fanny_odadmayan Fanny Odadmayan

Sarah vivia normalmente com sua família, até que em uma noite enquanto ela alimentava os animais no celeiro, seu irmão caçula aparece segurando um estranho objeto e acaba o acionando mandando ela para vários séculos no futuro. Totalmente assustada com toda aquela nova realidade, precisa se acostumar aos novos costumes e tecnologias, além do governo extremamente rígido no qual faz um controle das emoções de toda população por meio de códigos nos pulsos deles. Jonathan é um homem sem expectativas na vida, apenas trabalhava e passava os dias bebendo e lidando com seu relacionamento problemático. Quando se depara com uma mulher desconhecida dizendo ser do passado tudo vira de cabeça para baixo. Ainda mais quando os dois desembarcam em uma empreitada para descobrirem como Sarah viajou no tempo. Ambos vão adentrar numa rede complexa de desigualdade, corrupção e mentiras que cercam a cidade de Calípolis e seu governo rigoroso Atlantis.


Science fiction Dystopie Interdit aux moins de 18 ans.

#distopia #tecnologia #ficção-científica #viagem-no-tempo #tecnologias #romance-no-futuro #hot
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A mulher estranha

20 de novembro de 2999

Ele andou pelas ruas estreitas respirando aquele ar gelado, as construções apertadas e metálicas traziam um aspecto sombrio, mas pensando consigo mesmo, seria difícil o subúrbio ter algum clima alegre. Seus passos eram misturados com os barulhos da agitação matutina de máquinas e pessoas começando o dia. Conforme passavam os minutos, aumentava as quantidades de carros e sons das caminhadas, além dos diálogos trocados pela multidão ficarem mais intensos. Olhou tudo atentamente, vários indivíduos lotavam trens enquanto outros abriam as portas dos estabelecimentos, observou todos aqueles rostos vazios indo cumprir seus respectivos afazeres, semelhantes a ele, eram sem perspectivas. Com as mãos enfiadas no bolso para combater o frio tentava se arrastar rumo ao trabalho, geralmente não tinha vontade de fazer nada, seu rosto sempre estava resumido a impaciência mesclado com o mau humor.

A divisão do mundo fez ascender grandes capitais que concentram poder, conhecimento científico e economia, criando-se uma era cercada por promessas acerca do uso das tecnologias para o melhoramento da humanidade. Seria maravilhoso se isso fosse empregado de forma justa, na incrível Calípolis, a cidade perfeitamente imperfeita, como chamava, prevaleciam desigualdades extremamente escancaradas, no qual existia a realidade esquecida de indivíduos iguais a ele, jogados para as fronteiras do território, e aqueles que desfrutavam de um futuro maravilhoso na capital C-1. Vidas estavam sendo aprimoradas, porém nem todas realmente importam, após as belezas das divisões centrais, restavam somente amontoados de casas e pessoas insignificantes. A divisão C-10, em que morava, fazia parte dos 14 bairros de Calípolis, ele recordou quando aprendeu na escola de onde foi tirado aquele nome, servindo como inspiração os escritos de Platão onde idealizou sua cidade perfeita. Sorria amargo toda vez ao olhar o céu poluído, a população daquelas regiões serviam apenas para trabalhar e manter o bem estar dos mais favorecidos. Acendeu um cigarro enquanto escutava uma canção natalina irritante,destestava se aproximando a época de aguentar as luzes, tentativas de união e programas chatos na televisão. Ser feliz quando tem seus destinos moldados pela ATLANTIS, uma corporação composta por inteligências artificiais extremamente influentes. Sorrir diante do vazio, afinal encontravam-se no futuro, terra do ápice da humanidade.

Desde que o homem pisou neste planeta exigiu sempre mais dos recursos existentes aqui. Após a terceira e quarta guerra mundial, todos ficaram chocados quando as tecnologias foram usadas no intuito de destruir em um nível que houveram alterações do DNA para o aperfeiçoamento nas lutas e acessos a dados confidenciais derrubando todo sistema do local. Em razão disso, os governos vigentes concluíram que o problema estava nas ambições, então se tivessem controle sobre os sentimentos humanos estaria tudo resolvido. Desde o ano de 3839, implantaram os códigos que monitoram todos aspectos da vida humana, pessoas passaram a comprar emoções em forma de programa, assim eram inseridos nos capacetes conectados ao computador. Desse jeito as placas estimulavam o cérebro causando a sensação desejada. Iniciou-se, portanto, uma comercialização de sentimentos, onde ATLANTIS vendia diariamente ideias como ser desnecessário ter apego às emoções. Por que se preocupar e deixar os instintos te controlarem? Foram tais fraquezas ligadas a soberba, orgulho, maldade, inveja, ganância, causas da guerra.

Ele colocou seu pulso no leitor da máquina onde escaneia o código de barras para identificá-lo, tudo passou a ser controlado pelo Estado, os habitantes da monumental Calípolis, deveriam ser exemplo. Máquinas registravam diversas atividades como quanto dinheiro tinha nas contas bancárias, batimentos cardíacos, níveis de estresse, sono, saúde. Qualquer manifestação de sentimentos ruins faziam as barras da marca no braço assumirem uma cor vermelha. Rapidamente este indivíduo era encaminhado aos Anjos de Controle, médicos treinados para realizar terapias que acalmaria os anseios, pois um membro corrompido mancharia todo o restante. Suspirando naquele frio, tragou para depois assistir a fumaça do cigarro se dissipar no ar. Regiões mais afastadas continham fábricas onde empregava muita gente, a capital deveria ter aparência limpa e organizada para atrair os olhares do mundo, toda parte suja ficava nos lugares mais distantes.

Ultimamente encontrava-se muito melancólico, ficava apenas encarando os carros dirigidos por meio de jatos em velocidades assombrosas através dos tubos transparentes no qual percorriam o espaço aéreo. Havia parado para comprar algo na máquina perto do trabalho, geralmente comia muito mal. Assistiu as barras do pulso ficarem verdes e então apertou os botões assistindo a garrafa contendo café rolar para fora. Tomou dois goles enquanto digitava no seu aparelho de comunicação que era placa fina onde projetava um holograma sobre as notícias cotidianas. Prosseguiu assistindo até chegar na pequena porta verde decorada com guirlandas de natal. Já colocaram essa decoração estúpida, refletiu erguendo a sobrancelha.

Entrou lançando um olhar ao ruivo que assentiu mexendo no óculos, sempre trajava este objeto pois possuía mecanismos nos quais analisavam cada peça das máquinas que consertava, além dos relatórios enviados ao seu comando para qualquer dispositivo eletrônico. Caminhou na direção da pequena sala no fundo do estabelecimento, ali detinha um espaço próprio, havia embalagens com comida espalhadas numa pilha rodeando a poltrona marrom. Vestiu rapidamente o macacão laranja, uniforme da oficina, posteriormente dirigiu-se ao seu posto onde trabalhava consertando equipamentos eletrônicos. Jonathas chegou na sua mesa abrindo espaço entre as peças mecânicas, focou a atenção ao objeto em frente sendo este um enorme braço robótico sustentado por cabos. Mexeu na tela verde do monitor, verificando quais possíveis problemas que aquele equipamento estaria apresentando. Listou alguns pontos para serem verificados, então pegou alguns instrumentos. Distraído com o trabalho não percebeu uma senhora se aproximando, completamente embaixo do pedaço metálico apenas sentiu algo cutucá-lo. Imediatamente levantou-se batendo a cabeça, tinha esquecido da máquina acima, passou sua mão na região dolorida enquanto praguejava baixinho.

- Com licença, poderia olhar isto? - disse a mulher segurando um capacete da ATLANTIS.

- Posso terminar isso depois. Hum… deixe-me ver.

O mecânico abriu atrás do objeto analisando as peças, mexeu nos fios coloridos esperando alguma resposta, após fazer os ajustes, logo aquela coisa acendeu luzes azuis. Satisfeito devolveu a senhora, pois tal sinal mostrava estar operando normalmente.

- Ah muito obrigado, nunca imaginei ser tão simples.

- Precisa ter algum conhecimento sobre circuitos, mas não era nada tão complicado. Contudo é bom trocar o equipamento, este já está obsoleto.

- Entendo…. quanto vai ficar?

- Louise irá dizer ali naquela mesa - falou apontando para a colega de trabalho que digitava rapidamente no computador.

Voltou ao serviço respirando fundo, ultimamente mal começava o dia e já desejava ficar sozinho em sua casa. Novamente foi interrompido, desta vez pelo ruivo, Matthew possuía um jeito estranho, alto e desengonçado, vivia construindo pequenos robôs. Aprendeu tudo quase sozinho, seu sonho era ainda entrar num emprego na capital.

- Johny a srta. Berger está te chamando - comunicou ele limpando sua testa.

- Ah ótimo - resmungou mal humorado.

Caminhou até um escritório praticamente escondido no corredor, entrou observando a mulher com o capacete em cima da cabeça, sua chefe conseguia ser bem rígida mas também era justa. Tinha aberto aquele estabelecimento junto ao marido, contudo este a traiu dois anos antes, então acabou guiando o negócio sozinha.

- Queria falar comigo?

Ela não respondeu, seus cabelos loiros como ouro balançavam acompanhando o movimento agitado dela, Nurya dava bastante risadas entretida com as imagens virtuais projetadas pelo aparelho. Apenas apontou para um objeto metálico achatado onde recebiam mensagens, ele se aproximou vendo o holograma aparecer então leu as palavras ali. Achou estranho de início, aparentemente falavam de uma prima que nunca conheceu e agora queria encontrá-lo. Foi criado por sua mãe desde a morte do pai quando tinha dezoito anos, possuía outra irmã caçula no qual o visitava às vezes, esta já estava com casamento marcado daqui três meses. Havia mandado diversos recados para ele comparecer, porém odiava festas e nem via motivos de felicidades ao ver uma de suas únicas parentes vivas sair daquela divisão devido ao marido com condições financeiras melhores. Se achava egoísta por ter esse raciocínio, entretanto ainda assim, não conseguia pensar de maneira diferente.

- Ah, obrigada – disse saindo dali.

Fechou a porta reflexivo, normalmente para enviar alguma localização o indivíduo mandava suas coordenadas, não através de mensagens assim. Achou melhor esquecer por enquanto, tinha muito a se fazer. O homem voltou ao posto jogando seu corpo no assento da cadeira, continuou a mexer na maquinaria completamente entretido. Tal emprego podia ser extremamente cansativo, mas comparado às pessoas desempregadas até tinha privilégios. Mordeu uma maçã no qual estava próximo dele, enquanto assistia alguém comunicar no grande telão sobre um concurso de natal onde o vencedor passaria as férias numa ilhaparadisíaca. Se eu ganhasse uma merda assim talvez minha família não quisesse sair daqui, pensou ele.

- Animado? - indagou Matthew - Logo as vendas de natal irão movimentar esse lugar.

- Nem se Jesus voltasse esse fim do mundo ficaria interessante.

- Cadê o espírito natalino, rapaz?

- Lembra do ano passado? Me diverti muito.

- Ficou em casa bebendo.

- Exatamente.

- Ah vamos lá, Nadine dará uma festa na casa dela na noite de véspera, vai ser bom irmos. Trabalhamos nos ferrando todos os dias, merecemos descanso. Aliás terá muitas garotas lá, aquela mulher que se interessou em você, como era o nome mesmo…. Stacy né? Vai ir também.

- Está sabendo demais das coisas - falou, não desviando sua atenção do serviço, sabia que o amigo tentava constantemente animá-lo e ele sempre acabava contando sobre suas aventuras amorosas, porém estava longe de ser sociável - Além de ser péssima influência, caso Kittinie ouvisse você mataria nós dois, sabe como ela se comporta com pessoas que nutrem esse tipo de atração por mim.

Matthew riu do comentário depois voltou às suas atividades, não procurava falar acerca do relacionamento complicado de Johny e Kitty, já haviam brigado pela forma nada sadia que tudo se desenrolava entre os dois, então ao invés disso buscava mostrar ao amigo novas pretendentes. O ruivo saía com uma jovem cozinheira do restaurante a uns quarteirões dali, fazia meses que tinham encontros após o expediente. Thalia conhecia várias pessoas devido ao emprego, pois uma diversidade de indivíduos comia no estabelecimento onde estava empregada. Através disso, ele conseguia ter conhecimento dos acontecimentos e geralmente acabava falando ao outro.

Louise aproximou-se passando as mãos na testa suada, apesar de cuidar da parte financeira também realizava alguns consertos. Os cabelos pretos encaracolados estavam amarrados a um lenço vermelho, o macacão era duas vezes maior que seu corpo. Trazia consigo três sacolas verde escura, ao notarem isso cessaram as atividades para pegarem a comida. Jonathan e ela não tinham grande simpatia um pelo outro, havia vezes na qual o homem achava que a mulher tinha prazer em irritá-lo, fazia de tudo para arranjar motivos e implicar. Frequentemente lançavam olhares irritados um ao outro, trocavam frases secas, além das provocações.

Foram mais cinco horas lidando com clientes, distribuía esse tempo bebendo escondido no quarto onde guardavam produtos de limpeza, ou trazia seu capacete o transportando para algum lugar que tinha paisagens impressionantes e distantes do ambiente sujo no qual desempenha seu ofício. Quando encerraram o expediente, os dois mecânicos se despediram das outras duas. Caminharam pelas ruas escuras, esse era um momento que iam para casa quietos, presos aos próprios pensamentos, apenas aproveitando a companhia de ambos. As ruas eram tomadas pelas sombras na medida que o céu assumia um tom mais escuro de cinza, os barulhos das fábricas diminuíram até restar o silêncio inquieto. Todos sabiam que ficar até tarde não podia ser boa coisa, bairros afastados como C-10 policiais vinham realizar seus negócios escusos. Nunca poderiam contar com segurança ou proteção ali, apesar disso havia uma contradição presente nas noites da divisão. Outro movimento emergia em meio a escuridão, pontos localizados de bares e encontros específicos de indivíduos das mais diversas intenções.

Jonathan seguiu seu caminho após despedir-se do amigo, sendo o único a estar perambulando naquela rua. Ao chegar na sua moradia, viu a sala pequena e procurou pela robô, Helga, nome dado por ele, esta tinha sido jogada fora pelos seus antigos donos por apresentar alguns defeitos. O mecânico conseguiu consertar essa falha, desde então passou a ser com quem compartilhava os momentos. A máquina retangular metálica veio na direção dele, tinha duas rodas compridas brancas e formato oval, uma voz falhada de programa ecoava da tela verde na frente do robô.

- O frio está se aproximando sr. Coker, logo precisará colocar casacos - resmungou o objeto eletrônico - Nossa moradia também não mantém muito bem o calor, quando nevar….

- Eu já sei - ele a interrompeu, estranhamente possuíam uma relação de afeição parecida com irmãos, seria tão miserável e carente assim para se apegar a algo não humano?

Ele andou até o outro quarto no qual era separado por uma divisória, grande parte das residências dali eram forradas pelo aço devido às fuligens e outras coisas expelidas pelas indústrias. Portanto, eram meros conglomerados de janelas em prédios marrons, containers e quaisquer outra coisa no qual desse para morar. O sujeito morava num apartamento pequeno improvisado, três cubículos serviam para este sobreviver. Várias moradias se amontoavam ao redor das linhas de trem, assim ficava mais fácil ser transportado rumo ao trabalho, apesar disso não era seu caso.

Caminhou na direção do banheiro pequeno, havia uma pia branca que ficava debaixo do espelho, o reflexo dele ficava partido por causa da extensa fissura no vidro. Kitty já havia pedido para trocar, entretanto nunca fez isso, nem se preocupava com aparência então serviria de nada. Lavou o rosto com a água gelada, ligeiramente saiu dali tirando desajeitadamente os sapatos, posteriormente retirou a camiseta. Seus cabelos pretos agora bagunçados foram amassados enquanto este vestia uma blusa. Retornou ao outro cômodo vendo toda bagunça ali, sua residência não tinha nenhuma ordem. Na cozinha havia apenas uma mesa, armários e fogão, saberia nem dizer se teria suprimentos adequados, normalmente comia qualquer porcaria processada. Em sua sala, possuía dois sofás e a tela que assistia algo quando entediado, resolveu ligar em alguma coisa aleatória na televisão, gostava mais do som ecoando assim não ficava aquele silêncio inquietante. No próximo quarto encontrava-se a pequena cama e o guarda-roupa. Estava procurando algum cigarro nos bolsos dos casacos quando escutou um rangido debaixo da cama. Intrigado interrompeu suas ações chegando mais perto, calmamente se agachou preparando suas pernas para caso precisasse sair dali. Apoiou as mãos no chão então encarou aquele espaço, apenas sentiu sua boca sair um ar diante da surpresa, piscou várias vezes sem reação vendo aqueles dois olhos verdes claros o observando de volta. Afastou-se rapidamente assistindo ela sair para fora dali e se encostar na parede assustada. A estranha vestia trajes peculiares, um macacão jeans, blusa flanela vermelha, itens estranhos para a estação fria no qual estavam. Jonathan chegou mais perto incrédulo, ficou tentando lembrar se a conhecia.

- Não se atreva! - esbravejou ela - Mais um passo e eu grito.

- Está brincando né? Você invadiu minha casa! - proferiu vendo a outra.

- E-eu……

- Como entrou aqui? - perguntou.

- N-não sei…. tudo foi tão rápido….

- Está drogada?!

Ela fez uma feição de desentendida, estava cada vez mais se isolando no canto, seus olhos iam de um lado para outro, os cabelos estavam desgrenhados e a voz era fraca. Passava as mãos pelos braços provavelmente com frio devido aos trajes finos, queria tanto compreender, porém tudo parecia tão surreal, o homem então iniciou a fazer várias perguntas sobre sua identidade, de onde veio, por qual motivo teria aparecido ali. Questões essas que apenas murmurava não saber, estava se sentindo tão vulnerável, talvez tenha sido aquele cara na qual a trouxe para aquele lugar e queria aproveitar dela, precisava pensar em como iria escapar. Encarou ao redor, apenas tinha uma cama simples acompanhada pelo guarda-roupa de quatro portas. As paredes metálicas produziam eco com a fala deles, então ela observou seu próprio corpo, ainda usava as mesmas vestimentas, doía quando buscava lembrar os momentos anteriores daquele instante. Sua cabeça somente recordava do momento em que cuidava dos animais na fazenda onde morava e analisava o objeto estranho no qual seu irmão segurava, e num estalar de dedos foi transportada para aquele local desconhecido. Ele tentou manter sua calma, deu alguns passos cautelosos na direção da outra, deveria ser alguma pegadinha sem graça. Matthew mandou aquela imagem perfeita em 3D para assustá-lo. Colocou as mãos na vista dela indicando não querer machucar, então rapidamente pulou em cima dela escutando um grito agudo tomar de conta dali. Segurou os dois braços encontrando a pele humana macia, foi então encarado pelos olhos verdes parecendo duas esmeraldas cintilantes. Permaneceram próximos por uns segundos, ambas respirações pesadas era o som do local. Quando despertou sua consciência do susto repentino, a estranha gritou dando tapas nele que se afastou resmungando de dor.

- Seu pervertido! Era isso que queria né? Veio com essa história de ''quem é você?'' para disfarçar!

- O que? Não!

- Olha só, minha avó ensinou uns golpes, não mexa comigo!

- Farei mal nenhum, apenas quero entender.

- Ah é, então me diga porquê estou aqui nesse lugar? É algum tipo de traficante no qual leva moças indefesas?!

- Você é a esquisita no meu quarto!

- Explique o motivo de ter pulado em mim?

- A-achei que fosse algum ciborgue ou talvez uma imagem em 3D.

A desconhecida franziu as sobrancelhas não compreendendo o que era dito, incomodada por estar numa situação assim decidiu agir rápido o chutando na canela. Jonathan encurvou sentindo a dor subir pela perna, soltou vários palavrões enquanto assistiu ela correr daquele quarto. O homem seguiu mancando atrás dela, caso fosse realmente seu amigo que provocou aquilo iria expulsá-lo daquela divisão por meio de porrada. Estava tão absorto em acompanhá-la que acabou trombando na mulher, pois esta havia parado repentinamente fitando o noticiário transmitido pela televisão. A loira deu passos lentos e depois tocou nos números miúdos que estavam no canto inferior da tela, parecia ter visto um fantasma, então virou-se chocada.

- 3999?! I-isso não pode ser real.

- Porque?

- Ainda estamos em 2021!

O homem refletiu novamente se não estaria talvez bêbada, cansado daquilo tudo passou as mãos nos cabelos bufando. A desconhecida andou na direção da janela, encarou paralisada o mundo lá fora. Enormes prédios no qual se estendiam pela aparente fina neblina, além do que parecia ser linhas de trens constituíam aquele lugar, acima haviam tubos onde carros voadores andavam velozes, o céu noturno era negro semelhava-se a algum ambiente apocalíptico. Preocupado pelo estado dela pediu para Helga checar os batimentos cardíacos da outra.

- Não ouse fazer nada! - exclamou finalmente reagindo.

- Ah que bom, está viva ainda.

- Você me trouxe a esse lugar….. meu Deus só pode ser sonho….

- Sou bem real, isso posso assegurar.

Completamente alterada ficou cada vez mais desorientada, o homem gostaria de pelo menos conseguir conversar para talvez tentar acabar com tudo isso, dessa forma optou em aproximar-se da estranha. Esta deu uns passos afastando dele assustada, posteriormente olhou novamente a janela. Desesperada cometeria qualquer loucura para ir embora dali. Uma sensação dolorosa abateu-se sobre esta, afinal não conhecia aquele lugar, estava longe de casa isso tinha certeza, sentia seu coração bater acelerado.

- Sei que tudo está confuso, porém necessita acalmar-se - pronunciou na melhor voz sossegada na qual conseguiu - Talvez tenha bebido demais e alguém a deixou…..

- Eu estava em casa cuidando dos animais, não tem como isso ter acontecido. Além disso, nunca vi esse local antes.

Luzes vermelhas iluminaram a rua escura, agentes da Argos faziam vigias pela Calipolis, saber quem encontrava-se ali para cumprir a lei ou fazer negócios sujos era difícil. Logo, ser visto por um deles não era boa coisa. Ainda mais devido a mulher estar alegando ser do passado, com certeza encarariam de outra maneira.

- O que aconteceu para ter tantos policiais? - perguntou curiosa encostando no vidro da janela, observou os dois indivíduos desceram das motos e conversarem entre si, seguidamente um sorriso enorme brotou nos lábios dela - Talvez possam me ajudar.

- Até parece, não estão aqui para auxiliar pessoas - proferiu a puxando bruscamente dali.

- Hey! - expressou por causa da força empregada pelo sujeito - Como vou saber se diz a verdade?

- Não irá ter certeza, contudo encontra-se sozinha num lugar desconhecido, então é melhor me ouvir. Afinal está sem opções melhores.

- C-como voltarei para casa? - indagou quase num sussurro.

- Na verdade não sei, nunca vi algo assim antes.

O homem apenas sorriu amargo de tantos azarados para acontecer loucuras semelhantes a essa e foi justamente o escolhido. Andou até achar seu cigarro jogado no chão, acendeu dando longas tragadas. Ela franziu as sobrancelhas ao ver tal cena, mas o sujeito apenas deu de ombros. Sem saber como prosseguir, estendeu a mão para cumprimentá-la, porém ela ficou somente encarando.

- No passado não eram educados?!

- Estou distante de séculos do meu lar, espera mesmo que eu esteja pensando nisso? Idiota! - gritou a mulher.

Ele ergueu uma sobrancelha surpreso por aquela reação mas sentiu compaixão pelo estado dela. Respirou fundo refletindo no fato da vida sempre querer complicar alguma coisa.

- Ok, e de onde você é mesmo? - questionou.

- Dallas no Texas.

- Dallas? Hum está perdida então - proferiu, muitas informações passavam pelo seu cérebro agora - Vamos nos apresentar primeiramente, eu sou Jonathan e você?

- Sarah - disse na defensiva.

- Olha, estou confuso sobre tudo, porém vou tentar te ajudar.

- Por qual motivo faria isso?

- Talvez eu seja um cara legal, além disso não gosto de histórias no qual não compreendo - falou somente.

A mulher balançou sua cabeça avaliando tais palavras depois baixou os olhos na direção da mão que segurava seu pulso fino, ficaram assim nessa posição e nem tinham percebido, imediatamente soltou-se como se tivesse levado um choque. Ele engoliu em seco, posteriormente pediu para a outra sentar num sofá verde escuro, tinha embalagens brancas por todos lados e copos marrons claros amassados ao redor da pequena mesa no centro. Sarah acomodou-se em meio às pequenas almofadas, sentir aquele tecido contra a pele fez pensar na sua casa. Ela estava receosa, não sabia se devia confiar nele, mas surtar realmente estava longe de ser a melhor opção, ainda parecia tudo um sonho ruim.

- Não é só você que está assustada, eu também quero poder entender. Olha para minha situação, apenas desejava descansar após um dia exaustivo e me deparo com alguém totalmente estranho dizendo ser do passado.

- O que faço agora? - murmurou fracamente.

- Sinceramente não tenho ideia - disse sem medir suas palavras.

Ele esfregou as mãos no rosto, já estava sonolento e deveria dormir logo então solicitou para acompanhá-lo até o quarto. Caminhando lento atrás dele, a viajante do tempo retornou ao cômodo onde havia sido transportada. O mecânico abriu aquele guarda-roupa e pegou um colchão fino jogando no chão em seguida. Vendo ele mexer ali dentro a fez pensar dos minutos antes de tudo acontecer.

- Sarah! Sarah! - ouviu o grito do irmão.

- O que foi, hein? Estou ocupada.

- Eu encontrei uma coisa muito legal.

- Andou mexendo nas coisas que não devia de novo, depois reclama quando brigam com você.

- Mas dessa vez vale a pena.

A mulher riu diante da euforia do garoto, colocou as mãos na cintura e permitiu-se ver que objeto tão diferente era esse no qual Will falava. O menino como qualquer outra criança de onze anos era fascinado por tudo que fosse diferente, lembrou quando foi acordada de madrugada porque ele jurava ter visto um cachorro gigante no quintal. No final acabou sendo Gordon, o labrador deles todo sujo de lama. Escutaram mais alguém entrando no celeiro, a adolescente vestida para sair estava impaciente, Candice tinha um encontro marcado com o jovem que saia.

- Mamãe mandou ver você, está demorando demais.

- Eu já terminei aqui - explicou Sarah - Só estava vendo o que de tão revolucionário nosso irmãozinho tem para me mostrar.

- Venha Candy ver também - disse Will.

O garoto mostrou uma esfera metálica entre seus braços, esta possuía alguns fios vermelhos saindo de pequenas linhas no qual a traçava, também continha um botão azul embaixo de uma pequena tela no centro. Sarah desconhecia a função daquela coisa, definitivamente aquilo não podia ter saído daquela fazenda, parecia algo que um especialista em robótica ou espião talvez faria, como em algum filme de ficção científica ou de ação.

- Será que é uma bomba? Não parece? E esses números no visor? - perguntou Candice.

A mais velha pegou aquela esfera das mãos do menino e averiguou mais ao redor. No visor havia uma sequência 20-11-3999, não achava que fosse alguma contagem regressiva, estranhamente aparentava ser uma data, contudo este ano, isso não poderia estar certo.

- Só vamos saber se tocar o botão não é?

- Espera Will…..

As linhas do objeto ficaram azuis e Sarah começou a ficar assustada no que aquilo poderia dar, ia repreender seu irmão quando apenas sentiu seu corpo ficar mais leve como se estivesse dando um salto no ar.

- Por enquanto, posso somente oferecer algum lugar para dormir - disse Jonathan.

Ela apertou os olhos fortemente, parecia ter entrado em um transe e somente agora ouvia a voz do homem. Ouviu algo estalar na sua mente, o dispositivo em suas mãos deveria estar em algum lugar ali. Chegou perto da cama dele e se abaixou, sem entender nada ele somente esperou calado, talvez a consciência dela tinha retornado. Sarah saiu dali debaixo segurando um objeto estranho fazendo o outro franzir suas sobrancelhas.

- Foi isso que me trouxe aqui.

- Está dizendo que essa coisinha é uma máquina do tempo? - indagou tentando esconder seu sarcasmo, aquela mulher só poderia ser doida.

- Bom, não posso falar com tanta propriedade mas havia a mesma sequência de números que é a data de hoje gravada no dispositivo.

- Hum, posso ver?

A viajante entregou ao moreno vendo este observar toda extensão da esfera.

- Talvez eu possa dar uma averiguada na oficina amanhã.

- Pode mesmo descobrir como funciona essa coisa?! - perguntou esperançosa.

- Bom, posso tentar - respondeu pensativo ainda olhando o objeto, passou por ela indo em direção à porta do quarto. Ele iniciou uma conversa sozinho, fazia questionamentos do tipo o que havia para comer e se tinha espaço na sala para colocar aquele colchão. Estranhando, ela estava achando o sujeito maluco, mas após alguns segundos identificou a pequena máquina vindo no rumo deles, sendo que esta respondia às perguntas dele.

- Antes gostaria de fazer uns testes contigo - pronunciou Jonathan - Quero me certificar que é mesmo do milênio anterior. Helga consegue checar os batimentos cardíacos dela?

- Sim - afirmou convicta a robô.

- Então se é de 2021 não conhece a ATLANTIS, certo?

- Uhum - murmurou confusa.

- E sobre o que aconteceu em 2550?

Ela balançou a cabeça desorientada, então o sujeito olhou para uma tela onde as ondas mostravam a pulsação dela.

- Quem motivou o assassinato do presidente em 2458? E em qual ano tivemos nossa primeira mulher na presidência? - perguntou vendo ela estranhar tudo - Qual lua de Júpiter temos colônias? Qual o nome do microorganismo que achamos em Vênus?

- Ah chega - falou Sarah irritada - Não sei nada dessas coisas!

- Os batimentos ficaram estáveis ao negar as perguntas - revelou a máquina.

- Você se saiu bem.

Não sabia se era algum jogo dele, ainda mais depois dele simplesmente dar de ombros e ir mexer no mesmo armário. Estava já tão cansada que qualquer graça do outro iria chutá-lo onde mais doía. Jonathan retirou algumas peças de roupas enquanto murmurava sobre a diferença da estrutura corporal dos dois. Pegou um conjunto de roupas azuis, a calça era escura como um oceano, ao contrário da camiseta no qual era tão clara semelhante ao céu dos dias ensolarados.

- Acho que deseja vestir algo mais confortável.

- Simplesmente se convenceu da minha inocência - exprimiu a loira mostrando uma ponta de amargura na voz.

- Sim - expressou no mesmo tom áspero, seguidamente deitou na pequena cama deixando o corpo repousar nos travesseiros - Inventei aqueles questionamentos, caso tentasse formular alguma resposta seria mentira então estaria querendo me enganar.

A mulher abriu sua boca surpresa, posteriormente pegou os trajes e foi para o banheiro apertado. Jonathan encostou na janela, não era alguém de se impressionar facilmente mas confessava que tremia ansioso. Escutava a outra murmurar sobre tudo ali ser tão frio, precisava pensar rápido e se livrar dela. Tentou ligar para Matt, mas não obteve resposta, certamente o ruivo estaria ocupado com Thalia. Por ora agiria conforme a situação, então levou o colchão até sua sala, fazia muito tempo que alguém de fora dormia ali, na verdade isso somente acontecia quando sua mãe vinha visitá-lo ou nas noites em que passava junto com Kitty. Se caso ela tivesse ingerido alguma substância para fazê-la delirar logo de manhã já teria acabado o efeito. Logo depois, mandou desesperadamente uma mensagem ao amigo para ver se tentou enviá-la ou sabia de algo fora do normal naquela noite.

A estranha entrou no espaço coberto por azulejos azuis escuros, talvez ali seria o único cômodo que não encontrava aquele frio metálico. Vestiu as roupas tremendo, tudo tinha ficado largo pois Jonathan possuía proporções grandes devido a estatura alta e tronco corpulento. Ao retirar seu macacão algo caiu do bolso no chão, franziu as sobrancelhas estranhando até ver qual era o objeto. Esperançosa, rapidamente desbloqueou e discou o número de casa mas nada aconteceu, apenas encontrou um silêncio mortal do outro lado. Tentou se comunicar com todas pessoas conhecidas, porém nem mesmo completava a ligação, além disso não conseguia obter área no celular. Escutou batidas na porta, então virou-se na direção do barulho assustada, talvez pudesse usar aquilo para mostrar que possuía veracidade em suas palavras. Um gosto amargo tomou conta da boca dela, nunca sentiu tanto uma solidão e medo preencher todo seu ser. Abriu vendo um casaco sendo ofertado pelo homem, vestiu aquilo aflita querendo se esquentar, pois não aguentava mais ter a sensação de estar congelando. O desconhecido indicou para ela acompanhá-lo até a cozinha onde este mexia nos armários, parecia preparar alguma refeição. Olhou para os lados sem saber reagir, ainda ouvia o noticiário na televisão, tudo envolvia a tal organização ATLANTIS, diversos comerciais e feitos nos quais eles realizavam eram transmitidos continuamente. Um cheiro de fritura invadiu suas narinas, aquilo fez seu estômago ficar agitado, nem mesmo pensou que poderia sentir fome.

- Não sou o melhor cozinheiro, mas isso irá nos saciar por enquanto.

- Acho que isso prova definitivamente minha história - disse mostrando seu celular.

- E isso seria?

- Você não tem nenhum aparelho para se comunicar?

- Tenho, mas….. - resmungou chegando mais perto então encarou o objeto cuidadosamente - Não dessa forma.

Retirou do bolso uma tela fina transparente e mostrou para ela que ficou fascinada. Pegou das mãos dele analisando como aquilo funcionava, não dava para ver suas peças interiores, bateria ou qualquer outra coisa nesse sentido, era somente uma superfície reta e resistente no qual assemelhava a vidro. Encarou ele devolvendo o aparelho, no fundo apenas ecoava um anúncio estranho, sua cabeça parecia flutuar enquanto aquelas palavras repercutiam na mente dela. Como estão se sentindo hoje caros cidadãos? Tristes? Cansados? Nervosos? Ansiosos? Ou de coração partido? Já imaginou se pudesse ter controle e nunca mais sentir coisas indesejáveis? Permita que sua mente relaxe, afinal não quer ficar com esses pensamentos ruins, certo? Eu conheço você que trabalha duro pela nossa Calipolis, apenas deseja estar tranquilo para aproveitar o que há de bom na vida. Os anjos de controle sempre estão prontos para te ajudarem, quaisquer anseios ou dúvidas serão certamente amansadas. Deixe de sofrer, como está seu medidor de sentimentos? Oh não… melhor cuidar agora antes que seja tarde. A mulher do comercial era belíssima com seus olhos cor de mel e sorriso encantador, além da voz serena. Sarah assistia tudo sem compreender o contexto, Jonathan apenas piscou espantado e voltou a cortar os legumes na tábua de madeira. Precisava urgentemente que Matthew o respondesse, necessitava de alguma luz. Nunca havia visto nenhum aparelho assim, trabalhava consertando coisas desse tipo, iria saber caso visse algum. Não pode ser que essa maluca fale a verdade, pensou.

Ela sentou no sofá verificando tudo no celular, alarmes e marcações no calendário permaneciam a mesma coisa. Fotos, vídeos, livros salvos na internet, todos intocáveis. O tempo realmente deu um pulo mas para Sarah nada modificou, ainda era 2021. Na televisão uma mulher entrevistava alguém, seus sorrisos eram resplandecentes, todos estavam bem elegantes. O barulho da cozinha atraiu sua atenção quando escutou ele xingar por ter se queimado. Deu uma rápida olhada para trás, pela primeira vez o observou atentamente, sua altura com certeza seria mais de 1,80, cabelos castanhos escuros e desgrenhados além da barba rala, olhos tão marrons quanto chocolate. Ele não devia ser do tipo vaidoso, contudo mesmo com toda confusão pode sentir um perfume masculino marcante. As roupas dele ficavam entre cores sem vida, possuía proporções grandes com ombros, braços e peitorais largos. Ficou tanto tempo o fitando que nem notou ele a encarando de volta, sentiu as bochechas ficarem quentes então se virou ligeiramente.

- Você pode falar comigo se quiser, apesar das circunstâncias sou uma pessoa boa - proferiu se sentando perto dela - Conte-me como foi hum….. transportada para cá?

- Eu estava colocando ração para as vacas, meu pai havia pedido pois passou o dia cuidando de uns assuntos dele então meu irmão chegou gritando querendo me mostrar algo estranho.

- Era o tal dispositivo, certo? - disse a vendo confirmar.

- Só senti um puxão como quando você pula muito rápido e depois estava no seu quarto.

- E se esconder debaixo da minha cama foi um método bem….

- Queria o que?! Tudo à minha volta era desconhecido, após isso escuto barulhos, não ia ficar esperando pelo pior.

- Entendo. Você falou de vacas, onde mora?

- Em uma pequena fazenda, temos vários animais.

- Sério? Deve ser interessante, sempre fui da cidade não estou habituado com esse tipo de coisa. Tem mais irmãos?

- Sim, dois. E quanto a você? Ou o interrogatório só vale para mim?

- Quando alguém aparecer de repente no seu quarto poderá fazer vários questionamentos também - falou a vendo cruzar os braços, o jeito que ela franzia as sobrancelhas parecia uma criança fazendo birra, não conseguiu disfarçar em achar aquilo fofo - Bom, sou apenas um cara que conserta robôs ou qualquer outra coisa com circuitos e um sistema de operação. Estava esperando dormir tranquilamente quando chegasse em casa, contudo agora nenhum de nós dois descansará hoje.

- Eu sei, não sou nenhuma assassina, pode adormecer em paz.

- Isso é o que diria um homicida.

- Como você mesmo proferiu, está sem opções melhor confiar em mim - pronunciou ofendida.

- Será que ambos devíamos dormir com uma faca ao lado da cama? - perguntou sério a fitando intensamente, porém depois deixou escapar um sorriso ao ver o olhar de terror dela - Relaxa, é brincadeira.

- É o que um homicida diria - falou repetindo a frase dele.

Alguma coisa fazia seu senso de provocação realçar quando aquela mulher o respondia, não compreendia isso ainda muito bem.

- Talvez devo me preocupar com os golpes que sua avó ensinou.

Ficaram alguns instantes em silêncio, ele vagueou seu olhar através do corpo dela, esta possuía cabelos loiros escuros ondulados no qual caíam pela costa. Seus traços tinham uma delicadeza no qual pareciam ser desenhados, os lábios rosados gorduchos eram perfeitamente estampados na pele branca salpicada por inúmeras sardas, o rosto oval, olhos grandes e os enormes cílios encurvados davam um grande ar de ingenuidade. Apesar dos avisos mentais permitiu-se analisar o corpo dela no qual possuía seios fartos, mesmo escondido debaixo das roupas largas pode notar as coxas grossas e bumbum volumoso, confessava ela era linda, isso seria muito difícil de explicar para Kitty. Balançou sua cabeça praguejando por tais pensamentos, sequer poderia olhar para outra garota assim, sentiu-se um idiota. TAM reparou no pulso da viajante, estava sem a identificação que todo mundo ganhava quando nascia, não ter isso era estar fora do sistema. Sarah até poderia estar mentindo quanto a ser uma viajante do tempo, mas com certeza tinha algo estranho sobre sua origem.

- Pelo jeito estamos resolvidos senhorita - falou ele se levantando - Come um pouco, acredito que viajar uns… quase 2000 anos dá alguma fome.

Ela o acompanhou até a cozinha onde ele serviu os dois pratos então assistiu Jonathan colocar quantidades generosas de sopa, depois se sentou para comer também. Um silêncio constrangedor abateu entre eles, Sarah ficou encarando o prato desconfiada, cheirou e posteriormente deu uma leve lambida. Timidamente deu algumas colheradas apreciando o gosto que era até agradável, mastigou a carne macia e bem passada deixando cair um pouco do molho vermelho na blusa. Jonathan observou aquela cena reflexivo definitivamente a situação encontrava-se além da barreira do absurdo, ponderou sobre como iria lidar com aquela garota. Talvez devesse levar a outro lugar, deixá-la num abrigo ou entregar nas mãos das autoridades. Respirou fundo e se concentrou na comida apesar de tudo fazia muito tempo desde que jantava com alguém era até estranho ter mais uma pessoa. Nesse momento sentiu o celular vibrar, Matthew havia mandado duas mensagens não entendendo aquelas perguntas.

Jhony: Preciso que venha aqui em casa o mais rápido possível.

Matt: Por que? Thalia vai fazer frango frito para mim, você sabe como amo isso.

Jhony: Depois explico, cara.

Matt: Aff, acho melhor ter um bom propósito ou vai estar me devendo uma porção.

Ele ergueu os olhos para assisti-la comer vagarosamente, tratou também de terminar sua refeição posteriormente lavou todos pratos. Não demorou muito para que o ruivo aparecesse, estava organizando a cozinha quando escutou batidas na porta. Atendeu vendo Matthew entrar com um olhar curioso, este encarou todo local até pousar na desconhecida sentada na mesa. O homem virou para Jonathan fazendo uma expressão de estranhamento, ele pegou no braço do amigo e arrastou até onde a mulher se encontrava no qual encarou os dois desconfiada, estava pronta para dizer alguma coisa quando o mecânico a tranquilizou relatando que era ajuda.

- Esta é Sarah, uma viajante do tempo. Ela veio de 2021 - proferiu vendo seu amigo rir descontroladamente - Pode parecer loucura mas olhe para o pulso dela, sem marcação do código e além disso tem esse celular estranho e até a possível máquina do tempo no qual veio.

- Ah, qual é Coker? Me tirou de casa para ficar pregando uma merda dessa. Aposto que deve ter brigado com Kitty e não sabe como escondê-la, né? - debochou irritado, posteriormente pegou o braço dela vendo a pele limpa onde deveria ter a marca do código - Qualquer rebelde não possui mais isso!

- Eu já menti para você Matthew? Também estou tão estupefato com toda essa droga, contudo ela nem sabe o que é ATLANTIS.

O ruivo ponderou uns instantes depois sentou perto dela curioso.

- Posso ver seu celular? - perguntou vendo esta entregar o aparelho, aquilo era estranho e diferente, nunca tinha visto algo assim. Revestido de metal e uma tela de vidro, não sabia como alguém conseguiria se comunicar com um celular tão desajeitado assim. Seus dedos tocaram os botões laterais fazendo que acendesse a tela, mostrando uma imagem sorridente da garota - Para que serve isso?

- É onde o liga e do outro tem os botões de volume.

- Porque você coloca essa coisa de gatinho ao redor dele?

- Bom, isso é minha capinha - respondeu meio envergonhada, gostava de coisas fofas mas confessava que aquilo ser analisada por um desconhecido a deixava desconfortável.

- Esse aparelho projeta as ligações?

- Hum…. não sei se entendi a pergunta.

- Os circuitos parecem interessantes - pronunciou Matthew tentando tirar a parte de trás.

- Espere! Não sai assim. A bateria é embutida nele.

- Ah, então é assim que essa coisa funciona. Uma bateria - murmurou fascinado depois devolveu para ela - Então desconhece os agentes da Argos? Divisões de Calipolis? Todas as grandes guerras?

- Hum… no meu tempo tem vários enfrentamentos mas acredite não faço a mínima ideia do que está dizendo. Jonathan já me testou com aquela robô.

- Quem? Helga?! Eu não confiaria em uma máquina com sistema operacional da época que minha vovózi….. ai isso doeu! - exclamou após ter levado um tapa na nuca.

- Programei ela somente com o que há de melhor idiota - resmungou Coker.

- Conhece Eleonora Kane? Sabe do acordo após as grandes guerras? - indagou a vendo negar tudo.

- E essa tal máquina? Posso ver?

O mecânico mostrou ao ruivo que analisou intrigado.

- De fato nunca vi isso antes, vamos ver amanhã na oficina.

- Também pensei nisso - concordou o amigo.

- Não houve alterações nos batimentos cardíacos dela - informou a robô.

- Então…. ah meu Deus! Se veio do passado a polícia pode vir atrás de nós! Sério, Jonathan precisava me colocar nessa roubada - disse agarrando o colarinho do outro homem dramaticamente - Ou você é alguma espiã secreta? Precisaremos agora sair daqui, mudar de nomes e…. ah…..

- Dá para não gritar nos meus ouvidos? - falou soltando o amigo da sua gola - Eu preciso de ajuda e não de alguém surtando. Além disso, acredita nos diagnósticos da Helga agora?

- Ela sabe que foi nada pessoal, eu adotei essa máquina quando era apenas um pedaço de metal sujo de óleo.

- Você queria que eu a despachasse até semana passada!

- Sim, também falei sobre arrumar essa casa, e adivinha só? Simplesmente não me escuta - proferiu pisando em uma embalagem jogada no chão - Talvez devesse levá-la a MINERVA.

- Mantê-la com eles é mais seguro mesmo, apesar de que irão fazer vários questionamentos, porém quem não faria nessas circunstâncias.

- Porque com tantas pessoas influentes ela foi aparecer justo na casa de um simples mecânico como você, hein? - perguntou zombando - Certeza que devem ter errado o endereço.

- Vai se ferrar Matt.

- Parem de ignorar minha existência como se eu não estivesse aqui - resmungou Sarah.

- Preciso colocá-la nos registros do governo, quanto mais introduzida na sociedade atraímos menos atenção - proferiu direcionando seu olhar para ela.

- Relaxa John John. Nada que o seu amigo não consiga fazer.

- Por isso te chamei aqui.

- Caralho - assoviou Matthew - Uma viajante do tempo! Surreal cara.

- Hey, nem preciso mencionar que esse assunto deve morrer aqui.

- Eu sei disso - falou o ruivo revirando os olhos - Necessito ir agora, Thalia deve estar querendo comer meus rins por causa da demora. Qualquer coisa mande mensagem e caso ele te ataque durante a noite me ligue. Ele não sabe lidar muito bem com mulheres bonitas.

Matthew se despediu rindo enquanto recebia murros no ombro do outro sujeito, ela ainda piscava sem saber como reagir ao elogio. Jonathan retornou a sala após uns instantes, se fitaram prolongadamente depois desviaram seus rostos para direções opostas.

- Não ligue para Matt, só sabe dizer idiotices. Sonhe bem, garota.

- Obrigada - murmurou ela - Apesar de tudo agradeço por escolher me ajudar.

Ele sorriu sem jeito então se retirou para seu quarto a deixando ali sentada no sofá perdida em divagações. O que sua família estaria pensando agora? Havia sumido na frente do irmão, será que estaria assustado? Nesse momento as luzes se desligaram repentinamente fazendo ela pular amedrontada, contudo logo a voz eletrônica avisou que era um sistema automático no qual fazia isso quando o dono da casa ia dormir. Piscou várias vezes seguidas, não tinha muito ainda concentrado sua atenção na pequena robô. Ficou observando o pequeno triângulo metálico chegar perto dela, esta possuía suas pontas arredondadas por onde passava as correias proporcionando a motilidade, parecia como aqueles tanques de guerra faziam para se moverem.

- Q-quem é você mesmo?

- Sou o comando de voz desse apartamento, me chamo Helga.

- A-ah….. sim.

Sarah deitou no colchão e encarou a escuridão do local, após uns instantes todas as janelas foram transbordadas por flashes de luzes que varreram o rosto dela. Aparentemente estavam perto de alguma linha ferroviária, conseguia escutar sons do trem deslizando pelos trilhos. Permaneceu várias horas acordada, quando tudo pareceu silencioso se levantou calmamente e foi na direção da janela, tudo estava extremamente quieto lá fora. Conseguia ver os vagões iluminados, fechou os olhos fortemente, queria tanto que tudo aquilo fosse mentira. Novamente ouviu o barulho da máquina se aproximando, posteriormente abriu um compartimento dentro dela, ali continha uma embalagem laranja cheia de comprimidos brancos. Esta colocou na frente da outra dizendo que quando o mecânico tinha episódios de insônia ingeria substâncias químicas para dormir. A viajante ficou indecisa se deveria aceitar, não poderia confiar em algo dado naquele estranho lugar, porém agradeceu ao robô. Sarah colocou o pequeno frasco de plástico no chão perto dela, deitou-se novamente no colchão e ficou um tempo rolando entre os cobertores, em algum momento da noite sentiu as pálpebras pesarem, e então finalmente adormeceu.

*******

O dia amanheceu com Sarah ouvindo um barulho agudo, abriu seus olhos vendo Jonathan vestir seu casaco comprido marrom, essa visão a fez despertar totalmente. Helga surgiu dizendo sobre uns sapatos jogados no banheiro, imediatamente ele foi buscar e voltou amarrando os cadarços de uma bota preta. Quando o homem se deu conta dela olhando tudo sentiu-se engasgar.

- A senhorita está com fome?

- Pode me chamar pelo nome.

Ela levantou e arrumou o colchão e cobertores dobrando tudo no canto da sala, seus cabelos geralmente ficavam bem revoltosos pela manhã. Passou as mãos entre os longos fios tentando se arrumar, havia babado um pouco no travesseiro pois tinha resto de baba em seu rosto. Reparou nele colocando duas latas e pratos nos lados da mesa depois a chamou para comer. Sarah foi primeiro lavar seu rosto no banheiro e penteou os cabelos com um pente dele, após isso se juntou ao mecânico na mesa, despejou o alimento no recipiente, então experimentou mastigando a comida vagarosamente. Tinha gosto de vários cereais juntos, meramente adocicado caiu até bem no paladar, seu estômago agradeceu por estar sendo abastecido.

- Espero que goste porque só tem isso - revelou seco.

- Não é tão ruim.

- Precisamos arrumar algumas roupas para você, acredito que meu pijama duas vezes maior no seu corpo não deve ser confortável - disse enquanto engolia uma colherada.

- E depois? O que farei aqui? Necessito um jeito de voltar para casa.

- Eu sei, contudo percebeu que sou alguém bem desprovido de recursos, né? Na verdade nem sei quem conseguiria te ajudar. Vou te levar a MINERVA talvez tenham mais informações - falou levando seu prato na pia - Agora vamos fazer o mais difícil, te apresentar a Kittinie.

15 Décembre 2020 20:27 0 Rapport Incorporer Suivre l’histoire
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