lara-one Lara One

Após a vitória de Mulder e Scully, o Sindicato das Sombras começa a ser retaliado por um assassino invisível. Homens poderosos do governo estão morrendo de forma estranha. Mulder e Scully pagam um alto preço fora dos Arquivos-X e não sabem mais como lidar com suas vidas e nem com Victoria que começa a apresentar características estranhas para um bebê comum. É uma fic-filme. Dividida em quatro partes. Sugiro ouvir a trilha sonora para maior impacto nas cenas de ação. Basta acessar o link do You Tube abaixo que você entrará no meu canal. Clique em "playlist" e terá as músicas da fic para ouvir. Bom divertimento! Meu canal: https://www.youtube.com/user/onecarter/featured?view_as=public


Fanfiction Série/ Doramas/Opéras de savon Interdit aux moins de 18 ans.

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Parte 1

Vou me tornar seu inimigo porque te conto a verdade?

Gálatas 4:16


📷


(Acesse a playlist em:

https://www.youtube.com/user/onecarter/featured?view_as=public)


Fade in.

[Som: Era - Ameno]

Chuva.

Imagem aérea do Vaticano, praça, catedral e residência do Papa, parcialmente iluminadas.

Corte.



Vaticano - Itália – 2:19 A.M.

[Som: Ameno - Era]

Penumbra. Um corredor (com velhas estátuas sinistras do período medieval) separado por colunas greco-romanas de um jardim a céu aberto. A chuva cai. Apenas os raios iluminam o local, algumas vezes ressaltando as faces sinistras das estátuas.

[Trovoadas]

Close dos passos rápidos do Padre Andreas pelo corredor. Sobe foco mostrando o livro negro que ele carrega. Sobe foco mostrando o rosto assustado, algumas vezesolhando para trás.

O padre retira as chaves do bolso, nervosamente. Desaparece pelo corredor escuro.

Corte.


Rodovia - Itália - 2:37 A.M.

[Som: Ameno - Era]

Chuva. Trovoadas.

Os pneus da Fiorino passam rapidamente levantando a água do asfalto.

Padre Andreas, nervoso e molhado de chuva, dirige o carro. O livro negro sobre o banco do carona. Letras alienígenas douradas na capa do livro.

A chuva contra o vidro do carro atrapalha a visão mesmo com os para-brisas ligados. Andreas leva a mão ao porta-luvas. Retira um gravador. O carro vai tomando a faixa contrária.

Som de buzina alta.

Andreas leva as mãos rapidamente ao volante tomando a pista certa enquanto a luz do farol de um caminhão passa por ele rapidamente. Andreas liga o gravador.

ANDREAS: - (NERVOSO) Relatório do Agente Andreas Rutinski para a KGB. São (OLHA NO RELÓGIO) 2:38 da manhã. Missão cumprida. Estou na rodovia de acesso a Roma, tentando chegar ao aeroporto rumo a Moscou. 'Eles' estão atrás de mim, posso senti-los. Se alguma coisa acontecer comigo, vocês saberão quando encontrarem esta fita. Se isto for revelado vai causar caos na humanidade e cair com os conceitos que o mundo tem sobre Deus e consequentemente, cai a Igreja Católica, detentora dessa verdade.

Andreas beija o crucifixo que tem ao pescoço.

ANDREAS: -(NERVOSO) Sobre o Terceiro Segredo de Fátima: Eles voltarão e todo o mundo verá com seus próprios olhos que não estamos sozinhos no universo. Os anjos a que a literatura bíblica se refere são astronautas, são soldados, são militares prontos para missões de todos os tipos, desde resgate a guerra. Os demônios estão aqui e nos usam para seus propósitos.

Andreas seca a testa com a manga da camisa.

ANDREAS: - (NERVOSO) Há uma guerra política e milenar travada no universo pelo trono do planeta Sião. De um lado Lúcifer, ou ex-general de Sião e raças aliadas e de outro o Rei de Sião, ou Deus e aliados. Grande é a ira do general dos exércitos escuros sobre os humanos, porque foram colocados acima dos anjos por Deus e isso acirrou os ânimos. Ele tem diversas formas e nomes. O livro cita Baalberith, que é o mestre da aliança infernal e secretário dos arquivos do inferno. Um demônio de blasfêmia e assassinato, a forma pura de Satã.

Andreas respira fundo. Fica mais calmo.

Foco na sombra negra com várias mãos longas e finas que se projeta sobre o livro quando o carro passa sob a luz de um poste. Andreas não percebe.

ANDREAS: - Estou com um livro de capa preta que roubei do cofre da biblioteca do Vaticano, enquanto meu superior, o Bispo Dom Rosso, estava dormindo. A coisa toda escapa da visão religiosa e faz todo o sentido que não podíamos compreender. De acordo com o livro, há planos traçados para levar a humanidade ao caos, e assim conseguirem nossa destruição junto ao criador. A hierarquia desses alienígenas é enorme aqui na Terra e dividem-se em tarefas distintas, pensam, agem e seguem ordens como militares, e estão infiltrados entre nós como se fossem humanos, nas mais variadas camadas da sociedade mundial. Podem mudar de forma, rosto, possuem habilidades que não temos. Sua fisiologia é diferente da nossa, contudo se assemelham a nós. Podem sair de seus corpos e vagar como almas, ficando a nossa espreita e sussurrando coisas que nos fazem agir sem pensar e modificar nosso comportamento...

Corta para fora. O carro na estrada. E as mais de dez sombras negras de demônios alados que voam sobre o carro.

Andreas olha pelo retrovisor, tenso.

ANDREAS: -Existe um segundo grupo de anjos na Terra. Foram guardiões do nosso planeta, que também foram banidos por cometeram o erro de se procriarem com humanas modificando a genética e tudo se explica na passagem sobre Noé, o dilúvio e os nefilins. Eles não tem interesse na nossa destruição, ao contrário, lamentam por seu erro e querem clemência. Há uma guerra entre estes e os exilados da primeira queda, uma guerra silenciosa e fria, contudo não menos sangrenta porque não há na Terra nenhum anjo de Deus para...

Andreas olha para o retrovisor. Arregala os olhos. Grita assustado.

Fade out (tela escura).

[Som de sirenes]

Fade up (tela abre).

O carro de Andreas destruído no acostamento da estrada. O corpo para fora do carro pelo vidro frontal, morto. A água da chuva leva o sangue por sobre o capô branco. Várias viaturas da polícia e uma ambulância. O Bispo Dom Rosso observa o corpo, enquanto segura o livro negro contra o peito e o gravador, escondendo-os sob o casaco. Faz o sinal da cruz.

BISPO: - Aures habent et non audiunt. Tem ouvidos e não ouvem...


Residência dos Mulder – Virgínia – 11:16 P.M.

Scully sentada na cama, de camisola, recostada em travesseiros, assistindo TV. Victoria, com seis meses, em seus braços, dormindo com a mão sobre o seio e a boca colada no mamilo de Scully. Está vestida num pijaminha de anjinhos.

TV (OFF): - Morto à traição como o imperador Julio César, pelos seus senadores. Como muitos imperadores e homens de poder da antiga Roma. O poder sempre esteve associado a sangue. Seriam as forças ocultas que realmente governariam por trás desses homens? Será realmente que pactos são feitos para que eles consigam o poder, fama e dinheiro que precisam em troca de suas almas? E será que eles sabem disso?

Scully olha para Victoria. Sorri. Afasta a menina de seu seio. Victoria, dormindo, o procura com a boca. Scully a recosta de novo e Victoria começa a mamar dormindo. Leva a mãozinha ao crucifixo de Scully, o segurando. Scully ajeita os fiapos de cabelo da filha. Desliga a TV. Fecha os olhos, cansada.


Deserto de Sonora – Colorado – 4:17 P.M

[Som: Let's go Kill that Bastard (instrumental) – Michael Nymann & Damon Albarn]

Câmera de aproximação rápida aérea (simulando o voo de uma ave de rapina) pelo deserto árido e escaldante, de pouca vegetação rasteira e muitos pedregulhos, atravessando a rodovia asfaltada, continuando até fechar o foco no abismo do precipício mostrando um túmulo antigo, encravado no deserto.

Foco no túmulo: a cruz com uma inscrição em latim entalhada na madeira, meio apagada pelo tempo: natus in damnationis (nascido em danação).

Ao redor da área do túmulo, areia vermelha espalhada como um ritual de proteção indígena. Nenhuma vegetação por perto, apenas pó e ossos de animais. Fora da linha de terra vermelha a vegetação cresce.

Sobre o túmulo, areia e pedregulhos. Uma tarântula parada. Repentinamente o animal sai correndo pra fora do foco. Os grãos de areia e pedregulhos se movimentam em direções opostas. O túmulo vai se abrindo rapidamente. O abismo vai se compondo aos poucos.

Close na beira do abismo que se formou sobre o túmulo.

Vemos a palma muito fina de unhas longas de uma mão se formar com a areia por cima, mas não vemos a mão, como se algo invisível estivesse saindo do túmulo, revelado apenas pela forma que a areia molda sua mão.

As pegadas em forma de três dedos (como uma ave grande) se formam no chão arenoso caminhando rapidamente rumo a estrada.

FBI – Washington D.C. – Gabinete do Diretor – 5:34 P.M.

A sala bem confortável, com móveis rústicos. O quadro de J. Edgar Hoover na parede, ao lado da bandeira americana. Carter está parado observando a janela.

CARTER: - Assunto encerrado, diretor-assistente. Não quero ouvir mais uma palavra sobre isso. De agora em diante, para reportar-se a mim, deve primeiro reportar-se ao diretor delegado Kersh.

SKINNER: - Senhor, eu...

CARTER: - Não quero mais ouvir sobre Mulder e Scully. Eles não mais fazem parte desta instituição federal. Como jamais farão parte de qualquer outra. Pra sempre.

SKINNER: - Eu só quero dizer que as alegações da comissão de inquérito foram irrelevantes.

CARTER: - Irrelevantes?

Carter se aproxima de Skinner.

CARTER: - Acha irrelevante, diretor-assistente, que um agente minta sobre o paradeiro de outro, que oculte informações ao FBI sobre isso e que participe de atos terroristas? Até mesmo Mulder confessou seus atos e trouxe provas de seu envolvimento!

SKINNER: - O que eu questiono é simplesmente o contexto de tudo que não foi analisado! Mulder participou sim, mas ele não é um terrorista! Vocês viram as provas! Mulder destruiu apenas laboratórios que fabricavam remédios adulterados!

CARTER: - Não vamos entrar nessa besteira de alienígenas de novo, Walter.

SKINNER: - Mas vocês mesmos tiveram acesso a substância que estava presente nos remédios! Por que não fizeram as análises? Veriam que era uma forma de vida desconhecida! A intenção era disseminar isto nas pessoas! O que Mulder e Scully fizeram foi destruir o esquema de distribuição, e usar os genes da filha que ainda nem tinha nascido para fazer uma vacina que trouxesse imunidade contra esse vírus alienígena disseminado por esses homens da conspiração!

CARTER: - Pare, Walter! Não quero ouvir mais nada. Não temos nenhuma substância, alienígenas não existem, Mulder praticou crimes de natureza terrorista e o assunto termina aqui.

SKINNER: - Por que as provas todas não foram dadas para o Tribunal de Justiça?

CARTER: - Saia daqui Walter.

SKINNER: - (RAIVA) Não, diretor. Eu quero que me ouça. Por que as provas não foram entregues ao tribunal? Por que isso revelaria o Sindicato das Sombras, essa conspiração toda desse maldito governo oculto?

CARTER: - Que conspiração e que governo oculto, Walter? O que está insinuando?

SKINNER: - (IRRITADO) Você sabe bem o que estou falando! A prova que inocentaria Mulder! O maldito óleo negro, o vírus letal que estava nesses remédios!

CARTER: - Walter Skinner, vou lhe dar um conselho: Saia agora dessa sala, se quer manter o seu emprego tanto quanto eu quero manter o meu. Esqueça-se de Mulder, Scully, dos Arquivos X, esqueça-se de tudo o que sabe e vá fazer seu trabalho. Ou terei de colocar você na fila dos desempregados com um nome sujo no governo ao lado de Mulder e Scully. E acredite, terá sorte se conseguir algum emprego numa lavanderia tendo uma ficha como esta.

Skinner passa a mão na cabeça e sai da sala. Carter senta-se.

O Canceroso entra na sala por outra porta. Para na sala e acende um cigarro. Solta a fumaça num sorriso debochado.

CANCEROSO: - Gosto de homens de bom senso.

Carter abre a gaveta e entrega um tubo de ensaio contendo o óleo negro. O Canceroso pega o tubo e guarda no bolso.

CARTER: - Me diga que isso acabou. Que não vou mais ouvir nada a respeito dessa coisa.

CANCEROSO: - Isso acabou. Vai ser arquivado no baú das relíquias antigas. Tudo já foi enterrado.

CARTER: - (NERVOSO) O que faço com os Arquivos X?

CANCEROSO: - Adie as transferências até que se esqueçam do departamento. Então você o encerra pra sempre. Não nos é mais útil.

CARTER: - O que vai acontecer com Mulder e Scully?

CANCEROSO: - Eles vão ter o castigo que merecem por terem mexido com quem não deviam. O castigo de quem coloca a mão no vespeiro sem tomar cuidado de colocar luvas. Há muitos séculos existem governos ocultos. Eles apenas tiveram a petulância de achar que poderiam expor a verdade.

CARTER: - Mulder disse em seu depoimento que ocultou a gravidez de Scully de todos porque tinha medo que isso chegasse até vocês, porque vocês querem o bebê para experimentos genéticos. Isso é verdade? Por quê? Porque Mulder é um híbrido humano-alienígena e a filha dele...

CANCEROSO: - Diretor, o tempo de vida de um homem se mede por seus conhecimentos. Siga meu conselho: seja ignorante e viva muito.

O Canceroso apaga o cigarro no cinzeiro e sai pela porta em que entrou. Carter o observa com receio.


Metrô - Federal Triangle – Washington D.C.- 7:34 P.M.

O trem para na plataforma fazendo ruído nos trilhos. Abre as portas.

As pessoas entram e saem apressadamente do vagão. Malone, um homem bem vestido, sai entre elas, carregando uma valise algemada ao pulso. Olha para todos os lados, tenso, verificando se não está sendo seguido.

[Som: Let's go Kill that Bastard (instrumental) – Michael Nymann & Damon Albarn]

Imagem subjetiva, nós vemos pelos olhos da criatura: Imagem em preto e branco (infravermelho), dividida como favos de abelhas. Vemos Malone saindo da estação tomando a calçada entre outras pessoas. Ele para e olha o relógio.

Respiração ofegante da criatura.

Vamos em aproximação rápida para Malone, que não percebe nada. Aproximação até focar a orelha direita dele.

Malone sai da estação. Na calçada, cai ao chão se contorcendo com a mão no peito. As pessoas param e se agrupam ao redor dele rapidamente. Ele agoniza tentando respirar, afrouxando a gravata, mas morre rapidamente.

Close na orelha direita: O sangue começa a escorrer lentamente para o chão. As pessoas ao redor dele vão sendo empurradas por algo que não vêem.

Nós vemos pelos olhos da criatura com respiração ofegante: Imagem em preto e branco e dividida em favos, numa aproximação rápida por entre as pessoas que caminham na calçada, sendo empurradas rapidamente para os lados.


Suprema Corte – Washington D.C. – 10:29 A.M.

O advogado de defesa sai por uma porta. Scully vem a seu encontro. Skinner está atrás dela. O advogado cansado, secando o suor da testa com um lenço.

ADVOGADO: - Senhora Mulder, negaram novamente o pedido de reabertura do caso. Como eu havia dito, acho completamente inútil diante das acusações. São quatro meses que estamos tentando e...

SCULLY: - (INDIGNADA) Ótimo. Meu marido foi acusado de um crime que não cometeu. Tudo o que ele fez foi enganar os enganadores para salvar sua família.

ADVOGADO: - Vamos conseguir justiça, senhora Mulder.

SCULLY: - Justiça? (SORRI ABORRECIDA) Não. Eu não acredito mais em justiça. O próprio símbolo da justiça tem uma venda nos olhos. Não há justiça, há negociações de liberdade entre advogados e sistema.

Scully se aproxima de Skinner. Passa as mãos pelos cabelos.

SCULLY: - (NERVOSA) Deus!

SKINNER: - Scully...

SCULLY: - O que eu vou fazer? Me diz como vou tirar o Mulder da cadeia? (INCRÉDULA) Quinze anos? Sabe o que são quinze anos numa cadeia? Há quatro meses Mulder está lá e há quatro meses eu não consigo mais dormir de preocupação! Enquanto isso a nossa filha cresce sem o pai por perto...

SKINNER: - Scully, pelo menos conseguimos a sua liberdade pelo pagamento de uma fiança, alegando que você foi apenas cúmplice.

SCULLY: - (NERVOSA/ LÁGRIMAS) Vão matá-lo. Eu sei que vão matá-lo! Querem calar Mulder, ele sabe demais. Ele é alvo fácil dentro de uma cela. Conhece esses homens. Eles fazem o que querem.

SKINNER: - Tenho um guarda de confiança observando Mulder.

Scully olha pro relógio.

SCULLY: - Droga! Estou atrasada pro trabalho. E eu preciso desse emprego.

SKINNER: - Lamento não ter conseguido. Se pelo menos você ainda tivesse uma insígnia federal.

SCULLY: - Do que me adianta uma insígnia? Há lei? Há justiça? Sim, há. Para os fracos e não para os poderosos. Eu e Mulder passamos anos dentro do FBI tentando colocar os culpados na cadeia. Mulder salvou o mundo de ser infectado por uma forma de vida mortal. E agora me responda: quem foi pra cadeia?

Scully dá as costas e sai. Skinner, angustiado, coloca as mãos na cintura.


Prisão Estadual da Virgínia – 11:19 A.M.

Penumbra.

Close nos olhos verdes parados e distantes, em transe. Ele fala como se algo falasse através dele.

MULDER: - A própria liberdade poderia ser inofensiva e existir no Estado, sem prejudicar a liberdade dos povos, se repousasse nos princípios da crença em Deus, na fraternidade humana, fora da ideia de igualdade contrariada pelas próprias leis da criação, que estabelecem a subordinação. Eis porque é preciso que destruam a fé, que arranquem do espírito dos cristãos o próprio princípio da Divindade e do Espírito, a fim de substituí-lo pelos cálculos e pelas necessidades materiais.

Afastamento de câmera, mostrando Mulder sentado no chão, contra a parede. Cabelos longos, barba, uniforme de prisão, olhos parados, como um louco em transe. Numa das mãos, um pedaço de carvão.

MULDER: - Para que os espíritos dos cristãos não tenham tempo de raciocinar e observar, é necessário distraí-los pela indústria e pelo comércio. Desse modo, todas as nações procurarão suas vantagens e, lutando cada uma pelos seus interesses, não notarão o inimigo comum. Mas para que a liberdade possa, assim, desagregar e destruir completamente a sociedade dos cristãos, é preciso fazer da especulação a base da indústria. Desta forma, nenhuma das riquezas que a indústria tirar da terra ficará nas mãos dos industriais, mas serão sorvidas pela especulação.

Ruídos de passos. Uma bandeja é empurrada para dentro da solitária por uma pequena abertura na porta de metal. Mulder estende a mão e pega uma ervilha, jogando do outro lado da cela.

Um rato aproxima-se pegando a ervilha.

Mulder volta os olhos para o nada, em transe.

MULDER: - De nós promana o terror que tudo invade. Temos a nosso serviço homens de todas as opiniões, de todas as doutrinas. Restauradores de monarquias, demagogos, socialistas e comunistas e toda a sorte de utopistas. Atrelamos o mundo inteiro ao nosso carro: cada qual mina de seu lado os derradeiros restos do poder, esforçando-se por derrubar tudo o que ainda se mantém de pé. Todos os Estados sofrem com essas perturbações, pedem calma e estão dispostos a tudo para sacrificar pela paz, mas nós não lhes daremos a paz, enquanto não reconhecerem nosso Governo Supremo...

O Carcereiro abre a porta de metal pesado.

Close nos pés descalços que saem da cela escura. O rato sai com ele.

Mulder leva as mãos ao rosto, angustiado com a claridade, saindo do transe em que estava.

O carcereiro o algema. Empurra Mulder pelo corredor. Mulder mal consegue caminhar, se arrastando, numa fisionomia de ódio. Mais parece um selvagem do que um humano.

Câmera de aproximação para dentro da solitária, agora já iluminada.

As paredes estão cheias de desenhos de triângulos, feitos com carvão e com a inscrição repetida: Marcos, 1:13.

Corte.


Hospital de Maryland – Virginia – 12:11 P.M.

Close da sutura na palma da mão do adolescente. A tesoura cortando a linha. Phil, um adolescente rebelde, cheio de alfinetes na jaqueta e piercings pelo rosto e orelhas.

SCULLY: - (SORRI) Tudo certo, Phil. Você vai sobreviver.

PHIL: - Obrigado, doutora Scully. Eu juro que foi a última vez que eu entrei em brigas, juro mesmo! Não vai mais ver minha cara nessa emergência. Eu prometo.

SCULLY: - Espero. Para seu próprio bem. Tome os anti-inflamatórios que receitaram e...

A médica-chefe Dra. Dufour entra sisuda e antipática.

DUFOUR: - Ele já tem o receituário da médica que lhe atendeu.

Phil sai da sala. Scully morde os lábios, engolindo a raiva. Dufour aproxima-se dela.

DUFOUR: - Aqui, 'doutora' Scully, ninguém, mas absolutamente ninguém, contesta medicamentos dados pelo médico responsável pelo atendimento. Você tem que aceitar que trabalha na emergência de um hospital.

SCULLY: - Eu não questionei nada. Eu apenas disse ao paciente que ele deveria tomar a medicação indicada.

DUFOUR: - Não foi isso o que entendi. Estava tentando medicar um paciente medicado. Seu dever aqui dentro é apenas fazer suturas e auxiliar os médicos.

SCULLY: - Eu sou médica! Eu sei a ética da profissão e não estava contrariando a opinião de nenhum colega!

DUFOUR: - Não posso confiar em alguém que foi rejeitada por um órgão federal, aliás isso é muito questionável, talvez você não tenha sido competente em sua profissão de médica e não apenas como policial.

SCULLY: - O quê? Está questionando minha competência?

DUFOUR: - O FBI questionou. Eu posso questionar. Ou quer transferência para o necrotério? Devo avisar que a função se limita a colocar cadáveres na geladeira.

SCULLY: - Eu não fiz o que você está insinuando! E mesmo que o fizesse, eu sou mais do que uma enfermeira pra ficar aqui fazendo suturas, injeções e coleta de exames.

DUFOUR: - A porta da rua é a serventia desta instituição, Dra. Scully. Ninguém é insubstituível.

Dufour sai da sala com arrogância. Scully cerra os punhos e os lábios segurando-se pra não gritar de raiva. Senta-se na maca.

SCULLY: - (FURIOSA) Droga! Droga, droga, droga! Ter que aturar desaforo dessa infeliz que não tem metade do meu currículo em medicina!

Scully sai da sala, empurrando a porta com raiva.


Prisão Estadual da Virgínia – 6:11 P.M.

Um preso lavando o corredor, observa Mulder pelas grades. Mulder, segurando um gravador, olha pra ele.

MULDER: - Tá olhando o quê, palhaço?

PRESO: - (RINDO) Você vai se danar direitinho, federal. Tá rolando grana aqui dentro pra quem conseguir enforcar você nessa cela. Tem uns caras engravatados aí prometendo liberdade pra quem conseguir te matar. Toma cuidado que tem até guarda a fim de fazer o serviço.

MULDER: - Vá se danar!

Mulder observa o sol que entra pela janela. Então pega o gravador e liga. Começa a falar.

MULDER: - Algumas vezes você se mete em encrencas por sua própria conta. Pela necessidade de criar uma encrenca. Como entrar num bar e começar a provocar o grandão que está jogando sinuca... Mas outras vezes, você herda a encrenca, ela é genética. Vem de graça em seus cromossomos.

Mulder olha para o preso. Este se afasta.

MULDER: - Com o tempo você arranja uma boa mulher, constrói um lar, e sua única filha tem a desventura de herdar os genes do pai e por consequência disso, herda a encrenca toda. Entenda por encrenca o que hoje a conspiração denomina como o Fator X. O Fator X nada mais é do que um fator que implica a paranormalidade, que ainda não é aceita oficialmente pela ciência. Menos ainda como sendo algo genético. O Fator X é uma incógnita. Ele se revela aos poucos, sob diversas formas e você nunca sabe com o que vai se deparar ainda pela frente.

Mulder observa pra fora da cela. Ninguém escutando.

MULDER: - Imagino depois da minha morte, Pinguinho... Vejo você, minha filha, entrando no escritório do meu advogado e ele lendo minha carta testamento: Victoria, eu era apenas um agente do FBI que gastava dinheiro perseguindo fenômenos paranormais e alienígenas, e que ganhou uma passagem de ida pro inferno ao lado do capeta. Além de você ter um pai que é um híbrido humano-alienígena, eu só tenho algo a deixar pra você: a encrenca. Ou o Fator X se preferir... Esse é seu estigma na vida. Não há outros como você sobre a face da Terra. Apenas nós dois. E nada pode alterar a ordem das coisas. É nosso destino.

Mulder começa a comer sementes de girassol.

MULDER: - Encrenca é você descobrir que seu avô judeu ganhou um implante numa abdução durante a segunda guerra, seu pai foi criado por cientistas alemães que tinham olho em suas células modificadas, você acabou virando rato de laboratório porque tinha genes diferenciados e por consequência sua filha é algo ainda não catalogado na cadeia genética. E que toda essa droga é um prato cheio pra qualquer experiência do governo.

Mulder suspira.

MULDER: - Eu, Fox Mulder, ex-agente federal, depois de muitos anos no FBI, sendo chamado de louco e estranho por trabalhar nos Arquivos X, um departamento oculto no porão pela vergonha de dizerem: aqui ficam os Arquivos X, que trata apenas de casos insolúveis, ou seja, paranormais. Mas toda a paranormalidade levava ao sindicato de homens que conspiravam contra o mundo. E eu lutando para provar os segredinhos desses homens, desse governo paralelo que até mesmo o governo finge que desconhece. E o alto escalão do FBI, fazendo de tudo juntamente com aqueles homens, para me calar.

Mulder pausa o gravador. Respira fundo. Liga de novo.

MULDER: - Sempre havia alguém da conspiração por perto, escutas e vigilância da minha vida pessoal. Lutar contra eles e mostrar a mentira e o perigo a que o mundo estava exposto, eram uma guerra travada. E agora eu sei quem são esses homens realmente. Eles são a maldade. E ninguém pode vencê-los. Está escrito. Deus acha engraçado nos testar e por isso permite que eles existam. Mas pelo menos eu tento resistir e fazer minha parte. Esse é meu estigma, filha.

Mulder atira algumas sementes para o rato que caminha no chão procurando comida.

MULDER: - Escondi meu relacionamento com minha parceira com medo de que a machucassem. O tempo foi passando e eles descobriram. Muita desgraça aconteceu. Infindáveis vezes tentaram algo contra sua mãe e eu, quando não faziam coisas para nos separar. Então decidimos ter você. Sequestrei Scully para escondê-la, a fim de que você nascesse sem correr riscos de ser tomada pelo governo oculto ou pelos alienígenas como cobaia.

Mulder pausa a gravação. Fecha os olhos. Liga novamente.

MULDER: - As alegações de que fui terrorista são reais, Pinguinho. Eu fingi que estava ao lado da conspiração numa guerra entre dois cabeças. Eles queriam ferrar um deles, chamado Strughold. Então eu destruí substâncias letais, alimentos adulterados, formas de vida alienígena, armas químicas... E a sorte de coisas que eu encontrasse pela frente. Pra mim significava perigos a menos pras pessoas. E um bom despiste. Quando você nasceu e eles descobriram que eu estava apenas desviando a atenção deles, a retaliação começou. E o preço que paguei foi ficar aqui aguardando a minha morte, sem poder estar com as duas coisas que eu mais amo: Você e sua mãe. Mas quem iria acreditar nas coisas que eu sei? Eu contra o governo. E agora? Agora estou ferrado. Completamente ferrado. Porque eu sou o único no mundo que sei a verdade. E o mais doloroso é que não há nada que eu possa fazer para evitar a tragédia. Ela é inevitável. Como eu vim parar aqui? Nem eu sei. Poderia contar a você. Mas pense primeiro: Vou me tornar seu inimigo, porque te conto a verdade?

O Guarda #2 aproxima-se. Mulder desliga o gravador.

GUARDA #2: - Visita pra você, Mulder. (DEBOCHADO) Seu namoradinho veio te ver de novo.

Mulder levanta-se e esconde o gravador no bolso das calças. Sai da cela.


Refeitório da prisão - 6:37 P.M.

[Som: Consider This - Filter]

Vários presos jantando. Mulder sentado sozinho a uma das mesas. Olhos parados, em transe, olhando para o prato enquanto com o garfo, forma um triângulo com a comida.

O GUARDA #1 aproxima-se.

GUARDA #1: - Devia mandar você limpar a sujeira que fez nas paredes. Você escreveu por todas as paredes da solitária como estava fazendo em sua cela.

MULDER: - Eu já disse que não fiz isso! Não me lembro de ter feito.

GUARDA #1: - Tudo bem, Mulder. Então eu sou louco. Sou eu quem fica falando coisas sem nexo sozinho numa cela. Desista, não vai conseguir alegar insanidade mental.

O Guarda #1 afasta-se rindo. Mulder, sem entender nada, volta à atenção para sua comida e sua raiva.

Colby, um dos presos sentados na mesa ao lado, dá algumas olhadas pra Mulder, enquanto conversa alto com os outros colegas em sua mesa.

COLBY: - Vocês sabem por que o FBI tem mais homens do que mulheres? (RI) Porque J. Edgar Hoover era gay!

Os presos riem.

COLBY: - Aliás, vocês devem saber que os federais são gays. Só tem homem no FBI. Eles acabam se acostumando e gostando de sentir o cheiro de um macho ao lado deles... (RINDO) "Parceiros"... Vocês entendem o significado dúbio da palavra.

Os presos rindo olham pra Mulder.

COLBY: - É por isso que eles agem violentamente quando nos pegam. Já chegam algemando, impondo autoridade, revistando nossas bolas. Mas em casa, apanham das mulheres ou dos namorados.

Mulder segura o garfo com força. Olha pra Colby por debaixo dos cabelos longos e revirados que mantêm caídos sobre o rosto.

COLBY: - São tão espertos quando estão lá fora, com seus distintivos. Aqui dentro ficam quietinhos, morrendo de medo. Uns covardes!

Mulder aperta o garfo, olhando para o prato.

COLBY: - (PROVOCANDO) Vocês conhecem o Mogli, o menino lobo ali? Diz que ele trabalhava no porão do FBI gastando verbas públicas para perseguir fantasmas, demônios e aliens esverdeados. Tanto gosta de porão que foi pra solitária. Dizem até que os aliens o curraram num disco voador.

Os presos riem mais ainda, encarando Mulder.

COLBY: - Sim, o Mogli. Ele se acha esperto. Acha que por ter sido tira, vai ter o rabinho dele safo aqui dentro. Está ferrado! Vocês sabem como se fode um federal? Enfie a 9 mm dele no seu coldre de couro.

Mulder larga o garfo no prato.

COLBY: - Hum... Acho que a bichinha gostou da ideia. Devo ter alertado seus instintos primordiais. Se ele vier até aqui de joelhos e me chamar de 'seu homem' eu vou chamá-lo de minha cadelinha e dar pra ele o que ele gosta.

Mulder levanta-se tão rápido que agarra Colby pelo pescoço, dobrando o corpo dele completamente pra frente, fazendo a coluna de Colby emitir um ruído. Comprime o garfo na garganta dele.

MULDER: - Repete o que disse, seu filho da puta e vai chupar suas próprias bolas!

COLBY: - (MEDO) Ei, eu tava brincando, tá legal? Para, cara, você tá quebrando minha coluna!

MULDER: - (ÓDIO) Estou há quatro meses aqui dentro, seu filho da mãe, e estou doidinho pra estourar a coluna de alguém de outra maneira. Afinal, federais adoram esse tipo de brincadeira, não é mesmo?

Colby arregala os olhos. Mulder o empurra num solavanco, batendo a cabeça de Colby contra a mesa. Olha pra todos.

MULDER: - O primeiro filho da puta aqui dentro que se meter comigo vai se ferrar! Eu não estou a fim de brincadeiras, eu quero matar um e pouco me importa quem seja! Não sou mais tira! Agora eu sou um bandido e não tenho mais nada a perder!

Mulder senta-se novamente à sua mesa. Os presos se entreolham. Colby ergue-se, com as mãos na coluna, olhando assustado pra Mulder.

Memorial de Lincoln - Washington D.C. - 11:48 P.M.

Barbara Wallace, a bela jornalista de cabelos castanhos presos no alto da cabeça, ajeita a enorme bolsa no ombro e caminha rapidamente em direção ao monumento. Observa para todos os lados. Não vê nada. Sobe as escadas, procurando algo com os olhos.

Krycek sai de trás de uma das colunas, vestido em roupas jeans, num visual rebelde, com brinco na orelha, ficando atrás da jornalista.

KRYCEK: - Não se vire.

BARBARA: - (IMÓVEL) Qual o seu nome?

KRYCEK: - Não tenho nome. Não existo, ok?

BARBARA: - Certo, 'Mr. Não Existo'. Mas como vou te chamar? Você tá mais pra Mickey Mouse ou João Bafo de Onça?

KRYCEK: - Eu gostava do Mancha Negra. Aquele lençol sobre o corpo, remetendo-se a alguma alma penada negra, um fantasma, uma sombra... (DEBOCHADO) Ou quem sabe um amante que foge com o lençol sem tempo para se vestir?

BARBARA: - Trabalha para alguma organização do governo? Foi colega do meu amigo Byers?

KRYCEK: - Há dois tipos de pessoa no mundo, senhorita Wallace: umas que preferem a verdade, mesmo que esta doa muito. E outras que preferem viver as mentiras para se pouparem. Qual delas você é?

BARBARA: - Se o que vai me dizer vai doer muito, aposte, sou masoquista.

KRYCEK: - Se alguns homens souberem que sabe disso, sua vida correrá perigo. Se precisar que eu fale alguma coisa, eu falarei. Mas me mantenha como sua fonte, afinal você tem um juramento profissional e fontes não são reveladas. E não envolva Byers ou qualquer um dos Pistoleiros nisto. Eles estão visados demais. Sabe que Byers foi funcionário federal e sofreu a punição que convinha a esses homens.

Barbara disfarça tentando vê-lo.

BARBARA: - Sei, estudamos juntos. Byers perdeu todas suas regalias federais e foi demitido do governo. Mas Byers me disse que você pode não ser confiável e que é russo.

KRYCEK: - E o que mais ele disse? Que estou tentando desfazer os erros que eu cometi? Não se vire, por favor.

BARBARA: - Ok. E como posso confiar em você?

KRYCEK: - Vai confiar quando ouvir o que eu sei. Estive entre os homens da conspiração, mas agora sou um homem morto. Pensam que morri. Você conhece os Arquivos X? Um departamento dentro do FBI que investiga crimes sem solução?

BARBARA: - Ultimamente ouço muito falar sobre isto, mas achei que fosse apenas um departamento fictício para justificar despesas inúteis. Isso tem algo a ver com o julgamento dos agentes?

KRYCEK: - Fecharam os Arquivos X porque é um departamento que chega muito perto da verdade, senhorita Wallace. Tão perto que eles podem sentir o bafo da justiça em seu cangote.

BARBARA: - O que quer de mim?

KRYCEK: - Que especule a verdade. É como pode ajudar Mulder e as pessoas honestas desse país. Tem mentirosos demais nisso e são os inocentes que estão pagando.

BARBARA: - Mulder é inocente? Não é o que dizem. Se Mulder é inocente, por que estão fazendo isso com ele? É apenas um agente do FBI. Mulder sabe algo que...

KRYCEK: - Que pode colocar em risco esses homens. Mas não é isso o que temem. Querem Mulder e Scully separados.

BARBARA: - Com que intenção?

KRYCEK: - Não vai poder publicar essa verdade. Vai causar uma catarse coletiva desnecessária. Em nome da preservação da sanidade mental humana vai me jurar que não falará disto.

BARBARA: - Tudo bem, eu juro. Posso anotar o que disser?

KRYCEK: - Não. Vai ouvir isso da própria boca de Mulder. E vai me devolver depois.

Krycek retira da jaqueta uma fita de gravador. Entrega por sobre os ombros dela.

KRYCEK: - Peguei isto com ele. Prometi que guardaria essa fita para entregar a filha dele quando estivesse adulta, porque ele acha que não vai viver pra isso e que precisa contar pra filha que não é o homem mau que todos pregam. São confissões de um pai. Se não acredita em mim, acho que pode acreditar em um pai desesperado. Só não pode publicar isso para preservar a criança. A filha de Mulder e Scully. É isso o que esses homens querem.

BARBARA: - Por que o governo iria querer essa criança?

KRYCEK: - Ela não é uma criança comum, senhorita Wallace. Ela é o que eles chamam de Fator X. É o mais perto de Deus que você poderá chegar.

BARBARA: - O que está me dizendo?

KRYCEK: - Depende dos seus conceitos de religião.

BARBARA: - A teoria de que fomos criados por alienígenas...

KRYCEK: -Divindades, senhorita Wallace, ao contrário do que as pessoas pensam, não se caracterizam pelo extraordinário e auréolas. São genéticas. Os dons que tem e os milagres que fazem são por sua diferença genética. Pra esses gênios isto é tão normal quanto para os peixes é normal respirar embaixo da água. Eles nem tem consciência do que são.

BARBARA: - Eu omitirei isso.

KRYCEK: - Prepare-se porque terá dor de cabeça quando questionar a culpa de Mulder em público.

BARBARA: - Não tenho medo de nada.

KRYCEK: - Nem do seu governo? Preste atenção nas desculpas terroristas. Há terroristas demais nesse planeta. Não acha? Você pode fazer o que quiser e jogar a culpa nos outros, de acordo com suas intenções.

BARBARA: - Quem do governo está envolvido nessa coisa toda?

KRYCEK: - Não posso falar nomes porque não sei todos. Tente repartições e digo se tem algum deles ali dentro.

BARBARA: - Ok. Então apenas me confirme com um sim. O FBI está nisso?

KRYCEK: - Sim.

BARBARA: - A CIA?

KRYCEK: - Sim.

BARBARA: - O Departamento de Estado?

ALEX KRYCEK: - Sim.

BARBARA: - (INCRÉDULA) Senado?

KRYCEK: - Sim.

BARBARA: - (ASSUSTADA) Pentágono?

KRYCEK: - Sim.

BARBARA: - (ESPANTADA) A Casa Branca?

KRYCEK: - ...

BARBARA: - Existe alguém do governo que esteja fora disso? Todas as agências e órgãos do governo estão nisso?

Silêncio. Barbara vira-se rapidamente. Krycek já foi embora, ocultando-se pelas sombras.


Prisão Estadual da Virgínia – 11:11 P.M.

[Som: Ameno - Era]

Mulder sentado na cama. Olha fixamente para um ponto na parede. Tem os olhos cerrados de ódio.

Close na foto da parede: Scully, num sorriso, segura nos braços Victoria, com 6 meses de idade. O bebê tem pendurado ao pescoço uma chupeta branca com desenhos de ursinhos coloridos.

Mulder levanta-se da cama, como que hipnotizado. Pega um pedaço de carvão escondido numa lata.


Residência dos Mulder – 12:21 A.M.

[Som: Ameno - Era]

Câmera de aproximação, empurrando a porta e aproximando-se do berço. O abajur aceso.

Victoria deitada, os olhos abertos e parados olhando para o nada, pálida, como que morta. Em sua boca, a chupeta branca com desenhos de ursinhos coloridos.

Corte.


Prisão Estadual da Virgínia – 11:13 P.M.

[Som: Ameno - Era]

Mulder afasta-se da parede. Solta o carvão no chão, como se acordasse. Então olha para o carvão e para a parede.

Na parede desenhos de triângulos e a inscrição marcos 1-13.

Mulder recua assustado. Senta-se com os pés sobre a cama, observando a parede. A pequenina mão de criança toca o colchão, como se quisesse subir na cama. A mãozinha de Victoria toca o pé de Mulder.

Mulder ergue-se assustado e ofegante contra a parede. Olha para o chão.

Close do chão: A chupeta branca com desenhos de ursinhos coloridos.

Mulder leva a mão ao chão e a pega. Observa-a intrigado. Olha para a foto na parede.


Senado - Washington D.C.- 8:13 P.M.

[Som: Let's go Kill that Bastard (instrumental) – Michael Nymann & Damon Albarn]

Alguns senadores conversam no corredor. O senador Matheson e o senador Biedermann com eles.

Vemos pelos olhos da criatura: imagem em preto e branco, em favos, aproximando-se rapidamente dos senadores. A respiração pesada e ofegante.

Corta para as folhas da planta perto deles balançando-se como se algo tivesse passado rapidamente por elas.

Biedermann olha para o lado, desconfiado. Passa a mão na orelha direita. Então coloca a mão no peito.

MATHESON: - Está sentindo alguma coisa?

BIEDERMANN: - (PÂNICO) Frio...

Biedermann cai no chão tendo um ataque. O sangue escore da orelha direita. Todos ficam desesperados. Matheson agacha-se ao lado dele.

SENADOR #1: - Chamem um médico!

Matheson leva os dedos ao pescoço de Biedermann.

MATHESON: - (ASSUSTADO) Não precisa... Está morto.

O foco desvia para a planta que movimenta as folhas novamente.


Prisão Estadual da Virgínia – 8:01 A.M.

Mulder caminha pelo pátio, usando um macacão cor de laranja. Alguns outros presos por ali. Um deles, Levi, aproxima-se de Mulder lhe oferecendo cigarros.

MULDER: - Não, eu não fumo.

LEVI: - Eu tenho visto você há meses e... Fui tira também.

Os dois caminham lado a lado.

LEVI: - Mas ninguém, exceto o diretor do presídio sabe. Eles não costumam divulgar quem é tira aqui dentro, por questões de segurança. Da nossa segurança. Então fico me perguntando por que fizeram isso com você... Coisa de tira, você sabe. Sempre matutando coisas... Ah, me desculpe, sou Levi Johnsen. Trabalhava como detetive na divisão de drogas do Precinto 3.

MULDER: - Mulder... Ex-agente do FBI.

LEVI: - O que fez pra parar aqui, FBI?

MULDER: - Depende do ponto de vista. Segundo o FBI, sequestrei minha mulher que é agente federal e ocultei a gravidez dela. Isso foi considerado insubordinação e quebra de conduta. Segundo o tribunal eu estava envolvido com uma organização terrorista israelense já que tenho origem judaica. Me colocaram aqui por conspiração contra o povo americano. Segundo a inquisição espanhola, eu sou herege. Segundo o movimento feminista, eu sou machista. Segundo minha falecida mãe, eu sou um cretino. E segundo uma testemunha que mora no condado de Kern, que eu nem sei aonde fica, eu molestava sexualmente minha filha.

LEVI: - (SORRI) Está brincando comigo não é?

Mulder o encara sério.

LEVI: - (CURIOSO) O que você fez? Explodiu alguma coisa?

MULDER: - Usei laboratórios do governo, responsáveis pela disseminação de remédios adulterados contendo um vírus letal alienígena, para espalharem corantes alimentícios em produtos consumidos por americanos e vacinas contendo uma proteína que matava o vírus.

LEVI: - (INCRÉDULO) E.... Segundo o seu ponto de vista... Por que está aqui?

MULDER: - Porque eu sei muitas verdades que não convém serem reveladas. E porque frustrei os planos de aliança deles com alienígenas para dominar a terra. E também considere que preso aqui, eles ficam livres pra tirarem minha filha de mim. Afinal, a proteína que matou o vírus veio dela.

Levi olha pra Mulder como se ele fosse louco e se afasta assustado.

MULDER: - (SORRI) Vou me tornar seu inimigo, porque te conto a verdade?


Local Desconhecido – Washington D.C. - 11:19 P.M.

Close no tabuleiro de xadrez e na mão de The Gold Coin que usa um anel de rubi na mão direita. Move uma das peças. Não vemos seu rosto.

Movimento suave da câmera pela mesa. Há um jornal: A BALA MÁGICA – EXPLOSÃO E MATANÇA TERRORISTA FORAM RECURSOS PARA ENCOBRIR INVASÃO ALIENÍGENA. POR JOHN F. BYERS.

A câmera dirige-se lentamente para o general em pé na sala, lendo um livro: 'OS PROTOCOLOS DOS SÁBIOS DE SIÃO'.

Segue para o Canceroso fumando um cigarro. Ao lado dele uma enorme mesa com uma maquete de uma cidade. Um trenzinho de brinquedo passa pelos trilhos.

Há mais homens velhos e engravatados pela sala. Junto deles Lloyd, Stedtfeld e Strughold. Diana Fowley está quieta.

Foco em The Gold Coin, do peito para baixo, revelando o sobretudo e terno negro bem alinhados. Ele levanta-se e caminha pela sala.

Close de sua mão que retira uma moeda de ouro do bolso e brinca com ela entre os dedos.

CANCEROSO: - (SOPRA A FUMAÇA) Lamento pelo descontrole da situação. Mas era objetivo de todos que os alienígenas inimigos fossem mortos. Mulder conseguiu. Nos usou para isto, mas conseguiu. Assunto terminado. Arquivos X fechados. Alex Krycek está morto. Verdade escondida. Todos os canais foram utilizados para a limpeza das provas de nossa existência, portanto vocês estão seguros. Ainda não pegamos Garganta Profunda. (TRAGA NERVOSO) Mulder está na cadeia e vai ficar lá até ser morto. E Scully está trabalhando num hospital feito uma enfermeirinha barata.

THE GOLD COIN: -Me dê um cigarro.

O Canceroso entrega o maço. Coin recusa com a mão.

THE GOLD COIN: - Não estou tão desesperado assim para fumar essa porcaria que você fuma. Com quem a menina fica?

STRUGHOLD: - Com a avó e o tio. Acha que é hora de pegarmos a menina? Não teremos dificuldades pra isto. Mulder está preso, Scully está tentando pagar as contas. Alvo fácil. É o momento. Se esta criança é geneticamente o que pensamos, teremos como fazer um exército indestrutível para nos defendermos de qualquer raça alienígena que tente algo contra esse planeta novamente.

The Gold Coin para de brincar com a moeda e a guarda no bolso. Aproxima-se da maquete. Revira a pequena caixa com bonequinhos. Pega um dos bonecos de brinquedo. Coloca sobre a frente de uma casinha. Pega outro e coloca numa prisão.

THE GOLD COIN: - Conhecem táticas de guerra, senhores? O general McCallan conhece.

O general sorri. Coin fica movendo os bonecos tranquilamente na maquete.

THE GOLD COIN: - Temos Mulder aqui. Scully ainda é problema. Tente tirar a cria de uma fêmea, senhores. E verão o que acontece. Ela reage ferozmente, devorando quem se atreveu a tamanha façanha. Entretanto...

The Gold Coin retira o boneco da prisão e o coloca ao lado do outro em frente à casa.

THE GOLD COIN: - Se deixar a fêmea com seu macho, podem criar atrito entre eles e desunião. Senhores, eu conheço nosso inimigo muito bem para saber que o que torna Mulder e Scully perigosos é o amor que eles têm um pelo outro. Confiança e união em demasia. Isso deve ser destruído. Se arruinarem isso, implantarem a discórdia entre eles, os dois ficarão distraídos tentando saber o que os atropelou e então... Pega-se o filhote do ninho.

O Canceroso observa-o com curiosidade.

THE GOLD COIN: - Sabem que este não é um negócio que envolva caráter. Coisas como dopar senadores e tirar fotos deles ao lado de prostitutas de 14 anos e usar isso para chantagem pode parecer bobo a vista do que devemos fazer com Mulder e Scully.

DIANA FOWLEY: - E o que vai fazer? Acha que vai conseguir colocar um contra o outro? Já tentamos isso. Não funcionou.

THE GOLD COIN: - Tentaram tirar um do outro, senhorita Fowley. E com isso apenas alimentaram o sentimento e a união deles. Não tentaram criar o desamor e a desconfiança, e assim uma separação definitiva. Vocês não sabem o que é a necessidade de amar alguém? Não sabem a dor e o ódio que vem depois disso quando as coisas saem de controle? Vocês esqueceram que são humanos? E que há tempo para amar, tempo para lutar e tempo para morrer... Na verdade a genética dessa criança é vista como ameaça para vocês.

CANCEROSO: - E não é para vocês?

THE GOLD COIN: - Não da mesma maneira. Vocês pensam apenas na matéria, eu penso além disso. Penso na consciência. Enquanto vocês querem criar homens resistentes ao caos que vocês mesmos criaram, eu quero apenas que ela não semeie suas capacidades mentais evoluídas a respeito do mundo. Homens evoluídos pensam. Pensam antes de matar. Pensam antes de magoar. Tornam-se mitos, mestres, messias. Semeiam revolução de pensamento. Isso não é bom para nenhum de nós que governamos o mundo. Não é lucrativo. O ódio gera a guerra, que move a economia. O egoísmo gera a individualidade, que afasta a confiança e mantém os homens separados. Grupos são perigosos. É melhor que pensem apenas em si próprios, que invejem e destruam.

STRUGHOLD: - (IRRITADO) Deviam matar é Spender! Ele começou isso, colocando Mulder entre nós para se vingar de mim. Eu exijo que você leve esse assunto ao topo...

THE GOLD COIN: - Quem você pensa que é para exigir alguma coisa da minha pessoa, seu monte de estrume? Eu posso pegar o telefone agora e dar meu parecer ao grupo e dizer que vocês são incompetentes demais para respirar! Abaixe seu tom de voz quando falar comigo!

CANCEROSO: - Fui enganado por ele. Mas Mulder vai pagar por isso...

THE GOLD COIN: -Há um provérbio turco que diz: 'Quando o machado entrou na floresta, as árvores disseram: o cabo é dos nossos...' Portanto, senhor Spender não menospreze um homem. Já deveria saber que colocar Mulder em qualquer lugar do tabuleiro significa que as árvores continuarão tendo um aliado.

Strughold e o Canceroso se observam num sorriso cínico. Diana observa The Gold Coin com admiração e surpresa.

GOLD COIN: - Mulder não é dos nossos. Nunca será. E é preciso que exista o bem para existir o mal. O equilíbrio de forças, senhores. Apenas o equilíbrio de forças. Não podemos intervir na natureza das coisas. Tenham respeito por Mulder. É um inimigo poderoso que vocês criaram.

STRUGHOLD: - O Projeto Fator X precisa ser iniciado. Agora é nossa chance de ter Evas naturais e não manipuladas por laboratório nos criando confusões com sua esquizofrenia, causada pela ativação de um cérebro que não suporta mais do que 10% de inteligência. Temos genes de Mulder tomados por nós na suposta abdução dele. Precisamos apenas retirar os óvulos da menina e forçar o amadurecimento.

THE GOLD COIN: - Quais os riscos de deformação das cópias? Pensaram nisto? Nas aberrações genéticas que enfrentaremos?

STRUGHOLD: - Pelo mapeamento do genoma evitamos os riscos de deformação causados pelo cruzamento genético entre pai e filha. Imagine uma colônia de soldados infalíveis criados por nós. Uma raça completamente nova e desconhecida, para matar e resistir ao caos. Apenas para nos servir. Verdadeiras máquinas de guerra, desconhecidas pelos humanos e por alienígenas.

THE GOLD COIN: - Pouco me interessa o que farão geneticamente, senhor Strughold. Poupe-me dos seus detalhes sórdidos. Apenas quero essa menina isolada do mundo. Depois que a pegarem, eu tenho carta branca para ficar com ela. Vou criá-la como filha. Cuidarei dela, como os Strughold cuidaram de você e Bill Mulder. Ela terá tudo que quiser e servirá aos nossos propósitos.

CANCEROSO: - Quero saber o que fará com ela. Todos os envolvidos nisso querem saber. E eu me interesso particularmente, porque é minha neta.

THE GOLD COIN: - Neta?Se vende seus próprios parentes, senhor Spender, vende sua alma.Se eu pudesse pegar a menina, eu o faria por vocês. Mas não posso. Preciso que me deem a menina.

Coin retira a moeda do bolso e fica brincando com a moeda.

THE GOLD COIN: - Mulder me conhece. Ele sabe quem eu sou.

CANCEROSO: - Como ele conhece você, se nenhum de nós aqui realmente se conhece? Eu nem sei o seu nome verdadeiro.

THE GOLD COIN: - Isso não é relevante. O que interessa é que Mulder me conhece. Se vir meu rosto, vocês terão problemas sérios. Mulder terá a certeza de algo que já sabe, mas não quer acreditar.

CANCEROSO: - Podemos colocar novamente os nossos no tribunal quando Scully recorrer da sentença pela milésima vez e assim libertaremos Mulder.

THE GOLD COIN: - Acredite, senhor Spender. Em breve Mulder será solto. Ou pelo tribunal, ou talvez pelo presidente desesperado com esse Arquivo X que já está ocorrendo.

DIANA FOWLEY: - Por Deus, você sabe algo sobre essas mortes? São vocês nos retaliando, não é mesmo? Estão matando os seus porque cometemos erros...

THE GOLD COIN: - Tudo o que sei é que Deus não está morto, senhorita Fowley. Ele apenas se recusou a envolver-se nesse assunto.


FBI – Sala de Reuniões – 1:39 P.M.

[Som: Monster – Steppenwolf]

Vários homens bem vestidos entram na sala, tomando seus lugares à mesa. Skinner sentado em silêncio, ignorando todos. Kersh senta-se longe de Skinner o observando atento e sério. Carter sentado à ponta da mesa. Atrás dele a bandeira do FBI. McKenna entra receoso, observando todos, com um spray de ambientes no bolso do paletó.

CARTER: - Convoquei essa reunião especial juntamente com o Conselho Geral e o diretor delegado. Temos um caso prioritário a ser resolvido e quero o máximo de agentes envolvidos nisso. Mortes de pessoas ligadas aos escalões do governo vêm acontecendo. Não foram tomadas providências porque pareciam mortes comuns. Mas o governo começa a desconfiar de que há alguma coisa por trás disso. Verifiquem suas pastas. Encontrarão uma lista de pessoas ligadas à algum órgão do governo que subitamente morreram.

KERSH: - (DISTRIBUINDO PASTAS) O rigor mortis: Ataque cardíaco. Uma causa aparentemente comum. Não fosse um estranho sangramento no ouvido direito. As desconfianças iniciaram quando um agente da CIA durante uma missão sofreu um ataque cardíaco numa estação do metrô há apenas duas quadras daqui. A autópsia não revelou nada, mas a orelha direita da vítima apresentava sangue coagulado. Sem nenhum tímpano ter sido perfurado.

MCKENNA: - Algo foi roubado?

CARTER: - Não. Em nenhum caso. Trabalharemos com a hipótese de envenenamento.

SKINNER: - Se me permitem dizer... Só há um homem que pode descobrir a verdade: Mulder. Porque acredito que isto possa ser um Arquivo X.

Todos riem. McKenna, neurótico, com o spray de ambientes, quase acerta os olhos do agente ao lado dele. Todos olham pra McKenna.

MCKENNA: - Está um cheiro insuportável aqui dentro. Detesto lugares fechados. O que dizia, Skinner?

Kersh encara McKenna, balançando a cabeça negativamente.

CARTER: - Walter dizia que é um Arquivo X.

MCKENNA: - (SE COÇANDO TODO) Arquivo X? Por favor, não mencionem o termo! Só de pensar naqueles dois agentes doidos eu tenho meus ataques de urticária!

SKINNER: - Se for um Arquivo X, como poderão resolver? Não há ninguém apto aqui dentro. Nem mesmo a agente Diana Fowley.

CARTER: - Deixe a agente Fowley fora disto, senhor Skinner. (DEBOCHADO) Acha que homenzinhos verdes estão matando homens do governo?

SKINNER: - (DEBOCHADO) Ou homens do governo estão matando homenzinhos verdes? Ou seriam os "malditos indianos"?

CARTER: - Os Arquivos X estão temporariamente aguardando a transferência de dois agentes. Mulder e Scully estão fora, expulsos por insubordinação, ocultamento de provas e quebra de conduta. Esqueça-se deles. E esse caso não será jurisdição sua. Aliás, se esse departamento voltar a funcionar, não pertence mais a você. Kersh ficará com os Arquivo-X.

MCKENNA: - (ERGUE AS MÃOS) Graças à Deus! Eu recusaria!

KERSH: - Finalmente a verdade foi exposta. A justiça foi feita. Fico imensamente feliz em ver que Mulder já completou quatro meses na cadeia. E acredito que quinze anos é pouco para puni-lo. Deveria apodrecer na prisão.

CARTER: - Reunião terminada. Quero que me mantenham informado sobre as investigações. Reportem-se ao diretor delegado Kersh sobre qualquer progresso.

Skinner sai indignado da sala. Todos saem, menos Kersh. Carter fecha a porta.

CARTER: - Sabe algo que não sei sobre esse caso, diretor delegado? Devo temer?

KERSH: - Não foram eles. Também querem saber quem foi o responsável. O que faço com os Arquivos X? Não querem mais expor Diana Fowley.

CARTER: - Vá adiando a transferência de agentes, enrolando... Talvez se esqueçam desse departamento e em alguns meses eu o encerro pra sempre. E acabam-se os problemas. E desta vez, queimem tudo. Não deixem casos arquivados para que um outro Mulder os descubra no futuro. Isso só nos traz encrenca.


Residência dos Mulder - Virgínia - 8:21 P.M.

No quarto de Victoria, a luz do abajur ligada. Meg sentada ao lado do berço, lendo um livro.

MEG: - Então o anjinho Gabriel protegeu o menino Jesus e a mamãe dele, Maria.

Meg fecha o livro.

MEG: - Dei esse livrinho pra sua mãe quando era pequenina. Sabia que você é o anjinho da vovó?

O telefone toca. Meg larga o livro aberto sobre a cadeira e sai do quarto.

[Som: Never Grow Old – The Cramberries]

Victoria deitada no berço, olha para a figura do anjo no livro e sorri. Volta a atenção para o móbile de ursinhos que se movimenta com a brisa. Olha em direção à porta.

Cookie, o cachorro, está deitado no corredor.

Victoria estende o bracinho como se quisesse alcançar o cão. Volta a atenção para o móbile. Morde as mãos, balança as pernas rechonchudas no ar, emitindo sons de bebê. Movimenta os olhos observando o quarto. A prateleira com brinquedos e o ursinho caído ao chão.

Victoria estende a mão como se quisesse pegar o ursinho. Faz um beiço. Olha para Cookie que a observa. Mantém os olhos parados olhando para o cão.

Cookie ergue a cabeça olhando pra ela e abanando o rabo.

Victoria continua olhando pra ele.

Cookie entra no quarto. Pega o ursinho com a boca e o leva até o berço. Apoia-se com as patas no berço, derrubando o ursinho lá dentro.

Victoria pega o urso e começa a brincar. Cookie volta para o corredor e deita-se, a observando.


Casa Branca – Gabinete do Presidente – 10:17 P.M.

Abre o foco na bandeira americana. O presidente entra no foco. Câmera de acompanhamento do presidente andando pela sala. Há homens engravatados, generais, Carter e o assessor presidencial.

PRESIDENTE: - Tenho pessoas relacionadas ao meu governo sendo assassinadas. E tenho um órgão federal chamado FBI que não está fazendo absolutamente nada. Ou está, Diretor Carter? Diga-me com sinceridade, aqui nesta sala, em que etapa está a investigação?

CARTER: - (APATETADO) Bem...

PRESIDENTE: - Não estão saindo do lugar. Correto? (INSPIRA FUNDO) Carter, por acaso, eu estava lendo o organograma do FBI e a prestação de contas. Não havia um departamento chamado Arquivos X? Que tal colocar essa gente no trabalho, já que são especialistas no que não tem explicação lógica? Acho que isto se aplica a esta situação.

CARTER: - Senhor Presidente, os Arquivos X estão temporariamente desativados até nomearmos agentes novos.

PRESIDENTE: - E o que aconteceu com os agentes que estavam lá? Foram... (RINDO) Abduzidos? (RINDO) Steven Spielberg os levou?

Os presentes ficam quietos, constrangidos. O assessor também constrangido disfarça e se aproxima do presidente.

ASSESSOR: - (COCHICHA) Senhor, eles foram expulsos por insubordinação. O assunto teve repercussão na mídia. Lembra-se?

PRESIDENTE: - (SEM GRAÇA) Ahm, sim. Eu sei o que houve, Carter. Estou informado disso. Então coloque alguém dentro daquela sala antes que minha imagem fique ameaçada por incompetência de um dos meus homens, justamente o nomeado para o FBI. Sejam sinceros. (OLHANDO PARA OS DEMAIS) Tem alguma organização do governo envolvida? CIA, Departamento de Estado...

Todos se entreolham nervosos.

PRESIDENTE: - Eu estou perguntando é se tem alguém envolvido com essas mortes.

GENERAL #1: - Não, senhor. O Pentágono não tem informação a respeito disso. Não é jurisdição militar.

HOMEM DA CIA: - A CIA nega qualquer envolvimento, senhor. Estamos investigando atos terroristas. Não podemos nos intrometer no trabalho da polícia.

PRESIDENTE: - (PARA CARTER) O que está fazendo aqui ainda? Sobrou para o FBI! Coloque agentes nisso! Justifique as despesas públicas para este departamento, antes que eu justifique minha decisão de sugerir a nomeação de outro diretor!

Carter levanta-se, aturdido.


Residência dos Mulder - Virgínia - 11:27 P.M.

Scully entra em casa. Larga a bolsa sobre a poltrona. Tira o casaco e o coloca no armário. Meg desce as escadas.

MEG: - Já estava preocupada. Vou esquentar a sopa pra você.

Scully deprimida atira-se no sofá.

SCULLY: -Estou sem fome. E o meu anjinho?

MEG: - Um anjinho como sempre. Dormiu.

Scully sorri. Suspira e desanima de novo.

SCULLY: - Mãe, vou procurar outro emprego. Não vou aguentar essa tortura.

MEG: - (PREOCUPADA) Pediu demissão?

SCULLY: - Não, claro que não! (TRISTE) Não posso me dar ao luxo de fazer isso. Aquela Dra. Dufour. (IRRITADA) Mãe, aquela mulher estraga meu dia! Hoje ela fez de propósito me escalando para o plantão!

MEG: - Dana, as pessoas vão pisar em cima de você depois do que aconteceu. Precisa esquecer o passado e seguir o presente. Eu sei que vai superar tudo, filha. Agora é a sua chance de ser médica, ter um consultório com seu nome, eu e seu irmão Bill ajudaremos você a conseguir isto.

SCULLY: - Mãe, não posso, tá? Você já está bancando essa casa. Até o leite da sua neta. Eu me sinto a pior das mães! O que ganho como auxiliar mal dá pra pagar a hipoteca da casa!

Scully está frustrada e contrariada.

MEG: - Não seja orgulhosa! Agora você vai poder realizar o sonho de seu pai, o que será melhor pra você. Sua teimosia fez você entrar para o FBI. Pelo menos valeu por ter conhecido Fox, mas você não quer ficar por aí correndo atrás de coisas estranhas com uma arma na mão. Precisa cuidar de sua filha. O seu lugar é com os pacientes, chega de polícia e perigos desnecessários...

SCULLY: - (CORTANTE) Achou a chupeta da Victoria?

MEG: - Não consigo encontrar. Já revirei a casa toda!

SCULLY: - Eu vou subir. Talvez ela esteja com fome.

MEG: - Eu dei mamadeira pra ela antes de dormir.

Scully sobe as escadas, cansada.

Corte.


[Som: Never Grow Old – The Cramberries]

Scully entra no quarto de Victoria. A luz do abajur acesa. Scully aproxima-se do berço. Agacha-se ao lado. Coloca a mão pelas grades, afagando o rostinho da filha que dorme. Scully seca as lágrimas que começam a correr.

SCULLY: - (SORRI) Oi anjinho. Mamãe chegou.

Victoria suspira dormindo. Remexe-se na cama. Scully ajeita os fiapinhos de cabelo dela. Admira a filha. Victoria abre os olhos. E um sorriso ao ver Scully.

SCULLY: - Ô, anjinho. Mamãe acordou você é? Que mamãe malvada!

Scully a toma nos braços. Senta-se na poltrona. Abre a blusa. Começa a amamentar a filha, olhando pra ela, segurando sua mãozinha.

SCULLY - (TRISTE) Eu sei que as coisas estão difíceis. Mas tudo vai se ajeitar com o tempo.(DERRUBA LÁGRIMAS) Eu queria que estivesse aqui, nós sentimos sua falta, Mulder.

Victoria ao ouvir 'Mulder' afasta-se do seio de Scully e procura Mulder com os olhos.

SCULLY: -Também está com saudades do papai?

Victoria olha pra ela.

SCULLY: - (SORRI ENTRE LÁGRIMAS) Eu sei que está, basta falar o nome dele que você o procura com os olhos. Papai vai voltar. Ele vai voltar pra nós. Mamãe contratou outro advogado, vai recorrer na justiça e vamos tentar condicional para o papai. Tá bom? Logo você vai ter papai aqui de novo, do seu lado, contando estórias pra você, fazendo caretas, lhe chamando de Pinguinho. É uma promessa.

Corte.


Scully entra no quarto, visivelmente triste. Liga o CD player sem nem olhar pro aparelho.

[Som: I'm in You – Peter Frampton]

Scully senta-se na cama. Observa o travesseiro de Mulder. Afaga o lado da cama dele com carinho, segurando as lágrimas. Deita-se na cama. Continua afagando o colchão.

SCULLY (OFF): - Como posso viver sem você? Como posso continuar minha vida com você longe de mim? Há meses eu tento resistir a isso tudo e até que estou fingindo bem.

Scully derruba lágrimas.

SCULLY (OFF): - Mas quando eu me tranco aqui e olho pra essa cama, eu ainda consigo ver você nela, consigo ouvir sua voz falando sobre conspirações do governo. Chego a sentir seu perfume, ouvir seus passos no meio da noite, como se você estivesse chegando de surpresa...

Scully chora, soluçando.

SCULLY (OFF): - Eu chego a abrir o guarda-roupa e pegar seus ternos para sentir seu cheiro! Durmo agarrada ao seu travesseiro. Eu preciso de você, Mulder! Da sua loucura, das suas piadas... Da sua presença aqui. Dói ficar sozinha, longe de você.

Scully tenta secar as lágrimas.

SCULLY (OFF): - Sem você em não existo, eu me apago, eu perco a minha força... Mulder, eu estou em você e você está em mim. A vida perdeu todo o sentido! Eu sei que você sempre soube do que aconteceria com você, mas mesmo assim fez tudo pra que tivéssemos nossa filha. Sei que fez tudo isso por mim, Mulder. Você sempre me salvou, sempre fez tudo para que eu não me magoasse, para que ninguém me machucasse, sem se preocupar com o que aconteceria a você. Você cuidou de mim. Seu amor sempre foi incondicional, louco e inconsequente. Mulder... Eu até suporto ser humilhada e viver longe dos Arquivos X. Mas o que não posso suportar é ficar longe de você.

Scully senta-se na cama, derrubando lágrimas.

SCULLY (OFF): - Você me deu uma filha e o preço foi tirarem você de mim, Mulder. E esse ato foi como se roubassem minha alma. Eu não sei mais quem é Scully! Eu vejo apenas a Dana aqui. A Scully morreu quando você foi preso. Se nós vencemos tendo nossa Victoria, agora eles venceram porque tiraram você de nós.

Scully abre a gaveta e retira um rosário. Segura-o entre as mãos, ficando de joelhos no tapete, apoiando os cotovelos na cama.

SCULLY: - (OLHOS FECHADOS, CHORANDO) Meu Deus, devolva o Mulder pra mim. Cuide dele, proteja-o, não o desampare em nenhum momento. Alivie seu sofrimento, sua solidão. Você, Senhor dos Justos, que sabe o quanto Mulder é justo e o quanto luta pela verdade. Quantas vidas Mulder salvou, incluindo a minha e de nossa própria filha. Meu Deus, isso não é justo! (CHORANDO) Nenhum pouco justo! Por que a justiça do homem é tão errada? Por que eles sempre conseguem afastar nós dois que nos amamos tanto?

Scully seca as lágrimas, mas ela continuam saindo de seus olhos.

SCULLY: - Senhor, ilumina com teu Espírito toda aquela corte, para que eles consigam ver a verdade e libertem meu marido. Eu quero minha família de volta! A minha família...

Scully recosta o rosto contra o colchão, chorando convulsivamente.

Corte.


Prisão Estadual da Virgínia – 11:59 P.M.

Na prisão, Mulder deitado na cama, brinca com a chupeta de Victoria em suas mãos. Olhos em lágrimas. Olha para a foto de Victoria e Scully na parede.

MULDER (OFF): - Dentro de mim mantenho uma raiva incontida. Eu sei que não posso sair daqui. E eu sei que não vão me deixar viver para sair. Entretanto, o que evita que eu faça alguma besteira é a presença de Victoria aqui comigo. Eu posso sentir seu cheiro de rosas, sua presença no meio da noite. Eu sei que você pode fazer isso, Pinguinho. Muitas noites eu consigo ver sua silhueta, sentada na cama, ao meu lado, brilhando como um raio de sol. Só não entendo por que eu tenho feito estas coisas estranhas. Estou enlouquecendo? Por que faço coisas que depois não lembro?

Mulder ajeita-se na cama, segurando a chupeta da filha. Olha para a parede.

Acima da foto na parede surge a inscrição em carvão: Apocalipse 13:17-18.


Hotel Meridien – Washington D.C. – 11:56 P.M.

[Som: Let's go Kill that Bastard (instrumental) – Michael Nymann & Damon Albarn]

O rapaz num uniforme do hotel empurra o carrinho com o jantar pelo corredor, enquanto assovia uma canção. Para em frente ao 713 e bate à porta.

MAN #1: - Serviço de quarto, senhor.

Nenhuma resposta. O rapaz olha para o carrinho. Retira um gomo de uva e leva à boca. Empurra mais o carrinho, barrando a porta. Bate à porta novamente.

MAN #1: - Serviço de quarto, senhor!

A porta abre-se lentamente, rangendo. O rapaz olha pra dentro do quarto.

O corpo de Stedtfeld, jaz sobre a cama, em estado de decomposição. As moscas por sobre o corpo e as larvas que se proliferam.

O rapaz aperta o nariz com a mão, evitando respirar o cheiro putrefato, enquanto caminha de costas para o corredor. O carrinho rapidamente é arremessado contra a parede. O rapaz vira-se, assustado. Algo invisível o empurra contra a parede com enorme violência.

As plantas do corredor movem-se sem vento algum.

O elevador abre-se. O casal que está ali é arremessado violentamente para fora.

A porta fecha-se rapidamente.

Corte.


Casa Branca - 8:21 A.M.

Imagem externa da Casa Branca e da Av. Pennsylvania.

Corta para o gabinete do presidente. O presidente sentado à escrivaninha, vestido num robe. Carter entra na sala.

PRESIDENTE: - Sente-se, Carter. Já leu o jornal de hoje?

Carter senta-se.

CARTER: - Não, senhor.

O presidente pega o jornal e calmamente o lê.

PRESIDENTE: - Manchete de capa: 'Homem invisível ataca hotel e mata o Secretário de Estado Charles Stedtfeld. Casa Branca continua em silêncio'... Um funcionário do hotel diz que foi atacado pelo homem invisível e dois hóspedes confirmam a versão. O corpo de Stedtfeld foi encontrado na cama já em estado de decomposição. Algumas fontes do governo dizem que os crimes podem estar ligados ao escândalo do FBI envolvendo os Arquivos X e o agente Fox Mulder, que teve provas não analisadas de sua inocência pelo juri onde Stedtfeld fazia parte...

O presidente larga o jornal sobre a mesa.

PRESIDENTE: - É o que Barbara Wallace, do Washington Daily, um jornal sério diz. Imagine os jornais sensacionalistas o que andam dizendo? Imagine mais ainda: Como ela sabe de coisas das quais não deveria estar sabendo como "provas não analisadas"? Quem são essas fontes do governo? De que "governo" ela está falando? O nosso ou aquele que não existe, se é que você me entende...

O presidente abre a caixa de charutos cubanos.

PRESIDENTE: - Aceita?

CARTER: - Não.

PRESIDENTE: - (SORRI) É minha única reação de paz com Fidel.

O presidente pega um charuto. Corta a ponta com o cortador.

PRESIDENTE: - Fumar um charuto é um ato religioso. Você deve ter paciência, concentração e envolver-se com o momento.

Carter o observa com receio. O presidente acende o charuto. Sopra a fumaça.

PRESIDENTE: - Um bom charuto deve ser degustado com prazer, como um único momento. Mas Carter, deve saber que eu não chamei você até aqui para discorrer minha filosofia sobre charutos. Como estão as investigações? Já tem um suspeito? Certamente não é o Homem Invisível, não é mesmo? Não quero ouvir isto.

CARTER: - (SUANDO FRIO) Bem...

O presidente ergue as sobrancelhas, mordendo o charuto, num ato de quem espera a resposta com curiosidade.

CARTER: - (NERVOSO) Os Arquivos X foram reabertos como o senhor sugeriu. As investigações iniciaram.

PRESIDENTE: - Então finalmente temos agentes trabalhando no caso! E isso vai calar as acusações de que os Arquivos X foram encerrados por serem um departamento perigoso.

CARTER: - Bem, eu... (RELUTANTE) Coloquei dois agentes no departamento. Mas eles não apresentaram nenhum progresso.

Carter abaixa o tom de voz para não ser ouvido.

CARTER: - Então indiquei mais dois e ...

PRESIDENTE: - Fale mais alto, não estou ouvindo.

CARTER: - E mais dois...

PRESIDENTE: - (IRRITADO) Aonde quer chegar com isso, Carter?

CARTER: - Senhor presidente... (NERVOSO) Eu... Eu já nomeei vários agentes para os Arquivos X, mas não encontro agentes que... Se encaixem no perfil do departamento. Já coloquei mais de uma dúzia lá dentro e...

O presidente se levanta, indignado.

PRESIDENTE: - Está me dizendo, Carter, que em todo o FBI não há alguém apto para investigar esse caso?

CARTER: - Senhor...

PRESIDENTE: - E os escritórios espalhados pelo país? Carter, você está me dizendo que não temos ninguém para comandar e investigar isso? É realmente o que está me dizendo?

CARTER: - (TENSO) Pensei em contratar videntes, pessoas ligadas à paranormalidade e...

PRESIDENTE: - Estranhos? Vai colocar estranhos nisso? Dos quais você nem mesmo tem certeza da eficiência e nem do sigilo que é necessário?

O presidente caminha pela sala, fumando e indignado. Carter assustado.

PRESIDENTE: - Precisamos de gente treinada, de policiais!

CARTER: - E-Eu encontrarei, senhor.

PRESIDENTE: - E quanto aos agentes que estavam lá?

CARTER: - Sabe da situação, senhor.

PRESIDENTE: - Eu não quero saber da situação! Eu sou presidente desse país! Tem noção disso? Tem noção da bomba que estourou no meu quintal?

CARTER: - Senhor...

PRESIDENTE: - Claro que não tem noção, Carter! Não tem noção nem do seu papel como diretor do Bureau Federal de Investigação! Você não tem noção do perigo! Nem da esquerda pra direita! Você não sabe a diferença entre um homem e uma mulher! Eu quero um uísque agora ou vou ter um enfarto!

CARTER: - (PIGARREIA) Senhor, vamos...

O presidente serve um uísque.

PRESIDENTE: - Chame-os de volta!

CARTER: - Não posso fazer isso. O agente Mulder está preso. Eles violaram regras do bureau e eu não posso readmiti-los sob pretexto algum. Temos regras e normas a serem seguidas...

PRESIDENTE: - Não me fale em regras, Carter. Eu não quero saber de regras e nem dos seus indianos malucos! Eu quero resultados naquela mesa!

CARTER: - Mas eles são bandidos! A própria opinião pública sabe disso.

PRESIDENTE: - A mesma opinião pública que sabe da sua incompetência para dirigir o FBI é a mesma opinião pública que quer uma resposta do seu presidente sobre os assassinatos de seus políticos e que ainda você não me deu nenhum suspeito. Enquanto isso não acontecer o que vou dizer? Que o Homem Invisível está à solta, matando burocratas e que infelizmente, não podemos fazer nada porque ele é invisível? Ahn? Quem sabe digo que são os alienígenas? Não, isso eu não posso dizer porque nos esforçamos pra dizer que eles não existem.

CARTER: - Como podemos ter certeza de que é um Arquivo X?

PRESIDENTE: - Eu não sou policial, Carter, você é quem deveria ser. Mas sei que um corpo leva dias para ficar em estado de decomposição. Como explica que almocei com Stedtfeld pela tarde e pela noite ele estava morto e putrefato? Ponha-os de volta! Quero esses agentes no FBI! Se não há mais ninguém capaz, isso me prova que você é um mentiroso quando disse que eles eram incompetentes!

CARTER: - Não é decisão minha, senhor. São regras de conduta da instituição, eu não posso quebrar regras estabelecidas por Hoover!

PRESIDENTE: - Muitas regras estabelecidas são quebradas, Carter. Você mesmo já as quebrou. Eu mesmo já quebrei. Hoover quebrava mais regras do que nozes! Algo me diz que se eu não me cuidar, você me mata e põe a culpa num franco-atirador. Embora seja idiota demais pra isso.

Carter está tenso. Serve um uísque.

PRESIDENTE: - Seja sincero, Carter. Somos amigos. O que esses agentes fizeram de tão grave? É você que não os quer por eles quebrarem regras ou tem alguma organização governamental oculta que está em seu pescoço querendo os dois fora do FBI?

CARTER: - Não há ninguém envolvido, senhor.

PRESIDENTE: - Então você criou caráter do dia para a noite. Sinceramente, Carter, isso sim é um Arquivo X.

O presidente pega o telefone. Aperta uma tecla.

PRESIDENTE: - Venha a minha sala agora.

O presidente desliga. Olha pra Carter.

PRESIDENTE: - Quero esses dois agentes no caso, Carter. Pouco me interessa as malditas regras porque temos um assassino maluco à solta por aí, envolvido com pessoas do meu escalão e uma delas pode ser eu mesmo! Isso é uma questão de segurança pública! E se está com medo de retaliação por parte dos interessados no afastamento deles, pode dizer a eles que eu mesmo mandei dizer que, talvez, eles também estejam na lista de vítimas do tal "homem invisível". E depois negue tudo. Sabe como funciona.

O assessor entra.

PRESIDENTE: - Agora saia daqui Carter. Vá procurar estes dois agentes. Estamos nas mãos deles. Se não nos ajudarem, as coisas ficarão piores. E quero dizer com isso que piores pra mim, piores também pra você. Entendeu agora?

CARTER: - Sim, senhor Presidente. Me dê apenas uma semana.

PRESIDENTE: - Última chance, Carter. Desfaça essa merda toda, bote seu cérebro pra funcionar e arrume desculpas pra reverter a situação daqueles agentes. Não irá demorar muito e a imprensa vai começar a colocar a culpa nos X-Men! Mexa-se Carter! Anda!

Carter sai da sala. O presidente vira-se para o assessor.

PRESIDENTE: - Faça uma lista de homens competentes e disponíveis para assumir a direção do FBI. Se em duas semanas Carter não apresentar avanços nesse caso, a cabeça dele vai rolar. Antes que role a minha. Coloque o nome de Walter Skinner na primeira indicação.

ASSESSOR: - Skinner? Tem certeza disso? Mas Skinner não é confiável...

PRESIDENTE: - Sim, Skinner. Isso vai afastar as atenções que não quero pra cima de mim quando essa caca toda da latrina deles voar pelo ventilador.


Residência dos Mulder - 9:39 A.M.

O telefone toca. Scully desce as escadas num robe. Atende.

SCULLY: - Alô? ... Oi mãe... Sim, eu quero que Charles fique com Victoria. Preciso estar no tribunal às 9 horas... (SUSPIRA) Não, mãe eu estou bem. Vou me arrumar, você tem a chave, entra quando chegar, eu já deixei as mamadeiras prontas... Também amo você, mãe... Eu agradeço se puder fazer isso. Não tenho mais nada na geladeira... Obrigada, mãe.

Scully desliga o telefone. Abre a porta da frente. Sai para pegar o jornal. Na calçada, Nancy e outras vizinhas cochicham olhando para Scully que está parada na porta, pegando o jornal. Scully olha pra elas.

SCULLY: - (INDIGNADA) Algum problema, Nancy? Por que não cuida da sua vida, hein?

Scully cerra o cenho e bate a porta na cara delas.


7:04 P.M.

Charles, em uma túnica budista, na sala com Victoria no colo. Victoria usando um vestido de estampas e babados e sapatinhos pretos com meias brancas de babados.

A porta se abre. Mulder entra ao lado de Scully.

CHARLES: - (FELIZ) Bem vindo ao lar, Mulder! Gostei do seu novo visual. Parece o John Lennon se colocar uns óculos e uma túnica! (CANTANDO) Imagine there's no heaven...

Scully cutuca Charles, desaprovando o comentário. Mulder olha pra Victoria e enche os olhos de lágrimas.

MULDER: - Ela... (EMOCIONADO) Cresceu tanto... Não vai mais me reconhecer. Quatro meses se passaram, estou com barba, cabeludo...

Charles aproxima-se com Victoria. Mulder olha pra filha.

SCULLY: - Quem é esse, neném?

Victoria dá um sorriso abrindo os braços. Mulder começa a derrubar lágrimas, pegando a menina e a abraçando contra si.

CHARLES: - (EMOCIONADO) Estou indo. Liguem pra casa da mamãe se precisarem de mim.

SCULLY: - Não esqueça de levar o quebra cabeça do Matthew. Entregue pro Bill.

Charles segurando as lágrimas, olhando pra Mulder com Victoria.

CHARLES: - Eu levo outra hora. Fiquem em paz.

Charles sai. Scully fecha a porta. Observa Mulder. Mulder embala a filha, abraçado nela.

MULDER: - Oi, Pinguinho! Papai voltou.

Mulder olha para a pulseirinha no braço da filha. Sorri entre lágrimas.

MULDER: - Ei, já estamos usando joias? Você está tão bonita! A garotinha linda do papai.

SCULLY: - Diz pro papai que você se arrumou toda pra esperar por ele.

MULDER: - Nossa, eu mereço tanto? Que vestido bonito!

Victoria sorri, escondendo o rostinho contra o ombro de Mulder.

SCULLY: - Vou preparar um banho pra você, Mulder.

Scully sobe as escadas.

[Som da campainha]

Mulder abre a porta. Meg entra com sacolas de compras. Mulder olha pra ela sem entender.

MEG: - (SORRI) Que bom ver você de novo, Fox!

MULDER: - Bom ver você, mãe... O que é isso? Scully colocou você de empregada?

MEG: -Passei no supermercado e trouxe algumas coisas. Meu Deus, você está horrível!

MULDER: - Tá bom, mãe, eu vou tentar fazer a barba se o espelho não quebrar primeiro.

Victoria começa a brincar com a barba de Mulder. Mulder observa triste Meg que vai pra cozinha, numa sensação de que algo está errado. Vai atrás dela.

MULDER: - Você fez compras?

MEG: - Vou pagar o táxi e já volto.

Meg sai. Mulder observa as compras. Abre os armários. Quase vazios.

MULDER: - As coisas não estão boas por aqui não é?

Victoria olha pra Mulder fazendo um beiço, soltando alguns sons. Mulder olha pra ela e sorri.

MULDER: - Já está fazendo barulho pela casa? Ahn? (A ABRAÇA E A BEIJA) Você cresceu tanto, Pinguinho! Está tão linda! (DEBOCHADO) Mas continua sem cabelos igual seu padrinho.

Scully entra na cozinha.

SCULLY: - Estou preparando um banho bem relaxante pra você, Mulder.

Victoria continua mexendo na barba de Mulder, curiosa.

MULDER: - Preciso tirar essa barba. Antes que Pinguinho a tire com as mãos. Au! Não puxa que dói!

SCULLY: - Confesso que não gostei desse seu novo visual. Acho que ela tá é curiosa com o pai barbudo.

MULDER: - (SORRI) Ela me reconheceu! Achei que ela não se lembraria mais de mim.

SCULLY: - Imagina se a filha do 'Mulder memória de elefante' vai esquecer de alguma coisa? Há duas semanas que quando eu pego a vassoura ela me olha atravessado.

MULDER: - Por quê?

SCULLY: - Porque expulsei Cookie a vassouradas do jardim. Ela não esqueceu. Pensa que vou bater nele.

MULDER: - Cadê aquele cachorro? Senti saudades dele também.

SCULLY: - Em algum jardim fuçando algum canteiro. Espero que seja no canteiro da Nancy.

Os dois se aproximam. Olham-se nos olhos.

MULDER: - Ainda me ama?

SCULLY: - (CHARME) Hum... Digamos que não achei outro bobo pra me aturar.

MULDER: - (SORRI) Dana Scully. Eu reconheço suas declarações de amor ocultas em frases que desmerecem a minha pessoa.

SCULLY: - E você? Ainda me ama?

MULDER: - (DEBOCHADO) Acho que não. Foram quatro meses na prisão e eu acabei me apaixonando por um enorme careca halterofilista tatuado.

SCULLY: - (SORRINDO) Saudades desse senso de humor...

Os dois trocam um beijo. Victoria esboça um sorriso, mordendo a mãozinha.

MULDER: - Perdi muita coisa?

SCULLY: - Hum, acho que não. Exceto as fraldas. E a mania que ela adquiriu de resmungar, o que me lembra certa pessoa.

Mulder sorri olhando pra Victoria.

MULDER: - Anda resmungando filha? Você anda resmungando é?

Victoria segura o nariz de Mulder.

MULDER: - E o que mais você anda fazendo?

SCULLY: - Já consegue ficar sentadinha. Mulder, precisa ver, ela já firma as pernas.

MULDER: - Sério? Meu Pinguinho já fica sentada?

SCULLY: - Acho que vai caminhar cedo Mulder.

MULDER: - Ainda continua calma?

SCULLY: - Não chora nunca. É um anjo de criança... Mulder, eu... Eu consegui emprego num hospital. Não quis dizer nada pra você antes, mas... Estou quase há um mês trabalhando.

Mulder fica sério, desconcertado.

SCULLY: - Estou deixando Victoria com a Meg. Ou Charles vem cuidar dela. Os dois se revezam.

MULDER: - Victoria não estranhou?

SCULLY: - Não mesmo. Mamãe disse que nem chora, só faz beiço quando acorda e não me vê. Mas ela é dada com qualquer pessoa. Sempre de bom humor, sempre sorrindo.

MULDER: - (PARA VICTORIA) Não incomodou a vovó e o titio não é?

Victoria sorri, mexendo na barba de Mulder, ainda curiosa. Mulder beija a filha. Entrega-a pra Scully. Scully pega a filha que faz beiço, olhando pra Mulder. Mulder retira a chupeta de Victoria do bolso. Entrega pra filha.

MULDER: - Isso é seu. Obrigado, Pinguinho. Você me deu forças pra aguentar aquele inferno.

SCULLY: - (SEM ENTENDER NADA) Onde achou isso, Mulder? Ela perdeu há algum tempo.

MULDER: -(PISCA PARA VICTORIA) Por aí...

Victoria sorri brincando com a chupeta.

MULDER: - (PREOCUPADO) Como andam as coisas por aqui, Scully?

SCULLY: - Não se preocupe. Tudo em ordem.

MULDER: - E dinheiro?

SCULLY: - (DISFARÇA) Vai, sobe, vai trocar essa roupa, cortar esse cabelo, tirar essa barba e virar novamente o homem pelo qual me apaixonei. Está me lembrando um hippie com isso e você não combina com esse estilo.

Mulder beija Scully no rosto. Sai da cozinha. Scully o acompanha com os olhos, num sorriso aliviado. Abraça a filha contra si.


8:56 P.M.

[Som: I'm in You – Peter Frampton]

Mulder sai do banheiro, vestindo um pijama. Barba feita, cabelos cortados e puxados pra trás. Senta-se na cama. Scully entra no quarto, usando uma camisola. Senta-se ao lado dele. Mulder começa a saltitar na cama.

SCULLY: - (SORRI) O que foi?

MULDER: - Cama macia. Nem conheço mais essa casa. Parece tudo tão diferente... Como é bom estar aqui de novo... Achei que nunca mais voltaria.

Mulder cheira o pijama.

MULDER: - Ah, roupas limpas, perfumadas! Prometa que jamais vai me dar qualquer roupa da cor laranja.

Scully sorri. Passa a mão no rosto de Mulder. Beija-lhe o rosto.

MULDER: - (SORRI) Onde está Pinguinho?

SCULLY: - Ela dorme cedo. Estou acostumando. Já chega você que fica até tarde acordado.

Mulder atira-se com as costas na cama. Fecha os olhos. Bate no colchão, sorrindo debochado. Scully sorri, deitando-se ao lado dele. Coloca a perna sobre Mulder, se aninhando contra ele. Mulder envolve o braço nela. Cheira o pescoço de Scully.

SCULLY: - (RINDO) Para! Faz cócegas...

MULDER: - Meu cheiro de canela! Ahhhhhh... Cheiro da minha mulher. Coisa boa! Quatro meses no meio de marmanjos fedidos...

SCULLY: - (SORRI) Pobrezinho do meu Mulder...

Scully senta-se sobre ele. Desliza os dedos brincando com os pelos do peito de Mulder.

SCULLY: - (EMOCIONADA) Senti sua falta.

MULDER: - (A ADMIRANDO) Senti sua falta também.

SCULLY: - Essa casa fica vazia sem você, Mulder. Há quatro meses não consigo rir. Hoje você chegou, já veio fazendo suas piadas... (SORRI) Meu Mulder voltou! Eu nem consigo acreditar nisso!

MULDER: - Obrigado por não desistir de mim, Scully.

SCULLY: - E como eu poderia desistir de você, Mulder? Só se eu desistisse de mim mesma! E não pude desistir de mim mesma porque tenho o seu presente. Nunca imaginamos que depois dessa vitória as coisas...

MULDER: - Não pense nisso. Não me arrependo de nada... Scully, eu só queria entender o que fez o juri mudar de ideia. Tomaram todas as provas, não falaram nada sobre elas e me deram a condicional. Isso foi estranho. Mas importa que eu esteja livre, longe daquele lugar fétido e sujo, no meio de caras que eu mesmo coloquei lá... Estou preocupado. De onde conseguiu o empréstimo dos cem mil da sua fiança?

SCULLY: - Foi presente. Dos nossos amigos. Juntaram-se todos e conseguiram a quantia. Muitos agentes no Bureau ajudaram nisso. Existem pessoas boas no mundo, Mulder. Nem tudo é maldade.

MULDER: - Preciso agradecê-las.

SCULLY: - Eu quis fazer isso, mas foram doações anônimas entregues ao Skinner. Até Will, nosso sobrinho, colaborou. (SORRI) Pobrezinho, Mulder! Charles disse que ele quebrou o porquinho de porcelana, tirou uns 30 dólares de moedas e disse: pai, não é muito, mas ajuda a tia Scully a sair da cadeia. Eu compro a minha bicicleta outra hora. E Charles ficou do meu lado esse tempo todo, Mulder. Foi o irmão com quem pude contar. Trocava fraldas, cuidava do jardim, fazia o jantar, lavava a roupa, um verdadeiro monge budista. Ele e mamãe se revezavam.

MULDER: - (SORRI) Will, o Gafanhoto. Um bom menino. Quando tudo melhorar eu dou a bicicleta pra ele.

SCULLY: - Skinner vinha todos os dias aqui para saber como estávamos. Os Pistoleiros também. Byers e Langly fizeram até faxina na casa! Precisava ver, com direito a escova e avental. Nem eu faria melhor!

MULDER: - (SORRI) Sério?

SCULLY: - Victoria adorou! Claro, Langly escuta som alto, ela fica doidinha se mexendo na cadeira. Cheguei de noite em casa e pasme! Nossa filha estava toda suja de mingau até nos cabelos, usando uma mini jaqueta de couro do Ramones, pulando na cadeira. Dava risadas de puxar o fôlego de dentro, sabe? Olhar pra aquela boquinha aberta, mostrando as gengivas. (SORRI) Parecia uma punk desvairada! Os rapazes tiraram fotos, você vai ver.

MULDER: - (SORRI) E você? Como está você?

SCULLY: - Agora, com você aqui, estou bem. Sobrevivi. Não foi dessa vez que me colocaram numa cela com alguém chamado Teresão. E você?

MULDER: - (DEBOCHADO) Ainda continuo virgem.

SCULLY: - (RINDO) Mulder!

MULDER: - Ah, nada que valha a pena contar. Quero esquecer daquela jaula, daquele pesadelo. Estou de volta pra você. É o que importa.

Scully sorri. Deita-se ao lado dele. Mulder vira-se de frente pra ela, passando a mão em seu rosto.

MULDER: - A pior coisa não foi estar preso. Era estar longe de você e de Victoria.

Scully olha pra Mulder. Percebe as rugas e olheiras nele. Leva os dedos em seu cabelo.

SCULLY: - O que é isso, Mulder? Está com um monte de fios brancos!

MULDER: - Envelheci uns dez anos lá dentro, Scully. Estou rindo pra você, mas eu não tenho mais vontade de sorrir. Tem algo dentro de mim, sabe? Não é revolta. É uma mágoa, uma dor, algo que nunca havia sentido antes. Uma apatia completa. Eu mesmo me sinto estranho... (ENCHE OS OLHOS DE LÁGRIMAS) Me abraça? Porque eu estou caído. Seu homem desmoronou e precisa do seu abraço...

Mulder aconchega-se contra o corpo de Scully, aninhando o rosto contra o peito dela. Fecha os olhos. Começa a chorar. Scully o envolve nos braços, e afaga seus cabelos, segurando as lágrimas.


Hotel Caesar - Washington - 9:33 P.M.

[Som: Evil Thing – Danzig]

Um quarto luxuoso. Diana Fowley nua entre os lençóis, brincando com uma moeda de ouro. Abre um sorriso. O corpo atrás dela que a abraça, sustentando um anel de rubi na mão. O telefone toca. Ele estende a mão e atende, sem vermos seu rosto.

Corta para o corredor. Vemos a mão com o anel de rubi segurando o celular contra a orelha, em meio a fumaça do cigarro que ele sopra.

THE GOLD COIN: - A vadia ainda está com você, irmão? ... Ok. Faça-a se apaixonar "por mim".

Coin desliga e guarda o celular no bolso. Volta por onde veio.


Residência dos Mulder - 9:45 P.M.

Scully entra no quarto de Victoria. Aproxima-se do berço. Arregala os olhos, em pânico. Solta um grito, pondo as mãos no rosto.

Mulder entra no quarto, assustado. Aproxima-se do berço. Victoria de olhos abertos e parados, como morta. Mulder morde os lábios e leva a mão até o nariz de Victoria. Scully chora, descontrolada, paralisada. Mulder sorri. Põe a mão sobre o peito de Victoria.

MULDER: - Acalme-se, Scully. Ela está bem.

Scully mantém as mãos no rosto, sem coragem de olhar para a filha. Mulder abraça Scully. Afaga-lhe os cabelos.

MULDER: - Scully, acalme-se. Ela está bem, está dormindo.

SCULLY: - (CHORANDO) De olhos abertos?

MULDER: - (SORRI) Sim, de olhos abertos.

Scully olha pra filha. Cerra o cenho. Põe a mão no peito de Victoria.

SCULLY: - Por que ela está assim?

MULDER: - Minha mãe dizia que eu dormia de olhos abertos quando estava muito cansado. Deve ser algo hereditário.

SCULLY: - Isso é assustador, Mulder! E-eu nunca a vi desse jeito!

MULDER: - Ela está bem, não se preocupe. Deve fazer isso constantemente, mas você nunca a flagrou. (COM TERNURA) Vá deitar, Scully. Eu já vou.

Scully olha pra Victoria. Sorri aliviada e sai do quarto. Mulder agacha-se ao lado do berço, observando a filha com curiosidade. Ajeita os fiapos de cabelos dela.

MULDER: - Começamos bem, Pinguinho...Tive que mentir pra sua mãe, e eu não acho isso legal. Mas temo que a verdade assuste ela. Onde você está agora? Eu sei que está aqui, mas está em outro lugar ao mesmo tempo. E não é comigo dessa vez. Como consegue fazer isso?


6:17 P.M.

Mulder entra em casa, cabisbaixo, com o jornal debaixo do braço.

Victoria, sentada no tapete, usando um vestidinho, ao vê-lo abre um sorriso, mas Mulder nem percebe. Atira o jornal no sofá e vai pra cozinha.

A menina o acompanha com os olhos. Distrai sua atenção para os brinquedos espalhados no chão, entre eles a caixa de quebra cabeça. Ela dá tapas sobre a caixa fazendo barulho e sorrindo. A tampa da caixa se afasta e ela percebe o conteúdo. Tenta erguer a tampa mas não tem coordenação ainda. Vai empurrando, dando tapas, até a caixa se abrir.

Mulder passa pela sala ao lado de Meg. Abre a porta.

MEG: - Se precisarem de algo me ligue.

MULDER: - Obrigado mãe. Você já fez por demais.

Meg sai. Mulder tranca a porta. Victoria o acompanha com o rosto, como quem pede atenção. Mulder senta-se no sofá, colocando as mãos no rosto. Começa a chorar calado. Victoria olha pra ele, fazendo um beiço de quem vai chorar. Mulder tira as mãos do rosto e percebe a tristeza da filha. Então seca as lágrimas e dá um sorriso. Liga a TV, disfarçando.

Desenho animado. Com os barulhos das personagens do desenho, Victoria fica atenta e curiosa para a TV. Os olhos acompanham tudo. Ela ergue os braços, batendo nas pernas rechonchudas, soltando risos. Mulder observa a filha, num sorriso. Mas o sorriso se esvai em frustração.

MULDER: - Andei o dia todo. Ninguém dá emprego pra um ex-agente do FBI com ficha suja. Juro que tentei cada delegacia, empresa de segurança e agência que podia. Tudo o que ouvi foi: mude de emprego ou torne-se investigador particular... É, nem posso apelar para o meu diploma de psicólogo porque eu não teria chance alguma. Eu é quem preciso de um nesse momento.

Victoria começa a brincar.

MULDER: - Sabe, Pinguinho... Invejo você. Nenhuma preocupação, nenhum problema...

Mulder levanta-se. Pega uma garrafa de uísque e um copo. Senta-se novamente. Victoria olha pra ele.

MULDER: - Não me condene. Isso é mamadeira de adulto.

Mulder estira-se no sofá, deixando cair o jornal no chão. Assiste TV, bebendo. Victoria atrai sua atenção para o jornal. Pega-o levando-o à boca. Solta-o. Olha pras fotos centrando sua atenção.

Close da foto de Stedtfeld.

Victoria começa a chorar. Mulder senta-se.

MULDER: - O que foi?

A menina se desmancha em lágrimas. Mulder olha pra ela, estranhando a reação. A pega no colo.

MULDER: - Tá com fome? Vem, papai vai dar mamadeira pra você.

Mulder a leva pra cozinha. Victoria continua chorando. Mulder abre a geladeira. Olha para as mamadeiras prontas. Pega uma e fecha a geladeira.

MULDER: - O que é isso?

Victoria para de chorar olhando pra mamadeira.

MULDER: - Ahn? Mamãe já deixa tudo pronto pra você é? Onde está a mamãe?

Victoria procura com os olhos. Mulder distrai a atenção dela.


7:21 P.M.

Scully entra em casa. Larga a bolsa no sofá, olhando pra Victoria brincando no chão, batendo as mãos sobre uma boneca. Scully abre um sorriso, enquanto tira o casaco e o pendura no armário. Vai até a filha, a tomando nos braços.

SCULLY: - Oi neném da mamãe!

Scully começa a brincar com seu nariz no pescoço da menina que sorri. Então distrai sua atenção pra Mulder que dorme no sofá e para a garrafa de uísque pela metade sobre a mesa de centro. Cerra o cenho, preocupada.

Victoria olha pra Mulder, olha pra Scully, numa ânsia de quem quer falar alguma coisa, mas não sabe ainda. Ela apenas solta barulhos sem conseguir dizer nada.

SCULLY: - (SORRI) Isso mesmo, pode contar pra mamãe. É verdade?

Victoria continua a fazer sons desconexos.

SCULLY: - (SORRI) Não! Sério, neném? Que coisa feia que o papai fez! Vem, mamãe vai amamentar você e vou colocá-la na cama. Já está tarde, mocinha.

Scully sobe as escadas com a menina. Mulder continua dormindo bêbado no sofá.


8:11 P.M.

Scully desce as escadas numa camisola. Aproxima-se do sofá, tentando acordar Mulder. Mulder acorda-se e senta-se no sofá levando a mão à cabeça. Scully não diz nada. Senta-se na poltrona e troca o canal da TV.

MULDER: - Desculpe, eu dormi.

SCULLY: - Tudo bem. Já a coloquei na cama. Está dormindo.

MULDER: - Não consegui nada. Andei o dia todo.

Mulder olha pra garrafa. Olha pra Scully. Scully olha seriamente pra garrafa.

MULDER: - Eu só bebi um pouco pra relaxar.

Scully continua séria. Vira o rosto pra ele.

MULDER: - Scully... Fala comigo.

SCULLY: - Falar o quê?

MULDER: - Como foi o seu dia?

SCULLY: - (FRUSTRADA) Péssimo. Como todos os outros dias. Qualquer dia é péssimo quando você aguenta desaforos constantes e fica longe da sua filha de seis meses.

MULDER: - (CULPADO) Está deixando leite pra Victoria... Enquanto você devia era estar aqui dentro a amamentando como é o correto, cuidando dela. E eu trabalhando.

SCULLY: - Não temos alternativa. Crianças saudáveis mamam até tarde. E não é pela situação que vou desabituar minha filha disso e acostumá-la com leite em pó ou outras coisas que não são naturais e saudáveis.

MULDER: - Eu... Eu tô me esforçando, mas não consegui nada.

SCULLY: - (REVOLTADA) Onde procurou? Em delegacias? Talvez esteja procurando nos lugares errados.

MULDER: - Eu sou policial, Scully. Não sei fazer outra coisa.

SCULLY: - Você foi policial, Mulder. Agora é um criminoso que está em liberdade condicional. Peça ajuda para o seu agente de condicional. Ou use o seu diploma de psicólogo.

MULDER: - Mas eu não gosto disso.

Corta para o canto da sala. Uma sombra humanoide se move no canto escuro.

SCULLY: - (REVOLTADA) Acha que gosto de fazer suturas? Ah, claro, você deve pensar: sim, ela está num hospital, isso basta pra ela. Ora Mulder, me poupe!

Scully se levanta irritada.

SCULLY: - A questão aqui dentro não é gostar do que se faz! É fazer algo!

MULDER: - Acha que não sei? Acha que gosto de ser sustentado por você? É isso o que pensa?

SCULLY: - Não, não é isso o que eu penso. Eu penso que deveria esquecer da polícia! Não há mais nada pra você lá, Mulder! Acorde, você foi expulso do FBI! Você nunca mais vai trabalhar como policial! Você agora é um criminoso, Mulder! Você está do outro lado da cela! Com um oficial de condicional te perseguindo! Acabou Mulder! Caia na real, você nunca mais vai ter seu emprego de volta! Pare de sonhar!

Mulder fica em silêncio. Scully cruza os braços, virando o rosto com raiva para não olhar pra ele.

MULDER: - E se eu conseguisse um empréstimo, a gente podia montar uma agência de investigação, trabalhar por conta própria, eu e você...

SCULLY: - Empréstimo? Mulder, você tem noção das dívidas que temos? Mal pago a hipoteca dessa casa! Nós temos uma filha agora, entendeu? Não somos mais dois e nem podemos ficar arriscando o que nos sobrou em nome da nossa satisfação pessoal! É Victoria que importa agora, ela tem necessidades a serem supridas!

MULDER: - Eu sei, mas...

SCULLY: - Mulder! Não entendeu ainda? Estamos com nossos nomes sujos na lei! Não faremos parte da lei nunca mais! Acabou! .... Estou pensando que devemos vender a casa.

Mulder abaixa a cabeça, angustiado.

MULDER: - Mas essa casa é o seu sonho...

SCULLY: - Não se vive de sonhos, Mulder. Não posso ficar sonhando, tenho uma realidade dura batendo na minha porta. E essa casa é grande demais. Vamos nos mudar pra algum lugar menor, reduziremos os custos e podemos sobreviver mais um tempo.

Mulder se levanta do sofá, revoltado.

MULDER: - Acha que gosto disso?

SCULLY: - Eu sei que não gosta, mas não temos escolha!

MULDER: - Eu não aguento mais!!!!!!!

Mulder chuta a mesa de centro, derrubando tudo no chão. Começa a andar de um lado pra outro, desesperado.

MULDER: - Sua mãe está colocando comida na mesa! Não minta pra mim, eu mesmo vi! Ela está nos sustentando com a pensão dela!

Scully abaixa a cabeça.

MULDER: - Não! Eu não aguento mais essa situação! E não aguento você me olhando como se a culpa disso fosse toda minha!

SCULLY: - (IRRITADA) Deixa de ser paranoico!

MULDER: - (IRRITADO) Paranoico? Por que você sempre me acusa de paranoico? Ahn?

SCULLY: - Se quiser discutir, faça isso sozinho, porque estou cansada! Trabalhei o dia todo, dei um duro danado e não vou ficar aqui ouvindo besteiras só porque você está frustrado!

MULDER: - (REVOLTADO) Estou! Estou sim! Aquele porão era minha vida! Eu joguei tudo fora por você! E o que você faz? Fica aí me olhando como se eu fosse um parasita! Um louco!

SCULLY: - Por mim? Eu pedi isso? Eu pedi pra você cometer essa loucura toda?

MULDER: -Você não quis ir embora daqui quando eu disse pra fugirmos depois que a nossa filha nascesse! Foi por você sim! Eu fiz tudo por você! Mas não, você nunca está satisfeita!

SCULLY: - Agora está me acusando? Eu não tenho culpa de nada! Não tenho culpa se você é um sonhador!

MULDER: - Você sabia disso quando aceitou viver comigo!

SCULLY: - Eu não tenho tempo pra ficar aqui e lamentar o passado! Eu tenho uma filha pra criar. Alguém por aqui desistiu de tudo e aceitou as coisas como elas são. Preciso trabalhar amanhã. Vá dormir e aceite a realidade.

MULDER: - Isso mesmo, esfrega na minha cara que eu sou um inútil! Um bastardo que depende da mulher!

SCULLY: - Não vou discutir com você porque está bêbado!

MULDER: - Ah, agora me chama de bêbado?

Scully pega a garrafa e atira com ódio em Mulder, que desvia. A garrafa acerta na parede. Mulder fica chocado com a atitude.

SCULLY: - Então o que é isso? Água? É assim que você resolve os seus problemas? Como o seu pai fazia?

Mulder enche os olhos de lágrimas. Scully olha pra ele com raiva. Mulder olha pra ela sem reconhecê-la, magoado. Pega o paletó. Sai batendo a porta. Scully senta-se no sofá e começa a chorar.

Corta para a sombra negra que desaparece na parede.


Blues Bar – Virginia – 11:39 P.M.

[Som: Side – Travis]

Câmera de aproximação pelo bar. Dentro do local apenas Mulder no balcão e o Barman, que está entretido com a TV, assistindo o jogo de basebol.

Fecha o foco na vitrola de moedas, solitária num canto, ao fundo do bar, tocando a música.

Foco desvia para Mulder sentado ao balcão, bebendo, cabisbaixo. A garrafa sobre o balcão. Mulder está a ponto de desabar.

Corta para a vitrola. Ao lado dela Lilith, a mulher de cabelos negros e longos, vestido de paetês, seios fartos, batom e unhas vermelhas. Lilith olha ternamente para Mulder. Então se aproxima, sensualmente, sem que ele perceba.

LILITH: - Acho que precisa de mais uma bebida.

MULDER: - Estou cansado que me digam do que eu preciso. Só eu sei o que eu preciso!

Mulder olha para a entrada do bar, depois olha pra ela incrédulo.

MULDER: - De que nuvem você caiu?

Lilith sorri. Senta-se ao lado dele, cruzando as pernas, revelando o corte lateral do vestido. Ela tem o rosto e corpo perfeitos. Desliza as mãos pelas pernas, olhando sensualmente pra Mulder.

LILITH: - Nem todo anjo provém de uma nuvem, sabia? E essa cantada é muito velha. Poderia apenas dizer: quero sair daqui e transar com você a noite toda feito um animal selvagem. Seria mais honesto.

MULDER: - (SÉRIO) Me desculpe se meu comentário pareceu isso, mas não foi uma cantada, eu tenho esposa e não estou aqui procurando nenhum caso. Foi um comentário de um bêbado que nem percebeu você entrar.

LILITH: - Aposto que você perceberia uma mulher como eu. Sei que sou o tipo idealizado de beleza feminina para qualquer homem. Tenho certeza de que seu fetiche é transar com uma desconhecida que chega do nada em um bar. Mas eu sou silenciosa. Chego de repente e nunca saio sem levar o que eu quero.

MULDER: - E o que você quer exatamente?

LILITH: - Hum... (MORDE OS LÁBIOS SENSUALMENTE) Eu poderia dizer que preciso de uma boa trepada com um homem viril como você, mas vamos começar com "vim para ajudar"... Vi você aqui dentro tão tristinho que não pude resistir. Eu sou muito altruísta. Preciso doar de mim, entende? E você parece tão carente com essa carinha linda...

MULDER: -Você é bem direta mesmo. Olha, não quero parecer rude, mas não estou gostando do rumo da conversa.

LILITH: - Por que está tão triste? Um homem como você não deveria estar triste. Sinto que seu coraçãozinho está magoado por causa de uma mulher.

MULDER: - (INCRÉDULO) Como sabe disso? Está tão na cara assim?

LILITH: -Entendo bem as necessidades de um homem. Você sabe por que Deus criou a mulher? Para compreender. Para consolar o homem. Porque o homem é bobo. Ele nunca percebe a realidade. Ele fica carente, fraco, desatinado, cai e precisa do consolo de uma mulher. Esse é o uso da mulher: consolar o homem que é um fraco por natureza.

MULDER: - Ou essa é a astúcia da mulher? Deus fez a mulher para nos tentar e nos tirar do Éden com uma maçã? Realmente você tem razão, somos bobos. Nos vendemos e perdemos o paraíso por uma maçã! Muita burrice mesmo!

LILITH: - (SORRI) Aposto que você adora maçãs. Chame de sexto sentido.

MULDER: - Acredita nessas coisas de sexto sentido?

Ela serve uma dose num copo. Empina de uma vez.

LILITH: - Olha, não vale a pena ficar chorando por causa de uma mulher. Existem muitas no mundo. Outras que dariam tudo para ter um cara como você. Nem que fosse por uma noite.

MULDER: - Eu não estou assim apenas por causa dela.

LILITH: - Por que mente pra você mesmo? Está frustrado por alguma coisa que esperava dela e não teve.

MULDER: - Esperava que ela fosse mais compreensiva comigo, entende? Eu estou numa situação grotesca.

LILITH: - Conte-me, eu quero ouvir seus problemas.

Mulder perde o olhar no copo de uísque.

MULDER: - Eu fui agente federal por mais de 20 anos da minha vida. Agora estou demitido, acabo de sair da cadeia, estou tentando assimilar o que me aconteceu, não consigo viver sem o que eu fazia, e ela fica me cobrando as coisas!

Mulder segura as lágrimas.

MULDER: - Deus, eu só quero chorar, eu tô me sentindo o mais inútil dos homens, não posso sustentar minha família e ao invés de ouvir uma palavra de compreensão e incentivo, eu acabo escutando um monte de grosserias que não merecia ouvir. Eu sempre fiz tudo por ela, tudo. Eu daria minha vida por ela. Por que ela não pode pelo menos tirar a garrafa das minhas mãos e ao invés de dizer 'seu bêbado' dissesse: 'Você não precisa disso, Mulder. Você precisa de um abraço. Eu compreendo seus medos, estou aqui e vamos sair disso juntos'.

Lilith enche os olhos de lágrimas.

LILITH: - E ela não disse isso pra você, querido?

MULDER: - (QUASE CHORANDO) Não. Ela me acusa de ser um sonhador. Mas eu sou sonhador, até algum tempo atrás ela adorava isso em mim! Agora vira as costas quando eu mais preciso dela. O olhar que ela me dirigiu tinha tanto ódio que doeu dentro da minha alma.

LILITH: - (PIEDADE) Entendo você. É duro ser rejeitado. Você estar no pior momento de sua vida, tentando encontrar um caminho e ouvir palavras rudes da pessoa com que você mais se importa no mundo. É uma falta de consideração da parte dela.

MULDER: - Você sabe o que é se sentir triste e sozinho? Frustrado? Sem perspectivas na vida? Eu estou assim. E tudo o que escuto é 'seu bêbado'. Eu não sou o meu pai. Ela tocou nas minhas feridas psicológicas mais profundas...

LILITH: - (TRISTE) Eu sinto muito por isso. Um homem como você merecia mais. Alguém que te pegasse no colo, que compreendesse você. Você me parece tão meigo, sincero. Aposto que é daqueles homens que leva café na cama com uma rosa... Eu nunca tive essa sorte na vida. E as mulheres que têm não valorizam! Ah se eu tivesse um homem preocupado com a família, comigo, amável, atento as minhas necessidades... O mínimo que eu deveria fazer nesse momento da vida dele seria valorizar tudo o que ele fez por mim e daria pra ele todo o meu carinho e apoio condicional... (CARENTE) Mas eu não tenho essa sorte...

Ela fala o que ele quer ouvir. Mulder olha pra ela hipnotizado.

LILITH: - Eu secarei as suas lágrimas, meu querido, porque você é um menino carente que precisa de uma mulher de verdade. Está vulnerável e tudo o que pede é um carinho e nem isso recebe. Apenas ingratidão... Me deixa acalentar sua dor essa noite, meu menino dos olhos verdes tristes. Me deixa fazer você esquecer seus problemas entre as minhas pernas...

Mulder continua hipnotizado. Lilith convincente, toma a mão de Mulder e a afaga com o rosto, num olhar de cumplicidade.

LILITH: - Vem comigo. Preciso dar carinho pra você. Cuidar de você. Se permita sofrer sem culpas. Me deixe fazer amor com você, vamos fugir da realidade desse mundo... Não é pecado. Pecado é o que fizeram com você. Ela traiu você quando não retribui o amor tão incondicional e puro que recebeu.

Mulder permanece como que encantado, olhos parados nos lábios vermelhos dela.

LILITH: - Me deixe fazer você feliz esta noite. Apenas me diga sim. Eu quero você. Desejo você ardentemente. Eu vou te confortar, vou acalentar a sua dor. Diga-me sim.

Mulder parece enfeitiçado. Lilith lhe dirige um olhar de piedade, numa tentação. Mulder desvia os olhos. Pega a garrafa. Lilith segura a mão de Mulder. Retira a garrafa da mão dele.

LILITH: - Você não precisa disso, meu pobre anjo abandonado. Precisa disso.

Lilith o abraça com carinho, afagando os cabelos de Mulder. Mulder fecha os olhos, chorando, se entregando. Lilith solta Mulder. Levanta-se, estendendo a mão para ele.

LILITH: - Vem pra mim. Eu vou cuidar de você. Diga-me sim.

Mulder levanta-se. Abre a carteira. Então vê a foto de Scully com Victoria. Mulder fecha os olhos. Retira o dinheiro e coloca sobre o balcão. Guarda a carteira. Olha para Lilith, que o observa com afeto, lhe estendendo a mão. Mulder toma a mão dela e os dois saem do bar.


(continua)

8 Septembre 2019 19:00 0 Rapport Incorporer Suivre l’histoire
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