anjosetsuna Anjo Setsuna

Manga verde contra pão de queijo duro, quem ganha? Uma batalha de infância.


Enfants Tout public.

#manga #pão-de-queijo #infancia #interior
Histoire courte
3
7.4mille VUES
Terminé
temps de lecture
AA Partager

Balístico e nutritivo

*Considerando que a história se passa no interior, os diálogos "errados" são propositais para marcar a pronúncia, por favor não se assustem. Boa leitura!


A chuva fininha que caía parava aos poucos. O garoto observava sua jovem mãe tentar alcançar um armário mais alto na velha cozinha que cheirava a café recém passado. A mulher esticou-se toda, até ficar na ponta dos pés, e alcançou o vasilhame de plástico fazendo uma leve careta ao fitar o conteúdo. O menino riu baixinho ao ver a expressão materna, pois ela era um tipo de mulher séria e atitudes assim eram raras de sua parte, afinal para ela comida era algo sagrado.

— Tcs... mofou. Maldito tempo chuvoso...

— Faiz mais mãe.

— Pra desperdiçar mais?

— Desperdiça não, eu vou dar pros cachorros.

— Cachorros não comem pão de queijo duro, Arthur! Jogue para as galinhas ciscarem.

— Tá bom!

Arthur, que tinha cara de menino de seis anos, de pés descalços pegou os pães mofados carregando-os na camiseta em uma sacola improvisada com a parte da frente.

— E limpa esses pé antes de entrar pra dentro quando volta, escutou!

A advertência foi vã, o garoto corria para o quintal com cheiro de chuva e poças de água no barro vermelho, atravessou rapidamente o terreno, deixando um portão de madeira baixo aberto para trás, e ignorando os cacarejos assustados das galinhas, jogou duas unidades da quitanda mofada, se divertindo vendo as aves brigando entre si pelos pedaços agora bicados.

— Galinhas burras, tudo mofado hahaha!

— Mas ainda é nutritivo, tem queijo além do mofo.

Arthur se assustou com a voz vinda do nada, olhou ao redor procurando a fonte do som e apenas viu folhas da mangueira molhada caírem no chão.

— Então come um pra ver o tanto que é nu...nutri-tri-tivo. - segurou um dos pães de queijo na mão de forma suspeita.

— Vem fazê então!

Arthur fitou a copa da frondosa mangueira procurando sinal de alguém no meio da folhagem, os pingos da chuva, que havia cessado, brilhavam com o sol que aparecia preguiçoso atrás das nuvens atrapalhando sua visão. Segurou com mais firmeza sua camiseta e atirou o pão de queijo, pássaros voaram e uma sonora risada infantil ecoou.

— Manézão hahaha! Nem com estilingue acerta alguma coisa, imagina sem.

— Inferrrno!

Arhtur correu para debaixo da copa da árvore tentado localizar seu alvo, desviou de algumas mangas que vieram em sua direção e apenas escutou o estalo de galhos se quebrando. Instintivamente soltou a camiseta com medos dos galhos acertá-lo e se estabanou todo quando as galinhas vieram pra cima de seus pés por causa da comida. As bicadas em seus pés o distraía de seu alvo que essa altura já havia descido do pé de manga. Uma das frutas passou perigosamente perto de sua cabeça e caiu em meio as galinhas dispersando-as. Arthur tremeu de fúria ao ver o sorriso moleque de sua inimiga.

O macacão sujo de terra denunciava que a menina, com cara de sete anos, estava ali por um tempo brincando, o cabelo curto bagunçado balançou com o vento frio e algumas mangas verdes sujavam seus pequenos dedos de nódoa.

— Qual você acha que dói mais? - a menina desafiou.

— Depois não vem chorar pedido pra parar, Aninha!

O desafio estava feito, o menino espantou as galinhas e pegou os pães de queijo duro feito pedras, enfiou-os de qualquer maneira em seus bolsos, olhou rapidamente para sua adversária que verificava os próprios bolsos do macacão para se certificar da sua munição verde. Arthur endireitou-se e apontou o dedo destemido.

— Te dou até três pra corrê! - uma pequena manga verde acertou sua testa - Assim não vale! Eu vou conta pra mamãe que você tá 'panhando sem esperar crescer!

— Um! - Aninha contou gargalhando travessa, dando a entender que não sairia do lugar.

Arhur correu para trás da mangueira.

— Dois! - um pão de queijo passou zunindo perto da garota.

— Três!

A guerra começara. Manga versus pão de queijo duro. Aninha e Arthur corriam entre gargalhadas e poças de lamas. A menina supôs que seu irmão jamais a dedaria à mãe, pois se ela descobrisse que ele também estava brincando com comida apanharia igual. As galinhas corriam atarantadas sobre bolotas marrons, atrapalhando a brincadeira que terminara quando Arthur levou um tombo digno de galo na cabeça no barro. O berreiro chamou a atenção da mãe que saiu no terreiro com uma vara na mão.

— Meninooooo! - viu a cor vermelha de seus filhos, que de limpo só sobrara as bochechas vermelhas da correria - Passem já pra dentro!

— A Ana tava me tacando manga! - fungou enquanto passava a mão sobre a testa machucada.

— E ele me tacou pão de queijo!

— Mentira é pedra!

Arrependeu-se ao ver a cara zangada de sua mãe azedar para uma mais zangada ainda.

— Galinha não come pedra, Arthur! - ralhou.

Os pequenos irmãos fecharam os olhos quando viram a vara de goiaba nas mãos de sua mãe ser apontada em direção a cozinha.

— Passem já pra dentro...

Tentaram correr para a casa, mas pararam com o berro zangado da mãe.

— Lava esses pé no tanque primeiro!

Obedeceram calados e esconderam um sorriso quando a mãe apenas deu um puxão de orelha como castigo, enquanto lhes ajudavam a subir no tanque e tirar o barro dos pés.

— Mãe...

— Quê menino? - respondeu ainda zangada a mãe ao seu pequeno filho, que agora limpava a testa com caretas de dor.

— Pedra era pão de queijo antes de ser pedra?

A jovem mãe apenas deu uma gargalhada gostosa e beijou seu filho no machucado, arrancando mais uma careta do menino.

— Sabe Arthur - olhou para os lados como se estivesse para contar um segredo - Na verdade aqueles que tão beeeemmm duros que se acha no outro dia, foi o saci que colocou de noite.

FIM.

17 Novembre 2019 15:57 0 Rapport Incorporer Suivre l’histoire
1
La fin

A propos de l’auteur

Anjo Setsuna A mesma Anjo Setsuna de sempre. Podem me achar também no Fanfiction Net, Fiction Press, AO3. Não autorizo repost de minhas obras em outros sites. Caso vejam minhas obras em outros sites além destes denuncie por favor. Amo drabbles de 100 palavras e fanfics. Alguns originais podem ser encontrados na Amazon pelo meu nome Iara M. Lima

Commentez quelque chose

Publier!
Il n’y a aucun commentaire pour le moment. Soyez le premier à donner votre avis!
~