No começo pensei que onde morava era terrível, que me torturava. Me mudei e a princípio tudo era flores, mas não entendia o porquê da antiga moradia agora parecer tão aconchegante. Não era a casa, é a sua presença. Você é quem tem como culpa me sentir desse jeito. Espero um dia fugir de você, e assim encontrar meu verdadeiro lar

Te vi caído, bem no meu cantinho de flores. Parecia dormir profundamente, sem saber que era eterno. Te peguei na minha mão e tentei acariciar seu coração. Perdão, falhei em te trazer de volta a vida.

Costelas de letras, órgãos de palavras. No meu sangue corre acentos, pontos e vírgulas. Respiro sinfonias e romances, do meu pulmão nascem significados e sinônimos. E o pior de tudo, minhas lágrimas são feitas de livros. Como é difícil a anatomia do escritor

—Então essa foi sua decisão? É o fim? —É o fim. —Depois de tudo isso? Olha o quanto vai perder, você tem tudo em suas mãos. —Eu não quero mais essa vida. E você sabe que para eu sair disso só um de nós pode continuar vivo, não é? —Pelo visto nossa história termina aqui. Só há um caminho para o fim.

Quando entro nessa casa, não me sinto mais a mesma. Não sou mais parte dela, uma coisa comum e diária, sou uma atração, novidade. Tudo é para mim, sempre o melhor para mim, todo o carinho para mim... por que não era assim antes de eu dar adeus?

Quando olha em meu rosto, fundo em meus olhos, qual a visão que você tem? O passado ou sonhos que nunca aconteceram?

Certa vez, voltava para casa, acompanhada apenas pela escuridão abrangente da noite. Diante dela, avistei uma mulher na calçada, sob uma bela vestimenta branca e longos cabelos pretos. Com o farol alto vinha um carro em nossa direção, tendo ambas a sorte de estarmos na calçada. Todavia isto não me foi suficiente para fugir da luz do farol, que me cegou brevemente. Ao poder ver novamente, notei que não havia nenhuma mulher presente, apenas um poste, o qual até hoje sinto um pouco de vida nele

Os céus já não eram mais azuis como antes, pelo contrário, eram cinza, talvez um tom deprimente de marrom. As ruas que antes estavam sempre movimentadas agora estão deixadas para o vento, a chuva e os animais que tivessem coragem de sair de suas casas e esconderijos. Não havia mais canto dos pássaros, apenas sirenes altas e torturantes, as quais solicitavam à população não sair de casa e se manter longe das janelas e portas. Mas neste dia estavam diferentes, era o último dia da humanidade.

Durante muito tempo na história da humanidade, cartomantes têm em suas mãos a habilidade de saber o futuro. No entanto, nem tudo que o destino aguarda que pode ser descoberto. Um cartomante, poderia ter sido qualquer um dos vários existentes, decidiu ir além do que fazia, seguir o caminho que sempre lhes foi proibido. A vida não foi a mesma desde então, nada foi igual desde este dia para o cartomante curioso. Até porque, ele nunca mais foi visto desde então