lara-one Lara One

Mulder descobre mais uma mentira escondida. Realmente o Consórcio nunca perdeu tempo em calar quem sabe demais ou grita demais. E o quê Mulder e Scully tem em comum com John Lennon e Yoko Ono? O mesmo louco relacionamento?


Fanfiction Série/ Doramas/Opéras de savon Interdit aux moins de 18 ans.

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S04#20 - JOHNNY

"O sonho está acabado. O que eu posso falar? O sonho acabou ontem. Eu era um construtor de sonhos. Mas agora eu renasci. Eu era uma morsa. Mas agora sou John. E queridos amigos, vocês irão ter que me aturar."

John Lennon


INTRODUÇÃO AO EPISÓDIO:

Segunda – Feira, 08/12/1980

Edifício Dakota – New York – 10:58 P.M.

[Som: Empty Garden – Elton John]

O porteiro, Jay Hasting, um homem forte e de barba, cercado pelas paredes forradas de mogno do escritório do edifício, lê uma revista.

Corta para a rua.

John e Yoko saem da limusine rumo ao prédio. Yoko entra primeiro.

CHAPMAN: - Senhor, Lennon?

Ele vira-se.

Fade out.


[Som de tiros]

[Sons de vidro estilhaçado]

JOHN (OFF): - Fui baleado!!!


Fade in.

John entra no prédio, cambaleando porta à dentro. No rosto, um olhar confuso. Yoko entra aos gritos desesperados.

YOKO: - John foi baleado!!!

Jay olha como se aquilo fosse outra das brincadeiras de John.

John anda vários passos e cai, espalhando pelo chão, fitas cassetes que carregava.

Jay aperta o botão de alarme, acionando a policia. Corre pra junto de John.

Angustiado, o porteiro delicadamente tira os óculos dele, que parecem fazer pressão em seu contorcido rosto. Em seguida, tira seu paletó azul e cobre John.

Com a gravata ele tenta fazer um torniquete, mas não há lugar para isso. O sangue jorra do peito e da boca de John, seus olhos desfocados. Ele tosse, vomitando sangue e pedaços de tecidos.

Corta para a rua. Yoko, transita, gritando por um médico e uma ambulância. Jay pede ajuda pelo telefone. Volta para junto de John.

JAY: - Tudo bem John. Você vai ficar bem.

O porteiro de fora entra às pressas.

PORTEIRO 2: - (ESBAFORIDO/ PÂNICO) O desgraçado deixou a arma na calçada!

Jay sai correndo pra fora do prédio.

Corta para o atarracado jovem assassino, calmamente em pé na rua 72 West, lendo "O Apanhador no Campo de Centeio'.

As duas viaturas chegam. Saltam quatro policiais armados, correndo em direção a Jay.

POLICIAL 1: - Mãos ao alto!!!

Jay fica de olhos esbugalhados, erguendo as mãos. Está todo coberto de sangue.

PORTEIRO 2: - (GRITA) Não é ele! Ele trabalha aqui! É aquele ali!!! (APONTA PARA O ASSASSINO AINDA PARADO) É ele!!!

Dois policiais prensam o suspeito contra a elegante fachada do prédio. Ele parece não se importar, num sorriso insano. Jay e os outros dois guardas correm para dentro do edifício.

A polícia vira o corpo de John. Yoko aos prantos, confusa e atordoada.

YOKO: - (GRITA/ CHORANDO) Não toquem nele!!!

POLICIAL 2: - Este homem esta morrendo vamos tira-lo daqui.

POLICIAL 3: - Não podemos esperar a ambulância!

Eles erguem John do chão. O corpo de John está rígido, seus braços e pernas caídos. É colocado num dos carros de polícia, que sai rapidamente.

Yoko sobe no outro carro, em desespero.

Corta para o carro. O policial segura John nos braços.

POLICIAL 2: - Calma, rapaz... Vai ficar tudo bem... Você sabe que é John Lennon?

Ele acena positivamente com a cabeça.

Fade out.


Hospital Roosevelt – Meia hora depois...


Fade in.

O médico sai da sala de emergência. Yoko vem em desespero ao seu encontro.

YOKO: - (APREENSIVA/ EM DESESPERO) Onde está o meu marido? Quero ficar com meu marido! Ele gostaria de ficar comigo!

DR. LYNN: - ... Temos péssimas noticias. Infelizmente, apesar de todos os nossos esforços, seu marido está morto. Não houve sofrimento no final.

Yoko começa a soluçar, olhos derrubando lágrimas, acenando negativamente com a cabeça.

YOKO: - (INCRÉDULA/ FORA DE SI) Você quer dizer que ele está dormindo? Não é?

Corta para o jovem negro no fundo do corredor, sentado, lendo uma revista. Usa um terno bem alinhado. Atento na situação. Ele levanta-se, deixando a revista no banco. Sai do hospital. Aproxima-se de uma cabine telefônica. Disca. Retira a arma do bolso e a verifica.

X: - Aqui é X. Bode expiatório preso. Agitador eliminado.

VINHETA DE ABERTURA: TRUST IN LOVE


BLOCO 1:

Arquivos X – 4:21 P.M.

Scully sentada à frente do computador. Mulder sentado no chão, vasculhando uma velha caixa de papel empoeirada, com uma curiosidade de criança. Bem mais magro, fisionomia abatida, mas com um ar de contentamento.

SCULLY: - (SEM DESGRUDAR OS OLHOS DA TELA) O que procura?

MULDER: - Pergunta errada, mulher!

SCULLY: - E o que deveria perguntar?

MULDER: - O que eu achei. Sabe que é bom ficar revirando as salas do FBI? Você encontra cada surpresa...

SCULLY: - E o que encontrou de tão especial?

MULDER: - (SORRINDO/ EMPOLGADO) Uma caixa de Arquivos X que eu nem sabia que existiam! Se estavam muito bem escondidas, devem ser artigos raros...

SCULLY: - (DEBOCHADA) E vai vende-los por quanto?

Ele retira uma pasta. Seu semblante de felicidade se transforma em incredulidade. Ela continua olhando pra tela.

SCULLY: - (DEBOCHADA) Então perderei meu homem esta noite pra uma velha caixa empoeirada e cheia de traças.

MULDER: - (SÉRIO/ PÂNICO) Scully...

SCULLY: - (OLHANDO PRA TELA) Fala, senhor Scully.

MULDER: - ...

Ela olha pra ele. Mulder está em pé na frente dela, com uma pasta nas mãos, tremendo. Olha pra ela, incrédulo, olhos cheios de lágrimas, como se o mundo inteiro tivesse desabado. Como criança que perde a ilusão diante uma verdade em que não queria acreditar.

SCULLY: - (ASSUSTADA) Mulder... O que foi?

Ele continua parado ali, esboçando a fisionomia triste e decepcionada. Scully pega a pasta das mãos dele.

Close do nome na pasta: John W. Lennon.


Gabinete do Diretor- Assistente – 5:59 P.M.

Skinner já com meio corpo pra fora da sala, indo embora. Mulder olhando pra ele.

MULDER: - Posso?

Skinner olha pra todos os lados.

SKINNER: - (COCHICHA) Deve e eu não sei de nada.

Mulder dá um sorriso. Skinner olha pra ele.

SKINNER: - (REVOLTADO) Eu era fã dos Beatles! 'Love me do' foi a minha canção e a da minha primeira namorada! Eu estava morrendo naquela guerra enquanto ele gritava pro mundo que aquilo era uma ignorância! Malditos miseráveis! Vai, Mulder. Isso não caiu à toa em suas mãos.

Skinner sai, também incrédulo, balançando a cabeça negativamente.


Edifício Dakota – Nova Iorque – 10:07 A.M.

No corredor, Mulder e Scully caminham a passos largos.

SCULLY: - Ela vai pensar que somos dois malucos.

MULDER: - Não. Ela não vai pensar.

SCULLY: - Como sabe tanto sobre ela?

MULDER: - Eu cultuava John Lennon. Ou melhor, John Ono, já que ele assumiu o sobrenome dela quando se casaram.

SCULLY: - Hum... (DEBOCHADA) Que estranha coincidência...

MULDER: - (SORRI) Yoko era a musa dele. Embora eu ainda ache que os Beatles se foram por causa do relacionamento deles. Mas... (SORRI) Eu nem acredito que estou andando no mesmo corredor que ele andava!

Scully sorri.

SCULLY: - John Winston Lennon.

MULDER: - Ahá! Gostava dele também, né?

SCULLY: - ... Sem Beatles.

MULDER: - (INCRÉDULO) Ahn? Sem Beatles?

SCULLY: - Eu... Eu admirava outra coisa em John Lennon.

MULDER: - (DEBOCHADO) Paixão de fã?

SCULLY: - (SORRI) Não. O relacionamento dele com Yoko. As músicas que Lennon fazia pra ela. O quanto ele amadureceu com ela. O quanto de loucura havia nos dois que não tinham tabus ou preconceitos no que se referia ao amor entre um homem e uma mulher. A polêmica que eles criaram. John Lennon rebelde, ativista político. E Yoko Ono, seu ponto de fuga. Sua força.

Mulder olha incrédulo pra Scully.

MULDER: - Tá brincando, né?

Os dois param na frente da porta. Mulder bate. A porta abre-se lentamente. Yoko põe a cabeça pra fora.

YOKO: - Agentes Mulder e Scully?

Mulder dá um sorriso. Scully mostra a credencial.

SCULLY: - Sim, senhora Ono.

Ela abre a porta. Percebe-se que veste uma camisa branca e calças jeans.

YOKO: - Entrem.

Os dois entram. Mulder fica extasiado, observando a sala. Objetos de John Lennon, quadros, fotos. Yoko olha pra ele. Scully dá uma risadinha sem graça.

SCULLY: - Mulder...

MULDER: - (BEM FÃ) Ah, me desculpe. É que... deixa pra lá.

YOKO: - Querem sentar?

Scully senta-se. Mulder senta-se ao lado dela. Yoko senta-se numa poltrona.

YOKO: - Recebi a ligação de vocês. Mas confesso que não entendo o que o FBI quer comigo. Não vieram aqui me acusar de agitação...

Scully olha pra ela como quem a admira. Mulder respira fundo e toma coragem.

MULDER: - Senhora...

YOKO: - Yoko, por favor.

MULDER: - Ok, Yoko... Eu nem sei como falar isso.

Scully, olhando pra Yoko, abre a boca.

SCULLY: - Somos agentes federais e trabalhamos num departamento chamado Arquivo X.

YOKO: - Sim.

SCULLY: - Investigamos fenômenos paranormais e crimes relacionados. E sempre nos deparamos com casos que o governo nega e oculta, principalmente sobre a existência de alienígenas e conspirações.

Mulder olha boquiaberto pra Scully. Yoko desce os óculos pelo nariz, olhando por cima das lentes, incrédula.

YOKO: - Sério? Tá me gozando?

SCULLY: - Não.

YOKO: - Uau! Desde quando o FBI se interessa por isso?

MULDER: - Desde há mais tempo do que pensa, Yoko.

YOKO: - E como funciona isso? Vocês conseguem provas?

MULDER: - (SORRI DEBOCHADO) Provas... Sempre tem alguém antes pra sumir com elas.

YOKO: - (DESANIMADA) Ah! Me esqueci que falávamos do FBI.

SCULLY: - Mulder achou uma caixa com alguns casos que ainda não sabíamos da existência.

MULDER: - Esses casos são arquivados na letra X, significando que ficaram sem uma resposta. Na verdade ficaram na letra X porque é a única letra em que havia espaço para colocar arquivos.

YOKO: - E...

MULDER: - E eu achei um arquivo com o nome do seu marido. O que significa que a versão oficial esconde a verdade.

Yoko levanta-se. Vira o rosto pro lado, cruzando os braços.

YOKO: - Eu não quero reviver isso. Agradeço a atenção de vocês, mas eu mesma já me questionei sobre muita coisa.

MULDER: - Acredita mesmo que... aquele sujeito o fez sozinho?

YOKO: - Eu não sei quem apertou o gatilho. Se foi ele ou outra pessoa através dele. Eu sei que John não morreu e nunca morrerá. Ele ainda está aqui, dentro desse apartamento, eu sinto a presença dele. E não quero revirar tudo isso, causando um tumulto geral. Não me importa quem fez isso realmente. Eu o perdi. E nada o trará de volta. Já basta aquele livro dizendo que o FBI o investigava por terrorismo. Chega, pra mim basta!

MULDER: - Yoko, nós não estamos oficialmente aqui. Ninguém saberá disso.

YOKO: - Costuma pedir permissão às vitimas para fazer sua investigação?

MULDER: - Não. Viemos até aqui para pedir permissão a você. Por respeito. Eu era fã de seu marido. E eu tenho o maior respeito pela pessoa que ele foi.

Mulder levanta-se. Scully também. Yoko olha pra eles.

YOKO: - Eu poderia dizer que são dois espertos tentando desenterrar algo, completamente malucos pela fama que uma descoberta dessas traria. (SORRI) Mas eu não penso assim de vocês.

MULDER: - (SORRI FEITO CRIANÇA BOBA) Podemos?

YOKO: - Outros já tentaram. Seja o que for, devem saber que não existem pessoas interessadas nessa verdade. Vocês vão dar voltas. E terminar de mãos vazias...

MULDER: - ...

YOKO: - Quando descobriu esse arquivo?

MULDER: - Ontem. Que por coincidência, foi o aniversário de 20 anos da morte dele.

Yoko fecha os olhos. Respira fundo. Olha pra Mulder.

YOKO: - Façam. Eu acredito que achou isto enterrado ali, num dia tão próximo, por coincidência. Talvez John esteja usando você para mostrar alguma coisa. Faça.

Mulder caminha até a porta. Yoko abre a porta. Mulder olha pra ela.

MULDER: - Viu realmente quando... ele disparou?

YOKO: - Foi ele. Mas creio que havia mais pessoas por trás daquele gatilho.

Mulder sai. Scully sorri pra Yoko e sai também.

YOKO: - Agente Mulder?

Mulder vira-se. Yoko aponta pro céu.

YOKO: - Eles... Eles existem mesmo?

MULDER: - Existem.

YOKO: - (SORRI) Eu sabia!!! Fantástico!!!!

Mulder dá um sorriso. Dá as costas e segue caminhando com Scully. Yoko fecha a porta, fazendo barulho. Mas abre uma fresta bem devagar, espiando-os. Os dois caminham pelo corredor. Yoko fica espiando, percebendo que há alguns metros, ao mesmo tempo, um procura a mão do outro para segurar. Yoko dá um sorriso.


Hotel Manhattan – 1:11 P.M.

Mulder, sentado na cama, recostado no travesseiro, camisa aberta, lendo vários papéis. Scully sentada no sofá, de lingerie, comendo um sanduíche, prestando atenção nele.

MULDER: - Yoko Ono, a viúva de John Lennon, afirmou na sexta-feira que nunca deixará o apartamento em que viviam quando Lennon foi morto, 20 anos atrás, e disse que, desde a morte do marido, tudo em sua casa continua como estava. "Não mudei nada na decoração. As roupas dele continuam no guarda-roupa. Se ele viesse para o apartamento, ainda o reconheceria", disse Ono em entrevista ao tabloide mais vendido da Grã-Bretanha, The Sun. "Como as coisas de John continuam lá e ele vivia lá, sinto sua presença muito forte no apartamento", disse Yoko. "Todas as recordações de John estão lá, eu não quis mudar o lugar que criamos e as coisas em que ele tocou."

Scully olha pra Mulder.

SCULLY: - Não a condeno por querer manter a presença do amor da vida dela.

Mulder continua prestando atenção nos papéis. Scully o observa, com angústia.

MULDER: - Lennon foi morto a tiros diante do edifício Dakota, em Nova York, em 8 de dezembro de 1980, por Mark Chapman. Yoko Ono também falou sobre Chapman, dizendo que a ameaça de que ele receba liberdade condicional sempre a assustará. Chapman, hoje com 45 anos, foi condenado à prisão perpétua pelo assassinato de Lennon. Em outubro ele teve seu pedido de condicional negado por pelo menos mais dois anos. Na véspera do 20º aniversário da morte de Lennon, Julian Lennon, filho de John com sua primeira mulher, Cynthia, fez críticas acirradas a Ono em seu website. Ele viu seu pai poucas vezes após o divórcio deste e culpou Ono por destruir a relação de John com ele, que já era frágil. "É evidente que ele tinha medo da paternidade, mas a combinação disso com sua vida com Yoko Ono levou à ruptura real de nosso relacionamento", disse Julian. "Me pergunto como seriam as coisas se ele ainda estivesse vivo. Acho que isso dependeria de se ele fosse John Lennon, meu pai ou John Ono Lennon, alma perdida e manipulada."

Scully ergue as sobrancelhas. Mulder solta o papel. Olha pra ela.

MULDER: - ... 23/10/1980 - O futuro assassino de Lennon, pede demissão de seu emprego de guarda de um condomínio de alto luxo em Honolulu. Ele assina sua demissão como John Lennon. Perguntam-lhe se ele esta procurando outro trabalho e ele responde: "Não, já tenho um trabalho para fazer."

SCULLY: - ...

MULDER: - 27/10/1980 - O assassino compra um revolver calibre 38 em Honolulu, sem problemas, graça a seu antigo emprego de segurança.

SCULLY: - ...

MULDER: - 08/12/1980 - Lennon está feliz. Depois de outro período de separação, reconciliou-se com Yoko. Na musica de abertura no novo LP , diz estar "Começando de novo." E é para uma nova sessão de gravações que ele sai de casa, à tardinha, segunda- feira, encontrando tempo, na porta do edifício para dar um autografo para aquele que iria assassina-lo horas depois. O assassino tinha 25 anos com aparência de um fã como qualquer outro. Só que assassino, obtido o autografo, não vai embora. Fica na porta do Dakota, esperando que Lennon volte. O momento em que John dá o autografo ao seu assassino foi fotografado por um outro fã que passava no local, e se tornou uma das mais famosas fotos da história do Rock 'n' Roll. E o resto você sabe, Scully.

SCULLY: - 10/12/1980 - Yoko em carta ao público fala o comentário de Sean, o filho: 'Papai agora é parte de Deus'. Acho que quando você morre você se torna muito maior porque você é parte de tudo. E termina com: "Nossos pensamentos estarão com vocês. Amor, Yoko e Sean. Nesta mesma carta Yoko pede que se faça uma vigília de silêncio no dia 14/12 por 10 minutos". Eu fiz.

MULDER: - Ahá... Entendida no assunto!

SCULLY: - (ANGUSTIADA) ... Mulder, sabe a bomba que temos nas mãos? Acha realmente que vamos incriminar aqueles homens?

MULDER: - (SORRINDO) Como você sabe que foram eles?

SCULLY: - (SUSPIRA) E quem mais seria?

Mulder larga os papéis. Bate no colchão, olhando pra ela com carinha de pidão.

MULDER: - Vem aqui, vem, minha Yoko Ono ruiva.

Ela sorri. Caminha até a cama, senta-se e recosta-se nele, comendo seu sanduíche.

MULDER: - Hum, isso deve estar gostoso.

Ela oferece e ele dá uma mordida.

MULDER: - (COM A BOCA CHEIA) Então, que tal irmos fazer uma viagem e visitar o senhor Chapman.

SCULLY: - Acha que ele falará depois de 20 anos calado? Talvez isso seja um ponto a ser discutido na investigação.

MULDER: - Como assim?

SCULLY: - Se ele continua vivo, não poderia ser um bode expiatório. Se o governo estivesse envolvido no esquema da morte de Lennon, teria se livrado de Chapman antes que ele abrisse a boca.

MULDER: - Terei de contestar sua opinião, Scully. Não necessariamente. Pra que chamar atenção? Lennon foi morto dias depois de ter conseguido seu visto permanente pra ficar nos Estados Unidos, depois de uma série de tentativas frustradas, porque ninguém o queria por aqui. Livraram-se dele. O bode expiatório morto levantaria suspeitas.

SCULLY: - E quanto ao arquivo que existe sobre as investigações do Bureau em cima de Lennon como um suposto terrorista?

Ele sorri. Ela abaixa a cabeça.

SCULLY: - Tá, Mulder. 'Vamos acusa-lo de terrorista e difama-lo, porque ele anda pregando liberdade demais pra essa gente. Como já acusamos tantos de comunismo, podemos dar outra desculpa pra odiarem Lennon'.

MULDER: - Nota 10, Scully! Você tá me surpreendendo.

Ela afaga os cabelos dele. Para. Olha pro nariz dele que começa a sangrar. Assustada. Mulder olha pra ela. Sorri.

MULDER: - (IRÔNICO) Essas coisas acontecem...

SCULLY: - ...

Scully pega um lenço e o ajuda a limpar o sangue. Mulder fecha os olhos num sorriso.

MULDER: - Hum... Vai comigo ver Chapman?

SCULLY: - Acha que vai arrancar algo dele, depois de 20 anos?

MULDER: - Não. Mas quero olhar pra cara do desgraçado.

SCULLY: - Que tal antes de ver Chapman você ir ver um médico?

MULDER: - Eu tô bem.

Ele levanta-se e vai pro banheiro. Scully perde os olhos no vazio. Desanimada. Ele fala com ela do banheiro, mas ela está preocupada com ele e nem escuta.

MULDER: - O mais difícil num caso tão antigo é ter de voltar à estaca zero, como se tivesse ocorrido ontem. As pessoas relutam muito em reviver o drama que passaram.

SCULLY: - ... (OLHANDO PRO NADA)

Mulder coloca o rosto pra fora do banheiro e olha pra ela.

MULDER: - Scully?

Ela sai do transe e olha pra ele.

SCULLY: - Ahn?

MULDER: - (DEBOCHADO) Ei, acorda! Preciso de alguém pra lavar minhas orelhas!

Ela sorri. Levanta-se e vai pro banheiro com ele.


BLOCO 2:

1980

Uma mesa ovalada. O Canceroso sentado numa ponta, fumando tranquilamente. Vários homens engravatados, entre eles Garganta Profunda e o Homem das Unhas Bem Feitas. Garganta Profunda lê um relatório.

GARGANTA PROFUNDA: - John Winston Lennon. Nasceu no dia 09 de outubro de 1940, em Liverpool, Inglaterra. Filho do casal Fred Lennon e Julia Stanley, uma família de classe média baixa. O pai era comissário de bordo e músico amador. A mãe, dona-de-casa.

O Canceroso traga o cigarro silenciosamente, prestando atenção.

GARGANTA PROFUNDA: - O pai partiu em uma viajem e nunca mais voltou, apenas mandando dinheiro para a criação do filho. Em 1942, Fred para de mandar dinheiro e Julia decide criar o filho com a ajuda de suas Irmãs, principalmente de Tia Mimi que era casada porém sem filhos. Em 1945, Fred volta após a guerra, cheio de dinheiro e querendo levar Julia e Lennon para Nova Zelândia, mas Julia quer o divórcio. Os dois mandam Lennon escolher com quem quer ficar, Lennon escolhe ir com o pai para Nova Zelândia, mas ao se despedir da mãe muda de ideia. Julia o deixa com Tia Mimi e aparece de vez em quando para vê-lo.

CANCEROSO: - Deprimente...

GARGANTA PROFUNDA: - 1948: Lennon vai para a Dovedale Primary School de Liverpool. 1952: Vai para o Qarry Bank Grammar School de Liverpool.

CANCEROSO: - Quem se importa...

GARGANTA PROFUNDA: - Nesta época Lennon já gostava de música e também era uma peste, roubava cigarros e fazia questão de ser o último da classe.

CANCEROSO: - Menino mau...

GARGANTA PROFUNDA: - 1953: Morre Tio George, o marido de tia Mimi. Julia reaparece, casada com um garçom, e tão palhaça quanto o filho. Nunca ficaram não amigos como nesta época. 1956: Lennon ganha um violão da Tia Mimi, e toca até sangrar os dedos, Julia é quem o ensina a tocar sua primeira musica.

CANCEROSO: - Os primeiros passos do subversivo... Ganhou a primeira arma.

GARGANTA PROFUNDA: - Lennon funda os Quarrymen e entra para a escola de artes de Liverpool. 1957: Primeiro Show profissional de Lennon. Neste mesmo ano ele conhece Paul McCartney, que é logo integrado a banda.

CANCEROSO: - Fiquem de olho nesse também.

GARGANTA PROFUNDA: - 1958: Julia morre atropelada na frente de casa por um policial bêbado. Lennon torna-se mais amargo e anti-social do que nunca. Neste mesmo ano conhece Cynthia Powell, foi amor a primeira vista.

CANCEROSO: - Todos os grandes gênios da humanidade são vítimas de tragédias e desgraças na vida. Isso é regra.

GARGANTA PROFUNDA: - 1962: Cynthia engravida, e Lennon casa com ela no mesmo ano. 1963: Nasce o primeiro filho de Lennon: Julian.

O Canceroso traga profundamente. Garganta Profunda continua.

GARGANTA PROFUNDA: - 1966: Lennon dá a famosa declaração sobre o Cristianismo "O Cristianismo vaiacabar. Vai encolher e desaparecer. Somos mais populares que Jesus Cristo. Não sei quem vai acabar primeiro, o cristianismo ou o Rock 'n' Roll." Isso não provoca nada na liberal Inglaterra, mas causa o maior rebuliço aqui. Ele causa uma nova polêmica ao falar da Guerra do Vietnã e conhece Yoko em uma exposição.

CANCEROSO: - A pólvora e o fósforo se encontraram... Coloque a mulher certa ao lado do homem certo e terá o princípio do caos.

GARGANTA PROFUNDA: - 1967: Lennon patrocina uma exposição de Yoko. Ambos já começam a se apaixonar. 1968: Ele e Yoko vão morar juntos. Yoko fica grávida. Os dois são presos por porte de maconha.

CANCEROSO: - (RINDO) Vocês podiam ter sido mais criativos...

GARGANTA PROFUNDA: - Yoko perde o bebê.

CANCEROSO: - Deveriam ter sido mais criativos.

HUBF: - Quer maior criatividade que culpá-los por matar o filho devido ao uso de drogas?

O Canceroso olha pra ele.

CANCEROSO: - (DEBOCHADO) Roqueiros usam drogas e nem por isso perdem filhos. Você usava drogas e tem uma prole maior que um coelho. Deveria ter sido mais criativo.

Garganta Profunda segura o riso. O Homem das Unhas em Feitas faz uma cara de cavalheiro inglês ofendido.

GARGANTA PROFUNDA: - 1969: Os Beatles tocam pela última vez em público. Lennon e Yoko se casam e fazem o 'Bed-in-for-peace' em Amsterdã.

CANCEROSO: - Ela não tinha um corpo bonito...

GARGANTA PROFUNDA: - Começa uma enorme campanha pela paz. Os Beatles gravam seu último disco. Lennon é nomeado o homem da década...1970: Yoko engravida e sofre um novo aborto neste ano.

O Canceroso olha pro Homem das Unhas Bem Feitas.

HUBF: - Não tive nada a ver com isso.

GARGANTA PROFUNDA: - 1971: Lennon grava Imagine e não consegue um visto permanente de moradia em nosso país. 1972: Damos a permanência por mais alguns meses a ele. Nosso governo quer deporta-lo, mas Lennon consegue mais uma extensão do seu visto de permanência. 1973: Expira o visto de permanência. O governo dá um prazo para Lennon sair por bem ou por mau. Ele recorre da sentença.

CANCEROSO: - O governo nunca sabe como agir com subversivos teimosos.

GARGANTA PROFUNDA: - 1974: Lennon e Yoko se separam. Ele vai para Los Angeles, onde tem um caso com a secretaria de Yoko, chamada May Pang. 1975: Lennon volta para Yoko. Declaração dele à imprensa: "Nossa separação não deu certo".

CANCEROSO: - O que eu disse sobre a pólvora e o fósforo? Você pode afastar um homem de uma mulher ou vice-versa. Mas nunca conseguirá evitar que seja para sempre.

GARGANTA PROFUNDA: - Yoko engravida novamente. E Lennon consegue visto até a fim da gravidez. Nasce finalmente o filho deles: Sean Ono Lennon. 1975: Lennon avisa que vai parar sua carreira durante 5 anos para cuidar de seu filho. Durante esse período ele raramente é visto pela imprensa, e Yoko fica cuidando dos interesses da família enquanto Lennon passa o dia cuidando do filho.

O Canceroso sorri.

CANCEROSO: - Roqueiros...

GARGANTA PROFUNDA: - 1976: Morre o pai de Lennon e ele consegue seu visto de permanência definitiva nos Estados Unidos.

O Canceroso dá um sorriso debochado.

CANCEROSO: - Sabem que para matar um homem o tempo é a melhor maneira de não levantar suspeitas. E depois do feito, ainda serve para limpar as provas. Dê o que ele quer, o alimente e depois o devore. Sem levantar suspeitas. Mantenha o inimigo o mais próximo de você.

GARGANTA PROFUNDA: - 1977: Lennon e a família levam a vida mais reclusa possível.

O Canceroso apaga o cigarro. Levanta-se. Coloca as mãos nos bolsos das calças.

CANCEROSO: - Quatro anos se passaram e o subversivo pensa que está aceito por aqui e que estamos concordando com o que ele faz. Mas sabem que a reclusão dele não é à toa. Lennon é esperto. Ele pressente que há algo errado.

HOMEM 1: - Ele parece estar mais calmo, fora de agitações políticas.

CANCEROSO: - Lennon nunca ficaria calmo. Veja o que fez com a Guerra do Vietnã? A juventude toda começou a seguir os passos dele e a fazer manifestações contra as decisões políticas desse país.

HUBF: - E quando declararmos o final da ditadura militar nas Américas? Não quero Lennon fazendo campanha com soviéticos para a abertura de arquivos militares. Isso nos incriminaria.

CANCEROSO: - E não o quero xeretando nosso envolvimento com os russos forçando a queda do comunismo. Nosso homem está lá. E está aguardando o momento certo para derrubar a estátua de Lênin e apagar a memória russa das futuras gerações.

HOMEM 1: - Você dá muita importância para esse bastardo.

CANCEROSO: - Dê um mito e terá a geração futura imitando-o. Não precisamos de crianças e jovens que pensem. Precisamos de crianças e jovens que se procriem e consumam. Dê sexo e crie moda e verá o domínio que os governos terão sobre as engrenagens que movem a máquina capitalista.

O Canceroso caminha até a porta e a abre. Faz sinal com a mão. Afasta-se. X entra, observando-os sem entender nada. O Canceroso olha pra X. Retira do bolso do paletó uma arma. Coloca sobre a mesa na frente de X, que o observa.

CANCEROSO: - Mostre que pode sentar nesta cadeira.

X: - ...

CANCEROSO: - Se conseguir passar no teste, será o meu braço direito.

X: - O que eu tenho de fazer?

CANCEROSO: - Assegurar que John Lennon seja morto.

X olha pra arma.

X: - E se eu não conseguir fazer isso?

CANCEROSO: - Só há uma opção pra você: matar Lennon.

X observa a arma. Pega-a.

X: - E o bode expiatório?

CANCEROSO: - Já conseguiu comprar uma arma 'sem problemas'. Eu me preocupo com ele. Quero você o fiscalizando. Se ele não o fizer, faça.

O Homem das Unhas Bem Feitas olha pro Canceroso.

HUBF: - O que ofereceu a Chapman em troca do assassinato?

CANCEROSO: - O que todo homem no mundo deseja: Ser uma personalidade inesquecível.

HUBF: - Você é louco!

O Homem das Unhas Bem Feitas esmurra a mesa.

HUBF: - Acha que ele vai ficar calado? E se abrir o bico?

CANCEROSO: - Ele terá proteção e não pegará pena de morte. Terá tudo o que deseja. E será famoso até o final de sua vida.

HUBF: - Isso é a coisa mais insana que já ouvi!

CANCEROSO: - Se tivesse segurado 'seu filho' em casa, ele não teria vindo pra cá nos criar problemas.

HUBF: - ...

O Canceroso olha pra X.

CANCEROSO: - Tenho grandes planos pra você no futuro. Não me decepcione.

O Canceroso acende outro cigarro. Traga-o debochadamente, olhando pra Garganta Profunda. Eles saem da sala, o deixando sozinho. O Canceroso larga o cigarro no cinzeiro. Retira uma carta do bolso do paletó. Abre-a e a lê mentalmente.

MULDER (OFF): - Mãe, as coisas por aqui estão indo muito bem. Seu filho conseguiu completar mais um semestre na faculdade e minhas notas foram altas. Eu fui o melhor da turma! Não quero que você e papai se preocupem comigo, eu estou bem. A Inglaterra é a minha segunda casa. Mas confesso que cada dia que passa estou mais convencido de que deveria tentar entrar no FBI. Sei que você não aceita isso, mas acho que a ideia de papai está me convencendo. Eu não sei o que faria por lá, mas se papai diz que seria uma coisa boa pra mim, eu acredito nele. Pense, mãe, o que pode me esperar no FBI? Quem sabe seu filho seria útil pra eles?

O Canceroso esboça um sorriso.

CANCEROSO: - Completamente útil. Siga o conselho.


ÉPOCA ATUAL

FBI – Biblioteca e Sala de Documentação – 10:28 P.M.

Mulder e Scully sentados a uma mesa. Pilhas de arquivos. Mulder, lê um arquivo. Começa a rir. Scully ergue a cabeça e olha pra ele. Tira os óculos.

SCULLY: - (CURIOSA) O que foi?

MULDER: - (RINDO) ...

SCULLY: - Não há nada aqui, Mulder. Nenhum registro de Lennon datado nos arquivos comuns.

MULDER: - Já esperava por isso. Sinal de que armaram pra ele. (RI) ... Depois que eu morrer adoraria ser uma mosquinha pra ver do que vão me acusar! Imagina a extensão de páginas em meu arquivo! Desde estuprador de criancinhas até confidente íntimo de 'Satã' Hussein.

SCULLY: - Porque não lê os Arquivos permitidos à leitura pública... Abertos pela nova 'lei de abertura de informação'... Há muitas coisas sobre Lennon...

MULDER: - (RINDO) É o que estou fazendo...

Scully olha pra ele sem entender.

MULDER: - Escuta essa: O diretor da CIA, Richard Helms, enviou um documento codificado para Edgar Hoover em Fevereiro de 72. O título "John Lennon and Project 'Yes'.

SCULLY: - O que é Projeto Yes?

MULDER: - Não sei. Não dá pra ler.

Mulder mostra a folha pra ela, completamente cheia de tarjas pretas. Scully ergue as sobrancelhas.

MULDER: - (DEBOCHADO) Chama isso de Liberdade de Informação? Quá quá quá! 'Projeto Yes'... Deve ser alguma invenção deles inspirado no nome da antiga banda do Phill Collins... 'Eles não têm imaginação alguma'...

Scully suspira. Mulder mostra outra folha de papel. Scully olha incrédula.

SCULLY: - Lennon? Procurado?

MULDER: - É, é um cartazinho feito pelo Bureau, mas esta foto não é de Lennon. Se estavam armando para pegá-lo, veja que idiotice! Quem por aí precisaria de foto pra reconhecer John Lennon?

Scully segura o riso.

MULDER: - Scully, se tudo isto aqui sobre Lennon fosse verdade, porque usariam tarjas pretas em determinados parágrafos e frases? Quem realmente não tinha nada a esconder? Olha só isto, tá mais cheio de tarjas que minha avó de rugas! Tem páginas inteiras com tarjas!

SCULLY: - ...

MULDER: - Ouça essa: Tentaram deportá-lo por usar drogas... (RI) Acusaram o uso de códigos políticos nas letras das músicas... Não! Essa aqui é boa: Relatório do M15, agência de inteligência britânica, falando do financiamento de Lennon para grupos de esquerda nos anos 60, com uma cópia da música 'Working Class Hero', escrita à mão pelo próprio Lennon...

Mulder dobra o papel e guarda no bolso. Scully franze o cenho.

SCULLY: - Mulder!

MULDER: - Puxa, é uma cópia de uma canção de Lennon escrita a próprio punho. Eu mereço ter isso mais do que eles, não concorda?

Scully ri.

SCULLY: - Depois eu sou tiete, não é mesmo?

MULDER: - E tem mais aqui: Relatório que Lennon deu grande contribuição nos anos 60 para o Exército Republicano Irlandês e o Partido Revolucionário dos Trabalhadores, que tinha como maior membro... Espera aí, Scully, acho que minha miopia está piorando... Além de velho resmungão estou ficando cego... Vanessa Redgrave?

Scully abaixa a cabeça e ri.

MULDER: - Pelo amor de Deus! Ninguém escapa dessa gente? Isso é mentira, Scully! Em 60 Lennon simpatizava dom o Grupo Internacional Marxista, com ideais completamente diferentes!

Scully coloca os braços sobre a mesa e debruça a cabeça sobre eles, cansada. Mulder solta uma gargalhada. Ela ergue a cabeça e olha pra ele.

MULDER: - Lennon forneceu apoio financeiro ao IRA? Chega, Scully! Eu nunca li uma obra de ficção tão doente quanto esta.

Mulder pega uma pasta que estava à parte. Abre-a.

MULDER: - Prefiro acreditar no Arquivo X que encontrei: Na carta de Edgar Hoover para H.R. Haldeman, chefe do gabinete do presidente, datada de 25 de Abril de 1972, há evidências cruciais que a investigação de Lennon era apenas política, significativa até aos mais altos níveis da Casa Branca.

SCULLY: - Esta carta está aí?

MULDER: - Na íntegra, sem nenhuma tarjeta. (DEBOCHADO) Ho ho ho... Esqueceram de pintar essa aqui... Havia acabado a hidrocor. (DOBRA-A, COLOCANDO NO BOLSO) Ainda vou mostrar isso pro meu filho rir.

SCULLY: - Mulder, pelo amor de Deus! Não sabe com o que está lidando! Está investigando o envolvimento de Hoover nisso? Mulder, se esqueceu que estamos no 'território de Hoover' e trabalhamos pra ele?

MULDER: - E daí? ... Escuta essa: O FBI tem em torno de 300 páginas de arquivos sobre Lennon, de 1971 a 1972, parte do plano do presidente Nixon para deportar Lennon a fim de silenciá-lo por criticar a Guerra do Vietnam.

SCULLY: - 300 páginas?

MULDER: - É. Por acaso encontrou alguma delas aqui nos arquivos do FBI?

SCULLY: - Não.

MULDER: - Pois nem eu. E se aqui diz que elas existem, elas existem, Scully. O nosso Arquivo X é descobrir onde estão e com quem estão. E aposto que toda a conspiração está escrita nelas.

SCULLY: - Mulder, se estes arquivos existiam realmente, já foram queimados! Acredita que deixariam provas substanciais que envolvem Nixon, Hoover e sabe Deus quem mais, na mão de qualquer um?

Mulder levanta-se. Coloca o Arquivo X debaixo do braço.

MULDER: - Vamos, Scully. Agora eu tenho toda a certeza do mundo que Lennon foi eliminado propositalmente.

SCULLY: - E o que vai fazer? Vai provar algo com apenas uma carta assinada por Hoover? Você, um agente do FBI, desmascarando o próprio FBI?

MULDER: - Não. Vou falar com Chapman.

SCULLY: - Ele não vai confessar nada!

MULDER: - Talvez... Mas eu disse que queria ver a cara do safado. E você poderia me ajudar.

SCULLY: - No quê?

MULDER: - Enquanto falo com Chapman, tente arrancar alguma coisa de Yoko. Algum fato, algum dado. Qualquer coisa que possa nos ajudar a descobrir sobre a conspiração em torno de John Lennon.

SCULLY: - Como vou fazer isso?

MULDER: - Vocês são mulheres e mulheres sempre tem assunto: principalmente sobre os maridos.

SCULLY: - (DEBOCHADA) Não é mais fácil perguntar pro seu papaizinho? Ele deve saber tudo.

MULDER: - (DEBOCHADO) Aposto que 'papaizinho' tem muitas histórias pra contar. Talvez esteja escrevendo uma autobiografia que deixará pra mim após sua morte. O título deve ser: Eu odeio Rock'n Roll - Também matei Elvis.

Mulder sai. Scully suspira.

SCULLY: - Oh, meu Deus! Ele é mais louco do que eu pensava!


BLOCO 3:

1980

Close da cela que se abre. Garganta Profunda entra. Mark Chapman, sentado na cama, ergue a cabeça e olha pra ele.

CHAPMAN: - Quem é você?

GARGANTA PROFUNDA: - Meu nome é Charles Parkinson. Sou seu advogado.

CHAPMAN: - Não quero advogado!

GARGANTA PROFUNDA: - Eles me mandaram.

CHAPMAN: -... Eu não vou abrir a boca. Eu agora sou famoso. Nunca meu nome será esquecido. Eu sou mais famoso que Lennon!

Garganta Profunda aproxima-se dele.

GARGANTA PROFUNDA: - Vai ser transferido para a prisão.

Fade out.

Fade in.

Um policial dirige o furgão. Outro ao lado dele. Lá atrás, Garganta Profunda olha pra Chapman e olha pela pequena janela de vidro.

O furgão sai da estrada, entrando numa floresta. Garganta Profunda olha pra Chapman.

GARGANTA PROFUNDA: - Filho, infelizmente a regra básica para sobreviver neste mundo é não confiar em ninguém.

CHAPMAN: - O que quer dizer com isso?

Garganta Profunda rapidamente retira uma seringa do bolso e aplica em Chapman. Chapman cai desmaiado. Garganta Profunda bate no vidro. O policial estaciona o furgão. Garganta Profunda desce.

Close do outro furgão estacionado. Garganta Profunda aproxima-se do homem que está de costas.

GARGANTA PROFUNDA: - Ele está pronto para o implante de memória. Apenas o que é de nosso interesse deve permanecer.

O homem vira-se, revelando ser Bill Mulder.

BILL MULDER: - Precisamos fazer isso?

GARGANTA PROFUNDA: - Acha que é seguro a verdade andar por aí na boca de um homem, prestes a explodir quando o remorso bater?

BILL MULDER: - Isso foi uma loucura!

GARGANTA PROFUNDA: - Não é comigo que vai discutir isso. É com ele.

BILL MULDER: - Não discuto mais nada com 'ele'.

GARGANTA PROFUNDA: - Bill, se não testar o implante nele, sabe que testaremos no seu filho. Lembre-se da regra: todas as cobaias devem estar ligadas ao grupo. O que vem de fora pode ser arriscado. E para nossa própria saúde não queremos quebrar a regra, não é mesmo?

BILL MULDER: - Já quebramos a regra antes! Em nossos marinheiros e suas famílias quando vocês inventaram isso tudo!

GARGANTA PROFUNDA: - Bill, por favor. Não temos tempo. Faça-o.

BILL MULDER: - Vou sair fora disso!

GARGANTA PROFUNDA: - Sabe que não tem como sair, Bill. Isto é uma máfia: você só sai se estiver num caixão.

BILL MULDER: - Ou se souber mais segredos do que 'ele'. Guarde o que vou dizer: Eu sei de algo que ele não sabe. Mas levarei isso pro meu túmulo. A última palavra será a minha.

Bill afasta-se. Garganta Profunda o olha com desconfiança.


ÉPOCA ATUAL

Apartamento de Yoko Ono – N.Y. – 2:34 P.M.

Scully olha as fotos no álbum, sentada no sofá. Yoko serve um chá pra elas.

YOKO: - Com uma caneta ele mudou o mundo. Ele não precisava de armas de fogo para convencer as pessoas. A arma dele eram as palavras.

SCULLY: - Seu marido...

YOKO: - Por que diz marido?

SCULLY: - ... Bom, vocês viviam juntos e...

YOKO: - Ele era meu homem. Você não tem marido. Você tem seu homem.

SCULLY: - ...

YOKO: - Agente Scully, você é conservadora não é mesmo? Sinto se a choco por minhas palavras.

SCULLY: - Não, você não me choca, eu... Eu apenas invejo você.

YOKO: - Por quê?

SCULLY: - Por não ter vergonha de nada. Não ter preconceitos, não ter tabus... Eu... Eu gostaria de ser assim... Sei que não deveria falar isso mas... Você e Lennon eram o meu casal ideal.

YOKO: - ...

SCULLY: - Eu... Eu os via com olhos de admiração. O relacionamento de vocês... Algumas atitudes me deixavam com inveja. Outras, com certeza não.

Yoko retira o álbum das mãos dela. Scully olha pra Yoko. Fica desconcertada.

YOKO: - Acredita em espíritos, agente Scully?

SCULLY: - Bem, eu... Eu não tenho mais uma opinião formada sobre isso.

YOKO: - Almas gêmeas? Almas que se completam?

SCULLY: - Eu... Eu não sei onde quer chegar com isso.

YOKO: - Sabe. John está aqui comigo. E sempre estará. A maior verdade de todas é esta: Você sempre volta pra quem ama. As almas nunca se separam, elas voltam para os seus. São teimosas. Por que não assume que ama seu homem?

SCULLY: - E-eu...

YOKO: - Acredito que se escondam pra não terem suas vidas profissionais atingidas.

SCULLY: - Bem... E-eu...

YOKO: - Mas você se esconde dele por quê?

SCULLY: - Eu?

YOKO: - Você. Você tem medo de ser mulher.

Scully a interroga curiosa com os olhos.

YOKO: - Há diferenças básicas entre homens e mulheres. E você age como se fosse um homem. Ele não precisa de um homem, precisa de uma mulher.

SCULLY: - Por que eu o protejo? É isso?

YOKO: - Não. Por que você não se dá a proteger. Não quer mostrar que é vulnerável. Mulheres são vulneráveis e pedem proteção. E isso não significa que elas não são fortes. Essa é a feminilidade.

SCULLY: - ... Eu não consigo ser assim. Ousada como você foi. Eu... Eu só consigo ousar com ele entre quatro paredes... E algumas vezes, nem isso eu consigo mais...

YOKO: - Medo de que se beijá-lo em público possam te chamar de vadia? Que seja um escândalo? Que arrisca perder tudo pra mostrar que o ama? Amar é dar escândalo. O amor é escandaloso. As pessoas que não têm um amor verdadeiro e invejam os outros por o terem, denominam essas manifestações puras de amor como escândalo.

SCULLY: - ...

YOKO: - Medo por que você segue a sina dele? A causa dele?

SCULLY: - (CURIOSA) Como sabe disso?

YOKO: - Sou mulher, agente Scully. E acredite, John não era diferente do seu homem. Basta ver que a última palavra é a dele. E você sai atrás. Questiona, briga, mas acredita nele. Cria seus ideais em cima dos ideais dele e traz seus ideais pra vida dele. Por amor, ele os toma.

SCULLY: - ...

YOKO: - Eu... eu sempre fui vista como a vagabunda que separou John dos Beatles. Como a desgraçada que arruinou a vida dele. A vulgar que o alienou... Eu só dei a ele o direito de ser feliz. Só abri o mundo que ele tinha trancado dentro dele...

SCULLY: - ...

YOKO: - Se fomos loucos, ousados e apaixonados... Ninguém tem nada a ver com isso.

SCULLY: - ...

YOKO: - Tenho pena de você.

SCULLY: - ...

YOKO: - Também amei mais que a mim mesma, agente Scully. Um homem forte, teimoso e decidido, que buscava mudar o mundo. Gritar pras pessoas que a maldade precisava tirar férias.

Scully segura as lágrimas.

YOKO: - Sabe que não o convencerá do contrário. Ele é teimoso e obcecado pelo seu ideal. Então o abrace. Ame-o intensamente enquanto o tem. Seja o refúgio dele. Porque sabe o destino de homens assim. E é destino de mulheres como nós estar ao lado deles. Para nos render ao seu amor. E para mostrar a nossa força quando eles caem e percebem que na verdade, o mundo é um monstro que quer devora-los e eles são crianças pequenas crescidas.

Scully fica olhando pro nada. Yoko olha pra ela.

YOKO: - Eu é quem invejo você.

SCULLY: - Por quê?

YOKO: - Porque ainda tem seu homem vivo. Ainda são jovens e cheios de vida. Pena que percam tanto tempo em rivalidades machistas e feministas.

SCULLY: - ... Não me inveje...

Scully morde os lábios, derrubando lágrimas.

YOKO: - Algum problema?

Ela, calada, mordendo os lábios, afirma com a cabeça.

SCULLY: - ... Ele... Ele finge que não está doente... Ele resiste aos mesmos homens que mataram seu marido, Yoko... E resiste ao que fizeram com ele, as sequelas que deixaram em seu cérebro, destruindo-o, matando o resto de sanidade que ele tinha...

Scully desata a chorar.

SCULLY: - ... Eles levaram nosso bebêzinho... É assim que planejaram o fim de Mulder... Entende o que eu digo? Se o matassem de uma vez! (CHORA) ... Mas não, eles o matam aos poucos, usando de tortura... E mesmo assim... Ele consegue sorrir! (CHORA DESESPERADA) Eu vou perdê-lo e sei disso. Ele está doente e eu não posso evitar que ele morra!

Yoko olha pra ela com ternura. Scully continua chorando. Yoko a abraça, derrubando lágrimas.

YOKO: - Eu entendo... Acredite que entendo.

Scully olha pra ela.

SCULLY: - Oh, Deus! Desculpe, você não deveria estar ouvindo isso, você não tem nada com isso... Mas há meses tenho mantido tudo trancado dentro de mim! Ele não quer que ninguém saiba, que sintam pena dele! ... (DESESPERADA) De onde você tirou forças quando o inevitável aconteceu?

YOKO: -... (ENXUGA AS LÁGRIMAS) Das lembranças. Da alma dele que ainda passa através da minha... E que está presente aqui, onde vivemos muitas desgraças mas também muitas alegrias... Um nos braços do outro.

SCULLY: - (CHORANDO) Me diz se existe Deus, Yoko... Por que eu cada vez menos acredito nele!


1989

Um local deserto. O Canceroso desce do carro. Caminha a passos largos. Aproxima-se de Garganta Profunda.

CANCEROSO: - Tem certeza?

GARGANTA PROFUNDA: - Se não a tivesse não teria o chamado aqui.

CANCEROSO: - Ninguém o seguiu?

GARGANTA PROFUNDA: - Não.

O Canceroso acende o cigarro, nervoso.

GARGANTA PROFUNDA: - Aquela agente chamada Fowley. Ela vai nos ajudar.

CANCEROSO: - ... Não confio nela.

GARGANTA PROFUNDA: - Ela serve aos nossos propósitos.

CANCEROSO: - ...

GARGANTA PROFUNDA: - Fiz de maneira a atraí-los aos arquivos.

CANCEROSO: - Mulder já os encontrou?

GARGANTA PROFUNDA: - Ainda não. Mas não se preocupe. Estão atrás da cientista que sumiu com informações confidenciais de um projeto. Suzanne Modeski vai ser a desculpa. Deixe o negro encarregado disso. Vamos colocar Mulder no caso. Isso vai criar confusão na cabeça dele e vai abrir algumas suspeitas.

CANCEROSO: - ... Depois conduzimos Fowley e Mulder aos Arquivos X.

GARGANTA PROFUNDA: - Exatamente. É um plano arriscado. Mas quando Mulder encontra-los pode ter a certeza de que dará muita dor de cabeça ao grupo.

CANCEROSO: - Contanto que ele não descubra a verdade sobre quem é. Não queria fazer isto, mas apenas Mulder pode evitar que a desgraça se abata sobre todos nós.

GARGANTA PROFUNDA: - Ele vai questionar e xeretar. Conhece Mulder.

CANCEROSO: - Por conhecer Mulder eu digo que ele é o único capaz de ter essa responsabilidade nas mãos. Ele levará tudo adiante, sem saber que servirá aos nossos propósitos de resistência. Não podemos dar as respostas, porque só nós as temos. Se as dermos, atrairemos as suspeitas. Mas algumas dicas podem ser dadas. Assim ele não seguirá como um cego. Use a Fowley pra levá-lo aos Arquivos X. Depois, mande-a pra longe.

GARGANTA PROFUNDA: - Eles têm um romance.

CANCEROSO: - Compre essa mulher. Nada que uma boa quantia de dinheiro e promessas de realização profissional não possam comprar.

GARGANTA PROFUNDA: - Como sabe disso?

CANCEROSO: - Tenho minhas fontes. Há coisas sobre a vida dela que nem Mulder sabe. Ela não é um exemplo de fidelidade.

GARGANTA PROFUNDA: - ... Não acha que devemos descobrir primeiro se não é ela?

CANCEROSO: - Não é ela. O idiota do Bill Mulder não me engana.

O Canceroso retira um dossiê da pasta. Entrega pra Garganta Profunda.

CANCEROSO: - É ela.

Garganta Profunda pega o dossiê.

GARGANTA PROFUNDA: - Tem certeza?

CANCEROSO: - Bill não me engana. É ela. Está catalogada entre os outros.

GARGANTA PROFUNDA: - E como vai atraí-la?

CANCEROSO: - Que tal algum folheto oferecendo grandes oportunidades para uma médica que está se formando?

GARGANTA PROFUNDA: - Vai coloca-la no FBI?

CANCEROSO: - E onde mais eu a colocaria?

GARGANTA PROFUNDA: - ... Ela é uma cientista.

CANCEROSO: - Exatamente. Este é o argumento que vamos utilizar no grupo: Mulder está se tornando um perigo e precisamos de alguém para confundi-lo e fazer relatórios sobre o trabalho dele. Nunca desconfiarão da nossa deslealdade e da verdadeira intenção.

GARGANTA PROFUNDA: -... E acha que vai conseguir atraí-los?

CANCEROSO: - Dê tempo ao tempo. Uma mulher e um homem juntos, sozinhos, lutando por uma mesma causa... A lei dos opostos. Eles vão se reconhecer. Se realmente ela for quem pensamos, eles vão se reconhecer.

GARGANTA PROFUNDA: - Posso fazer o trabalho, sabe que posso.

CANCEROSO: - Se falhar, eu mesmo elimino você.

GARGANTA PROFUNDA: - Não vai colocar aquele negro nisso. Não agora. Deixe-me fazer isso. Eu posso. Se precisar me eliminar, coloque o negro. De todos, ele é o mais confiável.

CANCEROSO: - ...

GARGANTA PROFUNDA: - Sei que falar em confiança é hipocrisia. Mas sabe que temos os mesmos ideais.

CANCEROSO: - Sabe os riscos.

GARGANTA PROFUNDA: - Já fiz antes. E o fiz tão bem que entreguei Nixon e nunca descobriram quem forneceu as informações. Quem melhor do que eu para ser informante de Mulder?

CANCEROSO: - ... Sabe o que falar pra ele quando precisar falar. Vamos ficar assim decididos e não tocaremos mais no assunto. Você entra depois que Mulder e essa garota estiverem trabalhando juntos. O primeiro passo agora é fazer Mulder encontrar os Arquivos X, 'casualmente'. Depois, livre-se dessa tal Fowley. Então esperaremos o faro do Mulder para confusão. Ele vai criar tumulto e ficarão preocupados. Então sugiro que contratem uma parceira pra ele. Eu a escolho.

O Canceroso dá as costas. Garganta Profunda olha pra ele.

GARGANTA PROFUNDA: - E se não for ela?

CANCEROSO: - É ela. Meu 'sexto sentido' diz que é ela.

GARGANTA PROFUNDA: - Não pode provar isso?

O Canceroso vira-se pra ele.

CANCEROSO: - Podemos. Numa abdução. Sob a desculpa do Controle de Pureza.

GARGANTA PROFUNDA: - Mas vai esteriliza-la!

CANCEROSO: - Tenho meus métodos de devolver alguns óvulos intactos.

GARGANTA PROFUNDA: - Não seria mais fácil obter isso sem os dois saberem?

CANCEROSO: - Num laboratório? Não. Eu nunca faria isso com Mulder. Não como fizeram comigo. Ainda temos tempo. Talvez a vacina funcione. Talvez as coisas se ajeitem. Mas se pressentirmos que a extinção começará, precisaremos rapidamente disso. De alguns sobreviventes ao caos alienígena para continuar a espécie humana.

GARGANTA PROFUNDA: -... Tenho medo de nos perdermos numa mentira tão grande!

CANCEROSO: - Eles nunca se perderam em suas mentiras e nos trouxeram até aqui. Eu posso ser um covarde que nunca arriscaria expor o pescoço. Mas se tem algo que eu tenho é criatividade. Minto muito bem. E não cheguei até aqui sem usar minha arte de manipulação.

GARGANTA PROFUNDA: - ...

CANCEROSO: - Abrimos o tabuleiro. Agora é questão de começar o jogo. Com os peões nos lugares certos, posicionados estrategicamente ao nosso favor. Depois, é só fazer xeque-mate.

GARGANTA PROFUNDA: - ...

CANCEROSO: - Como eu disse, alguns casais sempre são úteis. Como atraímos Lennon até Yoko, para uma conveniência política e uma nova consciência, atrairemos Mulder até esta tal Scully para uma conveniência biológica e interplanetária. Coloque a mulher certa ao lado do homem certo e terá o princípio do caos. E o caos nos significa vingança e resistência. Quando alguém fugir ao controle, não pense duas vezes em eliminar. Contanto que não seja Mulder.

O Canceroso sobe no carro. Garganta Profunda dá as costas e caminha em direção a outro carro.


BLOCO 4:

ÉPOCA ATUAL

Apartamento de Mulder – 9:36 P.M.

Scully entra. Larga a mala no chão. Tira o blazer. Mulder sai da cozinha carregando uma bandeja.

MULDER: - Ora, ora... E então Scully Ono, o que descobriu?

SCULLY: - ... Nada.

Mulder senta-se no sofá. Coloca a bandeja com um prato e um copo sobre a mesa. Olha pra ela.

MULDER: - Vem aqui.

Ela senta-se ao lado dele.

MULDER: - Jantar?

SCULLY: - Estou sem fome.

MULDER: - Puxa, fiz pra você. Eu é que não tenho fome.

SCULLY: - Precisa comer, Mulder.

MULDER: - (FALA BAIXO, OLHANDO PELO TETO, A PROCURA DE ESCUTAS) Estou enjoado. Acredita que percebi que estava com meu braço sangrando?

SCULLY: - (COCHICHA) Seu braço?

MULDER: - (COCHICHA) Tirei a camisa e percebi que algo saía pela pele. Puxei. Doeu pra caramba!

SCULLY: - (COCHICHA) O que era?

MULDER: - (COCHICHA) Um implante metálico em forma de um T.

SCULLY: - ...

Mulder a abraça. Ela se abraça nele.

MULDER: - E então, falou sobre o quê com Yoko?

SCULLY: - Homens.

MULDER: - Que pergunta a minha! Quando duas taradas se encontram, sobre o quê mais poderiam falar?

SCULLY: - ...

MULDER: - Pelo menos um suco?

SCULLY: - Não. Quero ficar aqui, quietinha do teu lado.

MULDER: - (DEBOCHADO) Ei, onde está a Scully? Quem largou esse clone fajuto no meu apartamento?

Ela olha pra ele, séria. Ele fica sério.

SCULLY: - Pode ao menos fazer algo por mim se diz que me ama tanto?

MULDER: - ...

SCULLY: - Eu preciso de carinho, de um abraço forte e ...

MULDER: - (SORRI) ... E?

SCULLY: - (RELUTANTE) ... Você sabe o que eu quero dizer...

MULDER: - (EMPOLGADO) Fala.

SCULLY: - De... De...

MULDER: - (ANSIOSO) Vai, Scully. Você consegue.

SCULLY: - ... Eu... Eu preciso de...

MULDER: -... (ANSIOSO)

SCULLY: - (FECHA OS OLHOS) De um homem... que cuide de mim...

Ele sorri. A abraça forte. Ela começa a rir. Ele afaga os cabelos dela.

SCULLY: - (SORRINDO) Eu falei! Eu falei!

MULDER: - (SORRI) Eu sabia que falaria. Algum dia você falaria. E sabe do que eu preciso?

SCULLY: - Do quê?

MULDER: - Ter alguém que eu possa cuidar e zelar.

SCULLY: - (DEBOCHADA) Tem o Cookie.

Ele agarra o nariz dela.

SCULLY: - Ai!

Ele solta o nariz dela.

MULDER: - (DEBOCHADO) Baixinha desaforada... Eu não quero cuidar do Cookie. Quero cuidar de você. Assim tenho um pretexto pra cometer minhas loucuras.

SCULLY: - Ora, seu folgado de uma figa!

Ela agarra o nariz dele.

MULDER: - Au!

SCULLY: - Confessa que me ama.

MULDER: - Não! Nem sob tortura!

Ela aperta o nariz dele.

SCULLY: - Confessa!

MULDER: - (FANHO) Tá bom!!! Tá bom!!!

Ela solta o nariz dele. Os dois olham-se nos olhos.

MULDER: - Eu te amo. Mais do que a mim mesmo. Mais do que ao mundo. Muito mais que qualquer coisa. Porque você me deixa ser homem e me deixa ser criança. Me permite ser homem pra te proteger, e criança pra chorar quando eu desabo. Vem de você a minha força. Porque ela é muito maior do que a minha, tão grande quanto a sua fé. Você é meu refúgio da loucura. Você é meu combustível... A minha coragem. A minha ruiva teimosa e baixinha. Brigona e ciumenta. Tímida e pervertida. Que me usa e abusa. E me faz sempre implorar querendo mais.

Ela sorri.

SCULLY: - (PIDONA) Então, se eu sou tudo isso, você faria uma coisa por mim?

MULDER: - (DESCONFIADO) O que você quer?

SCULLY: - Come um pouquinho?

MULDER: - Chantagista!

SCULLY: - (PIDONA) Só um pouquinho...

Mulder olha pra ela.

MULDER: - (DEBOCHADO) Ok... Mulher, vá pra cozinha e me prepare um sanduíche.

SCULLY: - Sim, meu homem.

Ela salta do sofá e corre pra cozinha. Mulder fica boquiaberto.

MULDER: - (CATATÔNICO) Scully? Você está bem?

Ela mete a cabeça pra fora da cozinha, num sorriso.

SCULLY: - Nunca me senti melhor, Mulder!

MULDER: - ??? Eu, hein? É sempre ou é crise da meia idade?

SCULLY: - (GRITA DA COZINHA) Eu tenho apenas 15 anos!

MULDER: - Ah, eu sei. E eu tenho 20!

SCULLY: - Somos eternos adolescentes, Mulder!

MULDER: - Puxa, até que enfim achei uma doida que concorde comigo!

SCULLY: - Como quer seu sanduíche?

MULDER: - (DEBOCHADO) Com pão.

Ela coloca a cabeça pra fora da cozinha. Ele sorri debochado.

SCULLY: - Vou fazer do meu gosto.

MULDER: - Não! Não coloca aquelas suas gororobas dietéticas!

SCULLY: - Não terá mais nada dietético nessa casa! Dietéticos têm transgênicos.

MULDER: - ??? Ô, Scully, tem certeza de que está bem???

Ela entra na sala com o sanduíche na mão. Senta no colo dele. Mulder olha pra ela, incrédulo. Pega o sanduíche.

MULDER: - E o prato?

SCULLY: - Pra quê?

MULDER: - Depois eu encho tudo de farelos e você fica brigando...

SCULLY: - Fodam-se os farelos!

Mulder arregala os olhos, catatônico.

SCULLY: - Temos aspirador de pó pra enfeite?

MULDER: - ???

SCULLY: - Encha tudo de farelos, Mulder. Eu amo seus farelos! (E DÁ UM CHUPÃO NO PESCOÇO DELE DE ESTALAR)

MULDER: - ??? Scully, que bicho te mordeu?

Ela levanta-se. Começa a dançar pela sala, rindo.

SCULLY: - Eu te amo, eu te amo, eu te amo! Lá lá lá... E eu estou feliz por viver cada momento desse relacionamento lindo e perfeito com um homem lindo e perfeito, maravilhoso, quente, carinhoso, gentil e cavalheiro, que daria a vida por mim, enfrentaria exércitos por minha causa e que me trata como uma rainha!

Mulder fica boquiaberto.

SCULLY: - Vou preparar um banho pra nós dois... Lá lá lá... Depois, faremos amor intensamente até ficarmos completamente suados e exaustos, ficaremos nus pela casa e tentaremos desvendar este Arquivo X.

Ela vai pro banheiro. Ele continua catatônico, segurando o sanduíche na mão.

MULDER: - É... Eu digo sempre: vou morrer e não vou ver tudo. Sou capaz de doar meus olhos pra ver mais... Isso realmente é um Arquivo X...


2:39 A.M.

[Som: Imagine – John Lennon]

Scully nua, deitada no sofá, comendo uma maçã e lendo relatórios. Mulder, só de cuecas, sentado ao computador, lendo algo na tela.

SCULLY: - Adoro essa música!

MULDER: - É. O sonho não acabou. Nunca na vida precisamos tanto de sonhos quanto neste milênio.

SCULLY: - Mulder, já li pilhas de letras de Lennon. Qualquer juiz acusaria esses imbecis de verem besteiras onde não há.

MULDER: - Sabe do que desconfio, Scully?

SCULLY: - Do quê?

MULDER: - Acho que Lennon era... Um alienígena. E eles sabiam disso.

SCULLY: - ??? Baseado em que evidência diz isso?

MULDER: - Sei lá. Tesla, Lennon, João Batista... Existem homens que foram avançados demais pra sua época. Não pareciam pertencer ao nosso mundo. Pareciam mais terem sido colocados aqui com algum propósito, como o de nos ensinar a evoluir... Como os profetas da antiguidade o faziam. Eles também eram avançados demais pra seu tempo. Olha Jesus Cristo, pelo seu lado de ativista político. Foi pela política que o crucificaram. Ele ameaçava o poder e a honra do imperador quando dizia que tudo isso pertencia a seu pai e que o reino dele era muito maior.

SCULLY: - ... Mulder... Depois de mais de 10 anos com você eu confesso: não duvido de mais nada. E não duvido que você não tenha sido colocado aqui por algum motivo.

Ele olha pra ela.

MULDER: - (ASSUSTADO) Quê?

SCULLY: - Andei lendo aquele seu livro, Os Astronautas de Capela, sobre a teoria da evolução espiritual do homem e de certos extraterrestres, ou espíritos de outros planetas, que reencarnaram aqui para ajudar na evolução da humanidade...

MULDER: - (INCRÉDULO) Você? Lendo algo relacionado a espiritismo?

SCULLY: - Um dia posso me deparar com alguma coisa a respeito. E se você estiver longe? Quem continuará essa busca?

MULDER: - (DEBOCHADO) Quem diria! Scully, confessa, está tomando ácido, não está?

SCULLY: - (RI) Não. Estou ampliando meus horizontes.

MULDER: - E eu tentando conseguir achar algum maldito registro que possa ter passado sem o grifo daqueles canalhas... Frohike ficou de me mandar um e-mail com algumas coisas quentes que ele tem por lá.

SCULLY: - Mulheres nuas?

Mulder olha pra ela debochado.

MULDER: - No momento não estou dando conta nem de você, vou dar conta de mais?

SCULLY: - Homens...

MULDER: - Pelo menos eu reconheço meus limites. E além do mais... (E A OLHA DE CIMA A BAIXO) Você me basta.

SCULLY: - Sei... Me agrada que eu gosto de um elogio... E elogios me deixam com um calor danado.

MULDER: - Você pode ser baixinha, mas deixa muita mulher alta abaixo do tapete do porão. Experiência própria. Acredite.

Ela sorri convencida sem desgrudar os olhos dos papéis.


3:49 A.M.

Mulder ainda no computador, usando fones de ouvido. Scully vestida num quimono, sentada no sofá e lendo mais papéis. Silêncio entre os dois. Mulder batuca no teclado, cantarolando baixinho. Ela olha pra ele. Ele percebe.

MULDER: - O que foi?

SCULLY: - (CURIOSA) O que está escutando?

MULDER: - Lennon.

SCULLY: - Não poderia ao menos partilhar deste momento?

Ele sorri. Retira os fones. Liga as caixas de som.

[Som: Woman – John Lennon]

MULDER: - Melhor?

SCULLY: - Com certeza.

O silêncio se estabelece. Mulder apóia o queixo na mão e fica parado, olhando pro nada. Cantarolando baixinho.

MULDER: - Woman... I can hardly express... (Mulher, eu quase não consigo expressar...)

Ela ergue os olhos do papel e olha pra ele, que parece estar cantando com toda a emoção.

MULDER: - My mixed emotions at my thoughtlessness (Minhas emoções confusas na minha negligência.) After all I'm forever in your debt. (Afinal de contas, estou eternamente em dívida com você.)

Ela cerra o cenho, segurando um choro. Ele continua cantarolando baixinho, olhando pro nada. Ela larga os papéis sobre as pernas e o fica admirando, olhos cheios de lágrimas. Ele, distraído não percebe.

MULDER: - And woman ... I will try to express (E, mulher, eu tentarei expressar). My inner feelings and thankfulness. (Meus sentimentos interiores e gratidão). For showing me the meaning of success. (Por me mostrar o significado do sucesso.) Ooh, well, well ... Doo, doo, doo, doo, doo... Ooh, well, well ... Doo, doo, doo, doo, doo...

Mulder olha pra ela. Ela percebe que ele derruba lágrimas. Mas ele continua cantando. Pra ela.

MULDER: - Woman... I know you understand (Mulher, eu sei que você compreende) The little child inside of the man (A criancinha dentro do homem.) Please remember my life is in your hands. (Por favor, lembre-se: minha vida está em suas mãos.)

Ela derruba lágrimas, o olhando com ternura.

MULDER: - And woman, hold me close to your heart. (E, mulher, mantenha-me próximo do seu coração) However distant don't keep us apart. (Por mais que estejamos distantes, não nos mantenha separados.) After all it is written in the stars... (Afinal de contas, isto está escrito nas estrelas...) Ooh, well, well ...Doo, doo, doo, doo, doo... Ooh, well, well ... Doo, doo, doo, doo, doo

Ela levanta-se e vai até ele. Senta-se em seu colo. Olham-se nos olhos. Os dois derrubando lágrimas.

MULDER: - Woman... please let me explain (Mulher, por favor deixe-me explicar) I never meant to cause you sorrow or pain (Eu nunca tive intenção de te causar tristeza ou dor.) So let me tell you again and again and again: (Então, deixe-me te dizer de novo e de novo e de novo:)

Ele segura o rosto dela nas mãos, olhando-a nos olhos.

MULDER: - I love you... yeah, yeah (Eu te amo...) Now and forever... (Agora e pra sempre...)

Ela se recosta nele. Ele pega algumas sementes de girassol. Abre a mão dela. Ela o observa. Coloca as sementes na palma da mão de Scully e a fecha, olhando pra ela em lágrimas, mas num sorriso.

MULDER: - Pra você sempre lembrar de mim. Quando olhar pras estrelas.

Ela começa a chorar e se agarra nele. Os dois ficam abraçados um no outro, chorando em silêncio.


Corta para o apartamento de Yoko.

[Som: Woman – John Lennon]

Yoko parada na janela, olhando pra fora. Olhos derrubando lágrimas. Parece reviver alguma lembrança de algum momento. Ela olha pra suas mãos. Nelas, segura os óculos redondos de Lennon. Olha pras estrelas.


2:12 P.M.

Mulder sai do banheiro enrolado com uma toalha na cintura. Abre a porta. Olha surpreso pra Yoko, que está séria, com uma câmera fotográfica no pescoço. Ela entra, passando por ele. Mulder deixa a porta aberta.

MULDER: - (ENCABULADO) ... Eu... Eu pensei que fosse outra pessoa. Acho melhor ir me vestir...

YOKO: - (OBSERVANDO O APARTAMENTO) Não se preocupe, você não tem nada de diferente que eu não conheça.

MULDER: - Sente-se... O que faz em Washington?

Yoko observa o aquário, brinca com os peixes pelo vidro.

YOKO: - Resolvi viajar pra arejar minha mente, tirar algumas fotos pra uma nova exposição e... (OLHA PRA ELE/ PREOCUPADA) Na verdade, sua mulher me deu o endereço de vocês. E eu pensei em vir até aqui ver... Como vocês dois estão.

MULDER: - ... ? Bem.

YOKO: - ... Encontrou algo sobre John? Alguma prova?

MULDER: - Ficaria surpresa se visse a quantidade de besteiras que escreveram sobre ele.

YOKO: - Essa gente calunia até Deus. Por que não iriam caluniar John?

Scully entra.

MULDER: - Encontramos alguns documentos que fazem referência a outros que não encontramos. O que posso dizer é que forjaram tantas mentiras que chega a ser um absurdo. Politicamente seu 'homem' andava incomodando muita gente quando começou a defender direitos iguais entre os povos, os sexos e liberdade de pensamento. Só não o acusaram de comunista porque a Guerra Fria estava chegando ao fim.

Yoko olha pra Scully. Olha pra Mulder.

YOKO: - Como eu disse a vocês, ninguém se importa. Todos já se esqueceram. Se John terá ou não a justiça que lhe devem, ninguém mais quer saber disso. Deixem-no descansar. Nunca encontrarão as provas. Mas nós sabemos a verdade. Os fãs dele sabem a verdade. E nunca conseguirão sujar a imagem de John com mentiras deslavadas.

Yoko abaixa a cabeça.

YOKO: - ... E nunca conseguirão apagar da história o pedaço que ele escreveu. Essa é a justiça. Não há justiça nesse mundo. Apenas em outro plano espiritual.

MULDER: - Sinto, Yoko... Eu... Eu confesso que adoraria poder revelar todas as conspirações que existiram. Poder fazer justiça aos mortos que se calaram. Aos tantos idealistas que morreram em mortes provocadas para conforto e afirmação de um sistema ideológico e de mentiras.

Yoko olha pra ele. Aproxima-se.

YOKO: - Esse é seu papel neste mundo, agente Mulder. Essa é a sua busca pela verdade. Mas não seja egoísta como John.

MULDER: - ???

YOKO: - Você a tem. Pense nela. Na sua mulher.

Mulder olha pra Scully.

YOKO: - Cultive o seu desejo de ser um Cristo. Não há mal nisso. O mundo precisa de muitos Cristos. Mas não crucifique o seu amor. Viva-o, porque amanhã, quando restarem apenas cinzas e ruínas, você ainda terá alguma coisa: amor. Podem matar os homens, mas nunca matarão o que lhes torna humanos: os sentimentos bons.

Mulder abaixa a cabeça.

YOKO: - Eu agradeço a bondade de vocês e o interesse. Agradeço por John. Agradeço pelo que tínhamos. E desejo que sejam tão felizes quanto nós fomos. Sem medo e sem culpa.

Yoko olha pra Scully.

YOKO: - Ouse. E viva. Viver é acumular lembranças. E as lembranças são tudo o que nos resta quando o nosso jardim ficar vazio.

Yoko caminha até a porta. Scully olha pra ela. Segura-a pelo braço. Yoko vira-se e olha pra Scully.


FBI – Gabinete do Diretor Assistente – 12:33 P.M.

Mulder olha pra Skinner. Skinner entrega a pasta.

SKINNER: - Guarde isso com você, o mais longe e seguro que puder.

MULDER: - Guardarei.

SKINNER: - Algum dia vai precisar das provas, quando... Quando conseguir expor a corja toda. E eu sei que vai, Mulder.

Mulder levanta-se. Skinner o acompanha com os olhos.

SKINNER: - Mulder, você está bem?

MULDER: - Por que a pergunta?

SKINNER: - Está mais magro.

MULDER: - (DEBOCHADO) Noites em claro, tentando dar conta daquela mulher.

Skinner balança a cabeça. Mulder sai.


Corta pra Mulder, saindo do prédio, com o Arquivo X debaixo do braço. Ele caminha até a calçada. Scully o espera.

SCULLY: - Então?

MULDER: - Vamos ficar com isso. É mais seguro.

Os dois caminham um ao lado do outro. Scully lentamente aproxima a mão da mão dele. E a segura. Mulder olha pra ela, curioso.

MULDER: - Não tem medo de nos expor?

SCULLY: - É a nossa hora de almoço, Mulder. Não estamos dentro do FBI. Estamos fora. E aqui fora eu tenho minha vida.

MULDER: - (SORRINDO/ FELIZ) E as regras?

SCULLY: - Fodam-se as regras, Mulder. Eu te amo. E eu quero amar você sem medo. Sem regras.

Ele sorri e aperta a mão dela. Caminham pela calçada de mãos dadas.


Corta para o apartamento de Yoko.

Um incenso queimando ao lado de um Buda. Yoko fala ao telefone.

YOKO: - Não... Mas eu tive uma ideia sobre uma nova exposição de fotos em Nova Iorque... Poderia chamar-se 'O amor em sua essência'... Sim, eu tenho a peça principal. Acredite, esta entrou para as minhas fotos preferidas... O casal é lindo! (EMPOLGADA) Eles... Eles conseguem transmitir o sentimento pela foto, é uma coisa de arrepiar, viva... Uma coisa esotérica, de outro mundo, sabe? É amor puro captado na essência... Sim, eu tenho a autorização concedida...

Yoko desliga. Observa o pôster sobre a lareira. Sorri feliz. Afasta-se.

Câmera de aproximação lenta, identificando a foto de um casal nu deitado na cama de lençóis pretos, abraçados um ao outro. Ela, a agente ruiva do FBI, deitada com a perna por sobre o parceiro. Ele aninhado nos braços dela, recostado com a cabeça nos seios dela, de olhos fechados, com uma paz estampada no rosto. Ela o abraçando com ternura, num sorriso de felicidade completa, com uma das mãos nos cabelos dele, como se o protegesse do mundo em seus braços. Como quem guarda o único tesouro que tem.


X

08/12/2000.



10 Août 2019 23:20 0 Rapport Incorporer Suivre l’histoire
2
La fin

A propos de l’auteur

Lara One As fanfics da L. One são escritas em forma de roteiro adaptado, em episódios e dispostas por temporadas, como uma série de verdade. Uma alternativa shipper à mitologia da série de televisão Arquivo X.

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