sabrinavilanova Ellie Blue

Sasuke Uchiha já nasceu morto. Pelo menos, era o que tudo lhe dizia. A vida, que levava a cada dia, se mostrava muito feia, pavorosa a cada esquina. E, em sua cantoria, a morte (velha amiga) lhe aparecia para cortar os laços que o prendiam. Tudo lhe foi tirado, até mesmo a simpatia: pelo mundo, pelas flores e, principalmente, pela vida. O menino, que nasceu morto, encontrou, então, sua sina. Com as mãos algemadas ao tempo, as cores dos campos da terra mais pareciam, em tudo, cinza. Por isso, ele deixou tudo em busca da solidão. Mas acabou encontrando vida.


Fanfiction Anime/Manga Déconseillé aux moins de 13 ans.

#naruto #sns #vampiro #sasunaru #darkfantasy #halloween #samhain
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Ato I - Da Morte

“Desde que estou retirando só a morte vejo ativa,

só a morte deparei e às vezes até festiva;

só a morte tem encontrado quem pensava encontrar vida,

e o pouco que não foi morte foi de vida severina

(aquela vida que é menos vivida que defendida,

e é ainda mais severina para o homem que retira)”

(Morte e Vida Severina - João Cabral de Melo Neto)


Meu garoto, ouça-me bem. Quando eu partir, as flores vão parecer murchar, os olhos do pequeno filhote que tu levas consigo para qualquer lugar vão perder o brilho e o amor não fará sentido ao teu coração. Mas entenda, meu menino, que mesmo que as cores da vida desapareçam ao teu olhar, um dia, ela haverá de recompensar-te de bom grado, e os campos floridos da nossa terra trarão novamente o prazer de observar com esperança os bons dias do futuro.


✘✘✘


Quando Sasuke abriu os olhos, viu o mundo desabar em sua frente mais uma vez. Sentiu o peso de respirar sufocá-lo, como se houvesse submergido em águas tão profundas que mal poderia subir novamente, e o involuntário ato de pensar tirá-lo de órbita, deixando tudo nublado, até que não pudesse enxergar. Quando Sasuke acordou, viu tudo a sua volta desbotar, perder a cor, e o mundo se pintou em tons de cinza e marrom, fazendo com que mesmo a mais bela das flores perdesse a graça aos seus olhos. As roupas estavam molhadas pelo suor e o carpete, encharcado por ter passado toda a noite ali, mostrou-se um lugar muito desconfortável para dormir. Tocou o material espesso, procurando sentir alguma coisa, qualquer coisa que não o lembrasse da carga incômoda que carregava nos ombros.

Ele fechou os olhos ao sentir a brisa de verão tocar-lhe a pele descoberta e os braços franzinos se arrepiaram com a breve saudação da nova estação. O corpo doía, a mente doía e as lacunas vazias a serem descobertas foram deixadas de lado naquele instante. Sasuke estremeceu ao ouvir o rastejar dos pés estranhos sobre o tapete, em um gesto de pura insegurança de um garoto daquela idade.

As mãos cerraram-se rapidamente e o tremor correu o corpo, demonstrando o medo que sentia. Ele sabia bem que estava desprotegido, não poderia lutar desde que seu corpo perdera a força, com aqueles os braços ossudos, não poderia nem mesmo socar alguém, muito menos causar algum estrago. Queria que Itachi estivesse ali naquele momento e o estômago revirou com o pensamento, mas não sabia se era pela ansiedade ou pela fome. O garoto estava por si agora, não teria ninguém para protegê-lo e, mesmo que aquilo o assustasse, sabia que de nada adiantaria pensar demais em sua condição. Itachi não estava mais ali, afinal, havia se aventurado nos grandes campos a procura de sua mãe, a qual havia ido embora há pouco mais de um ano. Agora, só restava ele e aquela casa… e a pessoa no canto da sala, olhando-o com atenção.

Engoliu em seco antes de virar-se, mas não conseguiu não olhar aqueles olhos, rubros como as águas de sangue dos rios ao oeste. Quieta, ela não moveu um músculo pelo tempo em que o jovem a observou, mas sorriu quando viu o caos assolar aquele olhar tão puro. Sentiu pena do menino, quase morto ele estava, os lábios rachados e esbranquiçados faziam um grande contraste com a pele lisa e clara, e o corpo, era uma tristeza, ele estava em pele e osso. A mulher pensou bem sobre o que faria nos próximos instantes, mas se deixou levar quando viu o garoto desviar o olhar, com medo. Ela sorriu complacente e esperou, com paciência, o jovem parar de tremer.

― Menino, menino, não há o que temer ― ela disse, em um tom doce e calmo. ― Como se chama, criança?

Ele não respondeu, mas não era uma grande surpresa que ignorasse sua pergunta. Viu-o engolir em seco, reparando no movimento que a garganta fazia ao subir e descer. Tossiu, então, devia estar com sede pela quantidade de tempo que passou ali dormindo. E, mesmo com ele tossindo cada vez mais, a misteriosa mulher não se moveu.

― Tem sede? ― Ela sorriu, ele assentiu. ― Então, levante. Beba água, se não morrerá.

― Não consigo ― ele murmurou, com o olhar baixo, concentrado no carpete em que estava sentado. ― Minhas pernas doem, os braços, ainda mais.

― Se esforce, não quer morrer, quer? ― Desafiou-o.

Sasuke negou com a cabeça e voltou o olhar para os dedos das mãos, estavam sujos, as unhas, imundas como sempre, estavam grandes, não havia tido tempo de cortá-las. Ele tinha virado um miserável, sem pais, sem vida, sem caminho, sem comida. Um morto-vivo pelo tempo que ficou sozinho, por isso, não tinha a mínima esperança de que aquela mulher o ajudasse. O garoto a viu levantar-se, encolhendo o corpo na espera de que ela fosse embora de uma vez. No entanto, sobressaltou-se quando sentiu os braços leves rodearem o seu corpo e prensarem-no contra o dela.

― Você está sozinho, pobre criança? Onde estão seus pais?

― Não existem mais.

Ela afagou serenamente os cabelos pretos da criança, pensando e pensando no que faria. Deixou que os lábios tocassem com leveza a testa pálida do menino e ficou daquele jeito por tempo o suficiente para que ele começasse tremer de novo. Os dedos esqueléticos tocaram o vestido, agarrando o tecido com força e o soluço baixo saiu da garganta e foi acompanhado por outro e outro. Quando as lágrimas banharam a face, a mulher deu-lhe mais um sorriso, dessa vez triste. E foi ali que tomou sua decisão.

― Qual o teu nome, menino?

― Sasuke ― ele respondeu.

― Sasuke ― a mulher sussurrou ao se acostumar com a palavra. Ela saíra de seus lábios tão confortavelmente que soube, naquela hora, que havia tomado a decisão correta. ― Eu sou Caroline, Sasuke. O que acha de se tornar alguém como eu?


✘✘✘


A primeira gota de vida só veio até Sasuke anos depois de seus olhos terem se fechado para o mundo humano de uma só vez. Foi aos dezessete, quando ele já não era mais um menino abandonado por Deus e pela vida. Talvez por Deus, mas não mais pela vida, era uma certeza. E aquela era uma grande contradição em sua curta existência, quando menor, sua mãe costumava dizer que o pai de todos sempre estaria o observando. Porém, agora que estava daquele jeito, duvidava que uma criatura como ele um dia seria bem vinda no paraíso. Caroline costumava dizer que o único lugar reservado a seres de sua raça era o inferno, mas não se incomodava, iria de bom grado se fosse o caso.

No entanto, pouco importava aquilo agora. Aquele era o momento perfeito para o jovem aproveitar, desfrutar dos prazeres efêmeros que apareciam diante de seus olhos. O sangue foi a maior de suas perdições. Era como um vício, embebedava-se cada vez mais com o tom carmim do líquido que passava por sua língua todos os dias, a toda hora que queria, o encontro com a dona morte sempre lhe trazia a vida. Sua ama havia o apresentado aquele jeito de ser e, por isso, aceitou sem questionar. Afinal, Caroline queria apenas o seu bem e nada mais.

Nada como fazer um favor ou outro para aquela mulher que tanto dava-lhe amor. Nada como destroçar um corpo ou outro apenas pelo prazer daquela mulher, a quem nutria tanto carinho. E foi engraçado, tão engraçado quando viu seus lábios sujos de sangue, enquanto ela deleitava-se bastante com o sabor da mocinha que atraíra até ali. Sasuke, pela primeira vez, não se sentiu sozinho em seu vício. Sabia que ela era a companhia perfeita para o resto de sua existência, aquela quem havia lhe concedido a vida, que havia lhe dado amor e cuidado, tudo o que precisava. Era a pessoa que levaria por toda a eternidade.

Entretanto, a segunda gota de vida veio até Sasuke de repente. Não fez barulho, só entrou como se já tivesse estado ali há bastante tempo e coloriu mais uma vez o seu mundo, antes cinza e marrom. O azul de seus olhos se juntava com as águas dos lagos de sua casa e seu sorriso despertava toda a sua vontade de desbravar os mares, de querer aprender e conhecer sobre o mundo. Ino Yamanaka era seu nome, tão bela quanto os anjos no céu, mal conseguiria contemplar sua vivacidade. Ela chegou numa tarde de primavera e trouxe a vida consigo. Em tons de rosa, azul e roxo das flores que carregava. Sua voz era sempre tão doce e o rapaz ainda podia ouvir o seu tagarelar. Lembrava da felicidade que emanava de si quando a via falar sobre o que mais amava, o que fazia com que ela fosse do jeito que era.

― Esse lugar é meu tudo ― ela dizia quando estavam a sós.

“Você é meu mundo”, Sasuke pensava enquanto a escutava. Palavras que sempre embolavam na boca e eram impedidas de sair. Ele nunca se arrependeu tanto por não conseguir falar algo tão importante e supostamente tão fácil de declarar. Ino era uma criação divina, foi a única pessoa que o fez acreditar que realmente existia um Deus e que ele amava todas as suas criações. Já feito em sua vida, não conseguia parar de pensar que talvez ele fizesse parte daquilo tudo também. Chegou a imaginar que teria filhos, que seria feliz, que acordaria todas as manhãs com o doce som da voz da mulher que tanto prezava, amava e queria.

Foi daquela maneira, no auge da sua paz, que descobriu mais uma vez que a vida não era feita de flores. As rosas que cresciam nos jardins de seu coração sempre murchariam no final. Porque Sasuke Uchiha não estava vivo e levava a morte para onde quer que fosse. Sua companheira eterna gostava muito de luz e, por isso, tirou-lhe a única que tinha.

A vontade de desbravar o mundo acabou no momento em que viu sua segunda gota de vida secar, seu sabor de primavera havia acabado. E as folhas das árvores murcharam, os galhos quebraram e a tinta foi misturada de tal forma, que apenas o negro podia ser visto. Negro e carmim. Do sangue que escorria pela pele pálida de Ino, o mesmo sangue que corria pelo rosto de sua ama. A mesma que sempre o protegeu, agora lhe tirava tudo o que era mais importante para si.

Talvez fosse estranha demais a violência de Caroline naquele dia. Ela não costumava matar suas presas, nem mesmo rasgar a pele, como havia feito com a sua amada. Nem mesmo ele soube como aconteceu. Quando a manhã chegou, Caroline havia sumido para nunca mais voltar. Veio a descobrir depois que ele mesmo havia encurtado seu trajeto até o fim.

Mas o futuro ainda era incerto, Sasuke veio a perceber isso quando começou a caminhar e caminhar, como um retirante que foge da miséria ― a miséria da própria existência. Talvez tivesse sido ali o começo da fuga de sua velha amiga: a morte.


Essa fanfic foi escrita para o Desafio de Haloween do Grupo Esquadrão da Escrita. Espero que gostem!

10 Novembre 2019 03:25 4 Rapport Incorporer Suivre l’histoire
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À suivre… Nouveau chapitre Tous les dimanches.

A propos de l’auteur

Ellie Blue Apaixonada por café, itinerante como um circo entre as histórias que já leu (e ainda vai ler). Apesar de muito nova parece ter vivido muito tempo. Tantos anos que não sabe se é velha ou jovem. Mas a verdade é que é de muitas eras e não sabe viver sem emoção.

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KL Kitsune Lyra
Aaah que eu já amei essa fic, sabia que Ino ia morrer hahaha Caroline foi muito interessante na história, gostei muito. Pobre Sasuke, as cores virão Sasuke, elas virão (espero hahaha)
November 16, 2019, 01:59

  • Ellie Blue Ellie Blue
    Aaaaa que bom que tu gostou mds ><. Eu particularmente amo a Caroline e a construção dela. Adoro personagens como ela T-T. O Sasuke sofre muito nessa vida, mds. E pode ter certrza que virão :3 January 04, 2020, 13:57
Alice Alamo Alice Alamo
Ahhhhhh eu adoro fics de Halloween! Gostei da história trágica do Sasuke, adoro quando abordamos elementos do canon de uma forma diferente nos universos alternativos. Eu, por um momento, soube que a Caroline ia fazer algo errado. Sinceramente, eu amo vampiros (uau, de paixão), mas acredito que seja uma existência muito condenada a erros, mais erros que acertos. Seja pela solidão, seja pelo martírio da eternidade, sempre é uma existência marcada por péssimas escolhas geradas pelo medo, pelo ciúmes, pela raiva que explode por pequenas coisas. A Ino foi uma surpresa agradável na história, eu amo demais essa personagem <3 Vou aguardar aqui ansiosa pela continuação <3 Beijosss
November 10, 2019, 05:20

  • Ellie Blue Ellie Blue
    Aliceeeeeee. Mano, eu amo tragédia, amo demais e amo vampiros. Faz tempo que eu queria uma história de vampiro, veio a oportunida, fui lá e fiz. Mas acho que o que gosto mais nesse tipo de história, na Fantasia Sombria em si, é a maneira que elas nos aproximam dos personagens mesmo que eles façam coisas odiáveis. E dá pra fazer tanta coisa com vampiros :3, a solidão é minha face favorita desse tipo de história. Eu amo demais a Ino, ela foi a primeira que me veio a mente para esse primeiro capítulo e acho que se encaixa mt bem. Obrigada por ler e comentar, docinho. Até mais. November 10, 2019, 13:57
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