u15514544731551454473 Luiz Fabrício Mendes

Séculos no futuro, a “Contagem Final” tornou a Terra inabitável. A humanidade migrou às luas de Júpiter, vivendo sob a rígida teocracia do Novo Vaticano. Enquanto rebeldes lutam contra a opressão religiosa, misteriosas pessoas chagadas denominadas “Estigmatas” nascem pelo Sistema Solar. Beatrice e Lucio, após uma arriscada missão para salvar um deles, descobrirão se tais indivíduos podem ser a salvação – ou perdição – do universo como o conhecemos.


Science fiction Déconseillé aux moins de 13 ans.

#resistência #Rebelião #Teocracia #religião #Luas #star-wars #space-opera #espaço #Evangelho #Bíblia #distopia #futuro #Júpiter #Vaticano #Catolicismo #igreja #Cristo #jesus #yaoi #lgbt #gay
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Prólogo

Estigmas


NOTA DO AUTOR: Esta é uma obra de ficção, que utiliza o simbolismo judaico-cristão e elementos de seu conjunto de crenças para a construção da narrativa. O intuito não é ofender fiéis das referidas religiões, tampouco ridicularizar suas crenças. Se isso ainda assim for capaz de ofendê-lo(a), recomenda-se abandonar a leitura aqui.


Prólogo


Beatrice respirou fundo, inserindo mais um dardo na besta.

Conforme avançou a passos cheios de cálculo na direção do cadáver, agora com a parte de trás do pescoço banhada em sangue devido à seta ter destroçado sua jugular, lembrou-se das palavras que há muito havia ouvido, mas que ainda mantinha vivas em sua mente: "A besta é a arma perfeita para você, tão silenciosa quanto a dona".

Ela sempre fora discreta, quando criança entrando escondida na cozinha do avô na ponta dos pés para roubar biscoitos de shoyu ou ficar conectada na rede planetária até depois da hora de dormir. Nisso se assemelhara muito à gata da casa, Nix, negra como o céu – e capaz de surgir inesperadamente em qualquer lugar e em qualquer momento. Agora ela utilizava o benefício da cautela para eliminar pessoas e se infiltrar despercebida em locais proibidos – fazendo-a se perguntar se o avô ficaria orgulhoso ou não de si. Ela julgava sua causa nobre, ainda que os métodos fossem questionáveis.

Aliás, não vinha sendo difícil passar silenciosa pelos sentidos de seus inimigos, já que todos aparentavam se tornar mais surdos desde que os seres humanos haviam emigrado – inclusive ela mesma. Como dizia o velho ditado: No espaço nada se ouve. Nem mesmo o seu lamento.

Perguntando-se por que pensava a respeito de tais coisas e desejando voltar a se focar na missão, a jovem de longos cabelos loiros e lisos – vestindo um traje tático negro collant com um coldre preso ao cinto e botas de fibra plástica – abaixou-se junto ao cadáver que fizera em meio ao corredor iluminado por fortes lâmpadas brancas.

Um Acólito, como ela logo constatou ao virá-lo para cima – observando a farda branca e o broche metálico em formato de cruz pendurado à direita de seu tórax, junto a uma pequena estrela na base. Julgou promissor. Começou a revistar seus bolsos com uma das mãos enluvadas, imaginando se o religioso pensaria em trair seus votos se fosse apalpado daquela maneira ainda vivo. Puxou uma das pálpebras fechadas do sujeito, verificando seu globo ocular em perfeito estado por baixo.

Bingo!

Levando as mãos ao cinto, Beatrice apanhou dois objetos metálicos: um em forma de cilindro e outro constituído de uma haste que se expandia na direção de uma das extremidades, lembrando um desentupidor. Juntou os dois num som pressurizado, a haste dentro do cilindro – e, após se esforçar por um instante para manter o olho do morto aberto com uma mão, usou a outra para posicionar um dos lados do tubo sobre a cavidade, pressionando uma pequena alavanca...

Num breve ruído de sucção, o globo ocular inteiro do morto subiu pelo cilindro, feito um peixe branco e balofo nadando ao alto de um aquário. Um fio de sangue escorria pelo buraco aberto no crânio do Acólito, enquanto a jovem abria o cilindro pela outra extremidade e apanhava o olho pelo nervo óptico, preso a ele feito um cordão vermelho.

Virou-se para a porta mais próxima, conduzindo ao Setor 27 das instalações, de acordo com o mapa preparado por Lucio – se estivesse correto. Só espero que a segurança desse lugar seja desleixada como nos outros setores até aqui... – Beatrice pensou, aproximando-se lentamente da entrada com o trunfo em seus dedos. – Se o desligamento da gravidade artificial fizer parte dos protocolos de alerta, será o fim... E ela já estava caminhando normalmente pelos corredores há bons minutos. Ao menos não ousariam desativar o sistema de aquecimento. Todos – perseguidores e intrusa – morreriam de frio, e ela deixara seu traje de superfície escondido bons andares acima para conseguir reavê-lo antes de virar picolé.

No metal da porta estavam gravados o nome e o símbolo da antiga Europe Mining Co. – o Novo Vaticano tendo mantido a antiga estrutura do complexo exatamente como era, mesmo depois de mudar os nomes das quatro luas de Júpiter – agora "Iessu" – por considerá-los "heresia pagã", transformando "Europa" em "Lucas", gravitando em torno do gigante gasoso junto com os outros três evangelistas. A marca do passado até fazia sentido: o local devia passar por esquecido, assim como as pessoas ali trancafiadas.

Beatrice levou o globo ocular até o painel ligeiramente enferrujado junto à porta, apenas um fino fio de luz vermelha no visor revelando ainda estar operacional. A retina foi lida numa fração de segundo, enquanto o mecanismo emitia um som pesado, logo depois deslizando para a direita, exalando forte cheiro de ozônio. Do outro lado, a luz praticamente inexistia – as pupilas da invasora precisando de alguns instantes para se adaptar. Isso, no entanto, não chegou nem perto de tolher sua coragem: atirou o olho longe feito uma bola de ping-pong e prosseguiu sem tardar, a besta novamente em mãos.

O ambiente era cavernoso, aberto em rocha nua, com paredes irregulares e ásperas. Conforme o adentrou, Beatrice percebeu algumas antigas lâmpadas de claridade amarela penduradas em alguns pontos pelo caminho, compondo única fonte de luz. O complexo devia ser mesmo anterior à Contagem Final, a julgar pelo toque ingênuo e o otimismo que ainda aparentava pairar no ar. Continuou seguindo em silêncio através do chão de terra batida conforme tentava identificar o que havia adiante. E, ao primeiro vislumbre do que se tratava, passou a temer pelo pior.

A garota de vestido branco e límpido estava de pé no centro da sala, mãos e pés presos por correntes magnéticas ligadas às paredes de rocha ao redor, os membros esticados em cruz numa posição que deveria causar dor e dificultar a respiração – mas a menina, de olhos fechados e em profundo silêncio, não parecia sentir; ou se cansara de lutar. Os cabelos empapados, de tom branco-azulado, estavam colados ao seu pescoço e ombros, o rosto ainda infantil apresentando hematomas e cortes. O halo de luz projetado do teto sobre ela parecia fazê-la flutuar, numa sádica impressão de claridade enviada do Céu. Beatrice fitou-lhe as mãos, as palmas dominadas por ferimentos profundos e cobertos de sangue seco. Baixou o olhar aos pés descalços. O padrão se repetia.

Uma Estigmata, parte do grupo tão perseguido pelo Novo Vaticano. Exterminados pelas tropas de Acólitos tão logo eram descobertos. Por meses ela e Lucio haviam conjecturado o que poderia estar sendo escondido naquelas instalações. Agora Beatrice não tinha tanta certeza se gostara de saber.

A mão esquerda desceu de novo ao cinto, a direita segurando a besta. Os dedos procuraram a faca isolante, querendo romper aquelas correntes o mais rápido possível. Já que seria aquela menina quem deveria ser tirada dali, Beatrice ao menos desejava que terminasse rápido...

A ação foi tão súbita que seu coração quase estourou, a faca escapando-lhe da mão num estalo mais barulhento do que poderia querer, a besta só permanecendo em seu outro punho devido aos anos de treinamento. Diante de si, a menina com os olhos recém-abertos dominava sua visão, as íris em tom avermelhado encarando-lhe a própria alma. Seu rosto estava de repente a poucos centímetros do dela; e sua mão vazia segurada por ambas as mãos da garota, misteriosamente livres das correntes.

Julgando-se de algum modo hipnotizada, corpo completamente estático, Beatrice só conseguia acompanhar com o olhar os movimentos da prisioneira. Arrancando-lhe a luva e em seguida tateando sua palma como uma quiromante, a textura áspera das chagas resvalando de quando em quando em sua pele, a menina exalava inocência e ameaça. Quando a dor pungente despertou no centro de sua mão, a guerreira não se conteve e gritou.

– Você é uma de nós... – a menina afirmou em tom infantil, os dedos continuando a passear pela palma de Beatrice enquanto ela irrompia em sangue, uma grande ferida nascendo na carne e atravessando-a até despontar nas costas da mão. – Só estava adormecida. Agora ficaremos juntas!

Beatrice continuava a berrar, por mais que sua experiência lhe alertasse a parar, sabendo que atrairia mais Acólitos até ali. Seus instintos, entretanto, não queriam acatar a ordem. A visão turvou-se, o corpo perdendo as forças enquanto sangue continuava a jorrar de sua mão lacerada feito um chafariz... e, quando finalmente a garota soltou-a, a invasora caiu para trás, tudo se apagando quando a nuca colidiu com o chão.

14 Juillet 2019 02:50:44 12 Rapport Incorporer Suivre l’histoire
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Willian Coutinho Willian Coutinho
Eae. Cara você escreve bem. Só estou confuso em como posso te dizer isso. Em algumas partes eu precisei ler mais de uma vez pra realmente entender. Não é que estava mal detalhado. Hm... talvez tinha tanto detalhe, ou a forma como foi detalhado, não sei, mas me deu várias ideias que no final não era a cena que talvez você queria. Por exemplo, na parte da Estigmata. Eu havia entendido que ela estava no centro da sala, mas aí na descrição seguinte fala que ela estava com pés e mãos presos na parede. Aí a cena, na minha cabeça, mudou para ela presa na parede, não mais no centro. Isso foi quebrado de novo quando a descrição da luz toca ela no centro da sala. Isso me fez pensar "ué, ela não tava presa na parede?". Mas fico meio pensativo porque as outras pessoas que comentaram falaram que foi fácil de entender. Bem, cada um é cada um não é?
July 08, 2021, 17:27

  • Willian Coutinho Willian Coutinho
    Relaxa eu só achei engraçado, não levei na ofensiva não. Se está tudo bem pra você fazer essa troca de escrita, mudar o seu jeito de escritor. Só vai. July 11, 2021, 12:34
  • Luiz Fabrício Mendes Luiz Fabrício Mendes
    Não foi intenção ofender. Foi mais atestar um fato de hoje muita gente procurar escrita mais objetiva. Estou pensando em deixar tudo mais enxuto. Evita esse tipo de ambiguidade. July 11, 2021, 02:32
  • Willian Coutinho Willian Coutinho
    Ehashuash, olha que audácia, me chamou de burro ehehe. Me senti o Vegeta "eu tento ajudar e ainda sou humilhado" July 08, 2021, 23:14
  • Luiz Fabrício Mendes Luiz Fabrício Mendes
    Havia uma seção de parede ao centro do lugar, hauahauhaua! Mas enfim, eu já sinto há algum tempo que minha escrita não se comunica bem mais com leitores mais jovens. Preciso deixar as coisas bem explícitas e sem muito espaço a interpretação. Pode ser que seja isso. July 08, 2021, 21:58
Verônica Ashcar Verônica Ashcar
Olá, primeiro que agradecer pelo tema da história, sou meio suspeita, contudo amo mitologias sejam elas quais forem e por estudar Cabalah gostei mais ainda do tema da história. Nossa as cenas do primeiro capítulo são de prender o fôlego, muito bem escritas e a narrativa nos guia de maneira fácil até o final do capítulo. Simplesmente maravilhoso! Continuarei aqui! 💚💚💚💚
March 29, 2021, 18:36

  • Luiz Fabrício Mendes Luiz Fabrício Mendes
    Olá! Muito obrigado por ler e comentar :) Que legal você estar inteirada nos temas do enredo, hehe! E bom que a leitura fluiu bem e curtiu. Espero que continue gostando da trama e dos temas abordados. Valeu, abraços. March 29, 2021, 18:54
Isís Marchetti Isís Marchetti
Olá, tudo bem? Faço parte do Sistema de Verificação e venho lhe parabenizar pela Verificação da sua história. Ah, que prazer poder me encontrar com uma história sua mais uma vez! O mais engraçado de tudo é poder me maravilhar com mais um texto bem elaborado e uma ideia fantástica novamente. Bom, apesar de ser uma pessoa "religiosa" eu não sou nenhuma fanática e acho muito legal a ideia de explorar e até mesmo modificar uma crença, porque assim talvez possa passar a fazer mais sentido do que de outra maneira, eu mais uma vez me enrolo toda com as minhas explicações, mas espero que você consiga entender o que eu quis dizer. A coesão e a estrutura da sua história estão magníficas, você explica tão bem a ambientação e tudo que compõe o cenário em si de uma forma tão bem elaborada que não deixa espaço para o desentendimento, ajudando a sim a fluir tudo com certa precisão e perfeição. A sinopse está ótima também, logo no começo ela já me deixou várias impressões e curiosa para saber o que eu iria encontrar nos capítulos a seguir. Quanto aos personagens, a Beatrice se mostrou um verdadeiro mistério, apesar dela parecer uma pessoa focada e objetiva, quando a primeira interação dela com a Estigmata ocorreu, ficou nítido para mim que tem muitas coisas sobre si mesma que Bea não faz ideia, ou que talvez ela não queria que Lucio ou qualquer outro saiba. Já o Lucio ainda vai demorar um pouquinho para ter uma opinião formada sobre ele, espero que ele ganhe um pouco mais de espaço na história para que eu possa descobrir o mistério que o envolve. Quanto a ambientação, mais uma vez queria elogiar você sobre as descrições dadas, o cenário ficou tão fácil para entender, assim como as lutas e as fugas, tudo tão bem detalhado e rico nos detalhes. Isso foi um positivo enorme na minha opinião, e foi um dos grandes pontos que cresceu em mim e por isso agora não consegue deixar a história de lado. Vou com certeza aguardar ansiosa pelo término. Desejo a você sucesso e tudo de bom! Abraços.
June 26, 2020, 18:33

  • Luiz Fabrício Mendes Luiz Fabrício Mendes
    Olá novamente! Fico contente por ter vindo ler mais um texto meu :) Que bom você ter essa cabeça mais aberta e conseguir ler algo que aborde religião de uma forma menos usual sem problemas. Eu entendi o que quis dizer, hehe! E achei bacana. Adorei saber que está acompanhando e que o enredo te fisgou assim. Eu sempre tento ser bem visual e coeso nas descrições para o leitor conseguir imaginar bem o espaço e a ação, principalmente em histórias se passando em cenários bem diferentes do nosso mundo, então curti você ter gostado disso. A Bea é bem complexa. E o que aconteceu no primeiro encontro com a Estigmata é só a ponta do iceberg, hauahaua! A menina mesmo tem muito a revelar. O interessante é que descobrir mais sobre elas aos poucos revela mais sobre todo o universo em si, hehe. O Lucio ganha espaço sim, assim como outros personagens que ainda aparecerão. Espero que goste deles. Espero que continue gostando e as impressões sigam positivas. Pode comentar à vontade o que gostar ou o que achar que poderia ser melhorado. Abraços, sucesso igualmente! Valeu. June 26, 2020, 22:54
Henrique Simeon Henrique Simeon
Genial! Amei os conceitos iniciais. Gosto dessa desconstrução dos conceitos cristãos. Fico fascinado. Em algumas partes da leitura me peguei meio confuso, tive que reler algumas vezes pra compreender o que estava acontecendo, mas no geral estava tudo muito fluido e interessante. Espero saber mais sobre a Beatrice e a Estigmata.
July 16, 2019, 21:37

  • Luiz Fabrício Mendes Luiz Fabrício Mendes
    Muito obrigado por ler e comentar :) A ideia é construir uma space opera usando de licença poética com os dogmas religiosos, hehe. Valeu pelo toque, espero que as próximas partes sejam todas de clara compreensão - às vezes me perco na elaboração das cenas. Postarei regularmente, espero que continue lendo e gostando. Abraços. July 17, 2019, 00:27
~

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