Ajoelhada no colchão, Hermione se curvava sobre o corpo alvo de Draco. Os dedos acariciavam os braços do marido e num silêncio cortante ela esperava que ele pudesse se fazer presente naquele quarto.
Ela queria dizer tanta coisa, todas elas que eram mais do que claras, mais do que óbvias, mas ainda assim precisavam ser ditas, em alto e bom som. Ela precisava dizer. E Draco sabia que ela diria, mais cedo ou mais tarde; ela suportou tanto, e mereceu tanto.
Ele buscou ambas as mãos da morena, e as entrelaçou em torno de si, sentindo-a um pouco mais perto, sentindo-se um pouco menos inseguro. Hermione apoiou o rosto no corpo magro e sentiu a pele quente. Amava cada parte dele, lutara por cada parte dele; seus olhos pesaram, o choro era parte do cotidiano, cada dia daquele mês era um fardo.
"Eu estou desistindo de você, Draco", ela disse enfim, depois de um longo período ali.
Os dedos longos dele permaneceram entreleçados aos dela, Draco não se moveu, sua respiração não se alterou. Isso a destruía, a recusa dele em demonstrar o mínimo que fosse, de dizer, de ser corajoso.
"Diga alguma coisa", pediu se afastando, deixando-o vazio.
Mas ele não disse; abaixou mais a cabeça, deixando os cabelos sem corte caírem, se curvando diante de sua própria fraqueza. Hermione se arrastou para fora da cama grande, com o rosto ainda inundado, e começou o que não queria, mas planejou.
As malas se arrumavam enquanto ela tentava se vestir com normalidade; e ele ouvia tudo se partindo.
Se lembrava do dia em que ela deixou tudo para trás e seguiu com ele, sem pensar em mais nada, sem deixar que o passado pesasse. Hermione perdoou tanta coisa, tantas vezes, que aquele momento poderia ser o que ela mais precisava. A liberdade das amarras de um sentimento que ele não conseguia fazer jus.
"Quem sou eu pra pedir que você fique?"
Ela ouviu a voz rouca e baixa depois de tantas horas de silêncio, e precisou de um tempo para processar. Olhou para ele por alguns segundos, vendo-o ainda encarar o chão, se martirizando.
"Então vai me deixar ir embora, sem ao menos tentar? Sem engolir o orgulho mais uma vez?"
"Acho que já te prendi demais."
Hermione fechou os olhos, estava com raiva e magoada, se sentia pequena.
"Você usa essas palavras pra me confundir ou confundir a si mesmo? Acho que você esperou muito por esse momento", a rispidez era sua única defesa naquele momento.
Ele enfim se levantou, e então encarou a mulher já pronta pela primeira vez.
"Você perdeu tudo, Hermione, tudo. E pelo quê? Por mim?"
"Se for pra dizer isso, é melhor ficar calado mesmo, Draco... que merda!"
Ambos tinham os olhos vermelhos, os ombros pesados e tudo desmoronava aos poucos. Não era a primeira vez, mas parecia a última.
"Eu…" ele começou, mas se interrompeu, pensando no que faria depois de dizer aquilo, quão egoísta ele conseguiria ser daquela vez?
"Por favor, Draco, diz alguma coisa na qual eu consiga acreditar."
Ele suspirou frustrado, vendo a expectativa estampada nos olhos castanhos. Caminhou alguns passos e levou as mãos ao rosto pequeno. Os olhos de Hermione se fecharam, o toque dele, o encaixe das mãos, o cheiro, ele estava tão perto de novo e ela já não sabia o que era ir embora.
"Eu não sei o que fazer…" roçou seu rosto no dela, inspirando o perfume do shampoo recém usado, e a sentindo a maciez da pele, "sem você."
Poderia até ser egoísmo dela, querer ser tão necessária, querer ser a fonte de tudo; mas era isso, exatamente isso.
"Por que você sempre me faz sentir tão pequena entre nós? Por que sempre se faz indiferente? Por que não diz que me quer tanto quanto eu sempre te quis?"
"Porque você me assusta, porque se eu deixar tudo transparente, eu sei que você nunca vai se sentir livre."
"Draco…" Sussurrou, o abraçando mais uma vez, mais forte. Queria se afundar ali, naquele momento, naquela verdade. "Eu sou livre. E sempre escolhi você. É tão difícil entender? Mas eu quero sentir que você também me escolhe todo dia, que você me quer, mais do que precisa, que me quer aqui."
Os lábios dele procuraram pelos dela com desespero; como se já não soubessem mais o gosto um do outro, deixaram que aquele momento se estendesse por um tempo. As malas prontas estavam na porta, Hermione já estava de casaco, mas a forma como seu corpo se encaixava no de Draco não parecia dizer adeus.
Com pouco ar nos pulmões, mas muito medo no peito, ele pediu:
"Fica. Por favor, meu amor, fica."
E ela ficou.
Ficou, porque tampouco sabia o que fazer sem ele. Perdeu todo o resto ao segurar a mão dele e seguir sem olhar para trás, sim, perdeu. Mas se voltasse para aquele dia, teria feito a mesma escolha, assim como fazia naquele momento, deixando o que fosse preciso para trás e seguindo, com ele.
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