Há muito me foi relatado
Que o amor me encontraria
Distraída, entre os nascentes e poentes
Ou não!
Que, como Diana na floresta, sob sua lua crescente,
Deveria eu esticar o arco na caçada
Ainda arautos proclamavam de seus pódios de sabedoria
Maneje seu cinzel com perícia!
Esculpa-se em carne, dietas, malhação, sangue e botox
Para que surja a Vênus irreal em meu corpo mortal
Que seu jardim seja esplêndido, outros sentenciaram
Pois borboletas não beijam flores de plástico
Secreto e oculto recanto mágico
Aguardando o herói a cavalo, de carro, de Uber,
Empunhando uma espada reluzente, um sabre de luz, um celular
Discernir, entre os espinhosos ramos, a donzela de cabelos tingidos
Todos a tanto falar
E nada a ser dito por ninguém
Nem os antigos livros de receitas de minha avó
Tampouco as lépidas e abreviadas palavras corridas na líquida superfície
Distraídas continuam a caminhar, sonhadoras de pares perdidos
Caçadoras retornavam de mãos e aljavas vazias
Manequins vivificadas desfilam para si mesmas
Jardins encantados perdidos jamais encontrados
Quanta ilusão!
O que vale procurar o edificado em quimeras concretas?
Elevo o rosto para o manto negro do céu
E as estrelas chovem em mim
Dançam ao meu redor
Enchem o chão sob meus pés descalços
Pousam nos suspiros preocupados de minha mãe, à minha espera
Tornam-se arenosas nos lábios de meu pai em uma repreensão
Ardem no abraço forte de meu amigo diante dos castelos destruídos
Elas brilham no profundo firmamento
Elas tintilam em minhas mãos
Elas flutuam em todo o mundo, fadas pulsantes
Guardiãs do eterno agora
Senhora de todos os disfarces, faces e fases
Estreitar os olhos para enxergar
Rasga a pele em vincos
Retirar o véu da fantasia tem seu preço
Se a realidade é a escolhida a se encarar
Não tenha medo
O amor aqui está, sempre
O cavaleiro não brilha em sua armadura
Ele se vela sob o manto poeirento de um andarilho
Na mesma viagem de todos nós
Surgirá por eternos segundos ou poucos anos
E caminhará contigo até aonde assim for
Consorte, valete, bobo da corte
Pai, mãe, irmão, irmã
Amigo, adversário, desconhecido
Seja qual vestimenta lhe aprouver
É ele
Não queira, porém
Que venha com laço e etiqueta, pronto para brincar
Descoberto ele é, mas constante construído se faz ser
Merci pour la lecture!
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