Lincer olhava para o horizonte ansioso, seus grandes olhos azuis refletiam os danos da batalha recém conquistada, o cheiro da carne queimada ardia suas narinas e o canto dos corvos davam o tom ao momento.
- Eles estão chegando meu Rei - O batedor o informou - Até ao pôr do sol eles já devem estar aqui.
- Ótimo, pode se retirar - Lincer agradeceu de forma discreta e o dispensou, sentiu seu coração pular em seu peito. Depois da grande batalha pelas Terras Sombrias, mal via a hora de descansar em seu novo castelo em Tenebris. A paisagem do lugar era peculiar, mas tinha sim sua beleza, o mar cinza a sua esquerda coberto pela serração, um sol tímido e frio, porém o que mais o impressionava era a terra, completamente preta, seu contraste com a vegetação verde e com as águas claras do oceano formavam uma visão deslumbrante. Quando o sol se escondeu por completo, uma carruagem apontou no horizonte negro, Lincer estava inquieto, sentia sua palma suar dentro das luvas a medida que o veículo se aproximava. A carruagem estacionou no grande pátio do castelo, suas portas abriram e três crianças, correram gritando em direção aos braços do pai.
- Esta é nossa nova casa! - Ele apontou para o grande castelo de marfim, de dentro da carruagem também saiu um mulher, linda com longos cabelos dourados.
- É maravilhoso! - Ela exclamou encantada, se aproximando do rei e o cumprimentando com um beijo delicado. - Senti, sua falta.
- Eu também - Eles se abraçaram por um longo tempo e depois Lincer os guiou para dentro. - Vamos! Temos um banquete a nossa espera.
Eles partiram para o grande salão, o lugar passava por reformas e ainda fedia a cadáver, as criadas se esforçavam para limpar o sangue das paredes e do chão, a batalha ali não fora nada gloriosa. Mas nada disso importava, músicas eram cantadas, a comida era servida e o seu povo celebrava a grande vitória sobre os Tenebrios.
- Vida longa ao Rei Lincer Scalange! - Eles brindaram, levantando suas taças de vinho e gritando honrarias ao novo líder. Ele nunca se sentiu tão vivo, sua família e amigos vieram de longe para celebrar um novo começo, pode contemplar o sorriso de sua esposa Mirella, que não contia sua felicidade parte por ter sobrevivido ao caos da guerra e parte por ter conquistado o que sempre quiseram uma terra só deles. Na grande mesa também estava seu irmão Lionel bebendo e saboreando seu jantar, e seus filhos, o mais velho Marek que contava histórias de terror e ria enquanto as duas menores, Mellie e Morgan pareciam mais assustadas.
- O que você está fazendo? - O rei perguntou ao seu filho, ele pareceu não se importar com o tom sério do pai.
- Só estou contado a elas sobre a lenda do fantasma de Tenebris que assombra esse castelo - Ele disse, imitando um fantasma.
- Não seja ridículo! Não existe tal coisa - Lincer o repreendeu imediatamente.
- Ele tem razão, não seja ridículo Marek - Lionel concordou com o irmão - Todos nós sabemos que não é o fantasma e sim a fantasma.
- É uma garota? - As três crianças perguntaram juntas. Lionel acenou com a cabeça engolindo seu vinho na tentativa de desviar do olhar raivoso do irmão.
- Não existe nenhum fantasma! - Ele gritou, e todo salão parou por um segundo.
- A lenda é real! - Uma criada que estava limpando a grande mesa sussurrou - Ela ficou tanto tempo trancada no calabouço do castelo, alguns dizem que o pai a matou outros falam que ela simplesmente foi esquecida até sua morte, mas o que todos sabem é que a noite ela sempre voltava para atormentar os vivos!
- Já chega! - A rainha exclamou vendo que seus filhos estavam realmente assustados - Hora de ir para a cama, e você criada, fale apenas quando for permitido.
A criada se desculpou e saiu logo em seguida. Mellie, a mais nova pediu ao pai que ficasse com ela pela noite, ele a acalmou dizendo que ao fim do banquete dormiria ao seu lado.
- Essa história é verdadeira? - Mirella perguntou discretamente ao marido.
- Não se apavore, mas há duas noites nossos guardas encontraram um quarto bem abaixo do castelo, havia uma jovem dentro ela estava morrendo. - Ele disse, percebendo o espanto da mulher, tentou tranquilizá-la - Hoje pela manhã fui informado que ela morreu.
- Você a tirou de lá? A enterrou? - Ela perguntou aflita.
- Ninguém parece saber onde está a chave e a porta é impossível de ser derrubada, existe uma poderosa magia a selando - Lincer informou. - Não se preocupe, eu vou dar um jeito pela manhã.
Já era quase meio dia, quando Lincer finalmente teve coragem de descer ao porão do castelo, sua mulher estava o "incentivando" a manhã toda. Mas o temor de não saber como resolver essa situação sem chamar atenção dos curiosos, estava o deixando louco. Ele tomou uma tocha e seguiu para a área leste do castelo, um dos criados antigos o orientou dizendo que haveria uma porta no chão e por ela, uma escada espiralada o guiaria para as profundezas do subterrâneo. Demorou quase duas horas para que ele encontrasse a porta e chegasse ao fim da escada, o que deu muito tempo para ele pensar. "O que alguém poderia ter feito de tão ruim, para ser preso em um lugar tão distante e solitário." Lincer se deparou com um longo e frio corredor, as paredes ao seu redor estavam cobertas por mofo e a maresia havia corroído tudo o que podia, inclusive a última porta que já era pura ferrugem , mas mesmo assim nenhum de seus soldados conseguiram derrubá-la. O eco de seus passos foram ficando mais altos e sua ansiedade cada vez mais insuportável, havia uma pequena janela ao centro da porta, ele a empurrou, e o rangido que ela fez irritou seu ouvido.
Um feixe de luz deixava o local um pouco menos escuro, e assim ele pode ver a sombra da moça sem vida, ela estava sentada de maneira desajeitada na cama, não estava inchada nem fedendo. Eu poderia deixá-la aqui, e ordenar para que ninguém descesse. Não, não funcionaria alguém iria saber. Eu poderia incendiar o local não iria fazer diferença alguma e creio que nenhuma pessoa reclamaria pelo corpo. Lincer ponderou em sua mente e decidiu queimar o quarto, pegou uma das tochas apagadas do corredor acendeu-a, esticou seu braço e o atravessou pela janela, mas antes que pudesse soltar algo o segurou, Lincer se assustou ao ver que o corpo não estava mais lá.
- Então você é aquele que eles chamam de Rei? - A jovem perguntou com uma voz doce quase sedutora. O homem gritou puxando o braço de volta e se afastou da porta assustado.
- Eles... Eles... disseram que tinha morrido... Eu vi... - Seu coração pulava em seu peito, sua respiração estava ofegante.
- De fato eu morri. - Ela suspirou, seus olhos eram cinzas e seu rosto pálido e o cabelo mesclava com as sombras. - Mas pensar no fato de você estar vivendo em minha casa com sua família, depois de tudo o que você fez... Nem os Deuses conseguiram aturar a minha ira.
- Quem é você? - Lincer perguntou em choque.
- Eu sou aquela que irá trazer a noite, a morte, a tristeza e quando amanhecer você terá se arrependido amargamente de ter declarado guerra ao meu povo! - A jovem afirmou convicta de sua vingança.
- Eu ganhei a guerra, conquistei com sangue e suor! Não ouse tentar tirar de mim! - O homem se aproximou irritado. - Você não tem ideia do que eu sou capaz.
- Você não ganhou nada, eu estava lá, você perdeu as duas batalhas que travou e na terceira... - Ela se interrompeu - Você não passa de uma cobra covarde, envenenando a mente das pessoas até que eles se tornem seus fantoches.
- Não me importo com os meios, desde que os fins me favoreçam - Lincer sorriu a provocando. - Me diga quem é você?
- Eu sou a filha bastarda do Rei Christoph O'gore - Ela se divertiu ao ver a preocupação se formar no rosto do homem. - Sim, você sabe quem eu sou e sabe do que Eu sou capaz!
- Por favor, a minha família... Eles não tem culpa - Ele tentou os defender.
- Você acha que eu me importo? Eu morri e voltei com apenas um objetivo... - Sua voz se tornou sombria e temível - Você se verá impotente, pois nada do que fizer poderá impedir o que virá a acontecer, vai sentir o que eu senti, vai chorar o que eu chorei e vai sofrer o que eu sofri. E então somente então, eu irei matá-lo.
- Minha família... - Ele pediu quase chorando.
- Sim, você deveria retornar a eles e aproveitar o resto do dia juntos... Pois logo irá anoitecer.
Lincer tentou disfarçar seu temor com descrença, mas ao ver os olhos da jovem se transformarem em preto por completo ele se apavorou e correu para a superfície do castelo. Quando a noite chegou não houve nada nem ninguém que pôde impedir a vingança da jovem. Os primeiros a sofrerem foram os filhos e depois a mulher, ao raiar do dia poucos dos residentes do castelo estavam vivos e esses nunca mais foram os mesmos, a loucura os transformou.
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