pcsp P C S P

Passado de geração para geração, o poder da linhagem Sparda parecia estar fadado à extinção, pelo menos era isso que Dante imaginava. Com o reconhecimento de seu parentesco com Nero e tudo que Vergil lhe revelou em sua estadia no Inferno, Dante perceberia o quão errado estava em seus julgamentos e que, mesmo achando erroneamente que já vira de tudo nessa vida, ainda era possível se surpreender com novas revelações. Ao mesmo tempo, Nero e Kyrie aprenderão que a linhagem Sparda se perpetuará por mais algumas décadas, uma vez que o sangue é muito mais poderoso do que Nero poderia imaginar. Dante x Vergil / Nero x Kyrie. Pós Devil May Cry 5.


Fanfiction Jeux Interdit aux moins de 21 ans.

#a-b-o #omegaverse #mpreg #lemon #yaoi #incesto #twincest #dante #vergil #Danver #Dante-Vergil #Nero #Kyrie #Nero-Kyrie #Nerokiri #Devil-May-Cry #dmc #DMC5 #romance #família #spoilers #Pós-Devil-May-Cry-5
1
5.2mille VUES
En cours - Nouveau chapitre Tous les 30 jours
temps de lecture
AA Partager

Capítulo 1

Disclaimer: Os personagens da fanfic pertencem à CAPCOM; a trama, no entanto, me pertence. Não autorizo reprodução total ou parcial do conteúdo aqui descrito em outros sites ou meios de comunicação.

Warning: Spoilers, Violência, linguagem chula, biologia/instinto demoníaco (A/B/O ou omegaverse), twincest, homossexualidade, heterossexualidade, bissexualidade, família disfuncional, sexo e mpreg.


Sinopse: Passado de geração para geração, o poder da linhagem Sparda parecia estar fadado à extinção, pelo menos era isso que Dante imaginava. Com o reconhecimento de seu parentesco com Nero e tudo que Vergil lhe revelou em sua estadia no Inferno, Dante perceberia o quão errado estava em seus julgamentos e que, mesmo achando erroneamente que já vira de tudo nessa vida, ainda era possível se surpreender com novas revelações. Ao mesmo tempo, Nero e Kyrie aprenderão que a linhagem Sparda se perpetuará por mais algumas décadas, uma vez que o sangue é muito mais poderoso do que Nero poderia imaginar.

Dante x Vergil / Nero x Kyrie. Pós Devil May Cry 5.


N/A: Olá, cuties.

Eu sei que estou bem ausente do mundo das fanfics. Não posto nada há meses (mais de ano, se for parar pra pensar), estou em atraso com as respostas das reviews (apesar de ler todas) e agora venho na maior cara de pau postar fanfic em fandom que nunca postei, com temática polêmica que nunca explorei. Nem tenho o que dizer em minha defesa... Mas vou tentar.

Sabe... a inspiração anda tão fraca ultimamente, os problemas da vida tão intensos perto da vontade de escrever, que eu resolvi aproveitar a oportunidade de quarentena para rever este projeto. Sei que, para a grande maioria dos meus leitores habituais, esse fandom não faz o menor sentido. Mas faz para mim, e eu estou inspirada pra escrever Devil May Cry depois de anos e anos lendo fanfics e acompanhando a franquia.

DMC é importante pra mim e pra minha escrita, porque foi neste fandom que eu tive o primeiro contato com fanfics de incesto (e, bem, a minha preferência por incesto aqui no mundo das fanfics é bem evidente), além de ser uma das franquias que mais me gerou identificação. Eu me identifico tanto com o Vergil, mas tanto, que eu tenho essa identificação marcada na pele com uma tatuagem (veja bem, eu não tenho nenhuma outra tatuagem pra obra de ficção, viu!).

Começou como uma oneshot, mas atualmente é uma threeshot. A fanfic ficou engavetada por alguns meses, pois eu estava com medo de postar e ninguém gostar. Mas ah, o que eu tenho a perder postando isso aqui?

Perdão por não ser uma atualização de Haunted ou Pilares da Criação. Quem sabe isso não seja um indício de retorno? Talvez eu ainda consiga voltar... um dia... Por enquanto, bora escrever omegaverse e surpreender todo mundo, porque eu sei que por isso vocês não esperavam, certo?

Aos leitores que caíram de paraquedas aqui: espero que gostem da leitura! Caso conheçam o fandom, boa aventura! Caso não conheçam, elaborei notas explicativas e um glossário ao final do capítulo, para tentar sanar as dúvidas que possam surgir.

Opiniões são muito mais do que bem vindas, ainda mais para uma autora em crise de hiatos que parece nunca passar.

Por fim, mas não menos importante, obrigada à minha amiga Sabrina pela betagem!!! Você é uma linda!!

<3


Observação: Obviamente, contém spoilers da franquia de Devil May Cry. Cronologicamente, a fanfic começa após os eventos de Devil May Cry 5. Há menção do enredo dos jogos de Devil May Cry 1, 3, 4 e 5 (e suas respectivas versões expandidas), anime, novel de DMC5, mangá prequel de DMC3 e Visions of V. Os jogos e novels de Devil May Cry 2 e DmC (reboot) foram desconsiderados no universo desta fanfic – porque a Capcom precisa decidir o que fazer com a cronologia da franquia antes de eu utilizar esses dados, lol. Tá pra nascer franquia menos linear do que essa... E QUE VENHA OS REMAKES, POOOOR FAVORRR! CHEGA DE REMAKE DE RESIDENT EVIL, QUEREMOS REMAKE DE DMC!

Apesar dos spoilers, creio que a leitura seja compreensível para qualquer um que tenha jogado apenas o DMC5 ou ao menos saiba mais ou menos a história da família Sparta.


LINHAGEM

by PCSP


16 de junho – 19h35min

Fortuna


Nero não sabia dizer em que momento acabou dormindo no caminho de volta para Fortuna (e, sendo bem sincero, não compreendia como conseguiu adormecer com a louca da Nico enfiando com tudo o pé no acelerador), mas sobressaltou-se ao acordar com um brusco solavanco seguido de um ruído seco de frenagem. Abriu os olhos, bocejou, esticou os braços para cima e esperou seus olhos se acostumarem com a claridade alaranjada do pôr-do-sol.

“Lar doce lar, mano.” Nico comentou casualmente, tragando fundo o seu cigarro enquanto estalava o pescoço despreocupadamente.

Ela parecia cansada: seus cabelos castanhos ondulados estavam bagunçados pela viagem, os dedos da mão direita amarelados pela quantidade de cigarro exorbitante que fumara nas últimas horas, suas roupas amarrotadas e os óculos pareciam mais sujos do que o para-brisa da van. Certamente ela também merecia um bom e desejado descanso depois de toda loucura do dia anterior.

Nero suspirou, sorrindo suavemente enquanto olhava o orfanato. Conseguia ouvir o barulho das crianças: as risadas e gritaria indicavam que elas muito provavelmente brincavam na sala e, a julgar pelo horário, Kyrie estaria cozinhando o jantar.

Lar doce lar. – Pensou, sonhando com a futura familiaridade que receberia assim que adentrasse aquela casa. Matar demônios era algo que ele amava, mas... Ah... Ele amava Kyrie e as crianças muito mais.

“Ok.” Nero resmungou, abrindo a porta da van e sentindo seu corpo vibrar em agradecimento por ter finalmente se mexido depois de tanto tempo sentado.

Red Grave ficava longe demais de Fortuna, o que o deixava reconfortado por saber que finalmente os trabalhos diminuiriam: com o fechamento do portal do submundo na cidade, as aparições de demônios iriam se tornar cada vez mais raras, e Morrison não ligaria com um novo trabalho tão cedo. Se, por um lado, isso resultaria em um aperto no orçamento, por outro significava que ele teria mais tempo com Kyrie e as crianças. No momento, ele não podia desejar nada além disso.

“Não vai nem me oferecer um copo d’água?” Nico questionou, debruçando-se pela janela para olhar enquanto Nero dava a volta no veículo com os pés arrastando em exaustão “Ou Vodca. Vodca seria bom!”

“A coisa mais alcoólica que temos aqui é a gasolina na oficina, se você quiser.” Nero respondeu com um olhar de desafio, se divertindo com a expressão de nojo da amiga.

Nico sabia que Kyrie não deixava bebidas alcoólicas entrarem no orfanato, afinal, ‘não é apropriado para um ambiente com crianças!’. Nero sabia que Nico se lembrava muito bem de todas as broncas de Kyrie e só trouxera o assunto para provocar.

“Kyrie continua bem restrita com essa questão de bebida, né?” Nico riu, jogando a butuca de seu cigarro no chão, quase acima dos pés de Nero “Como sempre é ela que põe ordem nessa joça, seu pau-mandado.”

Ele fitou com desdém para o maldito pedaço cancerígeno e pisou com vontade, apagando a chama. Kyrie podia odiar a bebida, mas ele certamente entendia sua amada quando pensava nas crianças perto de Nico fumando aquela porcaria.

“A palavra final é sempre minha.” respondeu, tentando (inutilmente) manter sua voz em um tom calmo. Tudo que Nico queria era provocá-lo, mas ele não lhe daria a satisfação.

Ou pelo menos era isso que ele queria...

“Claro que é! Você sempre finaliza qualquer discussão com ‘Sim, senhora’.”

“Cala a boca, Nico!”

Ele girou os olhos enquanto Nico, satisfeita, ria de sua cara.

Nero deu-lhe as costas quando ouviu a porta do carro se abrir. Ainda que ele quisesse um tempo a sós com Kyrie, é claro que Nico iria entrar para jantar. Ele não fez um convite porque simplesmente não precisava: ela era praticamente da família e essas formalidades eram totalmente desnecessárias. Afinal, Nicoletta Goldstein era mais uma órfã para a coleção de órfãos de Fortuna.

Pensando bem, será que agora ele estaria fora da lista de órfãos de Fortuna? Afinal, Vergil...

Tsk. Vergil é um idiota. Ponto final.

“Ei, durão, espera um pouco.” ela o censurou, segurando seu ombro e fazendo-o se virar para encará-la “Não é bom você cobrir esse braço aí? Quer um devil bringer para disfarçar? As crianças vão fazer muitas perguntas e acho que você vai querer mostrar pra Kyrie primeiro.”

Nero olhou para o seu braço recém-regenerado, abrindo os dedos da mão como se ainda se acostumasse com sua existência. Apesar de já ter se passado algum tempo, tudo parecia tão surreal que às vezes ele esquecia que havia surgido um novo braço direito no lugar do devil bringer amputado, um dos ótimos efeitos colaterais de ativar seu devil trigger por completo. Certamente a regeneração do braço não era a coisa mais chocante de sua aventura e, talvez por isso, ele não lembrava tanto do ocorrido. Ou talvez a naturalidade de novamente um braço o fazia se esquecer, porque era confortável e fácil de se acostumar com algo bom na sua vida, só pra variar um pouquinho.

“Bem... talvez seja uma boa.” ele aceitou, dando de ombros.

Nico sorriu um sorriso sacana, cruzando os braços e o olhando com uma expressão de ironia.

“Eu adaptei o sweet surrender para você usar junto com seu novo braço, sabia? Kyrie vai a-m-a-r!”

Nero corou dos pés à cabeça e respirou fundo para responder, mas optou por continuar sua jornada para dentro de casa enquanto mostrava o dedo do meio para Nico às suas costas, tentando ignorar a gargalhada da amiga e recompor sua dignidade.

Nico era tão... obscena! Como podia uma moradora de Fortuna criar um braço mecânico vibratório (deixando extremamente claro para o que esse devil bringer servia) e fazer esse tipo de insinuação? E depois era ele que tinha o título de rebelde da cidade! Hipocrisia! Sweet surrender deveria ser censurado, isso sim!

Seu rubor já havia diminuído consideravelmente quando subiu na varanda da frente da casa e foi subitamente recepcionado com uma das crianças: Kyle escancarou a porta da frente, correndo em sua direção e jogando todo o seu corpo contra a suas pernas para abraçá-lo.

“NERO!” o garotinho gritou, apertando-o com toda a força que seus bracinhos infantis possuíam. Nero sorriu ao ouvir o burburinho que se iniciava dentro da casa, sabendo que em questão de segundos estaria rodeado pelas crianças. Abaixou-se e pegou o pequeno em seus braços, fazendo-o sentar-se em seu braço direito enquanto o carregava.

“Voltei!” ele anunciou, divertindo-se ao ver o garoto sorrir, mostrando uma janelinha em seu sorriso. Algumas semanas fazem diferenças no visual das crianças, o tempo é uma arma impiedosa e irreversível. Nero se sentia levemente triste por não ter presenciado o momento em que o pequeno perdeu aquele dente-de-leite.

“Nero!!”

Julio e Carlo saíram da porta da frente em debandada, gritando e correndo ao seu redor, abraçando-o e puxando-o para dentro de casa. Nico assistia toda a cena de longe, com um sorriso verdadeiro nos lábios.

Era surreal para ela como um rapaz como Nero, tão habilidoso em estripar demônios, poderia ter uma aura paternal tão forte com aqueles três órfãos ranhentos.

Talvez seja um dom. – Ela pensou, casualmente. – Um dom que certamente ele não herdou do babaca do V...


(***)

16 de junho – 19h50min

Fortuna


Quando as crianças finalmente deram uma folga para Nero e começaram a se entreter com Nico e as gambiarras que ela criava (‘O que eu faço é arte, Nero! ‘Gambiarra’ é essa bosta inútil que você tem no meio das pernas!’), ele pôde entrar subir para o segundo andar e procurar por Kyrie, que estranhamente não fora até o lado de fora recepcioná-lo.

Era muito curioso que ela não o tivesse recebido, porque logicamente a gritaria das crianças a teria alertado para a sua chegada.

“Kyrie?” ele chamou, sentindo um frio na espinha repentino. Apavorado com a perspectiva de perder Kyrie novamente. Claro que a chance disso acontecer de novo era remota, mas o trauma dos acontecimentos de cinco anos atrás ainda o deixava receoso, e como ele foi atacado em sua casa no passado, era natural que se sentisse ainda inseguro. Perder Kyrie novamente era algo que o deixava em completo pânico e, por isso, ele correu em direção ao quarto do casal, escancarando a porta com força “KYRIE!”

“Nero!”

Kyrie estava bem, viva, intacta, e belíssima como sempre: seus cabelos lisos estavam em um tom de castanho um pouco mais escuro do que o convencional, possivelmente molhados; ela usava uma toalha comprida enrolada ao redor do corpo, e ainda tinha algumas gotas de água sob sua pele. Nero suspirou em alívio enquanto ela corria em sua direção, se jogando em seus braços em um abraço apertado e cheio de saudades.

“Eu estava no banho, não ouvi você chegar!” Ela se justificou, apertando-o com delicadeza e descansando seu rosto em seu peito. Nero descansou o queixo no topo da cabeça da garota, e confirmou que seus cabelos ainda estavam úmidos e relaxou.

“Eu senti sua falta.” Ele disse, beijando o topo da cabeça de sua namorada, deliciando-se em sentir o perfume de seu shampoo habitual.

Apesar de apreciar o frescor de banho tomado na namorada, Nero se sentia um pouco incomodado. Geralmente ele não daria a mínima para seu visual e sua higiene quando picotava demônios por ai, mas para Kyrie ele gostava de estar no mínimo apresentável. Ele fez o que pôde na van, tomando banho no chuveiro minúsculo que Lady inaugurou (e chegando a conclusão que ele teria que fazer ajustes no sistema hidráulico cedo ou tarde), mas ele não tinha peças de roupas novas para vestir, tendo que colocar sua vestimenta suja de sangue e suor para não chegar em Fortuna totalmente nu (não que Kyrie fosse reclamar, é claro).

Sua doce namorada, no entanto, sequer parecia se importar com seu estado deplorável, afastando-se minimamente dele apenas para encará-lo, levando as mãos em seu rosto e acariciando suas maças com os polegares, como se ele fosse a coisa mais preciosa do mundo.

Nero corou, porque Kyrie sempre o fazia corar como um adolescente, mesmo que já estivessem tantos anos juntos.

“Eu também. Eu estava com tanto medo... Mas você voltou inteiro.” Ela brincou, ainda sorrindo e recebendo um selinho na palma de sua mão enquanto ele a olhava com aquele ar apaixonado de sempre.

“Mais inteiro do que você imagina.” Ele respondeu, erguendo seu mais novo braço e colocando-o no campo de visão de Kyrie.

Ela arregalou os olhos, afastando-se um pouco em surpresa.

“C-como-...?” o questionamento de Kyrie soou baixo, como um sussurro, surpresa pela revelação.

“Muitas coisas aconteceram, Kyrie, muitas coisas.” Ele a puxou para perto com seu novo braço em um abraço menos fraternal e mais sexual. Ele ainda era um jovem de vinte anos que ficou mais de um mês longe da namorada “Acho que teremos muito tempo livre para eu te contar as novidades depois.” Kyrie abriu a boca para protestar, mas Nero a calou ao puxá-la mais incisivamente, fazendo-a arfar de leve ao ser pressionada contra o seu corpo “E, antes que você reclame, Nico está cuidando das crianças”.

Ela riu, encabulada, corando de leve enquanto se erguia na ponta dos pés para beijar-lhe os lábios, cedendo aos anseios que ambos possuíam quando finalmente se encontravam depois das longas viagens de Nero a trabalho.

E logo as roupas sujas de Nero, junto com a toalha molhada de Kyrie, nada mais eram do que um pequeno inconveniente descartado esquecido no chão.


(***)

16 de junho – 21h55min

Fortuna


“Então... Dante é seu tio?”

Nero fez um ruído de desagrado no fundo de sua garganta; Kyrie apenas acariciou seus cabelos com ternura, enquanto ele contornava a silhueta despida de sua namorada com os dedos, sentindo que o suor na pele dela já havia secado.

Sexo era bom, mas sexo com saudades era ainda melhor. Ainda bem que Nico teve o mínimo de camaradagem e colocou as crianças para dormir, porque Nero e Kyrie certamente perderam mais tempo do que intencionaram no quarto do casal. Quando finalmente controlaram seus hormônios, Nero contou a Kyrie tudo que aconteceu em Red Grave no último mês, aproveitando o conforto de estarem juntos, nus e despreocupados, relaxados e desinibidos – sensação essa que raramente tinham, seja por conta das crianças enxeridas ou das hordas de demônios que atormentavam sua paz volta e meia. (1)

“É uma forma de ver a situação, mas eu nem tinha pensado nesse detalhe, pra ser sincero.” Nero revelou, ainda um pouco irritado com toda aquela reviravolta.

Não que Nero não soubesse que Dante era seu parente: Sanctus falou que ele era um descendente de Sparda e, como Dante era filho do lendário cavaleiro das trevas, o parentesco entre os dois certamente existia. Quando toda confusão de cinco anos atrás acabou e Nero finalmente salvou Kyrie, Dante inclusive deixou Yamato em seu poder, após ter dito que a katana tinha que “ficar na família”. Nero não era burro, o parentesco era evidente. (2)

Entretanto, Nero jamais, jamais mesmo, imaginou que o parentesco fosse tão próximo. Sparda era um demônio poderoso que selou a abertura entre o mundo dos humanos e o submundo há mais de 2000 anos, vivendo em diversos países da Europa desde então. Ainda que Sparda tenha finalmente casado com Eva e formado uma família há algumas décadas, ele viveu durante séculos entre os humanos até aquietar o facho. Talvez tivesse outros filhos espalhados por aí, que geraram descendentes e... Enfim, Nero achou que ele era algum desses bastardos, e não um membro da linhagem direta dos famigerados gêmeos Sparda.

A concepção de que Vergil era seu pai (e, consequentemente, Dante era seu tio) era difícil de assimilar. Ainda que tivesse aceitado o que isso significava no momento do desespero ao topo do Qliphoth, agindo exclusivamente sob o efeito de seus instintos e intuições, quanto mais ele pensava racionalmente sob o assunto, mais surreal tudo parecia.

Vergil não podia ser seu pai, ele aceitaria se Dante fosse seu pai, mas... Vergil?

Kyrie se moveu de leve, abraçando Nero e descansando o rosto em seu peito, sentindo-se grata por conseguir ouvir o coração de seu amado batendo forte. Para ela, nunca importou o sangue demoníaco que ele possuía, e sua linhagem não passava de uma mera curiosidade. No entanto, ela sabia que aquele era um ponto delicado para Nero, e lhe daria todo apoio que fosse necessário para fazê-lo se sentir melhor.

“Você está pensando em Vergil, não em Dante... Não é?” ela questionou, suavemente.

Ainda que ele tenha respondido com um mero estalar da língua nos dentes, demonstrando impaciência, os batimentos de Nero aceleraram, denunciando seus verdadeiros sentimentos para Kyrie. Ela entendia Nero como a palma de sua mão; ele podia esconder o quanto quisesse, mas estava evidente: A amputação do seu braço podia ser uma ferida agora curada, porém as marcas no coração continuavam lá. Vergil o abandonou e quase o matou, mas Nero, sendo o homem bondoso que ela conhecia, ansiava por amá-lo como um pai perdido que nunca teve o prazer de conhecer.

Entretanto, jamais admitiria isso...

“É natural se sentir assim.” ela concluiu, movendo-se para apoiar seu queixo no peito do namorado para conversar com uma troca de olhares; era um assunto sério, afinal de contas “Você mesmo disse ao telefone que agora você tem uma família e...”

“Eu estava errado.” Nero respondeu, com seriedade, acariciando mais uma vez o rosto dela, como se suplicasse que ela não tocasse nesse assunto “Eu sempre tive uma família, ao lado de você e de Credo. E, agora que Credo se foi, você é minha única família, Kyrie. Nós aceitamos Nico e as crianças como agregados, mas nunca fale isso pra ela se não ela não vai me deixar em paz. E, ok, Dante como ‘tio’ é uma novidade bizarra, mas não é inconcebível. Um tio bem idiota e irritante, só que eu posso trabalhar com essa ideia. Mas... Vergil...”

Ele praticamente cuspiu com ódio o nome de Vergil, e Kyrie sentiu uma pontada em seu peito imediatamente. Nero era uma pessoa com um coração grande demais, e essa demonstração de decepção e ódio não combinava nada com ele. Era uma casca, uma armadura que ele utilizava e que não admitiria nem para si mesmo que assim o fazia.

“Nero...” Kyrie murmurou, sentindo lágrimas se formarem em seus olhos ao presenciar o sofrimento do seu amado. Kyrie era uma pessoa muito empática e, por mais que Nero não desse um braço a torcer e chorasse suas frustrações, ela conseguia muito bem fazer isso por ele.

“A revelação de Dante não muda nada.” Ele complementou, mentindo na cara dura, mas desviando o olhar (porque jamais, jamais mesmo, conseguiria mentir olhando nos olhos de Kyrie) “Vergil não passa de um... doador genético, talvez? Nico falou algo assim. Importância biológica, nada mais. Não é um pai. Nunca foi, nunca será. Um pai não faz o que ele fez. Eu... E-eu não preciso de um pai! ‘Pai’ é uma figura superestimada que não serve pra porra nenhuma!” Seu tom de voz se tornou cada vez mais ríspido e cheio de mágoa, contradizendo cada palavra de descaso proferida.

Kyrie detestava vê-lo assim. Detestava ainda mais a situação em que ela se encontrava, temendo qual seria a reação dele quando ele soubesse o que ela revelaria. Mas ela não podia, de forma alguma, deixar Nero repetir que “pai não servia para nada” mais uma vez.

Nero não se perdoaria se o fizesse.

“Nero.” Kyrie falou em um tom sério, ainda que doce, fazendo-o se calar.

Ela o encarou por mais alguns longos segundos. Por fim, se afastou, sentando-se sob suas penas na cama. Nero, percebendo a seriedade de sua postura, se ajeitou um pouco melhor, apoiando as costas na cabeceira e calando, por hora, suas palavras cheias de rancor.

Kyrie mordeu o lábio inferior, apreensiva.

“Acho que não é uma boa hora, definitivamente não é uma boa hora...” ela murmurou para ninguém em particular, desviando o olhar para a porta, como se quisesse desviar do assunto que logicamente deveria trazer à tona.

Ele entrou em estado de alerta, subitamente preocupado com o comportamento estranho dela. Eles não eram de segredos ou esconder situações, Kyrie nunca se mostrou relutante a compartilhar algo com ele. Se ela estava com receio, deveria ser algo muito importante.

“Kyrie, ei...” ele sussurrou, tocando suavemente em seu queixo e fazendo-a voltar a encará-lo “Sempre é uma boa hora pra ouvir você.”

Ela deixou um sorriso suave emoldurar seus lábios, seus olhos castanhos brilhando em admiração. Nero era um homem de vinte e um anos, bastante bruto, esquentado e ríspido, mas sempre a tratava com ternura e respeito. Ela sabia que todo esse comportamento de Nero com os outros era só uma fachada, uma forma de se proteger de todo rancor e solidão que sentia pela vida difícil que teve, e certamente a aparição de Vergil e revelação de que ele é seu pai (o mesmo pai que o condenou a uma vida órfã e o qual quase destruiu a humanidade inteira duas vezes, diga-se de passagem) o fariam remoer ainda mais esses sentimentos, fazendo-o falar coisas nas quais não acreditava de fato.

Era sua casca, sua maneira de lidar com a dor. Ela o entendia e o aceitava do jeito que ele que ele era. Afinal, Kyrie era a única que tinha o prazer de olhar debaixo dessa casca, nos seus momentos de ternura destinados somente a ela e, eventualmente, as crianças do orfanato.

“Eu te amo.” ele disse, quando ela permaneceu quieta demais, fitando-o com olhos recheados de carinho e compreensão “Nada que você me diga vai mudar isso. O que houve?”

Kyrie suspirou, levando suas mãos mais uma vez ao novo braço de Nero, acariciando os dedos com docilidade enquanto o olhava nos olhos, criando coragem para falar.

“Eu... eu também tenho novidades” declarou, com a voz fraca, quase um sussurro.

Nero nada disse, aguardando que ela continuasse.

As mãos dela estremeceram quando ela interrompeu o toque suave dos dedos de Nero em seu rosto e abaixou o braço dele, fazendo com que a palma de Nero repousasse suavemente sobre seu umbigo.

“K-kyrie?” Ele gaguejou, arregalando os olhos.

“Você pode não desejar um pai, mas...” ela mordeu os lábios, nervosa, tentando controlar sua respiração enquanto via a expressão de incredulidade no rosto de Nero, esticando o outro braço para abrir a gaveta da mesa de cabeceira e pegar o teste que havia escondido as pressas quando Nero entrou no quarto gritando seu nome “Mas... nós em breve teremos alguém conosco que irá precisar de um.”.


(***)

Data indefinida – Hora indefinida

Inferno


Inicialmente, era apenas uma impressão.

Dante sentia uma leve vontade de tocar em Vergil de maneiras não letais: um simples encostar de mãos, um aperto firme em seu ombro, um empurrão leve e brincalhão (às vezes ofensivo, porque Vergil ainda o tirava do sério, oras!). Seu corpo se sentia quente e realizado quando ele tocava em seu gêmeo, e a maior prova disso era o fato de que as lutas e as “contagens” (3) se estenderam por vários dias.

Apesar da exaustão, valia a pena.

Vergil estava cada vez mais... leve? Dante não sabia dizer se essa era a melhor definição para o estado de espírito de seu irmão, mas Dante conseguia ver sorrisos verdadeiros em seus lábios quando ele ganhava um combate (ganhar coisa nenhuma, Dante o deixava vencer!); sentia Vergil abaixar a guarda quando só estavam os dois naquela região específica do submundo; conseguiu até ouvir uma leve risada (breve e seca, mais parecia uma alucinação auditiva) depois de alguma piada extremamente ruim.

Seu irmão, mesmo com a pele encardida pelo suor e sujeira do inferno, manchas escuras de sangue seco em seus cabelos, utilizando roupas em farrapos por terem sido completamente destruídas pelos cortes precisos da espada e projéteis das armas de Dante (não que Dante estivesse muito melhor, diga-se de passagem), assemelhava cada vez mais ao seu irmão de oito anos, ao invés do homem maculado pelo tempo e pelos traumas: Dante via sentimentos em Vergil, e isso era tão surreal, mas tão animador!

Era reconfortante! Era a melhor sensação que tivera desde quando Yamato reagiu a presença de Nero e ele soube que não era mais o único Sparda vivo no planeta. Seu irmão, sangue do seu sangue, estava vivo! E o melhor de tudo: parecia que não ia tentar erguer Temen-Ni-Gru ou um Qliphoth tão cedo.

Ele sabia que teria que voltar para a superfície eventualmente: Nero devia ter muitas perguntas e era novo demais para levar os negócios da Devil May Cry sozinho. Trish provavelmente diria que Nero era um adulto muito mais responsável do que Dante jamais seria em sua vida e poderia muito bem levar Devil May Cry adiante, quem sabe até pagar todas as dívidas fiscais da empresa... Mas Dante era superprotetor demais com o moleque para deixá-lo para trás, não que ele fosse admitir isso algum dia.

Quando chegasse a hora, ele obviamente arrastaria Vergil consigo para a superfície de alguma forma, mas e se seu irmão voltasse a se comportar como o Vergil sedento por poder de sempre? Ali no submundo Vergil estava tão natural, tão desinibido, que ele tinha medo de estragar esse maravilhoso cenário. Isso o fez continuar ao lado de Vergil no submundo; ele não queria pensar em retorno no momento e sequer falava em voltar.

Em consequência, a pequena estadia no inferno se tornou semanas. As lutas dos dois continuaram durante todos os dias, com pequenas pausas de descanso silencioso (salvo pelas inúteis piadas de Dante na tentativa de quebrar o gelo). Ele até tentou perguntar coisas amenas, genéricas, para Vergil – sem sucesso, ele simplesmente o ignorava. Seu irmão só reagia quando ele falava sobre técnicas de luta, geralmente corrigindo a maneira como ele empunhava a espada e tentando se mostrar superior a ele no combate (não que ele fosse, pois os dois estavam totalmente empatados, ainda que nenhum dos gêmeos admitisse o empate tão facilmente).

No entanto, no início da quarta ou quinta semana, Dante sentiu ainda mais necessidade de ficar próximo de Vergil fisicamente e, coincidentemente, mais e mais hordas de demônios passaram a atacá-los, interrompendo suas lutas e contagem de escores. O estranho destas interrupções é que, apesar de os demônios atacarem Dante com intenções mortais, eles tentavam encurralar Vergil e derrotá-lo através da submissão, sem uma tentativa clara de machucá-lo.

Dante, apesar de perceber a mudança comportamental daquelas pragas, concluiu que a notícia de que Vergil era o novo rei do Inferno e alguma dinâmica hierárquica demoníaca que ele desconhecia estava acontecendo. Já cansou de ver demônios gritando aos sete ventos que se tornariam o novo rei do submundo, então eles simplesmente queriam destronar Vergil, certo?

Grande engano...

Na semana seguinte, Dante finalmente entendeu.

A vontade de agarrar o corpo de Vergil contra o seu e rosnar para todo e qualquer demônio que se aproximasse deles não era algo que ele vivenciou, mas ele sabia o que estava sentindo. Vagamente, mas sabia. Trish o explicara esse tipo de cenário, ainda que até o dado momento não tivesse se manifestado:


*-*-*

Cinco anos atrás

Fortuna


“Então quer dizer que o lendário Dante Sparda não é tão infértil quanto imaginávamos...” ela proclamou, casualmente, vestindo seu disfarce de Glória e olhando para Nero de cima de uma das torres do castelo de Fortuna, acompanhada por Dante, que também apreciava a movimentação do adolescente com olhos analíticos.

“O que quer dizer sobre ‘infértil’?” ele questionou, fingindo ofensa e indignação no tom de voz “Só porque eu tomo cuidado não quer dizer que eu seja infértil.”

“Nero não é seu filhote, então?”

Dante arregalou os olhos, fitando Trish com ares assustados antes de deixar uma gargalhada escandalosa escapar de seus lábios.

“Filhote?” ele disse entre risos, ainda se divertindo com a escolha de palavras de Trish, a qual parecia não achar nada estranho o que falava “É assim que vocês demônios chamam os filhos?”

“Coloque-se dentro do ‘vocês’, Dante.” Trish nunca gostou de ser menosprezada por Dante, e a maneira como ele renegava a natureza que ele também possuía a deixava irritada.

“Eu sou único demais para definições!” ele disse, abrindo os braços como se mostrasse seu corpo para uma plateia de espectadores, divertindo-se como não se divertia há anos “Você seria louca de querer definir como demônio alguém tão especial como eu, babe?”.

Trish franziu o cenho, surpresa, porém satisfeita, com a mudança drástica na personalidade de Dante. Estava claro que desde que seu amigo conhecera o cavaleiro da Ordem da Espada, Dante abandonou a personalidade melancólica que exibia desde que matara Nelo Angelo. Claro, Dante sempre tentou esconder dos outros o quanto sofreu com a morte do seu irmão, ainda que Nelo Angelo não passasse de um fantoche corrompido por Mundus quando este combate aconteceu, mas ela e Lady viram Dante no fundo do poço tantas vezes após noites de bebedeiras que ele desistiu de tentar enganá-las com falsa alegria.

A diferença é que agora a alegria parecia genuína: o cavaleiro da Ordem da Espada, híbrido de Fortuna, descendente de Sparda, chame-o como quiser, certamente mudara algo em Dante. Não era loucura imaginar que se tratava de um filhote perdido de Dante; seu demônio interior o reconheceria ao encontrá-lo e estaria satisfeito, afinal de contas.

“Mas se quer saber, Nero não é meu ‘filhote’.” Dante concluiu, fazendo um gesto característico de aspas com os dedos, ainda rindo com ironia “Mas suspeito que seja de Vergil. Quero ver se confirmo isso antes de matar aquele maldito Sanctus.”

“Oh. Bom, esse era meu segundo chute.” Trish falou, casualmente, debruçando-se sob a mureta da torre para ver com mais detalhes a movimentação de Nero em batalha; era decepcionante que o garoto não fosse filhote de Dante, ela estava louca para ser tia... “Nelo Angelo então não é infértil.”

“Poxa, babe, não fica legal você ficar falando da virilidade do meu irmão na minha frente, sabia?” ele concluiu e, apesar do tom de brincadeira, ela conseguia perceber pequenos vestígios de ciúmes no seu tom.

Trish riu ironicamente, girando os olhos. Certamente a última coisa que ela pensara era na virilidade de Nelo Angelo. Digamos que a convivência dos dois na época do reinado de Mundus nunca foi muito agradável.

“Eu só estou curiosa.” ela respondeu, casualmente “Sempre achei estranho você não ter instintos.”

“Ok, agora eu realmente estou achando que você tá falando sério.” Dante concluiu, voltando a olhar para a destruição que Nero causava na entrada do castelo com ares pensativos “Você realmente acha que eu sou infértil? Por quê?”

“Você não sente os efeitos de ômegas próximos a você e você não batalha por território. Você me deixa entrar e sair de Devil May Cry livremente e eu consigo reconhecer um rival alfa só de olhar para você... Mas você parece não parecer me reconhecer como alfa.” Trish explicou, totalmente alheia a confusão mental de Dante “É natural concluir que você é infértil.”

Dante, agora dando as costas para a figura rebelde de Nero e olhando a amiga nos olhos, a questionou com total seriedade:

“Do que diabos você tá falando?”

E era realmente coisa de diabo.

Alfa e ômegas. Foi essa a primeira vez que Dante ouviu falar sobre esse tipo de coisa, e sinceramente a cada maior explicação de Trish ele se sentia mais e mais enojado. Não que a sexualidade em si o desagradasse (ele definitivamente era aberto a todas as possibilidades sexuais do mundo, e teve muitas experiências para confirmar seu interesse em ambos os sexos), mas falar sobre sexualidade demoníaca era algo... Urgh!

Dante não aceitava nada bem seu lado demoníaco, e pensar que seu lado demoníaco tinha também uma dinâmica sexual era algo ainda mais difícil de fazer. Ainda sim, ele ouviu toda a explicação de Trish sobre a reprodução dos demônios e a dinâmica de poder que existia nos atos de acasalamento. Fazia sentido, demônios eram movidos pela irracionalidade e pela sede de poder. O instinto era a maior força que os movia, afinal de contas.

Ainda sim, isso não tornava tudo menos bizarro.

“... -e você é um alfa, Dante.” ela declarou, por fim “Você é capaz de dominar um território e deixar ômegas submissos a você, você vai ser desafiado por outros alfas tanto por território quanto na presença de ômegas para cortejar. Você deve ser infértil, porque não sente esse tipo de dinâmica não há outra explicação. E nem adianta fingir que sente, porque se sentisse eu nem precisaria te explicar tudo isso.”

“Wow, não seja má, Trish.” ele declarou, fingindo ofensa “Papai abandonou nosso ‘ninho’ antes da nossa puberdade, sabe. Eu e Vergil não tivemos essa conversa sobre a cegonha demoníaca não!”

Ele riu do linguajar animalesco que usou para definir a dinâmica dos demônios, mal sabendo que termos assim eram realmente normais entre os demônios. Trish pareceu não entender a piada, e Dante deixou o sorriso retrair, se sentindo estranhamente desconfortável.

“Bom, talvez o sangue humano faça com que eu não sinta esse tipo de coisa que vocês sentem.” Concluiu, falando sério uma vez na sua vida, só para variar.

“Hm... Possível. Talvez híbridos tenham uma dinâmica diferente.” Trish deu de ombros, evidentemente não muito preocupada com a ausência de instintos em Dante “Mas Vergil tinha sede de poder, pelo que você me contou. Talvez ele sinta algo você não sente.”

Então provavelmente Vergil é o pai de Nero... – Dante concluiu, se sentindo ligeiramente humilhado com a perspectiva de ele ser o infértil dentre os irmãos. Não que ele quisesse filhos, não não! Mas ele não queria ficar atrás de Vergil, em nada! E se Vergil estivesse vivo e soubesse de algo assim... Ah, o orgulho de Dante estaria mutilado, fato.

Não importava, no entanto. Seu irmão estava morto, e o único vestígio de sua existência no mundo corria livremente por Fortuna, destruindo o castelo inteiro com uma irritação adolescente quase palpável. A energia demoníaca descontrolada em Nero era tão... revigorante! Dante se sentia animado ao lidar com o moleque.

Dante sorriu, olhando de maneira levemente afetuosa para Nero. Os dois não se conheceram nos melhores termos, mas ele e Vergil sempre brigavam também... Talvez os dois pudessem se tornar mais próximos com o tempo.

E nada mais importava.


*-*-*


No dia que Trish lhe explicou a dinâmica sobre a sexualidade demoníaca, Dante teve 90% de certeza que Nero era filho de Vergil. No fundo, ele sabia que não precisaria confirmar nada: Nero era seu familiar, e ele conseguia sentir isso; mesmo assim, a maneira como Yamato reagiu a Nero complementou os 10% que faltavam. Apesar de sua suposta infertilidade ter lhe causado um certo desconforto, ele não pensou mais a respeito e focou seus esforços exclusivamente em tentar manter Nero por perto, cultivando o vestígio de família que ainda tinha. Um sobrinho era melhor que nada, não?

Contudo, aparentemente ele tirou uma conclusão errada disso tudo: Vergil não era pai de Nero. Vergil era a... mãe? Ou... Hm... Será que podiam simplificar a dinâmica de pai e mãe dos humanos para com os demônios?

Às vezes, ser um mestiço era realmente confuso...

Dante enfiou sua espada no abdômen de um demônio que havia acabado de empurrar Vergil contra o chão, matando-o instantaneamente. Os outros demônios tentaram atacá-lo pelas costas, rosnando e demonstrando dominância, tentando tirar Vergil de perto dele. Ele não iria deixar. Ele não podia deixar. Vergil era dele!

Meu! Meu ômega!

Dante ativou seu devil trigger, dizimando seus rivais de uma maneira extremamente instintiva. Mal utilizava qualquer tipo de técnica em seu combate de espadas; quando um dos demônios conseguiu desarmá-lo, Dante continuou a briga com seus próprios punhos, arrancando os braços e asas dos demônios menores, mordendo seus pescoços e se deliciando com o banho de sangue que acontecia. Ele estava praticamente fora de si, desejando dizimar todo e qualquer ser vivo que chegasse perto de Vergil. Em poucos minutos todas as pragas foram obliteradas.

Emitindo um rosnado grave e satisfeito para os restos mortais dos demônios espalhados a sua volta, Dante virou-se para encarar Vergil, encontrando-o na mesma posição de antes: deitado de barriga para cima, apoiado em seus cotovelos e retribuindo seu olhar com genuína surpresa. Vergil engoliu em seco e Dante se deu conta que foi a primeira vez que ele vira tal expressão no rosto de seu irmão.

O que ela significava, no entanto, ela difícil de deduzir.

Nenhum dos dois piscou por muito tempo, até que Dante conseguiu voltar a si e desativou o devil trigger, se sentindo extremamente encabulado pela demonstração de poder que acabara de fazer na frente de Vergil. Logo ele, que nunca gostou de assumir seu lado demoníaco, ainda mais para o seu irmão que costumava abraçar com tanta facilidade essa parte de sua natureza.

“Putz...” ele falou sem eloquência alguma, sua voz soando rouca e levemente mais grave que o normal enquanto olhava para a destruição a sua volta. Pigarreou, mas nem isso pareceu amaciar sua voz. “Vergil, eu-...”

“Acho melhor encontrarmos abrigo em local fechado pela próxima semana.” Vergil o interrompeu soando ríspido e seco, mudando rapidamente sua expressão e agora demonstrando irritação em seu olhar.

Ele se levantou com velocidade e graciosidade, caminhando para o norte sem pestanejar, provavelmente em direção a caverna que utilizaram para descanso na noite anterior.

“Vergil, eu não-...” Ele tentou se explicar, ainda que não houvesse explicação alguma.

Mas, mais uma vez, foi interrompido.

“Não se incomode.” Vergil respondeu, sem se virar, acelerando as passadas e parecendo furioso; com o quê, Dante definitivamente não sabia, pois não era como se Vergil se importasse com a vida dos demônios que ele acabara de matar “Não há qualquer necessidade de explicações. Eu sempre sei muito mais do que você. Sua ignorância nada mais é do que um mero inconveniente, tolo.”

Confuso, irritado e se sentindo cada vez mais ansioso pela distância que Vergil deixava entre os dois a cada passo, Dante correu em sua direção, seguindo-o sem ter a menor ideia do que aconteceria a seguir.


... Continua...


Essas notas explicativas e o glossário foram feitos exclusivamente para aqueles que não conhecem os jogos e decidiram ler mesmo assim:

(1) O que aconteceu em Red Grave no último mês, e que Nero acabou contando pra Kyrie, é todo o enredo do Devil May Cry 5, e por isso eu não detalhei no capítulo, ficaria muito extenso. O que mais chamou a atenção de Kyrie quando eles conversaram foi o fato de Dante revelar à Nero que Vergil é seu pai, logo após Vergil ressurgir com a união do seu lado demoníaco (Urizen) e humano (V).

(2) Estes acontecimentos se referem ao enredo de Devil May Cry 4 e, novamente, não detalhei por ficar muito extenso. Nero se refere ao fato de que Dante ter-lhe presenteado com a Yamato, espada de Vergil e a única lembrança que ele tinha do irmão, significava que Nero tinha alguma ligação familiar com Dante.

(3) As “contagens” se referem à cena pós-crédito do Devil May Cry 5, quando Dante e Vergil vão para o inferno selar o Qliphoth e permanecem no submundo, lutando um contra o outro, mas dessa vez sem intenções mortais, só pra ver quem vai ganhar mais vezes e quem vai perder. Os dois são bem infantis e competitivos com relação a quantidade de vitórias e derrotas de cada um, e isso só demonstra a rivalidade besta de irmão que eles têm.


Glossário


Capulet: cidade onde Dante abriu a sede da Devil May Cry, por convenção majoritária do fandom. Por ser onde fica a Devil May Cry, também foi em Capulet que a Temen-Ni-Gru foi criada. Em Capulet ocorreu o enredo de Devil May Cry 3.

Blue Rose: revolver usado e criado por Nero.

Devil arm: quando um demônio muito forte é derrotado, ele pode sucumbir ao poder daquele que o derrotou e se tornar uma devil arm (arma demoníaca). As devil arm possuem a alma do demônio que a originou, e há diversas dessas armas conquistadas nos jogos. Dante é um colecionador de devil arms e possue várias, por exemplo: Agni e Rudra, Rebellion, Lucifer, Cerberus, Nevan, etc.

Devil breaker: próteses construídas por Nico para serem utilizadas por Nero que, além de auxiliarem na deficiência do Nero, também possuem poderes específicos para combate. Quando Nero finalmente regenerou seu braço, Nico adaptou os devil breakers para que ele pudesse continuar utilizando-os como luvas. Cada devil breaker possui um nome e poder específico, citando como exemplos: Overdue, Gerbera, Punch Line, Helter Skelter, Buster Arm, Rawhide, Sweet Surrender, etc.

Devil bringer: braço demoníaco do Nero, que se tratava da manifestação incompleta de seu demônio, sendo amputado por Vergil no início do Devil May Cry 5.

Devil trigger: nome da forma demoníaca completa dos demônios e híbridos.

Fortuna: cidade onde Nero nasceu e mora com Kyrie. Em Fortuna ocorreu o enredo de Devil May Cry 4.

Ilha Mallet: local onde Mundus tenta abrir um portal entre o mundo humano e o mundo demoníaco. Na Ilha Mallet ocorreu o enredo de Devil May Cry 1.

Nelo Angelo: nome dado para Vergil por Mundus quando este o capturou, o torturou e o corrompeu para se tornar seu vassalo, retirando dele suas lembranças e livre arbítrio.

Ordem da Espada: seita religiosa, instalada em Fortuna, que acreditava que Sparda, o qual foi um antigo senhor feudal em Fortuna, salvou a humanidade dos demônios, mesmo sendo ele próprio um demônio. Nero era um cavaleiro da Ordem da Espada, até descobrir a corrupção interna de seus líderes o que resultou no enredo de Devil May Cry 4.

Qliphoth: arvore demoníaca que se alimenta de sangue humano para conceder o fruto proibido de imenso poder. Foi cultivado pela primeira vez por Mundus, antigo rei do submundo, e posteriormente por Urizen (parte demoníaca de Vergil).

Rebellion: uma devil arm de Sparda, em forma de espada larga, dada para Dante como herança, a qual possui o poder de unir o homem e o demônio.

Red Grave: cidade onde Dante e Vergil nasceram e viveram até os oito anos de idade, quando Eva, sua mãe, foi assassinada pelos demônios de Mundus e eles acabaram se separando. Vergil escolheu este local para erguer o Qliphoth. Red Grave foi onde ocorreu o enredo de Devil May Cry 5.

Red Queen: espada de Nero. Não é uma devil arm, mas possui propriedades antidemoníacas. Foi customizada pelo próprio Nero em cima do design da Durandal (modelo de espada criado e desenvolvido por Agnus, pai de Nico, para os cavaleiros da Ordem da Espada).

Temen-Ni-Gru: uma torre demoníaca criada como um portal entre o mundo humano e demoníaco, selada há 2000 anos por Sparda e reerguida por Arkham, pai de Lady, e Vergil durante os acontecimentos de Devil May Cry 3.

Yamato: uma devil arm de Sparda, em forma de katana, dada para Vergil como herança, a qual possui o poder de separar o homem e o demônio e abrir portais.

20 Avril 2020 17:11 0 Rapport Incorporer Suivre l’histoire
0
Lire le chapitre suivant Aviso

Commentez quelque chose

Publier!
Il n’y a aucun commentaire pour le moment. Soyez le premier à donner votre avis!
~

Comment se passe votre lecture?

Il reste encore 1 chapitres restants de cette histoire.
Pour continuer votre lecture, veuillez vous connecter ou créer un compte. Gratuit!