We're talking away
(Estamos conversando à toa)
I don't know what I'm to say
(Eu não sei o que dizer)
I'll say it anyway
(Direi de qualquer maneira)
Today's another day to find you
(Hoje é outro dia para encontrar você)
Shying away
(Shying away)
I'll be coming for your love, ok?
(Estarei vindo pelo seu amor, ok?)
Take On Me– A-ha
[1976]
— Eu tô dizendo, cara! — Yifan acabou se exaltando e desferiu um soco contra a mesa — Conheci uma garota louca por mim!
Quando aquele cara se empolgava, era sinônimo de balbúrdia.
— Amor de verão... — Chanyeol riu e colocou os pés sobre a sua mesa, não era como se ele tivesse muita educação com aqueles coturnos fedidos — Me conta mais... Até onde vocês chegaram?
— Ela nadava perto de mim e teve uma câimbra. — o chinês estava nitidamente empolgado em contar a história — Eu salvei a vida dela, ela quase se afogou.
— Ela resistiu? — um sorriso tendencioso por parte do Park e um arquear de sobrancelhas.
— Nós transamos debaixo do cais. — disse mais baixo, não queria que as pessoas ao seu redor ouvissem, e logo um sorriso perverso adornou o seu rosto.
— Você é um grande filho da puta, Yifan.
O primeiro dia de aula geralmente se resumia a isso. Chanyeol e Yifan compartilhando as experiências sexuais – ou nem tanto – que tiveram no verão. Era algo atípico. Totalmente esquisito para qualquer um que viesse a ouvir aquelas conversas momentaneamente, pelo menos para aqueles que sabiam sobre a orientação do Park. Yifan era completamente heterossexual, conhecido por levar foras de muitas meninas da escola – mas, surpreendentemente ele também ficava com várias, é uma incógnita. Enquanto Chanyeol...
Ele gostava de deflorar meninos virgens, por mais babaca que isso pudesse soar.
Mas o que podemos dizer sobre Park Chanyeol?
Seria reducionista demais dizer que ele era o repetente com fios descoloridos – e que precisavam de uma boa hidratação –, que desvirtuava os meninos da escola e só ouvia bandas britânicas o tempo inteiro – por Deus, como ele odiava o lixo americano –, mas era a melhor descrição que cabia ao momento. Ele não ligava muito pra nada, já que não tinha muitas expectativas para o futuro. Talvez se formar no ensino médio, depois trabalhar na lanchonete da sua mãe... Algum dia, quem sabe, matar o seu pai...
Ele queria mesmo era ser fotógrafo, queria estar por trás daquelas revistas famosas, fotografando modelos peitudas e caras sarados. Chegou a trabalhar em uma loja de conveniência durante um ano para conseguir comprar a sua Polaroid X-70, a sua amada Lucy foi o motivo para que ele tivesse reprovado na escola. Ele até podia nunca ter estudado, mas pelo menos não dormia nas aulas; só que, tendo que trabalhar a noite, isso foi difícil. Foi um ano inteiro acumulando faltas e cochilando em matérias importantes.
A câmera fora uma aquisição aparentemente boba, mas significava muito para ele. Chanyeol sabia muito bem que sua família não teria condições financeiras para que ele se dedicasse à fotografia, então ele teria que seguir os passos de seu irmão mais velho, não os de Jiyong – o primogênito estava preso, não era um caminho a ser seguido –, mas sim Hyukjae. Assim que o garoto terminou o ensino médio, passou a ajudar a mãe na lanchonete, já que não tinha dinheiro para a faculdade.
Assim seria com Chanyeol, e, quase que certamente, com Eunbin, a caçula da família.
Para completar o pacote, o rapaz ainda era melhor amigo de outro repetente. Wu Yifan era um imigrante chinês, e estava no ensino médio com vinte e um anos. Ele rodou de ano duas vezes porque seu caso era um pouco mais extremo... Ele tinha preguiça de fazer provas. Jamais fazia questões de escrever e jamais lia questões com um enunciado maior do que duas linhas. Somente respondia questões objetivas, e ainda chutava boa parte delas. Ninguém sabe o motivo de tanta preguiça, mas não era como se ele se importasse com isso.
Apesar de tudo, Chanyeol considerava o chinês um puta amigo. Yifan era o cara em que ele mais confiava – talvez o único. Quando o Park assumiu a sua sexualidade, o moreno foi o único entre os seus amigos que não passou a agir de forma estranha consigo. Pelo contrário, até defendia o garoto quando alguém agia com preconceito.
Antes de se assumir gay, na verdade, Chanyeol imaginava que Yifan seria aquele que mais ficaria estranho, justamente porque o rapaz era alguém que gostava de esbanjar toda a sua heterossexualidade. Mas ele estava enganado.
Estava tão enganado que não imaginava que estaria lá conversando com o amigo sobre as pessoas com quem ficaram durante o verão. E em momento algum o mais velho demonstrava nojo perante as experiências que Chanyeol dividia.
— E algum desses garotos vale uma segunda rodada? — o chinês questionou após ouvir sobre os quatro meninos com quem o outro ficou durante as férias.
— Talvez... Nenhum chamou tanto a minha atenção. — espreguiçou-se na cadeira — Foram lances de uma noite, sabe?
— Cuidado com esses lances de uma noite, você pode querer transformar em lances de todas as manhãs em algum momento.
Conforme Yifan falava, algo atraiu o olhar de Chanyeol na porta. Ou melhor, alguém.
Entrava na sala um menino moreno, agarrado à sua mochila. Ele olhava para os lados, completamente perdido – parecia até assustado. Ele estava arrumado demais para aquele ambiente, o que permitiu que o Park concluísse que ele definitivamente era novo na escola. Algo muito curioso foi o fato de que ele sentou na primeira mesa.
Alunos novos não sentavam na primeira mesa. E quem já estudava lá só o faziam quando eram obrigados. Era a primeira vez que Chanyeol via alguém que realmente ia para a escola para estudar.
— Algum dia, quem sabe. — respondeu o amigo assim que saiu de transe — Mas agora eu vou voltar a tirar a inocência de meninos puros.
— O quê?!
— Na primeira mesa. — apontou discretamente, e o maior olhou em seguida.
O garoto estava concentrado em um livro relativamente grosso – desses que o Park jamais se arriscaria a ler, e que Yifan não ousaria nem chegar perto. Sua postura não era nem de longe desleixado.
Aquele adolescente não tinha cara de adolescente.
— É bonito. — o mais velho comentou — Quando vai falar com ele?
— Agora. — Chanyeol se levantou com um sorriso tendencioso.
— Cuidado, Park.
— Cuidado com o quê, cara? — riu fraco.
— Uma hora você vai se apaixonar... — o tom do Wu era lúdico, mas ele falava mais do que sério — Aí não vão mais ser lances de uma só noite.
— Não acho que isso vá acontecer tão cedo.
Depois dessa resposta, Chanyeol ignorou totalmente qualquer coisa que seu amigo pudesse ter a dizer.
Seus passos até a mesa do garoto novo foram completamente confiantes. Nunca houve hesitação alguma em qualquer ação de Park Chanyeol, em seus dezenove anos de vida, e não tinha motivos para ser diferente daquela vez. Quando chegou à mesa do desconhecido, parou bem na frente e apoiou as duas mãos sobre a madeira.
— Como você se chama, moço bonito?
O garoto levantou o olhar de seu livro, sem expressão alguma. Mas, quando alcançou os olhos de Chanyeol, um sorriso tímido veio em seu rosto.
(...)
— Sehun! — repreendeu ao findar o beijo brevemente, e segurou a mão boba do moreno, que havia acabado de apertar onde não devia. Ou melhor, onde o Park achava que devia, mas não naquele momento.
— O que foi? — ele riu e beijou mais uma vez os lábios do outro. Em seguida, espiou pela fresta da cabine do banheiro. Queria ter certeza de que ninguém estava os ouvindo.
— Você não pode começar um incêndio se não vai apagar ele depois, se é que você me entende. — afastou a mão de Sehun, que prontamente foi até a gola da sua camiseta.
— Talvez algum dia desses eu resolva apagar, Chanyeol. — puxou-o para mais perto — Tenha paciência.
— O que eu mais tenho é paciência. — tirou as mãos da cintura fina para apertar a bunda do menor — Mas não fica me provocando não... A conta de água tá saindo cara lá em casa por sua causa.
— Como você é pervertido. — deu um último beijo no rapaz e abriu a porta da cabine.
— Você que fica pegando no meu pau, garoto. — soltou Sehun meio que a contragosto — Você não era assim quando eu te conheci.
— Eu me pergunto o porquê. — o tom do Oh era irônico. Ele parou em frente ao espelho e passou a ajeitar o cabelo bagunçado e a camisa amassada — Minha mãe quer que você jante lá em casa hoje.
— O quê?! — um nervosismo súbito tomou conta de Chanyeol — Como assim?!
Sehun suspirou pesado. Naquela situação, ele estava tão nervoso quanto Chanyeol, para falar a verdade. Era fato que eles já haviam passado da linha de apenas dois novos amigos que se pegam no banheiro do ginásio. E ele não sabia como iria agir na frente da sua família se Chanyeol estivesse junto. Porque era incogitável a hipótese de deixar seus pais saberem que ele gostava de garotos.
— Ela viu a gente conversando na saída, ontem, quando veio me buscar. — sentou-se sobre a bancada da pia — Ela me perguntou quem era você, eu falei que era um amigo, ela fez um monte de perguntas... E agora ela quer te conhecer.
— Por quê?
— Meus pais querem saber com quem eu ando desde que me trocaram de escola... Eles tem muito preconceito com escola pública...
— Algum motivo específico? — Chanyeol se sentou ao lado do mais novo.
— Você sabe que eles me trocaram de escola porque meus amigos foram pegos fumando maconha, não sabe? Eles queriam me afastar dos meus amigos.
— É foda... Devo me preocupar com esse convite?
— Talvez. — a resposta veio banal — Meus pais são um porre. Se descobrirem que meu novo amigo me beija... Não duvido que me mandem para um colégio militar ou algo do tipo.
— Tudo bem... — o Park olhou o relógio em seu pulso — Que horas eu devo ir pra sua casa?
— Vamos agora.
— Mas você não vai embora com a sua mãe?
— Minha mãe não vai me buscar hoje. Deve estar no salão, ou no motel com o amante, sei lá. Vamos andando, vai ser legal.
O comentário de Sehun fez o loiro olhá-lo assustado. Certo, a normalidade com que o Oh disse aquilo o deixou um pouco em choque. Eles começaram a andar para fora do banheiro, e uma atmosfera silenciosa se fez presente. Não era o melhor assunto, mas foi a melhor a coisa que Chanyeol pensou para quebrar aquele silêncio todo enquanto andavam.
— Sua mãe tem um amante?
— Tem, deve ser o sétimo já. — chutou uma pedrinha em seu caminho — Já faz anos que ela arruma uns caras mais novos.
— Como você descobriu?
— Quando eu tinha uns quinze anos, em uma noite que meu pai tava viajando, levantei de madrugada pra tomar água. Quando cheguei na cozinha tinha um cara pelado comendo pipoca.
— E o que você fez?
— Pedi licença e tomei a minha água. — riu — Desde aquele dia ela começou a ir pro motel.
— Você nunca pensou em falar pro seu pai?
— Nah... Meu pai trai ela com a secretária dele. Prefiro fingir que não sei de nada, eu já odeio a minha família em paz, brigando deve ser pior ainda.
— Caramba, eu sinto muito, Sehun. — ele não sabia exatamente o que dizer, não era como se já tivesse ouvido algo sobre a família do Oh. Tudo o que ele sabia era que o menino tinha três irmãos mais velhos.
— Tá tudo bem, pelo menos a secretária do meu pai me dá presentes no meu aniversário.
— E seus irmãos sabem disso?
— É melhor que não saibam, gosto desse privilégio.
A família de Sehun era aquela que todos esperavam que fosse perfeita, estruturada, e livre de problemas sérios. Claro que esse era um pensamento pautado no dinheiro que os Oh tinham – estereótipos matam. A família daquele garoto era sim, à sua maneira, problemática. Mas, mesmo assim, ele recebia atenção.
Até demais, se me permite dizer.
Totalmente ao contrário de Chanyeol. A total negligência da família Park em relação ao segundo filho mais novo era o exato motivo para que ele nem se preocupasse que seus pais soubessem que ele não iria para casa tão cedo. Não era como se eles se importassem – ou como se reparassem se ele estava em casa ou não. Seu pai sairia à noite para a jogatina e só voltaria no dia seguinte – caindo de bêbado. Sua mãe ficaria na lanchonete e só iria para casa depois que o último cliente fosse embora.
A sua única possível preocupação era sua irmã mais nova, ela sempre ia para a lanchonete da família quando saía da escola, e o garoto não gostava que ela ficasse lá até tarde, por isso sempre passava lá após o fim de sua aula para levá-la para casa. Mas, se Chanyeol não fosse buscá-la, falta de alimento para a inocente não seria uma das suas dores de cabeça, afinal.
Parando para pensar, Chanyeol não se reconhecia mais. Há dois meses ele teria dado risada da cara de quem o dissesse que ele ficaria um dia sem buscar a irmã para ir para a casa de um de seus lances de uma noite.
Bem, acontece que Sehun não era o seu lance de uma noite, nunca foi. Porque nunca houve essa noite – pelo menos não ainda, ele acreditava. Primeiro Sehun foi seu lance de uma segunda de manhã, que acabou se estendendo para um lance de segundas e terças. Mas ele gostava do cheiro daquele garoto, então resolveu remendar as quarta e quintas. Mas, porra, aquele moleque beijava tão bem que foi difícil não adicionar as suas sextas feiras a esse lance.
E nos fins de semana, quando não podia estar com Sehun, o seu lance era pensar nele.
Yifan estava certo, e Chanyeol era um bobo apaixonado.
O fato era que aquele lance de verdade, não tinha acontecido. Ficaram somente nos beijos, e isso já foi o suficiente para que o Park se visse perdido por aquele menino de olhos inocentes e passos de anjo. Era isso, Sehun era um anjo.
E Chanyeol estava se sentindo o maior dos pecadores por macular aquela imagem pura.
Só que não havia sensação melhor do que sentir a respiração do moreno contra o seu pescoço, quando ele escondia o rosto lá após um beijo mais carinhoso, tamanha a vergonha. Em certos momentos, essa vergonha não existia, e Sehun quase se revelava um verdadeiro anjo caído.
Não era como se Chanyeol não soubesse que isso era inteiramente sua culpa.
Depois de uns bons minutos de caminhada, eles chegaram à casa dos Oh.
— Meus irmãos vão jantar aqui hoje... — Sehun advertiu, abrindo a porta e deixando o maior entrar primeiro — Espero que não se incomode.
— Seus irmãos não moram com você? — o Park estranhou o fato de ser avisado sobre aquilo, ele já esperava que fosse ver os irmãos do garoto lá.
— Só o Jongdae. — explicou e fechou a porta — Junmyeon e Seunghee já são casados, e às vezes eu agradeço por isso. — um suspiro frustrado veio por parte do mais novo. Aparentemente não tinha uma boa relação com os irmãos.
Chanyeol até entendia, não tinha um bom convívio com seus irmãos mais velhos. Hyukjae era um ignorante egocêntrico e Jiyong... Bem, não tinha muito que falar sobre o seu irmão que estava preso.
— Vamos pro meu quarto. — o menino agarrou a mão do loiro e o puxou pela casa.
Ele se permitiu observar os detalhes daquele lugar conforme seguia o Oh. Móveis de mogno – a começar por aí –, piso de mármore e os balaústres da escada com detalhes em ouro. Apesar do dinheiro, a família de Sehun não vivia em uma mansão. Mas era uma casa relativamente grande, confortável, e tinha coisas muito caras lá dentro. Chanyeol até se sentia um pouco constrangido por estar lá, quando sabia que só o hall de entrada e a sala de jantar daquela casa eram maiores do que o seu apartamento inteiro.
— Você não gosta dos seus irmãos? — perguntou assim que chegaram ao quarto de Sehun.
— Depende. — respondeu e deixou que seu corpo caísse sobre a sua cama — Eu adoro o Junmyeon, odeio a Seunghee, e finjo que Jongdae não existe.
— Posso perguntar o porquê? — a verdade era que Chanyeol estava meio apreensivo em fazer aquelas perguntas. Queria saber sim, mas não queria que Sehun sentisse que sua privacidade estava sendo violada.
— Seunghee é uma insuportável, só sabe reclamar de mim o tempo inteiro. Pra minha sorte, ela casou com um velho rico e mora do outro lado da cidade. Eu não gosto muito do Jongdae, mas é ele irrelevante, se eu mantiver distância, ele não incomoda. — suspirou mais uma vez e logo deu tapas no espaço ao seu lado para que Chanyeol se deitasse ali — Junmyeon é incrível, mesmo que a minha mãe fique me comparando a ele o tempo inteiro. Ele é o único da família que não me trata como se eu tivesse cinco anos.
— Que tenso... — o loiro se deitou ao lado de Sehun, virado para ele; queria observar os traços do rosto bonito — Você é próximo de Junmyeon?
— Muito... Nos finais de semana ele me deixa ficar na casa dele... Eu o vejo como meu pai muito mais do que vejo o cara que me manda calar a boca em todos os jantares.
— Acho que te entendo... Um pouco, pelo menos. — Chanyeol disse, vendo o outro se virar para observá-lo — Minha irmã me chamava de pai quando tinha três anos. — riu fraco, mas o sorriso foi embora gradativamente — Era engraçado porque ela era pequena e não entendia muito bem, achava que eu era pai dela porque dava comida, ajudava a tomar banho...
— E o seu pai nunca se chateou por isso?
— Esse é o problema, ele nunca se importou com a gente pra ficar chateado. Era justamente porque ele não se importava que eu tive que ser pai com quatorze anos. Quando Eunbin fez três anos, minha mãe voltou a cuidar da lanchonete o dia inteiro. Já que meu pai estava pouco se fodendo para a criança, a responsabilidade caiu nas minhas mãos.
— Eu sinto muito por isso, Chanyeol...
Sehun estava pronto para perguntar o motivo para que o pai do garoto não desse a mínima para seus filhos, mas o som do carro de sua mãe sendo estacionado o fez levantar da cama em um pulo.
— A minha mãe chegou. — avisou, o sol já estava se pondo àquela altura — Acho melhor descermos...
— Tudo bem. — o Park estava realmente assustado com a ideia de conhecer os pais de Sehun.
Conhecer os pais de alguém que ele dava uns beijos às vezes já era algo que o deixava cagado de medo. Mas conhecer os pais de Sehun – que, aparentemente, eram tão problemáticos quanto os seus – parecia ser mais assustador ainda.
Mas ele estava disposto a isso.
Chanyeol seguiu o menor pelo corredor, e descendo as escadas, até o hall da casa, para receber a pseudo-sogra.
A porta se abriu, e revelou a imagem de Oh Hayoung, uma mulher elegante, aparentava seus quarenta e tantos anos. Vestia roupas nitidamente caras e sapatos de salto. Apesar das feições delicadas, seus olhos afiados pareciam julgar qualquer um que estivesse em seu campo de visão. Ela era realmente parecida com Sehun, talvez fosse uma versão mais ácida e tenaz.
O fato era: ele sentiu medo.
— Boa noite, Sra. Oh. — estendeu a mão para cumprimentar a mulher.
Ela apertou a mão do garoto, mas sem uma expressão amigável – o que era muito bizarro, para falar a verdade. Seus olhos percorreram a figura do garoto de cima a baixo. Claro que repararam nos coturnos surrados – coisa de maloqueiro, boa parte dos adultos dizia –, nos jeans rasgados, na camiseta porcamente amassada, e – principalmente – nos cabelos descoloridos.
Não era uma visão agradável para os olhos já experientes.
— Mãe, esse é o Chanyeol, meu amigo. — o mais novo se prontificou a apresentá-lo.
— Prazer em conhecê-lo, Chanyeol. — a tom e a expressão daquela mulher pareciam contrariar totalmente o que ela dizia. Ela soltou a mão do rapaz de forma um pouco fria, e logo se virou para o seu filho — Quando o jantar estiver pronto eu chamo vocês.
Aquilo aparentemente soou como um sinal para Sehun, que não demorou a cutucar o braço do maior, apontando para a escada.
Eles voltaram para o quarto e a porta foi fechada. Mas naquela noite não houve beijos, não houve toques, não houve nada além de conversas. Sehun estava nervoso – o motivo, obviamente, era o medo que sentia de seus pais –, Chanyeol podia notar isso. E, embora ele também estivesse, tentava aliviar a tensão do Oh com algumas piadas.
E isso até que foi bom para ele. Mas a calmaria não durou muito. Logo a mãe de Sehun gritou seu nome, indicando que o jantar já estava na mesa.
A única coisa que conseguia tranquilizar um pouco Sehun,a respeito daquele jantar, era que seus cunhados não estavam lá naquela noite.
O caminho foi silencioso, a tensão retornara com força. E Chanyeol respirou fundo, apreensivo, ao ver que o pai de Sehun estava sentado à mesa. Se a imagem de sua esposa já era agressiva, a do patriarca da família era ainda mais assustadora. Ele o olhava de cima a baixo, parecia um hábito dos Oh.
Todos na família de Sehun eram bonitos, mas só o caçula transparecia alguma humanidade em suas expressões. Ele atestou isso ao ver a irmã mais velha de Sehun o olhando com cara de nojo, o que parecia ser o mais velho dos três somente o olhava com desconfiança, mas o outro rapaz o olhava como se soubesse de todos os seus pecados.
Aquela família era estranha.
— Boa noite. — o Park fez um cumprimento geral, tímido, e sentou-se à mesa.
— Você que é o Chanyeol? — Oh Siwon, o mais velho da mesa questionou, ignorando completamente a saudação do menino.
— Sim, senhor. — respondeu e engoliu em seco.
— Há quanto tempo é amigo do Sehun?
— Uns dois meses, talvez. — sua voz quase falhava, ele estava nervoso demais. O tom daquele cara denotava que a sua presença naquela casa não era muito agradável para ele.
— E Sehun nunca tinha pensado em apresentá-lo para a família? — virou-se para o rebento — Por quê?
— Acho que nunca houve uma oportunidade, senhor. — Chanyeol arriscou responder.
Ele recebeu somente um olhar de desagrado do pai de Sehun. E, pela primeira vez, ele se sentiu impotente.
— Com o que seus pais trabalham? — perguntou totalmente indiscreto, pouco se preocupando com seu tom grosseiro.
— Minha mãe tem uma lanchonete no centro da cidade. — respondeu constrangido, mexendo na comida com o garfo, em manifestação do seu estado de tensão.
— E o seu pai?
Certo, ele definitivamente não podia falar sobre o seu pai, a menos que quisesse ser expulso daquela casa. Se já não gostaram de Chanyeol pelo seu jeito, o odiariam ainda mais quando ele falasse sobre o cara que ele era obrigado a chamar de pai. Mentiras eram necessárias em alguns momentos, e aquele era um deles.
— Meu pai morreu. — disse simplista, recebendo um olhar assustado de Sehun.
A mesa se silenciou, e permaneceu assim até o final do jantar. Sem mais perguntas, sem mais olhares feios, sem qualquer outro contato. Apenas o som dos talheres se chocando contra os pratos.
E Chanyeol sentiu um alívio ao ver que as pessoas deixavam as mesas, o que significava que não faltava muito para que ele pudesse ir embora. Quando achou conveniente, despediu-se da família de Sehun, e este o acompanhou para fora de casa.
Estavam em frente à porta. No jardim escuro, com a certeza de que ninguém os observava.
— Me desculpa por isso, Chanyeol. — Sehun declarou timidamente — Eles são um saco.
— Tá tudo bem... — embora não fosse verdade, o que o Park menos queria era que o moreno, de alguma forma, acabasse se sentindo mal por algo que não era sua culpa.
Sehun era doce demais para que ele permitisse que algo tirasse o seu sono.
— Não, não tá tudo bem, eu sei que não.
O mais velho não respondeu, apenas destinou seu olhar aos próprios pés. Ele não conseguia dizer nada. E ficou mais inexpressivo ainda quando Sehun o puxou para um abraço. Seus braços envolveram o tronco do rapaz mais alto com força, e o rosto bonito encontrou abrigo na curva do pescoço de Chanyeol.
Aquele abraço foi tão quente, e trazia um alívio tão grande, que alguns segundos foram suficientes para que o loiro finalmente reagisse. Seus dedos foram até os fios negros e macios de Sehun, acariciando de forma terna.
Não houve segundas intenções. Apenas uma necessidade mútua da presença alheia. Palavras não eram necessárias.
Chanyeol se permitiu fechar os olhos e sentir o vento da noite batendo em seu rosto. Aquele momento, tendo o Oh em seus braços, era perfeito. Seus peitos estavam colados, era possível sentir o coração um do outro. Era uma sensação reconfortante, eles até mesmo chegavam a se questionar se havia uma real necessidade de se afastarem.
Infelizmente havia.
Chanyeol tinha que ir embora e Sehun tinha que voltar para dentro de casa. Eles tinham que voltar para os seus mundos tão diferentes – e, ao mesmo tempo, tão parecidos. Cada qual com seu caos.
— Nos vemos na segunda...? — Sehun disse assim que o maior se afastou, esperava uma confirmação.
A menor que fosse.
— Sempre que você quiser, Sehun.
Não houve um beijo, mas houve um adeus sincero. E a vaga esperança de que, em algum momento, eles não tivessem que se preocupar com mais nada.
Sehun voltou para dentro de casa, mas antes que pudesse chegar às escadas, seus pais o chamaram na cozinha. Isso, definitivamente, não era um bom sinal. Honestamente, o garoto estava com aquele mau pressentimento há um bom tempo. Mas não era como se ele pudesse fazer algo a respeito.
— Sehun, não queremos que você ande com esse garoto. — o patriarca determinou de forma rígida.
Habitualmente, o garoto teria apenas assentido silenciosamente, sem questionamentos. Mas Sehun já estava cansado de aceitar tudo passivamente. Porra, ele já tinha dezoito anos.
— Por quê?! — rebateu indignado.
— Ele é mais velho que você e está na sua turma, nós não queremos você andando com um repetente.
— Mas qual é o problema? Ele reprovou porque trabalhou durante um ano.
— Sei bem com o que ele trabalhava. — o mais velho alfinetou — Você já reparou na forma que ele se veste, Sehun?
— Isso é sério?!
— Isso não é algo que vamos discutir com você. — sua mãe interferiu — Apenas obedeça.
(...)
— O que você tá fazendo, Sehun? — Junmyeon questionou ao chegar na sala e ver seu irmão com as pernas sobre o encosto do sofá, as costas no assento e a cabeça para baixo — Olha a sua coluna, garoto, você tá todo torto! — repreendeu-o, então colocou as xícaras de café sobre a mesa de centro.
— Me deixa, hoje é sábado.
— O que isso tem a ver, pirralho? Senta direito, você tá na minha casa. — como médico, era realmente uma tortura para o primogênito dos Oh ter que ver o caçula detonando com a sua coluna.
— Tá, que seja, Dr. Junmyeon. — Sehun respondeu e, por fim, sentou-se corretamente no sofá; exceto pelos pés colocados sobre o estofado.
— Se você não tirar os pés do meu sofá agora, eu vou te mandar de volta pra sua casa. — ameaçou, e foi muito eficiente, porque o mais novo não demorou a tirar os pés de cima do sofá.
O menino suspirou e pegou a xícara de café que seu irmão havia trazido, então bebeu um pequeno gole. Praguejou ao sentir a língua queimando – um pouco idiota de sua parte, talvez, deveria imaginar que a bebida estava quente.
— Aconteceu algo, Sehun? — o menor, apesar de mais velho, questionou apreensivo — Você parece meio tenso...
Sehun ponderou se seria algo prudente dividir com Junmyeon as suas preocupações tal qual elas são. Certo, talvez fosse informação demais para uma tarde só dizer que ele gostava de garotos, então ele tentaria se expressar de uma forma bem sutil.
— Então... Eu tenho um amigo, está bem? — deu ênfase no substantivo — E... Eu meio que tenho que me afastar desse amigo... Mas eu não quero fazer isso.
O médico ficou inexpressivo por algum tempo, apenas olhando para o seu irmão.
Ele não precisava de mais do que dois neurônios para saber que o amigo em questão se tratava do garoto que havia jantado com a família na noite anterior. O tal de Chanyeol. Ele já tinha uma noção de que aquele amigo era mais do que só um amigo. E ele até mesmo se perguntava como os seus pais eram tão burros a ponto de não terem percebido ainda que Sehun era gay.
Por favor, para Junmyeon era tão óbvio que o caçula da família não tinha o menor interesse em garotas. Ele sempre se mostrava tão desconfortável quando o assunto “namorada” estava em pauta, e ficava mais desconfortável ainda quando era questionado a respeito do motivo de nunca ter apresentado uma garota para a família.
Bom, afirmar com cem por cento de certeza que o mais novo gostava de garotos não era possível – era só noventa e nove. Pelo menos até a noite em que o amigo de Sehun foi apresentado para a família. Aí sim ele tinha certeza de que o irmão era gay.
Era difícil contrariar isso quando ele notou um puta nervosismo nos dois meninos.
No entanto, ele não queria deixar o maior constrangido. Deixaria que ele continuasse acreditando que Junmyeon não tinha a menor ideia de que ele gostava de beijar rapazes. Não se importava em ter que se fingir de sonso.
A sua única preocupação era a respeito de seus pais. Sabia que eles não seriam nada compreensivos com Sehun como ele era.
— Certo... Mas você tem que se afastar desse amigo porque você acha que tem, ou porque alguém disse que você tem que fazer isso?
— Me disseram que eu devo fazer isso.
Junmyeon não era idiota, ele sabia que seus pais haviam mandado Sehun parar de falar com o tal garoto. E apesar de achar o rapaz meio tapado, não acreditava que ele fosse uma má companhia para o seu irmão.
Sendo assim, iria aconselhá-lo como podia.
— Esse seu amigo te faz beber ou fumar?
— Não.
— Ele te obriga a fazer algo que te deixa desconfortável? Ou te obriga a fazer algo ilegal?
— Não.
— Ele te faz matar aula? Suas notas estão caindo por causa dele?
— Não.
— Então, se for da sua vontade, você não tem que se afastar. — ele sorriu para o mais novo e se levantou. Depois de dar tapinhas no ombro do garoto, foi até a sua carteira e tirou algumas notas — Vai ao mercado pra mim, compra duas cartelas de cigarro, e pode pegar um chocolate pra você.
— Posso comprar uma cerveja? — questionou e pegou as notas da mão do menor.
— Faça isso que eu te mando pra casa. — ameaçou e deu um tapa fraco na cabeça do menino.
Junmyeon morava em um bairro muito maneiro, pelo menos para Sehun. Era um lugar legal, pouco movimento, mas tinha algumas sorveterias, mercadinhos, e até um fliperama. Ele gostava de passear por lá, por isso jamais reclamava quando seu irmão o fazia sair de casa para comprar alguma coisa.
No caminho, ele pensou a respeito do que o mais velho havia dito. Concluiu que, sim, ele estava mais do que certo. E não se importava em ter que desobedecer a seus pais. O faria sem arrependimentos. Porque ele gostava muito de Chanyeol, e aquele garoto representava a liberdade para si. Não o deixaria ir embora sem mais nem menos.
Ainda mais quando isso sequer se tratava de uma decisão deles.
Dois minutos de caminhada e ele estava no mercado. Pegou os cigarros, o chocolate e foi ao caixa para pagar. Mas, na fila, uma mulher tocou o seu ombro.
Sehun se virou um pouco assustado para a moça. Ela aparentava ter, mais ou menos, a mesma idade que sua irmã. Ele era orientado a não falar com estranhos – mesmo com dezoito anos na cara –, mas não seria indelicado ao ponto de ignorar aquela senhorita.
— Posso ajudar? — perguntou tímido.
— Sou Jang Yeeun, caça-talentos. — sorrindo, estendeu a mão para o rapaz — Qual é o seu nome?
— Oh Sehun. — respondeu e cumprimentou a mulher.
— Meu trabalho é procurar pessoas com potencial para a carreira de modelo. E eu as convido para seleções. No caso, acho que te encontrei por sorte. Você já pensou em ser modelo de revista, Sehun?
— Acho que não... —devolveu pensativo — Mas parece ser interessante.
— Garoto, você tem um rosto muito bonito. — ela disse empolgada — Não sabes a arma que tens! Perfeito para um modelo!
Yeeun procurou algo em sua bolsa, e logo tirou de lá um cartão.
— Aqui está o dia e o local da próxima seleção. — entregou o cartão ao garoto — Atrás está o número da agência em que eu trabalho.
— E-eu não sei... — ele olhou fixamente para o cartão em sua mão — Eu preciso pensar.
— Pense nisso com carinho, sim?
(...)
Era uma noite de sexta-feira. O momento, por costume, em que os Oh jantavam em família. Isso significava, para Sehun, um tédio completo. A merda fedia mais ainda porque seus cunhados estavam lá. E, tudo bem que a esposa de Junmyeon era querida, mas o marido de Seunghee era tão insuportável quanto o seu pai.
Nossa, como ele odiava Youngwoon. Aquele cara era tão arrogante que Sehun tinha vontade de morrer cada vez que aquele homem abria a boca.
Outro costume que a família tinha, durante esses jantares, era de orar antes de iniciar a refeição. Jongdae, por algum motivo, estudava para ser padre – talvez até por incentivo dos pais, que são fundamentalistas religiosos –, então era ele quem iniciava a oração.
E Sehun aguardou ansiosamente para que aquilo acabasse de uma vez, já que, sinceramente, isso era tudo uma grande baboseira para ele. Do que adiantava bradar aos ventos que a família tinha hábitos religiosos enquanto havia mentira, traição e preconceito dentro dela?
Ele acreditava em Deus, mas sabia que nenhuma daquelas orações que eles faziam de mãos dadas era sincera.
Assim que terminaram, todos começaram a comer. Mas Sehun sabia que a comida não iria descer se ele não colocasse para fora o que estava preso em sua garganta. Embora tivesse dezoito anos, precisava da permissão dos pais para o que pretendia fazer.
— Eu fui convidado para uma seleção de modelos. — disse de uma só vez, sem hesitação, aguardando uma resposta de seus progenitores.
— Tá, e daí? — seu pai devolveu.
Sehun olhou ao seu redor, receoso devido à resposta do patriarca. Seunghee o olhava com uma cara de descrença; Jongdae sequer o olhava, estava quieto – como sempre, e esse era o motivo para que ele não odiasse o acólito –; os agregados da família pareciam pouco se importar com aquilo; mas, contrastando dos demais, Junmyeon o olhava de forma curiosa, como se quisesse ouvi-lo.
E foi isso que o motivou a continuar.
— Eu achei interessante e quero participar.
— Você não vai. — o homem mais velho da mesa determinou.
— Mas por quê?! — o tom do caçula se elevou, ele estava realmente indignado.
E dessa vez não estava a fim de guardar tudo para si.
— Porque não, Sehun, fique quieto e coma. — ele falava com o filho sem nem destinar o olhar; permanecia concentrado em cortar a carne em seu prato.
— Mas eu quero ir à seleção.
— Você não vai à seleção nenhuma. — finalmente olhou para Sehun — Vou te dizer o que você vai fazer. Você vai terminar o ensino médio e vai entrar para uma boa faculdade pra arrumar uma profissão de verdade e parar de trazer decepção para os seus pais.
— Mas ser modelo também é uma profissão, assim como qualquer outra.
— Cale a boca, Sehun! — acertou a mesa com a sua mão, causando um estrondo e atraindo todos os olhares da mesa — Por que você não pode ser como o seu irmão?! Junmyeon tem trinta anos, é casado, tem uma casa boa, é médico... Por que você tem que ser um estorvo já tão cedo?!
O citado arregalou os olhos. Olhou momentaneamente para o irmão mais novo, e viu seu olhar direcionado de forma odiosa para o progenitor. Se ele já não estava confortável com aquilo, era possível ter uma noção do quanto aquilo estava sendo pior para Sehun.
— Pai, para com isso, por favor. — o primogênito pediu.
— Não, Junmyeon, seu irmão está errado e precisa entender isso!
— Se eu sou um estorvo, não se preocupe! — o menino gritou, largou os talheres sobre o prato e se levantou — Você não vai mais precisar se incomodar comigo!
— Aonde você vai, Oh Sehun?! — Siwon gritou.
— Não interessa!
Sehun saiu de casa, ignorando totalmente os chamados de sua mãe e os gritos de seu pai. Não queria saber de mais nada. Não queria ver a sua família na frente pelas próximas horas, sentia que iria acabar não sobrevivendo se ficasse perto deles por mais algum tempo.
Ele tinha um destino certo, e estava pouco se fodendo para qualquer coisa que não estivesse onde ele pretendia ir.
(...)
— Chanyeol! — seu pai chamou, a voz enrolada, sem tirar os olhos da televisão — Estão batendo na porta!
O garoto suspirou frustrado, alternando o olhar entre a panqueca na frigideira e a irmã que arrumava a mesa para o jantar – não confiava em deixar pratos de vidro nas mãos da pequena de sete anos sem supervisão.
— Você pode abrir, por favor? — respondeu ao mais velho, tentando ao máximo não perder a paciência — Eu não posso sair daqui agora.
— Você é um inútil mesmo. — resmungou e se levantou preguiçosamente — Não vê que eu tô ocupado?
— Eu também estou, pai. — o seu autocontrole, considerando a vontade que tinha de bater naquele cara, era impressionante.
Sungjin cambaleou um pouco até a entrada do apartamento – estava consideravelmente bêbado, como sempre. Ele abriu a porta e ficou um pouco confuso ao ver um garoto lá. Aparentava ser da mesma idade que seu filho.
— Quem é você?
— E-eu sou amigo do Chanyeol. — o menino respondeu um pouco atordoado — Meu nome é Sehun.
— Chanyeol! Seu amigo, Sehun, tá aqui! — berrou para que fosse ouvido pelo filho.
Chanyeol, por sua vez, quase deixou a frigideira cair ao ouvir o que seu pai disse. A julgar pelo dia, e pela hora, Sehun deveria estar em um jantar super legal, com a sua família super amável, divertindo-se muito.
— Deixa ele entrar, pai! — pediu, ele realmente não podia sair de perto daquele fogão.
Sungjin deixou que o garoto entrasse, e logo pegou o seu casaco do lado da porta.
— Avise o Chanyeol que eu vou sair. — lançou a ordem ao desconhecido e saiu de casa.
Sehun não entendeu aquilo muito bem, então apenas andou pelo apartamento até que encontrasse o seu amigo. Ver Chanyeol cozinhando até que melhorou em um por cento a sua noite.
— O seu pai pediu pra avisar que ele saiu... — disse encostando-se ao batente da porta, e assim atraiu a atenção do mais velho.
— Eu me pergunto quando ele não sai... — foi até a mesa e largou a panqueca de Eunbin sobre o prato dela — Quer panqueca?
— Não, obrigado.
— Quer me contar o que te trouxe aqui nessa noite de sexta-feira?
Sehun anuiu e observou Chanyeol se aproximar dele. O maior tomou a sua mão com delicadeza.
— Eunbin, nós vamos para a sala. Por favor, não coma rápido, você vai se engasgar.
— Vocês vão namorar? — a menina perguntou de forma inocente.
O Oh riu fraco, e achou graça nas bochechas do loiro assumindo uma coloração rubra.
— N-não, você não deveria ficar falando essas coisas. — tentou repreender a irmã, mas ela parecia não se importar — Não fale isso na frente de papai e mamãe, nunca, você me entendeu?
Ela deu de ombros.
— Vocês parecem namorados com as mãos assim.
— Ah meu deus... — Chanyeol suspirou e decidiu que seria melhor somente ir para a sala, sem mais explicações ou tentativas de frear a língua solta da caçula. Ainda segurando a mão de Sehun, guiou-o até a sala — Me desculpa por isso, Sehun...
— Não se preocupa. — ele sorriu e beijou a bochecha do rapaz — Eu gostei da sua irmã.
— Senta aqui... — o maior se sentou no sofá e indicou para o lugar ao seu lado, que o outro não demorou a ocupar — Me conta o que aconteceu.
— Eu não te falei sobre isso, mas semana passada eu fui chamado pra uma seleção de modelos...
— É mesmo?! — os olhos de Chanyeol brilharam — Parabéns!
— Então... — ele sorriu triste e desviou o olhar — Durante o jantar, eu disse aos meus pais que queria ir nessa seleção... Mas acabei tendo uma discussão muito feia com eles...
— E você fugiu de casa e veio pra cá?
— Tipo isso. — suspirou — Fui imprudente?
— Pra caralho. — passou seu braço sobre o ombro de Sehun, que deitou a cabeça no peito do loiro — Mas não tem problema, eu teria feito o mesmo, você pode ficar aqui por quanto tempo quiser.
— Obrigado, Chanyeol, de verdade. — ele se permitiu fechar os olhos, recebendo uma carícia gostosa em seus fios negros.
Eles ficaram daquela forma por uns bons minutos. Apenas aproveitando aquele contato inocente e a presença alheia. Era mais do que suficiente.
Saber que sua mãe e seu irmão, devido ao trabalho na lanchonete, só voltariam para casa de madrugada era um alívio. Assim ele não tinha ninguém lá para encher o saco porque ele estava agarrado daquela forma a um garoto, não precisava se reprimir. Tudo bem, Eunbin estava lá para fazer comentários que deixaria seu rosto semelhante a um pimentão, mas isso fazia parte.
Eles só se separaram quando ouviram os passos da garotinha indo ligeiros até a sala.
— Chanyeol tem namorado! — ela apontou para o irmão e riu — Vai casar!
— Eunbin, para com isso! — ele estava realmente muito vermelho, e ter Sehun e sua irmã rindo de si não ajudava muito.
— Qual é o nome do seu namorado, Yeollie? — ela se sentou no tapete e agarrou-se à perna do irmão mais velho.
— Sehun. — o próprio respondeu, de coração mole com a fofura daquela criança.
— Ele é bonito. — disse ao irmão — Parece um príncipe.
— É... Ele fugiu da torre hoje. — Chanyeol resolveu entrar na brincadeira, mas logo quis mudar de assunto — Agora vai lá pegar algo pra gente jogar.
Ele se levantou e estendeu a mão para Sehun, que se levantou também.
— Vamos jogar no meu quarto.
Sehun definitivamente não esperava que fosse jogar uma partida de banco imobiliário com Chanyeol e sua irmã mais nova naquela noite. Foi realmente algo bem aleatório. Mas, sem dúvidas, muito melhor do que um jantar com a sua família.
Escolheria isso mil vezes, sem hesitar.
Apesar de pequena, Eunbin aparentemente era muito melhor que o seu irmão naquele jogo, o que fez Sehun rir. Era engraçado ver Chanyeol se irritando porque uma criança de sete anos jogava banco imobiliário melhor do que ele.
Em dado momento – eles sequer notavam a passagem do tempo –, Eunbin acabou dormindo. E Chanyeol a levou com cuidado para a cama. Ajeitou a pequena com delicadeza embaixo das cobertas, e saiu de fininho para não acordá-la.
Quando retornou ao seu quarto, encontrou o garoto moreno com um travesseiro em seu colo. Parecia até tenso, pois não parava de mexer nervosamente naquela fronha. Chanyeol fechou a porta com cuidado e foi em passos lentos até a sua cama, onde Sehun estava.
— Tá tudo bem? — perguntou baixo, vendo o outro anuir — Tem certeza?
— Vem cá. — o menor deu tapinhas no lugar ao seu lado, e o Park não demorou a se sentar ali.
Sehun suspirou antes de largar aquele travesseiro. Sua mão trêmula foi até o pescoço do mais velho, acariciando-o delicadamente antes que seus lábios encontrassem os dele. O beijo de início foi lento e carinhoso.
Beijar Park Chanyeol era algo que Sehun amava fazer, e jamais se cansaria disso. Ele se sentia verdadeiramente livre com aquele garoto, e não trocaria isso por nada. Chanyeol parecia representar, para si, algo que ninguém jamais poderia representar.
Ele já podia dizer que amava aquele garoto. E se o momento era quente, ou nem tanto assim, era totalmente indiferente. Porque a presença dele já bastava para que ele se sentisse bem.
Chanyeol o dava algum tipo de força. Como se ele ganhasse asas.
Asas de anjo, diria o Park.
Sem mãos bobas, apenas toques inocentes. A mão do Oh se limitava a brincar com os fios na nuca de Chanyeol, e a mão deste apenas estava firme na cintura alheia. Tudo normal.
Até então.
Aquele beijo foi ganhando mais cadência e necessidade, estava começando a se tornar algo mais elétrico. E, por consequência, eles acabaram se empolgando um pouquinho mais. O loiro, então, desceu a sua mão até a bunda de Sehun, e não teve vergonha alguma de apertá-la com uma força que jamais tinha usado até então.
Bom, isso provavelmente surpreendeu o menor um pouco, e ele acabou suspirando no meio daquele beijo. Chanyeol gostou do efeito que causou, e repetiu o gesto. Sehun acabou perdendo um pouquinho mais da sua timidez por causa disso.
Sem cerimônias, sentou-se no colo do mais velho, uma perna de cada lado do seu corpo. E aí as coisas ficaram mais perigosas.
As mãos do Park passaram a acariciar todo o tronco de Sehun, e a destra boba adentrou a camiseta de algodão. E assim o garoto soltou um gemido contra a boca cujo dono o provocava com a mão fria e o causava uns puta arrepios.
Sehun acreditou que rebolar seria uma ótima forma de retribuir aquela sensação que lhe foi causada. Foi a primeira vez que fez isso, e, caralho, foi tão bom. Seus membros entravam em atrito, e a roupa não foi empecilho algum para que eles sentissem prazer com aquilo.
Chanyeol nunca tinha ficado duro com tão pouco, mas a sua maior vontade era satisfazer Sehun. Então levou sua mão para a barra da bermuda dele, e adentrou a peça.
Aquilo foi meio que um alerta vermelho para o Oh, que não demorou para findar o beijo e segurar o pulso do loiro.
— E-eu não tô pronto, Chanyeol...
— Me desculpa... — o outro disse um pouco envergonhado, e afastou a mão da bermuda de Sehun.
— Tá tudo bem, não se preocupa. — sorriu sem mostrar os dentes.
Chanyeol não queria que aquilo fosse mais um motivo para que o rapaz ficasse chateado. Então decidiu tentar animar um pouco a noite dele.
Era válido.
Ele foi até a sua estante e pegou a Lucy – sua câmera. Então retornou para a cama, observando a expressão confusa do menor.
— Sabe, Sehun... — ele começou a explicar, enquanto sentava ao lado do garoto — Eu acho que a gente não precisa de ninguém pra realizar os nossos sonhos...
— Como assim?
— Talvez seus pais não deixem você fazer testes ou posar para revistas... Mas você pode posar para mim. — colocou a alça da câmera em seu pescoço — Você pode ser o meu modelo.
— Não sabia que você curtia fotografia... — Sehun sorriu, um pouco encantado com as palavras que ouvia.
— Eu quero ser fotógrafo... Mas eu sei que isso nunca vai acontecer, então eu me contento em brincar com essa câmera às vezes.
Ele posicionou a câmera em seu rosto e apontou a lente para Sehun. Ao perceber isso, o mais novo tentou cobrir o seu rosto com a mão, mas Chanyeol foi mais rápido para tirar a foto. A câmera imprimiu a foto, e o Park ficou um bom tempo admirando aquela obra de arte antes de guardá-la.
Sehun era tão bonito que Chanyeol não acreditava que anjos pudessem ser fotografados.
— Não tente esconder o seu rosto, ele é perfeito e merece ser mostrado.
Dessa vez, o loiro se sentou ao lado de Sehun e selou seus lábios, enquanto virava a câmera para eles e fotografava o momento. A câmera imprimiu a fotografia, e ele a entregou para o Oh.
— Fica com ela, é sua. — ele acariciou as bochechas que estavam mais salientes devido ao sorriso do garoto — Quando estiver triste, olha pra essa foto, você vai lembrar de como estava sorrindo quando eu te entreguei ela.
— Obrigado, Chanyeol. — abraçou o maior o mais forte que podia.
Aquele abraço durou alguns minutos, mas, ainda assim, muito menos do que eles gostariam que durasse. Sehun se afastou sem querer, de fato, fazer isso. Acontece que ele precisava ir embora.
Uma hora teria que lidar com os seus pais, e quanto mais ele demorasse, pior seria a bronca.
— Eu preciso ir... — disse triste e se levantou.
— Tudo bem...
Embora Chanyeol quisesse realmente que Sehun ficasse, ele entendia que o menino tinha uma família que se importava com ele – mesmo que até demais –, e ele precisava lidar com isso.
Acompanhou o garoto até a porta do apartamento – gostaria de levá-lo até a sua casa, mas não podia deixar a irmã sozinha –, e antes que ele fosse embora, foi surpreendido com um último beijo de Sehun.
— Nos vemos na segunda...?
— Sempre que você quiser, Chanyeol. — sorriu e foi embora.
Ele não queria ir, mas precisava. Sabia que andar pelas ruas da cidade durante a noite era perigoso, mas ele não conseguia pensar nisso. O frio o causava tremeliques, mas ele sequer notava. Nem mesmo o ódio que sentia por sua família conseguia vir à tona naquele momento. Só tinha uma coisa que passava por sua cabeça naquele momento.
Park Chanyeol conseguiu ter uma grande importância em sua vida. E ele não conseguia imaginar como ficaria sem aquele garoto de roupas de “maloqueiro”, cabelo desidratado, orelhas grandes, e gosto musical questionável. A verdade era que ele nem conseguia se imaginar sem ter Chanyeol por perto.
O hábito se torna vício, e a abstinência é perigosa.
Em alguns minutos, ele chegou em casa. Entrou sem cerimônias pela porta da frente – sabia que ela estaria aberta, e sabia que seus pais não iriam dormir até que ele voltasse. Passou reto pelo hall e foi para as escadas, só queria um banho quente e a sua cama.
— Com quem você estava, Sehun? — ouviu a voz do seu pai, vinha da base das escadas.
Ele ignorou e continuou subindo até o segundo andar. Não estava com muita paciência para Siwon.
— Oh Sehun! — o homem gritou — Não ouse me ignorar!
— Eu tava com o Chanyeol, merda! — virou-se subitamente para o pai, e gritou em um tom ainda mais agressivo.
— Nós já não falamos pra você parar de andar com esse garoto?!
— Vocês não têm direito de decidir como eu vou viver a porra da minha vida! — Sehun seguia gritando, já não aguentava mais ser silenciado.
— Sim, nós temos, Sehun. — o patriarca devolveu — E eu vou te mostrar.
(...)
Era segunda-feira, Chanyeol foi para a escola extremamente nervoso. Ele queria muito ver Sehun, estava preocupado com ele, e queria saber como os seus pais reagiram quando ele chegou em casa. Também havia um misto de empolgação para dar uns beijos no mais novo. Por Deus, ele estava apaixonadinho demais, e nem tentava esconder isso. O que acabou, inclusive, virando motivo de piada para Yifan. Mas não era como se Chanyeol se importasse com isso, ele estava feliz assim.
Honestamente, ele acreditava que Sehun havia mudado um pouco ele. Ou talvez... Nem tenha o mudado, mas sim mostrado quem o Park realmente era e o que ele queria.
De qualquer forma, gostava de Sehun – amava, aliás – e de sua companhia. Gostava de Sehun e de seus beijos. Gostava de Sehun e de tudo que envolvia aquele ser que gostava de comparar com um anjo. Já não conseguia mais se ver sem ele.
Porém, algo dentro de si se quebrou quando adentrou a escola e viu o garoto, com os pais e o diretor, tirando as suas coisas de dentro do armário. Certo, havia algo acontecendo, mas Chanyeol não queria acreditar que era o que ele estava pensando. Preferiu crer que era algum procedimento padrão ou... Era muito difícil, na verdade, porque ele se desesperou demais com aquela cena.
Ele passou perto de Sehun, que o destinou um olhar perdido. Chanyeol não vacilou em momento algum, permaneceu olhando para o mais novo. As orbes castanhas pareciam querer dizer algo para ele, mas o estado do Park não permitia que ele compreendesse aquilo.
Ele somente seguiu andando até a sala de aula, sem entender muito bem o que estava acontecendo. Ele já tinha uma ideia, mas não queria nem cogitar aquela situação próxima da realidade.
Por mais que aquilo realmente estivesse acontecendo, bem na sua frente.
Depois de largar a mochila, ele foi até a lista da turma, que ficava presa à porta. O seu estômago revirou ao notar que o nome de Sehun fora riscado da lista. Ele sentiu a sua cabeça queimando, a boca ficou repentinamente seca, suas mãos tremiam, e o seu tato era inexistente.
No entanto, ele saiu daquela sala imediatamente, indo até o corredor onde vira o Oh. Correu o mais rápido que podia, pouco se importava com o tumulto que estava causando.
Mas já era tarde demais. Oh Sehun já estava saindo da escola com seus pais, e com a felicidade que Chanyeol conseguiu ter naqueles dois meses que passou com o rapaz de voz de anjo e cheiro de outono.
[1982]
Chanyeol saltou do sofá ao sentir algo acertando seu rosto. Mas que porra, não se podia nem dormir naquela casa. Ele abriu os olhos e viu que se tratava de um jornal. Tirando o jornal do rosto, viu que seu agressor se tratava de Yifan.
— Mas porra você quer?!
— Você virou a noite vendo televisão, Chanyeol! — o chinês o repreendeu — A conta de luz tá foda, cara!
— Achei que você ia brigar comigo porque eu deveria ter dormido na cama por causa da minha coluna e blá blá blá. — levantou-se meio grogue devido ao sono, e com dificuldade devido à dor nas costas.
— Foda-se a sua coluna! — o Wu devolveu — Seguinte, cara a gente precisa conversar.
— Pode falar. — Chanyeol foi até a cozinha, tendo o amigo em seu encalce.
— Olha, os bicos que você arruma às vezes até ajudam, mas não tá mais sendo suficiente... — o maior suspirou — Eles subiram o valor do aluguel.
— Mas de novo?! — o rapaz abriu a geladeira e pegou a garrafa de leite, bebendo-o direto do bico.
— Sim, é uma merda. — bufou frustrado — Mas... Eu arrumei uma entrevista de emprego pra você. — deu a notícia e um sorriso surgiu em seu rosto.
— Maneiro. — fechou a garrafa e a guardou na geladeira novamente — Quando?
— Em uma hora.
— Mas que porra, Yifan! — acabou batendo a porta da geladeira com desespero.
— Ei! Isso é caro, seu filho da puta! — entregou um papel ao mais novo — Tá aqui o endereço.
Chanyeol teve uma velocidade sobre-humana para tomar um banho e vestir roupas decentes – nada que fugisse do seu estiio “foda-se” . Depois de pronto, acompanhou Eunbin até a escola – mesmo que a garota insistisse que já tinha quatorze anos e não precisava que ele a levasse até lá.
Depois disso, pegou um ônibus que sabia parar mais ou menos no endereço que Yifan o passou. Ele só não entendia o motivo de seu amigo ter arrumado um emprego para ele lá na puta que pariu. Seria foda fazer esse trajeto todos os dias.
Ele desceu algumas quadras antes do local que deveria ir, e andou até lá.
Bom, agora, caro leitor, chegamos em uma parte um tanto quanto delicada dessa louca história.
O que dizer sobre o lugar que os olhos de Chanyeol contemplavam, e que Yifan teria o arrumado uma possível vaga de emprego?
Eu lhe resumo em sete letras, como sete eram os pecados capitais.
Playboy.
Era isso, Yifan arrumou uma entrevista de emprego na porra do estúdio da Playboy para Chanyeol. E se você pensa que era a casa das coelhinhas, grande engano seu, meu amigo.
Era a Playboy masculina.
Mas, como Deus ajuda quem cedo madruga – ou algo do tipo –, o Park adentrou aquele lugar monstruoso de grande. Ele tinha um aluguel para pagar, uma irmã mais nova precisando de calcinhas, e seu cabelo mal tingido de castanho precisava de uma hidratação.
Ele estava com um puta medo que o fizessem posar pelado, mas até que estava disposto a isso.
Na recepção, encontrou um homem de cabelos roxos, com os pés sobre o balcão, fumando algo que, pelo cheiro, já parecia ser completamente ilegal. Suas roupas não eram muito diferentes da sua em estilo, mas a grande diferença habitava no fato de que as roupas daquele homem aparentavam ser caras.
Chanyeol diria que os coturnos daquele cara baixinho valiam mais que sua vida.
— Com licença... — chamou a atenção do homem ao se aproximar do balcão. No crachá dele estava escrito “Kim Minseok” — Meu amigo disse que vocês tem vaga de emprego.
— Depilou a bunda?
— O quê?! — o queixo de Chanyeol caiu, e Minseok se pôs a gargalhar do garoto.
O Park ficou muito puto com a audácia daquele infame em querer rir da sua cara.
— Você é engraçado... — recuperou-se aos poucos — É pra servir café, ninguém vai te fazer tirar a roupa não, garoto. Quer o emprego?
— Quero! — a raiva do acastanhado se converteu em um sorriso animado.
— Então é seu.
— Mas você não vai fazer uma entrevista, nem nada do tipo?
O rapaz bufou frustrado e apagou o seu cigarro no cinzeiro.
— Qual é o seu nome?
— Park Chanyeol.
— Você sabe mexer em uma cafeteira?
— Sim.
— Você sabe segurar uma bandeja?
— Sim.
— Então pronto, o emprego é seu. — ele se levantou e saiu de trás do balcão — Vem comigo.
Minseok levou o novo funcionário até a cozinha do estúdio. Mostrou onde estavam as xícaras, onde estavam as coisas que ele precisava usar na cafeteira... Basicamente, mostrou todo o funcionamento do seu trabalho.
— Certo, agora você precisa servir doze xícaras de café.
Pode parecer uma quantia monstruosa, mas para Chanyeol isso era fichinha. Ainda mais depois do tempo que ele passou trabalhando na lanchonete de sua mãe. Ele podia dizer que se sentia em seu habitat natural. Sendo assim, não demorou muito para terminar de servir as doze xícaras de café, conforme havia sido ordenado.
Minseok havia ficado lá, observando, e poderia até dizer que gostou da agilidade com que o Park trabalhava. Os últimos funcionários costumavam ser muito tapados. O Kim já aproveitou para pegar a sua xícara.
— Agora vem comigo... — gesticulou com a cabeça para que o maior o seguisse — Vamos servir café. Seja silencioso e não faça bagunça, é um ensaio muito importante, está bem?
Ele seguiu o azulzinho até uma porta grande de metal. Ele a abriu e entrou primeiro.
— É o nosso garoto prodígio... — sorriu — É a primeira capa dele. Entra.
Chanyeol entrou com cuidado para não derramar aquelas xícaras de café. Mas seu cuidado quase foi em vão quando viu quem estava posando nu para uma câmera.
Era Oh Sehun, o anjo por quem se apaixonou na escola.
Merci pour la lecture!
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