nicansade Franky Ashcar

Nando estava entediado, sabendo que no tédio mora o perigo, fez o que qualquer pessoa em sua situação faria, estando preso dentro de casa por causa da quarentena, baixou o Tinder.


Histoire courte Déconseillé aux moins de 13 ans.

#quarentena #covid-19 #tinder #gay #linguagemimpropria #comédia #caotísmo #ocultísmo #enganos #original #lgbt+
Histoire courte
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Capítulo Único

Nando estava entediado, sabendo que no tédio mora o perigo, fez o que qualquer pessoa em sua situação faria, estando preso dentro de casa por causa da quarentena, baixou o Tinder.

Mesmo que ele fizesse rotineiramente suas meditações com o símbolo de proteção para o Covid-19, não seria louco o suficiente de sair com alguém, mas nada o impedia de conhecer uma pessoa aleatória e conversar, encarou ou perfil por longos minutos, onde dizia:

“Manipulo realidades, brinco entre o universo, riu do perigo, blasfemo às 3 da manhã, vem de sigilo e gnose ;)”.

Nando sabia não ser um perfil muito chamativo, na verdade, ele nem ligava, apesar que algumas mulheres curiosas já tinham dado like nele por aquele motivo e até mesmo alguns homens na brotheragem, não que ele tivesse uma preferência, é ele não possuía nenhum tipo específico, muito menos quando intensão era dar match em alguém só para conversar amenidades em tempos de crise.

Fez o que qualquer pessoa entediada faria, deslizou seus dedos para direita ou para esquerda quando o perfil lhe chamasse a atenção, ou não, evitando héteros topizeiras, até encarar uma bio em questão:

“Rob, 27 anos.

Faça o que queres há de ser tudo da lei.”

Claro que Nando pensou que poderia ser apenas um fã de Raul Seixas, mas só de pensar em um ocultista gatinho, sentiu os dedos coçarem, deu like sem ao menos cogitar, afinal, quem está na chuva é para se molhar não é mesmo?

Fechou o app com um bom pressentimento, maldita confiança, que não deixa enxergar um palmo debaixo do seu nariz!

***

Robervaldo odiava seu nome, mais do que sua sexualidade! Aquela era a verdade, uma vez resolveu baixar o Grindr, nunca, nunca e nunca se odiou tanto por ser homossexual na sua vida, quando a chuva de pau e cu começou a inundar o celular.

Ele fez o que qualquer homem homossexual chaveirinho de hétero faria em sua vida, descobriu a maravilha de transar e não precisar nem ao menos perguntar o nome do cara em questão. Rob, como gostava de ser chamado, vivia preso dentro de um armário confortável, afinal o que seus amigos héteros e sua família tradicional pensaria se soubesse que ele, na verdade, transava com cada boy ‘bafoh’?

Então viver aquela rotina dupla era de certa forma bom para ele e seu círculo tóxico!

Todavia quando fatores externos fazem você perder sua rotineira dupla jornada, Rob sentiu-se uma fraude, estar sozinho e isolado fez ele passear por lugares que nem ao menos um dia ele sonhou, páginas de militância LGBTQI+.

Desinstalou o Grindr com a intenção de parar com a putaria, afinal, nem fodendo se exporia ao o COVID-19, IST, tudo bem, mas Covid-19 não, até porque, mamma, papà, nono e nona faziam parte do grupo de risco e no coração puro de Rob, vindo de uma família Italianíssima, o sangue vinha em primeiro lugar, mesmo que o querido avô que tenha escolhido aquele nome de merda que ele tanto odiava.

Um dia percebeu que mesmo dentro do armário e dentro de casa, ele merecia sim um amor. Lógico, alguém sigiloso, que se passasse por “homem” e que pudesse apresentar para sua família como o bro do futebol.

Por isso, baixou o tinder, lugar nunca habitado por ele. Copiou uma frase ambígua que pegou de qualquer canto da internet sem saber o real significado e começou a deslizar pelo app.

Tudo estava lindo e maravilhoso, até encarar tal perfil que para todo o seu conhecimento limitado só se fez uma menção ser conhecida:

“Nando, 25 anos:

Manipulo realidades, brinco entre o universo, riu do perigo, blasfemo às 3 da manhã, vem de sigilo e gnose ;)”.

Que caralhos era gnose? Deveria ser algum tipo de fetiche! Pensou e ficou com um puta tesão, deslizou, “it's a match!”, sorriu malicioso, logo saberia o que é gnose e estava de pau duro só de pensar.

***

A vida de homem que usa app de pegação e está de quarentena nunca antes foi tão parada, mesmo assim, Nando deixou o celular de qualquer jeito em sua cama, e foi para a sala, morrer vendo alguma série na Netflix, dublada mesmo, só para poder ter uma perfeita desculpa para tirar um cochilo no sofá e não na cama como nas últimas vezes. Seus planos dariam certo se o telefone fixo, isso mesmo, o esquecido, e ele nem sabia o motivo de pagar conta ainda, soasse incômodo.

Nando esbravejou, puto, puto para caralho, antes de atravessar toda a sala e alcançar o aparelho esquecido, falou um “alô” monótono, quem que ainda usava telefone para se comunicar em tempos de Whatsapp?

— Migooooooooooo!!! — um berro se fez presente do outro lado da linha. — Cê não vai acreditarrrrrrr!!!!! Cadê você no WhatsApp caralho?

Era Elena, uma criatura peculiar que por causa do caotísmo e ocultismo se tornou sua “BFF” e pessoa para fofocar de rituais, altares, sigilos e toda como ele gostava de brincar de forma sarcástica “macumba” que faziam.

Elena também era a confidente de Nando para diversos “caosos” que acontecia, como quando ele saia com um boy ou até girls aleatórias, mas como o home office reinava, e o tédio vinha junto, não havia tantas novidades para correr e contar para a sua amiga, então o chat estava um tanto parado, do mesmo jeito que sua vida.

Para ser bem sincero, Nando estava tão entediado, que nem ao menos seu altar era limpo, já fazia semanas, por isso, não havia assuntos com Elena. Até ela berrar de novo:

— Homi!!!!!!!!! Whatch Party da safadeza!!!! Now!!!! grupinho do zipzop!

Nando não acreditou, no que acontecia, por aquele motivo banal, fora tirado do seu momento preguiçoso. Quis mandar Elena para o inferno e claro que fez, mesmo assim, curioso caminhou até seu quarto, desligando na cara da amiga mal humorado.

Como se o universo arquiteta-se todos os planos ridículos, desde que entrou no retiro quarentenal, como gostou de dizer, ali estava seu celular com tantas notificações que o riso bobo murchou. Trabalho, instagram, Facebook e dezenas de conversas no whatsapp, telegram e o Tinder.

Ele deu de ombros para Elena mandando um milhão de chamadas, para entrar para tão party da putaria, ignorou o chefe chato pedindo relatório, quem ainda usava Facebook, minha, Eris? Foi ao que interessava, ver o que o Tinder lhe trouxe, até pronunciar com a voz rouca pelo silêncio:

— Rob, oh! Rob, será que achei alguém para ter uma conversa saudável sobre “macumba”?

Abriu o chat e quase infartou com o que leu:

“Então você gosta de sigilo?”

Nando nunca assimilaria a dualidade da pergunta. Afinal sigilo era para ele algo natural e diário.

“Mas é claro! E você?”

“Sempre é bom, né mano?”

“Com toda certeza, ainda mais para resolver umas paradas aí quando necessário!”

Então a tal gnose com toda a certeza era um fetiche, Rob pensou ao encarar a resposta de Nando. Até receber outra pergunta:

“Fora sigilo o que mais você pratica?”

Rob e Nando não deram conta que falava de coisas diferentes, mesmo assim estavam interligadas de algum jeito.

Rob apenas respondeu em toda a sua ignorância:

“Tudo sexo oral, anal…”

Oh! Pensou em magia sexual e fez todo o sentido do mundo, para a descrição do perfil, afinal…

Será que era cedo para adicionar o tal Rob no whatsapp? Precisava mesmo praticar alguma coisa para fugir do tédio, nem pensou direito no que fazia novamente. Apenas passou o número.

Resolveu limpar rapidamente seu altar, tirou o círculo “Desenhado o ritual menor do pentagrama” praticava aquele tipo de ritual há muito tempo, mesmo assim era bom ter uma colinha, para não errar. Não é mesmo?

E voltou sua atenção ao celular, quando recebeu agora pelo whatsapp, a mensagem sem número que roube ser do tal Rob.

“Eae o que você está fazendo?”

Entretido no que fazia com a bússola apontada para o leste posicionou onde dizia “Ar, Ihuh e Raphael” na posição certa. E sem pensar digitou:

“Me preparando para abrir o círculo”

Rob mordeu os lábios de tanto tesão que já estava, então apenas digitou:

“Hum! Que gostoso, deixa eu ver esse seu círculo! ;)”

Aquela era a deixa para que Nando percebesse que tudo não se tratava de um terrível engano, mas se não estivesse posicionando tudo em seu devido lugar, nunca teria aceitado tal chamada de vídeo.

E foi só aí que o homem pelado de pau duro se masturbando se tornou nítido, enquanto ele empunhava a sua adaga para o leste, e repetia palavras em hebraico que custou a decorar.

Tanto Rob que encarou a cena um tanto embasbacado, de um homem adulto segurando uma arma branca entre os dedos e de Nando que ficou vermelho pela cena ridícula em si, explodiu na risada.

É nem tudo é o que se parece, pensaram risonhos, paralisados e constrangidos. Era bom demais para ser verdade os dois falaram juntos!



"."

Gente o termo "macumba" eu uso como sarcasmo, afinal, além da forma empregada está errada, ainda é uma forma de "demonização" de religiões de origem africana pelos cristãos.

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Demais créditos ao Caotize-se pelo meme compartilhado! <3

5 Avril 2020 17:43 0 Rapport Incorporer Suivre l’histoire
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La fin

A propos de l’auteur

Franky Ashcar Vivendo entre linhas, garranchos, letras fora de ordem e obras inacabadas. Igreja KakaGai 🐢💚🐕 Me sigam nas redes sociais @frankynhooo

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