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As estrelas do céu de Eel não brilhavam naquela noite. E o mar quase não tinha ondas, talvez pela falta de lua, negra graças à própria natureza.

Tudo se resumia a trevas e calma, e talvez um pouco de melancolia idiota e cansaço. Os outros deviam estar dormindo, alheios a tudo em seus sonhos, mas eles não eram os outros.

As pernas de Ezarel ardiam. Parece que haviam andado meio mundo para chegar até ali.

O rosto de Nevra era um pontinho branco no meio do deserto negro no qual se enfiaram. O mundo não parecia existir mais. Ezarel queria que não existisse.

— Vamos parar por aqui, por favor. – O elfo disse, cansado. Ele notou que segurava as pontas dos dedos de Nevra, mas não sabia desde quando estavam assim.

A respiração do vampiro continuava pesada. E ele o ouviu, parou. Ezarel esbarrou nas suas costas, sentindo o cabelo preto e grosso no rosto.

Nevra olhava o mar. Ou o tentava, porque o barulho das ondas mansas era tudo que indicava que aquilo estava ali.

A areia nos sapatos roçava desagradável contra a pele de cada um, e ainda havia o cheiro de terra quente molhada pela chuva de mais cedo.

As mãos de Nevra não eram quentes. Nunca foram.

Ezarel soltou os dedos do outro, para se enfiar entre ele e o mar, tão próximo daquele corpo frio quanto o possível. Se fosse Nevra, ele não se importava. Nevra era a odiosa exceção para muitas de suas regras.

— Beba.

As mãos do elfo se encontravam nos cabelos negros e na cintura fina do vampiro. O convidavam para o que devia fazer.

A cabeça de Nevra se encostou no ombro do outro, sem tentar nada além disso. Nunca era fácil dar o próximo passo.

— Eu posso mesmo?

Uma onda maior se quebrou nas pedras da margem. Os poucos respingos molharam as costas do elfo. Ele era a única fonte de calor dali. Era solitário, de um jeito estranho demais para ser dito. Apertou mais a ponta dos dedos contra o tecido e a pele das costelas do outro, sentindo os lábios igualmente frios fazendo a cerimônia de sempre antes da mordida.

Nevra tomou liberdade. Ezarel tremeu quando as mãos frias apertaram sua cintura, e as presas rasgaram a pele exposta do pescoço. Ele realmente não gostava de contato físico, mas colocava as necessidades de Nevra acima das suas e suportava aquilo com um sorriso morto no rosto.

O vampirou soluçou.

Ezarel percebeu que não era o único a tremer.

— Não se preocupe; você vai me comprar um bom mel depois, pra compensar.

As presas de Nevra se desprenderam de sua carne, ele já se sentia mais fraco e pálido, e agradecia por não poder ser visto em meio à escuridão.

— Por que me deixa fazer isso?

— Eu não sei. – E era a mais pura verdade.

Nevra voltou a esconder a cabeça em seu ombro, como uma criancinha chorosa. O odor pungente de sangue no ar não podia ser ignorado. Era difícil para eles. Seria para qualquer um.

Mas as mãos de cada um continuavam firmes em seus lugares. Apesar do coração inquieto, o corpo não se deixava enganar.

E, apesar da dor, Ezarel também se deixou ceder.

25 Janvier 2020 20:24 0 Rapport Incorporer Suivre l’histoire
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La fin

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Bar-t-t-tender pequena criatura invisível

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