lara-one Lara One

EPISÓDIO ESPECIAL SEM CORTES - CROSSOVER Projeto Gênesis Preparados para o casamento mais esperado do universo? Conta a lenda que foi tão mágico que alguém voltou no tempo para assistir novamente. Dedicado a todos os shippers, em especial a todos os meus leitores.


Fanfiction Série/ Doramas/Opéras de savon Interdit aux moins de 18 ans.

#x-files #mulder #scully #romance
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S06#25 - WEDDING DAY

(All I Ask of You)



INTRODUÇÃO AO EPISÓDIO:

Uma caverna escura. A luz de um lampião de LED se acende, revelando os olhos castanhos e o rosto do jovem Kevin, seus cabelos espetados. Ele ergue o lampião iluminando o lugar.

KEVIN: - Meu pai sempre disse que desgraça pouca é bobagem. Estou começando a concordar com ele.

A luz revela cinco jovens por volta dos vinte e poucos anos de idade. A jovem de traços asiáticos, com passadores nos cabelos longos, saia curta xadrez, botas cano alto e camisa amarrada aos peitos, espirra sem parar segurando um lenço de papel.

MEGAN: - (IRRITADA) E ele dizia isso antes ou depois de fumar um baseado com sua mãe?

KEVIN: -Ha ha ha. Parece até que você veio de uma família perfeita, dedo acusador! Os dois únicos entre nós que tiveram uma família e um lar perfeito aqui você sabe quem são.

MEGAN: - (IRRITADA) Eu vou morrer de rinite alérgica!!! Minha pele linda e sedosa está ficando toda empipocada!!! Não tinha um lugar pior pra se esconder não?

KEVIN: - Megan, nós temos problemas maiores que a sua rinite nesse momento. Um deles é ficarmos vivos.

MEGAN: -Kevin, se liga! Vocês não se importam com o meu bem estar! Eu tô falando sério dessa vez, não é frescura não!!!

O jovem alto, louro e musculoso, de camiseta e jeans, um chapéu estilo Indiana Jones na cabeça, um anjo tatuado no braço. Sentado no chão, olha pra eles enquanto segura um gigantesco osso fêmur e mantém a mochila no colo.

CHAD: - (IRRITADO) Tudo que vem de você é sempre uma eterna frescura seguida de reclamação, e voltamos a eterna questão que nem Freud explica: Por que Megan se veste para o trabalho como uma garota de anime? Quem em sã consciência vai revirar sítios arqueológicos vestida desse jeito? Se é pra provocar ereções entre os amigos, desista. Darius não gosta de você, Kevin entrou pra abstinência sexual e eu não comeria você nem que estivesse em jejum completo!

MEGAN: -Você é um canalha, Chad West, um maldito canalha nojento, depravado, o pior tipo de homem que existe na face da Terra! Um machista que fica julgando pelas roupas! Eu gosto de ter estilo e não é pra provocar três idiotas! Acha realmente que eu transaria com você? Só se estivesse louca de pedra! Você é arrogante, um péssimo arqueólogo e pensa que é o Indiana Jones! Deve estar todo contente por ter achado um osso de um suposto gigante! Aposto que é de mamute!!!

CHAD: - Meu Deus, o cérebro dela é uma coisa fantástica, não sabe diferenciar um fêmur de mamute de um fêmur de hominídeo! Se fosse de mamute, acha que os caras da Nova Ordem estariam doidos pra nos matar e levar a prova da existência de gigantes? Olha aqui, sua imbecil, você acha que vai seduzir esqueletos com essa roupa? Múmias? Talvez escavadores etíopes surrados e velhos? Eles não ganham por ano o que você ganha de mesadinha do papai em um dia!!!

KEVIN: -(RINDO) Meu pai também dizia que quando a implicância é demais... É amor!

CHAD: -(NOJO) Deus me livre!

MEGAN: -(NOJO) Me livre eu!

Kevin senta-se ao lado de Chad.

KEVIN: -Tá, vamos parar de discussão! Não há saída dessa caverna e os soldados da OTAN estão lá fora prontinhos pra jogar bomba de fumaça, pra fazer a gente sair e depois nos matarem! E vocês dois ficam aí discutindo moda e ossos! Osso é aguentar vocês!!!

O jovem negro de cabelos rastafáris deixa o corpo escorregar e cai sentado ao chão, histérico, com a mão ao peito.

DARIUS: - (DESESPERADO) Vamos morrer!!! Vamos todos morrer!!! E eu serei o primeiro, porque sempre é o negão ou o gordinho quem se ferra primeiro!!! Não há gordinhos aqui, então sobrou pro negão!!!

CHAD: - (CALMO) Alguém segura as pontas do negão com a "Lei do Cinema" dele, ou eu posso atirar e acabar com a sofrência do cara?

DARIUS: - (HISTÉRICO) Atira!!! Atira seu branquela imbecil!!!

KEVIN: - Meu Deus! As meninas já vão começar? Não basta o estresse da situação? Vamos raciocinar. Já saímos de situações piores, pelo menos não tem os demônios do Moedinha atrás da gente! Isso já é lucro!

DARIUS: - É, mas tem os caras da Nova Ordem!!! Não tem muita diferença!!! Todos querem as nossas cabeças na bandeja! Aqueles desgraçados, filhos de uma Jezabel...

CHAD: - Negão, não alivia não, são filhos da puta mesmo!

DARIUS: -Não tô aliviando, eu não gosto de palavrão. O sentido dá na mesma e não falo essa palavra feia aí que você falou!

CHAD: - O crente desviado cheio das referências bíblicas... Ninguém mandou catar a filha do pastor!

Eles riem. Darius faz careta pra eles.

DARIUS: - Pois eu a respeitei! Ela que inventou mentiras, aquela Madalena.

A jovem morena de cabelos longos, bermudas, camiseta e botas cano baixo, está de costas para a câmera, cabisbaixa, com o braço apoiado na parede da caverna.

CHAD: - O que eu sei é que não podemos mais ficar nesse lugar. Por pior que seja ficar pulando...

DARIUS: - (NERVOSO) Não!!! Nem pensar!!! Não quero pular nada!!! Chega de pular!!! Eu vou vomitar minhas tripas!!!

KEVIN: - Eu concordo com o Chad. Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. E eu prefiro correr que ser comido nesse buraco! Prefiro parar até na idade da pedra ou numa outra dimensão a ficar aqui!

CHAD: - Vamos fazer uma votação. Órion, enjoo e vômito ou ficamos aqui esperando aqueles nóias lá fora. Quem vota por Órion?

Chad e Kevin levantam a mão.

CHAD: - Quem vota pra ficar e seja o que Deus quiser? Levando em conta que se Deus não quisesse não tinha nos dado Órion como escape.

Megan e Darius levantam as mãos. Chad e Kevin olham pra jovem em pé.

CHAD: - Você vai ter que desempatar, meu anjo. Sei que ainda não sabemos como essa coisa de portal funciona, não temos controle do tempo e espaço, nem do destino, mas o Serling garantiu que não tem como a gente se desintegrar. Ele é físico, posso acreditar nele.

KEVIN: - Eu ainda acho que inconscientemente nós escolhemos o tempo como das outras vezes. Lembra do Darius falando por horas que tudo o que mais queria era ter assistido um show do Michael Jackson e fomos parar em Los Angeles, 1986, quando Darius nem era nascido?

CHAD: - E você com Jesus Cristo! Eu me arrepio até hoje daquilo tudo, juro que pensei que os romanos iam nos crucificar! E aquele Moedinha dos infernos estava lá! Sinto o cheiro do capeta até hoje!

DARIUS: - (NERVOSO) Tá amarrado!!! Fala não desse cara, bro!!!! Fala não, nem brincando!

KEVIN: - O canalha sempre esteve aqui desde que o mundo é mundo. Por culpa daquele anjo desgraçado estamos nessa roubada de Nova Ordem Mundial...

CHAD: - Culpa só dele? Sei não. Nós humanos também somos culpados do mundo ter virado essa merda toda! Por mim a gente voltava no tempo e ficava em outra época bem melhor pra se viver.

A jovem morena vira-se mostrando o rosto, os olhos verdes. No pescoço o pequeno crucifixo divide espaço com um anel atlante, um brinco de argolinha e um pequenino cadeado. Ela ergue a sobrancelha, num beiço, pensativa. Então segura com firmeza na mão os símbolos importantes que carrega na correntinha.

CHAD: - Aí, galera, vamos parar de falar mal do parente da Tory. Toda família sempre tem um tio cretino que não presta.

KEVIN: -Por mim eu falo mal mesmo do "tio". Então, Tory, o que decide? Vai revidar contra eles ou escapamos por Órion? Pra onde Órion nos levar, como sempre...

VICTORIA: - Eu não posso lutar contra eles, nem derramar sangue humano. Vamos escapar daqui, ir pra algum lugar e depois voltamos ao nosso tempo. E se a sua teoria estiver certa, Kevin... Deixem que eu escolha o assunto e o tempo agora. Eu sempre quis reviver um momento, do qual eu lembro pouco porque era criança. O momento especial das duas pessoas mais especiais da minha vida. Sem eles, eu nunca seria quem sou hoje. Nunca teria a força e a coragem pra fazer o que estamos fazendo. E sim, eu tive uma família e um lar. Não era perfeito como vocês acham, mas beirava sim a perfeição com o esforço deles.

Victoria se agacha, olhos marejados.

VICTORIA: - Eu poderia escolher qualquer tempo importante da história humana. Quem sabe o que veríamos com nossos próprios olhos, como a construção do mundo maia, os moais da Ilha da Páscoa, talvez Stonehenge. Quantas respostas teríamos sobre as civilizações antigas e seu aprendizado com os anjos que aqui estavam... Podíamos até voltar ao passado dessa caverna e ver quem habitava nela, se nefilins mesmo ou alguma experiência Grey não autorizada... Mas eu tenho saudades deles. Saudades de casa. Saudades de quando as coisas eram "mágica". Pinguinho... (VOZ EMBARGADA) Deus! Eu queria ser a Pinguinho dele pra sempre!

Os amigos olham pra ela com carinho.

VICTORIA: - (DERRUBA LÁGRIMAS) Saudades de ver todo aquele amor intenso e verdadeiro com o qual fui criada, longe desse ódio todo em que vivemos hoje, dessas perseguições da Nova Ordem, desse mundo vazio de verdadeiros seres humanos... Eu sinto a falta dos meus pais. Do abraço terno do meu pai, que me fazia sentir segura. Do sorriso lindo e compreensivo da minha mãe, que me trazia paz e conforto... Eu daria tudo pra vê-los no dia em que se casaram. Lembro que foi a coisa mais mágica que eu já havia visto. Eu tinha dois aninhos, recordo que ela parecia uma princesa saída dos contos de fadas e ele o meu super-herói de gravata borboleta.

MEGAN: - (DERRUBA LÁGRIMAS) Eu concordo com a Tory. Também tenho saudade deles. Foram meus pais quando eu precisei. A mãe da Tory sempre me dando conselhos como a mãe que eu nunca conheci. O pai dela me puxando as orelhas como todo pai deveria fazer... Lembra do tio Mulder zoando a gente na cozinha quando fazíamos bolo, Tory?

VICTORIA: - (SORRI) Lembro, ele enfiava o dedo na massa e saía lambendo, perguntava a cada cinco minutos se já estava pronto, só pra irritar a gente... E quando tinha balada? Nossa, papai surtava vendo a gente se arrumar pra sair, cheio dos conselhos e resmungos sobre maquiagem e roupa, me liguem se estiverem em apuros e cuidado com esses garotos são todos malandros, nem pensem em beijo na boca e se tocarem em vocês eu resolvo na porrada! E a mamãe: Cala a boca, Mulder, deixa as meninas se divertirem!

DARIUS: -(RINDO) Fala sério, Tory. A gente teve uma infância feliz naquela rua! Depois deles só o tio Alex e a tia Barbara. Ela e o tio Mulder faziam cada barraco com a Nancy e o tio Alex tinha que atender a chamada com viatura e tudo! Uma vez teve que levar os três presos e algemados!Lembra da Nancy Cara de Fuinha? Minha mãe uma vez voou nos cabelos dela, arrancando aqueles bobs, quando a idiota chamou meu irmão e eu de chipanzés africanos. O tio Mulder e o meu pai tiveram que apartar a briga, o tio Mulder pegou a mangueira e botou a Nancy Cara de Fuinha pra correr. Até a Julie Byers se meteu na confusão e fez uma página numa rede social chamada "Todo Mundo Odeia a Nancy" que virou piada na web!

Darius, Megan e Victoria riem.

DARIUS: - Cara, morar naquela rua era divertido, aquela vizinhança toda contra a Nancy era uma comédia só. Todo dia tinha uma diversão diferente! Eu concordo em ir pra essa época, embora eu não possa ver os meus pais, porque nesse tempo a gente nem tinha se mudado ainda... Lembro dos biscoitos maravilhosos que sua mãe fazia! Ela levava biscoitos e leite pra gente estudar na varanda e o seu Mulder fazendo cara de bravo abrindo a porta "você aqui de novo, Bob Marley? O que pretende com minha filha? Devo me preocupar?"

KEVIN: - (RINDO) A Scully me adorava. Quando minha família ia para os Estados Unidos, e a gente ia visitá-los, a Scully passava horas falando de rock e dos Stones comigo. Saudades do seu Mulder me chamando de "tampinha metido". (SÉRIO) Ele me ensinou a ser um homem de verdade. A ter coragem de fazer sacrifícios necessários...

Kevin se cala, olha pra Victoria e abaixa a cabeça, angustiado.

CHAD: - Só isso? A única vez que fui na casa da Tory ele me ameaçou dar tiros se eu tentasse algo com a filhinha dele... Já a mãe da Tory, que mulher mais gata, pena que eu era moleque! Aquele sorriso iluminava qualquer um! Por isso eu digo que a fruta nunca cai longe do pé.

Victoria sorri tímida. Kevin olha enciumado pra Chad.

DARIUS: - Vamos ficar pensando nisso. No casamento dos pais da Tory.

CHAD: - Bora viajar no tempo e vomitar as tripas?

VICTORIA: - Tomara que dê certo. Se der, vamos saber que somos nós quem escolhemos o nosso destino quando o portal de Órion é aberto.

MEGAN: - Se der errado... Espero que a gente caia num tempo onde as coisas eram bem melhores e tinha música decente pra ouvir.

KEVIN: - Tendo água fresca pra beber, comida sem aperfeiçoamento genético e nada de monitoramento 24 horas por satélites, eu já me sinto feliz!

DARIUS: - Já fico feliz se o Coisa Ruim não estiver lá!

Os cinco se levantam.

VINHETA DE ABERTURA: A MAIOR DE TODAS AS VERDADES


Residência dos Mulder - 7:04 A.M.

Scully abre os olhos, cerrando-os por causa da claridade que vem da janela do quarto que está aberta. Senta-se na cama, ainda sonolenta. Tateia ao lado.

SCULLY: - Mulder?

Nenhuma resposta. Scully olha para a cama, apenas uma bandeja com o café da manhã, um botão de rosa fechado e um bilhete. Scully sorri. Pega o bilhete.

MULDER (OFF): - Bom dia, Scully. Estou preparando há meses uma armadilha e hoje é o dia da captura. Beijos. Mulder.

Scully ergue as sobrancelhas e suspira. Olha para o relógio no criado-mudo.

SCULLY: - (DESANIMADA) Sete da manhã, Mulder? De um sábado? Eu não acredito que saiu cedo atrás de alienígenas, monstros ou conspiradores, sei lá o que quer pegar com armadilhas!

Scully dobra o bilhete e o coloca na gaveta do criado-mudo, que está repleta de bilhetes dobrados. Pega a xícara e leva aos lábios num gole, aborrecida.

SCULLY: - Hum... Ainda está quente... Acho que o criminoso saiu há pouco tempo.

Scully pega a rosa. Sorri. Aproxima o nariz para aspirar o perfume do botão. Olha desconfiada pra rosa. Leva os dedos abrindo as pétalas. O anel de diamantes cai sobre o lençol. Scully arregala os olhos, abrindo um sorriso enorme de surpresa, pegando o anel e olhando pra ele.

MULDER: - Quer casar comigo?

Scully leva um susto. Mulder escorado na porta do quarto, num sorriso.

SCULLY: - (SURPRESA) ...

Mulder espera uma resposta a inquirindo com os olhos.

SCULLY: - Mulder... É lógico que sim, mas...

Mulder senta-se na cama. Pega o anel e a delicada mão de Scully, colocando o anel no dedo dela. Scully admira num sorriso o anel em sua mão.

SCULLY: - Mulder, isso são diamantes! São pedras caras e a gente não tem condições de...

MULDER: - (OLHANDO APAIXONADO PRA ELA) Psiu! Diamantes não valem mais que você.

SCULLY: - Mulder. Eu até aceito casar com você, mas a gente já é casado...

MULDER: - Sim, mas não diante de Deus, como você acredita que deva ser.

SCULLY: - Mulder, a gente casou naquela igrejinha, às pressas, com o pastor vestido de Elvis, lembra?

MULDER: - Mas ainda assim a gente não casou na igreja católica com você vestida de noiva.

Scully fica incrédula.

SCULLY: - Você está brincando! Mulder, quando me falou que queria casar de novo comigo, não imaginei que fosse numa igreja! Achei que a gente ia fazer um casamento no jardim, tipo uma renovação de votos, nem perguntei nada porque tinha a certeza que vinha mais uma das suas ideias criativas de casamento! Convidamos Ellen e Skinner, Krycek e Barbara para padrinhos, mas eu não avisei que...

MULDER: - Não quer se casar comigo na igreja? Com aquele vestido de noiva que você tanto sonhou, que eu dei pra você com a promessa de você usá-lo algum dia? Eu não sou mentiroso. Acho que já passou da hora.

Scully se abraça nele em lágrimas. Mulder a envolve nos braços.

SCULLY: - Claro que eu quero, Mulder! Eu sempre sonhei com isso, você sabe.

MULDER: - Então está resolvido. Vai ser o casamento dos seus sonhos. Pode começar a correr atrás de tudo o que você quer.

SCULLY: - Só tem um problema nisso, Mulder. Dinheiro.

MULDER: - Você quer um casamento de milionário?

SCULLY: - Claro que não! Mas casamentos custam dinheiro e estamos desempregados e poupando recursos pra abrir a agência de detetives e...

MULDER: - Preocupe-se com a organização da coisa. O resto eu resolvo.

SCULLY: - Você não ia sair pra capturar alguém numa armadilha?

MULDER: - (SORRI) Acabei de capturar. Ela aceitou casar comigo.

Scully toma o rosto dele nas mãos e o beija. Mulder retribui. Recostam suas testas.

SCULLY: - E-eu... Eu nem sei o que dizer. Fui pega de surpresa...

MULDER: - Já disse o que eu queria ouvir. Agora levanta dessa cama porque temos um casamento pra planejar.

SCULLY: - Não quer voltar pra cama? Hum?

MULDER: - (DEBOCHADO) Scully, eu não sou desses, tá? Eu sou um homem de respeito! Isso que você está me propondo... Só depois do religioso!

Scully começa a rir. Mulder ri com ela. Os dois se abraçam.

MULDER: - Eu te amo, Scully.

SCULLY: - (SUSPIRA/ EMOCIONADA) Ah, Mulder, meu Mulder... Amo você também. Como não poderia amar?


8:18 A.M.

Na cozinha, Baba toma café lendo o jornal. Mulder raspa um pedaço de mamão e leva com a colher à boca de Victoria sentada em seu colo.

MULDER: - Você já tem dentes, por que insiste?

VICTORIA: - Neném gota assim.

MULDER: - Neném folgada, não é?

VICTORIA: - Nah neném folgada, neném do papai!!!

MULDER: - Criaturinha chantagista emocional feito...

Scully entra na cozinha e senta-se à mesa.

SCULLY: - Feito o pai dela. Igualzinha!

Scully pega uma fruta. Estende a mão com o anel de diamantes na cara de Baba. Baba desvia a atenção do jornal e arregala os olhos olhando para o anel na mão de Scully.

BABA: - Tá brincando que esse judeu sovina deu um anel de diamantes pra você? Eu sabia, o fim do mundo chegou e nem deu tempo de construir um búnquer no quintal!

SCULLY: - (SORRINDO BOBA) E me pediu em casamento.

BABA: - De novo? Onde ele quer casar agora? Na Área 51?

SCULLY: - Na Igreja.

BABA: - Meu Deus é pior do que eu imaginava! Se correr agora, talvez possa escapar do apocalipse!

MULDER: - Nhé nhé nhé. Sua coisa debochada.

BABA: - Fala sério, você tá de piada ou armando alguma coisa? Que igreja? Ahn? Já sei! Numa seita esquisita enquanto você investiga o pregador!

SCULLY: - Católica.

BABA: - Ahm? Provavelmente os quatro cavaleiros do apocalipse já estão chegando! Acho que tem um batendo na porta.

MULDER: - Eu sou um cara romântico, amo essa ruiva e quero realizar o casamento dos sonhos dela.

BABA: - Fala sério, Scully. Você é médica, tem certeza de que não é uma concussão, um traumatismo craniano, talvez uma daquelas gripes asiáticas que afetam o cérebro...

MULDER: - Larga do meu pé, chulé!

VICTORIA: - "Laga" chulé!!!!

BABA: - E quando pretendem se casar no religioso?

SCULLY: - Vou sair agora atrás do padre, antes que ele mude de ideia!

Scully se levanta, pega a bolsa e sai pela porta dos fundos, sorrindo boba.

BABA: - Finalmente criou juízo nesse cérebro pervertido e paranoico. Viu a felicidade dela?

MULDER: - Confesso que esperava, mas não tanto. O que custa realizar o sonho dessa mulher?

BABA: - Um anel, igreja, decoração, festa... Até custa um bocado, mas não tem preço! Vê se compra uma aliança pra ocasião, porque essa você comprou só pra mostrar que tem dona. E por ameaças dela... Agora fala a verdade. Você não está com toda essa bola pra tanto. Como vai pagar isso tudo?

MULDER: - ... Vou pegar parte das economias destinadas a abrir a agência. Depois vou bancar o psicólogo pra recuperar o dinheiro e aí abro a agência. Acho que Scully é mais importante do que tudo. E se eu esperar para abrir a agência e começar a ganhar dinheiro com isso, até lá Scully vai achar que está velha pra casar de noiva numa igreja e ficar frustrada o resto da vida.

BABA: - (SORRI) Está fazendo a coisa certa Mulder. Não financeiramente, mas está cumprindo sua promessa, renovando seus votos com ela e acho sinceramente que o momento é muito propício. Vocês estão juntos de novo, depois de todo aquele pesadelo dos infernos.

VICTORIA: - (BATE PALMAS) Juntos! Papai e mamãe!!!

Mulder sorri.

MULDER: - E você teve parte nisso, meu Pinguinho. Gosta de ver seus pais juntos, é?

VICTORIA: - "Goto"!!! Ox e Dana!!!

BABA: - Mulder, você pode até não ser religioso, não ser católico, ter sua visão diferente, mas uma coisa é certa: olha pra esse milagre no seu colo. Você mesmo me disse que só a tem hoje, porque aqueles anjos salvaram vocês. Olha pra sua mulher que foi torturada pelo diabo, tirada de casa e que depois de tanto sofrimento mútuo, está de volta, aqui com você porque os anjos interviram ao seu favor.

MULDER: - ...

BABA: - Deus os quer juntos, Mulder. Escute sua filha. O mínimo que pode fazer é prometer seu amor por Scully diante Dele. Sendo Ele um alienígena pra você ou um Deus pra ela. Isso não importa. De qualquer jeito você já sabe dessa verdade. De que Ele existe. E se Ele existe, acho que ficaria bem feliz em ver que valeu a pena todo o esforço dos soldados Dele para ajudarem você.

Mulder olha pra Victoria.

VICTORIA: - Qué sim, papai!!!

MULDER: - Eu não quero acreditar, Baba. Eu já acredito em Deus, mas não da forma religiosa. Eu tenho um pedaço do céu sentado no meu colo. Não sei a que veio, tenho medo de saber, mas também é o pedacinho da Scully e do Mulder. (DEBOCHADO) Mas o que importa é que ela tem saúde!

BABA: - Bem, vocês dois tem muita coisa pra decidir. Quem pensa para padrinhos?

MULDER: - Skinner e Krycek. Skinner uniu Scully e eu da primeira vez. Krycek da segunda. É justo. Já foram convidados.

BABA: - (SORRI) Gratidão é algo sempre bem vindo, Mulder... Bom...

Baba se levanta.

BABA: - Meg precisa de companhia hoje pra fazer compras. Como vocês estão atribulados com o casamento... Vamos, minha bruxinha. Vamos colocar uma roupa bonita e passar o dia com sua avó.

Baba pega Victoria e sai da cozinha. Mulder pega o celular. Aperta uma tecla.

MULDER: - (AO CELULAR) Rato, você tá em casa? ... Ah, na Barbara. Scully saiu, Baba vai sair e que tal me ensinar o resto da valsa? ... Melhor ainda. Em dez minutos atravesso a rua.


Residência de Barbara Wallace - 9:07 A.M.

Barbara abre a porta, usando um lenço na cabeça, shorts jeans curtíssimo e blusinha decotada. Mulder parado ali, nervoso.

BARBARA: - (SORRI) Nossa, que surpresa! Entra aí, vizinho!

Mulder olha pra ela de cima a baixo, boquiaberto. Depois desvia o olhar, disfarçando.

MULDER: - Nossa, essa casa é muito bonita...

BARBARA: - Desculpe a bagunça, mudança, faxina... Vem, vamos pra cozinha.

Barbara vai pra cozinha. Mulder vai atrás dela, dando uma olhadinha no traseiro dela, depois erguendo a cabeça e mordendo a mão. Ela vira-se.

BARBARA: - Senta aí, Mulder. Quer um café?

Mulder rapidamente tira a mão da boca e sorri amarelo, sem graça.

MULDER: - Ahn... Não. Acabei de tomar café. Krycek tá aí?

Mulder senta-se ao balcão. Barbara vai até a janela que dá para o jardim.

BARBARA: - (GRITA) Ratoncito!!! Mulder está aqui!!!

MULDER: - Sabe que ele está me ensinando valsa?

BARBARA: - Sei. Não me importo em emprestar meu homem pra você. Quando eu conheci Alex, pensava que era seu mesmo. Achava que nem ia ter chances!

MULDER: - Engraçadinha você também. Tudo bem, não sou ciumento.

BARBARA: -(RINDO) Mulder, quer uns biscoitinhos? Eu fiz, estão uma delícia!

Krycek entra suado e cansado, segurando uma pá. Mulder olha incrédulo pra ele.

KRYCEK: - Oi Mulder! Barbara, quantos buracos ainda eu vou ter que cavar pra você?

BARBARA: - São cinco árvores, Ratoncito. E tem sete palmeiras que vão chegar hoje.

Mulder segura o riso, levando a mão à boca.

KRYCEK: - (DESANIMADO) Ótimo. Faltam apenas dez! Quem sabe eu cavo mais buracos para você plantar a Floresta Amazônica inteira?

MULDER: - (DEBOCHADO) Só falta dez, Rato. Só dez. O que são dez buracos para um rato escavar?

KRYCEK: - Nem sou mais rato. Virei toupeira!

Barbara se estica tentando abrir o armário aéreo, ficando na ponta dos pés. Mulder olha pra ela arregalando os olhos. Krycek, enciumado, dá um cutucão nele.

MULDER: - Au! (DEBOCHADO) Tem vaga pra toupeira nessa casa?

KRYCEK: - (IRRITADO) Só no cemitério. Levo você pra lá rapidinho.

Krycek inclina a cabeça pro lado olhando o shorts enfiado no traseiro dela. Então fecha os olhos e suspira.

MULDER: - É, Rato... É tenso...

KRYCEK: - É... Muito tenso. E a culpa é toda sua.

MULDER: - Como você é ingrato! Devia me agradecer!

KRYCEK: - O que você quer pegar nesse armário, Barbara?

BARBARA: - A lata de biscoitos. Pega pra mim, Grandão? Eu não alcanço!

Krycek pega a lata de biscoitos e entrega pra ela. Barbara coloca a lata na mesa. Abre a lata e coloca um biscoito na boca de Krycek. Sai da cozinha. Krycek senta-se ao lado de Mulder.

KRYCEK: - É proposital, sabia?

MULDER: - O que é proposital?

KRYCEK: - As roupas que ela anda vestindo dentro de casa.

MULDER: - Só pra causar ciúmes em você?

KRYCEK: - Não, é pra me enlouquecer mesmo. É tática feminina. Das mais sujas.

MULDER: - Talvez ela goste desse tipo de roupa mais sensual, de ficar mais à vontade, está quente mesmo...

KRYCEK: - Não, é de propósito. Se fosse só a roupa, eu não desconfiaria. Os atos entregam a criminosa. Ela não ofereceu biscoitos à toa pra você. Se eu não estivesse na cozinha, ela pegava uma cadeira como faz sempre. Mas como eu entrei, ela fez aquela cena pra me provocar. A culpa disso é toda sua. Queria se vingar de mim, conseguiu!

MULDER: - E você tá reclamando dessa vingança? Eu fui bonzinho com você! Joguei uma morena gostosa e quente no seu colo e você ainda reclama? Eu sou seu melhor amigo, sabia? Porque se não fosse...

KRYCEK: - Era o que me faltava! Vai dizer que tá de olho na minha mulher?

MULDER: - Ah, ela é sua agora? Hum, como as coisas mudam, "Ratoncito". Pra quem fugia dela feito o diabo da cruz... Se eu quisesse, tinha pegado antes de você!

KRYCEK: - Que pegar o quê, você não pega nada, só piolho! Quem pegou você foi a Scully! E saiba que se eu não fosse seu amigo, eu tinha pego a sua mulher. E ao contrário da Barbara, a Scully não iria relutar!

MULDER: - Ah, fala sério! Você se acha, com esse visual todo badboy. Por que a Barbara iria relutar? Ahn? Eu sou o "Terror da Virgínia". Olha pra esse mau caminho inteiro aqui! Elas não resistem!

KRYCEK: - Que vou olhar pra você, tá maluco? Olha você pra mim, "Terror da Virgínia". Tenta tocar um dedo na minha garota, e você vai ver o que acontece com engraçadinhos tentando roubar o meu queijo!

MULDER: - (DEBOCHADO) E que queijo! Rato, ela tem dez anos a menos que você. Acha que vai dar conta desse vulcão quando ficar velho? Sugiro já ir pensando em recorrer a indústria farmacêutica, antes que ela arrume outro jardineiro mais jovem e que não canse de "plantar". Você é lento demais! Se fosse a Scully me provocando desse jeito o dia todo, eu não dava descanso!!!

KRYCEK: - Quer um soco agora ou voo pra cima de você em cinco segundos, "amorzinho"?

MULDER: - Quero que você vá tomar um banho porque não vou dançar com um macho suado me agarrando. Isso não faz parte da minha ideia de programa pra sábado, "amorzinho".

Krycek se levanta emburrado. Passa por Barbara que vem voltando.

BARBARA: - O que houve com ele?

MULDER: - Crise dos quarenta, tá ficando velho, reumático e resmungão. Casa logo com esse cara antes que o asilo case com ele!

BARBARA: - Agora não é o momento. Estou domesticando o ratinho rebelde.

Mulder olha em pânico pra ela.

BARBARA: - E me desculpe pelas roupas que estou usando, não quero constranger você. É intencional. Pra cada coisa certa que ele faz, ganha a recompensa que deseja. Se pisar fora, só vai ficar olhando, porque a recompensa vai ficar ali exposta o dia todo para ele lembrar de não fazer besteira.

MULDER: - (PÂNICO) Uh! Por que tenho a sensação estranha de que tem dedo de Dana Scully nisso? Está fazendo aulas com a Scully sobre como torturar um homem?

BARBARA: - Scully agora é minha amiga e minha irmã mais velha. E ela me ensina coisas muito úteis. Mas isso é ideia minha. Enquanto ele cavar buracos pra enterrar árvores, vai ser recompensado. Se voltar a cavar buracos pra enterrar corpos, vai dormir na casa dele chupando o dedo!

MULDER: - (INDIGNADO) Isso é cruel, sabia? Ficar provocando o cara o dia inteiro! Vocês são todas iguais mesmo! Não sei como cabe tanta maldade em mulheres tão baixinhas. Comecei a ficar com medo dessa amizade entre vocês duas.

BARBARA: - Está devendo, Mulder? Posso dar essa sugestão pra Scully. Ao invés de punir somente à noite, na hora do "faz-me rir", como ela me ensinou, posso sugerir puna o dia inteiro.

MULDER: - Mantenha suas ideias de punição longe da minha mulher. Ela já faz isso quando está irritada comigo, mas pelo menos só no turno da noite... Se ela descobrir que tem o dia inteiro pra me torturar, eu tô ferrado!


9:42 A.M.

Barbara coloca a caixa de papelão sobre o balcão. Começa a tirar as panelas.

BARBARA: - Acho que essas vão para...

Barulho de coisa quebrando na sala. Barbara leva um susto. Sai correndo pra sala. Então esboça uma fisionomia indignada, colocando as mãos na cintura, ao ver o vaso em cacos espalhado pelo piso e Krycek estatelado no chão com Mulder de costas em cima dele.

BARBARA: - Crianças, o que aprontaram dessa vez? Brigando de novo?

KRYCEK: - Sai Mulder!!! Ai!!! Minha coluna!!! Um mamute caiu em cima de mim!!!

Mulder senta-se no chão e tem um acesso de riso. Krycek senta-se e ri com ele.

BARBARA: - (DEBOCHADA) Meninos, a tia Barbie não se importa que brinquem, contanto que não destruam a casa e não briguem. Querem um lanchinho quem sabe? Que tal assistir um desenho, jogar bola no quintal...

MULDER: - Quero desistir dessa coisa de valsa. Isso é muito perigoso!!!

KRYCEK: - Eu disse pra você deitar nos meus braços e não pular!!! (RINDO) Seu maluco!!!

Os dois riem sem parar. Barbara suspira.

BARBARA: - Se eu tiver que levar alguém pro hospital, vou levar pelas orelhas, entenderam? Meu Deus, parecem dois moleques quando se juntam!

KRYCEK: - Olha eu já ensinei o que sabia, Mulder. Acho melhor você dançar o que aprendeu e treinar essa parte com a Barbara. Ela é mais leve.

MULDER: - Ai... Acha que vou sobreviver à valsa ou Scully vai ficar viúva antes do casamento?

BARBARA: - Nada! Alex fez a parte dele. Agora você pratica comigo e eu ensino essa parte pra você. Imagina dois marmanjos enormes tentando dar giro numa valsa, um no colo do outro? Vão acabar se quebrando os dois! Andem, levantem daí, ajeitem já essa bagunça e vão pra cozinha que fiz limonada. (BATE PALMAS) Vamos, andale, andale, andale! Crianças! Não dá pra deixá-los sozinhos por um minuto que aprontam todas!


Cafeteria Girassol & Canela - 9:44 A.M.

Ellen com touca e luvas termina de decorar um bolo. Skinner serve um café.

ELLEN: - É um presente mais que merecido, portanto a festa será por nossa conta. Concorda?

SKINNER: - Claro que sim, Ellen. Eu fui o culpado.

ELLEN: - Eu vou fazer o buffet, acho que salgados, doces e o bolo. Já vou encomendar as bebidas com os fornecedores e pago as horas extras dos garçons. Vou fazer um bolo a cara dos dois e com dois bonequinhos esculpidos iguais a eles. Acha que vou acertar o narigão do Mulder?

SKINNER: - (SORRI) Vai gastar muita massa pra isso.

ELLEN: - Só não posso errar o tamanho do traseiro da Dana, ou ela me mata! Hum... Estou pensando em fazer um bolo decorado com girassóis e canela... Doces em forma de girassóis... Meu Deus! Estou tendo tantas ideias!!!

SKINNER: - Tenho medo das suas ideias...

ELLEN: - Walter... No seu aniversário nem imagina o que terá em cima do bolo em sua homenagem!

SKINNER: - Espero que nenhuma lanterna...

ELLEN: - Preciso ver com a Dana sobre o vestido das madrinhas... E você precisa comprar um smoking novo. Liga pro Mulder e combina com ele. Mulder é um desastre nessas coisas... Meu Deus! E o bonitão da jaqueta de couro deve ser pior!

SKINNER: - Quem é o bonitão da jaqueta de... (SÉRIO) Você está brincando!

ELLEN: - Não. Mulder convidou ele para padrinho.

SKINNER: - Ellen, não é isso. Você acha aquele cara bonito?

ELLEN: - Err... Ah, Walter, ele é bonitão sim. O que tem achar um homem bonito?

SKINNER: - Nada, mas se tratando de Alex Krycek... Péssimo gosto!

ELLEN: - Walter, vamos falar sério. Alex se ajoelhou na sua frente pedindo perdão por tudo o que fez contra você. E foi sincero. Eu estava lá, você ficou chocado, surpreso e até comovido, não banque o durão agora, deixa pra fazer papel de durão dentro do FBI, porque eu conheço o seu coração mole! Vai começar a recordar velhas mágoas? As pessoas erram. E precisa muita coragem para admitir e mais ainda para pedir perdão. Ele se humilhou pra você e Mulder. O que espera mais dele? Que se mate para provar que está arrependido?

SKINNER: - Não é isso. É que...

ELLEN: - (SORRI) Está com ciúmes? É isso? Ah, meu Girafão...

Ellen recosta a cabeça no ombro dele, mantendo as luvas sujas de glacê longe do paletó de Skinner.

ELLEN: - Acho que já passamos da idade de ter ciúmes, meu Girafão. Não acha?

SKINNER: - Você não, eu já.

ELLEN: - Meu Girafão lindo e sem cabelo, eu amo você. E nem é pelo tamanho da sua lanterna ou por você ser mais velho do que eu ou por essa careca sensual que me dá vontade de encher de glacê e lamber todinha...

SKINNER: - (RINDO) Ellen! Para! Suas funcionárias podem ouvir!

ELLEN: - Você é um homem refinado, sério, trabalhador, sexy, lindo, com um coração enorme e muito humano. Que fica mais gostoso ainda com esse terno, essa arma, esses óculos e bancando o durão do FBI. Eu amo você todinho, meu diretor assistente... Que tal me levar presa hoje à noite? Posso assaltar a geladeira, roubar suas roupas do banheiro ou talvez correr nua pela casa tentando fugir do FBI e suas algemas...

SKINNER: - (SORRI SACANA) Ellen... Você é louca! Não banca a louca diante de um louco.

ELLEN: - Admita, você adora a louca dentro de mim. Eu adoro o louco dentro de você.

Ellen passa o dedo no nariz dele enchendo de glacê. Skinner sorri.

SKINNER: - Sério que vai ser a rigor?

ELLEN: - Vai ser como a Dana quer. Mulder só vai fazer os caprichos dela.

Skinner tira o glacê do nariz, levando à boca.

SKINNER: - Eu não consigo ver o Mulder nessa situação. É sério. Isso me parece uma piada do tipo: chega todo mundo a rigor e Mulder entra de moletom e tênis na igreja, com uma camiseta de Star Trek... É, mas ele vai fazer sim. Não sei o que deu nele, mas vai.

ELLEN: - O que deu nele foi a doença do amor, Walter. Aquele bichinho que vai roendo, roendo e fazendo um estrago enorme. Acontece com homens depois dos quarenta associado com a palavra 'juízo'.

SKINNER: - Eu conheço bem esse bichinho.

Ellen tira as luvas. Skinner rapidamente passa o dedo no glacê, levando à boca.

ELLEN: - Walter, tira o dedo do meu glacê! Então, vai pra casa ou para o FBI?

SKINNER: - Vou aproveitar que você está inspirada e ocupada aqui e vou colocar uns trabalhos em dia no FBI. Vamos almoçar juntos?

Ellen o puxa pela gravata, num sorriso.

ELLEN: - Vamos. Eu deixo as meninas no balcão e a gente vai naquele nosso restaurante, ok? Depois vou ligar pra Scully pra combinar tudo.

Os dois trocam um beijo.


Residência dos Mulder - 11:34 A.M.

Scully entra pela porta dos fundos, sorrindo. Coloca a bolsa na cadeira.

SCULLY: - Mulder!!! Consegui um padre!!! Você vai adorar essa!!!

Mulder entra na cozinha, cruza os braços e se escora na geladeira, olhando num sorriso pra ela.

MULDER: - Pensei que ia atrás do padre da sua família...

SCULLY: - Mulder, o Padre McCue está muito velhinho pra fazer casamentos. (EMPOLGADA) Mas o padre substituto da nossa paróquia é um franciscano. O Frei Martin. Você não vai acreditar...

Scully empurra Mulder e abre a geladeira. Pega água.

SCULLY: - Ele acredita em alienígenas!

MULDER: - (RINDO) Isso é sério? E como entraram nesse assunto? Você disse que ia se casar com um?

Scully sorri servindo um copo. Mulder com os olhos fixos nela, sorrindo. Scully toda empolgada e agitada.

SCULLY: - Eu fui falar com ele sobre nosso interesse em casar na igreja. Expliquei que só eu e minha família somos católicos, que ninguém aceitaria fazer cursinho e outras exigências e ele me tranquilizou dizendo que ninguém precisa saber disso. Fomos marcar a data na sacristia e vi sobre a escrivaninha dele um livro do Däniken.

MULDER: - Tá brincando!

Scully bebe a água rapidamente, empolgada. Mulder ainda atento a ela.

SCULLY: - Não mesmo! Perguntei se ele acreditava nessas coisas de alienígenas e ele me disse que Deus seria muito egoísta se criasse um universo inteiro apenas para nós. Acho que você vai gostar do Frei Martin, Mulder. Ele tem cada teoria...

MULDER: - É, mas isso não vai me fazer virar católico.

SCULLY: - Não precisa virar católico. Você religioso seria um porre!

Mulder continua olhando fixamente pra Scully.

SCULLY: - (SORRI) O que foi? Por que não parou de me olhar desde que cheguei?

MULDER: - (SORRI) Porque você é perfeita. Você é linda. Seu sorriso ilumina e contagia. Eu adoro quando você está feliz. E você está muito feliz mesmo! Eu quero fazer você feliz todos os dias da minha vida.

SCULLY: - (CERRA O CENHO/ EMOCIONADA) Mulder...

MULDER: - Lamento mesmo pelos homens que nunca viram a sua essência, mas fico grato por eu ter sido o privilegiado. Eu casaria com você todos os dias da minha vida. De todas as formas.

Scully vai pra lavanderia e volta com um banquinho. Mulder sorri. Ela coloca o banquinho na frente dele e sobe, ficando um pouco mais alta que ele, inclinando a cabeça e olhando-o nos olhos.

SCULLY: - Obrigada pelo banquinho. Agora vou mostrar o objetivo dele.

Scully leva os braços ao redor do pescoço de Mulder, olhando nos olhos dele. Aproxima os lábios e dá um beijo suave em Mulder. Mulder fecha os olhos. Envolve os braços nela e recosta a cabeça no ombro dela.

MULDER: - Entendi. Resolvemos nosso problema na vertical. Como sou idiota! Deveria ter comprado esse banquinho há muito tempo!

SCULLY: - (SORRI) O que quer para o almoço?

MULDER: - (SÉRIO) Sua boca na minha.

SCULLY: - (SORRI) Mas nossa filha e a Baba...

MULDER: - (SÉRIO) Foram pra Meg. Estamos sozinhos. Bom, nossos padrinhos querem sair pra resolver o smoking depois das seis da tarde...

SCULLY: - (SORRI) Hum... Quer namorar?

MULDER: - (SÉRIO) Aceito pipocas, um filme e você comigo naquele velho sofá, lá no sótão.

SCULLY: - (SORRI) Mas temos uma cama também no sótão.

MULDER: - (DEBOCHADO) Scully, seja criativa!

SCULLY: - Vamos transar antes ou depois do filme?

MULDER: - Eu não quero fazer sexo com você.

SCULLY: - ???

MULDER: - (SORRI) Eu quero fazer amor.

SCULLY: - (FELIZ) Me leva agora pra aquele sótão, Fox Mulder! Vamos namorar, vamos ver filme e vamos fazer amor, porque eu sou a mulher mais feliz desse mundo!!! Uhu!!!

Mulder a pega nos braços. Scully envolve os braços no pescoço dele.


1:16 P.M.

No sótão, Mulder sentado no sofá, pernas estendidas, apenas de calças jeans. Scully deitada de lado entre as pernas dele, nua e envolta num lençol. Olhar num ponto de fuga. Mulder brinca com os dedos nos cabelos dela.

MULDER: - No que está pensando?

SCULLY: - Tanta coisa... Nos anos em que passamos como colegas e amigos naquele porão. Em tudo o que enfrentamos juntos, minha abdução, as mentiras, atentados contra nossas vidas... Nos anos que passamos como amantes naquele porão. Enfrentamos mais ataques, mais mentiras, mais atentados... Nos dois últimos anos em que estamos morando juntos... Mais ataques ainda, mais mentiras, mais atentados... Virei experiência do MK Ultra, abandonando você e Victoria, me perdendo de mim mesma, você desatinado de tudo... E estou pensando no agora.

MULDER: - O que tem o agora?

SCULLY: - Uma certeza bem maior do que antes. Nada vai nos separar. Nada. Nenhuma maldade do homem ou do próprio mal. Mulder, a gente sofreu muito pra chegar até aqui. Coisas que duvido que outro casal suportaria. Nós nos odiamos, nos ferimos mutuamente, num jogo sujo que nos colocou um contra o outro. Sim, o plano do Moedinha foi quase bem sucedido. Foi o pior de todos. O mais maligno, atingiu nossa confiança. O único erro dele foi pensar que o amor não seria nossa tábua de salvação.

MULDER: - Não quero mais lembrar disso, Scully. Sabe por quê?

Scully pega a mão dele e coloca contra o rosto, afagando-a.

SCULLY: - Por quê?

MULDER: - Porque aquilo tudo que vivemos foi uma mentira criada por eles e nós acreditamos. Fomos manipulados como marionetes, agindo dentro do contexto que ele queria. Nada daquilo foi uma verdade. A maior de todas das verdades é que a gente se ama. E dane-se o resto!

SCULLY: - Mulder, estou cansada, sabe? Cansada de tentarem nos separar. Cansada de viver preocupada se estão atrás da gente, se estão bolando outro plano maquiavélico pra nos separar, tomar nossa filha...

MULDER: - Scully, quando pensei em desistir da minha carreira como agente do FBI, tive alguns motivos para tomar essa decisão. Eu cansei desse joguinho de gato e rato deles, percebi que eu já sabia a verdade e por mais que gritasse, um dia calariam a minha voz e quem se importaria?

SCULLY: - Sua filha e eu.

MULDER: - Exato! Então não foram apenas esses motivos que me fizeram pedir demissão. O principal motivo foi a segurança da nossa família. Ficar mais perto de vocês duas.

Mulder envolve os braços nela. Scully brinca com os pelinhos do peito dele.

SCULLY: - Mulder, quando decidi me demitir junto com você, foi pensando que não poderia discordar do meu marido, isso seria um tapa na sua cara, um atestado de que eu não me importava com sua mágoa daquele lugar e nem com a minha mágoa também! Como poderia continuar? Eu iria ficar lá sozinha, me torturando por um salário e deixar você e Victoria sozinhos aqui? Meu principal motivo pra pedir demissão foi pela união da nossa família. Ficar ao seu lado e ao lado da nossa filha.

MULDER: - Perdemos o tesão pelo FBI, Scully, essa é a verdade. Pelo menos a gente saiu dessa vez e não fomos saídos como das outras vezes.

SCULLY: - Exato. Perdemos o tesão. Pelo amor de Deus, né, Mulder? Quantos anos lá dentro apanhando e levantando, eu nem sei contar quantas vezes apanhamos e levantamos, apanhamos e levantamos. Não somos burros e estúpidos pra continuar nesse jogo idiota. Aliás, fomos sim, porque ficamos tanto tempo lá fazendo as mesmas coisas sem resultados diferentes. Isso é burrice! Agora vamos fazer diferente pra ver se os resultados mudam.

Scully passa os dedos pelo braço dele, brincando com os pelinhos.

MULDER: - De certa forma já mudaram, Scully. Olha pra nós dois, como amadurecemos. Não apenas em idade, mas no modo de ver as coisas. Perdemos o medo do novo, de tentar, de colocar as coisas que nos são mais importantes antes do trabalho, nunca jamais o inverso. Casar com você agora, pra mim significa assinar o atestado de que chega do passado, daquela vida selvagem. Eu quero sair daquela igreja um novo Mulder, ao lado de uma nova Scully. Zeramos tudo naquela igreja. Vida nova. A outra vida aquela não fecha mais com nossos propósitos.

SCULLY: - Concordo, Mulder. Quero zerar tudo. Quarenta anos na mesma, agora quero novo ciclo, novas coisas. Quero ser uma nova mulher. E aposte que depois disso vou mudar meu visual. Mulher começa mudanças sempre pelos cabelos.

Mulder afaga os cabelos dela.

MULDER: - (SORRI) Eu amo seus cabelos. Acho que vou ficar menos sério.

SCULLY: - Mulder, você não é sério.

MULDER: - Mais casual.

SCULLY: - Eu também. Mas por favor, de vez em quando use seus ternos porque eu adoro você neles. Fica muito sensual.

MULDER: - Ok, ternos permanecerão no guarda-roupas, contanto que seus tailleurs também, porque você fica muito sexy neles.

Scully apoia o queixo no peito dele, fitando-o curiosa.

SCULLY: - Sério? Não fico sisuda demais, tipo a tia chata?

MULDER: - Não mesmo. Acho excitante. Fico tentando adivinhar o que está vestindo por baixo deles.

SCULLY: -(SORRI) Mulder, ainda acha graça nisso?

MULDER: -(SORRI) Scully, nada em você me faz perder o fascínio.

SCULLY: - (SORRI) Mulder, você realmente é estranho.

MULDER: - (SORRI) Você também é. Me acha sensual usando terno!

SCULLY: - Você é sensual até com roupa de esquimó, Mulder!

MULDER: - Eu já acho que você é quem ficaria sensual de esquimó, Scully. Mas como eu digo, a gente nunca concorda em nada mesmo!

Os dois riem.


3:21 P.M.

No sótão, Scully agora sentada no sofá, Mulder deitado entre as pernas dela com uma tigela de pipoca sobre o peito. Scully pega pipocas e leva à boca, sem desgrudar os olhos da televisão.

MULDER: - Fala sério, isso vai dar merda.

SCULLY: - Das grandes.

Scully pega pipocas e coloca na boca de Mulder, os dois atentos ao filme. Barulho de tiroteio. Scully ergue as sobrancelhas. Mulder coloca pipocas na boca.

SCULLY: - Quero uma pistola automática dessas que dá cinquenta tiros sem precisar trocar o cartucho.

MULDER: - (RINDO) Scully, é um filme de ação! Eles não precisam ser lógicos! Olha aquele cara, caiu morto sem levar um tiro!

SCULLY: - Morreu de susto?

Os dois riem. Scully se ajeita no sofá.

MULDER: - Quer trocar de lugar?

SCULLY: - Não. Adoro você deitadinho aí no meio das minhas pernas... (EMPOLGADA) Eu falei, Mulder! Eu disse pra você que esse cara ia trair o parceiro dele!

MULDER: - (INCRÉDULO) Sério, eu pensava que era só um pega ratão pra enrolar o público. Agora ele tá ferrado! Quero ver sair dessa.

SCULLY: - Ele vai sair dessa, ele é o mocinho!

MULDER: - Ah, Scully, é óbvio que ele vai sair sim, mas eu quero ver como, porque a situação é complicada. O parceiro traíra vai atirar!

Scully coloca pipocas na boca e depois na boca de Mulder.

SCULLY: - (RINDO) Por favor! Nem Jackie Chan daria essa voadora! Nem eu com todo o treinamento do FBI como a Scully Lee!

MULDER: - É, foi forçado. "Defeitos especiais". (RINDO) Ah não, ele não entrou pulando naquele carro daquele jeito!

SCULLY: - Entrou pulando como se gravidade não existisse e agora vem a perseguição, tiroteio... Nossa, eu tenho pena dos dublês! E dos carros!

MULDER: - (RINDO) Dos carros?

SCULLY: - Claro! Olha quanto carro legal batendo um no outro! Pronto! Sempre a polícia é babaca em perseguição!

MULDER: - Jura que a polícia, com treinamento em direção ofensiva iria errar essa curva... Nem eu erraria de olhos vendados com Victoria berrando no meu ouvido.

Som de estrondo.

MULDER: - Isso foi no filme?

SCULLY: - Eu acho.

Mulder se levanta, segurando a tigela de pipocas quase vazia.

MULDER: - Vou checar. Fica aqui.

SCULLY: - (PREOCUPADA) Mulder...

MULDER: - Já volto. Vai que o cachorro está fazendo bagunça. Já vou fazer mais pipoca. Depois me conta o que aconteceu.

SCULLY: - Grita se estiver tudo bem, senão eu desço armada.

Corte.


Mulder desce as escadas. Olha pra sala. Nada. Vai pra cozinha. Nada. Ergue os ombros. Abre o armário, pega pipocas e coloca no micro-ondas. Sai pela porta do fundos.

MULDER: - Cookie! Pulguento, aonde você está?

Na sala, Darius espia por sobre o sofá. Victoria abaixa a cabeça dele.

VICTORIA: - (FELIZ) Eu não acredito, é o papai! Deu certo!

KEVIN: - É, mas vamos sair pela porta da frente antes que ele nos veja e atire nos intrusos!

Victoria se levanta. Vê Cookie escondido debaixo da mesa de centro. Victoria enche os olhos de lágrimas.

VICTORIA: - Cookie!!! Meu parceirinho!!!

Cookie a reconhece e corre até ela abanando o cotoco de rabo. Victoria o pega no colo, o abraça, o cheira, brinca com ele.

VICTORIA: - Ai, Deus, que saudade de você, meu parceirinho!!!

KEVIN: - Tory, temos que ir! Caímos no lugar errado!!! Seu pai vai nos ver!!!

Victoria dá um beijo em Cookie e o coloca no chão. Darius corre abrindo a porta da frente. Os cinco saem rapidamente. Victoria olha pra sala num sorriso, depois atira um beijo pra cozinha.

VICTORIA: - (SUSSURRA) Te amo, pedaço de mim!

Victoria fecha a porta. Mulder entra na cozinha fechando a porta dos fundos.

MULDER: - Deve ter sido no filme mesmo. (GRITA) Scully quer refrigerante?


6:45 P.M.

Mulder, Skinner e Krycek andando no shopping center. Krycek com as mãos nos bolsos da jaqueta de couro.

MULDER: - É sério, Skinner! Scully não quer fraque, quer que eu use um smoking.

SKINNER: - Por quê?

MULDER: - Fetiche de mulher? Ah, sei lá! Mas eu não vejo motivos pra comprar um novo. Acho que alugar é melhor.

SKINNER: - Mulder, por favor. Essa é uma data especial. Não apenas a noiva merece atenção, apesar de ser a estrela do dia. Eu tenho um costureiro...

Krycek e Mulder olham pra Skinner, com risos visíveis.

SKINNER: - Parem com isso!

MULDER: - É, Krycek, pare com isso, seu pobre! Ele é diretor-assistente do FBI, tem um costureiro! N-o-s-s-a!!!

KRYCEK: - Quem manda você ter estagnado naquele porão, Mulder, seu pobre? Podia ter um costureiro hoje!

SKINNER: -Querem parar? Eu não faço ternos sempre. Mas existem ocasiões em que se precisa ter um terno mais alinhado. Esses das lojas não tem um caimento perfeito...

KRYCEK: - Mulder, como seu padrinho também, a gente vai fazer um smoking com caimento perfeito, para o Skinner não ficar zoando nossa cara. Eu pago. Meu presente pra você. Eu não sei aonde vou usar um smoking depois, mas...

MULDER: - Já tem roupa pra procurar emprego na ópera, Rato.

Krycek para na frente de uma vitrine. Mulder e Skinner continuam caminhando.

MULDER: - Krycek tem razão, é uma roupa pra uma noite apenas, eu também nem tenho onde usar essas coisas.

SKINNER: - Nunca se sabe, Mulder.

Os dois param, percebendo Krycek entrando na loja. Voltam. Mulder olha pro letreiro da loja. Através da vitrine observa Krycek falando com a atendente.

MULDER: - Ele chega assim, sério, mãos nos bolsos da jaqueta de guerra e puxando assunto.

Skinner observa.

MULDER: - Presta atenção na malandragem da figura. Daqui à pouco ele abre um sorriso tímido, mostrando aqueles dentes brancos... Oh, não falei?

Skinner ri.

MULDER: - Agora ele passa a mão no cabelo, fazendo charminho e olhar de lobo mau...

SKINNER: - Ele não fez isso. Foi atrás dela pro fundo da loja.

MULDER: - O que o Rato está aprontando?

SKINNER: - Eu pago o sorvete e a gente senta naquele banco. Seja o que ele estiver tramando vai demorar.

Corte.


Krycek sai da loja com algumas sacolas. Mulder e Skinner vão ao encontro dele.

MULDER: - Podia ter avisado que queria renovar o guarda-roupa.

KRYCEK: -Isso não são roupas, são armamentos para uma batalha. Ela quer guerra, terá guerra. Agora vamos no costureiro do Skinner porque eu quero fazer a arma do ferimento fatal! Nenhuma mulher resiste a um cara vestido de gala.

MULDER: - (DEBOCHADO) Fala sério, Rato. Vai jogar o mesmo jogo com a Barbara? Você não vai ficar sexy com um shortinho jeans enfiado no traseiro!

Skinner solta uma risada incontida.

KRYCEK: - Como você é palhaço, Mulder! Esqueceu quem teve que ajudar você a ficar sexy pra Scully? Hum? Eu sei como provocar uma mulher!

SKINNER: - (CURIOSO) Que história é essa, Mulder? Essa eu não ouvi nos corredores do Bureau!

KRYCEK: - Essa ele não conta. Graças às minhas dicas de moda badboy ele virou o "Terror da Virgínia".

MULDER: - Tá, admito! Skinner, o segredo todo é uma jaqueta de couro.

SKINNER: - Sério? Eu tenho uma que nunca usei.

KRYCEK: - O segredo não é a jaqueta de couro. Ela é apenas um artifício. O segredo... Eu não vou contar pra você. É meu segredo.

MULDER: - Como assim? Eu usei uma jaqueta de couro e funcionou!

KRYCEK: - Eu sei e vai continuar funcionando. Mas não é a jaqueta de couro. Se fosse, não funcionaria pra todos os caras. Skinner, com você vai funcionar.

MULDER: - Eu não acredito que você não vai me contar! Somos amigos!

KRYCEK: - Não vou mesmo. Funcionou, não é? Então deixa assim.

MULDER: - Como "deixa assim"? Eu quero saber! Qual é o segredo?

KRYCEK: - Mulder, se é segredo, é segredo. Eu não vou contar! Morra seco sem saber!

Os dois saem discutindo, Skinner rindo atrás deles.


Residência dos Mulder - 6:45 P.M.

Na cozinha, Scully serve chá. Barbara e Ellen sentadas à mesa comendo bolo.

ELLEN: - Eu sei que amarelo é uma cor assim, digamos, estranha.

BARBARA: - Sim, mas acho que ficaria perfeito. Eu não me importo em usar amarelo. Você se importa?

ELLEN: - De jeito algum!

BARBARA: - Eu tenho uma costureira de confiança. Ah, e Scully, eu já falei com um amigo que trabalha como maquiador na TV. Ele adorou a ideia de ter uma noiva todinha pra arrumar. E vai arrumar as madrinhas também. Então maquiagem e cabelo eu já resolvi.

SCULLY: - Vocês acham mesmo?

ELLEN: - Dana, pensa comigo. Existe uma coisa mais representativa de vocês dois que o girassol do Mulder e o seu cheiro de canela? Ahn? Já batizamos o café com esse nome em homenagem a vocês dois, você quem quis! Eu acho que a temática do casamento devia ser girassol e canela. E a festa na cafeteria. Tem espaço.

SCULLY: - Hum... É diferente.

ELLEN: - Sim, foge de rosas e flores campestres. A não ser que prefira uma temática alienígena, um bolo nave espacial, decoração com aliens verdes, talvez algumas pastas de Arquivo X. De repente você chega num disco voador na igreja e o padre vestido de senhor Spock realiza a cerimônia!

SCULLY: - Pelo amor de Deus, Ellen! Não diga isso na frente do Mulder ou ele vai acabar querendo casar outra vez!!! Eu concordo com sua ideia do girassol e canela. Vou ter que comprar um buquê de girassol...

Scully pega uma caneta e um bloco e senta-se. Anota.

SCULLY: - Tenho tanta coisa pra resolver... Já arrumei o padre, já mandei fazer os convites... Ver buquê...

ELLEN: - E já faz a lista do que você não tem que se preocupar porque está resolvido. Anota aí. Eu vou dar a festa, a decoração da festa, não se preocupe com nada disso. Vou fazer um bolo enorme com girassóis e canela, com você e Mulder em cima. Salgados e doces, bebidas... Hum, vou ter que falar com a florista pra me arrumar uns girassóis...

BARBARA: - Posso sugerir? Tem uma pessoa que conheço que tem uma empresa de decoração de festas. Ela é ótima, perita em casamentos. Ela faz a decoração da festa e da igreja.

Scully leva a xícara à boca.

SCULLY: - Meninas, eu vou ser sincera. Preciso saber o custo dessas coisas...

BARBARA: - Nada. A decoração da festa e da igreja é meu presente de madrinha. O cabeleireiro e maquiador também.

ELLEN: - Viu? E eu vou dar a festa. Custo zero até agora. Até o vestido de noiva você já tem.

Scully sorri pra elas.

SCULLY: - Obrigada... Eu sei que é loucura fazer um casamento quando os dois estão desempregados e... Acho que Mulder está pegando o dinheiro que seria pra investir na nossa agência só pra realizar o meu sonho. Eu ainda tenho pouca renda porque o café não começou ainda a dar lucro, Ellen e eu estamos empatando dinheiro ali.

ELLEN: - Vai dar lucro logo, você vai ver. Só o que vem de agente do FBI ali... Ai, aquele agente Mallet, amigo do Mulder. Ele e o parceiro tomam café todos dos dias na mesma mesa... Ô homem lindo!

SCULLY: - (RINDO) Ellen, você não toma jeito!

BARBARA: - Scully, cinegrafista eu consigo, tenho câmeras profissionais, depois eu mesma edito e monto o vídeo. Fotografias também por minha conta, eu vivo nesse meio! A vida não tá fácil pra ninguém, mas quem tem amigos... Sabe que pode contar, tá?

ELLEN: - A "Nanica 2" tem razão. Cada um ajuda um pouco nesse casamento porque vocês merecem por terem tanto nos ajudado! Por exemplo, vocês me deram um diretor-assistente do FBI! E não foi um qualquer, foi o homem da lanterna grande.

As três riem alto.

BARBARA: - Tudo o que eu fizer por vocês não paga ao Mulder pelo presente que me deu!

ELLEN: - Tá adorando o gostosão da jaqueta de couro, né? Fala pra mim, assim, curiosidade de mulher. Ele é quente ou é só pose? Tipo o bem dotado da Dana que só tem pinta de pegador e não pega nada?

SCULLY: - (RINDO) Ellen!!!

BARBARA: - Sinceramente?

ELLEN: - Ish... Decepcionou, é?

BARBARA: - Talvez frustração seja a palavra correta. Mas tudo é recente entre a gente, sabe? Ele é quente, eu sei que é, porque a nossa primeira vez foi surreal.

ELLEN: - Bom, minha primeira vez com o Walter foi na cama dele... Deixa eu adivinhar o Krycek, aquele jeito dele... Foi no carro!

BARBARA: - Na cozinha.

Ellen e Scully se entreolham empolgadas.

ELLEN: - Uh! É claro!!! Só podia ser na cozinha. O Ratatouile ataca na cozinha!!! Foi com direito a entrada, prato principal e dessert ou foi fast food mesmo?

SCULLY: - Ellen!!!

As três riem.

SCULLY: - Pelo menos ele é criativo.

ELLEN: - Ah, não se faz de coitadinha, Dana, que eu sei que a primeira vez sua e do Mulder foi numa cama, sexo tântrico, velas, champanhe e tudo o que tem direito. A dona rata gulosa já não segurou o apetite e fez a refeição na cozinha mesmo! Acho que eu é que não sou criativa!

BARBARA: - Mas Alex está com tantos problemas na cabeça que depois daquilo... Eu tenho que começar tudo. E algumas vezes, nem rola nada. Resolvi fazer ele parar de pensar em problemas. Antes eu ficava falando e ele ia em pensamento pra galáxia "problemas e culpas de Alex Krycek". Agora não falo nada. Passei a agir. Coloco roupas curtas e provocantes e distraio a atenção dele pro meu traseiro e os meus peitos.

ELLEN: - Isso funciona!

BARBARA: - Tem funcionado, pelo menos ele volta rapidinho dos pensamentos, coisa que não fazia quando eu ficava falando. E comecei a domesticar o rato. Provoco o dia inteiro, depende dele a recompensa ou a punição.

SCULLY: - Viu? Funciona. E o charminho?

BARBARA: - Sim, como você falou. Charminho e também azedo quando ele azeda. Tá melhorando. Quando ele finalmente superar esses problemas pessoais aí sim vou poder saber a quantos graus aquele rato chega! Porque por hora, minha lareira tá ardendo em brasa e ele está com a cabeça em conspirações!

SCULLY: - Sei como é isso. Vai passar com o tempo. Logo ele vai esquecer as conspirações e começar a prestar atenção em você. Hum... Gostei da ideia... Dia todo? Deixa o Mulder aprontar, vou usar essa tática.

ELLEN: - Bom, vocês duas tem problemas mais parecidos. Eu já não tenho esse tipo de problema. Walter não fica encanado com o trabalho. Ele deixa na porta.

SCULLY: - Ellen, somos amigas, agora eu que vou ser indelicada e curiosa... Eu não consigo ver o Skinner além de meu chefe... Ex-chefe. Skinner é todo sério e...

ELLEN: - O que quer saber, se ele é quente? Minha filha, entre quatro paredes você realmente não reconheceria o seu ex-chefe! Ele investiga tudo, dá voz de prisão e ainda nocauteia a bandida aqui.

As três riem. A campainha toca. Scully se levanta.

SCULLY: - Meu Deus, mulheres reunidas sempre terminam falando de maridos...

Scully vai pra sala.

ELLEN: - Barbie, presta atenção na sua tia alta aqui, ok? Continua provocando. Se ele não esquecer o mundo quando isso acontecer, ele não tá apaixonado de verdade por você. Confia em mim. Sei do que falo. De homem traidor eu entendo. Quando eles não querem mais nada com você, pode até esfregar a bunda na cara deles que eles não enxergam. Tenha paciência. Você o ama e o seu jogo de sedução é apenas uma arma pra mostrar seu amor por ele. Você não tá seduzindo um cara apenas por interesse que não seja o bem estar dele e a vida a dois de vocês. Não é errado.

BARBARA: - Com certeza. Só quero o meu Ratoncito feliz.

Scully entra na cozinha.

SCULLY: - Adivinhem quem apareceu?

Susanne Modeski entra, exibindo uma barriga.

ELLEN: - Meu Deus! A lua de mel rendeu juros? Eu digo, os mais quietos são os piores!

Elas riem. Scully puxa a cadeira, Susanne senta-se.

SCULLY: - Susanne, essa é a Barbara Wallace, ela é a jornalista que ajudou Mulder a sair da cadeia. Susanne trabalhou comigo pra fazer a vacina contra o óleo negro.

SUSANNE: - Você é a amiga do John! Fizeram faculdade juntos...

BARBARA: - E você é a esposa dele! Como Byers está?

SUSANNE: - Rindo sozinho!

Scully serve chá e bolo pra Susanne.

SUSANNE: - A gente chegou ontem da Europa. Não podíamos perder o casamento da Scully e do Mulder.

SCULLY: - Mas eu nem mandei o convite ainda, como sabiam?

SUSANNE: - E precisa? Mulder ligou há semanas para o John intimando ele.

SCULLY: - Mulder tá planejando esse casamento antes mesmo que eu soubesse que haveria um casamento!

ELLEN: - Ai, Dana, deixa o menino, ele gostou de brincar de casinha! Deixa ele ser feliz!

BARBARA: - Pra quando é?

SUSANNE: - Faltam dez semanas. Estou começando a ficar nervosa.

Scully senta-se, admirando a barriga de Susanne.

SCULLY: - Posso tocar?

SUSANNE: - Claro!

SCULLY: - (SORRINDO) Já sabe o que é?

SUSANNE: - É a Julie. Julie Modesky Byers. Tô tão feliz, torcia mesmo pra ser uma menina!

ELLEN: - Oba! Mais uma mulher pra lutar contra esse mundo machista!

SCULLY: - E os rapazes, como reagiram?

SUSANNE: - Scully... Nem fala. Foi um choque para o Frohike e o Langly. Eles ainda não aceitam o John casado, imagine pai! Vai ser uma luta, por isso que levamos todo esse tempo pra voltar e preparar terreno. Eles são os Pistoleiros Solitários. Eu me sinto a Yoko que acabou com a banda!

ELLEN: - Bom, de certa forma levou o cara certo da banda, o John.

SCULLY: - Mas isso não significa que acabou. Ganharam uma aliada.

SUSANNE: - Tenta explicar isso pra Frohike e Langly. Eu nunca afastaria o John deles.

ELLEN: - Gente, eu tô adorando o papo, mas eu tenho que ir. Vamos fazer um chá de panela pra Dana? Aí a gente bota o assunto em dia.

BARBARA: - Boa ideia!

SCULLY: - Pode ser aqui em casa? Eu ponho o Mulder pra fora com o cachorro. Menino não entra. Reunião das X-Women.

ELLEN: - Escolhe um dia com as meninas aí e me liga. Vou pra casa, o "sério" Walter Skinner deve estar me esperando pro jantar na piscina.

BARBARA: - Ele cozinha?

ELLEN: - Barbie, minha nanica inocente, eu sou o jantar. Até mais, suas malucas!

Elas riem.


7:58 P.M.

O carro parado. Skinner sentado ao volante. Mulder pensativo no banco do carona. Krycek atirado no banco de trás.

SKINNER: - Eu sei que parece idiotice.

KRYCEK: - Não, não é idiotice. Gostei da sua ideia. Mas...

MULDER: - (RINDO) Vocês dois estão de piada comigo, ok? Eu já sou casado. Eu já deixei de ser solteiro... Nem me lembro mais de quanto tempo eu já deixei de ser solteiro! Despedida de solteiro não cabe aqui.

KRYCEK: - Cabe sim. Você já teve despedida de solteiro antes?

MULDER: - Sabe que nem lembro?

KRYCEK: - Mulder você tá começando a ficar velho e esquecido! Vamos fazer uma despedida de solteiro sim.

MULDER: - Gente, é sério. Se fosse na época em que eu era solteiro, metido a galanteador e morria de medo de juntar os trapos... Agora não dá.

SKINNER: - Por que não?

MULDER: - Porque eu não acho graça! Eu não acho mais graça alguma ir pra um lugar cheio de mulheres nuas, ficar ali bebendo e com um monte de mulher que eu não sinto nada sentando no meu colo. Eu não acho mais graça nem em revistas e tele-sexo. Se é que isso ainda existe! Eu sou pai, marido e tô completamente feliz por ter a Scully, o que eu vou querer numa boate? Ver mulher nua? Isso é coisa pra garoto! Eu tenho uma mulher em casa melhor ainda e que gosta realmente de mim, não da minha carteira. Podem rir agora!

Skinner e Krycek abaixam a cabeça.

MULDER: - (INCRÉDULO) Por que não estão rindo?

SKINNER: - Eu não tenho mais idade pra essas tolices de garotos ou solteirões. Nem pra farras também. Eu achei uma mulher maravilhosa que resolveu dividir a vida dela comigo e já estou na fase do se é amor é ótimo, mas mesmo que fosse só companhia também servia. Temos coisas em comum, ambos tivemos casamentos fracassados e nos empenhamos em não errar como erramos antes. Tudo bem que uma despedida de solteiro é apenas diversão, mas eu não gosto mais desse tipo de diversão. Eu prefiro me divertir com a Ellen.

MULDER: - E você, Rato? Você é o único solteiro aqui. Quarentão, solteirão... Opine.

KRYCEK: - (SUSPIRA) Eu preciso mesmo dar minha opinião?

Mulder e Skinner abaixam a cabeça rindo.

KRYCEK: - Tô com vocês. Não tem mais graça. Eu cansei disso. Cansei de transar por transar. Cansei de mulheres diferentes. Cansei até mesmo de boates e esfrega-esfrega. Cansei de inventar desculpas e sair fora. Cansei de ser sozinho. Eu já tive vida louca e cansei dela. Não quero perder a única maluca que viu algo de bom em mim. Se eu for pra uma boate, não vou achar graça porque enjoei disso e vou me sentir culpado, pensando na Barbara que fica me seduzindo o dia todo. Que mulher eu vou encontrar lá? Estou procurando alguma? Não. Eu tenho uma que é muito mais que todas e vive querendo farrear comigo e muito mais. Droga, Mulder, que praga você me rogou! Estou apaixonado por aquela garota! Eu estou até cavando buracos pra ela plantar árvores e achando isso maravilhoso!

MULDER: - É, acho que sua fama de mau foi pro buraco, minha fama de pegador também e a fama do Skinner de tiozão safado já era!

Os três ficam em silêncio. Até que Krycek quebra o silêncio.

KRYCEK: - Eu concordo com uma despedida de solteiro. Mas não dessa maneira tradicional que os caras fazem como se fosse a última vez que fossem fazer sexo ou se divertir na vida. Talvez porque esses caras nunca tiveram muita mulher ou várias ao mesmo tempo. Pra mim isso não tem mais graça.

SKINNER: - Agora você falou tudo. Parece mais um enterro. Eu me divertia com jovens, admito. Mas não existe nada na cabeça delas a não ser andar de carro com um coroa bem-sucedido que banca o restaurante e o motel.

MULDER: - Já que estamos abrindo nossas intimidades nesse carro... Eu também admito pra vocês. Eu não sou o pegador que pareço ser. Vocês tiveram mais sexo com mulheres diferentes do que eu tive. Vocês tiveram mais experiência real do que eu. A proporção de diversão real de vocês deve se equivaler a minha com revistas e filmes baratos, uma fuga típica pra quem tinha medo de se envolver novamente e tinha uma causa acima de tudo, até do próprio prazer. Como eu poderia sentir prazer, aproveitar a vida, se a minha irmã não podia?

SKINNER: - Não estou surpreso com sua confidência, Mulder. Sua fama nunca me enganou.

KRYCEK: - Mulder, me escuta. Qualidade não é quantidade.

SKINNER: - Verdade.

KRYCEK: - Você não é menos macho por não ter tido uma quantidade de mulher. Você é um sortudo filho da mãe porque encontrou uma com qualidade, enquanto Skinner e eu estávamos por aí na quantidade. Também, aonde a gente andava pra achar qualidade? Em boates?

SKINNER: - (RINDO) E internet.

KRYCEK: - Eu não vou ser cínico e dizer que me arrependo, que não valeu a pena. Pra aquele cara lá atrás, era fantástico transar e dar o fora! Pra esse cara aqui sentado nesse banco hoje, isso não é merda nenhuma! Trocaria todas elas por uma que tivesse amor de verdade por mim e me fizesse ter feito a coisa certa, não pelas que ficavam empolgadas por transar com um desconhecido que andava armado, cheio do dinheiro e nada dizia sobre o trabalho que fazia.

SKINNER: - ... Krycek tem razão, Mulder. E uma despedida de solteiro sempre parece mesmo uma diversão pré-enterro.

MULDER: - E nós já sabemos que não é assim. Existe vida num casamento. Talvez pra poucos sortudos como nós, essa vida realmente começa depois do casamento. Eu não tinha uma vida antes da Scully. Eu apenas passava o tempo. Agora eu tenho uma vida.

KRYCEK: - Eu também tenho uma vida agora e nem sou casado ainda!

MULDER: - (DEBOCHADO) Notou o "ainda", Walter?

SKINNER: - (RINDO) Com certeza, "Fox". O rato caiu na ratoeira.

MULDER: - (DEBOCHADO) Vai pagar tudo o que fez pra gente, Rato. Com juros e correção. Vai ganhar uma coleira e ser bichinho de estimação de uma baixinha perigosa, ardilosa e sorrateira. Sabe que vocês dois combinam? Ela é a justiça do que você já aprontou. Vai colocar você nos trilhos e caso você insista em voltar a fazer o que fazia, aposto que ela é quem vai vestir a jaqueta de couro e pegar uma arma pra executar você na calada da noite. Ela é bandida!

KRYCEK: - Parem com isso! Vou dar uma sugestão. Eu conheço um lugar ótimo pra fazer uma despedida de solteiro sem essa coisa toda de "morte súbita". A gente vai se divertir mesmo. Fazer coisas de homem que elas não deixam.

MULDER: - Isso parece interessante... Posso convidar os Pistoleiros?

KRYCEK: - Eles vão gostar, aposte nisso. Deixa comigo. Vou reservar o lugar pra nós. E não se preocupem, é bem escondido, elas nunca vão nos pegar no flagra.

MULDER: - (RINDO) Quando eu disser pra Scully que você, o solteirão da turma, vai me dar uma despedida de solteiro...

SKINNER: - (RINDO) Ellen vai ter um chilique daqueles!

KRYCEK: - (RINDO) Acho que Barbara vai atirar a casa toda em cima de mim. Deixa ela achar o que quiser. Quero mais que ache. Vai ser divertido levar uns tapas da nanica.

Os três riem.

MULDER: - Liga esse carro, Skinner, antes que a polícia apareça pensando que estamos combinando um programa gay ou vamos assaltar seu costureiro! Não demora e a Scully me liga pensando que fui sequestrado!


Residência dos Mulder - 9:25 P.M.

Scully sai do banheiro com bobs nos cabelos e creme negro no rosto. Mulder olha pra ela e recua fazendo cara de horror.

SCULLY: - O quê??? Como assim despedida de solteiro, Fox Mulder?

MULDER: - Isso é o alienígena do óleo negro?

SCULLY: - Máscara de argila negra. Não desconverse! De quem foi a ideia maluca? Sua, não é?

MULDER: - Scully, foi ideia dos padrinhos... Tem certeza de que isso no seu rosto não é alguma forma de vida pegajosa?

SCULLY: - E onde vai ser essa despedida, ahn?

MULDER: - Eu não sei! Krycek disse que tem um lugar e...

SCULLY: - Alex Krycek? O cafajeste? O da jaqueta de couro? Da agendinha "turbinada"? O fanfarrão? O solteirão? Ah, mas não mesmo! Barbara sabe disso? Deve saber. Mas ela só tem ciúmes de mim!

MULDER: - Por que você faz perguntas e você mesmo as responde?

SCULLY: - Você vai ser educado, inventar uma desculpa e não vai.

MULDER: - Como não vou ir? Eu sou o noivo! Só tem a despedida de solteiro por minha causa.

SCULLY: - Se for pra essa orgia, Fox Mulder, não vai ter mais casamento! Aliás, vai ter é divórcio! E você não é mais solteiro há anos!

MULDER: - Que orgia?

SCULLY: - Não se faça de idiota, Mulder. O que um bando de homens sozinhos vão fazer numa festa de despedida de solteiro, ahn? Rezar é que não é! Vai ter mulher e bebedeira, se não for em boate será na suíte de um hotel!

Mulder começa a rir.

SCULLY: - Tá rindo da situação ou da minha cara?

MULDER: - Se disser das duas, o Cookie vai trocar de cama comigo essa noite?

Scully faz beiço, cruza os braços e o encara.

MULDER: - O que falamos naquela ilha?

SCULLY: - Nem vem! Não falamos nada sobre despedida de solteiro!

MULDER: - Supondo que seja numa boate, numa suíte de motel, com muita mulher disponível e sem roupa. O que acha realmente que eu faria? Seja honesta.

SCULLY: - Com certeza olharia pra elas.

MULDER: - Com certeza. Eu olharia mesmo. E...?

SCULLY: - Ficaria bancando o engraçadinho, cheio das cantadas baratas.

MULDER: - Hum.... Não, acho que não, mas faz de conta que sim. E...?

SCULLY: - Passaria a mão.

MULDER: - Não. Você sabe que respeito as mulheres, até as que não querem ser respeitadas. O que mais eu faria nessa festa?

SCULLY: - Beberia.

MULDER: - Certamente. E o que mais?

Mulder cruza os braços, erguendo as sobrancelhas, olhando de lado e esperando resposta.

SCULLY: - ...

MULDER: - Então? Hum? Eu faria mais alguma coisa? Do tipo que desrespeitasse a mulher que eu amo, a mãe da minha filha?

SCULLY: - (SUSPIRA) Vá na sua despedida de solteiro, Mulder.

Scully volta pro banheiro. Mulder sorri apaixonado.

SCULLY: - Eu também vou ter uma despedida de solteira.

Mulder tira o sorriso do rosto e faz cara de pânico.

MULDER: - (PÂNICO) ...

SCULLY: - Não estou vendo você nesse momento, Mulder, mas aposto que está fazendo aquela cara.

MULDER: - (PÂNICO) Eu não estou fazendo aquela cara!

Scully mete o rosto pra fora do banheiro.

SCULLY: - (DEBOCHADA) Está.

MULDER: - Não estou não.

Scully segura o riso e volta pro banheiro.

SCULLY: - Mulder, quer lavar minhas orelhinhas?

Mulder desfaz a cara de pânico e corre empolgado pro banheiro.


Dois dias depois...

11:57 P.M.

Scully sentada à mesa da cozinha preenchendo envelopes. Mulder entra. Pega água na geladeira, olha pra ela e sorri.

MULDER: - (SORRINDO) Está feliz?

SCULLY: - (SORRI) Muito! Os convites ficaram lindos!

MULDER: - Vai convidar muita gente?

SCULLY: - Nossos amigos, minha família e a Samantha. Depois vamos fazer uma recepção no Girassol e Canela. Ellen e Skinner vão nos presentear com as bebidas e o bufê. Skinner só quer como troca uma dança com a noiva. Ah, e Langly pediu pra ser o DJ.

MULDER: - (RINDO) Tem certeza? Vai tocar Ramones a noite inteira!

SCULLY: - Ele prometeu que não. Desde que pudesse dançar com a noiva. Krycek resolveu o smoking com você?

MULDER: - É. Mas também quer dançar com a noiva. E a coisa da decoração?

SCULLY: - Barbara vai nos dar tudo, inclusive vídeos e fotos. E também maquiagem e cabelos da noiva e madrinhas.

MULDER: - E em troca ela quer dançar com a noiva também?

SCULLY: - Já dancei o suficiente com a Barbara.

MULDER: - Quando?

SCULLY: - Deixa pra lá! Me ajuda nos convites. Nossos amigos estão empenhados nesse casamento tanto quanto a gente.

MULDER: - Admito, a ajuda deles vem a calhar. Mas sabe a lei do retorno? Um dia a gente devolve.

Mulder se inclina atrás da cadeira e envolve os braços nela. Cheira o pescoço dela. Scully sorri.

MULDER: - Hum... Meu cheirinho de canela... E o vestido?

SCULLY: - (SORRI) Vou usar o que você me deu, amo aquele vestido. E as passagens, você confirmou?

MULDER: - As passagens finalmente serão usadas, hotel reservado, duas semanas na Itália... Scully, eu te amo. Acho que a gente merece isso. Tomar um ar bem longe daqui. E eu te prometi, não prometi? Já tinha comprado as passagens antes de você ir embora. O último ano foi desgastante pra gente. Só quero desligar do agente Mulder e ser apenas o Mulder. Apenas o seu marido. Aprendi mais da vida depois que perdi você. Pelo menos serviu pra evoluir como marido, pai e homem.

Scully leva o braço pra trás, acariciando os cabelos dele.

SCULLY: - Mulder, eu amo você também. Eu também evoluí, a ponto de não considerar mais muitas coisas como tão importantes assim. Isso que vamos fazer é apenas o meu sonho, você não precisa fazer se não concorda. E eu sei que isto não é algo que você gostaria de fazer, mas está fazendo por mim. Mulder, não precisa, eu...

MULDER: - Não mais, Scully. Eu também quero fazer isso. Tô até me divertindo com a ideia. Pra dizer a verdade, não vejo a hora!

SCULLY: - (SORRI) Sério? Por quê?

Mulder senta-se ao lado e olha debochado pra ela.

MULDER: - Só de imaginar você naquele vestido branco, longo, seda e rendas entre os meus dedos... Carregar você no meu colo, jogar você na minha cama... (SACANA) Você quer um casamento, eu quero a lua de mel, Scully. Eu entro naquela igreja e você cai na minha cama. Temos um acordo?

SCULLY: - (RINDO) Fox Mulder seu pervertido tarado! Mas você é muito descarado mesmo!!! Desde quando tem fetiche por noivas?

MULDER: - Não por noivas. Por essa noiva ruiva. A gente já fez de tudo naquela cama, Scully... Mas isso não. E confesso que a ideia me soa interessante.

SCULLY: - (RINDO) Mulder, eu não sei se acerto um soco em você ou se... Que proposta mais indecente de casamento, Fox Mulder! Você topa casar na igreja só por... (PENSATIVA) Hum... Você vai estar de smoking?

MULDER: - Sim.

SCULLY: - Gravata borboleta, todo embrulhadinho e cheirosinho...

MULDER: -(SORRI SACANA) E pronto pra você me desembrulhar.

SCULLY: - Eu não sei quem é mais doente, sabia? Você por me propor uma coisa dessas e eu por estar gostando da ideia! A Baba tem razão! Somos malucos! Sério, Mulder. Por um fetiche seu basta eu usar o vestido, você o smoking e...

MULDER: - Sem graça. Não vai ser real. E a emoção? Hum? Concorda?

SCULLY: - (SEGURA O RISO TÍMIDO/ PÕE A MÃO NA TESTA) Ai, meu Deus... Mulder, essa foi a desculpa mais esfarrapada que eu já ouvi!

MULDER: - (RINDO) ...

SCULLY: - Mulder, é sério, me escuta. Eu sempre sonhei com um casamento na igreja, mas você me fez ver que isso não era importante, aquele nosso casamento na lagoa foi o casamento mais lindo que alguém poderia ter! E depois nos casamos abençoados pelo Elvis numa capela 24 horas, que não deixa de ser uma igreja! E então... Tá, a chata aqui não se sentia bem, ficava namorando aquele vestido de noiva na vitrine, você o comprou e topou, mas as coisas enlouqueceram, eu fui embora...

MULDER: - Já superamos essa parte.

SCULLY: - Mulder, eu descobri a verdade, esses últimos acontecimentos mudaram muito os conceitos que eu tinha das coisas religiosas e... Aí a gente se entende de novo e você me pega de surpresa dizendo que agora que voltei, você poderia finalmente realizar meu sonho... Quem ficou sem graça fui eu. Mulder, sério, eu nem tô mais a fim de entrar de noiva numa igreja. Não ligo mais pra isso.

MULDER: - Mas eu prometi que casaria com você todas as vezes que eu pudesse. Quer desistir? Não vai se arrepender depois e ficar pensando nisso.

SCULLY: - Vamos pensar. Se eu não quiser, você vai ficar aborrecido?

MULDER: - Vamos pensar... Vou. Porque você me torturou com essa história por anos e agora que eu achei interessante, você quer pular fora.

SCULLY: - Vamos pensar... E se eu topar?

MULDER: - Se você topar, eu não tenho o que pensar. (DEBOCHADO) Arruma outra desculpa pra fugir do casamento. Tá com medinho, Scully? Hum? Eu vou me empolgar e você vai acordar o bairro inteiro...

Scully solta uma gargalhada. Mulder senta-se no colo dela.

SCULLY: - Mulder, agora é você quem quer casar na igreja? Ahn? Quem sabe numa sinagoga judaica então? Budistas? Você queria casar na Índia, lembra?

MULDER: - Não, Carter me fez querer ficar longe da Índia! Quero igreja católica com direito a padre, ao juramento, ao sim, alianças e beijo na boca. E carregar você nos meus braços. Ok, Scully. Enlouqueci! Comprei sua ideia, seu mundo e estou amando brincar de casinha com você. Acha que estou ficando velho, senil e bobo apaixonado?

SCULLY: - Hum... Bobo apaixonado você sempre foi, Mulder. Velho e senil não. Casamentos na igreja são românticos. Você me daria uma lua de mel romântica?

MULDER: - Sou estranho, posso ser tudo, inclusive um homem romântico, Scully. Eu choro nos seus braços, eu sofro suas dores, eu quero dar o seu sonho, mesmo que ele já não seja mais tão importante pra você. Agora é uma questão de honra pra mim. Eu posso fazer isso. Na verdade, eu já devia ter feito isso há muito tempo.

Mulder pega uma caneta.

MULDER: - Então... Eu tenho que assinar cada convite?

SCULLY: - Vai ficar mais bonito com nossas assinaturas. Fica mais pessoal.

MULDER: - (DEBOCHADO) Você quer que eu assine todos só pra ter muitas provas caso eu me arrependa.

SCULLY: - (SORRI APAIXONADA) Hum... Ainda tem tempo. Quer desistir?

MULDER: - (SORRI APAIXONADO) Scully, só porque acredito em alienígenas não significa que sou um!

SCULLY: - (RINDO) Mulder, sai, você é pesado! Quem sabe eu sento no seu colo?

MULDER: - Acredite, Scully, se inverter a situação não vamos nos concentrar nos convites. Você vai querer amaciar a sua carne de segunda aqui...

SCULLY: - Cala a boca, Mulder, meu filé de primeira suculento...

MULDER: - Scully, os convites. Depois você abre o seu apetite. Porque eu já tô com fome de você há muito tempo. Me deve uma lua de mel. Trato é trato. Vou cobrar. (OLHA PRA ELA) Vai usar o quê debaixo daquele vestido?

SCULLY: -(RINDO/ OLHAR MAROTO E ENIGMÁTICO) Hum... Vou deixar na surpresa.

MULDER: - (LEVA AS MÃOS AO PEITO) Uh!!!! Pega leve comigo, mulher!!!

SCULLY: - (RINDO) Agora é você quem tá com medinho, Mulder?

Os dois trocam um beijo. Mulder sai do colo dela e senta-se na cadeira ao lado. Eles voltam as atenções para os convites. Mulder dá um berro e um pulo da cadeira, assustado. Scully leva a mão ao peito. Os dois olham pra baixo da mesa. Victoria sorri pra eles.

SCULLY: - (INCRÉDULA) Como essa menina foi parar aí? Como saiu do berço, desceu as escadas e... Poderia ter caído e se machucado todinha! Nem ouvimos barulho nenhum!

Mulder pega Victoria no colo.

MULDER: - Acho que temos um problema, Scully. Compro a coleira pro pé de pano?

VICTORIA: - Nah Ox!!!!!!!!!

MULDER: - Que tal um cercadinho maior e mais alto? Não, ela pode levitar. Melhor comprar uma jaula.

VICTORIA: - (BEIÇO) ...

SCULLY: - Que tal ir dormir, já passou da hora de criança estar dormindo. Seu pai e eu temos que assinar os convites.

Victoria se agarra no pescoço de Mulder, virando a cara pra Scully.

MULDER: - Mais um morcego nessa casa. Ok, mistura genética bombástica, quer ajudar seus pais nos convites do casamento?

Scully ri. Victoria afirma com a cabeça. Mulder senta-se com Victoria em seu colo.

SCULLY: - Os que eu assinei já estão nessa pilha.

Victoria fica em pé no colo de Mulder, que a segura com um braço e tenta assinar com a outra mão. Victoria olha para o rosto de Mulder. Passa a mão no rosto dele, sobre a pintinha. Scully solta a caneta e fica admirando a cena num sorriso.

MULDER: - Deixa minha pintinha em paz!

Victoria agarra o nariz de Mulder. Depois mexe nos cabelos dele.

MULDER: - (RINDO) Pinguinho, para!

SCULLY: - (SORRI) Eu não quero continuar a genética ruim da minha família, Scully. Eu tenho medo de ser o pai que eu tive, eu nunca seria um bom pai, eu não sei nada de crianças, arruma outro cara pra ter seu filho, não estrague sua última chance... Lembra disso, Fox Mulder?

MULDER: - (SORRI) Lembro.

SCULLY: - Então? Acha mesmo que é o pior pai do mundo? Escolhi errado o pai da minha única filha?

Mulder solta a caneta. Olha pra Scully apaixonado.

MULDER: - Admito, Scully. Ainda bem que não me deu ouvidos.

Os dois trocam um beijo. Victoria começa a rir.

VICTORIA: - De novo!

MULDER: - (RINDO) De novo? Essa é nova pra mim!

SCULLY: - (RINDO) Cada dia ela sai com uma diferente.

VICTORIA: - (RINDO) De novo, de novo, de novo!!!!

Os dois trocam outro beijo. Depois olham pra filha.

VICTORIA: - (RINDO) De novo?

MULDER: - Não mesmo, sua miniatura de Dana Scully beijoqueira. Não tá meio cedo demais pra gostar de ver beijo na boca?

SCULLY: - Nunca é cedo demais pra gostar de ver beijos de amor. Né, Docinho?

MULDER: - Você fica assistindo romance com essa antena parabólica do seu lado. Toma cuidado, ela capta qualquer coisa! Até o que não deve!

SCULLY: - Quero criar nossa filha vendo amor, Mulder. Quero que ela cresça no meio do amor. Quero que ela seja uma mulher segura, que saiba a diferença entre amor e paixão pra não cair nas ciladas dos homens.

MULDER: - É? Eu tenho uma teoria, Scully. Ela não vai cair nas ciladas dos homens porque eu ando armado. Cada candidato vai ter que passar pelo meu aval.

SCULLY: - Filha, seu pai quer que você seja solteirona!

MULDER: - Melhor ainda! Que mal tem?

SCULLY: - Não mesmo! Eu quero netinhos! Muitos netinhos nessa mesa, gritando, correndo pela casa e pedindo bolo pra vovó. Deus me deu Victoria para que eu pudesse compensar os filhos que não posso ter.

MULDER: - Tô lascado! Os netinhos não me preocupam, me preocupa é o genro!

SCULLY: - Mulder, você é o pai mais ciumento do mundo, vai ser o sogro mais chato já registrado na história e o avô mais bobo a entrar para o guiness!

Victoria senta no colo de Mulder. Pega a caneta. Mulder pega o bloco e ajuda ela a passar a caneta.

MULDER: - Assim, Pinguinho. Isso... Essa coisa é pra escrever e desenhar.

Victoria observa empolgada. Analisa a caneta nas mãos, com um beiço curioso.

SCULLY: - Olho pra nossa menininha e penso: Um dia ela vai crescer. Como ela será? O que fará pra ganhar a vida? Será feliz? Terá boas ou más recordações? Vai nos odiar ou nos amar quando souber o quão diferente é?

MULDER: -Evito pensar nessas coisas, Scully. Tenho medo que a existência de Victoria implique em alguma coisa dos céus que a gente não tenha capacidade pra entender. Quando a gente estava separado, eu fui resolver um caso e conheci uma senhorinha que me disse uma coisa. Que as filhas tendem a buscar o pai nos homens, e os filhos buscam a mãe nas mulheres. Isso é algo que a psicologia já provou. Me preocupo com Victoria arrumando um policial.

SCULLY: - E por que ela arrumaria um policial? Hum? Talvez não seja a profissão. Talvez ela arrume um moreno, alto, bonitão, que tenha bom gosto ao vestir, seja um cavalheiro romântico e morra de amor por ela. Sempre fazendo tragédia, Mulder! Anda, me dá a minha filha que eu também tenho direito de cheirá-la. Vem Docinho!

Victoria dá os braços pra Scully. Mulder volta a assinar os convites.

MULDER: - Scully... Por que as mulheres gostam de homens com jaqueta de couro?

Scully lança um olhar de incredulidade.

SCULLY: - Mulder... Essa história de novo? Filha, você gosta de homens com jaqueta de couro?

VICTORIA: - "Goto" papai!!!

Scully sorri e dá um beijo estalado na bochecha de Victoria.

MULDER: - Pinguinho se saiu bem... É só uma curiosidade, Scully.

SCULLY: - Sei lá, Mulder. Acho que eles parecem rebeldes, livres, canalhas, aventureiros... Cafajestes.

MULDER: - E mulher gosta de homem assim?

SCULLY: - Algumas vezes, em determinadas situações... Ai Mulder, sei lá! Depende da mulher. Eu acho interessante, mas prefiro o meu cavalheiro romântico de terno e gravata com carinha de cachorrinho pidão. E ele pode até usar jaqueta de couro porque vai ficar o mesmo homem. Por que a pergunta? Krycek aprontou alguma?

MULDER: - Não, apenas curiosidade.


Residência de Barbara Wallace - 2:12 P.M.

Barbara abre a porta, vestida de calças jeans e camiseta.

BARBARA: - Entra.

Mulder olha pra roupa dela, num sorriso debochado.

BARBARA: - Ele ficou preso no trabalho, então posso vestir qualquer coisa. Não pensou que eu ia estar toda sexy pra receber você na minha casa, não é? Saiba que aquele dia você me pegou de surpresa e eu não estava sozinha! Se pensa que sou uma mulher vulgar, que recebe homens na casa dela usando roupas provocativas está redondamente enganado!

MULDER: - (PÂNICO) ...

BARBARA: - E não me olha desse jeito, como se eu fosse um carrasco! Alex faz por merecer!

MULDER: - Cada um com seus métodos de terapia, quem sou eu pra questionar? Podia ser pior. Andar de burca o dia inteiro.

BARBARA: - Aí eu perderia o homem! Então, pronto pra aula?

MULDER: - Totalmente. (DEBOCHADO) Passei no hospital antes e tomei uma antirrábica...

Barbara fecha as cortinas da sala.

BARBARA: - Já descobri porque essa casa custou barato. Tem uma fofoqueira maléfica que mora do seu lado. Ela que me aguarde, passa o dia olhando pra cá com um binóculo. Não quero que nos veja sozinhos na minha casa ou vai inventar coisa pra Scully. Além de estragar a sua surpresa, vai estragar minha amizade.

MULDER: - Concordo. Se precisar de um aliado contra a víbora, me chama.

BARBARA: - Pronto? Teste final. Se conseguir dançar a valsa sem erros, está aprovado.

MULDER: - Tá, hoje eu sou o homem?

BARBARA: - De preferência, não é? Pra ver se você aprendeu com o Alex. Acho lindo você estar se empenhando nesse detalhe para agradar a Scully. Quero ver a carinha de surpresa dela quando chegar esse momento. Mulder, mesmo que uma mulher não queira casar numa igreja, toda mulher sonha em ser reconhecida como esposa. Ao menos uma aliança, sei lá. Isso diz que significamos alguma coisa pro homem que a gente ama.

MULDER: - Pelo menos você e o Rato não terão problemas quando casarem, afinal sabem dançar.

BARBARA: - Casar? Alex e eu? E numa igreja? Mulder, só a palavra namorar já assusta o homem, casar então... E numa igreja? Nunca!

MULDER: - Você não é católica?

BARBARA: - Eu sou, mas... Mulder, você consegue imaginar Alex Krycek entrando numa igreja não sendo pra matar o padre?

MULDER: - (RINDO) Verdade. É mais difícil que Mulder, o Estranho. E a sua família?

BARBARA: - Vão ter que aceitar que uma das três filhas não vai casar de branco na igreja. E quer saber? Eu não ligo pra isso. Mas eu ligo pra uma aliança. E vamos devagar ou o rato foge pro bueiro dele e nunca mais volta, nem armando ratoeira e colocando o melhor queijo de isca!

MULDER: - Será?

BARBARA: - ... O que você sabe que não sei?

MULDER: - Nada. Só estou dando o benefício da dúvida ao Krycek.

BARBARA: - Vamos dançar, Mulder. Ali não dá pra esperar muita coisa.

MULDER: - Barbara, somos amigos. E tenho notado um certo rancor quando fala dele. Eu juro pra você, ele está se empenhando de verdade.

BARBARA: - Não é rancor, Mulder. Eu apenas espero o que ele não pode me dar. Isso não é problema dele, isso é um problema entre eu e minhas expectativas. Eu não tinha nenhuma no início, mas desde que ele disse que me amava, eu comecei a acreditar e ficar sonhando alto, mas Alex não é homem de se entregar, ele é o macho, sabe? O forte. Eu sou apenas o sexo frágil que pode chorar. Ellen me disse que até o Skinner pede abraço... O Skinner, dá pra imaginar? Ah, deixa pra lá, vamos pra valsa. O seu casamento está quase aí e eu tenho hora marcada com a decoradora, tenho que pegar a Ellen e vamos levá-la pra ver a igreja e o local da festa.

MULDER: -(TÍMIDO) Não sei como agradecer vocês...

BARBARA: - Não precisa. Isso é o nosso agradecimento pra você. É feito de coração porque vocês dois merecem o melhor casamento do planeta. Mulder, você me trouxe o melhor presente que eu poderia ganhar: um amor verdadeiro. Então me deixa fazer isso em nome dos amores verdadeiros.


7:57 P.M.

Mesas de sinuca, pistas de boliche, uma velha jukebox e um bar. Ambiente bem requintado. Byers joga a bola e acerta um strike. Mulder ergue as mãos.

MULDER: - Desisto! Não dá pra jogar com você!

BYERS: - Não tenho culpa se sou bom de mira!

MULDER: - É, deu pra perceber que sabe fazer strike até na Modeski!

BYERS: - Desafio.

MULDER: - Tô fora!

LANGLY: - Eu topo!

Mulder pega a bola de boliche e acaricia, olhando pra Skinner sentado ao lado de Krycek e Frohike.

MULDER: - Não parece a cabeça de alguém que vocês conhecem? Lisinha, lisinha...

SKINNER: - Vou mostrar pra você quem joga boliche de verdade, Mulder. E deixa a minha careca em paz! Ela é sensual.

MULDER: - Falou o Thundercat cinza!

Skinner se levanta e pega a bola de boliche das mãos de Mulder.

FROHIKE: - Krycek, que lance é aquele que o Mulder tava falando sobre jaquetas de couro?

KRYCEK: - Ele tá curioso, só isso. Mas deixa ele ficar curioso.

FROHIKE: - Se jaquetas de couro pegassem mulher eu tava cheio delas ao redor. Ou uso a jaqueta errada. Qual o segredo? Tudo bem, eu não sou um sujeito jovem como vocês, alto e bonitão...

KRYCEK: - Beleza, altura e juventude nada tem a ver com isso. E funciona com mulheres de todas as idades. A jaqueta de couro é só um artifício, não funciona com todos. Por exemplo, com o Byers em hipótese alguma funcionaria. Já com Langly daria certo. Com você funciona.

FROHIKE: - Não funciona.

KRYCEK: - Funciona, você que não sabe o segredo.

Krycek senta-se mais perto de Frohike.

KRYCEK: - Ok. Vou contar o segredo pra você. Qual seu tipo de mulher?

FROHIKE: - O tipo "se aparecer tenho que agradecer"!

KRYCEK: - Não. Delimite seu alvo. Seu tipo de mulher.

FROHIKE: - Bom, eu gosto das divertidas, resolvidas, não importa se é loura, morena, se magra ou gordinha, importa é ser uma mulher legal pra curtir comigo.

KRYCEK: - Continue usando sua jaqueta de couro.

FROHIKE: - Mas tem uma advogada vizinha nossa... Ela é muito gata, sempre bem vestida, a convidei pra sair, até saímos, mas nunca mais me ligou. Ela é tipo a Scully, toda bem vestida, independente, divertida...

KRYCEK: - Certo. Você a conhece. Ela tá mais para o tipo Susanne Modeski ou Scully?

FROHIKE: - Tipo a Modeski.

KRYCEK: - Frohike, o segredo não é a jaqueta. É a mulher que você quer ganhar com ela. Uma mulher como essa não vai sair com um cara de jaqueta de couro, a não ser que ele tenha uma Mercedes e um Rolex, entendeu? Se fosse tipo a Scully, que é mais humilde e tem uma louca escondida por detrás daquela seriedade, ela sairia.

FROHIKE: - (INCRÉDULO) ...

KRYCEK: - Caso você não conheça muito a garota, só de vista, descubra o tipo de música que ela gosta. Assim você conhece a personalidade dela. E se estiver num bar, observando uma desconhecida, analise a garota. Perceba se ela sorri ou não, se é extrovertida ou não... Dependendo, tire a jaqueta.

Mulder senta-se.

MULDER: - Então, qual o assunto dos dois?

FROHIKE: - Música.

Krycek abaixa a cabeça rindo. Mulder sinaliza para o garçom.

KRYCEK: - Você entendeu, Frohike. Tenta e me diz se deu certo. Comigo sempre funcionou.

MULDER: -(CURIOSO) Sério, do que estão falando?

FROHIKE: - De segredos soviéticos altamente confidenciais.

Frohike e Krycek começam a rir. O garçom coloca as cervejas na mesa. Mulder encara os dois. Frohike se levanta da mesa com uma cerveja e vai pra pista de boliche.

MULDER: - Preciso levar um papo sério com você, "amorzinho". Quando foi a última vez que você deitou nos braços de uma mulher pedindo carinho? Se entregando de verdade?

KRYCEK: - (INCRÉDULO) Isso é sério? Mulder, eu não tenho que dizer isso pra você... Ou tenho?

MULDER: - Tem, sou seu psicólogo. Eu sei a resposta, mas quero ouvir da sua boca.

KRYCEK: - Mulder, eu estou aqui me divertindo, não quero revirar passado hoje, é sua despedida de solteiro e...

MULDER: - Foi com Vanya, você ainda era um adolescente.

KRYCEK: - Mulder...

MULDER: - No tempo em que você ainda colocava seus sentimentos pra fora, se permitia ser amado, se entregar. Sabe que fazer isso não o torna menos másculo? Muito pelo contrário, eu não sei o segredo da sua jaqueta de couro, mas eu também tenho meu segredo: elas adoram homens carentes, vulneráveis e que pedem colinho de vez em quando.

KRYCEK: - E por que quer saber disso agora? Sobre o que estamos conversando afinal?

MULDER: - Sobre a Barbara.

KRYCEK: - O que a Barbara tem a ver com isso?

MULDER: - Você é inteligente. Pense. E depois pensa bem no que não está fazendo hoje e no que fazia antes de virar badboy. Não dá pra conciliar o badboy com o crybaby? (DEBOCHADO) Johnny Depp conseguiu enlouquecer a mulherada com uma jaqueta de couro e apenas uma lágrima!

Krycek começa a rir. Bebe um gole de cerveja. Morde os lábios, pensativo.

KRYCEK: - Ela reclamou com você?

MULDER: - Ela nem sabe que estamos tendo essa conversa. Rato, não tente ser o que não é. Mas deixe sair pra fora quem você é realmente. Medo?

KRYCEK: - Não. Eu sei que ela me ama. Posso dar meu coração pra ela sem medo de me machucar, Barbara não é como as outras, ela não quer apenas se divertir. Medo tenho que ela se machuque comigo.

MULDER: - Então, o que é?

KRYCEK: - Eu tive que ser por mim mesmo, entende? Se eu não pensasse em mim, se não resistisse, se não fosse forte e egoísta, eu nunca teria sobrevivido. Eu tinha que segurar a peteca sozinho! Acha que podia me dar ao luxo de ter alguém pra me confortar?

MULDER: - Entendo sua língua, mas vai continuar aplicando as suas regras particulares de sobrevivência solitária do passado na sua relação a dois no presente?

Krycek sorri. Passa as mãos no rosto. Mulder sorri e bebe um gole de cerveja.

MULDER: - Bingo! Admita, tô ficando bom nisso!

KRYCEK: - É, admito. Tem razão, Mulder. Agora que falou percebi que estou fazendo isso.

MULDER: - Barbara pensa que está punindo ou recompensando você num jogo de sedução, porque toda mulher sabe que isso empolga o cara. Scully fazia isso direto, tudo era greve de sexo seguida de provocação noturna, quando estava furiosa com alguma merda que eu fiz. Mas eu estava observando a Barbara e percebi que tem um elemento a mais nesse joguinho dela. E se chama "não estou furiosa realmente, me dê atenção, olha eu aqui tentando fazer você ser uma pessoa melhor". Krycek, é sério. Ela tá fazendo isso pra você desligar da sua fuga mental em culpas do passado, desviando seu pensamento para o corpo dela. Percebeu que isso funciona e vai continuar.

KRYCEK: - Mas isso não é justo com ela!

MULDER: - Exatamente! E depende de quem resolver isso?

KRYCEK: -Eu mesmo. Há um tempo atrás eu colocaria culpa em todos, menos em mim, a vítima. Você me fez entender que eu passo a ser culpado quando não tiro o meu passado da cabeça e dou tanto poder a pessoas que não mereciam nada, nem minhas lembranças.

MULDER: - Ótimo! Fez a lição de casa, Rato. Agora pratique. Jogue o joguinho dela, faça seu joguinho, isso é bom pra um casal, mexe com a rotina. Mas faça sua parte. Eu sei que tem um cara bom dentro de você, uma criança tímida, um adolescente rebelde e sonhador. Deixa eles saírem pra fora, você já os sufocou por tempo demais!

KRYCEK: - Mulder... De homem pra homem, amigo pra amigo. Tem vezes que foco tanto nas minhas culpas que... Nem aquela mulher linda e nua do meu lado querendo brincadeira... Eu não consigo nem querer fazer sexo. E ela percebe, é lógico, já não tenho mais desculpas pra dar. Espero que ela não pense que não sinto tesão por ela. É que a cabeça não tá ali, tá voando no passado, nos problemas e naquele maldito Sindicato que está quieto demais e eu confesso que estou com medo. Eles querem me matar, eu não tenho medo de morrer, tenho medo é que eles possam se vingar nela. Eu sei o jogo deles, eu jogava esse jogo, sei como usaram Scully pra atingir você. Aí você fica com os sentidos todos em alerta, não tem mesmo como ter vontade.

MULDER: -Isso acontece, é normal. Nenhum homem é uma máquina. Apenas o Shaft, e ele é um personagem de filme! O cara que me disser que nunca broxou, eu vou ser o primeiro a rir alto. Rato, teve uma época que eu tava tão imerso nessa porcaria toda do Fumacinha que nem a Scully nua se esfregando na minha cara fazia eu ter uma ereção ou ter vontade de fazer sexo. Também, fala sério, quem consegue pensar em sexo com o Fumacinha e a trupe dele armando alguma? Quando eles armam, você não "arma", entendeu?

KRYCEK: - (RINDO) Boa estratégia pra segurar o clímax. Pensar no Sindicato das Sombras.

MULDER: - (RINDO) Isso não retarda a ejaculação, isso faz o cara broxar de vez!

Frohike senta-se ao lado de Krycek.

FROHIKE: - Qual o assunto?

MULDER: - Ereção.

FROHIKE: - Serve a falta dela?

MULDER: - Estamos nessa parte. Não dá pra levar problemas pra cama. Ou dedica seu cérebro aos problemas ou a levantar o seu brinquedo.

FROHIKE: - As duas coisas não dá, problemas do limitado cérebro masculino. Melhor dedicar seu cérebro ao brinquedo. Além de mais divertido é uma boa distração dos problemas. Eles até vão embora. Mulder, sexo pode ser uma terapia?

MULDER: - Na dose certa até pode. Libera certas substâncias no cérebro vitais para saúde física e mental, como a dopamina e as endorfinas, além da vasopressina e a oxitocina, responsável pela felicidade e pelo amor.

KRYCEK: - Conselho do Dr. Freud Mulder: Faça sexo pra ser feliz e não leve o Sindicato pra cama.

MULDER: - Rato, nessa época foi quando Scully começou a fazer joguinho pra desviar a minha atenção dos problemas. Tipo esses joguinhos da Barbara, mas sem punição ou recompensa. Era sedução mesmo pra me distrair. Então mais uma coisa que você pode pensar se não foi outro gatilho inconsciente da Barbara para agir desse jeito.

FROHIKE: - Elas dizem que não ligam pra sexo. E muitas não ligam mesmo. Só que essas muitas que não ligam pra sexo, só não ligam porque querem sexo só com o cara que elas amam. São dois tipos de mulheres.

MULDER: - Frohike disse tudo. E você sabe o tipo de mulher com quem está namorando, Rato?

KRYCEK: - Sei. O segundo tipo. O tipo que me interessa agora.

FROHIKE: - Sortudo vocês dois. Eu não tive essa sorte... Tipo errado.

KRYCEK: - Aposto que não usou sua jaqueta de couro!

FROHIKE: - Não mesmo! Agora nunca mais vou tirá-la!

MULDER: - Ah não, qual é? Você contou seu segredo pro Frohike? Eu tô aqui bancando seu amigo, seu analista, contei meus segredos íntimos e você não me revela nada? Uma vez traidor, rato traidor sempre!

KRYCEK: - Alguém quer jogar sinuca? Eu não sou nada bom no boliche.


Residência dos Mulder - 8:47 P.M.

Na mesa da cozinha, garrafas de cerveja. Scully sentada ao lado de Barbara. Ellen e Susanne de frente pra elas. Jogam canastra.

ELLEN: - Como está parceira?

SUSANNE: - Bem. E você?

ELLEN: - Vamos vencer as baixinhas.

SCULLY: - Blefe! Nós vamos vencer a dupla das altas!

BARBARA: - Scully, quando quiser, fechamos mais uma canastra.

ELLEN: - Eu queria saber aonde aqueles homens foram e o que estão aprontando... Se Walter chegar com perfume de vadia, a vassoura vai comer naquela careca lustrosa!

SCULLY: - Mulder vai dormir na casinha do Cookie. Aquela que o cachorro nunca usou!

SUSANNE: - Tô tranquila... John não é assim.

Scully e Ellen olham pra Susanne.

SUSANNE: - O que foi?

ELLEN: - E se ele estiver com os X-Men numa boate? Hum? Todos eles juntos com suas mentes criativas, bom papo e boa pinta.

SUSANNE: - Bom, se está lá é por causa do Mulder. E não creio que vá me trair. Pode olhar, não tira pedaço.

ELLEN: - E você, Barbara?

BARBARA: - Admito que eu tinha ciúmes só da Scully. Eu não sou ciumenta. Eu confio no Alex. Não confiava na Scully.

SCULLY: - É, eu sou a eterna destruidora de lares...

ELLEN: - Você tem cara mesmo! Sabe como é, morena é fiel, loura sedutora e ruiva é puro sexo!

SCULLY: - Ellen!!!

ELLEN: - Adoraria ser sangue frio assim. Isso que Alex nem é marido dela, ainda é considerado solteiro!

SCULLY: - Eu sou ciumenta e passional! Sou mesmo. Estou tentando mudar porque sou ciumenta até demais e isso incomoda o Mulder.

ELLEN: - Acha que ele tá aprontando? Seja sincera. Respira fundo e raciocina logicamente antes de falar.

SCULLY: - ... Não. Não está mesmo.

ELLEN: - Viu? É fácil, não dói e evita brigas bobas. Basta fazer isso toda vez que desconfiar dele.

SCULLY: - E você, Ellen? Acha que o Skinner...

ELLEN: - Deixa eu respirar fundo e raciocinar logicamente... Hum... Não. Mas se estiver, o couro vai comer e não será fetiche sadomasoquista.

SCULLY: - Ai... Barbara, eu pego o lixo?

Barbara olha pras cartas de Scully.

BARBARA: - Não. Faz uma canastra suja, não vale a pena, a pilha não vai nos ajudar muito.

SCULLY: - Vamos?

Barbara afirma. Elas colocam as cartas na mesa em fileiras.

ELLEN: - Eu não acredito! Todas as cartas? Ah não, vocês estão escondendo cartas no sutiã ou nas calcinhas, suas nanicas trapaceiras!

SCULLY: - Meninas, eu vou pedir uma coisa pra vocês. Sabe a valsa de casamento?

ELLEN: - O que tem? É a parte mais linda da festa. Acho mais lindo ainda que o próprio casamento!

SCULLY: - Eu concordo, mas vou escolher uma música lenta, porque isso o Mulder sabe dançar. Valsa tradicional ele não sabe. Não quero o pobrezinho constrangido.

Barbara pisca o olho pra Ellen que segura o riso.

BARBARA: - Está certo. Que música você vai escolher?

SCULLY: - Eu ainda não sei... Susanne, quer outro suco?

SUSANNE: - Ai, quero levantar, minhas costas doem, minhas pernas doem, meu peitos doem...

Ellen se levanta e ajuda Susanne.

SCULLY: - O lado ruim da gravidez...

SUSANNE: - E quando chuta... Eu juro que estou com medo, mas quero que nasça de uma vez que não aguento mais! Eu já estou na fase de olhar para o John e querer acertar um soco na cara dele pra nunca mais chegar perto de mim.

ELLEN: - Ah, essa fase é crítica. Eu tenho saudades de um bebê, mas não acho que tenha mais paciência pra tudo de novo e arriscar a errar como errei com o outro? Seria bom ter uma "girafinha" correndo pela casa pra deixar o Walter ficar todo bobo, mas a ideia me assusta. Útero fechado. Nunca mais.

SCULLY: - Sinceramente vocês me dão nos nervos! Eu se pudesse ter mais filhos... Teria muitas raposinhas dentro dessa casa. Parem de reclamar!

ELLEN: - Imagino. Eu me pergunto se você e Mulder são raposas ou coelhos, porque do jeito que vocês gostam de sexo, se você pudesse engravidar, Mulder trabalharia 24 horas por dia pra bancar a ninhada e não daria conta! Seria um por ano? Você nunca mais iria enxergar os seus pés. Deus sabe das coisas!

SCULLY: - Também não exagera, Ellen!

BARBARA: - Eu ainda quero ter um.

ELLEN: - Tem certeza? Olha que você não sabe. A imagem é linda, mas a realidade...

SUSANNE: - É outra. Já percebi isso. Passou a fase do sonho e já começou a do vou ficar por aqui mesmo, um tá ótimo.

ELLEN: - Eu não quero assustar a Susanne, mas depois do nascimento é que cai a ficha. Mamar de três em três horas. Os bicos dos peitos racham, doem. Você não dorme direito, fraldas, choro, cólicas, cuidados com sua alimentação, e nem tô falando do parto e do inútil dormindo do seu lado agradecendo pela participação dele ser apenas no faz me rir! E você jurando que nunca mais vai esquecer a pílula e caso esqueça, látex no desgraçado ou nem vai encostar em você!

Elas riem.

SCULLY: - Eu não sei, Victoria nunca incomodou. A única vez que teve cólicas foi uma choradeira, mas nunca mais depois disso. E Mulder também sempre participou.

ELLEN: -É, mas ele amamentava? Eram os peitos dele a doerem? A barriga dele parecendo uma gelatina?

SCULLY: - Não mesmo! É, tem razão... Mulher sofre. Ser mãe é bonito, mas tem muita coisa cruel que a propaganda da Johnson's não diz.

SUSANNE: - Claro! Eles querem vender mais fraldas!

BARBARA: - Minhas irmãs dizem a mesma coisa que a Ellen, mas eu bem queria um dia ter um ratinho aqui na minha barriga, mas do jeito que a coisa anda... Se tiver um namorado tá ótimo! Marido é sonho. Filho? Utopia!

Scully olha ternamente pra ela.

SCULLY: - Barbara, tudo tem seu tempo. Hum? É só tempo.

ELLEN: - Dana tem razão, Dona Rata, e eu vou lhe dizer uma coisa. Cuidado, muito cuidado. Ratos quando começam a se procriar, é ninhada atrás de ninhada, minha filha. É pior que raposa e girafa juntas! Aí você vai descobrir a temperatura dele que ainda não descobriu!

SUSANNE: - (RINDO) Gente, eu vou parir de tanto rir!

SCULLY: - Ah, não segura aí, espera pra depois do meu casamento!

ELLEN: - Falando nisso, já decidiu a entrada na igreja? A marcha nupcial de Wagner ou Mendelssohn? Ou a Ave Maria?

SCULLY: - Deus, eu tô indecisa! É sério, eu prefiro a de Mendelssohn, mas... Ai... Tem outra música que eu adoro. Ah, vocês vão rir, deixa pra lá.

ELLEN: - Não vai entrar com alguma dos Stones, né? Aí o povo se empolga e o padre nos coloca pra correr da igreja!!!

SCULLY: - Não! Vocês sabem que eu sempre quis conhecer a Itália, eu adoro música italiana e depois quero ir ao Vaticano, quero ver o Papa, Veneza e Roma... Tanto que Mulder planejou a lua de mel por lá. Eu vou pelo Vaticano, Veneza e Roma. Mulder vai certamente pela pizza!

Elas riem.

SCULLY: - Sabe Andrea Bocelli? Con te Partirò? Essa música tem tanto comigo e Mulder, mas a amiga da Barbara, a que faz casamentos, disse que a marcha nupcial é imprescindível porque é tão tradicional que já diz aos convidados que a noiva está chegando, as pessoas já ficam preparadas... Outra música causaria confusão. Gente sentada, desavisada...

ELLEN: - Qual o problema? Roda a marcha nupcial enquanto se ajeita lá fora e entra com a música do Bocelli. Já vi isso em muitos casamentos e fica bem mais legal. Marcha nupcial e depois a música da noiva.

SUSANNE: - Ou sai com a do Bocelli? Eu acho essa música linda, de arrepiar a alma. Você estará dizendo "contigo partirei". E sairão os dois juntos, partindo pra nova vida.

SCULLY: - Susanne, que ideia maravilhosa! Vai ficar lindo!

ELLEN: - Alguém vai ter que conseguir o CD. Você tem?

SUSANNE: - Espera. Estamos falando do casamento da Scully! Quem sabe ao vivo? Música ao vivo é outro nível!

ELLEN: - E aonde vamos encontrar uma orquestra básica?

As quatro pensativas.

BARBARA: - Espera. Eu tenho meus contatos com alguns músicos da sinfônica que já entrevistei...

ELLEN: - Bom seria se você tivesse contato com o Bocelli! Quero ver a gente conseguir um tenor e que cante em italiano sem errar a letra!

Barbara abre um sorriso.

BARBARA: - Deixem essa parada comigo. Eu conheço um ótimo cantor, eu resolvo!


3:11 A.M.

O abajur ligado. Krycek entra no quarto, em silêncio. Barbara dorme de lado. Ele tira a jaqueta e coloca na poltrona. Senta-se. Tira os sapatos. Barbara se acorda e olha pra ele.

BARBARA: - Se divertiu bastante, Ratoncito?

KRYCEK: - Muito. Sabe que seu amigo Byers, o Langly e o Frohike são divertidos? Até o Skinner se soltou, nunca imaginei o Skinner rindo! Mas deixei o Mulder ganhar algumas partidas de sinuca, afinal ele é o noivo. E você?

Barbara sorri. Senta-se na cama. Krycek se levanta da poltrona e tira a camisa.

BARBARA: - Scully e eu ganhamos disparado na canastra contra Ellen e Susanne. Rimos muito, conversamos, colocamos as fofocas em dia...

KRYCEK: - Que bom que tenha se distraído. Pelo menos agora temos amigos.

BARBARA: - Isso é tão bom, sabe? Faz bem. Eles são legais... Ratoncito, você faria uma coisa pela Scully?

KRYCEK: - Que coisa?

BARBARA: - Ahn... (ENROLANDO) A gente achou legal chamar uma orquestra pra tocar na igreja... E... A Scully vai entrar com a marcha nupcial de Mendelssohn e vai sair com... Andrea Bocelli...

KRYCEK: - Legal. Sou fã do Bocelli.

BARBARA: - E... Bom... Bem... Hum...

Krycek olha desconfiado pra ela.

BARBARA: - Err... Hum... Nós precisamos de um tenor.

Krycek olha assustado pra ela.

KRYCEK: - Tá maluca, Malyshka? Não, você não está me pedin...

BARBARA: - (CHARMINHO) Ai, Ratoncito, diz que sim!

KRYCEK: - Barbara, eu não canto desde que a Rússia era comunista! Vão atirar tomates dentro da igreja!

BARBARA: - Ah, não se faz, Alex Krycek! Eu sei que você canta bem. Eu jamais pediria pra você cantar algo tão difícil se não soubesse que você conseguiria. E você sempre teve o sonho de ser um cantor clássico, agora tem uma chance, ahn?

KRYCEK: - Não. Mas não mesmo! Começa que não sou tenor, sou barítono.

BARBARA: - E tem muita diferença?

KRYCEK: - Tem. O tenor é voz grave. O barítono pode transitar entre agudo e grave. Fred Mercury era barítono, Elvis também. Axel Rose também. Entendeu os extremos? Cada um de acordo com sua afinação natural. Bocelli é tenor, como Pavarotti, Caruso, Corelli, Plácido Domingo, Carreras...

BARBARA: - Você não tem voz esganiçada de Axel Rose. Você tem uma voz linda e canta grave. (BEIÇO) Pode cantar sim. Inventa outra desculpa! Puxa vida, pela Scully, tadinha! Ela quer o casamento dos sonhos, mas vai ficar sem Bocelli na saída da igreja... Traumático isso na vida de uma mulher...

Krycek cerra um olho e ergue a outra sobrancelha, olhando pra ela, que fica fazendo charminho brincando com o lacinho do babydoll.

BARBARA: - E sabe... Casamento é uma coisa tão importante pra uma mulher, é uma data inesquecível... E vai ser mesmo. Ela vai recordar pra sempre que faltou o Bocelli... Podia ter sido tão lindo... Perfeito...

KRYCEK: - ...

BARBARA: - (SUSPIRA) Fazer o quê, né? Pobrezinha da Scully, já não basta os percalços da vida, agora mais esse, nada dá certo pra ela...

KRYCEK: - (PENSATIVO) Que música ela quer?

BARBARA: - Con te Partirò.

Krycek abaixa a cabeça, sorrindo.

BARBARA: - Ai Ratoncito, ia ser tão bom você dar esse presente pra Scully e vai até fazer bem pra você... Vai, pensa com carinho. Se eu tivesse voz, eu cantava. Não custa nada pra quem sabe cantar, mas Deus dá o dom pra quem não quer...

KRYCEK: - Tá, chega de choramingar! Você só me mete em furada, Malyshka... Vou é passar vergonha na frente de todo mundo!

BARBARA: - Não vai não. Custa realizar o sonho da Scully? Hum?

KRYCEK: - Você tá pegando pesado, sabia?

Krycek vai para o banheiro.

BARBARA: - Aonde vai?

KRYCEK: - Tomar um banho.

BARBARA: - Não. Deita aqui. Pra que banho? Você já cheira bem.

Krycek tira as calças, enfia-se embaixo do lençol e deita-se ao lado dela, a envolvendo com seu braço.

KRYCEK: - Pensei que ia dizer que cheiro como um rato.

BARBARA: - Eu nunca cheirei nenhum rato, a não ser você. Até porque se ficasse cheirando ratos por aí, minha fama de maluca iria nas alturas!

Barbara vira-se de frente pra ele. Se olham nos olhos. Krycek passa a mão nos cabelos dela, ajeitando-os atrás da orelha.

KRYCEK: - Amanhã cedo eu termino de cavar os buracos e depois vamos plantar suas árvores. Você vai ter um quintal lindo como sempre quis. Com palmeiras que lembram a sua terra. E uma rede.

BARBARA: - (SORRI) Você comprou uma rede pra mim?

KRYCEK: - Nunca vi um jardim desses sem uma boa rede pra ler um livro e cochilar. Você nunca assistiu as dicas de decoração da Martha Stewart?

BARBARA: - (RINDO) Ratoncito, eu sou péssima em decoração! Eu sou melhor com um microfone na frente de uma câmera dando as notícias do dia.

KRYCEK: -... Barbara, eu preciso falar uma coisa. Eu tive a chance de devolver seu emprego, mas eu não quis.

BARBARA: - ???

KRYCEK: - O Fumacinha queria que eu matasse alguém, que não sei quem é, se é dos nossos ou um estranho. Ele devolveria seu emprego na RBN, na bancada do jornal das oito novamente. Eu não aceitei.

BARBARA: - (SORRI) Estou orgulhosa de você, Alex. Fez a coisa certa. Nunca mais pense em voltar a fazer o que fazia, isso só faz você sofrer. Eu não quero ter um bom emprego às custas do seu sofrimento. Eu prefiro ter você. Emprego existe aos montes por aí, você é um só.

KRYCEK: - Eu não quero voltar ao que era. Pensei ter sido egoísta.

BARBARA: - Não. Você foi inteligente. E sua atitude me deixa muito feliz. E o fato de estar contando isso, mais feliz ainda. Agora está abrindo seu coração comigo, como tanto eu pedi pra fazer, me contando as coisas que acontecem em sua vida.

Krycek recosta a cabeça no peito dela, fechando os olhos. Barbara esboça surpresa.

KRYCEK: - Me abraça?

Barbara fica boquiaberta, quase sorrindo de felicidade. Então envolve os braços nele. Ele se deixa envolver e fecha os olhos. Ela faz carinhos nos cabelos dele, fechando os olhos num sorriso.


3:14 A.M.

Scully sai do banheiro vestida numa camisola, com um creme esbranquiçado no rosto. Senta-se ao lado de Mulder, que está deitado apenas com a calça do pijama, pensamento ao longe, sorrindo. Scully massageia o rosto fazendo o creme absorver.

SCULLY: - Hum... A noite foi tão boa que já está recordando?

MULDER: - Tô pensando numa coisa. Não é bom fazer o bem?

SCULLY: - Sempre! Por quê? O que meu Mulder aprontou?

MULDER: - Acho que agora Krycek e Barbara vão começar a se entender. Observei o comportamento dela, observei o dele e o fiz ver umas coisas que ele não via.

SCULLY: - Mulder, você tá mesmo empenhado em ajudar Krycek a ser feliz. Imagina isso alguns anos atrás, seria surreal vocês dois bebendo e se divertindo juntos e ainda confidenciando a vida privada!

MULDER: - Eu gosto de ajudar as pessoas. E ele tem sido um irmão, não é? Gosto da ideia de ter um irmão. Se tivesse tido um, as coisas teriam sido diferentes. Ele não me deixaria carregar a culpa pela Samantha ter sido levada. Eu teria um aliado, alguém mais pra me defender naquela casa.

SCULLY: - Então você não deixa seu "irmão" carregar a culpa das coisas que fez, porque sabe quão tortuoso é carregar culpas.

MULDER: -(SORRI) Ei! Eu sou o psicólogo por aqui, não me analise!

Scully sorri. Continua massageando creme no rosto.

MULDER: - Por que passa essas coisas no rosto? Você já é linda.

SCULLY: - Pra não envelhecer a pele.

MULDER: - Você não vai ficar velha. E mesmo que ficasse ainda assim seria a velha mais linda.

Mulder, debochado, passa a língua no rosto dela.

MULDER: - Até que tem um gosto bom. É creme de quê?

SCULLY: - Espermacete de baleia.

Mulder pula da cama em pânico, se cuspindo todo e limpando a boca.

MULDER: - (IRRITADO) Você passou esperma de baleia no rosto?

SCULLY: - (SUSPIRA) Mulder...

MULDER: - Quem passa esperma no rosto?

Scully olha debochada pra ele.

MULDER: - Quanto custa essa porcaria?

SCULLY: - Como é produzido ecologicamente correto, sem matar as baleias, custa 50 dólares o...

MULDER: - (INCRÉDULO) Cinquenta dólares? Se quer passar esperma na cara, eu faço isso ecologicamente correto sem me matar e ainda de graça!

Scully ergue a sobrancelha, o fulminando com os olhos.

MULDER: - E eu aqui deixando de ganhar dinheiro!

SCULLY: - Mulder...

MULDER: - Isso é nojento, Scully! Eu não vou dormir com você cheia de esperma de baleia na cara!

SCULLY: - (OLHANDO DEBOCHADA PRA ELE) ... Mulder, sabia que o esperma é rico em aminoácidos, frutose, enzimas, flavinas, prostaglandinas, ferro e vitaminas B e C. Além disso, por conter líquido produzido na próstata, o sêmen contém ainda proteínas, fosfatase ácida, ácido cítrico, colesterol, fibrinolisina, enzimas proteolíticas e zinco. Então deve ser uma maravilha pra pele.

MULDER: -(INDIGNADO) Eu não acredito nisso! Minha mulher passa esperma na cara!

SCULLY: - Mulder, deixa de ser hipócrita e fazer novela! Vem dormir!!!

MULDER: - (NOJO) Não mesmo! Uma coisa é o meu esperma, outra coisa é o esperma de um animal, isso é nojento! Não vou dormir com você usando isso no rosto! E não suja o meu travesseiro com essa coisa!

SCULLY: -(SEGURANDO O RISO) Mulder, quer se acalmar? Hum? Pode relaxar e sentar um pouco?

MULDER: - Não tem beijo hoje, mas nem ferrando! Vou dormir no sótão. Maldita indústria da beleza e suas invenções!

Scully suspira. Mulder anda de um lado pra outro. Scully se levanta, vai pro banheiro. Mulder se deita. Liga a TV, emburrado.

MULDER: - Esperma na cara. Era só o que faltava! O que mais essa gente vai inventar? Tenho até medo de saber!

Scully sai do banheiro enxugando o rosto.

SCULLY: - Pronto, está feliz?

MULDER: - Passou bastante sabonete?

Scully deita-se na cama. Mulder sério. Scully começa a rir dele. Mulder emburrado, fixa a atenção na TV.

SCULLY: - Acabou o show? Posso falar? O espermacete de baleia não é esperma. É um óleo produzido num órgão situado na cabeça da baleia cachalote, que ajuda a baleia a economizar oxigênio nos longos períodos em que fica submersa. É um óleo com propriedades muito parecidas com as do óleo de jojoba, portanto é um óleo bom para pele e cabelos.

MULDER: - (BEIÇO) ... E eu ia adivinhar? Podia ter dito antes!

SCULLY: - (INCRÉDULA) ... Com você tendo um ataque feito maluco?

MULDER: - Mas por que não usar jojoba? Deixa as baleias em paz!

SCULLY: - Ok, vou deixar as baleias em paz.

Scully se recosta nele, levando a mão ao peito dele. Mulder emburrado.

MULDER: - Por que tem esse nome? Aposto que é porque se parece com esperma!

SCULLY: - Mulder, tem esse nome justamente porque se parece com esperma, mas isso porque antigamente as pessoas não sabiam o que era, julgavam pela aparência.

MULDER: - Igual é nojento!

SCULLY: - Mulder, antigamente se faziam velas com isso, sabia? É um óleo viscoso, não é nojento.

MULDER: - Pra mim é. Só de pensar me dá nojo.

SCULLY: - (SACANA) Já que tirei o creme do rosto... Que tal testar a qualidade do creme de raposa?

MULDER: - (EMBURRADO) Hoje não, estou com dor de cabeça.

SCULLY: - (SACANA) Eu pego um analgésico.

MULDER: - (EMBURRADO) Não. Hoje estou menstruado. Sai pra lá. Não quero nada com você. Me chamam de estranho, mas você é maluca e quase ninguém sabe disso!

SCULLY: - Porque sou discreta.

Scully solta uma gargalhada. Mulder a encara. Depois deita-se e vira-se de costas pra ela.Scully ergue a sobrancelha.

SCULLY: - (RINDO) Vai ficar de beicinho a noite toda? Esse beicinho sexy?

MULDER: - ...

SCULLY: - Ok... Você pediu, Mulder.

Scully vai pra baixo dos lençóis.

MULDER: -Au!!!!! Você mordeu o meu traseiro, mulher!!!

SCULLY: - (RINDO) ...

MULDER: - Folgada! Você é folgada, Scully!

SCULLY: - Mulder, você vai ficar de costas pra mim?

MULDER: - Me deixa dormir! Acho que quando um homem fica de costas pra uma mulher já fica subentendido que não tá a fim de brincadeira.

SCULLY: - Sério? Pensei que, como o ponto G do homem fica na próstata, você...

Mulder vira rapidamente o traseiro para o colchão. Scully sai de baixo do lençol e começa a rir.

SCULLY: - Não é você que adora brincar de médico? Hum? Eu sou médica, posso brincar com você.

MULDER: - (PÂNICO) Ok, Scully! Eu tô realmente ficando com medo! Mantenha sua medicina criativa longe do meu traseiro!!!

Scully desce pra baixo do lençol, rindo.

MULDER: - Sai daí, Scully! Hoje não tem nada pra você. Não estou a fim de ser seu objeto de estudos de anatomia.

SCULLY: - Hum... Não me parece isso, Mulder... E que anatomia!!!

MULDER: - Maldito traidor!!!


Residência de Barbara Wallace - 10:36 A.M.

Mulder sentado na grama com um capim na boca. Krycek cavando buraco, usando uma camiseta regata branca e jeans rasgados.

MULDER: - Dá pra acreditar?

KRYCEK: - (RINDO) Se tratando de vaidade feminina... Mulder, não demora e alguém diz que cocô de cachorro tira rugas e não me espantaria se as mulheres começassem a usar.

MULDER: - Nem eu! Acha mesmo que a indústria da beleza não mente?

KRYCEK: - Claro que mentem! Basta um cientista sem escrúpulos atestar uma coisa e vira pandemia nos blogues de beleza! Não sei como o Sindicato ainda não teve a ideia de atacar nessa área. O pior é que elas fazem pensando em ficarem lindas pra gente. A gente nem liga pra isso! Elas são lindas sempre!

MULDER: - Não, Rato. Mulheres não ficam lindas para os homens, mas para as outras mulheres. O objetivo é causar inveja nas outras... Falta muito pra você chegar na China?

KRYCEK: - Não, eu aviso você e a gente pula no buraco. Vamos fugir dessas duas loucas. Barbara e Scully estão de sacanagem com a gente. Nanicas folgadas.

MULDER: - Vejo que começou a revidar com as roupas...

KRYCEK: - Vou comprar uma moto. Ela fica reclamando da minha picape, que é alta, tem que tomar impulso pra subir... Isso sim vai deixar ela mais maluquinha! Eu livre e solto por aí de moto e jaqueta de couro. Quer ir comigo me ajudar a escolher?

MULDER: - (RINDO) Claro! Não perderia essa por nada. Escolha um capacete bem resistente porque a vassoura vai descer!

Barbara se aproxima rebolando, segurando a bandeja com jarra e dois copos. Shortinho jeans curto e mini-blusa provocante, com parte dos seios à mostra.

BARBARA: - Suco de abacaxi, rapazes?

Mulder abaixa a cabeça rindo.

KRYCEK: - Não falei? Cada um com a sua cruz, Mulder.

Krycek para de cavar e encara Barbara.

KRYCEK: - Você usa creme de espermacete de baleia?

BARBARA: - Não, eu prefiro produtos de beleza que venham da flora, não curto nada animal... A não ser que você queira fazer sexo animal comigo. Por quê?

Krycek arregala os olhos. Mulder abaixa a cabeça segurando o riso. Barbara está séria encarando um Krycek todo desconcertado.

BARBARA: - Por que a pergunta, Ratoncito?

KRYCEK: - N-nada. Curiosidade.

Krycek volta a cavar. Barbara larga a bandeja na mesa do jardim. Cruza os braços, inclina a cabeça e fica admirando o traseiro dele. Passa a língua nos lábios. Mulder tenta não rir.

BARBARA: - Eu gosto... Delícia! Posso me acostumar com isso.

KRYCEK: - (INGÊNUO) Depois que ficar pronto então, vai ser um jardim lindo.

Barbara se afasta de costas, olhando pro traseiro de Krycek e mexendo os dedos como se o agarrasse. Mulder vira o rosto tentando não rir. Krycek continua cavando.

BARBARA: - Valeu, Mulder. Você é meu amigo mesmo! Que presentão você me deu!

KRYCEK: - Mulder deu as palmeiras pra você?

BARBARA: - Mulder me deu uma planta exótica. Precisa de paciência, carinho e muita dedicação pra cultivar, mas depois que crescer, meu filho, tenho certeza que a vizinhança toda vai invejar!

Mulder desata a rir. Barbara entra em casa.

KRYCEK: - O que ela quis dizer com sexo animal? Da vez que tentei ser canalha, ela me deu um tapa na cara! Ah, quem entende as mulheres?

MULDER: -É que na época vocês não tinham nada. Acho que ela quis dizer que as coisas mudaram. (DEBOCHADO) A não ser que você tá com medinho de apanhar da nanica. É, literalmente tá "russo" pra você, "Ratoncito". E vai ficar pior, me acredite.

Mulder se levanta.

MULDER: - Vou pra casa. Ainda tenho que buscar as alianças. E pensar numa pra aprontar pra Scully, aquela folgada.

KRYCEK: - Eu acompanho você. Finalmente terminei o último buraco.

Os dois entram pela porta da varanda, indo pra cozinha.

BARBARA: - Já vai, Mulder? Quer almoçar com a gente?

MULDER: - Fica pra próxima. Não precisam me acompanhar, sei a saída.

Mulder sai pela porta dos fundos.

BARBARA: - O que ele tem hoje?

KRYCEK: - Problemas com baleias...

BARBARA: - ??? (RINDO) Ah não! Vai dizer que ele pensou que espermacete de baleia era...

KRYCEK: - Eu também pensei! E deu a maior briga. Sabe que o Mulder adora folgar com todos, mas quando folgam com ele... Scully folgou na última! Vai passar. Assim que o ego machucado dele se recuperar... Terminei os buracos. Quer ajuda com as mudas?

BARBARA: - Não. Você já fez demais. Acho melhor almoçar e descansar porque você ainda tem que trabalhar hoje à noite. E um policial não pode dormir no seu trabalho...

Barbara se aproxima, rebolando os quadris sensualmente. Passa a ponta do dedo indicador por sobre o peito dele, deslizando sobre a camiseta branca. Krycek olha pra mão dela, as longas unhas vermelhas. Ele fecha os olhos, angustiado.

BARBARA: - (CHARMINHO) Gostei dessa roupa... Adoro calças jeans rasgadas porque dá pra fazer isso...

Barbara leva a mão num dos rasgos da calça e coloca os dedos pra dentro, acariciando-o. Krycek fica tenso.

BARBARA: - (CHARMINHO) Adoro essas coxas grossas e essa pele macia...

KRYCEK: - Barbara... Me escuta. Nenhuma mulher brincou comigo desse jeito, porque eu não dou tempo pra brincar, ok? Eu tô tentando respeitar pra não levar outro tapa na cara, mas acredite que eu não sou o tipo de cara que fica olhando sem agarrar! Eu não sei porque raios eu me deixo levar pelos seus joguinhos. Eu sei que ando com a cabeça na lua e não tenho sido homem pra você, mas aposte que já desci da lua e o azar é somente seu! Não sabe o que está despertando, entendeu?

BARBARA: -Não sei mesmo e adoraria descobrir. Mas você precisa aprender a ter calma e autocontrole, deixar de ser tão impulsivo, e não sair agarrando o doce antes da mesa estar servida pra festa.

KRYCEK: - Você precisa aprender que se a festa começou, dane-se se a mesa está servida ou não, você vai comendo o doce enquanto arruma a mesa!

BARBARA: - A festa é minha, minhas regras. Quando a festa for sua, suas regras. Entendeu?

Barbara desliza suavemente a ponta do dedo indicador pelo nariz dele.

BARBARA: - Adoro esse narizinho arrebitado... (LEVA A OUTRA MÃO ENTRE AS PERNAS DELE) Hum... Tem outra coisa ficando arrebitada por aqui.

Krycek fecha os olhos, suando frio, cerrando as mãos pra não agarrá-la. Barbara desliza as mãos pelos ombros dele.

BARBARA: - Adoro essas sardas nesses ombros fortes... Essa pele branquinha... Esse perfume... Então, meu Grandão? Vai cantar no casamento dos nossos amigos?

KRYCEK: -(INCRÉDULO/ BRAVO) Você tá me seduzindo pra cantar no casamento? Que golpe mais sujo, Malyshka! E dá pra dizer não pra você? Cavei buracos, virei jardineiro e cantor de casamento, sou provocado sexualmente 24 horas por dia e a tal recompensa nem sinal! Só levo castigo! Eu tô pagando meus pecados mesmo! Eu acho que você quer é me matar aos poucos, não tem homem que aguente uma coisa dessas!

Barbara olha fixamente pra ele, séria, enquanto leva as mãos ao botão do shorts, abrindo.

BARBARA: - A resposta é não, Ratoncito. Eu estou seduzindo você por outro motivo.

Barbara abre o zíper, tira o shorts e gira no dedo, jogando longe. Krycek olha pra baixo.

BARBARA: - (OLHAR DESAFIADOR) Ops... Sem calcinha.

Krycek dá um sorriso sacana, faz uma cara de malvado e agarra Barbara de supetão, a erguendo e a pressionando contra a parede. Leva os lábios ao pescoço dela, morde a orelha dela, coloca a língua. Barbara se entrega.

KRYCEK: - (OFEGANTE/ SUSSURRA) Chega de brincadeira pra você, garota. Eu não sou homem de ficar admirando o mel, eu já meto a mão no pote.

Barbara leva as mãos ao zíper dele. Os dois ofegantes, aos beijos famintos. Ela se agarra aos ombros dele, mordendo os lábios num sorriso, cerrando os olhos, em gemidos abafados.

11:29 A.M.

Barbara, em pé, termina de abotoar o shorts. Krycek deitado no chão, de olhos fechados. Barbara olha atrevida pra ele.

BARBARA: - Acho que temos um problema. Sexo entre nós só funciona na cozinha.

KRYCEK: - Confia nisso.

BARBARA: - Então comporte-se, meu "Ratboy Magia".

Krycek abre os olhos, rindo alto.

BARBARA: - (RINDO) Continue sendo um bom menino...

Ele deita-se de lado, apoiando a cabeça na mão, olhando apaixonado pra ela.

KRYCEK: - (SORRI SACANA) Tem certeza disso?

Barbara vai saindo da cozinha e para, virando-se pra ele.

BARBARA: - Um bom menino na vida, sem voltar ao crime, sendo um bom policial. Entre essas quatro paredes, pode ser o meu bandidão. Sabe qual é a arma que eu prefiro que você pegue. E lembre-se: Se você não se comportar, eu vou ficar aborrecida. Mas se você se comportar direitinho...

Ela dá um tapa no traseiro. Krycek se levanta, sorrindo sacana. Ela sai correndo aos gritos e rindo alto. Ele corre atrás dela.


Residência dos Mulder - 12:24 P.M.

Scully dá comida na boca de Victoria, que está sentada no colo dela. Baba serve um prato.

BABA: - Eu ouvi a bagunça do meu quarto. Acho que escutei a palavra esperma uma dúzia de vezes e tive até medo de pensar no que estava acontecendo!

Scully começa a rir.

BABA: - Por isso ele está com essa cara de cachorro que caiu da mudança. Ele não gosta de ser alvo de piadas, mas adora sacanear todo mundo! Coisa típica de libriano. Scully, qual seu signo?

SCULLY: - Peixes.

BABA: -(INCRÉDULA) Nem em sonhos! Você não tem nada de peixes! Deve ter alguma coisa de escorpião no seu ascendente ou essa relação já tinha ido pro buraco!

Mulder entra na cozinha. Senta-se. Olha pra mesa.

MULDER: - (SORRI) Comida sulista? Aquele seu frango frito delicioso???

BABA: -É, estou generosa hoje, embora você não mereça... Eu até pensei em fazer algo mais francês, tipo estrogonofe, mas acho que você não tá a fim de creme de leite hoje.

Scully morde os lábios pra não rir. Mulder encara Baba.

MULDER: - (DEBOCHADO) Sabia, mucama, que a criadagem não pode ficar ouvindo através das paredes?

BABA: - (DEBOCHADA) Não me admira que você tenha pensando na ideia de vender esperma, porque como todo o judeu sovina, você não joga porra nenhuma fora!

Scully solta uma gargalhada incontida.

MULDER: - Nós dois não somos nada politicamente corretos, Baba.

BABA: - Pra quê? Onde está a diversão nisso?E me compre uns fones de ouvidos, porque vocês dois fazem muita algazarra naquele quarto!

Mulder faz cara de pânico. Scully solta outra gargalhada.

BABA: - Vocês já são casados no civil?

SCULLY: - Sim.

BABA: - Estou curiosa. Como ficou seu nome? Ou achou melhor não estragar sua assinatura com o sobrenome dele?

Mulder faz careta pra Baba.

SCULLY: - (RINDO) Dana Katherine Scully-Mulder. Ele queria colocar o meu sobrenome, eu que achei que ficaria estranho. O contrário não ia combinar muito com o nome dele.

BABA: - Nada combina com o nome dele. Aliás, que nome!

MULDER: - Aqui ô Mary Valentine Wolf, você não pode criticar o meu nome!

BABA: -(DEBOCHADA) Scully, você exigiu a separação de bens? Sabe como é...

MULDER: - Não, a gente resolveu dividir a miséria mesmo.

Os três riem. Victoria começa a rir com eles.

BABA: -Eu vou dizer uma coisa. Minha mãe nunca gastou um centavo com creme de beleza. Ela ia no galinheiro, pegava um ovo, separava a gema da clara, dava uma batidinha na clara com o garfo até fazer espuma e passava no rosto. Tinha a pele mais lisa e linda que já conheci.

SCULLY: - Sim, minha avó fazia isso. E faz sentido porque a clara do ovo é rica em propriedades adstringentes e tonificadoras. Boa ideia, Baba. Vou comprar ovos e começar a passar no rosto.

MULDER: - (DEBOCHADO) Não vejo nenhuma diferença entre usar esperma ou ovos. Apenas substituíram o conteúdo pela embalagem!

SCULLY: - (INCRÉDULA) Mulder, eu vou socar você até engolir essas piadinhas sujas!

BABA: -Cala a boca, Mulder!

SCULLY: - É, cala a boca Mulder!


9:31 P.M.

Scully sentada na cama passando hidratante no rosto e assistindo TV. Mulder entra no quarto com cara de deboche e atira-se na cama.

MULDER: - Não quer passar os ovos na cara?

SCULLY: - Não, mas se insistir nessa piada vai ficar sem os seus.

MULDER: - Uh! Mas admita, Scully. Eu fiz cesta!

SCULLY: - Seu porco, tarado, pervertido e sujo!

MULDER: - Ah, você esfrega ovos e esperma na cara e eu sou o pervertido aqui?

Scully pega o travesseiro e começa a bater nele. Mulder ri alto.

SCULLY: -Mulder, eu vou te matar!!!!

Eles disputam o travesseiro, Mulder consegue arrancar das mãos ela, joga o travesseiro, a agarra pelos pulsos e deita sobre ela.

MULDER: - Vai me matar é?

SCULLY: - Vou.

MULDER: - E como pretende fazer isso? Hum?

Scully sorri, fecha os olhos e depois faz beicinho. Mulder leva os lábios até os dela. Os dois trocam um beijo faminto. Mulder solta as mãos dela, Scully vira-se por sobre ele. Afastam os lábios se olhando nos olhos.

MULDER: - Temos que ser silenciosos. Baba tem ouvidos sensíveis.

SCULLY: - (RINDO) Quer ir pro sótão? Hum?

MULDER: - Pra cama ou pro sofá?

SCULLY: - Pra onde você se sinta muito criativo...

Corte.


No sótão, os dois deitados na cama, nus entre os lençóis. Scully nos braços de Mulder.

MULDER: -Eu sei porque você tá folgando comigo, Scully. Está mais leve e solta porque está feliz. Nunca vi você rindo tanto como nas últimas semanas.

SCULLY: - É, eu estou muito feliz mesmo. E sem medo de sentir essa felicidade.

MULDER: - Preparada? Faltam duas semanas para o casamento...

SCULLY: - Preparada e nervosa.

MULDER: - Nervosa?

SCULLY: - Sim. Coisa de noiva.

MULDER: - Nervoso tô eu.

SCULLY: - Por que vai entrar na igreja ou por que vai me assumir publicamente pela primeira vez como esposa na frente de todo mundo?

MULDER: - Eu já assumi você como minha mulher na frente do FBI, isso vai ser fichinha. Eu tô nervoso com outra coisa.

SCULLY: - Com a lua de mel? Mulder, meu amor, eu sei que você é virgem, mas a gente dá um jeito nisso. Hum? Eu vou com carinho, tá? Vou ser boazinha com você.

Mulder começa a rir.

MULDER: - Sério, Scully. Eu tô nervoso, nem sei porquê, mas estou.

SCULLY: - Mulder, só não esqueça as alianças, por favor. Ou vamos trocar sementes de girassol. De novo.

MULDER: - Acho que nem é nervosismo. É ansiedade mesmo. Perdi até o sono.

SCULLY: - Hum, acho bom encontrar o sono porque amanhã o dia vai ser cheio... Mulder, as garotas sugeriram uma orquestra na igreja. Lógico, não a sinfônica inteira! Barbara vai achar os músicos.

MULDER: - Legal.

SCULLY: - Se você concorda, vamos entrar com a marcha nupcial e sair da igreja ao som de Con te Partirò.

MULDER: - (SORRI) Sério? Krycek topou cantar? Legal da parte dele. Aposto que todo mundo vai ficar impressionado.

SCULLY: - (INCRÉDULA) Krycek? Como assim, Mulder? Krycek canta? Desde quando?

MULDER: - O Rato é bom nisso, Scully. Desde criança. O sonho dele era ser cantor no Teatro de Moscou, chegou a cantar um tempo no coral do exército vermelho. Quando a gente tava numa missão na Itália, o desgraçado começou a cantar justamente essa música dentro do carro, ele tava viajando, nem lembrou que eu estava ali. Precisava ver minha cara, nunca imaginei Alex Krycek tendo sensibilidade musical, muito menos tamanha afinação!

SCULLY: -Agora entendi porque Barbara disse que ia resolver... Ai, vou ter mesmo o casamento dos meus sonhos, até orquestra e cantor! Estou tão ansiosa... Ai, preciso dormir. Boa noite, Mulder!

Mulder se levanta e apaga a luz. A luz do jardim passa através da porta de vidro que dá para uma sacada. Mulder deita-se. Coloca as mãos na barriga, os dedos entrelaçados, olhando para o teto. Scully, de costas, vai recuando contra ele, se aconchegando.

MULDER: - ...

SCULLY: - ...

MULDER: - Scully?

SCULLY: - Fala, Mulder.

MULDER: - Eu tô sofrendo.

Scully começa a rir.

SCULLY: -Ainda tá sofrendo, Mulder?

MULDER: - (DEBOCHADO) Tô. Sofrendo de novo! Um sofrimento só...

SCULLY: - (RINDO) Oh, pobrezinho... Mulder, você vive sofrendo! Nunca vi um homem sofrer tanto!

MULDER: - (DEBOCHADO) Deve ser minha genética alienígena, Scully.

SCULLY: - Hum... Acho que não, Mulder. De acordo com o diário do seu avô, a alteração genética alienígena da sua família provém mesmo de anjos. E que eu saiba, anjos não tem sexo.

MULDER: - Scully, você é um gênio! Encontrou a resposta para os meus sete anos assexuados só olhando pra você!!!

Os dois riem. Depois ficam em silêncio. Mulder vira-se pra ela. Leva a mão pelo quadril de Scully, descendo pra baixo do lençol.

SCULLY: - ...

MULDER: - ...

SCULLY: - (RINDO) Para Mulder!!! Vai sofrer no banheiro!!!

Mulder agarra o traseiro dela, mordisca a orelha, depois o ombro e as costas de Scully.

SCULLY: - (RINDO) Mulder!!! Precisamos dormir!!! Temos coisas pra arrumar pro casamento e...

MULDER: - (MURMURA) Estou empenhado em treinar pra lua de mel.

SCULLY: - (RINDO) Tira a mão daí, Mulder!!! Para!!!

Mulder para, ergue a mão e olha debochado pra Scully, que vira o rosto pra ele, o encarando.

SCULLY: - Por que parou?

MULDER: - (RINDO) Você mandou parar.

SCULLY: - Cala a boca, Mulder! Põe agora essa mão no lugar de onde você a tirou!



WEDDING DAY

5:35 P.M.

Na frente da pequena igreja com escadas, Mulder parado, impecavelmente vestido num smoking, com um pequeno girassol na lapela. Skinner ao lado dele, também de smoking e um girassol na lapela.

SKINNER: - Está vendo? Não dói.

MULDER: - (DEBOCHADO) Não dói porque dei uma cuspidinha e não é no seu!

SKINNER: - (RINDO) Alguns meses atrás foi no meu sim e sem cuspidinha.

Mulder olha debochado pra Skinner.

MULDER: - Uh! No seco, "compadre"?

SKINNER: - Mulder, se comporte. Os convidados estão chegando.

MULDER: - Eu me sinto estranho. Nem sabia que conhecia tanta gente! Devem ser amigos da Scully. Eu não sou popular.

A Jovem Victoria sobe as escadas num discreto vestido azul claro, cabelos presos no alto da cabeça. Mulder volta a atenção pra ela, tentando reconhecer.

SKINNER: - Bonita... Quem é?

MULDER: - Não conheço, deve ser convidada da Scully.

Victoria passa por eles e sorri pra Mulder, entrando na igreja. Mulder sorri tímido.

SKINNER: -Viu o sorriso que ela deu pra você?O que você tem que eu não tenho?

MULDER: -(DEBOCHADO) Cabelos?

SKINNER: - Você é estranho, Mulder. Nada de anormal nisso. Acho que tenho uma explicação sobrenatural para esse casamento.

MULDER: - Quer discutir sua teoria? Porque eu só tenho uma teoria científica: amo demais essa mulher pra fazer qualquer loucura que ela queira. Até casar numa igreja!

SKINNER: - (SARCÁSTICO) Minha teoria é de que quando eu estava no seu lugar, Ellen jogou o buquê de propósito em cima da Scully, que o pegou. Uma maldição pode passar também por contato, você me disse isso uma vez quando entregou um Arquivo X na minha mesa.

MULDER: - É diretor-assistente, isso faz sentido. O buquê é o culpado. Vai levá-lo preso e algemado?

SKINNER: - Não, eu quero só ver quem será a próxima vítima para comprovar se a minha teoria está certa.

MULDER: - Aposto duas caixas de cerveja que a próxima vítima está se aproximando.

SKINNER: - Mulder, eu aceito a aposta. E torço pra perder, porque se a vítima for ele, eu vou rir mais do que estou querendo rir de você agora.

MULDER: - Pode apostar que eu também vou rir tanto, que até vou esquecer de cobrar as cervejas!

Krycek, igualmente elegante num smoking se aproxima deles. Skinner e Mulder se viram um pro outro, tentando não dar risadas.

KRYCEK: - Qual a piada? Ah, já sei. Era uma vez um badboy usando smoking com girassolzinho na lapela.

MULDER: - É, até que fica melhor que de terno. De terno você parecia o fresquinho do FBI. Ele tinha cara de garoto na época.

SKINNER: - Cara de garoto panaca e sonso.

KRYCEK: - Vou mostrar o panaca e sonso pra vocês... Foi bom não ter cometido suicídio. Não estaria vivo pra ver essa cena impagável do qual estou tentando não rir. Ainda bem que vão filmar. Vou rever quando quiser assistir uma comédia.

MULDER: - Pode rir, Rato. Sua vez vai chegar e sou eu quem vai rir muito. No fundo todas elas querem o vestido branco, a igreja e a troca de alianças, "amorzinho".

KRYCEK: - Eu nasci pra ser amante, não marido, "amorzinho".

Mulder e Skinner disfarçam o riso.

MULDER: - Vamos mudar a aposta, Girafão. Duas caixas de cerveja que Scully vai fazer de propósito.

SKINNER: - Eu vou apostar, mas já sei que vou sair perdendo.

KRYCEK: - O que estão apostando?

MULDER: - Segredo. Você tem seus segredos que não revela e eu tenho os meus.

KRYCEK: - (INCRÉDULO) Tudo isso por causa de uma jaqueta de couro?

Baba se aproxima com Victoria no colo. Victoria parece uma noivinha, segurando com as duas mãozinhas um girassol com as alianças.

MULDER: - Pinguinho, você ainda não sabe o que é mesada. É uma coisa muito legal! É dinheiro pra você comprar brinquedos e doces. Some com essas alianças e papai te dá uma mesada bem gorda? Hum?

VICTORIA: - Nah!

MULDER: - Traidora! Então vê se não cai e derruba isso na igreja.

BABA: - Victoria já é aia profissional. Segundo casamento.

A limusine estaciona.

KRYCEK: - Eu só queria saber como a Scully convenceu você a subir no altar com ela.

MULDER: - (DEBOCHADO) Eu dei tudo o que ela queria. Cada detalhe do sonho dela. Estou aqui só pela lua de mel. Embora eu tenha dito que essa coisa de mel e abelha sempre azedou o nosso lado...

KRYCEK: - Mulder, você é imprestável mesmo! E depois eu sou o canalha! Vamos falar sério, está na hora de rever conceitos por aqui.

Bill Scully desce da limusine, com uma cara de poucos amigos.

SKINNER: - Vamos entrar, dá azar ver a noiva antes do casamento. E dá mais azar ainda topar com o cunhado!

MULDER: - Então estou ferrado, porque eu comprei o vestido pra ela há anos atrás, já transei com a noiva, até temos uma filha!

KRYCEK: - Então por que está tão empolgado com a lua de mel?

MULDER: - Rato, realmente vamos ter que rever conceitos por aqui. Você é muito tapado mesmo! Ainda bem que viramos amigos, eu vou ter que ensinar umas coisas pra você sobre fetiches que incluem vestidos de noiva...

Bill se aproxima deles. Encara Mulder.

BILL: - Estou aqui pela Dana, porque ela não é uma qualquer jogada por aí sem família. Não temos mais nosso pai pra fazer isso e compete a mim, o irmão mais velho tomar o lugar dele e levá-la até o altar. Só quero que saiba que a minha vontade é de não entregá-la pra você.

MULDER: - Agradeço sua preocupação de irmão mais velho, mas ainda não entendeu que vai ter que me aturar pro resto da vida?

BILL: - Você nem sabe o que é preocupação de irmão mais velho, Lunático... Ainda. (SORRI ENIGMÁTICO) Um Mulder a mais na família Scully não fará diferença. Isso é uma vingança do destino a meu favor.

Bill dá as costas e volta pra limusine. Mulder fica intrigado.

MULDER: - O que ele quis dizer com...

Samantha se aproxima, toda arrumada, de braço dado com Charles Scully, os dois rindo e conversando animadamente. Mulder entra em pânico. Skinner segura o riso e puxa Mulder pra dentro da igreja.

SKINNER: - Calma, Mulder. Depois você resolve isso... O seu cunhado fez de propósito pra causar barraco no seu casamento.

MULDER: -(IRRITADO) Não, a minha irmãzinha não!!! Não com um budista maluco!!! Não com um Scully! O que ele tá pensando? Esse traidor, depois de tudo o que eu fiz por ele! Eu vou socar aquele fuinha ruivo!!!

Krycek empurra Mulder pra dentro da igreja.

KRYCEK: - Mulder, pela Scully segura a bronca. Depois a gente interroga o cara e eu ajudo você a dar uns safanões no abusado. Agora vai casar! Anda!!! Não estraga o dia da Scully! Respira fundo e ignora.

Corte.


[Som: Marcha Nupcial de Mendelssohn]


A pequena orquestra começa a tocar no mezanino da igreja. As pessoas ficam em silêncio e se levantam olhando para a porta. Scully entra na igreja, segurando um buquê de girassóis, de braço dado com Bill. Victoria na frente deles segurando o girassol com as alianças, atenta à Baba lá na frente que gesticula pra ela andar devagarzinho. Ao lado dela Will vestido de smoking, cuidando de Victoria.

No altar, Mulder olha pra Scully num sorriso bobo e feliz. Ellen envolve o braço em Skinner, suspirando. Barbara de mão dada com Krycek, olhando pra Scully num sorriso.

Scully olha pra Mulder num sorriso nervoso. Bill sério. Tara sinaliza pra ele sorrir. Ele sorri forçado.

Meg derruba lágrimas, secando com um lencinho. Tara envolve a sogra com o braço. Frohike segura as lágrimas, Langly se abraça nele. Frohike o afasta. Byers e Susanne trocam um olhar apaixonado. Samantha olha com ternura para Mulder. Charles admira Scully.

Mulder desce do altar. Bill e Scully param. William conduz Victoria para o altar. Bill encara Mulder, sem soltar Scully. Scully discretamente cutuca Bill. Ele entrega Scully pra Mulder, olhando feio pra Mulder.

BILL: - (MURMURA) Se pisar na bola com ela, eu mato você. Entendeu?

Mulder faz careta pra Bill e dá o braço pra Scully. Os dois sorriem um pro outro e vão subindo o altar. Scully segura o vestido pra não tropeçar.

Frei Martin, vestido em roupas franciscanas, sorri, abrindo os braços diante deles.

A Jovem Victoria no fundo da igreja derruba lágrimas que não pode conter, num sorriso observando os pais. Kevin se aproxima, num smoking.

KEVIN: -Você sempre foi linda, desde pequenina.

VICTORIA: - É estranho me ver lá na frente... É como um filme 3D... Em menos de um minuto, meu primo vai ter que me ajudar a sentar, porque eu não solto aquele girassol de jeito nenhum e tô cansada...

Frei Martin começa a cerimônia. Will ajuda a pequena Victoria a sentar-se no degrau do altar. Tenta pegar o girassol com as alianças, ela não deixa. A Jovem Victoria e Kevin sorriem.

VICTORIA: - Não disse?

KEVIN: - Casamentos são lindos. É um dos sacramentos da igreja mais animadores para um padre.

VICTORIA: -É um sonho rever isso, agora com olhos de mulher, não de criança. Olha pra carinha da mamãe, está explodindo de felicidade... O papai tá todo bobo olhando pra ela, acho que nem está prestando atenção na cerimônia. Eles nem soltam as mãos... Sinceramente, Kevin, eles são o casal mais perfeito que eu conheço.

KEVIN: - Voltar a esse tempo era realmente importante pra você, Tory. Eu sei que por saudades dos seus pais, mas acho que também tem algo a ver com um sonho secreto de mulher.

VICTORIA: - Kevin, eu até já tive sonhos de mulher, mas hoje não tenho mais esse sonho, isso não pertence a mim. Eu aceito de boa a minha sina. Casamento e filhos nunca farão parte da minha realidade. Por mais legal que eu ache que é, eu não posso criar expectativas que me magoarão, porque elas nunca serão realizadas. O que tenho é um destino e uma causa. Não vim a este mundo para sonhar, vim para lutar. Então eu sonho neles. Eu me realizo no amor entre os meus pais. No meu casal perfeito com final feliz. E tá tudo bem. É sério.

KEVIN: - Pena que nem todos os casais perfeitos tenham finais felizes... Ok, deixa pra lá. Eu não sabia que o Frei Martin havia casado seus pais. Ele nunca comentou nada.

VICTORIA: - Nem eu sabia. Ainda bem que foi ele, esse frei maluco e nada conservador. Continua igual. Barrigudo, engraçado e pensando que é o Frei Tuck! Quem seria o Robin Hood?

KEVIN: -Serling, o líder da resistência, né, Tory. O problema é que o nosso Frei Tuck não bebe, mas em compensação o Professor Serling... Será que eles já se conheciam nessa época?

VICTORIA: - Kevin, eu quero estar na festa dos meus pais, eu preciso dar um jeito de matar a saudade dos que já se foram desta vida. Pegue os outros e continue espiando os nossos mentores. Acho que vai ser engraçado comentar coisas do passado no futuro, coisas que eles jamais nos disseram. Vamos ter piadas pra um bom tempo.

Corte.

A pequena Victoria segura o girassol com as alianças. Mulder pega a aliança. Sorri pra Victoria. Ela sorri, fascinada com aquilo. Mulder toma a mão de Scully. Olha nos olhos dela.

MULDER: - Eu não era nada, nem ninguém. Eu nada tinha antes de você entrar na minha vida, nem a mim mesmo. Você é o meu lado humano, Dana Scully. Com você aprendi que a felicidade não é uma utopia e que podemos olhar para os céus sem tirar os pés do chão. Eu vivia na escuridão dos dias, você me deu uma vida, uma filha e dias de sol. Você é a minha força, o meu porto seguro, a razão dos meus dias, amada minha. Tudo o que tenho para dar a você é o meu coração e o meu amor pela eternidade inteira. Nos bons e maus momentos, eu juro que estarei com você pra sempre.

Scully enche os olhos de lágrimas, num sorriso. Mulder coloca a aliança no dedo dela. Scully pega a outra aliança e toma a mão de Mulder, olhando nos olhos dele.

SCULLY: - Você foi um sonho que eu nunca sonhei, porque nunca acreditei em sonhos, Fox Mulder. Se eu sou sua força, você é a minha coragem de nunca desistir. Com você aprendi a sonhar e a sorrir. Você me deu o maior presente da minha vida: a nossa filha. E também a minha própria vida quando me salvou tantas vezes. Mulder, minha noite de luar, meu mar turbulento e também o navio que busca refúgio no meu porto seguro. Contigo, amado meu, eu partirei para qualquer lugar, para qualquer aventura, porque meu coração e o meu amor são seus por toda a eternidade. Eu juro que estarei contigo por toda a minha vida, até quando Deus nos permitir viver.

Scully coloca a aliança no dedo dele. Mulder sorri apaixonado, segurando as lágrimas.

FREI MARTIN: - (SORRI)Então eu os declaro: marido e mulher!

Mulder e Scully aproximam os lábios e trocam um beijo suave e apaixonado. Todos aplaudem de pé. Meg não para de chorar, emocionada.

No mezanino, a orquestra começa a tocar Con te Partirò. Krycek de olhos fechados, respira fundo, solta os ombros. Aproxima-se do microfone e começa a cantar.

KRYCEK: - (CANTANDO) Quando sono solo e sogno all'orizzonte e mancan le parole... Si lo so che non c'è luce in una stanza quando manca il sole... Se non ci sei, tu con me, con me...

Todos voltam a atenção para o mezanino. Barbara sorri feliz. Scully arregala os olhos, e depois olha pra Mulder num sorriso surpreso.

KRYCEK: - (CANTANDO) Su le finestre... Mostra a tutti il mio cuore che hai acceso... Chiudi dentro me... La luce che... Hai incontrato per strada...

Mulder e Scully parados, de mãos dadas, num sorriso, olhando um pro outro. Victoria e Will de mãos dadas na frente deles. A igreja quieta, todos calados e boquiabertos olhando pro mezanino. Menos Meg que chora mais ainda. Bill suspira e tira um lenço do smoking e entrega pra mãe.

KRYCEK: - (CANTANDO/ OLHOS FECHADOS) Con te partirò... Paesi che non ho mai... Veduto e vissuto con te... Adesso si li vivrò... Oh con te partirò... Su navi per mari... Che io lo so... No no non esistono più... Con te io li vivrò...

Mulder e Scully trocam outro beijo apaixonado. Mulder oferece o braço. Ela envolve seu braço no braço dele. Suspira olhando pra ele. Mulder murmura: "Eu te amo". Ela responde murmurando um "eu te amo também".

KRYCEK: - (CANTANDO) Quando sono solo e sogno all'orizzonte e mancan le parole... E io si lo so che sei con me, con me... Tu mia luna tu sei qui con me... Mio sole tu sei qui con me, con me, con me, con me...

Mulder e Scully vão se dirigindo para a porta sob os olhares de todos.

KRYCEK: - (CANTANDO/ OLHOS FECHADOS) Con te partirò... Paesi che non ho mai... Veduto e vissuto con te... Adesso si li vivrò. Oh con te partirò... Su navi per mari... Che io lo so... No no non esistono più... Con te io li vivrò... Oh con te partirò... Su navi per mari... Che io lo so... No no non esistono no più... Con te io li vivrò...Oh con te partirò... Io con te...

Corte.


Mulder e Scully saem da igreja, de braços dados, debaixo de uma chuva de sementes de girassol, aplausos e assovios. Trocam mais um beijo. Mais aplausos e assovios. Ellen, visivelmente emocionada. Meg ao lado dela tentando não chorar mais.

ELLEN: - Pelo amor de Deus, Meg! Que casamento foi esse??? Eu tô arrepiada até agora com esse final!

MEG: - Eu não sei se foi lindo, se era a realização dos meus sonhos ou se estou velha e emotiva demais pra essas coisas...

Scully enche os olhos de lágrimas e abraça a mãe. Meg derruba lágrimas e abraça a filha.

SCULLY: -Oh mãe...

MEG: - Dana, minha filha amada... Eu vou ser redundante desejando felicidades à vocês, porque vocês já são felizes, mas quero dar minha bênção.

SCULLY: - Mãe, você sempre nos deu sua bênção. E uns empurrõezinhos. E muita ajuda quando as coisas se complicavam.

MEG: - Se o seu pai estivesse vivo, ele ia ficar tão feliz. Mas tenho certeza de que ele está olhando pra você e sentindo muito orgulho da sua Starbuck. E Melissa dividiria os lenços comigo.

SCULLY: - E eu sempre sentirei orgulho do meu Ahab e da Sissy... Eles estão conosco, mãe. Sempre estarão.

Mulder abraça as duas.

MULDER: - Mãe, vai estragar toda a maquiagem. Para de chorar, que eu vou chorar junto.

MEG: - Quem liga para maquiagem, Fox? Você pensa que realizou o sonho da Dana, mas realizou o meu também. Eu vi vocês dois casando na igreja, como eu sempre quis ver. Agora pode borrar maquiagem, desfazer penteado e até posso morrer em paz com um sorriso enorme.

Samantha se aproxima de Mulder, abrindo os braços e envolve o irmão num abraço. Mulder recosta a cabeça no ombro dela, chorando.

MULDER: - Você está comigo, nesse momento tão importante.

SAMANTHA: - Sempre estive, Fox, em todos os momentos, mesmo que por pensamento. Meu irmão está lindo. Ele sempre foi lindo.

Mulder olha pra ela num sorriso. Samantha enxuga as lágrimas dele com as mãos. Ajeita a gravata borboleta.

SAMANTHA: - Obrigada por jamais desistir de mim. Você merece toda a felicidade do mundo, meu irmão. Chega de passado, de dor... Continua voando com a sua mulher pra uma vida melhor e mais feliz.

Scully se aproxima. As duas se abraçam.

SAMANTHA: -(SORRI) Continua cuidando dele pra mim. Ele é meio doidinho, precisa de freio.

SCULLY: - (SORRI) Eu cuidarei. Eu sou o freio.

Krycek sai da igreja. Fica ao lado de Barbara. Bill se aproxima dos noivos. Abraça Scully.

BILL: - Foi uma cerimônia linda e digna dos Scullys. Espero ter cumprido bem o papel que cabia ao nosso pai. Dana, seja muito feliz, minha irmã... E se esse Lunático ficar insuportável, me liga.

SCULLY: - Oh, Bill... Bill... Meu irmão sério, chato algumas vezes, mas de coração enorme...

Charles a abraça.

CHARLES: - Dana, que o universo abençoe a união de vocês mais ainda. Mulder, meu irmão, cuida dela, tá?

MULDER: - Sempre. E depois temos que ter uma conversinha em particular, você e eu.

Bill se aproxima de Mulder, com as mãos nos bolsos.

BILL: - Eu daria um lenço pra você, mas a mamãe acabou com meu estoque. Não sou bom com palavras.

MULDER: - Coisa de militar.

BILL: - É.

Bill abraça Mulder, que fica surpreso e devolve o abraço. Scully sorri. Tara abraça Scully.

BILL: - Você tirou a sorte grande, Lunático. Não joga fora.

MULDER: - Nunca. Obrigado por representar seu pai. Foi muito importante pra sua irmã.

BILL: - Ela merece mais que isso. Toma conta dela como sempre fez. E se precisar... Sabe meu número. Qualquer coisa, entendeu? Dana nem precisa saber, é entre nós dois, de homem pra homem, pai pra pai. Até vocês se erguerem financeiramente de novo.

MULDER: - Valeu Bill.

Tara abraça Mulder.

TARA: - Lindo casamento, Mulder.

MULDER: - (SORRI)Linda está a minha cunhada, como sempre.

Skinner e Ellen se aproximam, abraçando os noivos.

SKINNER: - Parabéns aos dois. Finalmente acho que vou relaxar. Depois do religioso, não restam dúvidas, e peguem leve um com o outro. Eu não estou mais com vocês dois o dia todo pra apartar confusão de crianças discutindo. Se comportem.

MULDER: - Pode deixar, tio.

ELLEN: - Amiga, o casamento de vocês foi lindo.

SCULLY: - Graças aos amigos.

Barbara e Krycek se aproximam.

SCULLY: - Agradeço a vocês quatro por nos ajudarem nisso. Alex... O mundo perdeu um cantor. Obrigada por realizar meu sonho. Foi perfeito.

KRYCEK: -Não me agradeça, não mereço. É o mínimo depois de tudo.

Skinner coloca a mão no ombro de Krycek.

MULDER: - Rato, acabou. Não somos mais as pessoas que éramos. Nem você, nem eu...

SKINNER: - Nem eu. As coisas mudaram. O jogo agora ficou de igual pra igual contra eles.

MULDER: - Exato. Scully e eu zeramos uma etapa. Zerem vocês também. Daqui pra frente estamos juntos, uns pelos outros, pela segurança das nossas famílias. Somos um time. O que passou, passou. De hoje em diante, uma barriga de cerveja, churrascos nos finais de semana e cabelos brancos é lucro.

SKINNER: - Verdade, principalmente os cabelos! Quem fala é o Thundercat cinza e careca.

ELLEN: - Verdade, Walter!!! Você parece o Panthro! Oh, meu Thundercat cinza...

SKINNER: - Ah, é esse o nome dele? Mulder, agora você deu ideia pra mente criativa da Ellen...

MULDER: - Você que lembrou! Me tira dessa! Eu não tenho culpa do Thundercat cinza, Ratoncito e sei lá mais o que essas mulheres inventam.

BARBARA: - Ratboy magia.

MULDER: -(DEBOCHADO) Uh!!! Ganhou um nome de guerra, Rato?

KRYCEK: - Pronto! Barbara acaba de dar munição ao Mulder pra folgar comigo pela próxima década!

Eles riem. Krycek esconde o rosto no ombro de Skinner.

SCULLY: - E você, Raposão? Hum? Do que está rindo, meu filé de primeira suculento? Mulder, meu porquinho atrapalhado...

Eles riem. Os Pistoleiros se aproximam, Suzanne de mão dada com Byers.

FROHIKE: - Faça essa ruiva linda feliz, ou vai se entender comigo, Mulder.

LANGLY: - Foi o melhor casamento que já fui.

FROHIKE: - E desde quando você já tinha ido a um casamento?

SCULLY: - E vocês fiquem felizes por terem um novo membro chegando.

FROHIKE: - Vou ensinar pra ela tudo sobre conspirações.

LANGLY: - É, acho que Julie vai ser jornalista como o pai. Vou ensinar tudo dos Ramones pra ela.

MULDER: - Pobre da criança... Com quem vai conviver?

SUSANNE: - Com os padrinhos dela.

Langly e Frohike pigarreiam orgulhosos.

ELLEN: - Ok, gente, vamos deixar os noivos se trocarem e irem pra festa. E vamos nessa também. Todo mundo pro café agora!

LANGLY: -(ORGULHOSO) DJ passando, com licença...

Frohike e Byers jogam mais sementes de girassol pra cima. Mulder apanha uma no ar e coloca na boca. A Jovem Victoria apanha outra e segura na mão, num sorriso. Mulder e Scully descem as escadas, ela segurando o vestido pra não tropeçar. Scully feliz e realizada, num sorriso que não pode conter. Mulder apaixonado olhando pra ela. Scully para.

SCULLY: - Mulder... Eu preciso fazer uma coisa. É justo.

MULDER: -(SORRI) Eu sabia que existia armação nessa coisa! Skinner me deve duas caixas de cerveja!

Scully começa a rir. Olha pra trás procurando Barbara. Então vira o rosto pra frente e joga o buquê pra trás, que cai em cima de Barbara, que apanha o buquê no ar, sorrindo. Krycek morde os lábios. Mulder aponta pra ele, rindo. Skinner ri junto.

MULDER: - Me deve duas caixas de cerveja, Girafão! Pode pagar no casório do Rato!

Krycek olha para os dois, fazendo cara de malvado vingativo. Mulder e Scully continuam descendo as escadas, de braços dados.

MULDER: - Fala sério, Scully. Isso é uma vingança inconsciente contra o Krycek?

SCULLY: - Não, Mulder. É de uma mulher feliz para outra que merece ser feliz.

MULDER: - É, vocês estão acabando com a raça dos solteiros aos poucos, isso sim é uma conspiração bem elaborada disfarçada num buquê!

SCULLY: - Cala a boca, Mulder! Vamos pra casa, a gente precisa trocar de roupa pra festa.

MULDER: - (PÂNICO) Não mesmo! Então vamos chegar atrasados nessa festa! Quero a minha parte do acordo!

SCULLY: - Mulder, meu amor, eu não sou mais virgem, mas acho que você deve saber, depois de tantos anos e uma filha, não é mesmo? Não tem nada aqui que você já não conheça até de olhos fechados.

MULDER: - E lá estou interessado em virgem? Melhor que eu já conheça de olhos fechados, assim já sei o caminho até no escuro!

SCULLY: -(RINDO) Você não está falando sério, Fox Mulder!

MULDER: - Ah estou. Nunca falei tão sério na minha vida! Eu só pensava em discos voadores quietinho no meu porão, você foi pra lá e me tirou a atenção deles e achei um brinquedo mais interessante. E admito, eu tô contando os dias pra encontrar o caminho debaixo desse vestido branco. Scully, alguém já disse o quanto você fica sexy de noiva? Hum? Acho que quero casar com você mais vezes. Na próxima a gente casa quem sabe num barco? Num avião? Num avião o sexo deve ser nas alturas! Você toparia casar vestida de Tenente Uhura comigo vestido de Spock? Uh! Isso sim seria vida longa e próspera!

SCULLY: - (SUSPIRA/ ERGUENDO A SOBRANCELHA) Mulder... Você não tem jeito! Quer saber? Vamos pra festa assim mesmo, porque do jeito que nós estamos empolgados, vamos acabar chegando quando todo mundo estiver indo embora!


Café Girassol & Canela - 7:31 P.M.

Os convidados sentados às mesas. Mulder e Scully, ainda vestidos de noivos, se aproximam do microfone. Mulder, debochado, bate com a ponta do dedo no microfone.

MULDER: - Eu quero agradecer a todos por terem vindo ao meu enterro, quer dizer, casamento. Quero agradecer as madrinhas e padrinhos, ao meu cunhado Bill por não ter se levantado quando o padre perguntou se alguém tinha algo contra essa união. Agradecer a turma do FBI lá atrás que já começou a investigar a qualidade da cerveja... Ok, já fiz o discurso de agradecimento, agora podem me dar o Oscar?

Todos riem.

MULDER: - Lembra quando você disse que ia me domesticar? Eu tô aprendendo, Scully.

FROHIKE: -(GRITA) Fez um ótimo trabalho, Scully! Melhorou uns 90%!!! Agora ele sabe fazer truques, late e rosna bem menos!!!

MULDER: - Frohike, sua mãe vai bem?

LANGLY: -(GRITA) Mas continua mordendo!

MULDER: - Agora vou falar sério. Não sou tão bom em discursos quanto o Chuck, mas... (OLHA PRA SCULLY) Foi 1993?

SCULLY: - É.

MULDER: - Até 1993 eu vivia quietinho e sozinho no meu porão lá no FBI. Pra quem não sabe porque existe um porão no FBI, é pela mesma razão que existem porões em todos os lugares, pra você atirar lá embaixo o que não serve mais e deixar cair no esquecimento. Então um dia, minha porta se abre e entra essa ruiva linda aqui, se apresentando como designada para os Arquivos X. Até perguntei quem ela tinha aborrecido lá em cima pra ser jogada ali embaixo com o Estranho. Tentei assustar a novata, mas a baixinha era invocada como toda a baixinha...

SCULLY: - E ele sempre foi tímido comigo, apesar da fama. Não se enganem! Raposa que ladra não morde!

MULDER: - (SORRI) Eu desconfiava que ela estava ali pra me espionar, fazer relatórios e entregar minha cabeça pro Skinner. Naquela época eu não sabia que Skinner estava do meu lado. Aliás, eu nem sabia em quem confiar! Eu não confiava em ninguém. Nem nela!

SCULLY: - É verdade. Media cada palavra que dizia, ele tinha medo de mim.

MULDER: - É, ainda tenho, mas por outros motivos...

Todos riem.

FROHIKE: - (GRITA) Eu sempre disse que ela era quente!

MULDER: - Disse, mas eu também desconfiava. Garotas católicas...

SCULLY: -(RINDO) Mulder!

MULDER: - Com o tempo fomos nos conhecendo, situações nos fizeram depender um do outro, coisas ruins aconteceram, fomos nos aproximando pela amizade e a cumplicidade... Eu me peguei apaixonado por ela.

SCULLY: - (SORRI OLHANDO PRA ELE) E eu por você.

MULDER: - Levou sete anos pra gente tomar coragem. E só aconteceu porque o Skinner percebeu que os sentimentos entre Scully e eu eram recíprocos. Antes da gente perceber! Aliás, ele nunca disse como descobriu isso. Skinner, pode nos contar como resolveu esse caso complicado?

Skinner se levanta, num sorriso debochado.

SKINNER: -Não foi complicado para um agente experiente. As pistas estavam todas ali, bastou juntar as peças e unir os criminosos. Toda vez que vinham dar seus relatórios na minha sala, eu percebia a maneira como vocês se olhavam, como se tratavam, no meio das crises, um preocupado com o outro... Ok, vou contar a verdade. Mulder entrava no meu gabinete e chorava feito criança quando algo acontecia com Scully, acabando com todos os meus lenços de papel e a Scully veio se queixar no meu gabinete da quantidade de fitas adultas nas gavetas do Mulder. Bingo! Caso resolvido.

Todos riem. Mulder olha incrédulo pra Scully, ela faz que não com o dedo, rindo.

SCULLY: - Mulder, eu juro inocência! Skinner está mentindo.

MULDER: -(DEBOCHADO) Tem provas disso, Scully? Bom, eis aí o responsável direto pelo discurso de hoje estar acontecendo. O Skinner nos mandou com uma desculpa furada pro Nepal investigar o Yeti, acho que a altura e o frio do lugar me deixou fora de órbita e acabei entregando o jogo.

SCULLY: - Acordei com a arma dele encostada no meu traseiro. Imaginem o susto!

Todos riem. Meg se abana de tanto rir. Bill abaixa a cabeça, acenando negativamente. Scully toma o microfone.

SCULLY: -Essa parte eu conto porque foi muito engraçada. O Don Juan aqui, o da fama de pegador, não sabia aonde esconder a cara naquela cabana. Chegou a sair pra fora naquele frio congelante... Se pudesse cavar um buraco na neve pra se enterrar, ele faria.

MULDER: - Se eu dissesse pra ela que estava "empolgado" com o frio... Certamente perderia a amiga que confiava em mim. Se dissesse que a amava, talvez perdesse a amiga também. Foi um cheque-mate sem saída. Então resolvi admitir meus sentimentos e pra minha surpresa, eram recíprocos.

SKINNER: - Só pra surpresa deles mesmo, porque todo mundo já sabia!

CHUCK: - Eu também já sabia! Pelo jeito que a Scully pedia sempre pra agilizar o DNA para o Mulder, se encostava na parede e ficava sonhando acordada! Até quando discutiam na minha frente, eu notava o Mulder olhando para o traseiro dela quando ela saía da minha sala.

SCULLY: - (INCRÉDULA) Mulder, você olhava pro meu traseiro?

MULDER: - Ô Chuck, valeu! Te pego lá fora!

SCULLY: - Mas eu era sua amiga, sua parceira...

MULDER: - Scully, olhar o que é belo é uma coisa automática, presente nos indivíduos que possuem cromossomo Y... Pior era você! Toda vez que eu me ferrava a ponto de perder a consciência, sempre acordava de cuecas. A desculpa da doutora Scully aqui pra me deixar de cuecas era "pra ver se eu não estava ferido"! Sinceramente tenho medo de pensar aonde ela queria procurar buracos de balas.

Todos riem. Scully belisca Mulder.

MULDER: - Au! E o resto vocês sabem. Então...

Mulder fica emocionado.

MULDER: - Um dia aconteceu uma armação terrível que nos separou. Scully ficou confusa mentalmente e eu não vi o que estava acontecendo. Perdemos o que sempre nos uniu: a confiança um no outro. Foi o golpe certeiro deles, minar a nossa confiança. Eu estava acreditando em mentiras quando aquele cara lá do fundo...

Todos se viram. Krycek fica envergonhado. Meg põe a mão na boca, enchendo os olhos de lágrimas. Samantha olha com orgulho pra Mulder.

MULDER: - Aquele cara lá me fez ver a verdade... Aquele cara que era meu inimigo. Quantas vezes trocamos socos e tiros? Quanto ódio a gente tinha? Melhor, por que lutávamos um contra o outro? Quem nos colocou em lados opostos? Eu conhecia você realmente? Você me conhecia? Nunca jogue as pessoas na lata do lixo, nem as julgue. Você não sabe o que cada um esconde dentro de si.

Krycek morde os lábios, bancando o durão, mas os olhos ficando vermelhos. Barbara envolve o braço nele. Mulder seca as lágrimas.

MULDER: - Eu desisti algumas vezes, tomado pela tristeza de ter perdido essa mulher, mas aquele cara me puxava de volta, insistindo que eu deveria lutar pela Scully. Que ela e eu éramos vítimas de um golpe daquela gente pra nos separar.Eu fui ao fundo do poço sem ter mais a minha parceira, mas encontrei um parceiro que segurou as pontas do meu lado. Graças também a ele, hoje estamos todos aqui curtindo essa festa. Scully e eu queremos agradecer aos nossos dois padrinhos, porque sem a empatia de um, nós nunca teríamos a coragem de dizer "eu te amo". E sem a sensibilidade do outro, nós nunca mais repetiríamos essas três palavras na vida.

Skinner coloca a mão no ombro de Krycek, num sorriso. Krycek olha pra ele e consegue sorrir.

SCULLY: - (DERRUBANDO LÁGRIMAS) É verdade, Mulder. Obrigada, Alex e Skinner.(ABRAÇA MULDER) Obrigada por esse presente maravilhoso, por esse homem de caráter estar ao meu lado, e que hoje cumpriu sua promessa de me levar ao altar... E madrinhas, sem vocês duas, nada desse casamento teria saído tão perfeito. Obrigada de coração por serem tão boas amigas. Obrigada também a Susanne, que deu a ideia maravilhosa do final da cerimônia. (SECA AS LÁGRIMAS COM CUIDADO) Ai, eu tô emocionada, desculpem, minha maquiagem já deve ter borrado inteira pras fotos...

Todos se levantam e batem palmas para os padrinhos e madrinhas. Mulder e Scully batem palmas olhando para eles num sorriso.

MULDER: - Bom, divirtam-se, e quando for a hora, façam fila organizada pra dançar com a noiva, mas saibam que estou armado! Skinner, Krycek e Frohike não podem dançar com a noiva. Só por garantia.

Ellen corre e se aproxima do microfone. Sinaliza para Langly.

ELLEN: - (SORRI) Eu quero convidar os noivos... Pra dançarem a valsa.

Scully olha incrédula pra Ellen. Depois olha pra Mulder e morde os lábios. Mulder sorri e a toma pela mão a guiando até o meio do salão. Scully fica surpresa.


[Som: All I Ask of You -Andrew Lloyd Webber]

Mulder se afasta dela, levando o braço para trás. Depois vai até Scully e se ajoelha, tomando a mão dela e a beijando. Scully leva a mão ao rosto, tímida, sorrindo. Mulder se ergue e a toma pra dançar. Scully sorri olhando pra ele apaixonada. Os dois dançam olhando um para o outro.

Barbara sorri pra Krycek. Ele sorri e a envolve nos braços. Todos olham encantados para os noivos dançando. Baba suspira olhando pra eles.

Mulder gira Scully. Os dois dançam suavemente, olhares apaixonados, como se mais ninguém estivesse ali. Scully recosta o rosto contra o peito dele, olhos brilhando, realizada.

A Jovem Victoria ao fundo do café observa os pais com olhos marejados e apaixonados.

Mulder toma Scully nos braços e dá um giro com ela, a largando suavemente no chão. Scully sorri. Os dois são só felicidade.

Ao fim da música, Mulder beija Scully na testa. Os dois trocam aquele olhar. Todos aplaudem.

SCULLY: - (ERGUE A SOBRANCELHA/ CURIOSA) Mulder... Desde quando sabe dançar valsa?

MULDER: - (SORRI) Há algumas semanas. Você merecia uma dança.

SCULLY: - (SORRI) Mulder... E como sabia que eu amo essa música?

MULDER: - Quem é o seu parceiro de sofá e pipoca, Scully?

SCULLY: - (SORRI) Eu sou a noiva mais feliz desse mundo!!!

Corte.


Victoria passa correndo, se enfiando debaixo da mesa, enquanto Matthew tenta pegá-la.

MULDER: - Vai dançar com seus fãs, Scully. Eu vou socorrer a nossa filha das garras do primo "Bill Jr." antes que ela faça alguma coisa e os convidados saiam correndo assustados. E depois vou levar uma conversinha ao pé do ouvido com o Charles.

SCULLY: - Mulder... Deixa sua irmã aproveitar a vida!

MULDER: - Com o seu irmão? Ah, mas não mesmo!

SCULLY: - O que tem? Hum? Você sabe que os Scullys são quentes!

MULDER: - (DEBOCHADO) Bill é adotado?

SCULLY: - Podia ser pior. E se fosse com o Bill?

MULDER: - Se fosse com o Bill eu não estaria aqui e nem teria entrado na igreja. Certamente estaria até agora correndo atrás dele dando tiros!!!

Mulder puxa Victoria de baixo da mesa e a segura no colo.

MULDER: - Pode brincar, correr, se divertir, mas nada de mágica, tá? E se alguma criança provocar, chama o papai. Combinado?

VICTORIA: - Tá! Solta neném!!!

Mulder solta ela no chão, que sai correndo atrás dos primos. Donald se aproxima.

DONALD: - Meus parabéns aos dois. Eu não estou na lista de proibições. Posso dançar com a noiva?

MULDER: - Droga, sabia que tinha esquecido um engraçadinho na lista! Olha as mãos bobas, lembre-se que um dia ia ser padre! Comporte-se como um.

Donald rindo puxa Scully pra dançar. Scully pede licença. Frohike e Langly se aproximam.

MULDER: - Por que ninguém tira o noivo pra dançar?

FROHIKE: -Porque você não é quente. Quero parabenizar você por ter dado a Scully o sonho dela. Está evoluindo, Mulder.

MULDER: - Meu amigo, fala sério. Você não faria tudo por uma mulher dessas?

FROHIKE: - É, e está ficando mais esperto também. O que ela desejava sempre foi pouco para o tanto que deu a você.

LANGLY: - Mulder, sua irmã está saindo com o irmão da Scully?

MULDER: - O que interessa pra você?

LANGLY: - Ela é bonita...

Mulder olha em pânico pra Langly.

LANGLY: - Eu salvei a Sam naquele sanatório. Acho que conta pontos.

MULDER: - Sam? Que intimidade toda é essa? Será que vou ter que andar armado mesmo?

Krycek se aproxima.

KRYCEK: - Parabéns, Mulder.

MULDER: - Obrigado, amorzinho. Vai me tirar pra dançar?

KRYCEK: - Não, amorzinho. Já dancei demais com você. Eu prefiro pescoços cheirando a perfumes florais e adocicados, nada de madeira e testosterona.

MULDER: -Como estão as coisas?

KRYCEK: - Ela tinha razão. Elas sempre têm, não é?

MULDER: - Nem sempre, mas na maioria das vezes o olhar feminino, pela própria evolução da "catadora-coletora" percebe muito mais coisas ao redor que o olhar do macho caçador, que só fica fixado na caça. É totalmente científico.

Barbara se aproxima.

BARBARA: - Posso dançar com o noivo?

MULDER: - Ah, finalmente alguém lembrou que eu existo! Você é minha amiga mesmo! Só cuidado, posso pisar no seu pé. Krycek, posso dançar com a sua namorada?

KRYCEK: -Sem problemas, mas não aperta muito.

Mulder vai dançar com Barbara. Percebe Scully dançando com Skinner.

MULDER: - Ô Girafão, você está na lista dos proibidos de chegar perto! Você é perigoso!

SCULLY: - Hoje eu posso dançar com todos. Viu a fila? Até o Frohike quer uma dança. Minha fila é maior que a sua Mulder.

MULDER: - (ENCIUMADO) Me aguarda. Nem as telefonistas do FBI chegaram ainda.

Skinner começa a rir. Scully cerra o cenho.

SCULLY: - Ele tinha uma favorita lá, a Dorothy, ficavam de piadinhas o tempo todo pelo telefone.

SKINNER: - Scully, você conhece as telefonistas do FBI amigas dele?

SCULLY: - Não.

SKINNER: - Então relaxa. Elas podiam ser a mãe do Mulder. É o time da terceira idade. Elas adoram o Mulder porque era o único agente a levar uma torta pra elas pra agradecer o trabalho prestado.

SCULLY: - Sério?

SKINNER: - Sério.

Krycek se aproxima.

KRYCEK: - Posso?

Skinner entrega Scully. Krycek dança com ela.

KRYCEK: - Obrigado por me convidar pra fazer parte desse dia tão importante na sua vida. Desejo de todo o meu coração que vocês sejam felizes.

SCULLY: - Você já faz parte dessa história, Alex.

KRYCEK: - Incluindo a parte ruim dela.

SCULLY: - A parte ruim fica no começo da história. Agora estamos escrevendo novos capítulos. Não é mesmo? O tempo cura tudo, inclusive as feridas, por mais dolorosas que sejam.

KRYCEK: - Seu marido diz que estamos ficando velhos para guardar mágoas. Mas é bonito dizer isso quando se é o magoado, não o que magoou. Nunca vou poder reparar meus erros.

SCULLY: - Nossa existência é rápida demais para perder tempo com isso. Eu prefiro pensar que se não fosse você, Mulder e eu ainda estaríamos separados, perdidos nas mentiras deles. Acho que já reparou seus erros quando salvou a mim, a Mulder e a nossa filha. Quero que esqueça isso. Olhemos para o futuro.

KRYCEK: - Você tá feliz, Scully. Isso me deixa feliz.

SCULLY: - Você também está feliz. E eu fico feliz com isso. Cuide bem da sua garota, ela é uma mulher incrível. Se acreditar em vocês, eu tenho certeza que serão muito felizes. E quando começar a ser muito feliz, não pensa no passado. Nem questione essa felicidade. Conselho de uma amiga experiente nisso.

KRYCEK: - É, eu sei. Tenho noção de que estou namorando a versão do Mulder com saias. Freud explica?

SCULLY: - (SORRI) Por isso eu digo pra minha versão de calças: Não questione muito, Alex. Apenas viva, se entregue e enlouqueça. Não dá pra ser racional no amor.

KRYCEK: - A gente nunca daria certo. Opostos se atraem mesmo.

SCULLY: - Também pensou nisso? Eu tinha ciúmes dela por ser tão parecida com o Mulder... Mas olha pra eles. Nunca daria certo. Dois tagarelas encrenqueiros e chorões colocando a culpa de tudo no governo. Ela chorando num canto, ele chorando no outro... Aí seria um festival de quem chora mais...

KRYCEK: - (RINDO) E do jeito que a gente gosta de dividir nossos problemas com o parceiro, de levar as coisas a sério, de sermos autossuficientes... É, o universo sabe das coisas.

Bill se aproxima.

BILL: - Ah, você é um dos padrinhos que ajudou os dois.

Bill estende a mão.

BILL: - Prazer, William Scully. Mas amigo da Dana pode me chamar de Bill.

Krycek aperta a mão dele, culpado.

KRYCEK: - Alex Krycek.

BILL: - Dana, o Charles quer falar com você na cozinha.

SCULLY: - Eu já vou.

Bill se afasta. Scully olha pra Krycek.

SCULLY: - Como eu disse, nossa existência aqui é rápida demais para perder tempo.

KRYCEK: - Se o seu irmão soubesse quem eu sou...

SCULLY: -Quem você foi. Bill não precisa saber. Ninguém precisa. Só mamãe sabe e ela o perdoou. Isso é um segredo entre nós, Alex. E eu posso dizer que Melissa, esteja onde estiver, também o perdoou. Obrigada pela dança.

KRYCEK: - Obrigado pelo seu perdão.

SCULLY: -E obrigada por manter Mulder vivo enquanto eu estava fora da realidade.

Scully beija Krycek na testa.

Corte.


Mulder dança com Meg. Bill acena negativamente com a cabeça, sentado à mesa.

BILL: - Olha o Lunático dançando com a mamãe.

TARA: - Ele está tão feliz quanto a Dana. Você não está feliz por eles?

BILL: - Eu preferia outro marido pra ela, mas se ela gosta desse imbecil, o que posso fazer?

TARA: - Bill, deixa de ser turrão!

BILL: - Ok, vai ouvir o que quer, Tara. Eu estou feliz, pelo menos ele dá valor a ela, a respeita, cuida dela, é um bom marido e pai. Isso é o que me faz aturá-lo.

TARA: - Vamos dançar? A festa está divertida.

Ellen se aproxima.

ELLEN: - Então? Estão gostando da comida?

TARA: - Ellen você perdeu tempo na vida! Já deveria ter feito um negócio assim há anos! Está tudo maravilhoso, os doces, os salgados... Lindos e saborosos. O bolo! Adorei o detalhe dos bonecos, o Mulder ensinando basebol pra Scully... Essa decoração toda simples, mas ao mesmo tempo chique... Os girassóis, estou me sentindo na primavera!

ELLEN: - Caprichei mais, afinal é o casamento inacreditável da minha amiga. Nem sei como ela convenceu o alienígena a casar na igreja!

BILL: - Nem eu sei. Pelo menos agora ele deu honra pra ela. Isso sim é casamento. Não essa coisa de civil, lagoa e sei lá mais o quê ele inventa. A família agradece.

ELLEN: - Bill, o que importa é o amor.

BILL: - Ah, com certeza isso importa, mas outras coisas também. Esse modismo de juntar os trapos e viver juntos. Pensa como ela deveria responder quando perguntavam o que ele era dela. Namorado não, porque viviam juntos. Marido não, porque não casaram. O cara com quem durmo? Isso é humilhante, não é digno de uma moça de família. Se meu pai estivesse vivo, esse canalha aí já tinha casado com ela há muito tempo, nem que debaixo da mira da espingarda! Fora o fato de que eles já têm até uma filha! Eu acho absurdo Dana casar de branco!

TARA: - Bill, eu desejo muito aguentar você quando ficar velho. Porque já está ficando difícil... Vou lá tirar a sogra do páreo e dançar com o meu cunhado. Pelo menos ele é divertido!

Matthew se aproxima.

MATTHEW: - Mamãe, a Tory mordeu a minha orelha e o Will ficou rindo sem parar. Ele e aquele outro menino!

BILL: - É, infelizmente minha sobrinha puxou aos genes paternos. Quem é aquele menino?

ELLEN: - Filho da irmã do Mulder.

BILL: - Eu nem sabia que a Samantha tinha um filho! Ellen, você sabe que eu encontrei a irmã do Mulder? Acho que vou lá conversar com ela. Ao contrário do irmão, ela é agradável. E mais agradável ainda é a ideia de ter outro Mulder na família.

Bill se levanta e sai rindo. Tara suspira.

TARA: -Ele está obcecado em juntar Charles e Samantha, só pra irritar o Mulder. Eu vou tirar a sogra dos braços do cunhado, porque ela já ganhou duas músicas com ele.

ELLEN: - Aproveita que Dana Scully está tão feliz que esqueceu o ciúme. E não agarra muito, deixa um pouco pra mim.

Corte.


Mulder dança com Ellen.

MULDER: - E o Girafão está se comportando?

ELLEN: - Nenhum pouco, pra minha alegria completa.

MULDER: - Obrigado pela festa. Todo mundo está se divertindo, ninguém quer ir embora. Admito que fiquei nervoso pelo Langly ser o DJ! Mas ele entrou no túnel do tempo e tá empolgado até com Johnny Rivers.

ELLEN: - Até você Mulder, que é antissocial, está se divertindo e dançando com a mulherada toda! Vocês merecem, afinal arrumaram um diretor-assistente do FBI pra mim! Já jantei até na Casa Branca!

MULDER: - Sorte do Clinton não ser mais presidente.

ELLEN: - Não curto charuto. Prefiro lanterna. Ah, nem te conto! Acredita que levei uma torta pro presidente e os seguranças não queriam que ele comesse?

MULDER: - Acredito. E você enfiou a torta na cara do segurança.

ELLEN: - Nada! A primeira-dama pegou a torta e serviu. O resultado foi que gostou tanto que agora encomenda tortas pra cada chá que dá na Casa Branca. O caixa só tá fazendo "plim". Dana vai adorar! Estamos com clientes importantes, que confiam na gente e que não se importam em gastar. E sabe que as madames da alta vão falando uma pra outra... E isso é ótimo pra reputação do Café.

MULDER: - Se a coisa de detetive ou psicólogo não funcionar, vou servir as mesas aqui. Tem vaga pra garçom?

ELLEN: - Só se trouxer o russo junto. Aí o público feminino vai fazer fila naquela calçada. Compre uma fatia de torta e ganhe um sorriso do garçom.

MULDER: - (RINDO) Ellen, você devia é fazer um clube de mulheres!

ELLEN: - Eu? Não mesmo! Aí o Walter iria querer emprego também! Eu nunca mais dormiria tranquila! O meu homem não! Acha que sou besta, Mulder? Mas em compensação eu ia ficar milionária só com o Ratboy Magia e o Raposão fazendo full frontal!

MULDER: - (RINDO) Ellen, você não presta!!!

Corte.


Meg sentada à mesa. A Jovem Victoria se aproxima dela.

VICTORIA: - (SORRI) A mãe da noiva.

MEG: - (SORRI) A mãe mais feliz, da noiva mais feliz.

VICTORIA: - Posso me sentar com a senhora?

MEG: - Claro. Geralmente os jovens não gostam muito da companhia dos idosos.

VICTORIA: - Não é o meu caso. Eu gosto, porque aprendo coisas e escuto histórias fascinantes. E a senhora não está idosa não. Cada dia que passa as pessoas custam mais a envelhecer. E a senhora ainda tem muito a fazer por aqui.

MEG: - É, mas na minha idade a gente tenta parecer jovem, pensar como jovem, mas o corpo não entende isso. Duas valsas com meu genro e as pernas se cansaram!

VICTORIA: - Normal. Até eu cansaria. Odeio saltos!

MEG: - Somos duas! E você só está sendo gentil comigo. Eu conheço você... Só preciso lembrar de onde... Você é da família... Já sei, é a neta da Rose! A mais nova!

VICTORIA: - (SORRI) Não, mas sou uma neta muito feliz pela avó que eu tive. Sempre vou levá-la no meu coração. Ela foi uma grande avó, amiga e parceira. Me ensinou crochê, tricô, a fazer biscoitos e geleia de morangos... Quando eu aprontava, ela que me defendia.

MEG: - Minha netinha, aquela coisinha linda correndo lá na frente, está vendo? Ela se chama Victoria. E também adora geleia de morangos.

VICTORIA: - (SORRI) Quem não gosta da geleia da vovó?

MEG: - É minha única neta. E pelo jeito, será a única mesmo. Só meu genro e minha filha conseguiram realizar meu sonho de calcinhas no varal.

VICTORIA: - (SORRI) Mas é bom ter apenas uma neta. Isso vai aproximar mais vocês duas.

MEG: - Filha da minha filha. É diferente. Se eu tiver que brigar com minha neta pra educá-la, minha filha não vai brigar comigo. Agora as noras... Deus o livre que eu diga alguma coisa, sem ouvir "a senhora já criou os seus, não se meta na educação dos meus"!!!

VICTORIA: - (SORRI) ...

Baba senta-se.

BABA: - Nunca vi o judeu sovina dançar tanto e se divertir. Acho que Scully conseguiu a proeza de fazer ele ficar sociável.

MEG: - Fox é um bom menino. Ele é mais prestativo que meus filhos. Eu sei que se precisar de qualquer coisa, ele é o primeiro a chegar. E quando vai viajar com a Dana sempre se lembra de me convidar pra ir junto. Fora que deixa você ir lá em casa com a Victoria pra me fazer companhia.

BABA: - Mulder adora a senhora como se fosse a mãe dele. (OLHA PRA VICTORIA) Oi, conheço você?

MEG: - Essa jovem e eu estávamos falando sobre avós.

BABA: - Adorava a minha. Algumas avós são como mães. Outras não ligam muito pra netos.

VICTORIA: - Babás também são como mães. E amigas.

BABA: - Espero que aquela garotinha se lembre de mim quando crescer.

VICTORIA: - Com certeza. Quem sabe, se quando ela crescer, ainda não precisará de você?

BABA: - É verdade. Bom, já me sinto da família. Eu sei que o coração daquela menininha é grande. Tão grande quanto a missão que ela vai ter pela frente nessa vida. Victoria é a filha que me tiraram. Posso despejar meu amor eterno nela.

Victoria se levanta, mordendo os lábios.

VICTORIA: - Preciso cumprimentar os noivos. Adorei conversar com vocês. Posso abraçá-las?

Victoria abraça Meg. Depois abraça Baba.

VICTORIA: - Foi um prazer. A gente se vê por aí.

Victoria se afasta.

BABA: - Moça educada. Quem é? Parece familiar...

MEG: - Eu ainda acho que ela é uma das netas da Rose, minha irmã. As únicas altas da família são as netas dela, o resto tudo saiu nanica.

Corte.

Scully em pé, segurando uma taça de champanhe, conversando com Charles. Scully começa a rir.

CHARLES: - É sério, Dana. O Mulder achou que estou dando em cima da irmã dele. Eu nem a conheço direito, chegamos juntos no casamento! Aposto que foi invenção do Bill, só pra fazer o Mulder se indispor comigo! Isso se chama ciúmes! E a pimenta vai comer na próxima reunião de família. Ainda bem que você é médica, porque vou fazer o Bill se empipocar inteiro!

A Jovem Victoria se aproxima deles.

VICTORIA: - (SORRI) Olá! Desculpe atrapalhar o assunto...

Scully e Charles olham pra ela.

VICTORIA: - Eu quero dizer que o casamento, a festa... Tudo foi lindo. Perfeito.

SCULLY: - (SORRI) Obrigada.

Charles se afasta.

VICTORIA: - E... Eu quero dizer que você é a noiva mais bonita que já vi, seu vestido, seu cabelo, você parece uma princesa. Bom... Eu desejo que você seja muito feliz. E eu sei que vai ser.

SCULLY: -(CURIOSA) Você é convidada do Mulder? É do FBI? Seu rosto me é familiar...

VICTORIA: - Sou filha de um casal que vocês conhecem...

Scully percebe o crucifixo igual ao seu no pescoço de Victoria. Leva a mão em seu pescoço, sentindo o seu.

VICTORIA: - Posso abraçar a noiva?

SCULLY: - Claro!

Victoria se inclina e abraça Scully. Com força. Deita a cabeça no ombro dela. Scully a abraça, mas estranha a atitude. Victoria não a solta. Scully fecha os olhos.

SCULLY: - Seu cheiro... Eu conheço esse cheiro...

Victoria se afasta.

VICTORIA: - É, um perfume bem comum.Bem... Foi lindo. Mais uma vez, felicidades.

Victoria dá as costas rapidamente, secando as lágrimas e sumindo entre as pessoas. Scully a procura com os olhos. Ellen se aproxima.

ELLEN: - Vê se não vai ficar bêbada. Sabe o que acontece quando você bebe.

SCULLY: - Viu aquela garota morena e alta, bonita e bem arrumada? Que coisa estranha... Sabe quando você sente uma ligação? E-eu não sei quem ela é, mas eu a conheço...

Ellen tira a taça de Scully.

ELLEN: - Ok, esse é o sinal pra parar de beber, Dana. Ou Mulder vai terminar hospitalizado depois da lua de mel. Já começou a ficar louca! Falta quase nada pra falar em diminutivos, sensualizar, pedir cigarros e sair violentando o pobre Raposo na frente de todo mundo!

Corte.


Mulder com as mãos nos bolsos das calças, parado no jardim, observando os céus. Victoria se aproxima dele. Mulder olha pra ela.

VICTORIA: - Oi.

MULDER: - Oi.

VICTORIA: - Bonita festa. Foi o casamento mais lindo que já vi.

MULDER: - Obrigado, senhorita... ??? (ESPERANDO RESPOSTA)

Victoria disfarça, olhando pro céu. Mulder a analisa desconfiado.

VICTORIA: - Eles existem.

MULDER: - Acredita nisso?

VICTORIA: - Não tenho dúvidas.

MULDER: - Não é jovem demais para pensar nessas coisas?

VICTORIA: - Nunca se é jovem demais para acreditar. Não concorda?

MULDER: - É. Concordo.

VICTORIA: - Parabéns pelo casamento. Desejo toda a felicidade do mundo pra você! Ah, eu tenho um presente. Tem nele uma passagem do meu livro favorito. O primeiro livro que meu pai me deu.

Victoria abre a bolsa e entrega um envelope.

VICTORIA: - Só abra quando estiver em casa ao lado da sua esposa. Promete?

Mulder coloca no bolso.

MULDER: - (SORRI/ CURIOSO) Prometo. Obrigado. Eu conheço você?

VICTORIA: - (DEBOCHADA) Pra você eu posso dizer: Estou de penetra.

MULDER: - (SORRI) Costuma ir em igrejas atrás de casamentos e se misturar aos convidados para entrar na festa? Já vi jovens fazerem bizarrices, mas essa é inédita.

VICTORIA: - (SORRI) Na verdade não. Mas a comida aqui é deliciosa. A música é boa. Os noivos estão felizes, os convidados também. Festa animada. Acredite, não gosto de festas, mas esta é uma exceção.

MULDER: -Ok. Você agora é minha convidada. Não corre mais o risco de ser expulsa. Acha a música boa? Isso é música de "velhos". Você não tem idade pra conhecer essas bandas.

VICTORIA: - Meu pai me ensinou o que é música boa. Me concede uma dança?

Mulder sorri. Toma a mão dela. Os dois dançam enquanto conversam.

MULDER: - É, seu pai deve se orgulhar de você.

VICTORIA: - ... Na maior parte das vezes, ele se orgulhou. Até o dia em que eu o feri profundamente.

MULDER: - Lamento muito por isso. Profissão errada?

VICTORIA: - Não.

MULDER: -Então foi namorado. Há duas coisas que os pais ficam preocupados: com a profissão e o namorado da filha. Eles sempre vão querer o melhor e mesmo o melhor pode causar aquele ciúme besta de pai.

Mulder olha nos olhos dela, curioso, Victoria desvia o olhar.

VICTORIA: - Sei que eu não deveria continuar me culpando por isso, afinal destino é destino, muitas vezes o seu livre-arbítrio não pode discordar, quanto mais nas coisas do coração. Jamais quis magoar meu pai. Nem minha mãe. Mas ela é mais racional, é mulher e bem menos passional que ele nessas coisas. Levou menos tempo para me perdoar.

MULDER: - Pais perdoam. Fale com ele. Pode ficar magoado por um tempo, mas passa. Os filhos crescem. Muitas vezes não estamos preparados para vê-los como adultos e independentes, nem aceitar suas escolhas.

Mulder olha para o crucifixo no pescoço dela. Morde os lábios.

VICTORIA: - Eu sei. Ele me perdoou, o coração dele é grande demais pra não perdoar. Eu é que ainda não me perdoei. Nem posso dizer a ele novamente o quanto eu sinto muito. Eu sinto muito, Mulder. De verdade. A gente sabia como ia terminar, você temia que eu sofresse, brigou comigo pra me proteger, mas eu não tinha outra escolha.

MULDER: -... Seu pai morreu?

VICTORIA: - Não. Meus pais ainda estão vivos e juntinhos. Algumas vezes nos falamos por... Pelo telefone. Mas não é a mesma coisa. Tenho saudades todos os dias. Meu trabalho não permite que eu entre em contato pessoal com eles, eu precisei afastá-los pra bem longe e me afastar também, pra segurança deles. Posso colocá-los em risco.

MULDER: - Você é agente da CIA? Tão jovem?

VICTORIA: - (SORRI) Não, bem longe disso. Eu jamais trabalharia pro governo. E eles me odeiam, acredite.

MULDER: - Você é bem mais esperta do que eu. Levei muito tempo pra ver isso! Mas vejo que é cristã, pela cruz em seu pescoço. Estou tentando entender o que significa um brinco, um anel e um cadeado.

VICTORIA: -A cruz e os outros objetos são apenas lembranças das pessoas que me são caras. As carrego sempre comigo. Me ajuda a seguir adiante. Quando tenho saudades delas, toco nos meus pingentes, objetos conservam a energia de seus donos. Só há luz e amor puro neles. Bom, foi um prazer falar e dançar com você, Mulder.

Victoria, relutante, se afasta dele.

MULDER: - O prazer foi meu, senhorita perfume de rosas vermelhas. Acho que estou ficando mais maluco e mais paranoico.

Scully entra no jardim, curiosa, observando os dois. Victoria passa a mão no rosto de Mulder, sobre a pintinha. Depois agarra seu nariz e mexe em seus cabelos. Mulder esboça incredulidade, enchendo os olhos de lágrimas. Scully sorri, incrédula.

VICTORIA: - Preciso ir. Se algum dia sua filha crescer e se apaixonar pelo sujeito que você acha que é errado, saiba que ela não tinha escolha, era seu destino viver um grande amor como o de seus pais, afinal, essa é a única língua que ela conheceu: o amor. Não foi errado. Ele é bom pra ela, ela é feliz, mesmo não podendo viver com ele. Dói, com certeza. Mas é um grande amor. Apenas impossível de ser vivido.

Victoria dá as costas. Então vê Scully, olhando em lágrimas e sorrisos pra ela.

MULDER: - Pinguinho?

Victoria para. Não consegue se virar. Mulder derruba lágrimas.

MULDER: - Eu não sei como isso está acontecendo. Mas pensou realmente que eu não reconheceria a minha garotinha? O pedaço de mim?

Victoria vira-se pra ele.

VICTORIA: -Eu sabia que não deveria falar muito com você. Sempre a raposa vai ser mais esperta que a raposinha. Quando descobriu?

MULDER: - Seu jeito doce e moleque. Seu cheiro de rosas. Seus olhos são da cor dos meus. Seu crucifixo de Scully. Não entendo, mas...

Os dois se abraçam forte. Scully corre e abraça eles.

SCULLY: -Victoria, olha pra mim.

Victoria olha pra ela num sorriso.

VICTORIA: - Mamãe, meu lado humano, pedaço de mim...

SCULLY: - (CERRA O CENHO PRA CHORAR) Deus, você é linda, a minha garotinha linda!

VICTORIA: - E alta. Como você queria. E inteligente, e esperta e homem nenhum tira farinha comigo, Dana Scully, eu coloco todos eles em seus lugares! Tem sangue Mulder aqui, mas tem sangue Scully que ferve também!

SCULLY: - (SORRI) Ai minha filha! O melhor presente de casamento!!!

MULDER: -(SORRINDO) Como isso é possível? De onde veio já podemos viajar no tempo?

VICTORIA: - Não, pedaço de mim, mas as geladeiras avisam quando vai faltar alguma coisa, os celulares são quase nada e fazem tudo e você não tem mais privacidade nem dentro da sua casa, seus eletrodomésticos monitoram você. E lá fora, os satélites fazem isso. Vocês estão em 2003 e eu anos além de vocês, então posso dizer que haverá um primeiro contato sim, enganoso para muitos e apenas poucos verão a verdade. E Einstein tinha razão em muitas coisas, mas o mundo ainda não está pronto pra Einstein e nem pra Tesla e tá muito longe disso... Eu amo vocês dois! Pra sempre, pra sempre, pra sempre...

Victoria vai se afastando de costas, fazendo um coração com as mãos.

VICTORIA: - Ver vocês, abraçar vocês, nesse dia especial, matar a minha saudade... Eu gostaria de explicar muitas coisas, mas eu tenho que ir. Acabei falando demais e estraguei tudo. Vocês agora vão lá pra dentro dançar. Não se lembrarão de quem eu sou e apenas isso.

Victoria dá um beijo na palma da mão e estende a mão pra eles. Mulder e Scully parecem perdidos tentando se localizar.

VICTORIA: - Boa sorte pra vocês. Sejam felizes! (DEBOCHADA) E não briguem muito com a filhinha de vocês. Deixem ela comer todos os doces que quiser.

Victoria sai. Mulder olha pra Scully.

MULDER: - Quem é ela? É divertida.

SCULLY: -Sim, mas não sei quem é, só sinto que não é estranha. Vamos dançar?

MULDER: - Já dançou com todos? Agora pode dançar o resto da noite com o seu marido?

SCULLY: - (SORRINDO) Mulder, eu dançaria com você a eternidade inteira...

Scully envolve os braços no pescoço de Mulder. Os dois dançam e trocam um beijo apaixonado.

Corte.


Victoria caminha pela rua escura. Lá na frente seus amigos a esperam. Ela vai de encontro a eles.

CHAD: - Então, meu anjo? Curtiu a festa dos seus velhos? Deu um abraço no meu sogrão e na sogrona?

KEVIN: -(IRRITADO/ CIÚMES) Você não tem medo de morrer, não é mesmo?

VICTORIA: - (SORRI FELIZ) Matei a saudade de todos.

KEVIN: - Agora vamos voltar. A Nova Ordem já deve ter invadido a caverna, não nos acharam e foram embora. Estamos seguros.

DARIUS: - Ok, vamos voltar pra caverna. E da caverna vamos pra onde?

CHAD: - Caminharemos até a próxima cidade. Alugaremos um carro. E voltaremos pra universidade, eu preciso esconder esse osso no museu. A gente dorme um pouco no porão, e depois podemos ir atrás do anel de Salomão. Que tal?

DARIUS: -(HISTÉRICO) Ah não, de novo não! Eu não quero mais voltar ao oriente médio, aquilo tá uma zona de guerra, mano! Os caras da OTAN em cima, aqueles anjos malucos brigando entre eles e nos caçando feito moscas, comida kosher de judeu, árabe maluco me empurrando narguilé... Ah não! Não mesmo!

MEGAN: - Droga, vou vomitar de novo! Eu não vou caminhar no deserto escaldante, eu não vou subir em camelo fedido, eu me recuso a beber água de cantil feito de estômago de cabra e a ser tratada como uma qualquer por aqueles beduínos mal cheirosos!

CHAD: - Pronto. O Jack Chan de saias e o Chris Tucker começaram a reclamar de tudo! Mudem de profissão! Vão pra uma sala de aula com ar condicionado e envelheçam aturando alunos com QI de ameba!

MEGAN: - Não foi você quem acordou com uma cobra subindo na sua bunda! Eu tenho pavor de cobras!!!

CHAD: - Pavor de cobras, imagina se gostasse delas, Lucrécia Bórgia!

DARIUS: - Mas ela tem razão, branquelo! Deixa o Salomão em paz! Não tem nada no Caribe não? Hum? Megan, você que é historiadora, tem alguma coisa interessante no Caribe?

MEGAN: - (EMPOLGADA) Piratas????

VICTORIA: - (DÁ UM TAPA NA TESTA)Aff!!! Detesto piratas, principalmente do "Caribe", que só me dá dor de cabeça!Formação de Orion, ok? Vamos embora, depois decidimos pra onde vamos nos aventurar atrás da origem humana e o seu elo com os anjos.

Corte.


Residência dos Mulder - 3:21 A.M.

Mulder chuta a porta do quarto, carregando Scully nos braços. Chuta a porta novamente, a fechando.

MULDER: - Enfim sós?

SCULLY: - Sim. Mas a festa lá continua. E aqui, apenas está começando...

Mulder larga Scully na cama. Scully senta-se na cama, olhando marota pra ele.

SCULLY: - Tiro alguma coisa?

MULDER: - Nada. Posso puxar a poltrona e ficar sentado olhando pra você aí a noite inteira.

SCULLY: - Acho que isso não tem graça, Mulder.

Mulder se aproxima da cama.

MULDER: - E o que tem graça, Scully? Hum?

SCULLY: - (SENSUAL) Isso tem graça...

Scully estende a perna colocando o sapato de salto branco contra o peito dele. Ergue um pouco o vestido, revelando a cinta liga branca e as meias sete oitavos. Mulder revira os olhos, apertando o sapato dela contra o peito. Scully ri.

SCULLY: - Vai ter bastante trabalho, Mulder... Tem muita coisa pra você se divertir desabotoando, abrindo, puxando, tirando... Tem renda, tem seda, tule... Texturas diferentes ao toque...

Mulder segura o tornozelo dela, fazendo massagem.

MULDER: - Só por precaução, o seguro de vida tá na gaveta da minha escrivaninha.

SCULLY: - Não terá tempo pra enfartar, Mulder...

Scully desce a perna. Mulder se ajoelha na frente dela. Vai levando as mãos e deslizando pra cima o vestido dela até os joelhos. Scully leva as mãos para trás, apoiando-se no colchão, olhando empolgada pra ele. Mulder abre as pernas dela. Scully inclina a cabeça pra trás. Mulder aproxima o rosto e puxa o vestido dela sobre a cabeça. Scully ri.

SCULLY: - Vai se esconder debaixo do meu vestido e entre as minhas pernas, Mulder?

MULDER: - Scully, você vive mandando eu calar a boca. Prometo que vou ficar caladinho, por um bom tempo, com minha boca bastante ocupada.

SCULLY: - Uh!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Então cala logo essa boca, Mulder!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!


6:21 A.M.

Mulder atirado na cama, só de calças, com a camisa aberta, cabelos revirados. Scully só de vestido, toda bagunçada, cabelos revirados, jogada ao lado dele.

SCULLY: - Fala sério, Mulder... Somos totalmente malucos...

MULDER: - Pelo menos numa coisa a gente concorda.

SCULLY: - Então... Quando vamos casar novamente?

Scully dá uma risada. Mulder começa a rir.

MULDER: - Você só pensa em lua de mel, Scully? E as abelhinhas?

SCULLY: - Sem abelhinhas e abelhudos, Mulder... As abelhinhas também fazem... Temos que arrumar as malas. Mulder, sério, eu não quero deixar Victoria.

MULDER: - Nem eu.

SCULLY: - Eu sei que é por poucos dias, mas eu não vou ficar tranquila deixando ela aqui.

MULDER: - Nem eu.

SCULLY: - Mamãe me fez prometer que vamos sozinhos, mas... Ai, ficar longe do nosso bebê...

MULDER: - Não tem graça. Eu sei que sua mãe e a Baba seguram a bronca, que o Krycek vai ficar de olho por aqui, a Barbara e a Ellen já fizeram programação pra entreter a danadinha, mas... A gente é três agora, Scully.

SCULLY: - (SORRI) É... Somos três...

Mulder senta-se na cama. Scully se vira e deita a cabeça no peito dele. Mulder leva a mão ao criado-mudo e pega o envelope.

MULDER: - Aquela garota no nosso casamento nos deu isso.

Scully senta-se, curiosa. Coloca a cabeça no ombro de Mulder. Mulder abre o envelope e tira uma fotografia. Os dois arregalam os olhos e começam a rir.

MULDER: - (RINDO) Ah não! Isso é piada!

SCULLY: - (RINDO) Deixa eu ver! O que tá escrito?

MULDER: - (SORRI) "Vai rever as rosas. Tu compreenderás que a tua, é a única no mundo. É simples, o segredo: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos. Foi o tempo que perdeste com tua rosa, que fez tua rosa tão importante."

SCULLY: - Antoine de Saint-Exupéry, O Pequeno Príncipe. Profundo.

MULDER: - É um dos meus livros favoritos, sabia?

SCULLY: - Ela foi criativa no presente. Aposto que trabalha com fotografia e resolveu brincar com a gente.

MULDER: - É, ela é boa no que faz. Até que eu envelheci com dignidade. Estou com cabelos... Meio caído, mas acho que ainda rendo um caldo.

SCULLY: - Como um bom frango velho, Mulder. Só serve pra sopa. Pra minha sopa!

Os dois riem.

SCULLY: -Você ainda tá gato, Mulder. Mas eu, loura? De cabelos longos? Eu nunca pintaria meus cabelos de louro!

MULDER: - Gostei. Até que combina... E continua linda.

SCULLY: - Ela foi generosa comigo. Só estou me achando magra demais.

MULDER: - Continua com essas suas dietas loucas pra ver... Até que somos dois velhos bonitos, Scully. Como essa garota fez isso?

SCULLY: - Computadores, Mulder... Hoje não tem o que não se possa fazer com um bom editor de fotos... Eu gostei. Vou colocar num porta-retratos. E vou escrever: "Nosso futuro?"

MULDER: - Bom, pelo menos nessa montagem criativa dela, a gente chegou juntos e bem, podia ser pior, eu careca e você enrugada?

SCULLY: - Viu? Depois faz novela por causa dos meus cremes!

Os dois riem. Ficam olhando pra foto, impressionados.


X

14/02/2020

📷
📷
16 Février 2020 04:25 0 Rapport Incorporer Suivre l’histoire
4
La fin

A propos de l’auteur

Lara One As fanfics da L. One são escritas em forma de roteiro adaptado, em episódios e dispostas por temporadas, como uma série de verdade. Uma alternativa shipper à mitologia da série de televisão Arquivo X.

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