guilhermerubido Guilherme Rubido

As batidas na janela fizeram-no despertar em completo terror. Uma criatura infernal agora o visita todas os dias, ansiosa pelo momento em que finalmente conseguirá entrar no quarto e finalizar sua missão. Com uma arma na mão, o homem aguarda seu fim.


Horreur Horreur gothique Tout public.

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A Sombra por Trás da Janela

I

Estranho e perturbador foi o primeiro dia em que aquela coisa me chamou. Eu dormia em meu quarto no oitavo andar do edifico Varandas quando, de súbito, um som dissonante e aterrador me assaltou, retirando-me da profundeza incolor do mundo dos sonhos.

Ouvi – vindo da janela que fica ao fundo do quarto onde eu estava – três vigorosas batidas contra o vidro que se encontrava gelado e encharcado por conta da chuva que caia naquela noite. Apavorei-me diante daquele terrível som: forte e abafado. Tão fora de sintonia com o silêncio pesado do quarto que fez com que todo o meu corpo congelasse no mesmo momento. Lembro-me de como hesitei antes de levantar-me e ir de encontro a origem do som. Como uma criança que, embalada em seus cobertores, tenta esconder-se do monstro apenas ignorando-o; como se aquilo nada fosse além de uma ilusão da madrugada. Infelizmente, nós adultos, não possuímos esse poder. A curiosidade fervilhava por dentro de meu corpo. A possibilidade de provar para o meu amedrontado cérebro que aquele som era, na melhor das hipóteses, o vento, se tornou irresistível.

Não quero que pensem que sou um tolo por temer sons da noite. Ou, que de algum modo, pensem que floreio a cena para que meu medo se torne mais compreensível. É verdade que não sou lá dos mais corajosos. Afinal, minha mente foi infestada das mais fúnebres histórias desde o início de seu desenvolvimento. Não tive um bom relacionamento com a minha mãe. A mulher, descendente de índios do nordeste do país, era fonte incansável de histórias terríveis. Contava-me sobre como eu devia temer isso ou aquilo; proteger-me desses ou daqueles. Todo esse receio alarmista que ela tomava como necessário para a sobrevivência advinha de hostis criaturas que viviam – esperamos todos –, tão somente em suas histórias herdadas. Infelizmente, vivi tempo demais com a minha querida mãe para que não desenvolvesse eu mesmo os mesmos temores. Assim, minha mente foi muitas vezes provocada e forçada a sair da inércia e viajar por terras sombrias por onde andarilho algum ousaria caminhar corporalmente. Essa sensação de provocação foi o que senti novamente no dia em que as batidas invadiram meu quarto.

Levantei-me no quarto escuro sem que meus olhos deixassem, nem por um momento, a janela isolada. As cortinas pesadas e curtas tremeluziam levemente com o vento que invadia o aposento pelas frestas da janela. Tão apavorado eu me encontrava que nem percebi que arrastava meu cobertor pelo quarto junto de meu corpo, envolto em minha cintura. Tampouco senti a necessidade de acender as luzes. A janela me atraia. Apenas ela. A ideia de que meus passos poderiam ser interrompidos por novas batidas faziam-me tremer. Era como um jogo. Quem irá chegar primeiro? A ansiedade dessa questão fez meu coração acelerar cada vez mais, até que atingisse um ritmo preocupante. Eu sentia suas contrações e quase podia ouvir suas batidas em meus ouvidos. Meus pés se arrastavam pelo chão gelado de madeira sem que som algum fosse emitido; como se meus instintos me auxiliassem, inconscientemente, a fazer absoluto silêncio.

Quando a janela foi finalmente alcançada, parei alguns segundos à sua frente. Eu sabia que nada haveria por trás daquelas cortinas. Mas, ainda assim, senti medo! Observei-a como um espectador que aguarda as cortinas que escondem o palco saírem da frente para revelarem o terrível espetáculo.

Um relâmpago estourou no céu em um ribombar sinistro. O som reverberou pela cidade que adormecia sob uma fina camada de névoa e fez os prédios tremerem. O espetáculo iluminou todo o meu quarto em um clarão momentâneo. Admito que um grito esganiçado saiu de minha garganta nessa hora: quase posso jurar que vi algo por atrás das cortinas! Uma silhueta magra. Para ser mais exato, a silhueta de um braço; um braço fino como um galho. Mas como poderia? Afinal, eu morava no oitavo andar. Não era uma casa para que transeuntes pudessem alcançar facilmente minha janela. Além disso, nem as árvores da rua eram altas o bastante para alcançá-la.

Recuperado do susto, retomei a postura e, em um ímpeto de coragem, abri as cortinas, revelando a janela por trás: nada. Apenas a chuva forte lá fora e um grande pombo que se escondia da tempestade em meu parapeito. Ao me ver, o pobre animal voou rapidamente.

Suspirei aliviado. Não esperava – e rezava para que não fosse – nada mais do que aquilo. Todavia, a tensão havia tomado meu corpo de tal modo que apenas saciar minha curiosidade seria capaz de resolver o problema e finalmente fazer com que minha mente emergisse de volta dos campos nebulosos onde a imaginação se torna capitã. Àquela altura, meus músculos do corpo estavam contraídos; eletrificados pela sensação do perigo que desaparecera tão rápido quanto surgira.

Retornei aliviado para a cama onde tudo começara. Recolhi o cobertor que eu deixara cair ao me levantar e, com ouvidos e olhos atentos ao mínimo vulto ou farfalhar, voltei a dormir. Nada mais ouvi naquela noite. A descarga de adrenalina que recaíra sobre o meu corpo fez com que, depois de relaxado, eu dormisse pesadamente; embarcando em sonhos profundos que hoje me fazem tanta falta.

17 Mai 2019 01:24 1 Rapport Incorporer Suivre l’histoire
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HunterPri Rosen HunterPri Rosen
Ótima escrita e desenvolvimento, clima de mistério nota mil, deu para captar a aura de terror e foi envolvida por ela <3 Parabéns! Indo para o próximo capítulo...
June 16, 2019, 00:47
~

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