godeos godEos .

Na volta do supermercado para casa, Oikawa e Iwaizumi são surpreendidos ao se depararem com uma pequeno gato molhado em meio a uma chuva forte. Decididos a cuidarem do animal, em meio às discussões sobre qual seria o melhor nome para o gatinho molhado, Hajime percebe que coisas simples também provocam epifanias. [One-shot] [iwaOi] [Universo Canon]


Fanfiction Anime/Manga Tout public.

#iwaoi #OikawaTooru #IwaizumiHajime #haikyuu #gay #lgbtq #romance #fluffy #songfic
Histoire courte
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Capítulo Único


Gato Preto

Capítulo Único


Estava perambulando por entre as prateleiras grandes e largas do supermercado, com as íris verdes atentas ao menor dos sinais da presença de Oikawa. Iwaizumi havia deixado-o tomando conta do carrinho, enquanto recolhia alguns produtos de limpeza que estavam faltando em casa, arrependendo-se da sua escolha ao retornar para o local do qual tinha partido e não encontrar vestígios do namorado ou do carro de compras.

Por sorte, quando se tratava de Oikawa, Iwaizumi era onisciente, de modo que nada fugia de sua compreensão absoluta. As passadas morosas eram um reflexo da calma que sentia naquele instante, despreocupado quanto ao sumiço de Tooru. Na verdade, Hajime não poderia considerar aquilo como um desaparecimento repentino, porque sabia onde o outro estava, caminhando lentamente para encontrá-lo.

Ao dobrar no corredor à sua esquerda, o colorido das prateleiras, abastadas de guloseimas das mais diversas, dominaram o olhar verde-mar, ao passo que Iwaizumi suspirava, cansado, ao relembrar que esteve ali minutos antes, guerreando com um Oikawa decidido a comprar todos os tipos chocolates disponíveis. Foram necessários um ínterim considerável e uma série de comentários e recomendações sobre o cuidado com a saúde por parte de Hajime para que Tooru desistisse de levar consigo uma quantidade exorbitante de doces.

Contudo, aparentemente, a discussão e a preocupação de Iwaizumi foram rejeitados pelo setter, uma vez que, na primeira oportunidade, fugira das vistas do namorado e terminara no mesmo local em que estiveram instantes atrás. Uma lamúria baixa escapou pelos lábios finos ao se deparar com Oikawa abastecendo o carrinho de compras com doces, exatamente como fizera outrora, no entanto, dessa vez, longe das queixas alheias.

Hajime queria contestar a maneira como Oikawa desapareceu, fortalecendo suas reclamações com grande parte dos protestos feitos mais cedo, porém a vontade de evidenciar o descontentamento que sentia sumiu ao perceber o encaixe perfeito que existia entre o cenário e Tooru, com seus cabelos e olhos achocolatados adornados ao semblante alegre e o sorriso níveo que ostentava. A candura atrelada ao comportamento puro e inocente do outro suscitou em um leve repuxar de lábios por parte de Iwaizumi, impossibilitando-o de esconder os sentimentos positivos que se apoderaram de si.

Em passos silenciosos, o antigo às da Seijoh aproximou-se de Oikawa, tentando mascarar a felicidade que o estava dominando, de modo que conseguisse soar sério e zangado ao reclamar sobre o sumiço repentino dele. A voz grossa quebrou a atenção de Tooru, que fora obrigado a cessar sua busca pelas melhores barras de chocolates, assustando-o por não ter consigo notar a aproximação do Hajime.

— Você vai realmente levar essa quantidade exagerada de chocolate, Shittykawa?

— Hoje é a noite do filme e você sabe que deveríamos comprar alguma coisa para comer enquanto assistimos — defendeu-se.

— Mas nós já compramos, Loserkawa — contrapôs —, o carrinho está cheio de doces e outras comidas nada saudáveis que você escolheu — completou a sentença aproximando-se de Oikawa para colocar no carro os produtos de limpeza que carregava consigo.

— Não é como se eu conseguisse assistir ao Godzilla pela sabe-se lá qual vez e não me empanturrar de doce. Seu gosto para filmes é muito ruim, Iwa-chan — implicou.

Iwaizumi, ao ouvir a crítica, suspirou derrotado.

— Tudo bem, leve o que quiser — concordou, enfim, libertando o sorriso que estava mantendo cativo dentro de si ao observar Oikawa comemorar pela vitória.

— Iwa-chan é o melhor — beijou o rosto bronzeado, recolhendo o carrinho em seguida e indo em direção ao caixa.

Uma senhora de baixa estatura estava passando suas compras, forçando-os a esperar um pouco para que fossem atendidos. Enquanto a idosa descarregava a sua cesta e a mulher de pele clara, que ocupava o caixa, se encarregava de ler os códigos de barras, Oikawa apoiou suas costas contra o peito malhado de Iwaizumi, descansando a cabeça para trás, sobre o ombro alheio, ao passo que a região do pescoço tornava-se exposta.

— Iwa-chan tem certeza que quer assistir aquele filme ruim outra vez? — A voz tinha uma entonação divertida atrelada a si, revelando o bom humor do setter. — Poderíamos assistir algo diferente.

— Não vamos assistir um outro filme sobre alienígenas, Oikawa — cortou a sugestão antes mesmo que fosse feita. — Todos os roteiros são iguais.

— Espero que você saiba que Stars Wars é um feito grandioso na história cinematográfica — o desdém serpenteava em seu timbre.

— Eu não acho que você tenha um bom gosto, Shittykawa.

— Lógico que tenho — rebateu. — Veja só, eu escolhi você, certo?

— Parece que seu bom gosto se restringe a mim — sorriu fátuo.

— Rude, Iwa-chan! Rude! — Exclamou em falsa ofensa, retirando sua cabeça do ombro de Iwaizumi e retornando à posição ereta.

O sorriso presunçoso de Hajime desfez-se quando Tooru girou sobre os próprios calcanhares para se encontrar face a face com o ás. A pedância desmanchou-se em um riso alegre ao notar o semblante contente de Oikawa, que insistia em manter uma fisionomia brava à medida que tentava retaliar o comentário anterior de Iwaizumi, falhando.

Não se abatendo pelo seu insucesso, Oikawa acompanhou o namorado, misturando o barulho agudo de seu riso ao ruído roufenho do riso de Iwaizumi. Antagônicos, duas concepções contrárias e distintas, ambos jogadores completavam-se, uniam-se sobrepujando as características avessas de suas personalidades e produziam uma harmonia única, exonerada de qualquer desalinho, melódica como o canto de um pássaro e perfeita tal qual a beleza de Afrodite.

O alarde discreto causado por eles esmaeceu ao ouvirem uma voz doce chamando pelo próximo da fila. Aproximaram-se do caixa e, enquanto Oikawa descarregava o carrinho, lentamente, dando tempo para que a moça passasse os produtos pelo leitor de código de barras, Iwaizumi responsabilizou-se por embalar, devido à ausência de um outro funcionário para cumprir a função.

A atendente, em um determinado momento, chocou-se pela quantidade exagerada de doces, chegando a comentar com Tooru.

— Vocês devem morar com muitas crianças — comentou ingênua.

— Nenhuma — respondeu, sorrindo. — Ainda — completou, os olhos presos em Iwaizumi, o qual estava distraído com a atividade que estava realizando.

Aproveitando o silêncio motivado pela distância que existia entre os dois, conforme Oikawa retirava as mercadorias do carro e Iwaizumi se mantinha embalando-as, Tooru pensou sobre o que havia falado para a atendente. Ainda. A palavra escapuliu de sua boca sem que ele sequer percebesse ou tivesse oportunidade de mantê-la refém, fora espontânea e essa naturalidade assustou-o um pouco.

Pensando sobre a relação que tinham, Oikawa notou que desejar por uma criança era o óbvio. Estavam em um relacionamento desde o fim do secundário quando, com ajuda de Hanamaki e Matsukawa, Iwaizumi conseguiu se declarar para ele. Na verdade, os amigos contribuíram para que ambos, Iwaizumi e Oikawa, percebessem os sentimentos que nutriam em relação um ao outro, de forma que Hajime se confessara primeiro, tirando de Tooru o fardo causado pela sua insegurança e medo de rejeição.

Em outro contexto, com outro alguém envolvido, Oikawa se valeria de sua arrogância, vestindo a melhor de suas expressões enganosas e sustentando a falácia que criara acerca de si, para investir na pessoa que estivesse interessado. Todavia, nada daquilo era possível quando se tratava de Iwaizumi, que o conhecia tão bem, arriscava a dizer que melhor do que si próprio.

Depois da declaração desajeitada, feita repentinamente enquanto guardavam as redes e bolas usadas durante o treino daquele dia atípico, Iwaizumi e Oikawa engataram em um relacionamento, constatando, no fim, que não existiam muitas diferenças entre a relação que criaram ao longo dos anos e aquilo que compreendiam como envolvimento amoroso; as nuances eram ínfimas, quase inexistentes e, tirando as carícias cálidas, que anteriormente estavam em falta, de resto, tudo já existia e estava em seu devido lugar.

O destino se encarregara de uni-los e, fugindo ao discernimento deles, o universo contribuiu para que tudo se encaixasse em seu lugar em seu devido tempo, nem antes nem depois, na hora certa.

Almas gêmeas, destinados.

O chamado de seu nome, entoado pela voz grossa de Iwaizumi, retirou Oikawa dos devaneios sobre o passado, o qual percebeu o sorriso doce alardeado em seu rosto. Buscou se recompor, tentando eliminar a fisionomia evidente de felicidade e focando no presente. A atendente já tinha terminado de passar as compras, que estavam embaladas.

— Oikawa, pare de sonhar acordado — recriminou. — Vamos, já está tudo pronto.

Iwaizumi oferecia duas sacolas para que Tooru carregasse, ao passo em que ele transportava outras duas, além de um guarda-chuva preto. Deixaram o supermercado e se jogaram à rua, caminhando com os ombros quase colados. O vento frio soprava contra a pele de seus rostos, forçando Oikawa a se encolher dentro do casaco marfim que trajava. Os olhos pardo-acinzentados observaram o céu, não se surpreendendo pela presença de nuvens escuras e ausência do sol.

— Realmente, vai chover.

— E você ainda discordou de mim quando disse para trazer o guarda-chuva.

— Não moramos tão longe, Iwa-chan — defendeu-se. — Vai dar tempo de chegarmos em casa.

Com um senso de humor próprio que apenas o universo detinha, as primeiras gotas d’água caíram. A primeira atingiu seu rosto, assustando-o pela temperatura fria; a segunda bateu contra a lente de seu óculos, manchando-a e as outras ele não conseguiu discernir onde pousavam. A chuva engrossou rapidamente, deixando Oikawa incapaz de se proteger contra ela. O corpo esguio escondeu-se mais um pouco dentro da peça de roupa marfim, mas o tecido não era uma barreira eficiente.

Contudo, súbitas tal qual começaram a verter do céu, as gotas pararam de espargir sobre Oikawa. O guarda-chuva de Iwaizumi fora parar acima da cabeça do setter, protegendo-o do da chuva e aproximando mais o seu corpo ao dele em uma tentativa de conseguir se abrigar também, não obtendo êxito.

A mão áspera de Hajime agarrou o ombro de Oikawa, trazendo-o para mais perto de si, findando o espaço diminuto que ainda havia entre eles, enfim, conseguindo resguardar-se dos pingos d’água.

— Eu avisei para você trazer o seu guarda-chuva, Loserkawa.

Tooru ofereceu um sorriso mirrado em resposta, acometido pela vergonha da reprovação feita contra seu comportamento travesso. A inexpressividade de seu rosto, no entanto, desvaneceu quando o hálito quente de Iwaizumi contatou com sua pele úmida e fria, enviando espasmos por suas terminações nervosas, quase fazendo as pernas grossas falharem. Constatar a forma sôfrega com que seu corpo reagira a Hajime fez com que a face gélida de Oikawa ardesse, açorada.

Ciente das reações involuntárias de Oikawa a si, Iwaizumi sorriu taciturno, dispensando alguma réplica ao seu comentário anterior e voltando a caminhar. Vagarosamente, os primeiros passos foram dados, retirando Tooru de seu estado de torpor. A rua esvaziou-se ao primeiro sinal da chuva; poucas pessoas transitavam pela calçada e um silêncio abafado pelo rumorejar das gotas d’água instaurou-se, nenhum dos dois ousou violá-lo.

O trajeto que os levava para casa fora percorrido a passadas morosas, despreocupados quanto à chuva e apáticos ao frio que os assolava, os corpos unidos para se protegerem. Nas proximidades do apartamento em que moravam, um miado baixo misturou-se ao barulho túrbido da água que vertia em gotas, quebrando a postura calma de Oikawa, que afastara-se de Iwaizumi e abandonara o guarda-chuva para ir em direção ao som agudo e fraco.

As íris cor de âmbar observavam o chão com cuidado, evitando poças d’água, embora a chuva ainda esparzisse pela rua, encharcando suas roupas e seus cabelos. Indiferente às peças ensopadas e ignorando os chamados de Iwaizumi, continuou a se afastar, indo em direção a um beco estreito e sujo, confiante de que o miado estava vindo dali.

Algumas latas de lixos e umas caixas de papelão estavam amontoadas por todo beco, o cheiro fétido de lixo molhado incomodando o olfato de Tooru. Avançando para dentro da viela suja e seguindo em direção ao miado, Oikawa encontrou um pequeno e indefeso gato preto, tão encharcado quanto suas roupas, que tentava se abrigar da chuva em uma caixa vazia.

Oikawa tentou se aproximar do felino, mas o animal recuou ao percebê-lo. Consciente de que sua chegada repentina o havia assustado, Tooru tentou se aproximar com mais cuidado e mais calma, frustrando-se ao vê-lo retroceder para dentro da caixa, miando assustado ao se encontrar com o fundo e seus instintos avisando-o que não havia rota de fuga.

— Você está assustando ele, Oikawa — Iwaizumi avisou às suas costas. — É preciso falar com ele para conseguir confiança.

A palma de Hajime tocou o ombro de Oikawa, em um pedido emudecido, para tomar o seu lugar, sendo atendido prontamente. O corpo malhado curvou-se para conseguir enxergar melhor o gato amuado no fundo da caixa, compadecendo-se pelo aspecto tristonho que o felino ostentava. A voz rouca tornou-se suave e as palavras seguintes saíram tranquilas, uma clara tentativa de acalmar o animal.

— Ei, bichano, está muito frio aqui, deixe eu te ajudar, sim? — Iwaizumi balançou a mão no ar, chamando-o para próximo de si.

Tooru assistiu a cena com um sentimento jubiloso crescente dentro de si, um ardor latente que ele não conseguiu definir a sua origem, mas que o fez lembrar da pergunta da atendente sobre criança e a sua resposta para ela. Se Iwaizumi conseguia demonstrar toda aquela brandura com um mero animal que acabara de conhecer, ele seria capaz de fazer bem mais por uma criança caso chegassem a adotar uma.

Certamente, Oikawa não precisou testemunhar aquela cena para conhecer o lado terno de Iwaizumi; conheciam-se há anos e o carinho e amabilidade de Hajime sempre foram traços importantes na personalidade dele, caraterísticas que o tornavam tão digno de qualquer porventura que chegasse a cair sobre ele e, sem dúvidas, o único merecedor de seu amor.

Com um sorriso bobo, observou o gato ceder aos chamados de Iwaizumi, saindo de dentro da caixa e vindo ao encontro dele, que esperou pelo momento certo para segurá-lo com a mão em que anteriormente carregava duas sacolas. O felino ainda demonstrava sinais de que estava assustado, mas o timbre de Hajime pareceu acalmá-lo ao menos um pouco.

— Oikawa, vamos — pediu, enquanto tentava segurar o bichano, as sacolas e o guarda-chuva aos mesmo tempo.

— Iwa-chan, me deixe ajudar — ofereceu-se correndo para socorrê-lo.

Oikawa se responsabilizou por carregar as sacolas que Hajime havia largado no chão para segurar o gato e não conseguia carregá-las novamente, enquanto ele continuou com o guarda-chuva em uma mão e o felino pequeno na outra. Tooru, dessa vez, não procurou se abrigar da chuva ao lado de Iwaizumi, já estava completamente encharcado, não mudaria nada se proteger nesse instante. Por isso saiu às pressas, tentando chegar em casa o mais rápido possível.

Regressou ao apartamento antes do namorado, mantendo-se na soleira porta, esperando pela chegada de Iwaizumi, que carregava consigo as chaves de casa. Assim que o ás retornou, Oikawa pegou o chaveiro no bolso dele e destrancou a porta, cedendo para que o outro entrasse primeiro. Dentro de casa, Hajime dirigiu-se para lavanderia pequena localizada nos fundos, tendo Tooru ao seu encalço.

— É melhor enxugá-lo rápido, Iwa-chan — aconselhou —, ele pode se resfriar.

— O mesmo vale para você, Oikawa — apontou. — Trate de tirar essas roupas ensopadas e tome um banho quente, eu cuido do gato.

Aceitando as recomendações feitas por Iwaizumi, Oikawa foi para o banheiro, se livrando das roupas molhadas e se colocando abaixo do chuveiro para desfrutar da água quente, a qual infirmou o frio que acometia sua pele. Retornando para cozinha depois de algum tempo, encontrou Hajime guardando as compras nos armários.

— Onde está o gato? — Perguntou indo até a lavanderia para deixar a roupa molhada que vestia anteriormente.

— Eu o enxuguei e usei o secador para que ele não ficasse com frio — contou, ainda guardando os produtos. — Depois, o soltei na sala, então, ele deve estar escondido em algum lugar.

Oikawa deixou Iwaizumi na cozinha e se encaminhou para sala, procurando pelo gato. Vasculhou o cômodo com rapidez e não encontrou indícios da presença do felino, ele não estava em cima da mobília ou do sofá, sequer ocupava a mesa-centro. Encontrou-o apenas quando abaixou-se para verificar se o bichano se escondia debaixo dos móveis, deparando-se com duas bolas cor de cobre brilhando no escuro.

As pupilas do felino estavam extremamente dilatadas, quase ocupando as irís em completude. Tooru concluiu que ele estava assustado, talvez fosse o ambiente novo e diferente que estivesse causando certo estranhamento. Por essa razão, imitou a postura adotada por Iwaizumi mais cedo e amaciou a voz para chamá-lo.

— Ei, bichano, está com medo? — Questionou, o timbre brando, afável. — Venha brincar comigo — mostrou-se atencioso —, você vai se acostumar na casa nova.

Entretanto, o gato não se sentiu acolhido por um Oikawa prestativo e, repetindo o que fizera antes, recuou para mais perto da parede. O setter quis esbravejar pela forma arisca que o animal retribua suas investidas, mas manteve o sorriso cativante no rosto e a entonação doce na voz, chamando-o e sendo ignorado. Continuou longos minutos ali, no chão da sala, falhando sempre em conseguir a atenção ou confiança do felino.

Iwaizumi chegou na sala, trazendo consigo uma tigela de pipoca e uma sacola recheada de chocolates — aqueles que fizera questão de comprar —, repousando-os sobre a mesa-centro.

— Ele está desconfiado, o deixe aí, quando ganhar confiança ou sentir fome ele vai sair — falou, sorrindo pela expressão dramática que Oikawa sustentava.

— Acho que ele não gosta de mim — verbalizou aquilo que estava pensando desde a primeira vez que o gato se mostrara esquivo consigo, sentando-se no sofá e descansando o pé sobre a mesa.

— Ele vai gostar de você, todos gostam — garantiu, apagando as luzes e ocupando o espaço ao lado de Oikawa.

— Nem todos — rebateu.

— E quem seria esse?

— Você — respondeu com um sorriso largo. — Iwa-chan me ama.

— Idiota — fora tudo que Iwaizumi disse, antes de jogar uma almofada contra o rosto venusto.

Munido com o controle remoto, Hajime ligou a televisão e saiu passando os canais até encontrar aquele em que passaria Godzilla, colocando a tigela de pipocas sobre uma de suas pernas e trazendo Oikawa para mais perto de si, enquanto ele se aninhava em seu peito.

O filme começou após alguns minutos, encerrando a conversa superficial entre eles. Oikawa tentou convencer Iwaizumi a assistir algo diferente, mas ele se mostrou irredutível, sobrelevando-se ao charme e à graça lançados pelo setter. Desistindo de uma batalha que não venceria, sabia disso, Tooru aconchegou-se mais em Hajime, usando um lençol largado no sofá para agasalhar suas pernas do clima frio deixado pela chuva.

Semanalmente, Iwaizumi e Oikawa escolhiam um dia para assistirem filmes juntos, com o intuito de realizarem algo em conjunto. A tradição de anos nasceu porque os dois precisavam se separar para cursar universidades distintas e o tempo, outrora farto, tornou-se escasso o suficiente para que se vissem com raridade. Talvez, em outras ocasiões, a carência não fosse tão inoportuna, porém, no início do relacionamento, gerou um certo desalinho.

Desde o começo, ambos sabiam que estariam separados quando as aulas nas faculdades iniciassem. Iwaizumi cursaria fisioterapia em Waseda e Oikawa, marketing em Tóquio. Hajime, em seu íntimo, sempre soube que ele e Tooru trilhariam caminhos diferentes no que concerne à universidade; seu sonho, diferente de seu namorado, jamais fora de ser um jogador de vôlei.

Decerto, amava o vôlei, o esporte esteve consigo desde sua infância, mas nunca o enxergou como a profissão que desejava exercer, embora desconhecesse que carreira queria seguir. Contudo, a perspectiva de Oikawa era outra, totalmente contrária. Com facilidade, qualquer um diria que o sonho dele era jogar vôlei profissionalmente, porque ninguém se doaria com tanta perseverança e esmero a um esporte se que não enxergasse nele seu futuro.

Oikawa gostava da ideia de estudarem em universidades diferentes, uma vez que isso daria-lhes espaço para conseguirem respirar um pouco longe um do outro, principalmente, depois de assumirem o namoro. Tooru reconhecia cada uma de suas imperfeições, sua arrogância e seu complexo de inferioridade, e poderia se considerar um sortudo por ter Iwaizumi cuidando si, servindo como um pilar resistente e incentivando-o nos momentos de maior necessidade.

Todavia, todo esse apoio e suporte provido por Hajime enquanto amigo causava desconforto em Oikawa quando pensava nele como namorado. Deixava-o apreensivo pensar na magnitude de sua dependência e, condimentado pelas suas inseguranças, Tooru concluiu, sozinho, que seria um fardo para Iwaizumi caso convivesse com a mesma frequência de costume.

O julgamento precipitado de Oikawa revelou-se equivocado no primeiro bimestre de aulas ao notar o vazio gelado da ausência de Iwaizumi. Durante a semana, era quase impossível que o casal se encontrasse, cada um morava em apartamentos próximos às suas respectivas faculdades e era uma imensa contramão buscarem se ver em meio aos dias úteis, restando como opção somente os fins de semanas.

Para Tooru, isso não seria um problema, ele conseguiria estudar e se dedicar perfeitamente ao vôlei durante a semana e aproveitar os dias restantes ao lado de Iwaizumi; o que acontecera, de fato, no começo. No entanto, logo os treinos de seu time começaram a exigir sua atenção nos dias de folga e os trabalhos e as atividades das matérias acumularam-se, demandando mais de si. Hajime estava em uma situação análoga a sua e logo a exiguidade de tempo culminou em diversos desencontros.

Em primeira instância, as divergências de horário e de disponibilidade de ambas as partes não afetaram Oikawa que, apesar da tristeza que sentia por ser coibido a se privar da companhia de Hajime por um longo período de dias, conseguia lidar com a saudade e a necessidade emocional que nutria pelo namorado. Infelizmente, com o tempo, os sentimentos ruins se acumularam, germinando como uma praga ofensiva que, incubada pela sua falta e segurança, incidiram vigorosamente sobre a instabilidade e inquietação que o consumia.

Na cabeça de Tooru, o relacionamento tornou-se tênue, destituído de qualquer ânimo e energia, tão tíbio quanto a influência da lua em uma noite nublada. Todavia, ansiando por salvar aquilo que tinha com Iwaizumi, abriu-se em uma conversa séria com ele e revelou o descontentamento que estava sentindo.

Depois dessa conversa e de Hajime esclarecer que também desgostava do ritmo que a relação deles estavam tomando, deixaram acordado que tentariam achar um tempo para eles em meio ao caos de suas rotinas. Por isso, o dia do filme surgiu semelhante a um escape, uma nova via respiratória para o iminente sufocamento que eles, como casal, estavam sentenciados.

Na procura pelo melhor encaixe entre eles, marcavam de se verem nos dias com maior tempo livre, revezando o local de encontro entre os apartamentos individuais deles, de forma que o anfitrião se responsabilizava pela escolha do filme. Algo banal, que não exigia muito de nenhuma das partes, mas que, nos dois primeiros anos do ensino superior, concedia a eles as condições necessárias para salvarem a relação que tanto prezavam.

Entrementes, Oikawa perdera a conta de quantas vezes Hajime escolhera Godzilla como o filme da noite, sendo bastante consciente que ele poderia dizer o mesmo sobre as películas que envolviam alienígenas, em especial, Stars Wars. Não era surpresa para eles quando o outro optava pelos seus longas preferidos e, não obstante às queixas, sempre terminavam assistindo aquele que fora escolhido.

Nessa noite específica, Iwaizumi deveria escolher o filme e, sob reclamações do namorado, ele anunciou que assistiriam Godzilla — mais uma vez. Oikawa não achava o longa de total desperdício, mas conhecer a história dele de trás para frente o tornava enjoativo e maçante de assisti-lo. Por isso, entreteu-se com os chocolates que havia comprado, secando a sacola abastada antes que chegasse ao ápice da da trama.

Enquanto Iwaizumi dedicava sua atenção a televisão, reagindo eufórico a cada cena como se fosse a primeira vez assistindo-a, Oikawa suspirava pesadamente, entediado. A mente enfadada, tanto pelo filme quanto pelo cansaço, embalada pela temperatura baixa daquela noite, findou em um bocejo baixo e lento, o qual veio seguido de outro. Sem perceber, gradativamente, Tooru fora envolto pelo sono, dormindo com a cabeça ainda repousada contra o peitoral alheio.

Preso em um estado leve de inconsciência, ainda conseguia ouvir Iwaizumi reagir ao filme, embora fosse incapaz de discernir e entender o que ele dizia. Oikawa não era capaz de mensurar o tempo que passou dormindo, acordara com uma movimentação ao seu lado e, por um instante, acreditou que Hajime desejava se levantar do sofá, mas estava enganado.

A televisão estava desligada, sinalizando que ou Iwaizumi tinha cansado de assistir o filme ou ele tinha acabado, como a primeira opção era impossível quando se tratava do ás, descartou-a. Com esforço, conseguiu sentar-se, esfregando os olhos para despertar de vez. Um misto de sensações boas arrebentou-se em seu âmago quando registrou a cena de Hajime se divertindo com o gato, que estava deitado no braço do sofá.

Novamente, Hajime mudara sua voz para entreter o felino, porém, dessa vez, com uma entoação divertida, apontando que estava brincando com ele. Oikawa tentou aproximar a mão do animal, imitando o timbre recreativo de Iwaizumi, surpreendendo-se quando o gato encolheu-se, sustentando uma expressão tediosa.

— Ele me odeia — Oikawa constatou, dirigindo-se ao homem que dividia o sofá consigo.

— Não odeia, gatos são um pouco mais apáticos que cachorros, você vai precisar de tempo para conseguir conquistá-lo — sorrindo, Iwaizumi discordou do namorado. — Ou ele talvez não vá com essa sua cara de arrogante, Shittykawa.

— Eu sou uma pessoa bastante comunicativa — ignorou o comentário anterior sobre si —, não existe motivo para ele ser tão frio comigo.

Nesse instante, uma luz clareou a mente de Oikawa, fazendo-o pular do sofá pela epifânia que tivera, empolgado.

— Precisamos dar um nome, assim, ele vai conseguir se relacionar melhor com nós dois.

Iwaizumi balançou a cabeça em concordância, pensando em um nome para o animal que estava próximo de si. Um nome perpassou pelos seus pensamentos, mas antes que tivesse a oportunidade de anunciá-lo, Oikawa se pronunciou.

— Iwa-chan, vamos chamá-lo de Anakin — bateu palmas em comemoração. — Esse nome é perfeito; um dia, no instagram, achei a conta de um gato siamês que se chamava assim.

— Certamente, não vamos chamá-lo assim — negou às pressas. — Não vou deixar meu gato ter um nome que o relacione com Stars Wars.

— Céus, o que custa? — Questionou decidido a fazê-lo mudar de ideia. — Você não tem uma outra opção.

— Eu tenho — disse com veemência.

— E qual seria? — Olhou incrédulo para Iwaizumi, acreditando que ele estava mentindo apenas para fazê-lo desistir de chamar o animal de Anakin.

Hajime não olhou diretamente para Tooru, sabia qual seria a reação dele ao mencionar o nome que pensara e, por isso, rolou os olhos pela sala, encarando, por fim, a televisão. Oikawa manteve sua atenção em Iwaizumi, esperando por uma resposta que não chegava. Entretanto chocou-se ao notar o olhar fixo do outro sobre o aparelho televisivo.

— Ah, não! — Discordou ávido.

— É um bom nome.

— Você não vai chamar o gato de Godzilla, Iwa-chan. Eu não vou deixar esse coitado carregar tamanha sina.

— Encontramos ele justamente no dia em que íamos assistir o Godzilla — defendeu sua ideia. — É um sinal e você sabe, Oikawa.

Otimista sobre ser o vencedor daquela discussão, Oikawa colocou-se de pé, pronto para enumerar os motivos pelos quais não deveriam chamar o gato de Godzilla, arrependendo-se ao sentir uma fisgada cruciante em seu joelho direito. Rapidamente, levou as mãos à região lancinante, ansiando por cessar a dor repentina. Iwaizumi levantou-se com a mesma rapidez que a dor atingira Tooru, correndo ao seu encontro para servir de apoio.

— Me deixe ver — pediu brando, retirando as mãos de Oikawa do próprio joelho. — Está inchado, você machucou ele hoje?

— Acho que bati ele contra o chão da quadra quando trombei com um dos jogadores do meu time — explicou-se, a voz salpicada pela angústia que sentia. — Mas não doeu na hora, então pensei que não havia sido nada demais.

— Eu vou fazer uma massagem para tentar aliviar a dor — anunciou. —Vamos para o quarto.

Iwaizumi auxiliou Oikawa no trajeto até o quarto, evitando que ele forçasse perna machucada. Deixou que ele deitasse sobre o colchão macio, recostando-se sobre os travesseiros brancos. Hajime afastou-se para pegar um gel de massagem no armário, voltando logo depois para retirar a calça surrada de um pijama antigo que Tooru vestia.

Subindo na cama e se colocando entre as pernas de Oikawa, Iwaizumi besuntou os dedos com a substância pastosa de cor esverdeada e, em seguida, começou uma série de compressões metódicas e intermitentes, gerando uma fricção manual contra a região machucada. O aroma de hortelã, exalado pelo creme, inebriou o quarto, deixando-o com um ar mais puro e refrescante.

Tooru, preso entre os travesseiros e o corpo de Iwaizumi à sua frente, suspirava, vez ou outra, quando os dedos alheios, fortes e ágeis, pressionavam, com precisão, o joelho contundido. A massagem perdurou por quase uma hora, a dor foi diminuindo gradualmente e os gemidos de Oikawa ao toque de Hajime foram morrendo ainda em seus lábios, até o sono vencê-lo novamente naquela mesma noite.

Depois de perceber que o companheiro dormia, Hajime levantou-se da cama e fora em direção ao banheiro lavar a mão suja de creme, voltando para o lado de Oikawa posteriormente. Deitou-se perto o suficiente para enxergar as minúcias do rosto dele, admirando os detalhes do rosto egrégio. Odiava o sentimento ruim que rompia em seu peito e o gosto de féu em sua boca sempre que via a expressão de dor transpassar o rosto de Tooru. Infelizmente, o seu máximo, nessas situações, era o que acabara de fazer: massagear a região lesionada até que ele caísse no sono.

Além da capacidade de sua memória, Iwaizumi era incapaz de recordar o dia em que Oikawa machucara o joelho direito, só podia afirmar que fora na época em que ele se autoflagelava, convencido, pela sua inferioridade, de que não era bom o bastante. Nos dias escuros de Tooru, Hajime confiou a si próprio a promessa de que jamais abandonaria o melhor amigo e, muito menos, o deixaria desistir de perseguir o sonho dele.

Por essa razão, optara pela faculdade de fisioterapia, para cuidar da lesão que atormentava Oikawa. Decerto, ele fora atendido pelos melhores médicos e, se nenhum deles fora capaz de curá-lo, Hajime sabia que também não seria. Contudo, seu desejo era saber que havia tentado o possível para ajudar Tooru a persistir em busca do objetivo dele.

Com o intuito de atingir a sua promessa, todavia, Iwaizumi precisou fazer escolhas difíceis e a maior delas fora decidir ir estudar em uma faculdade diferente de Oikawa. Para si, era claro que o melhor amigo optaria por cursar o ensino superior em Tóquio, visto o expressivo desempenho da universidade no vôlei, mas, somente desa vez, não valeria a pena seguir junto com Tooru.

Pensando na carreira que desejava seguir e na possibilidade de ajudar Oikawa no futuro, Hajime preferiu Waseda, por oferecer o melhor programa no curso de fisioterapia. Além disso, o time de vôlei era assaz para conseguir dar a Iwaizumi a oportunidade de demonstrar toda a sua capacidade.

Com exceção das dificuldades enfrentadas nos primeiros anos de faculdade que coincidiram com os primeiros anos de namoro, Iwaizumi e Oikawa não tinham reclamações, a juntura entre eles era perfeita, tal qual fora durante os incontáveis anos de amizade. A reciprocidade dos sentimentos ajudou para que fossem honestos em momentos que a lisura faria total diferença, em reflexo à maturidade que ambos tinham.

Integridade à parte, Iwaizumi, arguto, reconheceu o desconforto, certas vezes, expresso no olhar de Oikawa. O incômodo, embora não soubesse a causa, estava influenciando na forma em que Tooru se relacionava com si, agindo desconfiado e, talvez, indeciso. Ele aparentava ponderar vários fatores, tentando descobrir, sozinho, que escolha tomar.

Pacientemente, Hajime esperou para que o outro contasse o que estava afligindo-o, frustrando-se pela demora. Contudo, o dia em que Tooru resolveu abrir-se chegou e a surpresa que veio atrelada a ele não poderia ser melhor. Estavam no apartamento de Oikawa, na sagrada noite do filme, assistindo Star Wars Episódio IV.

— Iwa-chan — chamou baixo, esperando que Iwaizumi não tivesse ouvido-o chamar —, vamos morar juntos.

Oikawa escrutinava Hajime, atento a qualquer reação voluntária do corpo dele ao convite feito, mas fora incapaz de sustentar o olhar ao ser correspondido. As íris cor de âmbar passearam pelo cômodo, evitando que Iwaizumi entrasse em seu campo de visão.

As palmas ásperas de Iwaizumi se moldaram ao rosto talhado de Oikawa, forçando o olhar inquieto encaixar-se ao seu. Hajime não demonstrava sinal algum e Tooru chegou a se perguntar se ele tinha escutado o pedido ou se apenas rejeitaria-o. A falta de convicção aflorou dentro de si, imergindo suas entranhas à medida que os seus defeitos luziam em sua cabeça.

Aceitar morar consigo implicava em aceitar lidar com as crises de insegurança que, esporadicamente, aconteciam, assim como significava ter de aturar a sua expressão presunçosa diariamente. Não obstante, Iwaizumi precisaria ter em mente que Oikawa vivia em um completo caos, o apartamento dele era uma bagunça e ele não conseguia cozinhar uma refeição decente.

Oikawa era um aglomerado de imperfeições e Hajime conhecia todas elas, no entanto, mesmo assim, ele o quis.

— Vamos — respondeu direto, a voz tranquila e um sorriso discreto desenhado no rosto.

Depois de Iwaizumi concordar em morar juntos, Oikawa esclareceu que já havia feito uma pesquisa prévia sobre apartamentos disponíveis que estivessem centralizados entre as universidades de Tóquio e Waseda, o escolhido sendo decidido em conjunto por eles.

Na verdade, antes de receber a proposta, Hajime já estudava essa possibilidade. Oikawa estava ganhando destaque no time e, com isso, começara a cobrar mais de si, prejudicando o joelho lesionado. Como era de se esperar, ele não gostava de envolver Iwaizumi nos problemas relacionados ao seu machucado, porque tinha ciência que seria repreendido. Em algumas visitas a Tooru, conseguia perceber o desconforto causado pela dor da articulação contundida.

Dessa forma, acreditava que morar junto ao setter era um método eficiente de assisti-lo de perto, procurando manter o bem-estar dele, uma vez que ele o colocava em detrimento do vôlei. Mesmo nessa noite, Iwaizumi tinha certeza que o joelho havia incomodado Oikawa muito além do momento em que ele demonstrara sentir dor, mas, como sempre, Tooru exigia demais de si próprio.

Iwaizumi permaneceu preso em seus devaneios, preocupado com Oikawa, sequer notando quando o sono o subjugara, acordando somente na manhã seguinte, desacompanhado. Depois de escovar os dentes, vasculhou a casa em busca de Tooru, surpreendendo-se ao encontrá-lo na cozinha.

Entretido, Oikawa estava sentado sobre os seus calcanhares, o cotovelo esqueço descansando sobre os seus joelhos e a mão repousando no pescoço esguio, ao passo que a palma direita escondia-se abaixo do pêlo preto do gato, que comia distraidamente, em um carinho leve.

— Vejo que estão se dando bem — a voz roufenha quebrou o silêncio, assustando Oikawa que caiu para trás.

— Iwa-chan, não me assuste assim — disse, levantando-se do chão e indo em direção ao namorado. — Bom dia — desejou, depositando um beijo estalado na bochecha dele e ouvindo uma saudação em resposta.

— Como vocês se entenderam tão rápido? — O timbre ainda demonstrava sinais de sonolência.

— Eu acordei com ele miando na porta do nosso quarto — os olhos se voltaram para o felino que ainda comia. — Então, saí para ir comprar a ração para ele, além de outras coisas, como a caixinha de areia — explicou-se. — Quando voltei, coloquei a comida na vasilha para ele comer e, em troca, ganhei o direito de alisá-lo — deu de ombros, simplista.

— Você conquistou o gato pelo estômago, Oikawa? — Questionou risonho.

— Ele estava com fome e como eu não consegui conquistar o Iwa-chan pelo estômago, foi reconfortante conseguir fazê-lo com Anakin — deu ênfase ao nome do animal e Iwaizumi percebeu.

— Ainda não decidimos o nome dele, Loserkawa — contrapôs.

— Iwa-chan mesmo após uma boa noite de sono ainda está insistindo nessa ideia absurda de chamar esse gato fofinho de Godzilla? — O deboche era encarnado em cada palavra dita.

— Sim!

Oikawa não conseguia acreditar no quão irredutível Iwaizumi estava em relação a nome do felino. Era uma loucura querer dar ao pobre animal o nome de um monstro apenas porque ele muito fã. Talvez sua ideia também tivesse a ver com o seu fanatismo por Star Wars, mas Anakin não era uma aberração.

Manteve o escrutínio preso a Hajime na esperança de que bom senso voltasse a ele, mas desistiu da expressão séria e brava quando registrou que o ás o encarava com intensidade análoga. Abandonando a carranca, jogou seu charme em cima dele, querendo deslumbrá-lo e, assim, convencê-lo a desistir de sua ideia.

Iwaizumi era um homem forte, de musculatura rígida, semelhante a uma pedra, exatamente como seu nome insinuava, mas era fraco aos encantos de Tooru. Anos ao lado de Oikawa não o treinaram o suficiente para resistir ao charme dele, concordando com qualquer coisa que lhe fosse pedida.

Por esse motivo, colocou um fim naquela guerra de olhares, reconhecendo que perderia se seguisse em diante. Alguém poderia julgar como fraqueza declara-se como derrotado com tanta facilidade, mas Hajime acreditava que era uma qualidade importante conseguir discernir quais batalhas era capaz de vencer. Por algum motivo, seria vencido por Oikawa todas as vezes, talvez porque ele fosse verdadeiramente o grande rei ou talvez porque ele era apenas o homem que Iwaizumi amava.

Deixou a discussão que dizia respeito ao nome do gato em aberto, ignorando a presença de Tooru no mesmo recinto e se aproximando da geladeira em busca de algo para comer. Devido o comportamento evasivo de Iwaizumi, Oikawa sabia que eles não chegariam ao final daquele impasse, pelo menos não naquele instante, e, por isso, seguiu o exemplo de Hajime e agiu como se não houvesse uma situação que precisava ser resolvida.

Por preservação — ou por corvadia —, nos dias vindouros, nenhuma das partes chegara a mencionar o assunto; o felino continuava morando com eles e ainda continuava sem nome, sendo chamado unicamente de gato por ambos os donos. Algo que os dois sequer haviam pensado, quando trouxeram o animal para casa, era que ele, de alguma maneira, afetaria a rotina pragmática que possuíam.

De súbito, um deles deveria se responsabilizar pela compra de ração e o outro por trocar a areia da caixinha. Alguém deveria levá-lo ao veterinário para cuidar da vacinação e fazer exames básicos para descobrir se tudo estava bem e, com certeza, teria que encontrar tempo no seu dia para brincar com o bichano. Tanto Iwaizumi quanto Oikawa passavam o dia na universidade e o gato permanecia trancado em casa, solitário.

Aos poucos, a passadas curtas, eles conseguiram encontrar uma nova rotina que agradasse a ambos, de modo que as responsabilidades com o animal foram divididas, sendo intercaladas entre as semanas. Também não demorou para se acostumarem com a nova presença no apartamento. Às vezes, escutavam algum barulho no meio da noite e se assustavam com a possibilidade de existir algum intruso dentro de caso, mas sempre tratava-se do gato derrubando algo.

A família pequena formada por duas pessoas cresceu ao adotarem um animal. Logo, nas noites de filmes, no lugar de dois corpos jogados sobre o sofá, um terceiro elemento fora adicionado e a mesma coisa aconteceu quando se encontravam na cozinha para tomar café antes de sair de casa, além das duas vozes dos jogadores maculando o silêncio, existia um miado doce e reconfortante, sinalizando que havia mais alguém ali.

Cingidos pela nova monotonia, o tempo esmaeceu em uma velocidade transcendente e eles foram incapazes de notar a mudança da estação. O outono findou-se com o ano, levando consigo a temporada curta de chuvas. O inverno chegou acompanhado das brisas gélidas e da escassez de precipitação de água, culminando em um clima seco. Contudo, com a mesma pressa que chegou, partiu, dando espaço para a primavera e o desabrochar das flores.

Em um domingo, enquanto estava parado em frente ao fogão mexendo uma panela, Iwaizumi sentiu os braços de Oikawa envolverem sua cintura à medida que um beijo era depositado em seu pescoço, fechando os olhos para receber o carinho singelo.

— Onde está o gato? — Perguntou, concentrado em mexer a panela.

— Última vez que vi ele foi quando ele estava usando a caixinha de areia no banheiro, depois disso não sei — respondeu, apertando mais Iwaizumi em seu abraço. — Iwa-chan, o que acha de irmos fazer um piquenique? É a estação das cerejeiras e eu adoraria vê-las enquanto me divirto com você.

A menção às cerejeiras soou como um clique na cabeça de Iwaizumi, que sentiu as engrenagens se encaixando e girando perfeitamente. As reminiscências dos últimos meses estouraram semelhantes a fogos de artifícios, iluminando e colorindo o escuro de seus pensamentos acerca da passagem de tempo. Contudo, não comentou com Oikawa e guardou para si a descoberta.

— Oikawa, ainda não decidimos o nome do gato — trouxe a tona o assunto intocado de meses.

— Não decidimos — concordou incerto, sentindo-se, por algum motivo, incomodado.

— Acho que chamá-lo de Godzilla é realmente algo maluco — admitiu desconfiado, os olhos estavam presos no fogão, observando o molho borbulhar dentro da panela. — Pode chamá-lo de Anakin, não é tão ruim afinal.

— Não quero mais chamá-lo de Anakin — sussurrou ao ouvido de Iwaizumi, descansando a cabeça na curva do pescoço dele, enquanto o imitava e assistia o caldo consistente ferver.

— E que nome você quer dá-lo agora? — A lisura na sua voz demonstrava que ele realmente ansiava por uma resposta. — Juro que te bato com essa colher se você me responder Darth Vader.

Oikawa não teve outra escolha além de sorrir pela maneira como Hajime disse suas últimas palavras.

— Eu não quero chamá-lo por nenhum outro nome, Iwa-chan — esclareceu ridente. — Gosto de chamá-lo de gato, é fácil e ele já se acostumou aos longos dos meses. É um bom nome — concluiu.

— Realmente, é um bom nome — o som de seu riso fora o primeiro a perturbar o ambiente silente da cozinha e o de Oikawa veio em seguida.

O dia seguiu com a normalidade de um domingo qualquer e nada de espetacular perturbou a paz do casal. À noite, porém, uma lembrança da infância compartilhada ao lado de Oikawa rejuvenesceu nos sonhos de Iwaizumi, servindo de combustível para alimentar uma chama que queimava, prudente, dentro de si.

A semana iniciou-se e findou-se sem surpresas, dando a Iwaizumi tempo para planejar tudo que desejava sem contratempos. Agradeceu aos céus pelo time de Oikawa ter entrado no período intensivo de treino, porque o cansaço impedia-o de perceber o estado de inquietude que se encontrava.

O sábado chegou e Oikawa acordou eufórico, despertando Iwaizumi com inúmeros selinhos e vendo-o reclamar que estava cedo. Ignorando os protestos fracos do namorado, lançou-se para fora da cama e cuidou em abrir a janela, permitindo que a luz do dia adentrasse o cômodo, observando, com um sorriso, o homem deitado esconder o rosto com a mão para evitar que o brilho do sol incomodasse os olhos esmeraldinos.

Calmo, Hajime abandonou a cama e enfiou-se no banheiro, saindo de lá minutos depois. Cumpriu suas obrigações diárias em estado de letargia, despertando aos poucos para o dia, opoente a Oikawa que se comportava exaltado. O humor sóbrio era um disfarce para a ansiedade que o corroía por dentro, embora não demonstrasse resquício de anseio para qualquer um que o olhasse.

Em um acordo emudecido, Oikawa incubiu-se de colocar a ração para o bichano e limpar a caixinha de areia, conforme Iwaizumi ocupava-se em cozinhar a comida que levariam para o piquenique. Por ter tarefas de rápida execução, Tooru logo estava desocupado, sentando-se à mesa da cozinha para assistir o namorado trabalhar.

Oikawa, certamente, não sabia lidar com um Iwaizumi tão doméstico.

Entre suspiros de admiração, uma conversação iniciou-se para distrair Iwaizumi enquanto cozinhava. Uma série de perguntas foi feita a Oikawa sobre os treinos e o próximo torneio que ele participaria, constatado que o encanto e amor que o acastanhado possuía pelo vôlei ainda existia na mesma intensidade de quando era uma criança, talvez um grau acima.

Em um determinado momento, Tooru recolheu uma cesta que repousava em cima do armário e começou a arrumá-la, colocando dentro dela uma toalha branca e o suco que estava guardado na geladeira. Iwaizumi aproximou-se, trazendo em mãos algumas vasilhas pequenas contendo comida para arranjá-las no interior do recipiente confeccionado com fibras.

Saíram de casa algum tempo depois, devidamente vestidos. Oikawa amava o clima ameno da primavera e o fato de isso implicar em roupas mais leves e confortáveis. Uma brisa sossegada soprava, chocando-se contra as peles tépidas do dois jogadores que se dirigiam ao ponto de ônibus. Caminhavam lado a lado, os ombros esbarrando-se acidentalmente, enquanto continuavam a conversa de antes, no entanto, sendo Iwaizumi o tópico da discussão.

A mão de Tooru roçava, constantemente, contra a mão de Hajime que, apesar do jeito comedido, sentia-se incomodado com a situação. Por algum motivo que lhe fugia à compreensão, cansou-se da prudência exacerbada de Oikawa, envolvendo a palma dele com a sua, sorrindo ao notar que a atitude o deixou surpreso. Alcançaram ao ponto de ônibus com as mãos entrelaçadas e esperaram chegá-lo da mesma forma, desconsiderando os olhares oblíquos lançados sobre eles. O transporte não tardou a chegar e eles logo embarcaram, sabendo que o ponto de descida não era próximo.

Iwaizumi sentou no banco ao lado da janela, descansando a cesta sobre suas pernas e assistindo o namorado ocupar o lugar vazio ao seu lado. Oikawa retirou o celular e os fones de ouvido do bolso de sua calça, procurando por uma canção no player. Uma música lenta e romântica começou a tocar baixa e Tooru logo pôs um dos fones na orelha de Hajime, repetindo o processo consigo em seguida.

Permaneceram o resto da viagem escutando música, mas, em um certo instante, a cabeça de Oikawa descansou no ombro de Iwaizumi e lá continuou, à medida que as suas pálpebras escondiam as íris castanhas. Quando chegaram na parada em que desceriam, Hajime tocou delicadamente a ponta do nariz de Tooru, chamando-o pelo nome em um sussurro.

Saíram do ônibus e caminharam até o parque de cerejeiras; as mãos enlaçadas novamente naquele dia. O logradouro público não tinha muitas pessoas, algo inusitado para um sábado, mas Iwaizumi agradeceu pelas presenças diminutas. Em conjunto, estenderam a toalha branca sobre a relva verdejante — embaralhada as pétalas rosadas decaídas — retirando o restante dos objetos que se mantinham organizados dentro da cesta.

Hajime tinha algo em mente e ponderou se era preferível fazê-lo antes ou depois da refeição. A inquietação que desgastava seu âmago estava perturbando sua capacidade de julgamento, distraindo-o do presente dividido com Oikawa. Uma respiração pesada e prolongada fora necessária para romper com o nervosismo que tomava toda a sua atenção, voltando-a àquele que estava ao seu lado.

O olhar de reprovação destinado a si fez Iwaizumi encolher-se um pouco, mas o bico indignado que Oikawa sustentava nos lábios era fofo demais para conseguir sentir-se ameaçado. Deixando o seu debate interno em segundo plano, optou pela refeição, iniciando um diálogo remansado sobre o sobrinho de Tooru que começara a demonstrar sinais e interesse pelo vôlei.

O dia estava tranquilo e a influência dos raios solares estava tépido, propiciando um ambiente agradável para o casal que comia e se divertida, conforme lufadas irregulares aflavam por entre as cerejeiras, assobiando, ao perpassar as folhas, e levando consigo algumas pétalas nacaradas.

Ao fim da refeição, os braços de Iwaizumi foram postos atrás de seu tronco, firmando as mãos sobre a coberta e curvando o torso em um ângulo obtuso; e as pernas estiradas para servirem de travesseiro para cabeça de Oikawa. Hajime fechara os olhos para se deliciar com a carícia aprazível proporcionada pela brisa suave, enquanto Tooru mantinha os seus abertos, concentrado nas cerejeiras que caíam e encobriam a grama verde com um mar rosado.

Ambos tornaram-se apáticos à passagem do tempo, tomando ciência das horas esmaecidas somente ao fim da tarde, quando o ocaso dominou o céu com sua claridade multicolorida. Iwaizumi notou que Oikawa aparentava estar dormindo e se deu o direito de contemplá-lo tão referto de paz. Chacoalhou o corpo adormecido, chamando-o para despertar e observando-o virar o rosto para outra direção.

Iwaizumi sorriu.

— Tooru — era assim que chamava Oikawa sempre que acreditava que ele estava fingindo dormir —, eu tive um sonho essa semana.

— Sobre? — Questionou, a voz sonolenta, mas incapaz de resistir a Hajime quando ele o chamava pelo sobrenome.

— Não era bem um sonho — se contradisse —, era mais uma lembrança que rejuvenesceu — e não falou mais nada.

Oikawa mantinha os olhos fechados, mas os abriu para fitar Iwaizumi, que observada o crepúsculo em seus tons de laranjas variados..

— Iwa-chan, você vai me contar?

— Eu não sei dizer se você se lembra — começou incerto —, mas, uma vez, quando éramos crianças, você falou para sua mãe que iria casar comigo e me abraçou logo depois — a entonação revelava a insegurança crescente dentro de Hajime.

— Ah, eu lembro — animou-se ao perceber que a memória era vívida em sua mente, sentando-se para conseguir encarar o outro. — Iwa-chan fez uma cara emburrada para mim, quase pensei que você não iria me querer.

— Eu sempre quis — cada palavra funcionou como uma bofetada contra o rosto de Oikawa, tornando-o carmesim, porém de vergonha pela sinceridade de Hajime. — Vamos casar, Tooru — pediu, levando o olhar até o namorado, encaixando o verde no âmbar.

— Óbvio que vamos casar, Iwa-chan — o timbre tremeu um pouco e Oikawa se repreendeu por vacilar ali. — Um dia, vamos casar.

— Não! — Negou. — Não quero a promessa sobre um futuro não determinado — explicou-se. — Eu quero o agora e me debruçar nesse instante sobre os planos do nosso casamento, sem perder tempo.

— Você não pode só jogar no meio de uma conversa normal um pedido de casamento, Iwa-chan — reprovou, tentando controlar o nervosismo que rompia em suas entranhas. — Rude, Iwa-chan! Rude!

— Mas foi exatamente isso que você fez quando me chamou para morar com você — sorriu desdenhoso.

— Iwa-chan, acho melhor você não está brincando comigo — o choro estava no ímpeto de romper e finalmente o fez quando Hajime tirou do bolso da calça uma caixinha de veludo preta.

— Você quer casar comigo, Tooru? — Perguntou, abrindo a caixa e revelando dois anéis de prata com fios de ouro.

Existia algo sobre Oikawa que Iwaizumi conhecia como ninguém: o setter auto sabotava-se quando estava apreensivo. O boicote poderia acontecer de formas diferentes, como se apequenar diante de um outro alguém ou se anular apenas por não se julgar merecedor de eventuais coisas boas. Ali, diante de Hajime com alianças em mão e um pedido feito, não seria diferente.

— Mas eu sou bastante inseguro e sou um idiota presunçoso, Iwa-chan sempre diz isso — a voz ansiosa, o choro farto. — Há tantas imperfeições em mim — queixou-se.

— Eu aprendi uma coisa nos últimos meses depois que o gato apareceu em nossas vidas — o tom estava calmo e a negativa de Oikawa não o desmotivou a continuar com o pedido. — Tivemos uma discussão morna para decidir o nome dele e, no começo, só por birra, insisti em chamá-lo de Godzilla. Mas, na verdade, eu sabia que te deixaria chamá-lo de Anakin, porque é de mim tentar te dar tudo o que você merece, Oikawa.

Um soluço alto escapuliu por entre os lábios de Oikawa, interrompendo Iwazumi, que sorriu brando. Em meios as lágrimas, Tooru tentava se recompor, mas os olhos úmidos e a face vermelha mostravam o seu insucesso em atingir tal objetivo.

— Aqui está meu corpo, que estou doando a nós — a mão de Iwaizumi alcançou a de Oikawa, levantando-a. — Aqui estão meus braços, que irão nos erguer — escolheu o dedo anular. — Aqui está minha vida dedicada ao amor, a amar você, Tooru — pegou a aliança da caixa e colocou-a no dedo dedo esguio do companheiro.

O empenho empreendido por Oikawa para conseguir controlar o choro invalidou-se ao escutar Iwaizumi e vê-lo colocar o anel nele. Desmanchou-se, as lágrimas vertendo vultosas pelas bochechas desenhadas.

A relação de Iwaizumi e Oikawa datava à infância deles e, acompanhada do amadurecimento individual deles, desenvolveu-se sólida e inabalável. Evoluíram as formas de se tratarem, passaram de amigos a namorados e, futuramente, a maridos. Contudo, não obstante a troca de tratamentos, a reciprocidade e a estima permaneciam estóicas, garantindo que o apreço e respeito não se tornem ausentes.

— E eu não sou capaz de prometer que tudo vai ficar bem, vamos discutir eventualmente — um riso baixo escapou ao lembrar da dinâmica que possuíam. — Mas eu estou aqui para tentar, se você estiver pronto. Para o melhor ou para o pior, Tooru, aqui está minha vida para quando você disser sim.

Iwaizumi observou o desalinho que apossara-se da fisionomia de Oikawa, que, desesperado, balançava a cabeça incontáveis vezes como se estivesse contestando as confissões feita por Iwaizumi. Com a palma livre, tentou enxugar o rosto úmido pelas lágrimas, enquanto esforçava-se para regularizar a respiração e cessar o choro.

Sob o escrutínio de Hajime, Tooru livrou sua mão da palma alheia que a envolvia, colando-a ao peito conforme sentia a textura do metal entre os dedos. Mais calmo, sorriu sincero para o homem à sua frente, coletando a aliança restante na caixa e repetindo o gesto de Iwaizumi.

Nem sempre as pessoas necessitam ser submetidas a eventos marcantes ou dramáticos para determinarem que precisam mudar suas vidas. No caso de Iwaizumi, bastou um gato preto, achado na sarjeta, para fazê-lo notar que queria bem mais de Tooru do que tinha, reconhecendo a necessidade de tê-lo unido a si por seus votos, uma declaração crua daquilo que sentia.

Pela primeira vez, em poucas palavras, Oikawa se pronunciou:

— Sim!



NOTAS DO AUTOR: Tem algum tempo que essa história está disponível em outras plataformas, apenas agora estou trazendo-a para o Inks. Espero que gostem e me perdoem por qualquer erro. As últimas falas do Iwaizumi são baseadas na música Yes da Demi Lovato, aconselho que escutem depois, é muito boa.



Betagem por Rebel Princess

Designer por Uzumakats





26 Mai 2019 16:04 0 Rapport Incorporer Suivre l’histoire
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La fin

A propos de l’auteur

godEos . eu gosto de escrever rebuscado.

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