarde,
ela floresceria para o mundo e esse,
claramente indigno de sua tão grandiosa doçura e bondade
a faria sofrer, inegavelmente...
O sofrimento é, por vezes, inevitável,
mas às vezes, só às vezes,
o Destino abre uma brecha em suas pinturas e,
quase compadecido,
liberta-nos do fardo do previsível,
dando-nos a chance de uma vez mais,
tentar, arriscar, ultrapassar o que havia sido estipulado,
alçando voos inesperados,
desbravando paisagens novas...
Assim, ao encarar um novo horizonte,
talvez, a visão de nossa antiga janela
passe a fazer sentido...
E foi o que aconteceu à ela.
Ela desbravou o mundo,
buscando nele, algo que sempre estivera
ao alcance de seus dedos...
Ela buscava por um amor,
puro, sublime, etéreo, singular...
Um que a fizesse pulsar em euforia,
que a envolvesse em calmaria,
que a fizesse flutuar sem sair do chão,
que a fizesse sorrir sem razão,
que fosse capaz de fazê-la esquecer de tudo,
que a fizesse querer gritar para os quatro ventos
a liberdade que a inundava...
Pobre criança, achava que encontraria do lado de fora,
um amor igual àquele que se acostumara,
desde que nasceu...
Mas, Vida tratou-lhe de ensinar que amores assim,
nunca são iguais em dois ponto diferentes do globo.
O amor que ela buscava,
que tanto queria,
talvez nunca existisse...
Talvez nunca cruzasse seu caminho...
Talvez... Nunca pudesse lhe pertencer.
E foi nesse momento que,
pela primeira vez na vida,
ela desejou nunca ter sabido
o que havia do outro lado daqueles portões....
Então ela chorou...
Chorou como a chuva cai do céu,
incansável, constante, fria.
Chorou até perceber que chovia...
Ela chorava, o céu chovia.
Ela estava na chuva, chorando o que
almejava e jamais teria.
Morrendo por dentro,
ela quer achar que isso é uma mentira...
Porque não pode ser!
A vida não pode ser resumida
a dor constante de uma existência vazia...
Não pode ser apenas um estágio para
o total vazio, a eterna solidão...
Não, não pode ser...
Não!
Não é!
Não.. pode ser.. não pode...
Ela estava na chuva,
encarando o reflexo de seu passado,
sem perceber que não havia nada para
se ver... Não havia passado,
nunca houve futuro...
Então... O que há?!
Apenas o silêncio? Apenas... Solidão?!
Tantos pensamentos,
tantas vozes,
tantos planos,
tanta coisa para ser dita,
tanta coisa ainda para se sentir...
Então... Porque não havia mais sentido algum?!
Ela não sentia mais as gotas de chuva contra sua pele,
nem o vento gelado, ou a sensação fria do pranto do céu.
Não havia mais nada para se sentir.
A não ser...
A não ser...
Estranho.
Não havia mais frio,
ou tremores pela pele,
ou calafrios,
nem a sensação de vazio.
Porque não havia mais tilintar de
gotas em poças?
Porque os trovões não mais
rasgavam os céus?
Porque... Tudo parecia tão calmo de novo?
Não deveria ser assim...
A solidão deveria ser caótica mas,
mas não havia caos algum,
nem medo, nem frio, nem desolação, nem nada.
Quando foi que aquele calor começou
a envolvê-la, com tanto cuidado?
Quando foi que... a chuva parou?
Talvez, no momento exato
em que ele chegou...
Ele chegou, e deixou para trás
todos os temores,
o frio constante na alma,
a inquietação e o pavor.
Ele chegou... E trouxe com ele,
a singeleza da paz.
A pobre criatura, que tanto tremia,
passou tempo demais temendo a solidão,
que não se deu conta de que nunca esteve só...
Ele sempre esteve lá, apenas observando,
cauteloso, terno, protetor, atento,
esperando o momento certo de revelar-se e,
finalmente, concretizar o que sempre
esteve escrito nas estrelas...
Ela temeu tanto,
que não teve olhos para enxergar
aquilo que revelava-se
bem diante de seus olhos...
Com brilho soturno,
com cheiro de madeira e promessa,
com tessitura de trovoada e cadência agridoce,
com toque de veludo macio em torso adusto...
Ele era real! Ele existia...
E estava ali,
acalentando a compleição fragilizada
com tudo o que havia em si.
Ele esteve ao seu lado,
mesmo quando ela não o via...
Ele esteve ao seu lado,
mesmo quando ela não o sentia...
Ele esteve ao seu lado,
mesmo quando ela não entendia...
Ele esteve ao seu lado,
mesmo quando ela não o ouvia...
Ele permaneceu,
mesmo quando ela duvidou,
mesmo quando ela praguejou,
mesmo quando perdeu a esperança,
mesmo quando ruiu em meio a dor...
Lá ele permaneceu,
bem ao seu lado,
como seu fiel cavaleiro de armadura,
a postos não para o resgate, mas sim,
para a exploração pelo que ainda não havia
sido visto ou tocado.
Ele esteve com ela...
O tempo todo...
Até mesmo ali,
quando o céu chorava,
e ela desabava...
Num sussurro aflito e carregado de anseio,
questiona ansiosa...
'Quem és tu?!'
E ele, com o sorriso refletindo o brilho
celeste de mil e um sóis em verões cálidos,
sussurra-lhe a primeira promessa que,
verdadeiramente, seria o voto eterno de entrega
e inigualável conexão.
'Eu sou o sonho que você sonhou acordada...'
disse-lhe, as falanges afastando o pranto,
os dígitos gravando feito ferro em brasa na pele,
os dizeres puros de um coração
avassaladoramente entregue ao sentir.
Sim, ele era real...
O Amor se fez presente,
em forma de gente,
com um único propósito...
Transbordá-la e transbordar-se,
sem ressalvas, sem temores...
Porque ainda que nada exista ou resista,
o amor ainda será amor..
Porque o amor simplesmente... É!
YDC, 12/05/2020, 21:25h |
Obrigado pela leitura!
Podemos manter o Inkspired gratuitamente exibindo anúncios para nossos visitantes. Por favor, apoie-nos colocando na lista de permissões ou desativando o AdBlocker (bloqueador de publicidade).
Depois de fazer isso, recarregue o site para continuar usando o Inkspired normalmente.