ichygo-chan ichygo Chan

De um modo curioso sempre chovia quando os dois se encontravam, como se o universo desejasse presenciar aquele momento, ou tentasse avisá-los sobre algo. Choveu quando se conheceram e quando trocaram o primeiro beijo. Chovia quando proferiram as primeiras juras e partilharam o mesmo leito. Choveu quando casaram. Choveu quando brigaram e se separaram. E agora chovia novamente, de maneira intermitente, como se o cosmos pranteasse a distância entre ambos e desejasse que mais uma vez se unissem. Tudo o que Katsuki pensava naquele momento, enquanto observava as gotas se chocarem contra o vidro do carro, era o quanto Eijiro amava a chuva e como ela lhe trazia sentimentos ambíguos, como paz e raiva, e, principalmente, como queria tê-lo ao seu lado uma vez mais.


Fanfiction Anime/Manga Interdit aux moins de 21 ans.

#kiribaku #ua #romance #angst #finalfeliz #bnha #yaoi
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Príncipe da Chuva

Mais um projeto que surgiu de uma imagem assim como Depois de Você me Negar e Alvorecer. Tenho que parar com isso rsrsrs.

📷

A chuva tinha um significado especial para Eijiro, trazia-lhe sensações que não conseguia descrever em palavras e pensamentos, que o deixavam entorpecido, fossem bons ou ruins, e, principalmente, lhe dava a certeza de estar vivo o suficiente para que pudesse se reerguer a cada queda ou se rejubilasse frente as promessas de um destino recheado de surpresas, pronto a ser desbravado e vivenciado em toda a sua plenitude.

Fato era que ela sempre estava lá em todos os momentos importantes de sua vida, como um consolo, felicitação ou alerta. Sua mãe lhe contou que choveu quando ele nasceu embora o céu, estranhamente, se apresentasse ensolarado e quase limpo de nuvens, o que a fez considerar um sinal divino, a promessa de que ele seria uma pessoa importante e feliz, com um futuro cheio de realizações e um destino pleno, ao passo que sua tia materna — pela qual não nutria muita afeição — considerou como mal presságio e agouro, de que, provavelmente ele passaria a vida chorando por planos malsucedidos e frustrações dantescas.

Raros foram os aniversários em que não chovia, mesmo que por pouco tempo. Certa vez uma querida amiga lhe disse que gostava de sua companhia porque ele trazia a chuva, e o chamava de filho do "deus nuvem".Um príncipe, pois não desconhecia a classificação semi-deus.

Hana era sua vizinha, e foi sua primeira e melhor amiga, com quem dizia que iria se casar quando mais velhos. Aos oito anos não podia se render a muitas das brincadeiras infantis que entretinha a molecada de sua idade, tampouco passar muito tempo fora de casa, arriscando sua já frágil e debilitada saúde em meio aos demais, a salvo raros momentos em que os pais ou avó a acompanhavam, sempre zelosos e atentos aos sinais.

No fundo Eijiro sempre soube que aquele corpo mirrado, frágil e enfermo era um invólucro débil, incapaz de conter a alma sonhadora que vivia presa dentro da amiga.

— Eu gosto da chuva, Eiji, é gostosa e deixa o meu coração feliz. Meu sonho é poder dançar na chuva por horas sem ninguém me atrapalhar — mantinha um olhar sonhador, atenta a cada gota que se chocava contra o vidro da janela.

Ela realmente o fez, em um dia de tempestade, bailando sozinha no meio do gramado, batendo os pezinhos, feliz em meio as gotas gélidas que fustigavam-na, com um sorriso do tamanho do mundo ainda que tremesse de frio. O ruivo a assistiu se divertir, da janela de seu quarto, recebendo de bom grado os pingos frios e sorrindo de volta para a amiga enquanto a encarava com inveja pela liberdade.

Bastou um dedo em sua direção, convocando-o para que ele se propusesse a se juntar a ela, pulando agilmente pro telhado e descendo com habilidade para o gramado, correndo em sua direção, ensopando-se por inteiro.

Naquela noite ele presenciou o maior sorriso que Hana já lhe dera, e o último que veria.

Foi uma loucura quando os pais dela deram por sua falta, saindo em desespero pelo gramado enquanto a resgatavam, levando-a para casa em um surto frenético de pavor, deixando a Eijiro sozinho no gramado, ainda com a mão parada no mesmo lugar. Sua mãe o buscou em seguida, levando-o para casa e o secando enquanto ralhava pela ação impensada. Eijiro narrou sua aventura e observou com dúvida ela empalidecer com seu depoimento.

— A Hana na chuva?! Meu Deus... — levou a mão a boca, cobrindo-a, totalmente horrorizada e com um esgar de piedade.

— Ela estava feliz, mamãe, eu juro, ela sorriu tão bonito, eu nunca via ela sorrir daquele jeito — disse entusiasmado, como se aquela informação fosse capaz de desfazer o engano.

Sua mãe o encarou com o olhar enternecido e o semblante consternado de um adulto que sabe o tipo de consequências aquele pequeno ato trariam.

Aquele pequeno momento de felicidade custou a saúde de Hana e posteriormente sua vida. Seu frágil corpo foi incapaz de se recuperar e ela faleceu dias mais tarde.

Chovia quando lhe deram a notícia. Ele ainda podia reviver a descrença quando sua mãe lhe disse que nunca mais poderia ver a amiga, sem que ele compreendesse porque ela não se curava da gripe como havia acontecido com ele. Porque não lhe deram canja de galinha e cobriram seus pequenos pés com meias quentes. Foi o primeiro contato dele com a morte, e foi doloroso pois conhecia Hana desde que se entendia por gente e a amava de coração.

O som das gotas tamborilando no telhado ainda ressoavam em sua mente. Se ele fechasse os olhos ele a veria, no caixão branco, "puro" disse-lhe a mãe, pois ela era inocente, apenas uma criança sem pecados.

Naquele momento pareceu um pecado roubar do mundo uma criança que só queria poder experimentar a liberdade como as outras, sentir a grama sob os pés e brincar. De repente o som da chuva misturado ao lamentar e choro abafado e consternado dos demais pareceu-lhe ensurdecedor. Ela gostava daquele som, o leve tamborilar rítmico, suave e pacífico, assim como gostava que houvesse silêncio para que pudesse apreciar. Ambos passaram muitas tardes em completo silêncio para que pudessem compartilhar aquela estranha e reconfortante sensação.

Foi quando ele gritou para todos que deveriam fazer silêncio para que ela pudesse ouvir o som da chuva e o salão ficou mudo por algum tempo, estarrecido com a reação dele. Sua mãe tentou acalmá-lo, mas ele não fez mais escândalo, apenas se aproximou, observando-a tão pálida e serena, como se dormisse, e sussurrou de leve.

— Pode acordar Hana, eu já trouxe a chuva para você.

Ela não se moveu e ele repetiu, dessa vez tocando a sua mão, recolhendo ao sentir os dedos dela gelados, tão similares ao último toque em meio a dança na chuva.

Sua mãe se abaixou ao seu lado, abraçando-o para reconfortá-lo, mas ele não conseguia absorver a realidade.

— Ela disse que vai casar comigo, mamãe, ela tem que acordar... — chorou embalado pelo trepidar do corpo da mãe em reação ao seu, pedindo em meio as lágrimas — ... me deixa acordar ela.

Choveu mais forte quando eles desceram o esquife, lavando o rosto de Eijiro que saiu correndo sem conseguir lidar com aquilo.

Será que o céu estava chorando com ele? Ou... Era por ele ter sido um amigo ruim?

Aquele sorriso de felicidade pura e verdadeira que somente ele presenciou ficou gravado em sua memória para sempre. Foram anos de terapia, tentando se desvencilhar da culpa que o assolou por anos. Se ele tivesse avisado a mãe ou os pais dela ao invés de permitir que ela continuasse a dançar, se não tivesse sido cúmplice, então, quem sabe, Hana tivesse tido mais chances de sobreviver.

A chuva lembrava a amiga, os momentos partilhados, o sorriso verdadeiro e as pás de terra sobre seu caixão. Lembrava a Eijiro de sua amizade, vida e morte. Sentimentos ambíguos que se confundiam no âmago de seu ser. Odiava e amava, ansiava e repudiava, temia e enfrentava.

Então a chuva lhe trouxe Katsuki, o cara que se tornaria o grande amor de sua vida. E o levaria também.

Chovia quando se conheceram no colegial.

Novato, Bakugou precisava de um guia, um cargo que coube ao ruivo que prontamente lhe mostrou todas as dependências da escola com um sorriso amigo, tentando ignorar os olhares ranzinzas e aparentemente desinteressados do loiro que olhava a tudo como se visse mais um pedaço e merda na rua, tão sem valor que nem se dava ao trabalho de olhar por muito tempo.

Não podia negar que ele era bonito, principalmente com aquela marra de cara briguento e descolado, com calça jeans preta rasgada e cabelo moicano, piercings e alargadores, e o mais arrebatador incluso no pacote: o olhar feroz e intimidador e eventuais rosnados e murmúrios de desagrado, com algumas palavras de baixo calão que vez ou outra deixava escapar sem se importar muito.

Tentador era apelido.

Por último, Eijiro mostrou para ele o ginásio de esportes, onde o som da chuva reverberava em ecos audíveis.

— Detesto essa merda — Bakugou resmungou descontente.

— O que? A chuva? — O ruivo perguntou incrédulo.

— Do que mais seria, Cabelo de Merda?— resmungou de maneira prepotente ajeitando o fios de cabelo com movimentosbrutos.

Um ponto a mais para a ignorância de Katsuki e seu jeito rude e nada agradável de tratar as pessoas, e cinco a menos para a menos para o amor próprio e noção de Eijiro, por achar aquele comportamento escroto e petulante quase um afrodisíaco.

— Como pode não gostar da chuva?

O loiro o encarou como se ele tivesse acabado de falar a coisa mais estúpida do universo, encarando-o com o semblante em dúvida.

— 'Cê tá de tiração com a minha cara, não é?!

— Não, eu realmente não entendo porque alguém não gosta da chuva. — respondeu franco, se apoiando na parede.

— Lama, calças molhadas, frio, sujeita e tênis molhado... preciso elencar mais alguma característica de merda ou já entendeu?

— Verdade, mas também dá pra relaxar e curtir se esquentando ao lado de quem você ama, debaixo das cobertas.

— Se eu quiser me esquentar com alguém, meu irmão, vai ser dando porrada na cara do desgraçado ou trepando. — terminou a fala ajeitando a jaqueta que usava por cima da camisa e colocando as mãos no bolso.

Ok, era demais para o coração e a líbido de Kirishima lidar com aquilo tudo de homem, tanto que estava alucinando ao imaginar que ele estava, deliberadamente, se insinuando e tentando flertar consigo com o olhar.

Eijiro olhou para os lados, surpreso por se perceber naquela situação e com medo de logo aparentar estar excitado.

— Gosto não se discute, certo? — disse desconcertado, olhando para os lados. — Se quiser eu posso te indicar o nosso clube de artes marciais e...

— Porra, cara, mas tu é lento mesmo, hein — o loiro disparou.

— C-Como? Não en-entendi, desculpe.

Bakugou revirou os olhos e se aproximou, prensando o ruivo contra a parede enquanto o olhava de maneira lasciva, porém o semblante fechado, o que fez o coração de Eijiiro quase escapar pela boca tamanha ansiedade. Dava para sentir o cheiro de tabaco impregnado em suas roupas, bem como o de perfume.

— Preciso roubar um beijo para entender? — foi direto, rindo de um jeito bem descolado antes de continuar — Não adianta tentar esconder, porque eu sei que tu ficou interessado em mim e estava me olhando estranho desde a sala, felizmente para você amigo, eu também curto outros caras.

Não tinha como negar que a chuva trazia sempre uma surpresa, fosse boa ou ruim, e dessa vez ela veio na forma de um garoto presunçoso e arrogante que não pensou duas vezes antes de dar em cima de si, com aquele jeito ousado da qual o ruivo sequer teve defesas.

E assim como o trouxe, a chuva também o levaria.

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Então, o que acharam?

24 Décembre 2019 11:47 1 Rapport Incorporer Suivre l’histoire
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À suivre… Nouveau chapitre Tous les lundis.

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md mel de
Eu preciso de maix... aih...
January 05, 2020, 00:15
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