Youngjae, depois do adoecimento de seu irmão menor, Yugyeom, onde ele tinha a responsabilidade de cuidar por ser o mais velho, acabou se esforçando ainda mais para proteger o menor e Bam, o irmão do meio e cinco anos mais novo que si. Não tendo a mãe para cuidar deles, e muito menos um pai para sustentá-los, ele tomou o papel de ambos e, sozinho, cuidou de seus irmãos desde seus quatorze.
Agora ele tinha dezenove.
Na mais simples casa, onde residiam ele e seus dois irmãos, Youngjae decidiu abrir uma alfaiataria aos quinze anos, depois de aprender a costurar com a vizinha, Jude, e tentar gerar uma renda que pudesse, pelo menos, dar de comer para os três sem precisar pedir comida aos vizinhos, estes na maioria cansados de ajudar os três órfãos —Youngjae já tinha ouvido alguns murmúrios dos vizinhos sobre isso—.
Não era um negócio como as alfaiatarias de luxo que faziam roupas de tecidos nobres e importados, mas ele conseguiu sobreviver até os dias atuais com o pequeno negócio costurando roupas dos trabalhadores do bairro, alguns trapos que algumas senhoras consideravam relíquias e, às vezes, braços e pernas de bonecas de algodão.
Na pequena cidade de Mokpo, onde nasceram, os políticos não davam atenção à saúde, escolar ou social para os mais necessitados. Apenas os de berço de ouro possuíam um futuro. Youngjae os odiava com todo o seu ser. Achava injusto toda aquela ladainha de meritocracia sendo que quem nascia no limbo, permanecia nele para sempre.
Estavam no inverno atualmente, então as demandas aumentaram um pouco. Vários casacos, sobretudos e moletons, guardados e empoeirados, que haviam sido roído por ratos, e ele tinha a missão de ajustá-los novamente. Não o leve a mal, não que ele ficasse feliz pela desgraça alheia, mas gerou algum desembolso da vizinhança. Ele precisava se alimentar e aos seus irmãos, afinal. Por um lado sua habilidade servia de algo para seus irmãos, eles jamais passavam frio com tantos casacos feitos pelo irmão mais velho.
Youngjae, no fim, havia se acostumado com a vida pacata que levava e nunca teve uma ambição desmedida. Era um garoto que aprendeu a ser um adulto cedo demais pelas responsabilidades. Ele não teve nenhum apoio, a não ser de Jude, uma senhora gordinha e baixinha, e de boa índole, em sua vida, nem amigos para que pudesse desabafar as frustrações da vida, e isso o levou a ser uma pessoa fechada e tímida com estranhos.
—Hey, Bam! —gritou Youngjae. —Pare de correr, o Yugyeom vai te seguir para brincar e ele não pode fazer esforço, ele está doente! Ou se esqueceu?
Bam era uma personalidade brincalhona e de luz, mas ao mesmo tempo provocativo. Youngjae sabia que era devido a idade e a rebeldia, mas ainda assim tentava organizar a convivência na casa.
—Mas o que eu devo fazer se lá fora está nevando e aqui dentro eu não posso brincar? —Bam fez um bico e se agachou no cantinho favorito dele, entre o fogão de lenha e a mesa, velha e cheia de trincos de madeira.
—Onde está o seu quebra-cabeça? O qual você ganhou da Jude?
—Estou cansado de brincar com aquela coisa velha! Já enjoei, sabe? —ele murmurou entrando ainda mais debaixo da mesa.
Youngjae quis repreender o irmão pelas palavras, mas uma empatia surgiu de dentro dele e ele tentou entender o menor. Desde que Yugyeom ficou doente, Bam deixou de ter a atenção do mais novo e ficou solitário. Justo quando Youngjae estava muito atarefado com a alfaiataria.
—E que tal se a gente for estudar o alfabeto? Posso ler algumas histórias depois, se quiser… —sendo analfabetizados, o único que tinha o conhecimento de leitura era Youngjae, os menores adoravam a hora que Youngjae saía da alfaiataria e voltava para dar atenção a eles cada dia com uma história diferente. —Mas antes disso eu preciso terminar o último trabalho, okay?
Bam assentiu e correu para o quarto. Youngjae sabia que ele iria preparar os materiais para estudarem quando o irmão mais velho voltasse. Ele sempre era animado e cheio de energia.
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Youngjae espreguiçou as costas doloridas ainda sentado na cadeira dura e fria, embora agora estivesse quente por causa do seu peso da sua bunda nela, e bagunçou, os já bagunçados, cabelos castanhos. Era uma sensação estranha aquela dor, porque enquanto ele estivesse concentrado no trabalho ele não a sentia, mas no instante que terminava as costuras ela surgia de repente.
Enquanto ele trabalhava sentia que podia esquecer um pouco dos problemas que passava, mas a situação de Yugyeom o estava deixando meio desconcentrado nas tarefas da alfaiataria. O irmão mais novo estava febril, queixando-se de dor no corpo e mal conseguia se alimentar. Era uma sorte o macarrão e alguns legumes serem mais baratos na cidade em que moravam, porque aquela refeição era a única que parava no estômago do irmão de nove anos, além de claro, ser quentinha e propicia para o clima gelado.
Depois de organizar as linhas, pegar os pedaços de tecidos das mesas e do chão e apagar as luzes, quando Youngjae achou que finalmente ia para casa, um homem alto, magro e de cabelos escuros como carvão surgiu na porta, quase topando com seu corpo. Ele se sobressaltou pelo susto, olhando o relógio no pulso, este que Jude tinha lhe presenteado de aniversário, notando já ser tarde da noite e era estranho aquele desconhecido aparecer assim, de repente.
—Boa noite. —ele disse. —Você é o costureiro aqui?
—Ah, sim, eu sou. —Youngjae respondeu, analisando o homem dos pés a cabeça percebendo que ele pertencia a nobreza, muito provavelmente, com aquelas roupas bonitas e com certeza muito caras. Aquilo o irritou, mas ele permaneceu parado com os punhos fechados.
—Me desculpe se estou atrapalhando? Eu vi que você está fechando, mas… —ele analisou o local, embora estivesse escuro com somente a luz de uma pequena lamparina próxima da porta —a mesma qual Youngjae estava preparado momentos atrás para apagar. —Mas eu tenho algo comigo que eu acho que você poderia consertar? Claro, se estiver disponível hoje, se não eu posso vir ama…
Youngjae não o deixou terminar, o interrompendo.
—Eu fecho às dez da noite. —disse numa voz limpa e fria e o homem ficou cabisbaixo e sorriu, assentindo, dando um passo para trás, mas Youngjae o fez parar quando continuou. —Mas eu posso ver o que posso fazer. —disse e estendeu a mão para cima esperando o homem lhe dar o que queria.
Ele com certeza odiava a classe alta, no entanto o dinheiro era prioridade quando se tratava de comprar remédios para Yugyeom adoecido naquela maldita cama. Aquele homem parecia querer pagar a quantia que fosse para o que quer que seja que ele desejava recuperar.
Youngjae franziu as sobrancelhas quando notou o tecido branco de algodão em suas mãos. Um jaleco?
—É uma peça muito importante para mim. Ele acabou se rasgando todo por causa da minha gata, Nora… Você sabe, gatos adoram arranhar as coisas. —ele disse coçando a cabeça, parecendo constrangido.
—Sim, gatos são selvagens. —ele comentou um tanto distraído enquanto analisava o jaleco e via o que poderia ser feito. Estava bem destruído, mas não era irrecuperável. —Posso ver o que fazer, mas não hoje. Poderia passar amanhã de manhã para um orçamento?
—Sim, sim, eu posso! —o homem abriu um sorriso enorme que mesmo no escuro Youngjae pôde visualizar seus dentes alinhados e brancos. —Muito obrigado! Qual o seu nome?
—Choi Youngjae, e você?
—Im Jaebum.
O outro era alguns centímetros maior que si, mas sua estrutura física era bem maior que Youngjae, principalmente os ombros. Assim que Youngjae saiu e fechou a loja, ele pôde ver os flocos de neve caírem sobre os cabelos negros do homem, e notou, tardiamente, que ele cheirava bem. Seu coração se acelerou um pouco naquele instante, mas Youngjae ignorou e correu para os fundos da alfaiataria, que era onde morava.
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Yugyeom acordou melhor no dia seguinte. Ele falava de forma mais orientada, ao invés de uma confusão de palavras, e sorria quando Bam fazia alguma gracinha. A febre parecia ter abaixado um pouco e sua feição parecia melhor. Youngjae sorriu aliviado ao ver de longe os dois irmãos sorrirem. Bam era especialista em fazer as pessoas rirem daquela maneira.
Ele passou o café, ferveu o leite, este retirado diretamente da vaca do senhor Yuujin, e colocou algumas torradas sobre a mesa vendo que, pela primeira vez em alguns dias, Yugyeom estava vindo tomar o café da manhã na mesa, ao invés da cama, e não pôde deixar de sorrir.
Eles eram uma família unida e feliz, apesar das dificuldades. Youngjae sabia que o simples era bom também, e que, às vezes ter de tudo fazia com que as pessoas fossem esnobes e mal agradecidas, mas que em uma situação difícil onde não se há nem o que comer também os faziam fortes, porém sofridos. Seu lema era que era necessário a dificuldade para reconhecer e dar valor às coisas boas, mesmo que estas não fossem objetos luxuosos ou comidas caras.
Depois de comerem juntos, Bam ficou encarregado da louça enquanto Yugyeom conseguiu tirar a toalha da mesa e chacoalhar do lado de fora pela janela e em seguida guardar na gaveta. Youngjae tinha muitas tarefas, então saiu mais cedo para a alfaiataria, alertando Bam que se qualquer coisa acontecesse, era para ele vir e lhe avisar.
Assim que abriu a loja, Youngjae se aprontou rapidamente em terminar um casaco de algodão da senhora Taehi. Por este serviço ele não receberia a quantia em dinheiro, mas sim nas plantações da senhora em troca do serviço. Ela possuía pés de batatas, cenouras, repolhos e abóboras, e ele estava ansioso para poder colher algumas coisas da horta, então fez o melhor que pôde para deixar o casaco em ótimo estado novamente.
No meio tempo da última costura a porta de entrada rangiu, entregando uma pessoa na loja. E assim que Youngjae ergueu o olhar ele reconheceu a silhueta do homem. Ele não sorriu, ao contrário do cliente, que entrou com um sorriso simples no rosto fazendo seu coração se acelerar como a noite anterior.
—Bom dia, Youngjae! —disse enquanto dava passos curtos para perto da mesa onde estava a máquina de costura.
—Bom dia, Jaebum. —respondeu arrastando a cadeira e se levantando para pegar o jaleco deixado no dia anterior. —Deixe eu pegá-lo e trazê-lo até você para explicar o conserto necessário e então você decide se irá aceitar ou não.
Desde o dia anterior quando Youngjae viu a peça de Jaebum ele soube que os tecidos do mesmo eram caros, feitos de algodão europeu. O trabalho seria delicado e demorado, se Jaebum quisesse mesmo aquele jaleco de volta em perfeito estado.
—O tecido dele é nobre, não provém de nossas terras... —ele começou falando, chamando a atenção de Jaebum para suas mãos pequenas e fofas que alisavam o tecido. —O tempo de entrega de uma peça de tecido desses é um pouco longo.
—E quanto tempo?
—Hum… Provavelmente trinta dias? Esse tecido é Europeu, então leva um tempo para chegar nessa pequena e minúscula cidade no meio do nada, talvez os entregadores deduzam que nem exista a cidade de Mokpo. —riu sem humor. —Brincadeira. Jaebum, eu preciso de um investimento antes de começar esse trabalho. Não tenho condições de comprar o tecido no momento, então…
—Sim, sem problemas! —ele o interrompeu numa expressão preocupada. —Quanto fica tudo?
Youngjae analisou o tempo, os custos e a mão de obra. Provavelmente Jaebum se negaria a pagar a quantia pedida, mas era o seu trabalho, afinal, e ele não pediria menos que aquilo.
—Dois mil e quinhentos dólares.
Jaebum ficou em silêncio por um momento, observando a expressão sincera de Youngjae que o encarava esperando uma resposta.
—Eu aceito! E bem, aqui está a metade.
Youngjae ficou surpreso. Aquele seria o seu primeiro trabalho que renderia um dinheiro maior que cinquenta dólares. De fato Jaebum era rico, muito rico. Youngjae, se quisesse, poderia tirar muito mais do homem, pelo visto, no entanto a honestidade era uma característica sua e ele nunca enganaria alguém.
Jaebum estendeu mil duzentos e cinquenta dólares em suas mãos ali, de prontidão. Youngjae jurou nunca ter visto tantas notas em seus dezenove anos de vida.
—Obrigado por confiar em meu trabalho. —Youngjae sorriu e se forçou a sair do transe e pegar o dinheiro que estava sendo oferecido, e por conta de um barulho alto e quase ensurdecedor da porta batendo ele amassou o bolo de dinheiro e enfiou no bolso do moletom.
—Youngie, o Yugy… E-ele
Youngjae arregalou os olhos tentando não pensar no pior, esperando com ânsia o que Bam estava prestes a dizer.
—O que tem ele? —seu tom aumentou e ele andou rapidamente até Bambam, que começava a chorar.
—E-eu n-não sei, a gente estava brincando e…
Youngjae não se deu tempo de ouvir o irmão menor e imediatamente correu para os fundos da casa o mais rápido que pôde.
Ao chegar no quarto Youngjae viu Yugyeom tendo espasmos em todo o corpo, os olhos e a boca aberta enquanto ele tremia sem parar.
—Hey! Gyeomi, o que está acontecendo?! —ele gritou, desesperado enquanto tentava conter o irmão menor que não respondeu a nenhum estímulo de sua voz ou toque, onde ele percebeu a pele quente que quase parecia pegar fogo . Ele segurou suas mãos e tentou despertá-lo, ou seja lá o que fosse que estava tentando fazer, só queria o irmão normal, sem aquele comportamento assustador. Nunca aquilo havia acontecido.
No entanto, uma mão acolhedora o afastou com gentileza e afastou Youngjae com cuidado, vendo-o tocar em seu irmão e lateralizar o pequeno corpo ainda em espasmos no chão. Ele apenas deixou Jaebum tocar seu irmão menor tão gentilmente e lhe olhar com ternura. Ele não teve nem voz para perguntar o que Jaebum estava fazendo, mas não precisou porque logo ele estava falando consigo buscando lhe acalmar.
—Ele está tendo uma convulsão. —ele disse, mas vendo a expressão confusa de Youngjae ele explicou melhor. —É como uma descarga elétrica no cérebro que faz com que haja esses movimentos involuntários… Provavelmente, devido a temperatura alta. Ele está tão quente... Ele está doente?
—S-sim, ele está com gripe. —Youngjae demorou um tempo para responder e processar, enquanto isso o corpo de Yugyeom ia se acalmando e ele parecia entrar num sono profundo.
—Há quanto tempo? —Jaebum perguntou enquanto pegava o pequeno corpo de seu irmão do chão e o pôs sobre a cama próxima com cuidado.
—Uma semana? Não, quase duas... Mas…? Há algo errado?
—Ele ainda é pequeno e altas temperaturas podem ocasionar a convulsão, seja por uma infecção ou algo do tipo. Já o levou ao hospital?
Youngjae perdeu o semblante de medo e foi substituído por uma expressão vazia em direção a Jaebum. A princípio ele sentiu raiva, mas logo se acalmou pensando que o outro nada tinha a ver com a vida que levavam e que pessoas como eles não eram nada na sociedade. Era até uma maneira bonita de de pensar que todos poderiam ter acesso à saúde.
Youngjae negou.
—Os hospitais não atendem gente como nós, Jaebum. Acho que a sua realidade é diferente da nossa. —ele explicou, sentando-se ao lado do irmão na cama. —Apenas quem tem dinheiro, sabe? E acho que você notou que nós não temos muito. —ele suspirou se arrependendo rapidamente da forma que havia falado. —Enfim, obrigado pela ajuda. —seus olhos por um instante lacrimejaram, mas ele não se permitiu chorar. Não agora. —Eu realmente não saberia o que fazer e quem sabe o que poderia ter acontecido com ele.
—Ah… —Jaebum pareceu notar pela primeira vez o ambiente ao seu redor. As paredes tinham uma aparência mofada, mesmo que parecesse que alguém havia tentado limpar o mofo, a cama que rangia até pela respiração de quem sentasse sobre ela, a porta trincada e sem maçaneta, o chão de cimento revestido por alguns trapos que pareciam ser tapetes, mas não eram. Era a sua primeira vez vendo uma situação como aquela, já que quando entrou ali a primeira ação sua foi ajudar o garotinho, sabendo agora que ele era o irmão de Youngjae.
Ele se levantou e assentiu. Realmente se sentindo impotente pela situação do irmão doente e a vida daquela família. No entanto, enquanto abria a porta e caminhava para fora uma questão não saiu de sua mente.
Onde estavam os pais daquelas crianças?
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Jaebum voltou no dia seguinte. E, sinceramente, Youngjae não esperava ver o corpo alto e cheio de casacos de inverno entrando pela porta velha da alfaiataria num dia tão frio como aquele. Ele pôde ver a neblina sair da boca de Jaebum enquanto ele respirava na frente da porta.
—Entre.
—Obrigado. —ele fechou a porta e andou rapidamente até sua mesa.
Youngjae estava curioso pelo motivo que o havia trazido ali novamente sendo que o jaleco mal havia sido começado a ser ajustado. E ele sabia que não. Youngjae sentiu que ele estava ali por outra coisa, mas deixou de tentar criar teorias e apenas esperou Jaebum falar.
—Eu consegui falar com meu pai, você pode levá-lo ao hospital e irão cuidar dele.
O olhar de Youngjae correu pelo rosto bonito de Jaebum diversas vezes em poucos segundos. Ele não estava entendendo nada.
—O que?
—Digo, desculpe, deixe-me começar de novo. Meu pai é médico, ele possuí uma pequena clínica em duas cidades daqui. Nós podemos atender o seu irmão de ajudá-lo.
—Nós?
—É, eu também sou um médico… Ou quase. Ainda estou estudando, mas posso ajudar de alguma forma.
Youngjae estava tão feliz, mas ainda possuía um medo em si. E se fosse uma doença incurável? Ou algo pior do qual ele não teria dinheiro para pagar tantos remédios e cuidados que os médicos prescrevem? Embora ele não frequentasse um hospital e nem fosse atendido por eles, ele sabia de muitas coisas ainda assim porque Jude tem câncer, mas ela não pode ser tratada porque não tem dinheiro. E é aterrador saber que você vai morrer e não há o que fazer. Youngjae não poderia lidar com a situação fácil como parecia ser.
—E-eu… —Mas ainda assim a vontade de cuidar do irmão era maior. Se fosse por ele jamais aceitaria algo do tipo, mas seu orgulho merecia ser ferido por Yugyeom. —Por que está fazendo isso?
—Primeiro que, como médico, é meu instinto tentar salvar vidas, Youngjae. E eu sinto que você é uma boa pessoa, então deduzi que, se puder, irei te ajudar no que estiver ao meu alcance.
Youngjae não viu maldade e nem mentira na voz de Jaebum. Pelo o contrário, ele pareceu sincero.
—Ok. —ele finalmente concordou, embora estivesse muito envergonhado ao se lembrar de como havia o tratado no dia anterior e mesmo assim ele o oferecia ajuda.
—Você aceita? —Jaebum perguntou novamente apenas para clarear a situação. Ele realmente queria ajudar Yugyeom mesmo que não o conhecesse em nada.
—Sim, mas… Quando? E como? Eu não sei como fazer isso e… —de repente muitos pensamentos surgiram e ele não conseguia raciocinar com clareza ao que logo Jaebum o interrompeu.
—Você e seus irmãos podem vir, iremos de carro até a cidade. Eu irei levá-los até a clínica. Eu acho que quanto mais rápido melhor, podemos ir hoje à noite?
Youngjae hesitou, pego de surpresa. Estava acontecendo muito rápido, no entanto ele achava Jaebum tinha razão. E se seu irmão piorasse de um dia para o outro? Ontem no café ele parecia bem, mas horas depois ele convulsionou. Ele concordou assentindo várias vezes.
—Irei arrumar as coisas para... —ele pressionou os lábios e concordou novamente, olhando de relance para Jaebum. Ele se sentia envergonhado por algum motivo e seu coração estava acelerado novamente, fazendo com que suas mãos tremessem. —…Podermos ir.
Jaebum se aproximou e afagou seus cabelos, sentindo a maciez dos fios suaves sob os dedos. Youngjae abaixou a cabeça por instinto e sentiu as mãos quentes entrarem em seus cabelos e o acariciar de modo gentil. Seu coração se acelerou ainda mais e seus lábios secaram, mesmo que ele tivesse os umedecido pouco tempo atrás.
—Nos vemos hoje às seis, ok? —Jaebum se afastou e sorriu.
—Sim… —ele murmurou e observou os ombros largos de Jaebum se afastar até sumir pela sua porta e ele se dar conta de que estava quase viajando para outra dimensão olhando a porta velha em sua frente.
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—De carro? —Bambam deu um grito e depois tapou a boca pela impulsão ao ver Youngjae franzir a sobrancelha pelo barulho repentino. —Ual, que legal. Eu nunca andei de carro! —Ele sorria feito um bobo, arrumando algumas roupas velhas dentro da mochila que levariam. —E ele é médico? Ele é bonito, não acha? Se eu fosse uma mulher com certeza iria querer me casar com ele.
—Sim, mas é o pai dele que irá cuidar de Gyeomi. —Youngjae ignorou as outras perguntas e focou em pegar algumas roupas de Yugyeom para colocar na mala.
Bambam tinha apenas quatorze, mas ele era muito astuto e tinha muitos assuntos os quais Youngjae achava ser coisa de adulto. Às vezes ele tinha com conversas que até mesmo Youngjae, o mais velho deles, achava constrangedor, como beijos e coisas ainda mais profundas que um beijo. E ele se perguntava onde Bambam havia aprendido tais coisas.
Yugyeom estava deitado, dormindo. Ele tinha a pele fria, porém suava muito e sua temperatura estava mais baixa agora graças às compressas frias que Jaebum indicou Youngjae a fazer. Ele estava há algumas horas sem comer desde que havia convulsionado, então Youngjae achou melhor levar alguns mantimentos também para caso a viagem fosse longa demais.
Após deixar tudo da viagem pronto, Youngjae lavou a louça enquanto Bambam arrumava as camas e varria a casa. Ele não sabia se iriam demorar no tratamento de Yugyeom, então avisou Jude que iriam ficar ausente sem ter uma data para voltar. Ela hesitou, desconfiada, pela boa ação do homem que ela não conhecia e tentou alertar Youngjae para que se ele tentasse algo que ele desse uma surra nele. Youngjae riu bastante e se despediu de Jude assim que Jaebum chegou.
Ela instantaneamente pareceu mudar de ideia ao seu respeito e deu muitos sorrisos a Jaebum, dizendo sobre como ela viu Youngjae crescer e cuidar dos irmãos sozinhos depois da morte de sua mãe e o sumiço de seu pai alcoólatra. Youngjae tossiu alto para fazer com que ela parasse de falar, e enfim percebendo que havia falado demais ela sorriu e se despediu.
Youngjae colocou Yugyeom no banco de trás junto com Bambam, cobrindo ambos com um cobertor fofo porque estava muito frio, ainda que o sol estivesse quase se pondo, e sentou-se ao lado de Jaebum, no banco de passageiro.
Ele estava um pouco nervoso devido ao fato de que havia andado de carro apenas uma vez na vida —quando o senhor Hoseok, já falecido, lhe deu uma carona do centro da cidade até sua casa—.
Era estranho. Tudo muito estranho. Era quente ali dentro, com os vidros fechados, e Youngjae quase se viu suando depois de pouco tempo ali dentro. Suas mãos tremiam —ele havia notado quando puxou o cinto de segurança e ele errou o buraco algumas vezes antes de finalmente enfiar o troço corretamente e trancar o cinto em seu peito.—
Quando o carro ligou Youngjae se assustou um pouco, mas a voz baixinha de Bambam dizendo o quão legal era aquilo o acalmou. Ele estava fascinado, sendo que só havia visto carros nas revistas nunca tendo estado dentro de um de verdade. Um carro tão bonito como o de Jaebum deixou seu irmão eufórico que ele não pôde se contentar em ficar quieto.
—Esse seu carro é muito maneiro... —Bambam tinha um tom fascinado.
Youngjae tentou, mas não conseguiu, conter o riso. O som de uma risada saiu e ele virou o rosto para o lado oposto de Jaebum.
—Você gosta?
—É demais, caraca!
Youngjae estava cada vez mais envergonhado pelo jeito de Bambam, embora quisesse rir tão alto naquele momento.
—É uma Mercedes-Benz 560.
—Ual, é o lançamento do ano, não? Estamos 1987, e ela lançou esse ano e você já comprou. Tio, você é bem rico, né?
—Bam, se comporte. —Youngjae disse.
—Não tem problema, Youngjae. —ele riu e olhou para Bambam pelo retrovisor. —Mas é, posso dizer que vim de uma família boa nesse aspecto.
—Claro, você é médico. —Bambam concluiu, ficando em silêncio ao observar a estrada passar rapidamente por seus olhos num borrão. —Youngjae disse que você vai cuidar do Yugyeom, é verdade?
—Sim. —Jaebum confirmou e olhou para o seu lado, vendo Youngjae com a cabeça baixa cutucando lascas da unha.
Poucos minutos depois Bambam ficou em silêncio e Youngjae notou que ele estava adormecido e Yugyeom dormia em seu ombro. Ele estava acordado. Sozinho. Com Jaebum. Sua garganta parecia doer a cada saliva engolida, seu estômago revirava e seu peito parecia conter uma bomba relógio dentro. Ele não sabia como começar, mas queria conversar com Jaebum.
—Você está muito nervoso, relaxe. —Jaebum finalmente quebrou o silêncio, deixando Youngjae ainda mais ansioso mesmo que ele não soubesse os motivos muito bem.
—É… Eu estou um pouco de medo. —disse e aguardou, mas Jaebum nada disse. —Pelo Gyeomi, sabe…?
Jaebum achou fofo a forma que Youngjae referiu ao irmão.
—Nós iremos cuidar dele, prometo.
Youngjae assentiu, sorrindo suavemente para Jaebum sem saber o que dizer. Jaebum sentiu seu peito se aquecer com tal expressão pensando que Youngjae merecia ser feliz, merecia ser cuidado como nunca tinha sido ao sempre cuidar de seus irmãos mais novos sozinho. Ele era tão adorável que Jaebum tinha vontade de guardá-lo para si e tão inteligente e criativo —ele tinha visto suas habilidades na alfaiataria e comprovava sua habilidade ao ver algumas roupas da vitrine— que Jaebum só queria apreciar de longe tal beleza.
Ele se vestia de forma simples, um jeans azul surrado, um suéter grosso de lã numa cor rosa quase igual a cor da pele de suas bochechas preenchidas e fofas. Ele queria vê-lo sorrir de verdade pelo menos uma vez, pois sabia que Youngjae não podia —não ainda— sorrir estando realmente feliz.
Depois de um tempo de viagem —Youngjae viu em seu relógio de pulso que quando saíram era seis e meia da tarde, agora já era oito, quase nove e ainda pareciam distantes da cidade destino— Bambam acordou e reclamou de fome. Youngjae caçou a mochila com mantimentos e tirou de lá uma maçã pequena e vermelha, mas antes que Bambam a mordesse Jaebum o interrompeu.
—Guarde-a para depois, que tal um pouco de chocolate quente e pão de mel? —disse guiando o carro para a direção de um posto de gasolina na estrada.
—Bem, eu não sei… Isso é bom?
Jaebum instantemente se arrependeu de perguntar. Era óbvio que eles não conheciam tais coisas, vivendo naquelas situações. Mas estava disposto a pagar um pouquinho pela felicidade deles.
—É uma delícia! —ele afirmou, sorrindo grande através do retrovisor.
Youngjae corou pelo sorriso enorme dos dentes perfeitos de Jaebum e tentou protestar, mas Bambam gritou alegremente um 'oba, oba' e se espreguiçou no banco.
—Acho que são três contra um! —Jaebum disse, piscando para Youngjae.
—Mas o Yugyeom…
—Ele acordou! —Bambam disse.
—Gyeomi? —Youngjae se virou para trás e viu os pequenos olhinhos em sua direção. Ele sorriu e estremeceu levemente.
—Eu quero o pão de mel. —foi a primeira coisa que ele disse numa voz sonolenta e fofa. Youngjae não poderia negar.
Youngjae olhou para Jaebum que tinha uma sobrancelha levemente erguida e voltou para Yugyeom, assentindo.
—Ok, vamos lá.
Assim que desceram os menores ficaram excitados pelas luzes em neon da placa da lanchonete. Eles se abraçaram no cobertor e foram na frente. Youngjae desceu e Jaebum veio ao seu lado, andando próximo a si.
Na vitrine haviam vários doces, fazendo os pequenos ficarem doidos sobre o que escolher. Youngjae pediu um capuccino com bastante chantilly e um brownie para si e Jaebum optou pelas mesmas coisas. Já os menores foram no chocolate quente e pão com gotas de chocolate. Youngjae ficou atento em Yugyeom o tempo todo porque talvez seu estômago não estivesse tão bom ainda para comer coisas como aquelas.
Bambam havia perguntado muitas coisas para Jaebum e isso saciou a curiosidade de Youngjae. Ele soube que Jaebum era filho único, que tinha vinte e quatro anos, que era solteiro, sem filhos e sua mãe havia morrido, assim como a deles.
Era quase dez da noite quando saíram de lá e voltaram para a estrada com Bambam elogiando a comida do local e reclamando de estar muito cheio depois de comer o seu e metade do de Yugyeom, que não aguentou comer tudo. Youngjae concordou em silêncio, era tudo muito bom. Ele nunca havia comido algo tão gostoso em toda a sua vida.
Estava escuro quando Youngjae abriu os olhos ao sentir um par de mãos lhe tocarem nos ombros, mas a primeira coisa que ele viu foi o rosto bonito em bem na frente de seus olhos. Os olhos pequenos junto com as duas pintas acima do olho esquerdo sorriram para si, avisando que haviam chegado.
—Vamos dormir, pela manhã iremos à clínica.
Youngjae assentiu, ainda sonolento, e olhou para o banco de trás, não notando seus irmãos.
—Eu os levei para dentro, não se preocupe. Eles estão dormindo.
Youngjae assentiu e se preparou para levantar, mas Jaebum estava tão perto que ele quase bateu o rosto no dele sem querer ao tentar sair do carro.
—D-desculpe. —ele rapidamente se afastou.
Os olhos de Jaebum estavam escuros e algo em sua expressão pareceu diferente para Youngjae. Logo seu coração se acelerou como todos os dias anteriores.
—Venha. —Jaebum respirou fundo e se afastou, dando a mão para Youngjae sair do carro.
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Youngjae acordou no início da manhã assim que o relógio em seu pulso disparou. A cama fofa abaixo de si tinha um cheiro de flores frescas e o cobertor era macio. Ele levou alguns minutos antes de criar coragem de enfrentar o frio do lado de fora, mas assim que o fez, se sentando e limpando os olhos quando viu os cabelos negros e inconfundíveis de Jaebum sobre o travesseiro, deitado no sofá em frente a cama. Instantaneamente ele se arrependeu por Jaebum que trocou o conforto da cama para lhe deixar dormir sozinho, embora a cama fosse grande demais para Youngjae. Não que ele almejasse dividir a cama com o homem, mas…
Youngjae ajeitou os cabelos bagunçados e se levantou, colocando os pés de meias no chão de madeira limpo e polido.
—Já acordou?
Ele se assustou e colocou as mãos no peito com a voz repentina.
—Oh Deus! Que susto. —disse se virando para Jaebum. —Logo eu é quem serei tratado também, do coração, provavelmente.
Jaebum riu e se levantou, exibindo um pijama um tanto revelador. Transparente em seda, Youngjae podia ver sua pele do tórax claramente, mas ele desviou o olhar assim que notou demorar demais no outro.
—Me desculpe, achei que você tinha notado que eu estava acordado.
—Ah, sim, sem problemas...
—Está com fome?
—Não. —Youngjae negou, mentindo obviamente. Seu estômago se assemelhava a um buraco negro.
Jaebum concordou com a cabeça, se levantou e calçou os sapatos dizendo que iria tomar banho e voltava num instante. Youngjae achou que também precisava de um, mas estava com vergonha de admitir então apenas esperou Jaebum sair do banheiro.
Poucos minutos depois ele saiu, de fato, porém... Ele estava coberto apenas por uma toalha do quadril para baixo e os cabelos úmidos. Youngjae acharia totalmente estranho se o quarto não possuísse aquecedor visto o frio que estava. Ali estava mais quente que o banheiro, com certeza. Já que Youngjae parecia começar a suar conforme Jaebum procurava alguma roupa para vestir no guarda-roupa e os músculos de suas costas se moviam. Youngjae sentiu-se meio envergonhado ao tocar sua barriga e sentir uma leve protuberância e a pele mole debaixo do casaco. Costurar realmente não lhe dariam músculos nunca na vida. Suspirou e voltou a olhar Jaebum, se surpreendendo ao ver a parte íntima descoberta. Ele alguma vez teve algum defeito? Youngjae achou que não.
Ele imediatamente correu para o banheiro e se trancou por alguns minutos, tomando tempo para lavar o rosto e urinar, e, principalmente, acalmar seus batimentos cardíacos. Era isso, seus hormônios estavam surgindo aos poucos. Era a única resposta, mesmo que ele se questionasse se não era o certo sentir coisas como aquelas por uma garota.
—Youngjae, está tudo bem?
Youngjae deu um salto em frente ao espelho pelo toque na porta.
—S-sim, sim está.
Deu uma última verificada nos cabelos bagunçados e insistentes que mesmo após passar os dedos não se arrumou, os olhos pequenos e a boca ressecada e cheia de fissuras pelo frio e saiu.
—Seus irmãos já estão de pé. —Jaebum já estava todo vestido —Youngjae agradecia aos céus por isso —e Youngjae sentiu o cheiro de perfume suave entrou por suas narinas.
—Mesmo?
—Sim, e já estão bem animados. —Jaebum assentiu.
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A clínica era pequena, mas muito limpa e organizada. Youngjae teve medo de tocar as paredes tão brancas e sujá-las, mesmo que elas estivessem limpas. A secretária distraída não percebeu Jaebum até tirar o olhar de um caderno e vê-lo, logo os dando passe livre para entrarem.
Bambam aguardou no corredor quando Youngjae entrou com Yugyeom na sala.
Youngjae visualizou um Jaebum quarenta anos mais velho em sua frente, não era nem necessário um exame de DNA. Eram idênticos.
O homem sorriu fazendo as rugas de seus olhos dobrarem e seus olhos serem quase invisíveis.
—Sente-se, jovem. —ele pediu, apontando para poltronas brancas e que pareciam bastante confortáveis ao seu ver. —Irei perguntar algumas coisas antes de examinar o pequeno Yugyeom.— Youngjae assentiu, hesitando um pouco, e sentou-se com Yugyeom no colo.
—Quantos anos ele tem?
—Nove.
—E quanto ele pesa?
—E-eu não sei… —Youngjae se sentiu um idiota por não saber algo tão simples, no entanto o senhor apenas assentiu e continuou a perguntar.
—E altura?
Youngjae negou com a cabeça.
—Certo, venha aqui garotão. —o pai de Jaebum, Youngjae viu o bordado no jaleco, Im Yunho, o chamou. —Ele é um garoto forte para a idade que tem, um e sessenta e cinco de altura e cinquenta quilos.
—Bambam diz que eu pareço um poste. —Yugyeom disse e o pai de Jaebum riu alto.
—Bem, isso é um elogio se você pensar que os postes estão acima de nós.
Yugyeom pareceu pensar na frase e fez uma expressão fofa de confusão. Youngjae riu e o chamou de volta ao seu colo.
—Soube que ele teve um episódio de convulsão, mas antes esteve gripado, certo?
—Sim, Yugyeom está doente tem algumas semanas. A febre é persistente.
O pai de Jaebum se levantou e se aproximou dos irmãos sentados, colocando o objeto de médico que Yugyeom sempre admirou, embora fosse gelado, em seu peito.
—Respire fundo.
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Pneumonia.
Foi o diagnóstico.
O lado bom de tudo é que haviam descoberto cedo antes que o levasse à morte, embora Yugyeom tivesse que se submeter a um tratamento com antibióticos, assim, prolongando a estadia na cidade de Imseong.
Youngjae não soube o que fazer, deixando a casa longe e o trabalho, no entanto a saúde do irmão era prioridade.
—Me desculpe, acho que seu jaleco não vai ficar pronto tão cedo. —ele disse enquanto Jaebum dirigia para a casa que estavam alojados.
—Existem prioridades, Youngjae-ah. —Jaebum disse depois de parar no semáforo vermelho.
Youngjae-ah. Aquela foi a primeira vez que Jaebum o chamou de modo mais amigável e informal. Ele se sentiria um pouco confortado caso não estivesse tão nervoso com o olhar alheio em si e um sorriso estampado no rosto.
—É claro que ele é importante para mim, mas se você não estiver bem as coisas podem não dar certo na hora de costurar, você sabe…
—Não seja bobo! Eu posso fazer qualquer coisa, qualquer coisa mesmo.
Ah. E Jaebum não duvidava dele. Ele poderia, realmente.
O carro faz uma curva para dentro de um mercado e Jaebum estacionou.
—Precisamos comprar algumas coisas para casa. Com Yugyeom doente não podem comer qualquer besteira. Aquela casa é vazia em todos os sentidos. —disse Jaebum.
Youngjae estranhou, mas desceu do carro.
Youngjae soube mais um fato sobre Jaebum além de sua gentileza imensurável: ele era péssimo em escolher frutas ou verduras, seja lá o que fosse.
—Ah, sério! Não basta escolher qualquer uma? —Jaebum desistiu de tentar.
—Mas é claro que não! Se você pegar uma banana verde como essa estaríamos ingerindo um zero valor de nutrientes. As bananas mais feias e machucadas são as mais doces e nutritivas. Ninguém te ensinou isso?
—Parece uma frase que te induz a filosofar... —ele murmurou.
Bambam riu atrás deles enquanto escolhia algumas batatas para a sopa do jantar.
—Vocês são engraçados e se dão bem, deveriam virar melhores amigos. —disse o mais magricela deles.
Youngjae corou depois de Jaebum cutucá-lo com os ombros.
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—Essa é a melhor sopa que já comi na vida! E eu nem gosto de sopas. —Jaebum disse caminhando pela terceira vez até o fogão.
Youngjae sorriu e abaixou a cabeça, sentindo a pele se esquentar devido a sopa.
A sopa.
Yugyeom tinha sido o primeiro a jantar, tomar um banho quente e se agasalhar muito bem. Youngjae o ajudou no banho e após o levou para a cama, onde Jaebum começou com os tratamentos que duraria no mínimo sete dias com antibióticos.
—O que você come afinal, no dia-a-dia?
—Geralmente compro minhas refeições.
Ah sim, Youngjae havia se esquecido da riqueza de Jaebum até então, começando a notar os móveis da sala de estar. Um lustre bonito, uma mesa envernizada e cadeiras confortáveis. Janelas cobertas por persianas de seda, papel de parede dourado nas paredes, pisos de madeira, mas o que mais chamou a atenção foi o quadro de uma bela mulher próximo da lareira. Era tudo realmente de muito custo para qualquer bolso.
Jaebum notou o olhar curioso sobre o ambiente e não pôde deixar de se envergonhar. Nada daquilo era dele, e ele odiava ter algo que não era de seu suor, mas seu pai insistiu para que ficasse com a casa após a morte de sua mãe.
—Ela é bonita.
—Sim, ela era.
—Quantos anos ela tinha? —Youngjae foi inteligente o suficiente para saber que aquela era a mãe de Jaebum. Ela possuía alguns traços idênticos a ele.
—Vinte e oito.
—E você?
—Cinco.
—Entendo, sinto muito. —disse Youngjae.
Jaebum riu anasalado.
—E os seus pais?
—Minha mãe teve o mesmo destino que a sua: morreu jovem, e meu pai... Apenas se deixou derrubar pela depressão e entrou no vício do álcool até que certo dia ele sumisse por dias, semanas, meses e anos. Nunca mais o vi. Mamãe era nosso pilar.
—Você é o pilar, Youngjae.
—Não entendi. —o olhar repleto de solidão mexeu com Jaebum.
—Sem você, você não estaria aqui e seus irmãos não estariam aqui. Você é uma pessoa incrível. Sem a menor responsabilidade, você cuidou deles, os alimentou e fez tudo ao seu alcance. E veja só, continua fazendo. Mas... E você? Você já pensou em você, Youngjae? O que você almeja, quais seus sonhos, do que você gosta? São coisas que me deixam curioso.
Youngjae não teve uma resposta. Parando para pensar naquelas questões pela primeira vez. Mas não, ele não deveria ser egoísta e querer desejar algo quando seus irmãos precisavam dele, negando com a cabeça disse:
—Eu apenas quero cuidar deles até que eles cresçam. Quero que eles tenham o que eu nunca tive.
—Amor?
Youngjae encarou os olhos profundos de Jaebum e sentiu seu coração se acelerar como nunca antes. Seu rosto queimava tanto que ele sentia que estava vermelho feito uma pimenta do jardim da Taehi. Ele abriu os lábios algumas vezes tentando formular algo, mas nada saiu. Jaebum estava mexendo muito com seu equilíbrio. Aquilo não era normal. Jaebum não era normal.
—T-talvez… —ele gaguejou e desviou o olhar, encarando as próprias unhas sob a mesa de jantar.
—Youngjae… —Jaebum o chamou num tom baixo, quase como se fosse dizer um segredo e respirou fundo.
—S-sim…?
—Você quer ser amado?
—D-do que está falando? —Youngjae tentou rir para amenizar o constrangimento e nervosismo.
—Eu estou perguntando se você está disposto a se deixar amar e amar.
—Mas é claro que sim! Que tipo de pergunta é essa? —proferiu com dificuldade, tocando as bochechas quentes com ambas as mãos.
—Fico feliz em saber. —a expressão de Jaebum mudou da água para o vinho e ele sorriu de modo fofo. —Sua sopa está realmente perfeita. Que tal cozinhar para mim todos os dias? Ficaria feliz em te dar um bom salário em troca da sua comida.
—Jamais deixarei Mokpo. —disse com confiança.
—Então terei que me mudar para lá.
Youngjae negou com a cabeça enquanto sorria, desacreditado, e chutou levemente a perna de Jaebum debaixo da mesa.
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Já fazia cinco dias desde que chegaram em Imseong. Youngjae estava encarregado de fazer a comida desde que Jaebum praticamente o obrigou a cozinhar ao dizer que sua comida era a melhor que já havia experimentado —ele não ia mentir, gostava dos elogios— principalmente o macarrão com carne e legumes. E Jaebum dedicava a maior parte do tempo cuidando de Yugyeom.
Yugyeom estava melhor. Bem melhor se comparado quando chegaram. O tratamento rigoroso com antibióticos estava realmente o ajudando e Youngjae estava grato pelo pai, e, principalmente, Jaebum. Saber que se demorasse um pouco mais seu irmão poderia não estar mais ali com ele o desesperou. Ele chegou a pensar que Jaebum entrou em sua vida por alguma coisa do destino, justo quando Yugyeom estava tão doente ele surgiu e os ajudou.
—Essa casa é realmente demais! Quando chove ou neva não cai dentro de casa. —Bambam disse, e Youngjae se sentiu um pouco triste se lembrando as vezes que ele usava vasilhas nas goteiras ou molhasse os poucos móveis que possuíam. —Mas ainda assim eu sinto falta da minha cama.
—É, eu também. —Youngjae mentiu.
Ele esteve tão feliz ali que não sentia falta de nada com exceção da alfaiataria. O conforto da cama macia, a água quente automática da banheira e o fogão à gás eram coisas incríveis que ele achou que nunca teria conhecimento.
No começo Youngjae tentou não gostar muito de Jaebum e seu carro caro, mas sua gentileza o amoleceu tão bem que Youngjae não tinha vontade de voltar para casa. Agora faltava apenas dois dias e a ideia de voltar a vida normal o desanimou um pouco.
A noite que saíram para comer Jjjangmyeon foi divertida. Jaebum os pegou de surpresa e os levou no carro até um restaurante pequeno e bonito. Eles riram e se divertiram com conversas supérfluas sobre acontecimentos engraçados e vergonha em público, dividindo memórias do passado. Youngjae se lembrou de ficar alegre demais devido ao Soju que havia tomado e acabou dizendo coisas além do que devia, como a vez que havia colocado pimenta no suco de uma garota chata do bairro que incomodava Bambam por ser ele ser um 'magricela'. Ela chorou tanto que Youngjae ficou com pena no final, no entanto ela nunca mais olhou para Bambam.
Já Jaebum era o vandalismo em palavras. Vindo de uma família abastada, ele disse se sentir muito solitário quando jovem e então descontava as frustrações nas coisas. Quebrava as caixas de correio dos vizinhos velhos e cricris, chutava os lixos da vizinhança e alimentava o cachorro pomposo da senhora Ghein com carne de porco. A pior coisa que ele disse ter feito foi quebrar o vidro da casa de uma pessoa desconhecida com um estilingue. Youngjae riu muito, quase chorou, mas não conseguia acreditar que Jaebum poderia ter feito coisas como aquelas.
Os dias se passaram muito rápido e logo ele se via arrumando a mala para voltar para casa com um Yugyeom espoleta e arteiro como antes. Bambam estava mais alegre que nunca. Já Youngjae era o único meio deprimido, embora tentasse ao máximo não aparentar. Estava feliz pela recuperação de Yugyeom, ele poderia brincar e comer bem como antes, Bambam teria alguém para brincar e estudar junto, mas e ele? Ele se lembrou da conversa com Jaebum alguns dias atrás e não pôde deixar de ficar em estado pensativo durante metade da viagem. O que ele almeja? Seus sonhos? Ele nunca parou para pensar em si, na verdade. E bem ali, dentro do carro, ele confirmou que sua ambição era a de ser um alfaiate de grande nome, fazer roupas bonitas e também ser voluntário no inverno, costurando roupas para os mais necessitados. E embora não fosse algo que fosse diretamente para si, ele desejava ver seus irmãos na escola. Ter um futuro bom, ou melhor que o seu, pelo menos.
—Meu sonho é abrir uma loja de roupas. Roupas feitas por minhas mãos. É poder criar roupas bonitas que façam as pessoas se sentirem bem. Eu também gostaria de abrir um centro voluntário de doações de roupas de inverno para os que precisam. —ele começou do nada, preenchendo o silêncio no carro.
Jaebum diminuiu a velocidade, mas nem tanto porque estavam na estrada, e olhou para Youngjae. Ele pareceu surpreso, mas feliz ao mesmo nível. Os garotos no banco de trás ainda dormiam visto que saíram bem cedo de Imseong.
—E o que te impede?
—Eu. —ele disse. —Eu mesmo, mas… Meus pais, os governantes... Não acha injusto? Digo, eu não estou tentando parecer um coitado aqui, mas… As oportunidades não são as mesmas, não concorda? Meus irmãos sequer podem ir à escola. —ele riu sem humor. —Mas obrigado, Jaebum. Obrigado por abrir meus olhos quanto a isso.
Jaebum respirou fundo.
—Não tenha um orgulho tão grande quando as pessoas te oferecerem ajuda. Se oferecem é porque querem fazê-lo, não necessariamente há um motivo. —Jaebum disse. —Você pode crescer, eu vejo você ascendendo com sua luz única. A atmosfera ao seu redor é totalmente diferente de todos. E então, se eu digo que posso te ajudar com isso, você aceitaria? Você pode me pagar no futuro, se esse for o problema. O que me diz? Está disposto a sair da zona de conforto?
—Eu só queria algo explicável. —ele disse, no entanto Jaebum pareceu entender nada de suas palavras. —Eu não entendo nem um pouco a sua disposição em me ajudar, digo, eu sou muito grato. Ninguém nunca fez isso por mim, nem minha família. Você era apenas um desconhecido que surgiu na minha loja quase caindo aos pedaços com seu jeito gentil e me confiou um bem precioso. Porquê e, principalmente, como?
Jaebum respirou fundo novamente, pensando no quão envolvido ele estava com Youngjae e queria poder dizer tudo sobre si a ele. E então começou:
—Eu estava designado em fazer um trabalho voluntário em Mokpo. Sua vizinhança é bem necessitada de cuidados básicos e orientações sobre saúde. Conheci Taehi, a dona da horta, você a conhece, certo? Então, ela me disse sobre três irmãos órfãos e a necessidade que eles viviam numa moradia precária da qual eu não tinha conhecimento e nem estava em minha lista de estágio, mas mesmo assim eu me dei o trabalho de ir até a pequena casa.
—Então sobre o jaleco… É mentira?
—Não. Eu não menti. O jaleco pertenceu ao meu avô, também médico que faleceu dedicando sua vida ao exército na guerra.
—Entendo. Tudo foi apenas uma coincidência? O fato de você estar em estágio, Taehi, a alfaiataria e o jaleco.
—Exato, mas… Com exceção de uma coisa. —seu tom de voz abaixou e tremeu um pouco ao sair das cordas vocais. Ele apertou as mãos no volante e encarou fixamente a estrada.
—O-o que?
—Eu não esperava ver alguém como você.
—O que você define alguém como eu? É uma coisa boa ou ruim? —ele riu, sentindo um frio no estômago.
—Pense um pouco nisso, ainda temos um tempo de viagem.
Jaebum não disse nada mais e o caminho restante o carro ficou em total silêncio com exceção do motor.
Porque se ele dissesse mais alguma coisa Jaebum o beijaria ali mesmo. Youngjae era terrivelmente alheio sobre o fato de ser uma pessoa incrível e adorável. Jaebum já gostava de Youngjae, e achava que com certeza estava um passo à frente dele e que talvez Youngjae nunca pudesse lhe dar mais do que uma amizade.
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Youngjae entrou em casa sentindo o cheiro familiar; o de mofo misturado com o achocolatado que ficava sobre a mesa num pote de vidro, ainda pensando sobre o ocorrido no carro. Bambam e Yugyeom vinham atrás de si com uma mochila nas costas de cada e murmuravam algo que Youngjae não conseguia ouvir.
Jaebum o deixou em frente a alfaiataria com um simples sorriso e um adeus. Nada mais. Confessava a si mesmo que tinha ficado um pouco decepcionado, mas ao mesmo tempo se questionava sobre o que ele queria que Jaebum dissesse ou fizesse. Eles se veriam novamente sem que fosse para discutir sobre o jaleco? Youngjae não sabia, mas com certeza queria vê-lo de novo.
Suspirando ele guardou as roupas limpas de volta no guarda-roupa e as sujas colocou no cesto. A casa estava limpa, eles estavam cheios pela comida do almoço que comeram no mesmo posto de gasolina que passaram na ida, e agora não havia nada que pudesse fazer em casa. Um verdadeiro tédio.
Os garotos inventaram de jogar xadrez na mesa — o tabuleiro improvisado que havia sido pintado por Jude na mesa de madeira— e Youngjae deitou-se em sua cama, encarando o teto e pensando no que Jaebum queria dizer com as últimas palavras dele. Ele não conseguia se esquecer dos olhos sorridentes de Jaebum, muito menos seus dentes brancos e perfeitos quando sorria para si e lembrar-se disso fazia seu coração se acelerar e sua barriga doer um pouco. Ele se debateu nos travesseiros e tentou dormir, conseguindo apenas um cochilo de alguns minutos.
A semana passou de maneira arrastada. Youngjae se via trabalhando como sempre, porém as horas pareciam demorar mais que o normal. Ele teve muito tempo para pensar, mas não chegou em conclusão alguma. Talvez Jaebum estivesse brincando em lhe deixar confuso. Mas o médico não apareceu em nenhum dos dias, não até tarde de sexta-feira, quase duas semanas depois.
O coração de Youngjae instantaneamente deu um baque dentro do peito e suas narinas dilataram quando o cheiro dele bateu em seu rosto com a rajada de vento pela porta aberta. Foram poucos dias, mas Youngjae já tinha em sua memória o cheiro suave, quase como o de um bebê, de Im Jaebum.
—Entre. —ele sorriu de modo robótico, suas mãos atrapalhadas quase derrubaram os rolos de linhas sobre a mesa.
—Olá, como você está? E Yugyeom e Bambam?
—Estamos bem… Acho que consegui uma escola para eles poderem estudar. —confessou, feliz. —É um local pequeno e simples, mas eles podem conviver com outras crianças e aprenderem bem... Eu acho.
—Isso é ótimo! —Jaebum disse alto e de repente, assustando Youngjae. —Eles com certeza irão amar, você fez bem. Mas e você? Pensou no que eu disse?
Youngjae abaixou o olhar e observou seus tênis surrados, não evitando de compará-los ao de Jaebum, polidos e bonitos.
—Eu pensei sim, mas não entendi nada. Na verdade você me deixou confuso a semana toda. —ele suspirou deixando os ombros caírem.
Jaebum sorriu. Ele queria apertar Youngjae em seus dedos tão forte que deixaria marcas em suas bochechas grandes e fofas.
—Realmente… Você é meio lerdo, uhm?
—O-o que?! Escute, eu não sei nada sobre entender entrelinhas. Por favor, seja direto. —havia um bico fofo em seus lábios rachados e olhá-los fez Jaebum querer umedecê-los com os seus próprios.
—Eu quero… Muito...—Jaebum olhou fixa e profundamente nos olhos perdidos de Youngjae, descendo os olhos para os lábios pressionados pelo nervosismo. Mas não houve um tempo para que Youngjae piscasse e num instante Jaebum estivesse tão próximo, tocando suavemente em seu maxilar e aproximando os lábios aos dele.
Youngjae sentiu a situação em câmera lenta. O passo largo de Jaebum para lhe alcançar sem que pudesse ter a chance de se afastar, as mãos aquecidas voando em direção ao seu rosto o segurando sutilmente e os olhos determinados em sua direção, tudo somado a uma brisa fria com cheiro de Jaebum lhe causando um arrepio da coluna aos pés. Em seguida sentiu algo úmido, quente e macio pressionar seus lábios.
Youngjae respirou fundo e fechou os olhos. Jaebum sentindo o corpo de Youngjae amolecer deslizou as mãos para ambos os braços dele e o sustentou num aperto firme, mas não tão apertado para lhe marcar a pele macia.
Avançando o ósculo para algo mais íntimo ao sugar levemente os lábios de Youngjae e beijá-los em seguida, o coração de Jaebum nesse momento estava batendo feito louco dentro do peito e ele sentiu suas pernas quase falharem pelo sentimento intenso. Ele estava tão feliz, Youngjae era doce e confortável, como imaginou que seria.
Jaebum se afastou lentamente, dando um pequeno passo para trás observando os cílios de Youngjae tremeram antes que ele abrisse os olhos, estes de orbes cintilantes em contrastes com os lábios avermelhados.
Youngjae tinha sido beijado. Pela primeira vez, embora Jaebum não precisasse saber. Não que ele fosse morrer por isso, já havia visto muitos beijos em novelas na televisão da Jude. Mas ele estava queimando em vergonha, ansiedade e algo que ele não conseguia descrever. Era como se a pequena chama que ele sentia sobre Jaebum se ascendesse como um vulcão, explodindo-o.
—Eu estou gostando de você, dessa forma. —disse Jaebum, esperando que Youngjae o olhasse nos olhos, mas tudo o que ele fazia era olhar para os próprios pés e com uma respiração acelerada. —Uhm, não confunda as coisas. Eu te ajudei porque realmente quis, não porque esperava algo ou… —ele parou de falar tentando buscar clareza em seus pensamentos. Não queria que Youngjae o entendesse erroneamente. —Mas, então... —ele suspirou. —Você pode me olhar nos olhos agora?
—Não.
—Não? Por que não?
—Você me beija, me faz uma confissão… —ele pausa. —Isso foi uma confissão, certo? É claro que eu estaria com vergonha. —Jaebum só conseguiu lhe ouvir porque estava próximo da boca de Youngjae. A voz geralmente alta do menor estava tão baixinha.
—Se você entendeu, ao menos, me olhe nos olhos. Eu irei embora e…
Youngjae deu um pequeno passo a frente diminuindo a distância de Jaebum e ele, e, erguendo levemente os pés, ele devolveu o beijou de forma que achou correto.
Ele estava confuso, sim, mas ainda assim ele queria de novo... O cheiro de Jaebum entorno de si e os lábios macios.
Jaebum segurou seus braços e o afastou devagar, não querendo por nada quebrar aquele beijo, mas ainda assim queria ter certeza de que Youngjae entendia no que aquilo implicava mais do que queria apenas beijá-lo.
—Eu entendi... Eu entendi, Jaebum. —ele sussurrou, abrindo os olhos lentamente e encarando Jaebum fixamente em seus olhos.
O coração de ambos estavam acelerados e em ritmos iguais, era quase possível sentir as batidas de Youngjae em seu pescoço, onde Jaebum repousava uma mão. Pelo menos Jaebum teve certeza de que, de alguma forma, mexia com Youngjae ao ponto de acelerar seu coração.
—O que vocês dois estão fazendo?
A voz repentina de Bambam fez ambos se afastarem um do outro e encararem o pequeno na porta.
—Anh… Eu estava medindo Jaebum. —ele improvisou rapidamente puxando a fita métrica da mesa. —M-medindo.
—Uhm, parece que estavam se beijando. —Bam soou desconfiado, olhando-os da cabeça aos pés.
—O que?! De onde tirou essa ideia, Bam?
—Bem, nada, nada. —ele balançou as mãos e a cabeça. —Yugyeom quer fazer cocô.
Youngjae arregalou os olhos e mirou Jaebum, que pressionava os lábios para não rir.
—E?
—Ele não consegue... Acho que é um cocô grande...
Youngjae fechou os olhos e respirou fundo.
—Dê a ele uma colher de azeite, então. —Jaebum disse, e ambos os irmãos lhe olharam. —Ajuda a liberar.
—Okay, você é médico, né Jaebumie? Deve saber o que fazer mesmo. —Bam assentiu e saiu de cena, deixando seu irmão mais velho constrangido.
—Hm, então... Onde paramos? —Jaebum sorriu anasalado e tocou a bochecha fofa de Youngjae, deixando leves selares por todo seu rosto.
—Na parte em que você me beijou. —disse Youngjae.
—Eu? Só eu? —Jaebum ergueu uma sobrancelha, rindo de canto achando Youngjae muito adorável.
—Eu apenas devolvi. —o alfaiate fez um bico e desviou o olhar para a porta.
—Então acho que tenho que te devolver de volta, uhm? —murmurou numa voz que fez o corpo de Youngjae se arrepiar.
—N-não… Agora é melhor pararmos. —Youngjae tocou o peito de Jaebum com as palmas das mãos e cessou a distância que ele tentava diminuir entre os corpos.
Youngjae se constrangeu pela expressão de Jaebum, mas ainda sim ele sentiu que não podia se deixar levar mesmo que ele desejasse mais que tudo fluir em Jaebum feito um peixinho perdido num riacho. No entanto, Youngjae ainda tinha uma porcentagem de racionalidade em si e decidiu melhor pararem antes que passassem dos limites e antecipassem as coisas. Ele conhecia Jaebum há quase dois meses, mas ainda achava pouco tempo.
Jaebum entendeu perfeitamente. Ele jamais forçaria Youngjae depois de saber que foi aceito, mesmo que um pouco, pelo menor. Apenas como estavam era o suficiente para aquecer seu coração e saber que, mesmo que mínimo, havia algo dentro de Youngjae que gostava dele.
—Como está o jaleco?
Youngjae mordeu os lábios de desviou o olhar. Estava na metade do trabalho devido ao tempo de entrega que demorou alguns dias, mas não queria mostrar ao Jaebum ainda.
—Estou trabalhando nele... Na semana que vem você pode vir buscá-lo pronto.
Jaebum assentiu e se afastou.
—Então eu estou indo. Devo fazer algumas visitas para concluir minha pesquisa. Nos vemos em alguns dias, Youngjae-ah. —ele acenou e partiu.
Youngjae ficou parado, olhando para algum ponto aleatório, enquanto pensava no acontecido, com a mão no peito sentindo o próprio coração bombeando forte e a respiração descompassada.
—Eu o beijei... —ele subiu a mão até os lábios e os tocou, se lembrando da sensação boa da boca de Jaebum pressionando e sugando-a gentilmente.
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Depois daquele dia Youngjae ficou desconcentrado nas atividades diárias. Havia colocado sal na água do café —Bambam cuspiu o café no mesmo instante e retorceu todo o rosto depois de sentir o gosto amargo e salgado—, calçado roupas do lado avesso, notando pela etiqueta apenas horas mais tarde, queimado levemente o fundo do arroz e até cortado o dedo com a tesoura enquanto dava o último ponto no jaleco, o que o levou a usar um pequeno curativo no indicador pelo sangramento abundante (ele sempre ficava chocado o quanto poderia sangrar com um pequeno corte e nunca havia entendido o porquê de um pequeno corte lhe fazer sangrar por horas). Resumidamente ele fazia fotossíntese nos dias que se passaram, quase não se reconhecendo.
O jaleco finalmente ficou pronto. Exatamente uma semana depois do beijo. Youngjae não queria aparentar estar exagerando ou com alguma expectativa, então tomou um banho com um sabonete que havia guardado para uma ocasião especial —ele não queria confessar que estava ansioso— e vestiu uma das poucas roupas legais que tinha, concluindo o cabelo com um creme de rosas que havia ganho de Jude e que raramente usava.
Para seu alívio Jaebum não demorou. Cedo da manhã ele estava lá, lindo como sempre e com um sorriso que quase não cabia em seu rosto, vestido em um sobretudo cor bege e uma calça jeans amarela. Ele se parecia com cara bonito da capital naquele mundo pequeno de Mokpo. O pequeno mundo de Youngjae.
O alfaiate não pôde deixar de sorrir e se sentir feliz pela presença de Jaebum, mesmo que, talvez, eles não se vissem mais após a entrega do jaleco. Afinal, aquele era o motivo deles se verem esporadicamente.
Estava nevando e Youngjae riu ao ver pequenos flocos de neve nos cabelos negros de Jaebum, enquanto ele aparentava confusão pelo sorriso repentino de Youngjae. Ele o achou fofo com as bochechas vermelhas pelo frio e os cabelos com pequenos pontos brancos.
—Do que está rindo?
—Não é nada, apenas pensei em algo engraçado. —negou com a cabeça, se virando de costas para buscar o jaleco guardado no armário. —Ele está pronto. —Youngjae disse, animado.
—Estou ansioso.
—Eu bordei uma rosa no bolso. —disse Youngjae de modo sério, e pressionou os lábios ao ver os olhos arregalados de Jaebum. —É brincadeira.
Jaebum o abriu como uma criança abre um presente de natal, e quando o deixou cair em sua altura, observando-o em sua frente, ele sorriu tão bonito que seus olhos brilharam e Youngjae achou que o viu chorar por um momento.
—Ficou perfeito. —ele murmurou. —Youngjae, tá perfeito.
Youngjae sorriu achando que, de fato, estava muito bom. Branco, limpo e perfeito. E ele quase conseguiu Imaginar em como ficaria em Jaebum.
—Era do meu avô. Ele foi um médico na guerra. Ele usou esse jaleco durante muito tempo. De alguma forma, eu consegui deixá-lo branco novamente, mas Nora o arranhou cruelmente.
Youngjae finalmente entendeu o apreço de Jaebum pelo jaleco que ele achou não ter valor algum. Mas não, era um valor emocional bonito.
Alguns segundos depois Jaebum estendeu um pacote de cor marrom em sua direção. Youngjae já sabia o que era, então o afastou e negou.
—Não posso aceitar. —ele negou continuamente com a cabeça.
Youngjae já havia pensado no quanto Jaebum já o havia ajudado com Yugyeom, pagando suas despesas na viagem e tempo consigo e seus irmãos sem nem cobrar nada. Ele não poderia aceitar o dinheiro de Jaebum. Não mesmo. Aquilo era o mínimo que ele poderia fazer, mesmo que ele precisasse do dinheiro visto que quase todo o dinheiro antecipado que Jaebum o deu tinha sido gasto com o tecido e linhas para o jaleco.
—Youngjae… —Jaebum disse sério, pegando a mão de Youngjae numa tentativa de colocar o pacote em suas mãos.
—Jaebum, eu não...
—Tudo o que eu fiz não possui relação com o seu trabalho. Você não me obrigou a nada… —ele suspirou. —Eu fiz porque eu quis. Ver você sorrir e feliz foi o pagamento, nada mais.
Youngjae o olhou nos olhos, hesitante.
—Eu sei, e eu te agradeço, mas mesmo assim não posso. Eu já me decidi. —disse com convicção, apertando o pacote e o devolvendo contra o peito de Jaebum.
Uma mancha vermelha se fez presente no pacote quando Jaebum o olhou para baixo. Ele procurou por todos os lugares que ele havia sido tocado, inclusive as mãos de Youngjae, onde achou um pequeno band-aid sobre o indicador, que sangrava.
—Você se feriu.
—Ah, sim… Foi uma distração boba e a tesoura me deu um corte ontem à noite.
—…Noite? E ainda sangra?
—É... Bem, há algo estranho sobre mim… —ele riu, coçando os cabelos de um modo que mexeu com Jaebum. —Sempre que eu me machuco eu sangro bastante, às vezes por dias. Jude disse que é porque meu sangue é aguado, mas acho que não existe isso, certo? Minha mãe também era assim.
Jaebum engoliu seco, agarrando o pacote com força. Não. Não era normal e aquilo só havia uma única explicação.
—Me conte mais.
—Uh? —Youngjae estranhou a curiosidade sobre Jaebum por causa de um machucado, mas deu de ombros e começou falar. —Eu não joguei muitos jogos quando pequeno porque eu sempre ficava com hematomas no corpo. Mesmo hoje, se eu bato em algum lugar sempre fico com hematomas grandes. Eu entendi que não podia me machucar, então fui uma criança quieta.
Jaebum concordou, e Youngjae estranhou a expressão de medo em seu rosto.
Jaebum desconfiou que Youngjae tinha uma doença da qual ele sangra por um período muito longo. Que seu sangue não tem a capacidade de estancar um sangramento e então ele perde sangue sem parar. Era uma doença genética rara e grave.
—Entendo, e você nunca procurou um médico?
Youngjae abaixou a cabeça e negou. Ele não seria atendido de qualquer forma então não viu razões para fazê-lo. Apenas levaria de brinde um susto sabendo a data de sua morte.
—Youngjae… Não é normal. Quero que saiba que não é normal você sangrar por tanto tempo assim. Pode... —ele parou, desviou o olhar e voltou a sustentar o olhar curioso de Youngjae. Ele não queria assutá-lo, mas se fosse questão de sua segurança ele deveria falar. Era sobre a vida do homem que ele estava gostando. —Pode ser que você tenha uma doença genética, uma deficiência em fatores do seu sangue que faz com que isso ocorra. —Jaebum disse, observando o sangue que estava fluindo a pelo menos dez minutos do dedo de Youngjae e não fazia menção de parar.
Youngjae poderia entender pouco do que Jaebum lhe dizia, mas sabia que não era normal como Yug ou Bam quando se machucavam brincando e em minutos o sangue estancar. Nem como as outras crianças que conheceu em sua infância, quando sua mãe ainda era viva e seu pai trabalhava como mecânico.
—E se eu procurasse mudaria alguma coisa?
Youngjae fez a pergunta que Jaebum achou uma das mais dolorosas de se responder. Porque não havia uma cura, e muito menos um tratamento até então.
Ele se achou tolo por pensar que em dizer para Youngjae sobre sua suposta doença mudaria alguma coisa. Não haviam descoberto quase nada sobre a hemofilia.
—Você… Prevenção. Você fez isso a vida toda certo? Não se colocar em perigo e evitar coisas que possam te ferir.
—É… Eu fiz porque minha mãe me induziu. Ela tinha o mesmo problema que eu. —disse ele, finalmente olhando para o sangue em suas mãos.
Sangue era algo comum para Youngjae. Mesmo quando criança, ele nunca tinha tido tanto medo do líquido vermelho vivo que vivia se alojando nas camadas de sua pele, lhe deixando repleto de hematomas. Podia-se dizer que havia uma certa afinidade por sangue e que não foi uma criança medonha por este motivo, mas sim por se ferir gravemente. Youngjae nunca se colocou em risco uma vez sequer em sua existência. Sempre viveu protegido, acolhido e quieto num canto enquanto as outras crianças brincavam. Na época ele sofreu, mas hoje ele entendia toda a comoção em cima de seu organismo anormal. Ele poderia ter morrido se fosse ele no lugar de Bam quando ele caiu e quebrou uma perna aos quatro anos. Youngjae era o único a ter herdado a doença de sua mãe de seus dois irmãos.
—Espere um minuto. —Jaebum disse, saindo pela porta deixando a brisa fria entrar no rosto de Youngjae, mas tão rapidamente voltou com uma pequena caixa branca.
Sustentando as mãos de Youngjae, Jaebum lavou o dedo ferido com algum líquido transparente que ele não conhecia e secou com uma gaze, e com uma seca ele cobriu e fechou o ferimento, selando-o com uma fita.
—Tente não forçar muito, pois pode voltar a sangrar.
Youngjae riu baixinho.
—É, obrigado, mas é meio impossível esse pedido... Digo, eu preciso das minhas mãos para sustentar a casa.
—Aceite a segunda parte do pagamento e não tem que se preocupar com isso até cicatrizar. —Jaebum disse enquanto guardava os itens usados no curativo de volta na maleta branca.
—Eu já lidei com machucados piores...
—Eu sei, no entanto eu não estive lá. Hoje, se me permite, eu estou e como médico te proíbo de usar sua mão.
Youngjae arqueou a sobrancelha e riu em seguida.
—Você é engraçado também…
—Também…?
—Além de dar ordens. —ele deu um soco fraco no peito de Jaebum, perdendo o sorriso sutil no mesmo instante. Apenas aquele toque foi capaz de mudar o clima entre ambos.
Youngjae pensou em se afastar, mas a voz suave saindo dos lábios de Jaebum dizendo "Youngjae...", o chamando, o fez estático como uma estátua.
—Eu não posso te obrigar, e nem quero, mas… Pense em você um pouco, nem que apenas hoje. Seja um pouco egoísta. Hoje.
Youngjae não percebeu Jaebum sustentando sua mão enquanto acariciava o dorso dela.
—C-certo, irei ser um egoísta de uma figa. —ele sorriu em conjunto com Jaebum quando de repente e num instante se viu sendo puxado e com o rosto apoiado no tórax de Jaebum e os braços dele ao redor de seu corpo.
Ele podia ouvir os batimentos acelerados em seu ouvido, bem como a pele quente, mesmo que ele estivesse com roupas de inverno o suficiente. Por que Jaebum tinha, assim como Youngjae, o coração acelerado.
—Por isso então, me beija. —pediu Youngjae.
—Com muito prazer.
Youngjae fechou os olhos e sentiu os cílios de Jaebum roçarem suas bochechas.
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Youngjae havia negado para Jude durante todo o tempo, desde que Jaebum entrou em sua vida, quase cinco meses atrás, que havia algo entre ele e Jaebum, mas ela era uma velha esperta e conhecia Youngjae muito bem. “Seus olhos de lontra brilhantes não mente, Jaejae. Você tá caidinho pelo doutor bonitão”, ela dizia.
—Vá, eu cuido dos pirralhos essa noite. —insistia ela para que Youngjae tivesse um encontro com Jaebum sem os irmãos.
—Jude, não posso apenas…
—Você deve. Aliás, tenho um casaco que precisa de uns ajustes —perdi um pouco de peso, você notou?— Não seria de graça de qualquer forma. —ela disse.
—Você só está dizendo isso para me confortar. Eu não quero te dar trabalho, Jude. —ele suspirou. Na verdade ele se via, em boa parte, nervoso só de pensar em sair sozinho com Jaebum.
—Cale a boca moleque e vá tomar banho. —ela deu um tapa na nuca de Youngjae. —Eles estão mortos de sono depois da escola, não vão me dar trabalho algum. —ela garantiu.
Youngjae suspirou pela décima vez, provavelmente, e se rendeu, levantando da mesa.
Ele não sabia onde iriam. Meio óbvio visto que Jaebum gostava de fazer suspense. Mas seria o primeiro encontro deles depois que oficializaram o relacionamento romântico que possuíam, em segredo, claro.
Jaebum era suave, gentil e empático. Ele cuidava de si e sempre esteve perto quando Youngjae tinha algum problema, dúvida ou apenas se sentia solitário. Ele realmente estava levando a sério a parte do "ser egoísta". Quanto mais os dias se passavam, mais Youngjae sentia necessidade de Jaebum, ainda mais quando ele se ausentava por causa da faculdade e ficava alguns dias ausente.
Ajeitando os fios castanhos ele concluiu sua arrumação toda. Estava vestido num jeans branco e um suéter de algodão azul bebê, completando com um Oxford presenteado por Jaebum em seu aniversário alguns meses atrás.
Era quase natal, então algumas casas dos bairros possuíam luzes brilhantes e todo aquele clima natalino. Era bonito, visto de dentro do carro em alta velocidade. Youngjae sentiu que aquela era uma noite especial. Principalmente quando abriu a porta e viu um Jaebum deslumbrante que o fez sentir vergonha. Por sorte Jaebum era bom em aumentar sua confiança ao dizer o quão bonito ele estava também. Mas claro que Youngjae achava seu… Namorado —essa palavra era estranha para si ainda— mais bonito.
Ele não conseguia deixar de sorrir ao ver o perfil do rosto de Jaebum pelo reflexo do vidro, ele era divinamente bonito.
—Você tem um cheiro bom. —disse Jaebum, de repente. —Acho que eu nunca te disse isso, mas agora trancado nesse carro com você eu me lembrei vividamente do quão bom parece.
—Oh… Obrigado. —Youngjae corou fervorosamente. —É apenas sabonete e algo que Jude me deu. —a ponta de seus dedos ficaram brancas quando ele apertou o cinto de segurança contra o peito e ele pensou no quão legal foi Jaebum notar. Ele havia se esforçado para parecer bem.
No caminho, Youngjae descobriu alguns fatos sutis sobre Jaebum, sobre como Kafka à beira-mar era seu livro favorito e ele havia lido e relido seis vezes, ou mais, já Youngjae disse não ter sido muito para livros, mas que seu favorito tinha sido o pequeno príncipe, o primeiro livro que leu e também o primeiro que leu para Bambam. Também notou que Jaebum podia usar as duas mãos, mas que frequentemente usava a esquerda para tudo, menos comer. Ele havia perguntado um pouco sobre sua mãe, mas Jaebum disse ser muito novo quando ela partiu e não ter tantas memórias, apenas se lembrava dos cabelos dela que cheiravam a lavanda, e que seu pai foi o único a estar a cargo de sua educação. Ele não tinha sido forçado a aprender piano e nem a tirar notas perfeitas como uma criança de berço de ouro, seu pai não era desse tipo, mas ainda assim Jaebum foi um aluno exemplar por vontade própria. Ele disse que não tinha tido muitos amigos devido ao seu rosto sério e sua personalidade quieta. Youngjae notou que ele realmente parecia solitário às vezes, ao contrário de si, que mesmo sem os pais possuía os irmãos para conversar e brincarem. A casa dos Choi quase nunca ficava em silêncio com duas crianças, mas Youngjae deduziu que um Jaebum era muito solitário e ele pôde imaginar uma pequena criança sozinha numa mansão.
Foram coisas que soavam superficiais, mas que davam a Youngjae um sentimento de proximidade por saber pequenos fatos da vida de Jaebum.
—Você está muito curioso hoje. —Jaebum disse, fingindo estar incrédulo, e sorriu.
—Bem, você não quer dizer onde estamos indo. Eu devo perguntar sobre outras coisas. —Youngjae retrucou.
Jaebum sorriu quando, finalmente, depois de quase duas horas na estrada, manobrou o carro em frente a uma torre muito alta. Algo que Youngjae havia visto apenas na televisão ou jornais.
—Isso é como Space Needle* versão coreana? —ele tinha o queixo caído em admiração e o olhar em noventa graus para observar a imensidão da torre acima de si. —Ual! Sinceramente, ual!
—É, pode-se dizer que sim. —Jaebum sorriu sem exibir os dentes ao observar a expressão de Youngjae.
Eles entraram com Youngjae ainda com um brilho nos olhos, admirado. Subiram o elevador, o que levou quase um minuto, e saíram de frente para um restaurante em formato de disco voador e incrivelmente alto.
—Eu me sinto um bobo por não parar de sorrir assim… Meus músculos faciais já doem. —ele murmurou quando Jaebum pegou em sua mão e caminhou consigo até uma mesa próxima da janela onde se sentaram e ele pôde visualizar melhor a cidade abaixo de si toda iluminada com os enfeites natalinos e muita neve. —É muito bonito… —ele sussurrou e virou o olhar para Jaebum, que o observava em silêncio, e sentiu sua visão se embaçar no mesmo instante pela emoção toda de ter Jaebum ali num momento que ele soube que, sim, seria inesquecível. —Obrigado.
Jaebum sorriu de volta e acariciou suavemente a pele próxima de seus olhos, o fazendo fechar os cílios úmidos.
—Com fome?
Youngjae pressionou os lábios tentando segurar um riso e assentiu.
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Youngjae nunca havia ficado tão cheio em toda a sua vida. Sua barriga doía tanto que ele mal conseguia respirar quando se deitou na cama e tentou dormir, mas não conseguiu. Seu organismo estava bem desperto tentando absorver toda aquela comida, mas, além disso, era sua mente que não conseguia relaxar.
Era quatro da madrugada e Youngjae nunca havia chegado tão tarde em casa. Mas muita coisa, de alguns meses até os dias atuais, Youngjae não havia feito em quase vinte anos. Jaebum o havia lhe mostrado muito em tão pouco tempo que ele se sentia inundado de tantos sentimentos.
Bam e Yugyeom estavam adormecidos junto com Jude no quarto, Youngjae fez questão de verificar se eles estiverem bem sem ele, mesmo que por algumas horas.
Se lembrando vividamente do encontro, Youngjae se debateu na cama e revirou até que conseguisse dissipar uma certa frustração e vergonha de dentro de si, mas não funcionou.
Youngjae se sentia transbordado, físico e emocionalmente, quase embargado quando entrou no carro, sorrindo e rindo das piadas de Jaebum. Ele não havia bebido nada alcoólico, assim como Jaebum também não, mas ele se sentia como se estivesse embriagado.
No carro, já voltando de viagem, ele acabou adormecendo por algum tempo que ele não soube dizer e acordou em Mokpo. Ele abriu os olhos lentamente, sem que Jaebum notasse, e, cuidadosamente, olhou Jaebum pelos cantos dos olhos e observou uma serenidade em sua expressão em conjunto com um sorriso suave. Para quem ou por que ele estava sorrindo? O que ele estava pensando naquele momento? Youngjae notou, pela incontável vez, o quanto Jaebum era bonito. Seus olhos escuros e a pele pálida em contraste com a luz da lua cheia acima deles na estrada causou uma sensação estranha em seu estômago. Ele o quis naquele momento, mais que os outros que vivenciaram. Ele quis tocar, abraçar e beijar Jaebum ali mesmo, na presença única da lua cheia. Queria que ele parasse o carro para que Youngjae pudesse ser egoísta consigo. No entanto, uma coceira horrível se deu em sua garganta e ele tossiu, quando Jaebum percebeu ele desperto e brincou consigo dizendo que ele havia babado nas próprias roupas enquanto dormia.
Youngjae riu, mas o sentimento semelhante a de um formigamento era presente em seu estômago. Seus lábios secaram, seu coração se acelerou e ele achou demais estar trancado com Jaebum sem uma corrente de ar circular ao redor de si, sufocando-o.
Quando Jaebum parou em frente a sua residência, Youngjae suspirou aliviado, mas um bocado decepcionado por querer algo a mais. De fato, ser egoísta como Jaebum pediu.
—Essa noite foi incrível. —Youngjae preencheu o silêncio depois que o motor foi desligado.
Ambos se olharam fixamente, a respiração acelerada quase perceptível aos ouvidos e um silêncio que dizia mais do que palavras foi o suficiente para toda aquela troca de mensagem silenciosa quando Jaebum respirou fundo uma última vez ao ver os olhos pequenos e cintilantes de Youngjae e sucumbir ao seu desejo, se aproximando de Youngjae, que fez o mesmo com Jaebum levando as mãos aos seus cabelos. Era como um finalmente.
Era como se estivessem desesperados por aquilo. Em menos de um segundo os lábios estavam conectados, exigindo muito de ambos num ósculo desenfreado. Os sentimentos de Youngjae e Jaebum evoluíram muito lentamente, e agora parecia incinerar ambos os corpos com tanta paixão despejada num só beijo. Os dentes se chocavam pela paixão contida desde o primeiro, e único, beijo de meses atrás.
Jaebum sugava os lábios de Youngjae com desejo, suspirando fundo quando nem ao menos se afastavam para pegar fôlego. As mãos fofas e quentes de Youngjae estavam em seus cabelos, acariciando-os, e era tão bom. Youngjae sentia a força que Jaebum fazia sobre si, mas também a delicadeza de seus toques que se iniciaram na pele do seu pescoço, desceram para as laterais de seus braços e ficou ali, segurando-o pelos cotovelos e fazendo com que ele ficasse ainda mais próximo, embora fosse quase impossível pelo espaço apertado no carro.
Youngjae queria mais. E ao buscar mais contato tentou subir no colo de Jaebum, no banco do motorista, e sem querer acabou acionando algum dispositivo que fez o banco cair e Jaebum se deitar. Se não era Deus ao seu favor, quem era? O espaço havia ficado maior e agora Youngjae estava sentado no colo de Jaebum. Antes de voltar ao ponto, Youngjae tomou um tempo observando a expressão de Jaebum: ele tinha os olhos nebulosos e as sobrancelhas juntas, o tórax subindo e descendo rapidamente.
"Oh" Youngjae pensou vendo os cabelos bagunçados "Jaebum é quente", e voltou a beijá-lo, inclinando-se até os lábios dele ouvindo um breve murmúrio de Jaebum amaldiçoando alguma coisa.
Jaebum pousou a mão na cintura de Youngjae e outra na bochecha enquanto o beijava. Ele não poderia imaginar que Youngjae não ficaria apenas num beijo suave, ao invés da bagunça que estavam fazendo. E ele amou cada segundo. Ele amava Youngjae.
Em dado momento Youngjae movimentou o quadril de maneira inconsciente pressionando Jaebum abaixo de si, que grunhiu e trancou a respiração. Ele já estava totalmente duro que chegou a ser dolorido. Mas justamente por amar Youngjae ele se afastou, com muita dificuldade, talvez uma das coisas mais difíceis que ele fez, ele empurrou Youngjae suavemente para longe de si, com medo de perder o controle e fazer algo ali, no carro sujo e em vista de todos, com a pessoa que mais amava. Ver a expressão confusa de Youngjae doeu, mas ele entendia ser a melhor maneira.
—Foi realmente uma noite incrível e eu espero poder ter milhares delas com você, Sol.
Youngjae limpou o canto dos lábios e saiu do colo de Jaebum, sorrindo.
—Sol?
—É, você é mais brilhante que um sol que possa me cegar. —ele respirou fundo e levantou o banco novamente, ajeitando o casaco amassado com as mãos.
—Você deveria ser escritor, não médico, embora você faça muito bem ambos os papéis. —Youngjae disse, ajeitando os cabelos bagunçados. —Você sempre me diz coisas bonitas.
—É porque você me inspira. —ele piscou para Youngjae e deixou um beijo suave em sua bochecha, se despedindo. —Obrigado, eu me diverti.
E portanto essa noite tinha tido um total de eventos que tirou o sono de Youngjae naquele dia.
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Youngjae não tinha um contato tão próximo de Jaebum enquanto ele se encontrava longe, em sua cidade natal, trabalhando. O alfaiate não possuía um telefone, então cartas era o modo mais fácil de se comunicar, porém demorado e um bocado torturante. Ele escrevia, em suma, sobre seus trabalhos recentes de costura e alguns bordados novos que ele estava aprendendo em vestidos de noiva. E contou sobre estar aprendendo tricô e estar se saindo bem vendendo alguns cachecóis, blusas de lã em tricô, toucas e luvas de inverno.
Yugyeom estava se saindo bem na escola, aprendendo a ler e escrever. Era um desafio entre Bambam e o mais novo sobre quem lia mais rápido qualquer notícia no jornal todas as manhãs na mesa do café. Youngjae se sentia feliz vendo que estava conseguindo comidas saudáveis na mesa para seus irmãos.
Tudo parecia bem.
Mas nem tudo estava tão bem.
Do outro lado Jaebum estava exausto. E havia perdido, no mínimo, quase cinco quilos em menos de um mês devido aos trabalhos e pesquisas de faculdade. Ele mal conseguia dormir três horas por dia, consumado pelas tarefas. Ele sabia desde sempre que ser médico não era uma tarefa fácil, que exigiria quase a sua alma em troca de algo gratificante como ajudar vidas. Mas céus, estava sendo muito para si que seu corpo estava quase à beira de um colapso.
As cartas de Youngjae acalentavam seu coração e ele podia sentir o peso de suas costas se aliviar quando lia e relia a caligrafia cuidadosa de Youngjae. Ele sentia falta do toque e da voz agitada e alta do seu Sol, era como se ele estivesse abaixo de uma nuvem negra e depressiva. E ele se sentia triste colocando seus sentimentos no papel, ao invés de fazer isso pessoalmente. Mas ele não podia. Não ainda. Jaebum tentava imaginar as expressões de Youngjae ao ler sua carta. Como ele se sentiria? Feliz e amado? Jaebum torcia para que sim.
Fazia pouco mais de um mês desde o último encontro e Youngjae não via uma maneira de encontrar Jaebum sem se envergonhar loucamente pelos sonhos quentes que teve durante os primeiros dias após o jantar. Porque finalmente ele viria para encontrar Youngjae.
Youngjae arrumou a casa com decorações natalinas visto que no dia seguinte era natal. Comprou um peru e preparou ele mesmo, assando-o no forno a lenha, como também comprou barras de chocolates para fazer biscoitos em formatos de rena.
Yugyeom e Bambam ficaram em cima dele, na cozinha, durante o dia todo, animados pela ideia de uma rena de chocolate. Eles rasparam os potes e ajudaram na limpeza dos utensílios, lavando as louças.
Já estava anoitecendo e nada de Jaebum aparecer. O peru já havia sido tirado do forno e a mesa estava pronta. As crianças estavam agitadas na sala, aguardando. Seria completamente normal se não passasse mais duras horas e nada. Nenhum som da Mercedez se aproximando. Youngjae estava ficando ansioso e preocupado.
Ele chorou. Chorou porque agora já era natal e Jaebum não tinha aparecido. Ele fingiu comer com seus irmãos em silêncio, notando alguns minutos depois que eles estavam lhe olhando com pena e tentou animá-los, sem muito sucesso. Eles notaram sua tristeza.
Mas exatamente vinte minutos depois da meia-noite o som do carro surgiu no silêncio de Mokpo, alertando Youngjae. Ele correu até a porta de entrada, sorrindo, mas com as bochechas úmidas pelas lágrimas. Seu sorriso murchou quando ele viu o carro amassado e um Jaebum andando em sua direção com a testa ferida.
—Jaebomie… O que… Deus!? —ele correu somente com suas pantufas surradas na terra suja misturada com flocos de neve, aos trôpegos.
—Sol… —ele sorriu, mas parecia um sorriso triste. —Feliz natal, e desculpe-me pelo atraso. —terminou abraçando Youngjae e enfiando o rosto em seu pescoço, finalmente respirando fundo ao sentir o aroma doce e familiar.
—Por que você...? —ele se afastou e segurou o rosto de Jaebum com ambas as mãos. —Você está sangrando.
—No caminho, acabei desviando de um carneiro que atravessava a estrada e bati no acostamento. Não foi nada demais, mas o animal não sobreviveu... Eu o arrastei para fora da estrada, por isso essa sujeira e o sangue. Não se preocupe.
Youngjae notou que Jaebum parecia mais magro, com olheiras e cansado. Ele tinha lhe dito por carta que aquelas semanas tinham lhe tirado muita energia, mas Youngjae não conseguiu mensurar a gravidade da situação até vê-lo pessoalmente. —Me chame novamente… —Jaebum disse, fazendo Youngjae juntar as sobrancelhas em confusos. —Jaebomie.
Youngjae sentiu o rosto aquecer e ele soube que se parecia com um tomate agora. Batendo levemente no peito de Jaebum, ele pegou sua mão e o trouxe para dentro.
—Sinto muito pelo peru ter essa aparência horrível, mas os meninos estavam famintos...
—Parece ótimo, e eu estou com muita fome… —ele sorriu, observando toda a decoração da pequena casa. —Você comeu?
Youngjae negou e Jaebum entendeu. Ele estava o esperando para comerem juntos. Youngjae não desistiu dele e optou por não comer sozinho. Jaebum se sentiu mal por fazê-lo esperar.
—Obrigado, Youngjae.
Youngjae limpou a ferida de Jaebum e em seguida foram jantar. Eles comeram em silêncio, trocando alguns olhares de vez ou outra.
Youngjae tinha ficado preocupado sobre como encarar Jaebum pessoalmente depois daquele dia, mas inesperadamente ele se viu descontraído em sua presença depois de passar o susto ao vê-lo sangrando. Eles estavam bem.
De repente, Youngjae se sentiu confortável e deduziu ser o momento certo para dizer o que realmente sentia. Ele não sabia e nem fazia ideia de como Jaebum poderia reagir, mas ele teve confiança ao abrir a boca e proferir palavras firmes e verdadeiras. Principalmente depois de Jaebum acariciar sua mão que estava sobre a mesa e sorrir lindamente para si.
Ele respirou fundo.
—Eu o amo, Jaebum. —ele sentia sua voz falhar e seu coração bater forte, mas continuou. —Você foi uma das melhores coisas que eu pude ter em toda a minha vida. Você me ensinou muita coisa, me fez pensar em mim e sobre o que eu quero. Você me ajudou quando ninguém ao menos tentou, e eu sequer te pedi isso. Você é bondoso e merece o melhor, eu torço por você. —as palavras foram saindo sem que Youngjae pensasse muito. —Por isso, eu o amo.
Jaebum o encarava fixamente, quase sem piscar. Ele engoliu em seco e fechou os olhos, os abrindo em seguida onde Youngjae viu lágrimas quase transbordarem deles.
—Eu o amo tanto que sinto que nunca é o suficiente de você. Eu me sinto egoísta sobre você, e eu quero saber tudo de você. Verdadeiramente eu não entendo como as pessoas te deixaram assim, à deriva. Você merece muito, muito mais do que eu posso te dar…
—Não... —Youngjae o interrompeu. —Não diga assim… Você é o suficiente. Não se menospreze.
Jaebum sorriu e pareceu pensativo.
—Eu andei procurando algumas casas em Mokpo, você sabe, a cidade não é tão pequena assim e não me soa mal a ideia de residir aqui.
Youngjae travou, surpreso.
—Você quer morar comigo? Digo, vocês... —Jaebum tinha uma voz tão baixa que o entregava estar inseguro sobre a decisão de Youngjae. Ele tremia e respirava rapidamente.
Ele notou o silêncio da sala, mas antes que erguesse o olhar para verificar Youngjae ele se surpreendeu quando o menor estava em pé e o puxando para ficar em sua altura.
—Eu quero... Eu quero você. —eles estavam próximos
—Oh! Sinto que meu coração vai explodir agora. —Jaebum deixou os ombros caírem e desceu o olhar para os lábios de Youngjae.
Youngjae sorriu.
—Digo o mesmo. —ele pegou as mãos de Jaebum e colocaram sobre seu peito. —Mas, felizmente, meu namorado é médico. —ele piscou e selou o lábio nos de Jaebum rapidamente. —Agora as renas de chocolate!
—Mas antes… —Jaebum o segurou na posição que estavam e retirou uma caixinha preta do bolso.
Youngjae mordeu os lábios, curioso.
—Para oficializar. —Jaebum abriu e lá dentro Youngjae viu duas alianças pratas, finas e delicadas.
—Oh Deus! É sério?
—Totalmente.
—São lindas…
Jaebum colocou a menor no dedo anelar de Youngjae, e este fez o mesmo em Jaebum.
—Vocês estão se casando?
Yugyeom apareceu na porta, coçando os olhos.
—Ah, eu, nós… —Youngjae entrou em pane e Jaebum fez apenas rir.
—Quase Yugyeom, quase…
Youngjae abaixou a cabeça e Jaebum o abraçou, piscando para Yugyeom.
Eles ficaria bem, apesar de tudo.
Merci pour la lecture!
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