lara-one Lara One

O que pode acontecer quando dois agentes do FBI e um bebê de seis meses se perdem na estrada e se acham num Arquivo X?


Fanfiction Série/ Doramas/Opéras de savon Interdit aux moins de 18 ans.

#x-files #arquivo-x
0
4.8mille VUES
Terminé
temps de lecture
AA Partager

S06#01 - ON THE ROAD

(Stop the car!!!)



INTRODUÇÃO AO EPISÓDIO:

Fade in.

FBI - Gabinete do Diretor – Assistente Skinner – 5:49 P.M.

Mulder lê um papel, sentado à frente de Skinner. Scully lê com ele. Skinner sentado à escrivaninha, preenche um documento, cabisbaixo, enquanto fala.

SKINNER: - Quando o 9-1-1 recebeu o chamado. Um homem chamado Jake Edwards ligava de uma cabine pública desesperado, mal se fazendo entender. Ele dizia que estava preso. O nome da atendente e a conversa estão nesse relatório que vocês estão lendo.

MULDER: - Ele diz aqui que alguma coisa o mantinha preso na estrada. Mas que coisa?

SKINNER: - E a ligação caiu ou foi cortada, talvez devido à chuva. A atendente disse que conseguia ouvir trovões pelo telefone. Quero que verifiquem isso o mais rápido que puderem. O FBI negará qualquer participação se mencionarem 'Arquivos X'. Já sabem disso. Boa noite e bom descanso.

Mulder e Scully se levantam. Skinner olha pra Scully.

SKINNER: - Você não. Quero que fique mais um pouco. Preciso de alguns relatórios de 1994.

SCULLY: - (INCRÉDULA) 1994? Mas...

SKINNER: - (CABISBAIXO) Sem 'mas', agente Scully. Desça até o porão e me traga todos os relatórios dos casos que vocês dois investigaram no ano de 1994. E sem pó e teia de aranhas, por favor.

Skinner, ainda cabisbaixo, continua trabalhando. Mulder acena debochado para Scully, que cerra o cenho com raiva, saindo da sala.

Skinner ergue a cabeça e olha pra Mulder. Os dois começam a rir. Mulder se levanta.

MULDER: - Valeu "Poderosa Lanterna do FBI"! Te devo mais uma. Mantenha a fera ocupada por aqui até umas oito da noite. A diversão me espera...

SKINNER: - Anda logo, Mulder! Saia antes que ela volte e desconfie de algo!

VINHETA DE ABERTURA: A VERDADE ESTÁ LÁ FORA


BLOCO 1:

Residência dos Mulder – Virgínia – 8:39 P.M.

A mesa posta com dois pratos, copos, uma garrafa de vinho, flores e velas. Mulder na cozinha, todo atrapalhado. Seca as mãos no pano de prato. Corre para o fogão.

MULDER: - Minha nossa! Quase que eu queimo minha obra prima!

Victoria sentada na cadeirinha abre um sorriso, mordendo as mãos. Num vestido estampado de flores vermelhas, uma tiara de fita vermelha na cabeça destacando os fiapos de cabelos castanhos claros. Mulder pega a panela, coloca o fricassê numa tigela. Então coloca o prato na mesa. Victoria o observa curiosa.

MULDER: - Admita, Pinguinho! Estou me superando! Para quem mal conseguia fritar um ovo, isso aí é progresso!

VICTORIA: - Da da da...

MULDER: - Ainda bem que concorda comigo. Agora... O principal... O que é? Ahn? O que é?

VICTORIA: - 'Olo'.

Mulder abre a geladeira e retira um bolo de chocolate. Sobre o bolo, uma vela em forma de coração. Mulder coloca o bolo sobre a mesa. Victoria estende as mãos pra pegar.

VICTORIA: - 'Olo'!!!

MULDER: - Não mesmo, sua gulosa! Até parece filha de Fox Mulder! Temos que esperar a mamãe primeiro.

Victoria bate palmas num sorriso.

VICTORIA: - Mama!

MULDER: - É, a mama. Mama já vai chegar. Tio Skinner tá atrapalhando a vida dela pra nos dar tempo.

VICTORIA: - (BATENDO PALMINHAS/ PULANDO NA CADEIRA) Mama! Mama!

MULDER: - (DEBOCHADO) É, eu sei, 'não é a mamãe, não é a mamãe'...

Mulder pega uns chapeuzinhos de aniversário. Coloca um na cabeça. Outro em Victoria. Victoria ri, batendo as mãos na cadeirinha. Mulder coloca um chapéu em Cookie.

VICTORIA: - Au! Okie!

MULDER: - É, o 'Okie' também ganha.

Os faróis do carro se refletem pela janela. Mulder pega Victoria no colo.

MULDER: - Mamãe chegou. Vamos fazer a surpresa pra ela.

Scully entra, fechando a porta atrás de si, cansada, cabisbaixa. Ergue a cabeça.

MULDER: - Surpresa!

Os olhos de Scully brilham. Ela olha pra mesa, pra Mulder e Victoria. Olha pra Cookie.

SCULLY: - (CURIOSA) Quem está de aniversário?

MULDER: - Victoria, você fala ou eu falo?

Scully sorri. Victoria morde as mãos se babando.

MULDER: - Como Pinguinho tá babando mais do que falando, eu falarei então. No dia 23 de fevereiro deste ano, seu aniversário, eu estava numa cela, você aqui chorando, nossa família separada... Acho que não é tarde pra gente comemorar o que não pudemos antes. Então eu, Victoria... e o Cookie, resolvemos homenagear a mulher mais especial de nossas vidas.

Victoria bate palminha. Scully cerra o cenho pra chorar. Aproxima-se deles. Beija os dois. Mulder coloca Victoria na cadeirinha. Puxa a cadeira pra Scully.

SCULLY: - Nossa! Que gentileza!

MULDER: - Sou um sujeito educado.

Mulder senta-se de frente pra ela.

MULDER: - Me dá seu prato, vou te servir. Deve estar morrendo de fome.

SCULLY: - E estou! Mulder, preciso entrar em forma de novo! Estou gorda! Não me acostume mal! Acabou aquela coisa de agrado por causa da gravidez... Mulder me perdoa!

MULDER: - Perdoar o quê?

SCULLY: - Eu fiquei insuportável por nove meses. E depois que nossa filha nasceu eu tenho sido uma égua com você. Eu disse coisas que...

MULDER: - (SORRI) Perdoar o quê? Que coisas?

SCULLY: - (ABAIXA A CABEÇA)

MULDER: - Scully... Eu te amo.

SCULLY: - (OLHA PRA ELE NUM SORRISO)

Victoria boceja, observando Cookie deitado no chão. Olha pro bolo. Olha pra Mulder e Scully. Olha pro bolo.

SCULLY: - Skinner me deixou presa logo hoje! Pedia coisas que eu custava a encontrar.

MULDER: - Não o culpe, eu pedi que ele mantivesse você ocupada até eu arrumar as coisas por aqui.

SCULLY: -(SURPRESA) Eu não acredito! Vocês dois conspirando contra mim? Me fazendo de tonta?

Mulder ri.

SCULLY: - Estão perdoados. Quem cozinhou?

MULDER: - Eu. O super marido 2002. Adquira já o seu pelo telefone...

SCULLY: - (RINDO) Nossa! Milagres acontecem! (OLHA PRA VICTORIA) Né neném?

Victoria quer pegar o bolo se esticando toda, com os braços à frente. Mulder afasta o bolo. Victoria olha pra Mulder fazendo um beiço de Scully. Se estica mais ainda.

VICTORIA: - Da...

MULDER: - Que dá o quê! Você não pode comer bolo ainda!

VICTORIA: - (BEIÇO) Da! 'Olo'! 'Olo'!

Scully a toma no colo e começa a abrir a blusa.

SCULLY: - Sei o que ela quer.

Scully amamenta Victoria. Mulder serve um prato pra Scully.

MULDER: - Quer comidinha na boca?

SCULLY: - (SORRI) Não. Vou dar de mamar que ela dorme e assim jantamos.

MULDER: - Só nós dois? Assim, aqui, à luz de velas?

SCULLY: - Hum... Preciso disso, sabia?

MULDER: - Tem vinho, agente Scully. Um sofá nos esperando. E eu confesso que tô doidinho pra te dar o meu presente.

SCULLY: - (RINDO) Tô doidinha pra abrir o embrulho...

MULDER: - Ando 'nervoso'.

SCULLY: - Eu sei. Eu também.

MULDER: -(SACANA) Muito nervoso.

SCULLY: - (RINDO) Para!

MULDER: - (DEBOCHADO) Completamente nervoso!

SCULLY: -(RINDO) Para! Acha que é só você, é?


10: 47 P.M.

[Som: Old 97's - Victoria]

Victoria brincando com Legos no chão. Mulder deita-se no sofá, de pijamas e pés descalços. Dá um salto se levantando. Olha pro sofá e pega o Lego que estava no assento. Joga no chão, esfregando o traseiro. Deita-se.

Scully entra na sala, de camisola e pés descalços, desviando dos Legos de Victoria, com uma taça de vinho. Deita-se entre as pernas de Mulder, segurando a taça. Mulder brinca com os cabelos dela. Scully olha para Victoria brincando.

MULDER: - Por que comprou Legos? Ela não sabe montá-los.

SCULLY: - Sei disso. Mas observe que ela já aprendeu a distinguir as cores. Junta todos eles por cor.

MULDER: - Vou comprar um quebra cabeças pra ela. Junto com a bicicleta do Gafanhoto.

SCULLY: - Que energia! Acho que vou tentar fazê-la dormir.

MULDER: - Ah deixa ela. Daqui a pouco ela cansa e dorme. Já viu ela dormindo sentada?

SCULLY: - (RINDO) Já!

MULDER: - (RINDO) É hilário! Ela brinca tanto que cansa e fecha os olhos. Dorme sentada. Começa a pender dum lado pra outro. Aí se acorda meio fora de localização.

SCULLY: - (RINDO) Ai que maldade, Mulder!

MULDER: - Ela tá ficando tão engraçadinha. E tão bagunceira!

SCULLY: - Tá sim. Fomos nós quem fizemos, oras!

MULDER: - (OLHA PRA ELA) Ela tem o seu jeito sabia?

SCULLY: - Hum... Mas tá cada dia mais parecida com você, Mulder.

Scully vira-se pra ele. Os dois trocam beijos. Olham-se nos olhos.

MULDER: - Scully, não quero ser desagradável mas... Você tomou banho?

SCULLY: - Por quê?

MULDER: - Tem um cheiro esquisito por aqui...

SCULLY: - (ASPIRANDO AS AXILAS) Não sou eu não!

Mulder se cheira.

MULDER: - Mas que estranho isso... Não sou eu também!

Mulder ergue-se, empurrando Scully. Leva a mão pra dentro do sofá. Retira um biscoito mofado. Joga pra trás, fazendo cara de nojo.

MULDER: - Quem colocou essa coisa aqui...

Os dois olham pra Victoria. Mulder deita-se. Scully se recosta nele.

MULDER: - Uma noite perfeita.

SCULLY: - (SORRI) Uma noite perfeita.

MULDER: - Que tal falarmos coisas bonitas um pro outro, ahn?

SCULLY: - Pretendo namorar a noite toda nesse sofá. Nada poderá me impedir!

MULDER: - Finalmente sossego. É tão bom esse silêncio, ficar aqui relaxando, sem nada pra incomodar, sem problemas e...

Estrondo na cozinha de coisas se quebrando. Os dois sentam-se no sofá, assustados, virando-se pra trás.

Close no chão da cozinha.

Pratos quebrados. Comida espalhada pelo chão. Victoria sentada no chão da cozinha, ao pé da mesa, no meio da bagunça. A toalha de mesa caída por sobre a cabeça dela. Victoria abre um sorriso de orelha a orelha, com o rosto sujo de chocolate e as mãos enterradas no bolo espatifado.

VICTORIA: - 'Olo'!

MULDER: - (PÂNICO) Eu não acredito! Como ela ...

Victoria bate as duas mãos no bolo, soltando sons desconexos. Fica de quatro e sai engatinhando, sujando toda a cozinha. Scully levanta-se, surpresa. Mulder levanta-se eufórico.

SCULLY: - (SORRI BOBA) Ela está engatinhando!

MULDER: - (SORRI DEBOCHADO) Sim, percebi. Mas você percebeu que ela está vindo pra cá e deixando rastros de cobertura de chocolate pelo tapete?

Scully põe as mãos na cabeça. Sai atrás de Victoria. Victoria ao vê-la foge, a risos altos, engatinhando pra baixo da mesa.

VICTORIA: - (GRITA) Nah!

MULDER: - (DEBOCHADO) Rebelde essa menina... Puxou a quem?

Scully se agacha e a puxa pelas fraldas. Victoria faz beiço.

VICTORIA: - Nah!

SCULLY: - Mas que coisa mais terrível! Não senhorita, você está ficando muito desordeira! Já são 11 da noite, já passou da hora de bebê estar dormindo! Essa agitação toda significa sono.

VICTORIA: - Nah!

Scully pega Victoria no colo. Ela passa as mãos no rosto de Scully, fazendo festa e rindo. Scully fica suja de chocolate. Esfrega o nariz no nariz da filha.

SCULLY: - Você me sujou é? Que neném atrevida! Sujou a mamãe!

VICTORIA: - Mama!

Victoria pula no colo de Scully, firmando as pernas. Scully vai pra sala. Mulder levanta-se do sofá.

MULDER: - Scully, acho melhor irmos lá pra cima. Tem gente aqui hoje que só quer bagunça. Acabou com sua festa, derrubou o bolo, fez a maior sujeira na cozinha.

SCULLY: -Mulder, você não quer ir dormir, né?

MULDER: - (DEBOCHADO) Quem falou em dormir? Eu disse lá pra cima, mulher!

Scully ri. Olha pra Victoria que meio dormindo, balança o corpo nos braços dela.

SCULLY: - Hum... (DEBOCHADA) Mulder, agora é que a verdadeira festa de aniversário vai começar...

Scully sobe as escadas. Mulder, esfrega as mãos, empolgado. Liga o alarme e apaga as luzes, deixando apenas o abajur ligado. Passa pela sala e pisa sem querer em cima de um urso de pelúcia que emite um 'I want to play'. Mulder dá um berro assustado. Põe a mão no coração, indignado. Recua e começa a saltar fininho, pisando em Legos espalhados pelo chão.

MULDER: - (GRITA) Ai, ui, ai, ui, ai, ui!

Scully surge no alto da escada, furiosa.

SCULLY: - Mulder, pare de gritar, vai acordar a menina!

Mulder morde os lábios e desvia dos Legos, recuando. Vira-se de frente e dá com os 'países baixos' no carrinho. Mulder coloca as mãos no meio das pernas, mordendo os lábios, se contorcendo. Se vira e tropeça numa caixa de brinquedos, pulando num pé só, contendo o grito. Mulder ergue as mãos na defensiva.

MULDER: - Ok... Impressionante! Como uma coisinha desse tamanho faz tanta bagunça numa casa? (COÇA A CABEÇA) A quem será que ela puxou?


Residência dos Edwards – Carolina do Norte - 9:24 A.M.

Scully bate à porta. Mulder observa a varanda. A porta abre-se e um menino de 8 anos aparece, vestido numa camiseta dos X-Men, apontando uma pistola de raios. Scully sorri.

SCULLY: - Sua mãe está?

JOHNNY: - Quem quer falar?

SCULLY: - Diga a ela que somos do FBI.

JOHNNY: - Uau! Vocês são agentes de verdade?

MULDER: - (DEBOCHADO) Pra dizer a verdade não. Eu sou o Wolverine.

O menino começa a rir de Mulder. Corre pra dentro chamando pela mãe. Scully sorri. A mãe do menino, Georgia surge na porta. Fisionomia abatida, secando as mãos no pano de prato. Scully puxa a identificação.

SCULLY: - Senhora Edwards?

GEORGIA: - Sim.

SCULLY: - Agentes Scully e Mulder, do FBI. Gostaríamos de falar com a senhora sobre seu marido.

GEORGIA: - Alguma notícia dele?

MULDER: - Infelizmente ainda não. Mas precisamos de algumas informações.

GEORGIA: - Entrem por favor. Não reparem a bagunça, eu não tenho tido muito ânimo pra conservar a casa.

Mulder e Scully entram. A casa bem simples, meio bagunçada. Georgia retira alguns brinquedos e bonecos do X-Men do sofá.

GEORGIA: - Desculpem... Crianças pela casa, brinquedos espalhados por tudo.

MULDER: - Acredite, conhecemos bem a rotina...

GEORGIA: - Sentem-se. Querem um café? Estou passando agora...

MULDER: - Não, obrigado.

SCULLY: - Continue seu serviço enquanto conversamos.

Georgia vai pra cozinha e Scully a segue. Mulder observa a sala, andando de um lado pra outro. Pega um dos bonecos dos X-Men. Observa-o. Sorri.

Na cozinha, Scully escora-se na parede, de braços cruzados, enquanto Georgia prepara o café.

GEORGIA: - Ele é vendedor de computadores. Viaja muito para Ohio, tem bons clientes por lá.

SCULLY: - Sabe se ele estava metido em pirataria, softwares ilegais...

GEORGIA: - Não, não o Jake. Se quer saber se ele teria algum motivo para ter sido sequestrado, a resposta é não. Não tinha. Ele andava dentro da lei.

SCULLY: - Não sabemos se ele foi sequestrado. Só podemos considerá-lo como desaparecido. Algum amigo, nomes que possa nos dar de pessoas em Ohio com quem ele mantinha contato?

GEORGIA: - Tenho sim. Tenho os nomes dos clientes.

SCULLY: - Parentes em Ohio?

GEORGIA: - Não.

Scully aproxima-se com receio. Olha pra Georgia.

SCULLY: - Desculpe fazer essa pergunta, mas eu preciso.

GEORGIA: - ...

SCULLY: - Alguma mulher?

Georgia abaixa a cabeça. Escora-se na pia. Ergue a cabeça tentando evitar as lágrimas. Scully olha pra ela com pena.

GEORGIA: - ... Acha que... Ele armaria tudo isso pra fugir com outra? Ligaria para o 9-1-1, seria considerado desaparecido e abandonaria a família por causa de uma mulher?

SCULLY: - Desculpe, eu...

GEORGIA: - (RESSENTIDA) Você tem razão, por que não? Conhece algum homem que não seja um cretino, agente Scully? Que não tenha mentido alguma vez?

SCULLY: - ...

GEORGIA: - É. Assim Jake evitaria dizer na minha cara que não faço mais parte da vida dele e nem teria de encarar o nosso filho.

Georgia serve duas canecas de café. Coloca na mesa e senta-se. Scully senta-se ao lado dela, a ouvindo.

GEORGIA: - Estamos juntos há dez anos. Quando Johnny nasceu, eu descobri a primeira. Não parou por aí. Ele viaja muito, e eu... Eu sei que ele tem alguém em Ohio. O nome dela é Amy. Amy Clarence.

SCULLY: - ... Falou com ele sobre isso?

GEORGIA: - (SECA AS LÁGRIMAS) Não. Afinal de contas, você prefere não acreditar, dói menos, sabe? Se negar pra si mesmo, parece que é mentira e você consegue ainda se sentir um pouco aceita como mulher e ser humano.

SCULLY: - (TRISTE)

GEORGIA: - Você é dona de casa, só uma burra que fica o dia todo trancada aqui, tomando conta de seu filho, fazendo compras, limpando, passando, lavando, cozinhando, para que seu marido chegue e tenha uma vida, um lar, roupas limpas, uma boa comida na mesa... E com isso encontra pequenas provas como recibos de despesas de viagem amassados na lixeira do escritório, bilhetes nas calças, manchas de batom na camisa...

SCULLY: - Acredita que ele possa ter deixado você?

GEORGIA: - Quem sabe? Um bom mentiroso ele é, não é mesmo? Você pode perder o amor, perder o desejo, pode perder muitas coisas em um casamento. Mas ele continua por afinidade, por carinho, por respeito. Mas quando você perde a confiança, agente Scully, você nunca mais a tem de volta. E o casamento acaba. Mesmo que você tente fingir que tudo está bem. Mesmo que minta a si mesmo pra não sofrer mais... Nem ao filho ele dá mais atenção. Nunca trouxe nada para o menino quando chega de viagem...

Scully coloca a mão sobre a mão dela num gesto de cumplicidade.

SCULLY: - Tem só ao Johnny?

GEORGIA: - Sim. Está com 8 anos. Pode me perguntar o que faço ainda com Jake... Não estou com ele por mim mesma. Estou tentando manter a família que o meu filho precisa. Estou fazendo minha parte de mãe, de mulher, de esposa, mesmo que isso não ajude em nada a minha auto-estima. Mas não sou eu quem importa, é meu filho. Ele não tem culpa se o pai não vale nada. Eu faço minha parte me anulando da vida. Mas o pai dele faz isso?

Georgia leva a caneca à boca, derrubando lágrimas.

GEORGIA: - Encontre o desgraçado, agente Scully. Porque mesmo que ele não valha nada, eu ainda me preocupo com ele. Afinal, eu um dia disse: sim, eu aceito. E estou cumprindo meu juramento.


Interestadual de Ohio - 5:18 P.M.

[Som: Dire Straits – Walk of Life]

Scully olha pela janela, séria. Mulder dirige concentrado na música, batucando no volante. Dá umas olhadas pelo retrovisor. Victoria sentada na cadeira de bebê no banco traseiro, brincando com a raposinha de pelúcia, pulando como se dançasse.

MULDER: -(SORRI) Essa menina é o meu orgulho! Desde as fraldas já distingue música boa. Yes!Yes! Yes! Filha, um dia vou te apresentar um álbum do Elvis Presley. Você vai ficar doidinha!

Victoria tenta se erguer aos pulos e risadas altas. Mulder olha pra Scully.

MULDER: - Quer falar? Ainda está pensando naquele assunto.

SCULLY: - ... Que ódio!

Mulder olha pra ela.

SCULLY: - É isso o que eu não entendo em vocês homens!

MULDER: - Ei, espera aí, não generaliza! Características idênticas, comportamentos diferenciados, oras!

SCULLY: - Sim, vocês são todos iguais mesmo, sem distinção alguma. Pobre daquela mulher, sabia? Quando eu encontrar essa tal de Amy, me deixe longe dessa cadela porque eu acho que sou capaz de matá-la!

Mulder arregala os olhos olhando pra ela.

MULDER: - Scully, sabe que não pode se envolver com as pessoas. É nosso trabalho viver no meio delas, estamos ali ligados de certa forma com seus conflitos e problemas, mas...

SCULLY: - Eu sei disso! Mas é que estou com ódio desse Jake Edwards... O pior da traição não é o ato em si, é a mentira!

MULDER: - Ah nem vem com essa. Quer dizer que se eu chegasse pra você e dissesse que estava a fim de dormir com outra mulher você aceitaria porque eu não escondi isso de você?

SCULLY: - Não, não aceitaria.

MULDER: - Então não é a mentira. É o ato em si.

SCULLY: - Não aceitaria porque eu não entenderia. Se você diz que eu basto pra você por que iria procurar outra? Então você é um mentiroso de qualquer jeito.

MULDER: - ...

SCULLY: - O que quer fora do casamento? Prazer? Por favor! Não pensa no filho dele? Na coitada da mulher que está ali feito uma empregada pra ele... O prazer que se dane, quando você tem pessoas que dependem de você!

MULDER: - ...

SCULLY: - Ai que ódio! Eu deveria ter sido advogada. (VIRA-SE PRA TRÁS) Filha, seja advogada e só pegue casos de divórcio. E tire até as calças de um safado como esses!

MULDER: - (ARREGALA OS OLHOS)

SCULLY: - Graças a Deus que tenho uma filha! Vou ser amiga dela e abrir os olhos dela pra esses cretinos safados!

MULDER: - (ASSUSTADO)

SCULLY: - Você sabe que essas coisas me deixam irritada. Fico com ódio de mim mesmo por antigamente não ver as coisas como vejo hoje. Eu fui uma cretina quando me envolvi com sujeitos casados. Se arrependimento matasse! Mas você tem que estar na pele da esposa pra saber. Eu acho que mataria se uma desgraçada dessas aparecesse na sua vida. Nem é bom falar.

MULDER: - (ORGULHOSO) Mataria?

SCULLY: - Mataria. E acho que mataria você também!

MULDER: - (SORRI) Mas você diz que sou um inútil...

SCULLY: - Mas é meu homem. Só meu! É um inútil, mas é o meu inútil. E ai da infeliz que tentar atrapalhar isso.

MULDER: - Os homens argumentam que falta algo no casamento.

SCULLY: - Besteira! E eles não sabem dizer isso pra mulher? Não sabem conversar? Sexo é artigo de primeira necessidade, seus animais?

MULDER: - (PÂNICO) ... Mas tem mulheres que não sabem conversar. Elas não têm tempo pra isso.

SCULLY: - (PARANOICA) Por que diz isso? Falta algo no nosso casamento pra você?

MULDER: - (INCRÉDULO) Por que essa conversa?

SCULLY: - Falta? Seja sincero. Sabe que prefiro a sinceridade.

MULDER: - (DEBOCHADO) Hum... Deixa eu ver...

SCULLY: - Sexo. Está faltando sexo. Ai meu Deus, isso é o pivô de um adultério!

MULDER: - (PÂNICO) Scully, o que você tem hoje?

SCULLY: - Eu sei que falta. Estamos mornos. É o fim! Eu sabia! Logo você começa a procurar na rua, depois eu descubro, vem o divórcio...

MULDER: - (PÂNICO) Scully, por que tenho a impressão de que você sou eu há algum tempo atrás e eu sou você?

SCULLY: - Você não tem mais me procurado, eu também não tenho procurado você. Estamos trabalhando feito doidos pra quitar nossas dívidas e o sexo está ficando de lado.

MULDER: - Scully, quer parar com isso? Eu não estou reclamando de nada.

SCULLY: - Pior ainda!

MULDER: - Yhaaaaaaaa! Deu a louca na minha ruiva! Scully, nunca realmente se conhece bem a pessoa com quem se vive. Eu vou te dizer uma coisa.

SCULLY: - (MEDO) Fala.

MULDER: - Se o nosso casamento acabasse seria pela falta de afinidade de idéias ou pela falta de amor. Eu jamais deixaria você por outra mulher. Não se deve dizer nunca, mas eu digo. Sei o que é ser traído e sei o quanto isso dói, e mesmo que estivesse com ódio profundo de você por alguma coisa que me fez, eu não iria querer que você sentisse essa dor. Pra existir outra mulher na minha cama, só se você não estivesse mais nela. Não me tire pra cafajeste porque eu não sou. Você me ofende com isso.

SCULLY: - Você não perdeu o tesão por mim né?

MULDER: - Scully... Para. Não começa, temos uma criança dentro do carro e eu não posso mais frear de repente e me atracar em você aqui dentro.

SCULLY: - (SORRI) Sério? Sente desejo por mim?

MULDER: - (EMBARAÇADO) Scully, olha a menina aí atrás!

Scully olha pro relógio.

SCULLY: - Pare o carro!!!

MULDER: - Pra quê?

SCULLY: - Pare!!!

Mulder para o carro no acostamento. Scully desce. Abre a porta traseira e senta-se no banco de trás, pegando Victoria. Mulder vira-se pra trás, curioso. Scully abre a blusa. Mulder olha pra ela incrédulo.

MULDER: - O que foi?

SCULLY: - Hora de mamar.

MULDER: - (INCRÉDULO) Mas eu preciso parar o carro pra isso?

SCULLY: - Claro que precisa!

MULDER: - Por quê? É você quem tá dirigindo?

SCULLY: - Porque eu detesto carro andando quando vou dar de mamar a ela. Fica chacoalhando muito!

MULDER: - (DEBOCHADO) Pinguinho, diga pra sua mãe que você gosta de creme de leite batido também.

SCULLY: - Mulder, não me irrite!

Mulder sai do carro. Estica as pernas. Olha para o vazio da paisagem. Começa a comer sementes de girassol.


5:36 P.M.

Mulder anda sobre a faixa branca do acostamento na estrada, tentando se equilibrar nela, brincando. Anda alguns metros e volta, continuamente.

Dentro do carro, Scully amamentando Victoria, que brinca com a mãozinha na corrente dela. Scully faz carinhos nos cabelos de Victoria. Victoria vira o rosto, não querendo mais. Scully a coloca na cadeirinha. Sai do carro e senta-se no banco do carona. Olha pra Mulder, colocando a cabeça pra fora do carro.

SCULLY: - Ok, Mulder. Sua filha já acabou.

Mulder entra no carro.

MULDER: - Essa coisa de fast food... Deveria ter trazido uns biscoitos. Eu ia fazer a festa!

Mulder dirige o carro, de beiço. Scully olha pra ele.

SCULLY: - Hum, você fica tão sexy de beicinho...

MULDER: - (DEBOCHADO) Não vem. Hoje à noite, só vou lavar os pés!

Scully dá uma gargalhada alta. Mulder olha pra ela, segurando o riso.

SCULLY: - Vamos ter que dormir na estrada. Pode ser num lugar que tenha banheira?

MULDER: - (EMPOLGADO) Banheira, agente Scully? Você está me cantando?

SCULLY: - Claro. Faz tanto tempo que você não lava minhas orelhinhas...

Os dois riem. Mulder dá sinal de luz para o carro da frente, que anda lento. Buzina, irritado. Dá sinal de luz novamente.

MULDER: - (IRRITADO) Odeio tartarugas atrapalhando a estrada!

SCULLY: - Não são tartarugas, Mulder. Se não percebeu, é um carro do comitê estadual pela decência, a moral e os bons costumes.

MULDER: - (MAQUIAVÉLICO) Sério? Existe isso ainda?

SCULLY: - Sério. Nancy faz parte do comitê da Virgínia. Deve haver pelo país inteiro. Olha o adesivo na parte traseira.

MULDER: - (INDIGNADO) O que essas velhas querem na estrada atrapalhando o trânsito num caco velho de carro? Deviam estar em casa tomando chá com rosquinhas e tricotando meias!

SCULLY: - (RINDO) Mulder!

MULDER: - Scully, que tal uma travessura adolescente? Faz um bom tempo que não fizemos isso.

Mulder coloca a mão na cabeça de Scully e a puxa pra deitar nas pernas dele. Ela ri.

MULDER: - Quando eu ultrapassar e estiver ao lado do carro, vou dizer já. Então você levanta limpando os lábios. Se alguma das velhas enfartar, eu não paro pra oferecer ajuda...


BLOCO 2:

6:23 P.M.

Victoria dormindo. Scully dirige. Mulder com um mapa aberto na frente do rosto, dançando no banco.

SCULLY: - Admita, estamos perdidos.

MULDER: - Não. Não estamos perdidos. Eu sei que é por aqui.

SCULLY: - (DEBOCHADA) Claro que sabe, você nasceu em Ohio pra saber... Por que está dançando?

MULDER: - (FECHA O MAPA) Droga!

SCULLY: - O que foi?

MULDER: - Não avistou nenhuma placa de café, posto de gasolina...

SCULLY: - Mas temos bastante combustível.

MULDER: - Eu sei. Tradução: preciso ir a um banheiro!

SCULLY: - Lamento Mulder, mas não vejo banheiro nenhum nessa estrada.

MULDER: - Pare o carro!!!

Scully para no acostamento. Mulder desce. Scully suspira. Vai para o banco do carona. Apoia-se na janela e fica o admirando.

SCULLY: - (DEBOCHADA) Quer ajuda, Mulder?

MULDER: - Não precisa. Já sou grandinho.

SCULLY: - Que inveja! Vocês podem fazer isso em qualquer lugar.

MULDER: - Vai ficar me olhando é?

SCULLY: - E daí? Gosto de olhar.

MULDER: - Vou escrever seu nome!

SCULLY: - (RINDO) Não faria isso.

MULDER: - Ah faria. Sabia que é superstição masculina?

SCULLY: - O quê? Escrever o nome da namorada com xixi?

MULDER: - É.

SCULLY: - (RINDO/ CURIOSA) Por quê?

MULDER: - Porque assim ela fica com você, oras.

SCULLY: - Que superstição boba! Parece minha avó que dizia que pra segurar um homem você deve servir chá de calcinha!

MULDER: - (DEBOCHADO)Que horror! Você não fez isso comigo né?

SCULLY: - Não. Mas poderia.

MULDER: - (DEBOCHADO) Prefiro saborear a fruta a tomar chá da embalagem.

SCULLY: - (RINDO) Mulder!

Scully volta pro banco do motorista. Mulder entra no carro.

SCULLY: - (CURIOSA) Escreveu Dana ou Scully?

MULDER: - (RINDO) Não vou dizer.

SCULLY: - Bobo! Vou escrever seu nome também. Mas que vai ser difícil vai!

Mulder começa a rir. Olha pra ela.

SCULLY: - O que foi?

MULDER: - (SORRISO BOBO) Nada. Sou apaixonado por você. Não liga.

Os dois trocam um beijo longo. Scully liga o carro e toma a estrada.


7:11 P.M.

[Som: Bryan Adams – When You're Gone]

Mulder cochila. Scully dirige. Victoria sentada, olhando curiosa pra embalagem de CD que tem nas mãos, uma nova descoberta. Scully algumas vezes olha pra trás. Victoria sorri, mordendo a embalagem de CD. Scully sorri e volta a atenção pra Mulder, que dorme de boca aberta. Scully leva a mão até a perna dele, o afagando. Volta a atenção pra estrada.

SCULLY: - (CANTAROLANDO) Baby when you're gone...

VICTORIA: - (CANTANDO) one...

SCULLY: - (SORRI/ CANTAROLANDO) I'm realize in love...

VICTORIA: - ove...

SCULLY: - The days go on and on...

VICTORIA: - on... on...

SCULLY: - And the nights just seem so long...

VICTORIA: - ong!

Scully começa a rir. Olha pelo retrovisor.

SCULLY: - Docinho, nunca cante Bryan Adams na frente do seu pai ou você vai fazer ele ter um ataque cardíaco. Se ele soubesse que você já canta Bryan Adams antes de Elvis Presley, se suicidaria e poria a culpa em mim!

VICTORIA: - (RI ALTO) Ox! Ox!

O carro passa sobre alguma coisa, e eles saltam. Mulder acorda assustado.

MULDER: - Pare o carro!!!

Scully olha pra trás, Victoria olha assustada pra ela. Scully para no acostamento, nervosa. Respira fundo.

MULDER: - Quem você atropelou?

SCULLY: - Não sei! Eu não vi nada na estrada! O carro saltou!

MULDER: - (ENCIUMADO) Tem certeza? Talvez estivesse muito compenetrada na voz rouca do seu amante canadense aí.

Scully olha pra ele com um beiço. Desliga o CD. Mulder pega a lanterna do porta luvas e desce. Victoria vira o rosto, acompanhando Mulder com um beiço.

VICTORIA: - (RECLAMANDO) Ox...

Mulder checa os pneus, dando a volta no carro. Então mira lanterna na estrada. Começa a voltar pela estrada. Scully desce do carro e vai atrás de Mulder. Mulder ilumina a estrada com a lanterna, procurando alguma coisa.

MULDER: - Nada...

SCULLY: - O carro saltou como se eu tivesse atropelado um animal.

MULDER: - É, mas não tem nada aqui.

SCULLY: - (OLHANDO PRO CHÃO) Que estranho!

MULDER: - Vamos seguir. Precisamos achar um maldito motel pra descansar.

Os dois voltam em direção ao carro, saindo do foco da câmera. O foco permanece na estrada. Aos poucos revela a estranha barreira invisível que se movimenta como água, atravessando a estrada de um lado a outro, como uma parede.


8:11 P.M.

Scully dirige. Passa por uma placa: 'Rancho do Tio Bill – Motel e Fast Food'. Scully cutuca Mulder, que dorme no banco, com o rosto caído. Mulder acorda-se.

SCULLY: - Achei um motel. Estamos perto.

Mulder se espreguiça. Olha pra trás.

MULDER: - Pobre da minha filhinha! Dormindo sentada. Isso é uma maldade, Scully!

SCULLY: - Fiquei com medo de colocá-la deitada no banco depois do que houve.

MULDER: - Estou com fome.

SCULLY: - Eu também.

MULDER: - Estou imaginando um daqueles hambúrgueres, cheios de picles, maionese, catchup, mostarda... Batatinha frita. E uma Coca-Cola gelada tamanho família.

SCULLY: - Mulder, por favor!

MULDER: - Não me impeça! Quando você estava grávida eu tive que me fazer de doente pra te proteger. Agora vou me dar ao direito de engordar tudo que eu quero!

SCULLY: - Já sabe. Se passar de 100 quilos não sobe mais em mim.

MULDER: - Ah, não me preocupo com isso. Se passar dos cem, tenho outros métodos. Você não é criativa, Scully.

SCULLY: - Palhaço.

MULDER: - Tio Bill??? Que raios de lugar é esse?

SCULLY: - Hum... Alguma coisa a ver com country.

MULDER: - (DEBOCHADO) Sempre imaginei você numa saia curta de couro com franjas, botas acima dos joelhos e uma daquelas jaquetas que deixa os peitos todos à mostra.

SCULLY: - (OLHA PRA ELE) Isso envolve alguma coisa como laçar você?

MULDER: - Melhor nem continuar com esse assunto. Nunca brinque com a imaginação fértil de um homem.

SCULLY: - Quem disse que estou brincando com sua imaginação? Essa imaginação é minha, oras!

Scully estaciona o carro. Mulder desce. Abre a porta traseira e pega Victoria nos braços. Pisca pra Scully.

MULDER: - (ENIGMÁTICO) Me aguarde. Qualquer dia desses, você vai ter uma surpresa.

Scully ergue as sobrancelhas.


Rancho do Tio Bill – Motel e Fast Food - 8:32 P.M.

[Som: Old 97's - Victoria]

Mulder sai do quarto e caminha até a recepção. O homem de meia idade, num chapéu e roupas de cowboy com franjas, olha pra ele. Abre um sorriso revelando o dente de ouro.

TIO BILL: - Olá, forasteiro! Não gostou do quarto?

MULDER: - Tem algum outro telefone público? Esse aí da frente não funciona.

TIO BILL: - O mais próximo fica há 4 milhas daqui.

MULDER: - O que houve com os telefones? Por que não consigo fazer nenhuma ligação?

TIO BILL: - Há uns dois dias pararam de funcionar, depois da tempestade. Mandei um homem até a cidade reclamar, mas ele ainda não voltou. Acredite, forasteiro, mandar peões à cidade implica em não saber em que confusões estão se metendo.

Mulder sai da recepção, puxando o celular. Leva ao ouvido.

MULDER: - Que droga! Não pega mesmo!

Mulder guarda o celular e caminha até a lanchonete. Entra.

Scully sentada com Victoria em seu colo. Lanches sobre a mesa. Mulder senta-se.

MULDER: - Não tem telefones por aqui. Não funcionam, foi tudo o que o 'Tio Bill Dente de Ouro' pode me dizer.

SCULLY: - Ah, amanhã ligamos para o Skinner.

MULDER: - Nem os celulares... Estão com interferência... Tem alguma coisa suspeita por aqui, Scully.

SCULLY: - Mulder, talvez sejam os 'alienígenas da companhia telefônica' que não consertaram os cabos.

MULDER: - E o celular?

SCULLY: - Hum... Os "alienígenas das operadoras"? Segure Victoria, eu vou ao banheiro.

Scully levanta-se e entrega Victoria pra Mulder.

MULDER: - (DEBOCHADO) Não se esqueça de escrever meu nome. Nas paredes!

Scully olha pra trás rindo, e se dirige pro banheiro. Mulder olha pra Victoria que tenta desesperada alcançar as batatas fritas.

MULDER: - (SORRI) Você quer uma? Quer?

VICTORIA: - Da da da!

Mulder dá uma batata pra ela. Victoria põe na boca. Retira. Observa, com sua fisionomia "Scully", tateando entre os dedos a batata, mexendo os lábios, sentindo o gosto. Olha pra Mulder que a observa. Leva a batata na boca, num sorriso.

MULDER: - Bom não é?

Victoria começa a chupar a batata frita. Mulder ajeita o cabelo dela. A garçonete Doralee, uma senhora de seios fartos e cabelo loiríssimo, em roupas e chapéu country, se aproxima servindo os refrigerantes. Olha pra Victoria.

DORALEE: - Olá neném bonito!

Victoria tira a batata da boca abrindo um sorriso simpático de orelha a orelha.

DORALEE: - Tem uma filha muito simpática.

MULDER: - Obrigado. Não puxou ao pai, com certeza.

DORALEE: - (SORRI) Vão ficar muito tempo?

MULDER: - Só essa noite.

DORALEE: - Se precisarem usar a cozinha pra fazer algum mingau pro neném, estejam à vontade.

MULDER: - Não será preciso... Isso aqui é tão calmo assim? Numa rodovia como essas não deveria haver mais movimento?

Scully se aproxima sentando-se.

DORALEE: - Geralmente isso aqui nesse horário é um horror. Caminhoneiros, viajantes... Tiveram sorte, porque geralmente não temos quartos vagos. Mas há uns dois dias está assim parado, acho que a tempestade afastou as pessoas. Devem ter parado alguns quilômetros atrás.

Doralee se afasta. Mulder olha pra Scully. Scully bebe o refrigerante tranquilamente.

MULDER: - Há dois dias tinham hóspedes e uma lanchonete lotada.

SCULLY: - E daí?

MULDER: - E há dois dias tinham telefone.

SCULLY: - O que está dizendo?

MULDER: - Tem alguma coisa fedendo aqui, Scully.

SCULLY: - Pode ser verdade. Acho que está na hora de trocar Victoria.

MULDER: - (PÂNICO) Número 1 ou número 2?

SCULLY: - Não faço ideia!

MULDER: - (PÂNICO) Acho que... número 1.

Mulder olha pra Victoria que sorri pra ele. Olha pra suas calças.

MULDER: - Me diz uma coisa, Scully. Isso que ela está usando não deveria ser fralda descartável?

SCULLY: - Algumas vezes a fralda vaza.

MULDER: - Obrigado Scully. Obrigado por me avisar disso quando ela está no meu colo.

Victoria leva a batata na boca de Mulder. Mulder dá uma mordida.

MULDER: - Você vai ver, sua malandrinha!

SCULLY: - Não brigue com ela. Puxou ao pai dela, não consegue se segurar.

Mulder faz careta pra Scully. Scully leva o refrigerante à boca, rindo. Mulder levanta-se, erguendo Victoria e olhando pra suas calças.

MULDER: - Pinguinho, você está vazando!

SCULLY: - (RINDO)

MULDER: - Deixa. Eu vou rir quando ela fizer isso em você.

SCULLY: - Não vai fazer. Eu sei trocar fraldas. Ou esqueceu quem trocou Victoria por último?

MULDER: - Então me ensina como se pode trocar decentemente um bebê dentro de um carro em movimento, enquanto ela não para tentando pegar o aparelho de CD, fugindo pro colo da mãe, engatinhando e rindo alto?

SCULLY: - Espere tentar trocá-la quando aprender a andar.

MULDER: - (PÂNICO) ... Desisto! É demais para o meu QI. Ainda bem que não usam bebês em testes na Academia. Ou eu nunca seria agente federal!


11:23 P.M.

Mulder enche a banheira. Acende as velas. Começa a tirar a roupa. Entra na banheira. Fecha os olhos.

Scully entra no banheiro, desligando as luzes. Apenas as luzes das velas. Scully tira a roupa e entra na banheira, se aconchegando entre as pernas de Mulder. Pega a esponja e ensaboa os braços.

MULDER: - Admita. Além de refrescar, isso é relaxante.

SCULLY: - Muito. Estou com meu traseiro doendo de ficar dentro daquele carro.

MULDER: - Não sinto meu pé direito.

SCULLY: - Também, você vem feito louco na estrada, só sabe aonde fica o acelerador.

Mulder olha debochado pra ela.

MULDER: - Meninos gostam de aceleradores, Scully.

SCULLY: - E meninas gostam de meninos que preparam banho gostoso pra elas.

MULDER: - Onde está 'a fera'?

SCULLY: - Dormiu. A coloquei num colchão, no chão. Tenho medo que se revire e caia da cama. E estou com preguiça de buscar o carrinho no carro.

MULDER: - Enfim sós?

SCULLY: - Hum... (VIRA-SE PRA ELE) Enfim sós.

Mulder coloca a língua na boca de Scully, a devorando num beijo. Desliza as mãos pelo corpo dela. Scully se ajeita, sentando-se sobre Mulder. Mulder agarra os seios dela, ainda a beijando com fúria. Scully passa as mãos pelas costas dele. Mulder solta os lábios dela, levando a língua até o seio de Scully, enquanto o mantém firme na mão.

SCULLY: - (SORRI) Hum... Agora não pode reclamar de falta de seios fartos...

MULDER: - (BRINCANDO COM A LÍNGUA/ SORRI) Nunca reclamei.

SCULLY: - Ohn, Mulder, estava com saudade disso...

Scully envolve os braços na cabeça de Mulder, o mantendo contra si. Inclina a cabeça para trás. Mulder desce as mãos pelas costas dela pra dentro da água. Scully dá um pulo. Mulder olha pra ela, curioso.

MULDER: - O que foi?

SCULLY: - (SORRI) Nada. Faz tempo que não sinto suas mãos no meu traseiro. Me arrepiei.

MULDER: - Hum... (BEIJANDO O PESCOÇO DELA) Vou arrepiar você todinha hoje...

Mulder ergue Scully. Scully apoia as mãos no ombro dele, assustada.

SCULLY: - Mulder, não... Na água não...

MULDER: - Por que não?

SCULLY: - Mulder, por favor! Vai doer! Estou semivirgem de novo!

MULDER: - (RINDO) Vai nada. Eu ajudo você.

SCULLY: - Mulder, não... Mulder, por favor, na água não!

Mulder puxa o tampão da banheira e a água começa a descer. Scully olha pra ele, incrédula.

MULDER: - Se o problema é a água, bye bye pra ela.

SCULLY: - Mulder você não presta! Então vamos pra cama!

MULDER: - Não, Pinguinho está no quarto.

SCULLY: - Ela tá dormindo.

MULDER: - E daí? Não vou me sentir bem com isso.

Mulder olha maroto pra Scully. Então assopra as velas.

O banheiro fica no escuro. Ouvimos apenas a voz deles.

SCULLY: - Mulder...

MULDER: - ...

SCULLY: - Ai Mulder!

MULDER: - Psiu! Vai acordar a menina.

SCULLY: - Mulder, eu juro que vou enterrar minhas unhas nessa banheira ou então nas suas costas! Mulder... ohm, Mulder... Mulder tá doendo!

MULDER: - Não... Não tá não. (OFEGANTE) Ohhh céus!

SCULLY: - Tá sim!

MULDER: - Tá, eu paro.

SCULLY: - Não! Não para não!

MULDER: - ... Quem sabe assim...

SCULLY: - Oh sim! Assim sim! Hum, Mulder...


12:32 A.M.

Mulder entra no banheiro enrolado numa toalha, cabelos molhados.

MULDER: - A droga toda é que se o celular funcionasse, podíamos pelo menos adiantar a investiga... O que está fazendo?

Scully preparando a banheira.

SCULLY: - Preparando o meu banho.

MULDER: - Mas já tomamos banho!

SCULLY: - Não. Primeiro você me enganou, tirou toda a água da banheira e abusou de euzinha. Depois me convidou pra uma chuveirada e eu pobrezinha deixei você lavar minhas orelhinhas como uma inocente e acabei sendo sexualmente molestada. Agora, eu vou tomar um bom banho como era o meu plano.

Scully retira a toalha e entra na banheira. Respira fundo, se ajeitando. Mulder a observa debochado. Scully olha pra ele, depois coloca uma toalhinha sobre os olhos.

SCULLY: - Boa noite, Mulder.

Silêncio. Scully imóvel na banheira. Mulder tira a toalha numa fisionomia sacana e entra na banheira. Scully tira a toalhinha do rosto.

SCULLY: - Eu não acredito! Mulder, sai daqui!

MULDER: - Ah, Scully...

SCULLY: - (RINDO) Mulder, não!

Mulder começa a beijá-la.

SCULLY: - Mulder, por favor, tenha piedade! Eu só quero tomar um banho em paz! Sai, sai tarado! Me larga, Mulder! Eu tenho direito a um banho relaxante!

MULDER: - Vou te fazer relaxar todinha.

SCULLY: - (RINDO) Não! Não estou interessada nos seus métodos de relaxamento! Sai, Mulder! Eu não posso mais ficar nua que você já vem pra cima me 'agredindo'? Que homem mais tarado!

Mulder senta-se aos pés da banheira. Puxa a toalhinha das mãos dela e põe sobre o rosto.

MULDER: - Boba! Chata!

SCULLY: - Não é justo! (PUXA A TOALHINHA) Essa toalha é minha! Sai fora, abusado!

MULDER: - (DEBOCHADO/ PUXA A TOALHINHA DE VOLTA)

SCULLY: - Ladrão de toalhas! Coisa feia, Mulder! (PUXA A TOALHINHA, ACERTANDO NELE)

MULDER: - (PISCA O OLHO) Vem aqui.

SCULLY: - (RINDO) Não!

MULDER: - Ah vem... Só vou te abraçar.

SCULLY: - Não mesmo.

MULDER: - Sério. Promessa. Palavra de Fox.

SCULLY: - Raposa não tem palavra, sabia? Não é bicho confiável, até as fábulas infantis dizem isso!

Scully desliza pela banheira deitando a cabeça contra o peito dele. Mulder a abraça.

MULDER: - Sério, isso é muito bom mesmo. Acho que vou dormir aqui.

SCULLY: - Hum... Gostei da ideia.

Mulder dá um sorriso sacana. Começa a beijá-la. Deixa o braço pender pra fora da banheira.

SCULLY: - (FRANZE O CENHO) Mulder, não! Você prometeu.

Mulder arregala os olhos dando um grito que ecoa pelo motel inteiro.

Scully pula pra trás, apavorada. Mulder retira a mão que pendia pra fora da banheira.

MULDER: - (ASSUSTADO/ NERVOSO) Tem alguma coisa ali no chão! Me lambeu!

SCULLY: - Mulder, para com isso, você assiste filmes de terror e fica desse jeito!

MULDER: - (ASSUSTADO) Tem sim! Tem alguma coisa do lado de fora dessa banheira que lambeu a minha mão!

Mulder olha assustado pra fora da banheira.

Close em Victoria sentada no chão, só de fraldas, olhando pra ele, num sorriso.

MULDER: - (INCRÉDULO) Eu não acredito! Você não dorme?

Scully começa a rir. Estende-se pra fora da banheira e pega Victoria.

SCULLY: - Vem 'monstro lambedor de mãos'. Antes que seu pai tenha um ataque.

Scully retira as fraldas de Victoria. Recosta-se contra Mulder. Coloca Victoria recostada em seu peito. Victoria encosta a cabeça no ombro de Scully. Scully leva água com a esponja nas costas da filha.

SCULLY: - Ela tá com calor. Tá toda suada.

MULDER: - (INCRÉDULO/ FEITO CRIANÇA ENCIUMADA) Eu sei, mas ela não dorme? É filha de vampiro?

SCULLY: - Mulder!

MULDER: - Sabe o que você é, Pinguinho? Você é algo que eu chamaria de anticoncepcional ambulante.

SCULLY: - (RINDO) Mulder!

MULDER: - Fala Pinguinho, você tá de mal comigo, não é? É minha vez, sabia?

Victoria ergue a cabeça e olha rindo pra Mulder.

MULDER: - (SEGURA O RISO) Sim senhora, e não ria! Combinamos que Scully é sua durante o dia. Durante a noite, Scully é minha.

VICTORIA: - Mama!

MULDER: - É essa mesmo. Agora é noite, portanto trate de ir dormir.

VICTORIA: - Mama! Mama!

Victoria segura o nariz de Mulder. Scully aperta a esponja deixando a água cair nas costas dela.

MULDER: - (FANHO) Axim nhão dá! Xolta o meu nãrix.

VICTORIA: - (RINDO) Ox!

MULDER: - Por que não me chama de papai?

VICTORIA: - Ox!

MULDER: - Rebelde! Igualzinha a sua mãe! Mulher da família Scully mesmo!

VICTORIA: - (PULANDO NO COLO DE SCULLY/ OLHANDO PRA MULDER) Ox! Ox! Ox!

MULDER: - Ah você quer farra não é? Eu vou pegar você.

Victoria dá um grito, rindo. Se inclina pra trás. Scully a segura. Ela pula, ri, foge de Mulder, se escondendo nos cabelos de Scully. Mulder sobe a mão pelas costas de Scully imitando uma aranha. Victoria olha pra mão dele, arregalando os olhos.

MULDER: - Eu vou pegar essa menina folgada...

VICTORIA: - (GRITA RINDO) Nah!

MULDER: - Eu pego...

Scully ri.

MULDER: - Eu vou pegar...

VICTORIA: - Nah!

MULDER: - Pego sim...

VICTORIA: - Nah!

Mulder agarra Victoria a tirando dos braços de Scully. Ela balança as pernas, rindo e gritando. Mulder esfrega o nariz no nariz de Victoria.

MULDER: - Eu disse que pegava!

VICTORIA: - Nah!

MULDER: - Peguei sim.

Scully levanta-se da banheira.

SCULLY: - Ok, vocês dois, seus Mulders, conseguiram atrapalhar meu banho. Xô, os dois pra fora dessa banheira!

VICTORIA: - Nah!

SCULLY: - Ah é? Você também, é?

Scully pega Victoria que faz beiço.

SCULLY: - Não mesmo. Vamos nos secar, colocar uma roupa e dormir, que eu e seu pai temos que acordar cedo pra trabalhar. E você, Mulder, o mesmo! Fora da água! Xô!

MULDER: - (DEBOCHADO) "Nah"!

Scully atira a toalhinha nele.

MULDER: - Au!

Scully ri. Vai pro quarto levando Victoria que se vira pra trás olhando pra Mulder e rindo.

VICTORIA: - Au!

Mulder balança a cabeça e ri. Fecha os olhos. Ajeita-se na banheira.

MULDER: - Ah... Acho que deveria ter sido um sapo nessa vida!

SCULLY: - Mulder, onde está a sacola de Victoria?

MULDER: - Sobre a poltrona, acho que joguei meu terno em cima.

Mulder pega a esponja. Mergulha na água, aperta, e fica observando a água correr. Olha pro chão. Victoria vem rapidamente engatinhando até a banheira. Mulder olha pra ela.

MULDER: - Nah!

VICTORIA: - Dah!

MULDER: - Nah!

VICTORIA: - Dah!

Victoria vai se firmando nas bordas da banheira e fica em pezinho levando a mão pra Mulder.

VICTORIA: - Dah!

MULDER: - Scully, venha aqui ver isso! Não pode perder!

SCULLY: - Não posso, estou procurando as fraldas. Acho que perdi as fraldas!

MULDER: - Não perdeu algo mais importante, tipo... Quem usa as fraldas?

Scully entra no banheiro. Põe as mãos na cabeça.

SCULLY: - Eu não acredito! Como ela saiu da cama?

MULDER: - É... Acredite. Imagina quando começar a caminhar...

SCULLY: - Mulder, aquela coisa da coleira ainda está de pé?

VICTORIA: - (BEIÇO) Nah!


BLOCO 3:

2:35 A.M.

[Som: Old 97's – Victoria]

Scully recostada na cama, a cabeça pendendo de sono. Mulder deitado, abatido, observando Victoria sentada entre eles, batendo as mãos na cama e fazendo festa.

MULDER: - Nos ferramos.

SCULLY: - Eu sei.

MULDER: - Quando você me disse que crianças não dormem quando são bebês, eu pensava que se referia a fraldas sujas, cólicas ou fome.

SCULLY: - Esqueci dessa parte...

Victoria puxa o lençol e o morde. Então desvia a atenção pro travesseiro aos pés da cama. Começa a pular, tentando pegar o travesseiro e engatinha em direção a ele. Mulder a segura pelas fraldas.

MULDER: - Nah!

VICTORIA: - (BEIÇO) Dah!

MULDER: - (BOCEJA) Scully, você sabe onde se desligam as pilhas?

SCULLY: - (OLHA PRA VICTORIA) Queria saber, mas não pari o manual de instrução junto.

MULDER: - (OLHA PRA SCULLY/ DEBOCHADO) Sua burra! Esqueceu do principal!

Scully olha pra Victoria e começa a rir.

SCULLY: - Deus! Mulder eu não entendo! Você diz que foi uma criança danadinha, eu também fui. Mas ela não é danadinha, ela é totalmente terrível e precoce! E só tem seis meses!

MULDER: - Vamos pagar tudo que fizemos aos nossos pais quando crianças... Pinguinho, eu preciso trabalhar. Dá uma chance, fica quietinha, dorme. Ahn? Pode ser?

Scully pega Victoria. Deita-a entre eles. Victoria faz cara de ranço, tentando se erguer. Scully a segura, deita-se de lado e retira o seio pra fora da camisola. Victoria vira-se pra ela e começa a mamar. Scully boceja, levando a mão até o bumbum da filha, a segurando. Victoria põe a mão sobre o seio de Scully e começa a fechar os olhos, em intervalos. Mulder se vira pra Scully, mal aguentando os olhos abertos.

MULDER: - Scully, dobre as pernas pra frente. Vou dobrar as minhas. Assim se ela acordar, está presa entre a gente e vamos senti-la se tentar ir pro chão.

Scully meio dormindo dobra as pernas. Mulder também.


7:38 A.M.

Mulder se arrasta de sono até o carro, com a sacola de bebê no ombro. Scully, meio dormindo vem com Victoria nos braços. Mulder abre a porta traseira e atira a sacola pra dentro. Scully ajeita a menina na cadeirinha. Victoria bate palmas, completamente animada.

MULDER: - Que noite! Calor, mosquitos e criança insone!

SCULLY: - É a vida de quem tem filhos, Mulder.

MULDER: - E eu me achava azarado por ficar sozinho num sofá assistindo filme pornô! Eu era feliz e não sabia!!!

SCULLY: - Ora, Mulder, não reclame. Isso tem suas compensações.

MULDER: - (DEBOCHADO) É. Seja gentil com seus filhos. Eles escolherão seu asilo.

Os dois entram no carro.

SCULLY: - Quer que eu dirija?

MULDER: - Não. Eu dirijo. Você dorme e eu faço o primeiro turno.

SCULLY: - Mulder não durma na estrada!

MULDER: - Tá me achando irresponsável é?

Mulder liga o carro.

MULDER: - Vamos logo encontrar essa tal de Amy aí, sei lá do quê, resolver esse caso e ir pra casa dormir! E me lembre de no meio da estrada parar e comprar chá de maracujá pra Pinguinho.


8:11 A.M.

[Som: Old 97's - Victoria]

Victoria balança o corpo de um lado pro outro, quase dormindo. Scully dorme. Mulder dirige abrindo os olhos forçadamente. Olha para a paisagem. Vê uma vaca bege pastando.

MULDER: - Pinguinho, olha lá a vaquinha!

Nenhuma resposta. Mulder olha pra trás.

MULDER: - Ah é assim, safadinha? Agora você dorme né?

Mulder sorri. Continua dirigindo.


8:31 A.M.

[Som: Old 97's - Victoria]

Mulder sonolento passa pela placa na estrada: 'Rancho do Tio Bill – Motel e Fast Food'.


9:11 A.M.

[Som: Old 97's - Victoria]

Scully e Victoria dormindo. Mulder dirigindo, já numa fisionomia de quem está automaticamente programado. Olha para a paisagem. Vê a vaca bege pastando.

MULDER: - Vaquinhas...


9:31 A.M.

[Som: Old 97's - Victoria]

Mulder, olhar fixo na estrada, passa pela placa: 'Rancho do Tio Bill – Motel e Fast Food'.


10:11 A.M.

Mulder já quase dormindo ao volante. Acorda se recompondo, olhando pra paisagem e a vaca bege pastando. Mulder continua dirigindo, mas acompanha com os olhos a vaca pela janela, intrigado. Para o carro no acostamento. Scully se acorda, descabelada. Mulder desce do carro.

SCULLY: - O que foi? Banheiro de novo?

MULDER: - Não. Aquela vaca.

SCULLY: - (MEIO DORMINDO) O que tem Diana Fowley?

Scully sai do carro. Olha pra Mulder. Mulder aponta pro campo. Scully, meio dormindo tenta olhar pro campo.

MULDER: - Tô falando daquela vaca.

SCULLY: - O que tem aquela vaca Mulder?

MULDER: - Eu já a conheço.

Scully olha pra ele. Aos poucos, fatigada de cansaço, cabelos revirados, começa a abrir um sorriso. Então dá altas gargalhadas. Mulder olha sério pra ela.

SCULLY: - (DEBOCHADA) Sei. Você parou pra cumprimentar a vaca, porque ela é sua conhecida... É uma tia sua que mora em Ohio, Mulder?

MULDER: - Não tem graça, Scully. Eu já passei por essa vaca!

SCULLY: - Mulder, pelo amor de Deus! Eu dirijo e você dorme um pouco porque já está vendo coisas!

MULDER: - Mas eu juro que já passei por aqui e vi aquela mesma vaca bege pastando naquele mesmo lugar!

SCULLY: - Talvez seja um clone da vaca. Ora Mulder, me poupe! Existem centenas de vacas beges em Ohio!

MULDER: - Mas não aquela! É a mesma, eu sei disso.

SCULLY: - Mulder entra nesse carro agora!

Mulder entra no carro, intrigado. Scully dirige. Mulder, vencido pelo sono, dorme.


11:11 A.M.

[Som: Old 97's - Victoria]

Scully dirige o carro. Olha pra Mulder que ronca no banco do carona, com a boca aberta, gravata frouxa e camisa aberta até metade do peito. Scully indignada o cutuca. Ele se vira, resmungando, se abraça no banco e dorme, parando de roncar. Scully olha pra estrada. Olha pro campo. A vaca bege pastando. Scully sorri.

SCULLY: - A vaquinha do Mulder... Tadinho do meu homem! O que faz o estresse!


11:31 A.M.

[Som: Old 97's - Victoria]

Victoria brincando com a raposinha. A segura pelo rabo e dá com ela contra o banco do carona. Mulder dormindo no banco do carona, de boca aberta. Scully animada, cantarolando, afagando a perna de Mulder.

SCULLY: - (CANTAROLA) This is the story of Victoria's heart... You might think it's stupid, but I still think it's art... She lost her lover to an accident at sea... She pushed him overboard and ended up with me...

Scully passa pela placa: 'Rancho do Tio Bill – Motel e Fast Food'. Observa curiosa.

SCULLY: - Nossa! Eles tem filiais por aqui, que chique! E as construções idênticas!


12:11 P.M.

[Som: Old 97's - Victoria]

Scully dirige.

SCULLY: - Ai filha, no próximo fast food paramos que mamãe tá com fome e você deve estar com fome também.

VICTORIA: - Da da da da...

Scully olha pra vaca bege pastando no campo. Olha pro retrovisor, intrigada. Para o carro no acostamento. Cutuca Mulder. Mulder se acorda, na defensiva.

MULDER: - Ahn, o quê? Quem?

SCULLY: - Mulder... A vaca...

Mulder olha pro campo, coçando a cabeça, meio dormindo.

MULDER: - Puxa vida, Scully! Eu dormi e você ainda não tirou o carro daqui?

SCULLY: - Mulder... São 12:11 da tarde. Eu estou dirigindo há uma hora. E já vi essa vaca duas vezes.

Mulder desce do carro. Scully também. Ficam no meio da estrada, olhando em direções opostas.

MULDER: - Algum carro passou por nós enquanto você dirigia?

SCULLY: - Não. E você?

MULDER: - (OLHA PRA ELA NERVOSO) Não.

SCULLY: - Mulder... O que está acontecendo? Estamos dando voltas, perdidos?

MULDER: - Estamos com sono. Deve ser isso. E essa vaca aí é a prima das outras.

Mulder entra no carro. Scully senta-se no carona, intrigada. Mulder dirige.

SCULLY: - Acha que...

MULDER: - Não, besteira!

SCULLY: - Mas por que não chegamos nunca aonde devemos chegar?

MULDER: - Faz o seguinte: Me ajude a prestar atenção nos pontos por onde passamos.


1:01 P.M.

Mulder dirigindo. Scully observando a paisagem.

MULDER: - Devemos estar perto. Nos atrasamos pra sair do motel. Foi isso. Por isso tanta demora.

O carro passa pela placa novamente: Rancho do Tio Bill – Motel e Fast Food.

SCULLY: - Mulder...

MULDER: - O que foi?

SCULLY: - (NERVOSA) Pode haver dezenas de vacas bege, mas quantos Ranchos do Tio Bill podem existir?

Mulder observa a placa que passa. Olha pra Scully.

MULDER: - Só tem um jeito de tirar isso a limpo, Scully.

Mulder entra com o carro no estacionamento do motel. Desce. Scully sai do carro. Mulder indignado entra na recepção. Aproxima-se do balcão. Bate feito doido na campainha sobre o balcão. Uma senhora vem atendê-lo, em roupas country. Mulder ao vê-la, ri de si mesmo.

SENHORA: - Pois não?

MULDER: - Desculpe... Eu... Eu achei que... (RI DE SI) Deixa pra lá.

A fisionomia de riso se transforma em pavor quando Mulder vê Tio Bill entrando na recepção com um laço em volta do ombro e arreios de cavalo na mão.

TIO BILL: - Ei, forasteiro, você voltou! Esqueceu alguma coisa?

Corte.


Rancho do Tio Bill – Motel e Fast Food -1:12 P.M.

Mulder anda pelo estacionamento, com as mãos na cintura, tenso. Scully olha pro celular e atira no banco traseiro do carro.

SCULLY: - Continua não funcionando.

MULDER: - Como todos os telefones. Eu não acredito!

Mulder passa as mãos na cabeça.

MULDER: - Estamos andando em círculos a manhã toda!

SCULLY: - Mulder, mas isso não pode estar acontecendo! Vai ver tomamos...

MULDER: - O caminho errado?

SCULLY: - (SUSPIRA) Não tinha como fazer isso. A estrada é reta, não tem atalhos. Deus, isso é loucura!

MULDER: - Talvez isso justifique o porquê nenhum carro passou pela gente, porque os telefones não funcionam, porque todas as vacas são beges e porque o tio Bill ali dentro é o mesmo tio Bill com dente de ouro, franjinhas, feio e chato!!!

SCULLY: - Acho que temos uma teoria. Parece loucura, mas não consigo ver outra coisa.

MULDER: - Estamos presos, Scully. Era isso o que Jake Edwards tentou dizer.

SCULLY: - Mas onde está Jake Edwards? Deveria estar aqui.

MULDER: - (NERVOSO) Scully vamos por etapas. Uma pergunta de cada vez, porque estou sinceramente "pirando da batatinha"!

SCULLY: - Mulder, precisa se acalmar. Vamos pro quarto, ok? Pegue algo pra gente beber, vou tirar Victoria do carro.

Mulder caminha em direção a lanchonete, nervoso. Scully vai pro carro.

SCULLY: - Se pelo menos o celular começasse a funcionar...

Scully olha pra dentro do carro, incrédula. Suspira. Abre a porta do carro. Olha seriamente pra Victoria que morde o celular todo babado, rindo pra ela.

SCULLY: - (SUSPIRA/ SEGURANDO O RISO) Agora mesmo é que não vai funcionar... Filha, você tem algum problema de fixação oral como o seu pai? Arrisco sementes de girassol?


5:29 P.M.

Scully sentada na cama, raspando uma maçã com uma colher de café. Coloca na boca de Victoria, sentada na cama, batendo as mãos nas pernas rechonchudas.

VICTORIA: - Dah!

SCULLY: - Calma aí, você é mais rápida do que eu! Que coisa! Bem filha de Mulder guloso mesmo!

Scully coloca a colher na boca de Victoria. Ela se baba, deixando a maçã escorrer pelo queixo, sujando o babeiro. Scully olha pra ela sorrindo.

SCULLY: - Você é tão bonitinha, sabia minha filhinha?

VICTORIA: - (ABRE UM SORRISO CERRANDO OS OLHOS) Mama!

SCULLY: - Ai coraçãozinho! Que vontade de amassar você, de morder você, coisa mais linda!

Mulder entra no quarto, pálido. Fecha a porta atrás de si e se escora na porta.

SCULLY: - O que foi? Encontrou Edwards?

MULDER: - Não. Mas eu e 'Tio Bill Dente de Ouro' passamos quatro vezes pela vaquinha e pelo motel. Acho que o velho pirou!

Victoria, se babando, olha pra Mulder num sorriso. Mulder senta-se na cama.

MULDER: - (TENSO) Estamos presos numa brecha de tempo e espaço.

SCULLY: - (FECHA OS OLHOS) Era a minha teoria...

Mulder respira fundo. Triste. Victoria olha pra colher na mão de Scully, cheia de maçã. Leva a mão e toma a colher. Leva a colher à boca de Mulder e a maçã cai nas calças dele. Ela olha pra maçã caída num desconsolo. Mulder olha pra ela.

MULDER: - (SORRI) Obrigado por tentar me animar, Pinguinho.

Mulder pega a colher e a maçã. Começa a raspar.

MULDER: - Você que é cientista. Isso é possível?

SCULLY: - Teoricamente sim, Mulder.

Mulder leva a colher à boca de Victoria que vira o rosto. Mulder então come.

MULDER: - Acha mesmo?

SCULLY: - Temos Einstein ao nosso lado que diz que sim.

Mulder suspira. Raspa a maça e coloca na boca de Victoria. Ela abre a boca, comendo e derrubando um pouco pelo queixo.

MULDER: - Por que tudo que ela come oferece pra mim? E se eu não comer ela não come mais?

SCULLY: - Mania de criança. Quer dividir com o pai dela, oras.

Mulder beija Victoria no rosto, fazendo um estalo. Victoria, brincando com as meias sorri.

SCULLY: - Mulder, a teoria da relatividade de Einstein sustenta que não há movimentos absolutos no universo, apenas relativos. O universo não é plano e nem o tempo é absoluto, mas ambos se combinam em um espaço-tempo curvo. Enquanto para a geometria clássica a menor distância entre dois pontos é a reta, na teoria de Einstein é a linha curva.

MULDER: - Ou seja: estamos andando numa estrada reta. Mas algo ou alguma coisa interferiu nessa reta e estamos tendo a ilusão da reta, mas estamos ligados por uma curva... Ah Deus, já embaracei meus neurônios! Scully, física não é realmente o meu forte. Chega um ponto onde eu embaralho tudo! E cansado e com sono, pior ainda.

SCULLY: - Mulder, assim: Estamos numa reta. Mas alguma coisa interferiu nisso. Quando dirigimos pela estrada reta, temos a sensação de que é reta, mas no entanto estamos pegando uma curva temporal. Vamos dizer que entramos em uma espécie de espiral de tempo. Se dois pontos formam uma reta, nós estamos entrando num ponto e saindo no outro, repetidas vezes. Numa curva.

MULDER: - Existe uma coisa que uma longa existência me ensinou: toda a nossa ciência, comparada à realidade, é primitiva e inocente; e portanto, é o que temos de mais valioso.

SCULLY: - (SORRI) Albert Einstein... Adoro essa frase.

MULDER: - Contei o tempo que levamos. Meia hora da vaca até Tio Bill e meia hora do Tio Bill até a vaca, numa aceleração de 100 k/h. Ou seja, tomando a vaca como ponto zero, ou ponto X, levamos uma hora de trajeto do ponto X até o ponto X.

SCULLY: - Então cada vez que fizermos uma volta nesse espaço tempo, começamos e terminamos na vaca.

MULDER: - Exato. Scully, impressão minha ou eu deveria ter matado menos aula no colegial?

SCULLY: - (SORRI) Calma Mulder. Vamos achar um jeito de sair disso.

Mulder observa Victoria que luta contra as meias, as puxando.

SCULLY: - Sabe, Mulder... Aquele momento em que achei ter atropelado alguma coisa. O impacto que o carro sofreu. Talvez tenha sido quando entramos nesse espaço-tempo.

MULDER: - Pode ter sido. Por causa do choque. Mas não vimos nada...

SCULLY: - Não, não vimos. Desde aquele ponto, não passou mais nenhum carro por nós. Devemos ter atravessado alguma espécie de barreira temporal.

MULDER: - Certo. E por que apenas a gente? Tinha as beatas há alguns quilômetros de nós. Talvez isso signifique que é uma barreira temporária?

SCULLY: - E se ficarmos dando volta em círculos, podemos pegar o momento em que ela se abra e nos devolva ao tempo-espaço correto?

MULDER: - Isso parece loucura!

SCULLY: - Mas explicaria o sumiço de Jake Edwards. Talvez ele tenha conseguido voltar, por isso não o encontramos preso aqui.

MULDER: - Tio Bill disse que mandou um homem até a cidade e que este não voltou. Também explicaria isso.

SCULLY: - Mas o que causou esse fenômeno temporal?

Mulder se levanta.

MULDER: - A tempestade de dois dias atrás. Foi uma tempestade elétrica.

SCULLY: - Einstein defende a unidade dos conceitos de eletricidade e magnetismo e demonstra que uma vez em movimento o elétron, a força elétrica se altera e o elétron passa a gerar força magnética. Ou seja, a eletricidade e o magnetismo são, em essência, o mesmo fenômeno, e o aspecto que recebe realce, depende da velocidade do observador relativamente ao elétron.

MULDER: - Assim é possível que exista uma forma de realidade independente da matéria redutível a componentes básicos, como o campo eletromagnético.

SCULLY: - Sim. A medida do tempo varia conforme a velocidade com que se deslocam diferentes observadores, em diferentes referenciais, que o espaço é curvado pela presença de matéria, e matéria e energia são equivalentes. As partículas materiais podem ser criadas a partir da pura energia e voltar a ser pura energia. As teorias de campo transcenderam definitivamente a distinção clássica entre as partículas e o vácuo. Segundo Einstein, as partículas representam condensações de um campo contínuo presente em todo o espaço.

MULDER: - (PENSATIVO)

SCULLY: - Por isso o universo pode ser encarado como uma teia infinita de eventos correlacionados, e todas as teorias dos fenômenos naturais são meras criações da mente humana, esquemas conceituais que representam aproximações da realidade, não há realidade até o momento em que ela é percebida pelo observador. E dependendo do ajuste experimental, vários aspectos complementares da realidade se tornaram visíveis.

MULDER: - Os paradoxos. Nesse caso, o paradoxo temporal.

Os dois olham pra Victoria que olha pra eles com ar de questionamento.

MULDER: - Acho que a pobrezinha pensa que somos doidos. Essa gente só fala coisa difícil.

SCULLY: - Eu não acredito que ela tirou as meias de novo!

MULDER: - Já viu bebê gostar de meias, Scully?

SCULLY: - Mulder o que vamos fazer agora?

MULDER: - Quer saber? Jantar, tomar um banho e dormir. Não há o que fazer. Temos que pegar aquela estrada e torcer pra que em menos voltas possíveis consigamos atravessar aquela barreira. Lá fora, poderemos com a ajuda de especialistas, conseguir resolver essa equação.


1:21 A.M.

Mulder assiste TV. Scully dorme na cama. Mulder pende a cabeça, quase dormindo. Olha pra Victoria brincando sentada na cama. Mulder cutuca Scully. Scully se acorda.

MULDER: - Agora é o seu turno. Passo a 'criminosa' aos seus cuidados.

Mulder afofa o travesseiro e se deita, suspirando. Scully senta-se na cama. Victoria sorri pra ela, estendendo a raposinha. Scully pega a raposinha.

SCULLY: - Quer brincar é?

MULDER: - Quer saber de uma coisa?

SCULLY: - O quê?

MULDER: - Ela precisa de um irmão. Acho melhor começarmos a pensar em casamento no papel, e depois adoção, Scully.

SCULLY: - (SORRI) Gostei da ideia. (PÂNICO) Mas Mulder, como vamos continuar trabalhando no FBI com duas crianças?

MULDER: - Dá-se um jeito... Pra tudo na vida tem um jeito, Scully. Menos pra Victoria dormir.

Scully sorri, olhando pra filha. Brinca com a raposinha em suas pernas, como se ela caminhasse. Victoria observa.

SCULLY: - Era uma vez uma raposinha marrom peludinha, de nariz pretinho e de barriguinha branca. Ela adorava criancinhas. Gostava de passear pelo bosque, sempre sorrindo.

Victoria observa atenta a raposinha.

SCULLY: - A raposinha adorava uma menininha chamada Victoria. Victoria tinha olhos verdes, cor de jade, cabelo castanhos clarinho e as bochechas gordinhas e rosadas.

Victoria sorri, tentando pegar a raposa.

SCULLY: - E era linda e esperta como a mãe dela. (RINDO) E bagunceira como o pai.

Mulder vira-se pra Scully olhando pra ela incrédulo.

MULDER: - Eu não sou bagunceiro!

SCULLY: - Farelos pelo sofá te diz alguma coisa? Esqueceu seu enorme passado sinistro, Mulder?

MULDER: - (DEBOCHADO) Eu te mostraria algo enorme e sinistro, Dana Scully, se não tivesse criança no recinto.

SCULLY: - (RINDO)

Mulder fecha os olhos. Victoria pega a raposa e a estuda, passando os dedos.

SCULLY: - Filha, não! Não arranque os olhos do bichinho!

MULDER: - Que menina terrorista!

VICTORIA: - Da da da...

Victoria pega a raposa pelo rabo. Começa a batê-la na cama. Acerta a raposa na cabeça de Mulder. Mulder dá um pulo.

SCULLY: - Não adianta, Mulder. É com você a coisa toda. Ela quer é sua atenção.

MULDER: - Ah você quer minha atenção é? Pinguinho, eu desafio você pra um duelo. Vamos ver que desiste e dorme primeiro.

Mulder senta-se na cama. Scully ri. Victoria abre um sorriso, erguendo os braços pra Mulder. Mulder a toma no colo.

MULDER: - Psicologia infantil.

SCULLY: - Vá em frente. Quero ver, psicólogo.

Mulder segura Victoria em pé sobre suas pernas. Ela firma as perninhas, mexendo os braços.

MULDER: - Vamos brincar de papai joga e filhinha busca. Tá bom?

Victoria pula no colo dele, mais acordada do que nunca. Mulder levanta-se e senta-se no chão com ela. Atira a raposa longe.

MULDER: - Pega.

Victoria olha séria pra raposa. Depois olha séria pra Mulder como quem diz: 'me acha com cara de idiota?'

MULDER: - Pega. Traz pro papai, traz.

Victoria continua olhando pra Mulder, o encarando num beiço de quem achou a brincadeira muito besta. Scully começa a rir.

SCULLY: - Mulder, não me leve a mal, mas isso funciona com cães, não com crianças. Se quiser cansá-la, vai ter que fazer mais do que isso.

Mulder olha atravessado pra Scully. Olha pra Victoria. Deita-se no chão.

MULDER: - Desisto, Pinguinho! Meu QI não é páreo pro seu!

Victoria começa a rir. Engatinha pra cima dele. Mulder a coloca sobre o peito. Ela começa a pular.


2:11 A.M.

[Som: Old 97's – Victoria]

Mulder de quatro no chão. Victoria e Scully sentadas nas costas dele. Scully segura Victoria.

SCULLY: - Vamos cavalinho, vamos!

VICTORIA: - (RINDO ALTO) Inho!

MULDER: - Que decadência! Não é essa a minha ideia de estar num motel com duas mulheres em cima de mim!

SCULLY: - (RINDO) Vamos cavalinho.

MULDER: - Você tá adorando né, Scully? Sei bem de quem foi a ideia.

SCULLY: - Upa, cavalinho. Upa!

VICTORIA: - Upa, inho!

MULDER: - Eu me presto! Eu ainda me presto!

SCULLY: - Admita, Mulder, a brincadeira está boa. Até eu perdi o sono. Upa cavalinho!

MULDER: - (DEBOCHADO) Aguarde, Scully. Essa coisa de cavalinho vai ter troco.


2:27 A.M.

Scully e Mulder sentados no chão, um em cada extremidade do tapete. Victoria no meio deles. Mulder atira a raposinha pra Scully, que devolve pra ele, pelo chão. Victoria enlouquecida tenta pegá-la, engatinhando dum lado pra outro.


2:46 A.M.

Mulder na cama, erguendo Victoria, fazendo ela de 'aviãozinho'. Victoria a risadas altas. Scully, sentada na poltrona os observa.

SCULLY: - Sabe o que é isso, Mulder?

MULDER: - O quê?

SCULLY: - Carência. Ela está carente de atenção. Ficou meses longe de você, e nos últimos tempos temos trabalhado muito, mal brincamos com ela.

MULDER: - Hora de reverter isso, Scully. Não vamos perder os melhores momentos da vida da nossa única filha.

SCULLY: - E infelizmente, só temos a noite pra fazer isso. Mulder, estou desconfiando que essa espertinha já percebeu isso, sabia?

MULDER: - Como assim?

SCULLY: - Não é por ter dormido a tarde toda não. Ela deve ter percebido que estamos em casa sempre à noite. Como passa o dia todo nos vendo trabalhar, sem tempo algum de brincar com ela, deve pensar: de noite eles não trabalham. É agora que eu tenho a atenção deles.

Mulder desce Victoria sobre o peito. Olha pra ela.

MULDER: - Ah é isso, espertinha? Ahn? Não tem problema. Nos viramos em mil, mas você vai ter atenção. Desde que não puxe a toalha de mesa pra fazer isso.

SCULLY: - (RINDO) Eis a prova! A toalha! Mulder, ela está chamando nossa atenção. A bagunça é só pra fazer a gente prestar atenção nela.

MULDER: - Ah, pobrezinha do Pinguinho... (COLOCA-A NA CAMA E VIRA-SE PRA ELA) Quer atenção, é?

Mulder mordisca a barriga de Victoria que começa a rir. Mordisca o pescoço dela. Victoria dá gargalhadas.

SCULLY: - Definitivamente, hoje não vamos dormir. De novo!


2:57 A.M.

Scully ao lado de Mulder, os dois passeando pelo estacionamento com Victoria. Mulder segura a menina pelas mãos. Victoria com os pés apoiados sobre os sapatos de Mulder, olhando pra baixo e rindo.

MULDER: - Viu? É assim que se caminha, logo você aprende.

VICTORIA: - (RINDO ALTO E PULANDO)

MULDER: - Scully, acho que quem vai cansar somos nós dois, sabia? Não vi nenhum bocejo da parte dela.

SCULLY: - Mulder, estou dando chance porque realmente estamos nessa situação. Mas que não dá pra deixar ela agir assim não dá. Imagina se isso acontecer todo o dia?

MULDER: - Ah pobrezinha. Vai fazer o quê? Xingar? Deixar de castigo?

Victoria dobra as pernas, cansando. Mulder a toma nos braços.

MULDER: - Olha pra essa coisa fofa e gordinha aqui e me diz se você tem coragem de colocá-la de castigo.

SCULLY: - (SORRI) Não tenho não, mas alguém tem que colocar respeito. Isso se chama educação.

MULDER: - Prefiro ser cavalinho a dizer não pra ela.

SCULLY: - Tá vendo? O que eu disse antes dela nascer? Você vai estragar a menina!

Victoria boceja. Recosta o rosto no ombro de Mulder, se aninhando nele.

MULDER: - Acho que funcionou.

SCULLY: - É. Mas quem perdeu o sono fui eu.

Mulder afaga os cabelos de Victoria com a mão. Ela fecha os olhos, dormindo no ombro dele.

MULDER: - Está gostoso caminhar na noite.

SCULLY: - Isso é um rancho mesmo. Percebeu as cercas lá ao fundo? Devem ter cavalos, vacas, bichos... Victoria vai adorar.

MULDER: - Impressão minha ou você também tem a certeza de que ficaremos aqui por um bom tempo?

SCULLY: - Skinner deve estar doido. Deve até ter colocado mais agentes no caso e atrás de nós.

MULDER: - Se não estivéssemos com Victoria, poderíamos ficar dando voltas com o carro. Mas com ela, é arriscado ficar dando volta pra nada e castigando a menina dentro de um carro... Droga! Scully, estou começando a ficar preocupado. E se nunca mais sairmos daqui? E se isso for uma espécie de buraco negro, Triângulo das Bermudas...

SCULLY: - Você pede um pedaço de terra ao Tio Bill, planta nossa comida e eu faço pão e crio nossa filha.

MULDER: - (DEBOCHADO) Como você é engraçadinha, Scully.

SCULLY: - Que tal voltarmos pro quarto, hum? Tenho uma ideia pra gente cansar e pegar no sono.

MULDER: - Acho que gostei disso.

Os dois se viram e voltam em direção ao motel.


BLOCO 4:

6:38 A.M.

Scully se acorda. Ergue o corpo, apoiando-se em Mulder que dorme de costas pra ela. Mulder se acorda.

MULDER: - O que foi?

SCULLY: - Nada. Meu relógio biológico está acostumado a acordar nesse horário.

MULDER: - Desligue seu relógio biológico e durma, Scully.

Scully vira-se de costas pra ele. Mulder vira-se pra ela, colocando o braço e a perna sobre Scully, se aconchegando nela. Scully olha pro carrinho.

SCULLY: - Hoje não vou deixar ela dormir de tarde. Quando chegar 8 ou 9 da noite, ela vai estar cansada.

MULDER: - Desista, ela não é uma criança. É um exterminador!

SCULLY: - (RI)

MULDER: - (MURMURA) Hum... Que cheirinho gostoso de Scully.

SCULLY: - (RINDO) Mulder não começa.

Mulder se esfrega contra ela. Scully fecha os olhos, sorrindo.

SCULLY: - (MURMURA) Mulder...

MULDER: - (MURMURA) Hum, isso é gostoso, ficar se esfregando...

SCULLY: - (MURMURA) Sei onde termina esse esfrega-esfrega, Mulder.

MULDER: - (MURMURA) Ela tá dormindo?

SCULLY: - (MURMURA) Tá.

Mulder empurra Scully, chupando o pescoço dela.

SCULLY: - (MURMURA) Mulder! Para, tira a mão daí!

MULDER: - (BEIJANDO OS OMBROS DELA)

SCULLY: - (MURMURA/ RINDO) Mulder, não!

MULDER: - (MURMURA/ DEBOCHADO) Sou surdo, não estou te ouvindo.

SCULLY: - (MURMURA/ RINDO) Nossa Mulder! O que é isso?

MULDER: - (MURMURA) Aquilo que você está pensando.

SCULLY: - (MURMURA/ RINDO EMPOLGADA) Nossa! Tem um poste de concreto dentro do seu pijama?

MULDER: - (DEBOCHADO) Não. Tem a cegonha.

SCULLY: - (RINDO) Seu porco sujo! Para, Mulder... Hum... Assim?

MULDER: - É, eu gosto assim, não gosta?

SCULLY: - Hum, adoro isso no meio da madrugada quando você tá dormindo.

MULDER: - Dormindo não, quando eu te acordo me roçando em você.

SCULLY: - Não mesmo. Quando você faz dormindo.

Mulder ergue a cabeça e olha pra ela.

MULDER: - Eu faço isso dormindo?

SCULLY: - Não sabia?

MULDER: - (PÂNICO) Não!

SCULLY: - Por que acha que te chamo de tarado todos esses anos?

MULDER: - Mas como eu não me lembro?

SCULLY: - Por que você está dormindo, seu safado. Até dormindo você pensa nisso.

MULDER: - E eu consigo mesmo?

SCULLY: - Consegue.

MULDER: - (PÂNICO) ... Scully, você me deixou preocupado.

SCULLY: - Com o quê?

MULDER: - E se eu sou um viciado em sexo?

SCULLY: - Mulder, para com isso!

Mulder senta-se na cama, nervoso.

MULDER: - Não, isso não é normal.

SCULLY: - Mulder, volta pra cá!

MULDER: - Quem sabe eu deveria ir a um terapeuta?

SCULLY: - Eu tinha que abrir a minha bendita boca! Mulder, deita aqui!

MULDER: - E...

SCULLY: - Mulder!


8:39 A.M.

Mulder sentado à mesa da lanchonete, Tio Bill ao lado dele. Scully de frente pra Mulder, com Victoria em seu colo que brinca com um copo plástico de refrigerante. Doralee aproxima-se, servindo cafés e torradas. Senta-se ao lado de Scully.

TIO BILL: - Não entendo, forasteiro. Confesso que estava preocupado, até falei com Doralee sobre isso.

MULDER: - Quem é Doralee?

DORALEE: - Eu. Somos casados.

MULDER: - Tempestades elétricas podem causar uma anomalia no espaço-tempo. Mas sinceramente, é a primeira vez que eu vejo isso com meus próprios olhos.

TIO BILL: - Mas isso não significa que eu e Doralee vamos ficar aqui pra sempre?

SCULLY: - Acreditamos que o portal possa se desfazer. Mas não sei como e nem quando.

DORALEE: - Deixe-me entender. É como se estivéssemos presos numa caixa. Temos que esperar que nos desembrulhem?

MULDER: - É... Mais ou menos isso.

Victoria detém a atenção pras franjas da roupa de Doralee. Começa a brincar com elas.

SCULLY: - (RALHANDO) Filha!

DORALEE: - Deixe. Não tem problema.

SCULLY: - Ela é muito curiosa. Está na fase de descobrir o mundo.

MULDER: - Pobre do mundo!

Doralee sorri.

MULDER: - Acho que devemos pegar o carro, Scully. E achar o verdadeiro ponto zero. Onde o portal está.

SCULLY: - É uma boa ideia, Mulder. Mas e como ver o que não se pode ver?

MULDER: - Coloque uma canção de Bryan Adams. Não vai demorar muito e o carro vai pular de tédio.

Scully olha atravessado pra ele.


10:14 A.M.

Mulder dirige. Scully de braços cruzados e um beiço, olhando pra vaca bege que vai ficando para trás.

MULDER: - Qual o problema?

SCULLY: - Nenhum. Estou pensando.

MULDER: - Pensando no quê? Em como nos tirar daqui?

SCULLY: - Estou pensando em como fabricar um processador que transforme matéria em antimatéria.

MULDER: - Desde quando se interessa por métodos de viagem espacial ou temporal?

SCULLY: - Não penso nisso. Penso na utilidade desse processador para a comunidade mundial de mulheres casadas com homens idiotas.

MULDER: - (OLHA PRA ELA SEM ENTENDER)

SCULLY: - Pare o carro!!!

Mulder para no acostamento.

MULDER: - (DEBOCHADO) Hora da merenda? Também quero. (ERGUE UM PACOTE DE BISCOITOS NUM SORRISO SAFADO)

Scully desce do carro, o ignorando. Para em frente à paisagem. Leva a mão à testa, olhando para o horizonte. Observa alguma coisa. Mulder desce do carro. Caminha até ela.

MULDER: - O que está olhando? Viu alguma coisa?

SCULLY: - Parecia um homem. Mas não tenho certeza do que vi.

MULDER: - No meio de uma plantação de arroz???

Scully tira os sapatos. Mulder olha pra ela incrédulo. Scully entra na plantação de arroz.

MULDER: - (RESMUNGANDO) Que maravilha! Agora vou me atolar no meio disso justamente com meu terno novo que estou usando pela primeira vez...

SCULLY: - Tire o terno. Deve ser interessante um agente do FBI correndo atrás de um suspeito, numa plantação de arroz, com a arma na mão e só de cuecas.

MULDER: - (DEBOCHADO) Como você é louca, Scully.

SCULLY: - Sei disso. Me casei com você. Uma prova incontestável da minha insanidade mental.

Mulder olha em pânico pra ela. Tira os sapatos, a contragosto. Entra na plantação.

MULDER: - Tem certeza de que viu alguma coisa?

SCULLY: - Não. Só estou a fim de me molhar e me sujar toda. Sou louca, não sou?

Mulder olha pra ela. Scully continua caminhando. Uma revoada repentina de gansos. Os dois param. Observam atentos. Silêncio em demasia.

MULDER: - O que estamos procurando nessa plantação de arroz? Um chinês esfomeado?

SCULLY: - Tem alguma coisa aqui. Assustou os gansos.

MULDER: - Foi você com esse seu beiço. Um dos gansos olhou pra você e gritou pros outros: aí galera, debandada geral que lá vem aquela ruiva mal humorada.

Scully vira-se pra trás e olha pra ele. Leva a mão por entre o arroz e atira um punhado de lama em Mulder, acertando o terno dele. Mulder olha pro terno sujo.

MULDER: - (BEIÇO) Sem graça.

SCULLY: - Muito bem merecido. Foi até com atraso.

Scully atira mais lama nele. Mulder olha pra ela.

MULDER: - (PÂNICO) E por que atirou lama em mim novamente?

SCULLY: - Fica pelos juros das suas piadinhas nada engraçadas.

Barulho de algo se movendo entre o arroz.

SCULLY: - Ouviu isso?

MULDER: - (DEBOCHADO) Vou sacar a arma. E você saque os peitos, Scully, porque tá na hora do lanche da Victoria.

Scully olha pra ele o fulminando. Mulder saca a arma, apontando pra plantação, procurando algo. Scully saca a arma. Observa.

SCULLY: - (GRITA) FBI! Saia daí ou vamos atirar!

Nenhuma resposta. Scully avança mais um pouco. Olha pra baixo.

SCULLY: - Mulder, pisei em alguma coisa.

Mulder se aproxima de Scully.

MULDER: - O que é isso?

Os dois movendo-se como quem tateia com os pés o fundo do lodo.

SCULLY: - Parece uma superfície lisa.

MULDER: - (PÂNICO) Uma nave?

Scully guarda a arma.

SCULLY: - Você me ama?

MULDER: - Que pergunta é essa num momento como esse?

SCULLY: - Me ama ou não?

MULDER: - Claro que amo.

SCULLY: - Faria qualquer coisa em nome do nosso amor?

MULDER: - Claro que faria! Por quê?

SCULLY: - (DEBOCHADA) Oh meu amor, amorzinho, amor de toda a minha vida, lindo, maravilhoso, incrível Mulder! Então se agache no meio do lodo, tateie com a mão e descubra em quê estamos pisando.

Mulder olha pra ela, incrédulo. Scully faz charme.

SCULLY: - Oh, Mulder, meu porquinho atrapalhado...

Mulder entrega a arma pra ela, olhando-a com deboche.

MULDER: - Só vou fazer isso porque foi uma jogada esperta da sua parte e tenho que admitir que perdi essa. E porque faz bem pra pele.

Mulder agacha-se, revirando o lamaçal de arroz com as mãos. Scully observa atenta pra todos os lados. Percebe o homem com as calças sujas de lama entrar correndo no carro.

SCULLY: - (GRITA) Mulder!!!!!!!

Scully sai desesperada em direção ao carro que parte rapidamente.

Mulder perde o equilíbrio, caindo no meio do arroz. Ergue-se, sujo de lama até no rosto. Olha pra estrada.

MULDER: - (DESESPERADO) Victoria!!!!!!


11:11 A.M.

[Som: Old 97's – Victoria]

Mulder, todo sujo de lama, caminha pela estrada. Scully ao lado dele, com lama até os joelhos, segurando os sapatos altos. Ambos nervosos.

MULDER: - Ele não vai longe. Vai passar por nós ou então parar no Tio Bill, o único lugar pra abastecer nessa dimensão.

SCULLY: - Acha que era Edwards?

MULDER: - Espero que não seja uma armadilha do governo pra pegar nossa filha. E espero mais ainda que justamente o portal não se abra agora.

SCULLY: - (NERVOSA/ APERTA O PASSO)

MULDER: - O que era aquilo que encontramos no fundo do arrozeiro?

SCULLY: - Não faço ideia.

MULDER: - Vamos encontrar Victoria e depois voltamos até aquela plantação de arroz. Estou sentindo um cheiro de coisa estranha por aqui.

SCULLY: - Deve ser a lama. Vacas costumam andar entre plantações de arroz e deixar caquinha.

Mulder franze o cenho pra chorar, olhando pra seu terno.

MULDER: - Caquinha? Caquinha de vaca?

SCULLY: - E elas urinam também, Mulder.

MULDER: - (INDIGNADO) Por isso você mandou que eu me agachasse na lama?

SCULLY: - ... Eu não mandei, eu pedi com jeitinho. Se você costuma obedecer a ordens, problema seu se você é bem mandado.

MULDER: - (PÂNICO) ...

SCULLY: - Mulder, aprenda uma coisa: Nunca, mas nunca irrite uma mulher. A gente sempre sabe a hora certa de se vingar por algumas piadinhas infames sem que vocês percebam. Sutileza, meu querido. Isso se chama sutileza.

MULDER: - (BEIÇO) Bruxa! Bruxa velha!

Mulder olha pra Scully. Puxa o blazer dela e limpa o rosto.

SCULLY: - Mulder!

Scully tenta acertar tapinhas nele, mas ele sai correndo pela estrada, rindo. Scully corre atrás dele, o ameaçando com os sapatos.

SCULLY: - (GRITA) Mulder, quando eu te pegar!!!

MULDER: - (RINDO) Bruxa!

SCULLY: - Bruxa é a sua mãe!

O carro se aproxima deles. Mulder olha pra trás.

MULDER: - O carro!!!!! Para o carro!!!

Scully vira-se. Solta os sapatos. Os dois sacam as armas e ficam no meio da estrada.

SCULLY: - Ele vai parar. Vai ter que parar.

MULDER: - Vamos tentar atirar.

SCULLY: - E se acertar nossa filha?

MULDER: - Não vai. Tente pegar nos pneus.

O carro aproxima-se. Eles continuam no meio da estrada, na mira do carro.

SCULLY: - (MEDO) Mulder... Ele não vai parar.

O carro avança. Mulder e Scully começam a atirar nos pneus, sem sucesso. O carro avança pra cima deles e os dois saltam pro lado. Mulder se atira em cima do carro. Scully fica na estrada.

Mulder segura-se no para-brisas, o carro em movimento acelera mais. Mulder apavorado, tenta se manter sobre o carro, batendo com o cabo da arma contra o vidro.

MULDER: - Pare o carro! FBI!! Pare o carro!!!!!!

Close em Edwards, todo sujo de lama, que dirige o carro de um lado pra outro, tentando derrubar Mulder. Mulder aos berros, o corpo resvalando sobre o capô. A arma cai da mão de Mulder. Mulder tenta se segurar, o corpo desliza de um lado pra outro.

MULDER: - Pare o carro, seu desgraçado! Você vai me matar!

Edwards acelera mais. Mulder esmurra o vidro. Tenta se arrastar pra cima do carro. Bloqueia a visão de Edwards.

MULDER: - (AOS GRITOS) Seu filho da puta louco!!!!!!!!! Pare o carro, FBI!!!!!!!!!!!!

O carro diminui a velocidade aos poucos, parando por completo, sem gasolina. Mulder desce do carro, irado. Abre a porta e puxa Edwards pra fora, o empurrando pra cima do capô com força. Puxa as algemas.

MULDER: - (GRITA/ FURIOSO) Mãos pra trás, abra as pernas!

Edwards tenta reagir, Mulder mete um soco nele e Edwards cai de bruços por cima do capô. Mulder o algema. Revista-o. Agarra Edwards e o vira de frente pra si.

MULDER: - Seu desgraçado, louco, o que pensa que está fazendo?

EDWARDS: - (LOUCO) Eu quero sair daqui!!!!!!

MULDER: - Eu também quero sair!

Edwards está perturbado. Começa a chorar feito criança. Deixa o corpo cair ao chão. Mulder olha pra Victoria dentro do carro, que brinca com a raposinha. Suspira aliviado. Abre a porta traseira e pega a filha.

MULDER: - Pinguinho, você está bem?

VICTORIA: - Da da da... (ACERTA A RAPOSA NA CABEÇA DE MULDER)

Mulder sorri. Olha pra estrada. Scully, esbaforida, vem correndo, ao longe.


Rancho do Tio Bill – Motel e Fast Food -12:17 P.M.

Mulder empurra Edwards algemado, pra dentro da lanchonete. Scully entra, com Victoria no colo. Tio Bill aproxima-se. Mulder força Edwards a sentar-se à uma das mesas. Senta-se de frente pra ele.

MULDER: - (IRADO) Abra a boca, desgraçado!

Edwards olha pra ele. Scully olha pra Mulder.

SCULLY: - Mulder, ele está atormentado, não tem culpa se...

MULDER: - (FORA DE SI) Ele sequestrou a minha filha, podia ter nos matado, esse filho da mãe...

Mulder avança em Edwards. Tio Bill afasta Mulder. Mulder senta-se, olhando pra Edwards com raiva. Scully entrega Victoria pra Mulder.

SCULLY: - Vá com ela pro quarto, tome um banho. Eu falo com ele.

MULDER: - Não, esse desgra...

SCULLY: - Mulder! Não está em condições psicológicas de interrogar nenhuma testemunha!

Mulder levanta-se com Victoria e sai da lanchonete. Scully senta-se. Doralee aproxima-se servindo café. Scully entrega um copo pra Edwards.

SCULLY: - Beba, senhor Edwards. Vai se sentir melhor.

EDWARDS: - Obrigado.

SCULLY: - Quer me contar o que aconteceu?

Edwards olha pro tio Bill e pra Doralee. Olha pra Scully. Então pega o copo, mãos trêmulas.

EDWARDS: - Eu... Eu estava dirigindo pela estrada quando pensei ter atropelado algum animal. Parei o carro. Mas não vi nada. Então segui viagem. Parei nessa mesma lanchonete e comi alguma coisa pra seguir viagem, eu precisava ver um cliente na mesma noite.

SCULLY: - (DESCONFIADA) Cliente?

EDWARDS: - ... É, um cliente. Uma cliente.

SCULLY: - (SEGURANDO A RAIVA) Sei.

EDWARDS: - Então segui viagem e quando percebi estava aqui de novo. Comecei a ficar em pânico. Assim foi sucessivamente até que parei aqui e liguei daquela cabine telefônica para o 911. Então a tempestade ficou mais forte e os cabos telefônicos devem ter sido rompidos, porque o telefone ficou mudo. Eu entrei em desespero, continuei a rodar com o carro pela rodovia, tentando raciocinar o que estava acontecendo. Foi quando perdi a direção e acabei no meio duma plantação de arroz. O carro começou a afundar. Eu saí feito desesperado correndo pelo meio do arroz e...

SCULLY: - Espere aí. O carro não poderia ter afundado numa plantação de arroz!

EDWARDS: - Eu sei disso! Mas diga isso pro meu carro que parece ter sido sugado pra dentro do lodo!

SCULLY: - Isso explica a superfície metálica que eu e Mulder pisamos. Mas o que fazia até hoje no meio da plantação de arroz?

EDWARDS: - Estava me escondendo.

SCULLY: - De quem?

EDWARDS: - Deles.

SCULLY: - Deles quem, senhor Edwards?

EDWARDS: - Das criaturas do arroz.

Scully olha pra Tio Bill com um ar de interrogação.


12:56 P.M.

Mulder já limpo, de calça jeans e camiseta branca, esmurra a mesa, encarando Edwards. Edwards devora um sanduíche, faminto.

MULDER: - (INDIGNADO) Criaturas do arroz? Que criaturas?

EDWARDS: - Eu não sei, mas elas estão lá, eu as vi!

SCULLY: - Como eram essas criaturas?

EDWARDS: - (BOCA CHEIA) Não sei, não as vi direito. Moviam-se rapidamente pelo meio do arroz. Pareciam homens, mas eram de estatura menor... Sei que estão achando que estou louco, mas eu as vi!

MULDER: - Não estou dizendo que não as viu, senhor Edwards. Acredito que tenha visto algo. E se você não fosse um estúpido idiota roubando nosso carro, teríamos revirado aquela plantação inteira!

SCULLY: - Mulder!

MULDER: - Tira esse cara da minha frente, Scully! Repentinamente estou doido pra dar porradas em alguém!

SCULLY: - Temos que agir com coerência por aqui! Estamos todos na mesma situação. Não é hora de brigas. Precisamos nos unir pra achar a saída!

Mulder coloca as mãos na cintura. Olha pela janela.

MULDER: - Pelo menos Tio Bill conseguiu rebocar nosso carro. Ele está chegando.

Scully olha pra Edwards.

SCULLY: - Vamos voltar lá, senhor Edwards. Seja o que for que estiver acontecendo por aqui, vamos descobrir.

Doralee sai da cozinha, segurando Victoria, que está com a chupeta na boca.

SCULLY: - Pode ficar com ela enquanto voltamos até a plantação de arroz?

DORALEE: - Claro. Ela é uma graça de criança.

Scully puxa a arma. Verifica as balas. Olha pra Mulder.

SCULLY: - Temos apenas uma arma.

Tio Bill entra com um rifle.

TIO BILL: - Duas. E acreditem, a minha Rebecca aqui faz um bom estrago em qualquer coisa que se mova.

Tio Bill entrega o rifle pra Mulder.

TIO BILL: - Vou buscar mais balas, agente Mulder.

SCULLY: - E temos menos de seis horas até o anoitecer.

EDWARDS: - Não!

Todos olham pra Edwards.

EDWARDS: - Não podem ficar lá à noite! Durante a noite elas saem de suas tocas!

MULDER: - Que tocas?

EDWARDS: - Eu não sei! Fiquei dois dias em estado catatônico escondido no meio do arroz com medo delas me sugarem! Estão lá embaixo, eu sei que estão! Moram debaixo daquela lama!

Mulder olha pra Scully.

MULDER: - Dê algum sedativo pra esse cara. Eu sou doido, mas ele me ganhou!


1:33 P.M.

Mulder e Scully caminham entre a plantação de arroz. Scully com a arma em punho. Mulder mantém a espingarda contra o ombro.

MULDER: - Tô doido pra estourar alguma coisa hoje.

SCULLY: - Ok, John Wayne... Poderia estourar o zíper das suas calças, não?

MULDER: - (PÂNICO) O que está havendo com você que repentinamente ficou estranha?

SCULLY: - Sou a 'Senhora Estranho'. O que queria?

MULDER: - Você me dá medo!

SCULLY: - Foi por aqui que estivemos antes.

MULDER: - Tem certeza?

SCULLY: - Absoluta.

MULDER: - Criaturas do arroz. Qual é, Scully? Essa foi a coisa mais imbecil que eu já ouvi! E você parece ter acreditado.

SCULLY: - Mulder, não sei o que ele viu, mas o homem estava completamente apavorado! Ele chegou a roubar nosso carro pra fugir daqui!

MULDER: - Ele é um safado, isso sim. E você foi a primeira a me dizer isso, ou já se esqueceu?

SCULLY: - Mas admita, ele deve ter visto alguma coisa.

MULDER: - Criaturas do arroz... Pisei em algo. Acho que... É o carro de Edwards. Mas não tenho certeza.

SCULLY: - (DEBOCHADA) Mulder, você me ama?

Mulder olha pra ela debochado.

MULDER: - Não. Eu não te amo.

Scully segura o riso. Os dois seguem. Scully para.

SCULLY: - Engraçado.

MULDER: - O que foi?

SCULLY: - Parece uma superfície dura e mais plana.

MULDER: - Como assim?

SCULLY: - Estou em cima de alguma coisa plana. Parece uma espécie de banco de areia, mas não em consistência. É duro, mas é terra. Talvez seja por isso que Edwards não afundou.

MULDER: - Não acredito que vou ter que sujar meu jeans e me agachar em caquinha de vaca pra ver isso.

SCULLY: - Mulder, encare assim: Pelo menos é caquinha de vaca. Imagine se fosse caquinha de criatura do arroz?

Mulder olha pra ela incrédulo.

MULDER: - Scully, me faz um favor?

SCULLY: - Sim?

MULDER: - Fique quieta. Não faça mais piadas.

Mulder se aproxima de Scully.

MULDER: - Tem razão. Aqui é um nível mais consistente de terra. Como terra molhada pode não virar lama?

SCULLY: - ...

MULDER: - Pode me responder?

SCULLY: - ...

MULDER: - Scully?

SCULLY: - Você disse pra eu ficar quieta. Estou ficando quietinha.

MULDER: - Me faz outro favor? Vê se fica com esse senso de humor doentio quando estiver na minha cama completamente nua!


5:46 P.M.

Mulder estirado na estrada. Scully sentada ao lado dele, olhando pra plantação.

SCULLY: - Não acredito que não encontramos nada.

MULDER: - Eu disse. As únicas criaturas do arroz que eu conheço são aquelas larvinhas brancas e gosmentas que sobem pela panela quando você cozinha.

Scully olha pra ele incrédula.

SCULLY: - Eu nunca vi larva no meu arroz, Mulder!

MULDER: - Experimente cozinhar arroz estocado por dez meses na sua dispensa. Vai entender o que eu digo.

SCULLY: - (OLHA PRA ELE COM NOJO)

MULDER: - Acontece... Acontece tanta coisa quando você é solteiro e mora sozinho.

SCULLY: - Argh Mulder, me poupe disso! Você criava larvas no arroz como criava penicilina dentro da geladeira em embalagens de pão e leite estragados!

Mulder ergue-se. Scully olha pra ele.

SCULLY: - O que foi?

MULDER: - Vi alguma coisa.

Os dois se levantam. Miram as armas pela plantação.

SCULLY: - O que você viu?

MULDER: - Um movimento repentino. Não pude ver o que o causou.

SCULLY: - Vento?

Mulder e Scully se entreolham.

MULDER: - Já notou que não há vento por aqui, Scully?

SCULLY: - Sim. E o calor imenso...

MULDER: - Scully... Doralee tinha razão quando disse: parece que estamos numa caixa. É como se houvessem barreiras ao redor de nós. Até mesmo o vento é bloqueado.

SCULLY: - Mulder, o que está insinuando...

Mulder olha pro céu. Olha pro chão.

MULDER: - Se temos barreiras como lados de uma caixa, então, Scully, temos um fundo e uma tampa. E por onde se abre a caixa pra retirar o que está dentro?

Os dois olham pro céu.

MULDER: - Será que tio Bill tem um avião?

SCULLY: - Não está pensando em nos tirar daqui num avião! Mulder, nem sabemos se espaço tem forma concreta, e que forma ele tem e... (PENSATIVA) Deus, parece loucura, mas pode funcionar!

MULDER: - A única pergunta que realmente me intriga é: Se estamos numa caixa, quem nos escolheu pra presente? E quem é o aniversariante?

Scully olha aterrorizada pra Mulder.

Câmera de afastamento rápido de Mulder e Scully, focalizando aos poucos a paisagem toda, o motel, e o imenso quadrado invisível ao redor da área.


7:39 P.M.

Mulder atirado na cama, todo sujo, dormindo. Scully sai do banheiro, enrolada numa toalha com Victoria nos braços, sem roupa.

SCULLY: - Eu não acredito! Mulder, seu relaxado!

MULDER: - Zzzzzzzzzz

SCULLY: - Não. Não mesmo!

Scully o empurra com o pé, Mulder cai da cama.

MULDER: - Au! O que eu fiz?

SCULLY: - Porco, sujão! Já pro chuveiro!

Mulder arrasta-se pro banheiro. Scully larga Victoria na cama e pega as fraldas, colocando nela. Victoria brinca com uma embalagem de lenços umedecidos.

SCULLY: - Sem avião. Sem criaturas do arroz. Sem saída. Meu Deus, estou ficando nervosa, Mulder.

MULDER: - ...

SCULLY: - Mulder?

Scully vai até o banheiro. Mulder dorme sentado debaixo do chuveiro ligado. Scully escora-se na porta.

SCULLY: - Que pena que você tá cansadinho, Mulder. Eu pensando em fazer sexo hoje...

MULDER: - (ACORDA-SE EMPOLGADO) Sexo? Sério?

Scully olha debochada pra ele e fecha a porta do banheiro.

SCULLY: - Impressionante! Depois de tantos anos é que descobri a palavra mágica que acorda o Mulder. É bem verdade que sempre se tem alguma novidade pra descobrir num casamento.


11:27 P.M.

Victoria brincando na cama. Mulder deitado, dormindo. Scully pensativa observa Victoria brincando.

SCULLY: - Mulder...

MULDER: - Zzzzzzzz

SCULLY: - Mulder!

MULDER: - Ahn? Que foi?

SCULLY: - Quando somos crianças não temos paciência para abrir presentes. O que fazemos?

MULDER: - Rasgamos o embrulho.

Mulder senta-se na cama olhando pra Scully.

MULDER: - E como faríamos isso?

SCULLY: - Com força inversa?

MULDER: - ... Está sugerindo que devemos ao invés de ir pra frente, voltar pra trás?

SCULLY: - É uma sugestão.

MULDER: - Eu já disse que você é muito inteligente, Scully?

SCULLY: - Não. Mas já me chamou de louca.

Mulder pula da cama.

MULDER: - Retiro o que eu disse. Quer tentar?

SCULLY: - E tio Bill e os outros?

MULDER: - Os avisamos. Se não voltarmos é porque conseguimos sair e eles fazem o mesmo processo.

SCULLY: - Mulder e se outras pessoas entrarem nesse espaço tempo?

MULDER: - Até agora nenhuma entrou. O que também me faz perguntar: por que apenas nós? Qual o elo entre eu, você, Victoria e os outros?

SCULLY: - Mulder, pare de questionar. Eu só quero sair daqui. Já nem me importa a causa disso, eu quero é sair!

MULDER: - Arrume as malas. Vamos pegar o carro. Pinguinho, já que você não dorme mesmo, vamos pra estrada brincar de 'foge da caixinha'.

Victoria bate palmas abrindo um sorriso.

VICTORIA: - Inha!


12:09 A.M.

Scully coloca o cinto de segurança, sentada no banco do carona. Olha pra trás, verificando se Victoria está segura.

Mulder sai da lanchonete. Entra no carro.

MULDER: - Avisei tio Bill e Edwards.

SCULLY: - Espero que funcione.

Mulder leva a mão para ligar o carro. Mas as luzes fortes que vem por trás do carro desviam a atenção dele e de Scully.

O caminhão para na frente do motel. Mulder olha pra Scully com questionamento. Os dois descem do carro.

Close nos caminhões e carros que se aproximam, estacionando na frente da lanchonete. Mulder e Scully observam, intrigados.

MULDER: - Que diabos...

O celular de Scully toca. Ela atende, sob o olhar incrédulo de Mulder.

SCULLY: - Agente Scully... Sim, senhor. Bem... É uma longa história, mas encontramos Edwards.

Scully desliga. Olha pra Mulder.

SCULLY: - Acho que a nossa primeira teoria estava certa. Como surgiu, se foi, em questão de tempo.

Scully volta pro carro. Mulder fica parado olhando os caminhões, com a fisionomia de quem tem mais perguntas que respostas.


1:34 P.M.

[Som: Old 97's - Victoria]

Victoria brincando, mordendo o distintivo de Mulder. Mulder dirige em silêncio pensativo. Scully olha pra ele.

SCULLY: - ... Como um carro pode afundar numa plantação de arroz que tem no máximo 30 cm de profundidade?

MULDER: - O que eram as tais criaturas do arroz? Que bichos seriam?

SCULLY: - Como esse portal foi aberto? De que forma seria?

MULDER: - Por que Edwards conseguiu ficar dois dias no meio do arroz? Por que não fugiu?

SCULLY: - Como ficamos presos num espaço tempo sem que ninguém o penetrasse em dias e por que somente nós?

MULDER: - Dias perdidos. Até parece alguma coisa pra nos afastar do FBI.

SCULLY: - Deixa de ser paranoico, Mulder.

VICTORIA: - 'ulder'...

MULDER: - Impressionante! Papai que é bom, nada! E trate de dormir, Pinguinho.

VICTORIA: - 'inho'.

Victoria acerta o distintivo na cabeça de Mulder. Mulder passa a mão na cabeça. Scully ri.

SCULLY: - Pancada de amor não dói, Mulder.

MULDER: - ... É? Pois você me dizia que eu sou tão azarado que tudo é sempre na minha cabeça.

Scully olha pra ele ternamente. Mulder continua dirigindo. Victoria morde as mãos, olhando pela janela e rindo.

SCULLY: - Mulder, sinceramente, aquela coisa de bicho do arroz... Você foi o único 'bicho' que eu vi naquela plantação!

VICTORIA: - 'Iço'!

Mulder e Scully se entreolham.

MULDER: - 'Iço'? Essa eu não conhecia.

SCULLY: - Ela está confirmando minha teoria, Mulder.

Mulder olha pra Scully, debochado. Scully olha pra ele e pisca o olho. Victoria continua olhando pela janela, curiosa, irriquieta, pulando na cadeirinha.

VICTORIA: - 'Iço', Ox! Iço!!! O iço!

Victoria acompanha algo com os olhos, enquanto continua gritando 'iço'. Mulder e Scully estão desatentos.

Corta para a plantação de arroz. Algumas criaturas baixinhas de olhos verdes florescentes observam o carro que passa.


X


21/02/2002


📷
📷
📷


8 Septembre 2019 19:41 0 Rapport Incorporer Suivre l’histoire
1
La fin

A propos de l’auteur

Lara One As fanfics da L. One são escritas em forma de roteiro adaptado, em episódios e dispostas por temporadas, como uma série de verdade. Uma alternativa shipper à mitologia da série de televisão Arquivo X.

Commentez quelque chose

Publier!
Il n’y a aucun commentaire pour le moment. Soyez le premier à donner votre avis!
~