Histoire courte
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Manuscrito 123

¤Notas Iniciais¤


Crossover: As Crônicas Vampirescas x Temer


AVISOS: insinuação de assassinato, afinal são vampiros, e talvez gatilhos por conta de certas atitudes do Marius.


Also desculpas adiantadas sobre qualquer sentimento ooc sobre os personagens e erros na gramática, a fic não foi betada e mesmo com as correções sempre escapa algo.


Ah e a mudança de 3° pessoa para 1° pessoa é intencional.


Tenham uma boa leitura ♡


____________________________



Os passos dos sapatos polidos ecoaram no piso do casarão, um toque constante no vazio. Olhos âmbar varreram o redor da figura com um brilho de saudades, quase nada havia mudado na moradia mesmo depois de um ano, apesar dos detalhes estrangeiros dos novos moradores.


Ou, bem, ex-moradores, pensou, lambendo o pingo de sangue no canto da boca.


Empurrando as grandes portas de estilo francês do recinto, a figura adentrou o velho escritório e, com curiosidade, notou que quase nada ali havia sido mudado. Interessante.


Passando a ponta dos dedos pelo tampo da mesa levemente empoeirada, ele se perguntou se qualquer lembrança deles havia sido deixada para trás.





É interessante perceber o quão menos comum a auto reflexão é para os seres humanos. Como eles estão mais sujeitos a inconsciência quando sobre sua própria pessoa do que diante das falhas e características de outros. Eu já fui assim, e talvez ainda seja, é difícil se acostumar com o fato que tenho toda a eternidade para refletir sobre quem eu fui e quem eu sou, e uma atitude estranha para um vampiro, pelo que Marius me disse; mas é difícil não se tornar consciente de minhas peculiariedades quando me pego sozinho. Um hábito adquirido no meu lapso, um do qual talvez não me recupere totalmente – como um soldado: o corpo tendo voltado do Vietnã, mas sua cabeça não. (nota: deixar essa última frase para reedição; procurar melhores metáforas)


Eu sou uma pessoa observadora, foi o que sempre me disseram; familiares, colegas de classe, Louis, Armand; mas a consciência do fato ainda é pouco palatável, um traço que me levou a perseguir a carreira de jornalista e me colocou na situação atual. É difícil compreender que algo tão intimo meu também é uma das causas de alguns dos meus problemas, mas também é uma fortuna, uma habilidade que me permite ver, com muito esforço, claro, através das mascaras de seres como Marius. Por exemplo, naquela noite de sábado de 1989 em um bar modesto na boêmia Copacabana, eu assisti o vampiro centenário entreter um trio de políticos – não uma raridade em nosso cotidiano, as pessoas eram atraídas a Marius assim como moscas eram atraídas para as plantas carnívoras e eu me encontrei mais de uma vez em uma roda de novos admiradores. Aquele bar, em particular, era um ponto favorito de Marius; nas poucas vezes que o mais velho escolhia o destino de nossos passeios pela cidade, ao menos cinquenta por cento das chances era passar a noite cativando os clientes do refinado lugar. Eu não estava surpreso com o favoritismo, pelo pouco que conhecia de Marius era nítido que o mesmo ficava mais satisfeito em ambientes pomposos do que a visceral vida dos jovens cariocas que era mais do meu gosto. Não é uma coisa que me desagrada, diferente do esperado, a distância dos séculos e gerações entre mim e Marius foi um peso mais leve do que jamais havia sido com Armand, refleti com melancolia hesitante, mas é injusto para ambos colocar em uma balança as diferenças dos meus sentimentos em suas companhias quando eles não eram iguais em minha concepção. Marius é um professor, paciente e generoso, e Armand... (nota: procurar mais tarde uma palavra satisfatória pra descrever o inominável)


E como um aluno diligente, eu também me entretinha assistindo Marius discursar e gesticular para a plateia atenta, olhos sábios enxergando apenas rebentos desavisados diante de si, dificilmente um igual. Era fascinante e um pouco triste, como tudo que envolvia Marius.


Não havia sido diferente naquele sábado, Marius mais uma vez conquistou um circulo atencioso e excitado, e mesmo que pessoas que viviam na enfadonha que era a vida politica não resistiram ao charme do loiro; mas eu notei, entre copos de conhaque discretamente não bebidos e butucas de cigarros nos cinzeiros, que um dos homens do trio havia chamado a atenção de Marius. Ele era velho maduro, 68, ou talvez dez anos a mais, e tinha um ar de estupidez que geralmente atraia valentões no colégio, calvo e pequeno, corpo magro e um rosto que lembrava o de uma ave, talvez um urubu-de-cabeça-preta; não era um homem atraente, não, e o único detalhe redimível foram a cor dos seus olhos, um âmbar que ganhava um tom esverdeado na luz baixa do bar. Eu não podia enxergar o charme no humano, mas Marius parecia realmente em júbilo com a discussão sobre poesia que haviam começado, para o desgosto aparente dos outros presentes na mesa que logo acharam algo para se distrair e se afastaram de nós quando ficou claro que Marius não permitiria qualquer mudança de assunto, então eu me vi preso no papel de um expectador silencioso e pouco interessado. A conversa não durou mais do que três horas e foi principalmente mantida pelo homem, Michel Temer como se apresentou, e ignorando as divagações tediosas sobre poetas dos quais ele carecia base critica para propor um debate além do básico, foi quase engraçado observar o politico tão animadamente, mas com certa hesitação não adequada para com a sua imagem, falar sobre Ana Cristina César e suas tentativas iniciante no mundo literário – se me perguntassem o que achei dos seus poemas, minha resposta seria: não mais do que linhas banais, é como eu chamaria seus versos. E acredito que Marius concordaria comigo pelo toque de diversão em seu sorriso, do tipo que um adulto teria para com uma criança ingênua e barulhenta, mas mesmo a paciência bem conhecida do vampiro tinha limites e ele afastou a cadeira, interrompendo o homem no meio de uma analise pouco lógica sobre e chamando minha atenção já dispersa, atraída para uma ruiva jovem e atraente na roda de universitários duas mesas afastadas da nossa. Ela parecia interessada, pelo os seus sorrisos em retorno, e eu já imaginava meus lábios em seu pescoço, o doce do sangue em minha língua e o calor do liquido quente pela minha garganta. Foi uma fantasia deliciosa, uma que planejava tornar realidade, então foi natural a careta que fiz ao ser interrompido, mas Marius apenas levantou uma sobrancelha divertido com minha reação e para Temer disse:


"Sinto muito por interrompe-lo de forma tão rude, mas eu e meu amigo devemos nos retirar." Marius começou, sorriso e tom de voz devidamente educados. "Receio que precisamos nos alimentar, de outro jeito seria encantador manter a conversa."


A forma como ele formulou a frase fez com que um sinal vermelho apitasse em minha frente e eu olhei para o imortal de forma alerta.


"Se alimentar? Mas temos um cardápio com aperitivos adequados bem em nossa frente." Temer disse, confuso, e eu senti vontade de quebrar algo quando o sorriso de Marius mudou de dispensa educada para diversão condescendente.


"Claro, uma pena não ser do nosso... agrado." o riso era palpável na voz do loiro e eu quase cedi a vontade de pegar o copo de conhaque de Temer e jogar na cara do vampiro. O filho da puta (nota: substituição futura, mesmo que imerecida, para algo mais vendável) sabia o que estava fazendo, isso era nítido no brilho de curiosidade no olhar que Temer deu à nós e eu sabia que uma dor de cabeça estava se aproximando – nesse momento entendi, mais uma vez, de onde a frustação de Armand com Marius havia nascido e criado amargos frutos. "Muito bem, acredito que está na hora de nos despedimos, meu novo e interessante conhecido."


Marius se levantou e, com a deixa, Temer e eu também, o primeiro com a mão estendida em uma ânsia embaraçosa que Marius retribuiu com um aperto mole. Eu observei a troca com impaciência e, quando Temer me ofereceu a mão eu já me afastava, não esperando para ver se o outro imortal me seguia.


Fora do bar, eu atravessei a rua sem me importar com os carros, o ar quente do Rio em meu rosto e braços descobertos, não levou mais do que um minuto para Marius estar ao meu lado.


"Daniel." a admoestação na voz de Marius era nítida, mas eu não cederia fácil.


"O que você espera conseguir com isso?" sibilei, parando de andar e me virando para o mais velho. "Que jogo idiota foi aquele?"


"Eu acredito não entender o que você está tentando dizer, Daniel." Marius pareceu surpreso com a minha explosão, mas eu não comprei o ato por um segundo, cruzando os braços.


"Você vai mesmo dar o sangue para aquele cara? Ele é um lerdo." zombei, sorrindo para a desaprovação no olhar de Marius. "Eu sempre pensei que o seu gosto era um pouco menos enfadonho e mais jovem e manipulável, inacreditavelmente angelicais."


Foi um golpe baixo, eu sabia, e me arrependi das palavras que fugiram pelos meus lábios ao mesmo tempo em que os olhos de Marius escureceram, ele estendeu a mão com tal velocidade que não fui capaz de enxergar mesmo após ter me acostumado com a transformação e meu corpo ficou completamente paralisado ao toque carinhoso do imortal em minha bochecha que deslizou para meu queixo, apertando com força e trazendo meu rosto próximo do seu.


"Acredito, meu querido Daniel, que tais questões não são ou devem ser do seu interesse." o dedão gelado acariciou minha mandíbula, a unha raspando de leve na pele em uma ameaça sutil e assustadora, e eu estremeci em reflexo. "Mas se te apazigua, não tenho interesse em cuidar de mais ninguém além de você, não no momento presente."


Eu não acreditei por um segundo porque eu sabia intimamente o que a solidão poderia fazer com uma mente, a compulsão maníaca da impulsividade, e eu nunca havia conhecido alguém mais solitário do que Marius – o mais próximo havia sido Lestat, mas o mesmo era um caso especial e eu não podia afirmar que a falta de racionalidade do príncipe vampiro era decorrente de algum vazio ou apenas loucura.


Como se provará mais para frente, eu não estava errado, ainda assim não queria testar a paciência do meu "guardião" e acenei obediente, do jeito que sabia que Marius apreciava.


"Claro." concordei sem comprometimento e ganhei um suave beijo por meu esforço. Nunca um fã de confrontos, eu me inclinei para aprofundar o beijo e foi exasperante o quão melhor me senti com a demonstração de carinho. Durou apenas alguns minutos até que Marius se afastou, me soltando e desviando o olhar para a figura atrás de nós; quando segui seu exemplo, vi a bela universitária ruiva do bar nos assistindo com curiosidade, suas pupilas dilatadas, um aspecto sonhador em sua expressão.


"Vamos, vamos comer." Marius sussurrou em minha orelha e foi simples esquecer qualquer conflito.



A rotina voltou, mas Marius havia pegado o gosto pelo absurdo e passou seu tempo livre com Michel Temer, ignorando meus olhares de critica toda vez que ele saia, ou quando voltava tendo saído antes do meu despertar. Eu tentei manter meu temperamento sobre controle, me convencendo de que não havia motivo para alarde, pois ainda reservamos tempo para atividades juntos; caçávamos quase toda semana, íamos ao teatro, aos clubes, o cinema, e até mesmo uma visita feita após muita insistência ao Tivoli Park da Lagoa – para minha diversão. (nota: um dia escrever sobre esse dia em detalhes, eternizar o momento da montanha russa)


E a minha parte favorita: noites em que tudo que eu e ele fazíamos era aproveitar a companhia um do outro em silêncio, quando Marius se concentrava em suas pinturas e eu em minha escrita.


Mas como esperado, o vampiro cedeu à tentação.


Eu deveria saber que a indulgência de Marius não tinha limites. Ele tinha um histórico de más decisões, então eu não fiquei surpreso ao encontrar Michel Temer nos braços do vampiro, lábios finos machados com o sangue venenoso que agora corria em suas veias.


Tão estupido, pensei, a ira me tomando por um segundo, e a vontade de repreender a criatura milenar ardeu em minha garganta, palavras como farpas nascendo em minha mente – palavras que na língua de um ruivo em particular poderiam destruir a neutralidade no rosto anguloso, romano. Mas eu não era tão impulsivo e minha voz saiu plana quando eu disse: "Você vai arcar com a responsabilidade disso. Eu não quero ter nada a ver com ele."


A tensão pairou entre nós e, de repente, a ideia de ir embora passou pela minha cabeça. Deve ter passado pela dele também porque logo me vi preso em um beijo gentil, mãos longas segurando meu rosto com tanta delicadeza que fez com que me sentisse frágil, assustado, e talvez eu estivesse – de ser substituído, abandonado, de nunca ser o suficiente, ou talvez todas as três opções.


Apaziguado, eu senti o gosto do sangue em sua língua e evitei pensar no corpo estendido do futuro vampiro no chão da sala.


"Eu cuidarei de tudo, não se preocupe." Marius prometera e eu acreditara. Era mais fácil assim.


Dali a diante evitei ao máximo ter contato com Temer, passando mais tempo nos becos e clubes do Rio do que em casa já que as visitas do vampiro recém transformado se tornavam mais frequentes, até mesmo passando semanas inteiras treinando com Marius e lendo livros na sala de visitas. Era irritante e eu não queria perder o controle, então preferi manter a distância me ocupando com batidas eletrônicas em volume incomodo e o sangue entorpecido por drogas dos dançarinos que eram a minha companhia. Marius inicialmente se preocupou, havia algo cuidadoso nas suas palavras e no seu toque e eu sabia que ele queria me convencer a conviver com seu novo brinquedo, mas não existia chances de que nos déssemos bem porque o desgosto era mutuo e eu podia ver isso no desdém no olhar do outro, então apesar das tentativas, eu e Temer pouco interagimos no tortuoso um ano de convivência.


Na virada de 1990, eu, Marius e Temer passamos o réveillon na praia de Ipanema, no meio das pessoas vestidas de branco que assistiam encantadas os fogos de artificio que não há muito estouraram na noite. Eu observei com curiosidade jovens garotas e garotos, até mesmo alguns pais com seus filhos pularem as pequenas ondas que chegavam à costa com risos alegres e, querendo compreender o motivo do ato, perguntei para uma senhora negra ao meu lado.


"Ah meu menino, eles pulam as ondas pra homenagear a Mãe Iemanjá. Você pula sete ondas e faz um desejo bom." ela explicou esbanjando simpatia, como uma avó muito carinhosa. Agradeci educadamente, pegando o movimento em minha frente e assistindo duas meninas correrem de mãos dadas para o mar.


Pular ondas para fazer um desejo hein? pensei e então com calma desamarrei meus tênis.


"Daniel?" Marius questionou curioso, mas o ignorei e comecei a me afastar de Marius e Temer, indo em direção à orla da praia, deixando a água molhar a sola dos meus pés e as barras de minhas calças, notei um jovem loiro ao meu lado, a silhueta do corpo atlético visível por debaixo da camisa branca de tecido leve, nossos olhos se encontraram e eu sorri, apreciando a sensação da areia molhada abaixo de mim e do pulsar do sangue na artéria do pescoço do rapaz; o momento me fez sentir um ardor de euforia, e me sentindo juvenil, soltei um riso e comecei a saltar. Após pular sete ondas como ensinado, sorrindo para um casal que ajudava sua filha a fazer o estranho ritual, eu voltei para junto dos dois imortais, ignorando a questão silenciosa no franzir de testa de Marius.


"Qual foi seu desejo?" minha atenção foi atraída para Temer e eu foquei nos olhos âmbar com intensidade.


"Segredo." respondi, sentindo satisfação na raiva nas linhas do rosto de Temer, porque ele era o tipo de homem que preferia respostas diretas e nunca conseguia esse tipo de satisfação da minha parte. Foi uma provocação infantil, eu sabia, mas eu apreciava minhas pequenas vitorias, tão mesquinhas quanto poderiam soar. E talvez tenha sido Iemanjá ou apenas a sorte, mas pouco tempo depois do Ano Novo, em março de 1990, Marius se aproximou de mim anunciando repentinamente que viajaríamos para Londres.


"E Temer?" perguntei, terminando de encaixar a Basílica di San Marco na maquete da cidade de Veneza.


"Ah, você não soube?" esperei até Marius continuar, ainda distraído com Veneza, mas quando ficou claro que o outro queria minha total atenção, levantei a cabeça com impaciência. Marius apenas sorriu divertido. "Temer voltou para São Paulo na semana passada, seu partido o chamou de volta para os preparativos para sua candidatura a deputado federal. Ele pediu para que eu lhe desse seus cumprimentos e desejou uma boa viagem para nós."


Fiz uma careta, não havia muito tempo desde que Temer tinha recebido o sangue e embora ele tenha se saído muito melhor na coisa toda de ser um vampiro – para a minha consternação, eu não podia negar o controle quase natural dele – a transformação era muito recente para Marius se afastar. Não que a imprudência me surpreendesse, mas ainda assim questionei:


"Isso não é perigoso? Ele é praticamente um bebê para nós. Aparência de adulto ou não."


"Ora, ora, meu querido Daniel, se qualquer outro escutasse essas palavras da sua boca acreditariam quase que você está preocupado com o bem estar de Michel." Marius brincou, mas antes que eu retrucasse ofendido, ele continuou: "Não se preocupe, eu não sou tão tolo quanto acredita. Entrei em contato com um conhecido imortal que, por sorte, também se entretém com a vida politica, e pedi para que tomasse conta do meu noviço, não que eu esteja preocupado."


Marius não acrescentou nada à frase e sua voz era como sempre calma, mas a raiva ainda ardeu no meu peito. Eu ignorei o sentimento, controlando a força do meu aperto na versão miniatura de um prédio, e sorri; meu orgulho ferido um sacrifício pequeno diante da satisfação. Eu poderia ter questionado a facilidade com que Marius parecia perder o interesse pelas pessoas em sua vida, mas não me preocupei com o fato porque, naquele momento, a pessoa em questão não me interessava.


"Então, quando saímos?"


Eu estava pronto para uma mudança de ares.





Olhos âmbar piscaram ao chegar ao fim da nota passageira deixada por Daniel.


Michel Temer abaixou a mão, colocando a folha desgastada pelos anos em cima do mogno da mesa de escritório, e se recostou na cadeira giratória que mandou fazer de forma personalizada para a sua figura. Ele não sentia dores nas costas fazia anos, claro, mas uma cadeira confortável ainda era uma cadeira confortável. Levantou o olhar para o velho relógio na parede pintada de preto, os ponteiros marcando 3:33 da manhã, ele então dirigiu o olhar para a janela, observando sem realmente enxergar as luzes distantes da cidade, a mente distante em lembranças já há muito ignoradas. Se perguntou onde Marius estaria agora e se, assim descrito belamente por Daniel, estaria tão solitário como sempre, era estranho notar como Marius era um ator magnifico já que Michel acreditou piamente que o homem (vampiro) era um dândi em sua mais prospera essência, mas ele entendia o que era usar marcaras, não seria justo julgar alguém tão antigo quanto Marius. Com nostalgia inesperada, ele lembrou de suas conversas sobre livros e arte, e mesmo que as afirmações da falta de equidade na sua amizade, Michel sentiu falta da compreensão e atenção aos detalhes tão raro de se encontrar no cotidiano da vida politica. Aqueles foram bons tempos que não voltariam.


Por um instante, ele sentiu saudades do gosto do conhaque e do cigarro, mas pensou em como estava em uma vida muito mais satisfatória agora, com a família e a carreira que sempre almejou. E Marius havia lhe dado o sangue, um presente generoso mesmo que inconsequente.


Distraidamente, o vampiro escutou os passos se aproximarem e o toque na porta foi uma formalidade, afinal somente uma pessoa estaria do outro lado.


"Querido, o que ainda faz aqui?" Marcela perguntou sonolenta, entrando no recinto que não era de seu total agrado – a escolha de tinta para a parede do escritório de Michel era um dos poucos pontos de desavença em seu casamento. Aquele era um dos poucos lugares onde a influência de Marcela não havia conseguido alcançar e, embora Michel encontrasse a predileção de sua amada para com as cores mais amenas um traço de personalidade adorável, o escritório era seu domínio pessoal e, como tal e apesar das discussões, as paredes foram pintadas de preto.


Michel não olhou em sua direção enquanto Marcela se aproximava, mas deu espaço quando sua esposa se sentou em seu colo.


"Trabalho." ele respondeu, fechando os olhos ao toque da mão delicada em sua mandíbula.


"Trabalho? É assim que nomeia sua paixão hoje em dia?" Marcela questionou, o riso em cada palavra dita. "Sempre acreditei que escrever poemas fosse apenas uma forma de aliviar o peso da sua alma torturada, meu amor."


"Eu não acredito que seja algo tão dramático, meu bem." Michel deu um sorriso zombeteiro, segurando sua esposa pelos quadris e a movendo para que ficasse melhor posicionada em seu colo. As linhas de Daniel atravessaram momentaneamente sua memória; (...)não mais do que linhas banais, é como eu chamaria os seus versos. "Não é mais do que um hobby, um passatempo inofensivo." justificou-se. Para Marcela ou para Daniel, não saberia dizer.


"Bem, inofensivo ou não, desde que me tenha como sua musa, acredito que posso viver dividindo seu tempo com elas." brincou, dando um beijo na têmpora do vampiro, lábios quentes na pele fria. Olhando para o topo da mesa do marido, Marcela notou a folha solitária e esticou a mão para pega-la. "Seria esse seu novo-"


Mas antes que os dedos dela tocassem o papel, Michel afastou com rapidez sobre-humana, um olhar de advertência para a mulher assustada com a severa demonstração.


"Quantas vezes lhe disse que não aprecio tocarem em minhas propriedades, querida?" a voz do vampiro era gélida, e Marcela apertou os lábios, qualquer alegria drenando de sua expressão.


"Muito bem, mantenha seus poemas em segredo." disse, se levantando e se afastando do marido. Se Michel quisesse, ele poderia impedi-la, mas não o faria, pois preferia evitar o temperamento da jovem mulher. "Estarei na cama se decidir que seus versos não valem tanto a pena."


Para qualquer um que não a conhecesse, as palavras de Marcela soariam quase inocentes, no máximo aborrecidas, mas a ameaça passiva-agressiva era sutil, uma chuva que se tornaria uma tempestade se não apaziguada imediatamente. Com um olhar de desdém, Marcela encarou Michel diretamente nos olhos e fechou a porta com um toque delicado, passos leves e compostos se afastando pelo corredor. O vampiro soltou um suspiro irritado; agora sim teria que escrever um poema para a esposa, talvez reservar passagens para Veneza ou Mônaco apenas para garantir a completa eficiência do reconcilio.


Olhando para a página descartada da biografia ainda não – e talvez nunca – publicada, Michel pensou naquilo que evitou até agora; nas possibilidades da eternidade. O que ele faria quando as cobras no senado decidissem dar o bote final? Michel não era tolo, ele sabia que não restava muito mais tempo com as eleições para presidente tão próximas. Sua carreira, os anos que dedicou aos partidos, aos cargos, os diversos acordos medíocres que ele precisou aceitar e persuadir outros a aceitarem, a influência que ele construiu com o preço certo a ser pago; tudo isso seria perdido. O que lhe restaria então? Marcela e o filho que eles adotaram, sim, mas mesmo eles não seriam eternos porque Michel não recorreria ao sangue, não com sua própria família.


Com melancolia e se sentindo muito velho, Michel releu o escrito de Daniel, sentindo certa amargura ao imaginar o outro vampiro em algum lugar no mundo, um computador ou notebook – ou mesmo uma antiga maquina de escrever, dada a presunção do americano – em sua frente, os dedos ágeis nas teclas dando voz às histórias e memórias de criaturas eternas. Quão incrível deve ser poder ter todo o tempo do mundo para dedicar ao que se ama.


Michel arregalou os olhos, de repente realizando que a resposta para seus receios estava bem na sua frente. Coçando o queixo, a expressão pensativa, ele deixou a semente da "inspiração" brotar em sua cabeça – em exilio ou em reclusão, teria muito tempo, a eternidade, de fato, e isso era o suficiente pra tornar um hobby em algo mais concreto.


Daniel Molloy nunca foi excepcionalmente brilhante, não como Marius, mas ele podia ser acidentalmente inspirador, às vezes.



Em um ano desconhecido, o livro de Michel Temer é publicado e em sua dedicatória está escrito assim:


"Para Marcela, a musa de minha vida, que me inspira e ilumina. E para Marius de Romanus e Daniel Molly, o primeiro por me proporcionar a possibilidade de viver tanto tempo e o segundo por me incentivar a seguir aquilo que sempre fui destinado."


Em algum lugar em Nova Iorque, Armand assiste – com certo temor pela sanidade do seu parceiro – Daniel comprar tantas edições possiveis do livro de Temer e queimar no quintal dos fundos de sua casa.


Enquanto isso, em Roma, Marius fecha o livro com uma risada alta. Não era exatamente uma obra de arte, isso é fato, mas uma dedicatória ainda era uma dedicatória e ele se sentiu levemente satisfeito, embora confuso, porque quem diabos era Michel Temer?



___________________________


¤Notas Final¤



OH MEU DEUS EU TERMINEI ISSO! Eu to num misto de ódio e orgulho, sério vcs nem imaginam.


Bem, alguém além de mim está surpreso que Michel Temer se tornou um personagem tão estranhamente cativante? Ainda não entendi como consegui essa proeza, mas enfim, foi divertido escrever ele. Também foi super divertido escrever o Daniel com ciúmes, embora não tenha certeza o quanto conseguir manter ele fiel ao personagem, eu tenho uma visão muito particular sobre o Daniel, mas tentei ao máximo escrever o Molloy da Anne Rice aqui. E sim, meu headcanon é que ele tem uma auto biografia escondida e que, estupidamente, esquece as páginas menos importantes sobre sua vida por ai lol e acho que é óbvio que shippo muito esse bb com o Armand e o Marius, não resisti adicionar meu ot3 aqui, sorry not sorry.


Cookies para quem descobrir quem é o outro vampiro na fic ;3


E curiosidade: não sei se os olhos de Michel Temer são âmbar ou não, mas encontrei a discussão no quora ao pesquisar a cor dos olhos dele, assustador.


Ah e algo divertido sobre o processo de escrita dessa fic, é que eu escutei metal rock enquanto escrevia pra ter motivação pra terminar tudo em um dia, agora to imaginando o Daniel fazendo o mesmo quando seus prazos são curtos e é apenas hilário.


Enfim, espero que tenha sido uma boa leitura.


Comentários e criticas são sempre bem vindos ♡

See ya~

27 Mars 2019 23:57:18 15 Rapport Incorporer Suivre l’histoire
125
La fin

A propos de l’auteur

LiNest Meu nome é Aline, também conhecida como Linest e eu estou realmente feliz por poder compartilhar meu trabalho com tanta gente agora!!! Você só precisa saber 3 fatos sobre mim: Amo Angst. Sou Nerd. Sou Army.

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Lollys Mars Lollys Mars
Oiê! Sou a Lollys, da Equipe de Comunidade do Inkspired - BR, e vim aqui para falar sobre o prêmio do desafio que essa história participou, o #Juntaink. Peço desculpas em nome da Embaixada por termos deixado passar isso e peço que entre em contato comigo através do facebook: https://www.facebook.com/lollipopmars ou pelo meu email: [email protected], para que a entrega do seu prêmio possa ser feita! Caso tenha recebido o prêmio, ignore essa mensagem.
April 19, 2020, 22:32
A Louca dos Cavalos A Louca dos Cavalos
Gostei bastante dessa fanfic. Não consegui me cativar muito com ela mas foi uma leitura rubiscada e antiga. Eu gostei. Realmente a sociedade me fez acreditar que o Temer é um vampiro e vou seguir nessa crença por que o que tem no Brasil é só meme, kkk. Achei muito cute e fofo o romance dele com a Marcela, estaria disposta a ler uma fic abordando isso. Aquela cena foi tão graciosa <3 Muito lindo. Valeu a pena. Obrigada! Bjss de cavalinhos <3
April 04, 2019, 23:23

  • LiNest LiNest
    Fico feliz que vc tenha gostado, e realmente não dá mais para ver o Temer como outra coisa além de um vampiro lol não sei se tenho interesses em escrever algo além disso, mas fico feliz de saber que vc tem interesse em ver mais da Marcela e do Temer juntos. Muito obrigada por comentar ♡ April 05, 2019, 14:36
Nathy Maki Nathy Maki
Eu ri com a última frase? Eu ri demais kkkkk Quem diabos seria Michel Temer? Huehehehe adooroo Não conhecia essa série, mas deu vontade de dar uma pesquisada e continuar lendo. O modo de narrar ficou muito muito bom! Achei bem interessante essas notas que o próprio narrador ia acrescentando na história, primeiro eu pensei que tinha sido um erro, mas ai vi que não e achei muito interessante. O vampirinho do Brasil ficou muito cativante kkkk eu tenho uma fanart dele assim em algum lugar :v Enfim, parabéns mesmo pela história! Foi Ultra criativa! Um beijão ♡
April 04, 2019, 00:36

  • LiNest LiNest
    Quem é Michel Temer na fila do pão né? Mas sinceramente a fic ficou bem melhor com esse mini epilogo que fiz, fico feliz do meu cerebro ter fabricado ele de última hora kkkkkkk e que bom que vc gostou da narrativa, imaginei que as notas do Daniel poderiam ficar confusas pra quem não leu nada das Crônicas Vampirescas (o Daniel é o repoter do primeiro livro) mas logo ficaria claro que ele estava escrevendo os acontecimentos; esse é um tic especifico meu onde adiciono pequenas notas enquanto escrevo, e como me relaciono muito com o personagem tornei isso um headcanon dele tmb. E nossa adoraria ver essa fanart, por incrivel que pareça me apeguei ao Temer vampiro XD muito obrigada por comentar sweet, fico satisfeita que tenha gostado ♡ April 04, 2019, 11:34
Willver Hst Willver Hst
Gostei bastante, mas ainda não entendi (não conheço os universos). Maass me deu uma curiosidade de querer ler mais, vê se dá certo colocar mais algumas páginas. Bejos!) -Willver Hst
April 03, 2019, 18:19

  • LiNest LiNest
    Awn muito obrigada por ler e comentar; eu não tenho planos de escrever fic com o Temer nesse universo, vou mesmo só escrever contos separados das Crônicas e talvez uma fic onde Temer e outros politicos são vampiros, mas tudo depende da musa inspiradora né? See ya ♡ April 03, 2019, 20:43
Ellie Blue Ellie Blue
MEU DEUS, MANO, QUE FODA! Eu to completamente apaixonada por esse conto porque: a-) ele conseguiu me fazer gostar do Temer; b-) a história em si é muito cativante. Cara, você tem uma escrita singular e sensacional, do tipo que prende as pessoas na leitura, sabe? Eu realmente estou apaixonada. Eu amo muito a junção desses dois universo, mesmo que não tenha lido As Crônicas Vampirescas (nota: ler esses livros logo, sem procrastinação), porque traz a tona aquela teoria maravilhosa do Temer ser vampiro. Quem diria que ele escreveria poemas? Quem diria que seria um personagem maravilhoso? De qualquer forma, eu realmente amei o conto, fiquei animada para lê-lo assim que vi sua divulgação. Bem, é isso, você é um gênio. Até mais.
March 31, 2019, 23:42

  • LiNest LiNest
    Awn muito obrigada! Sinceramente eu nem sei como fiz o Temer virar um vampiro tão interessante, era pra ele ser alivio comico, mas acabei me apegando e dando pro pobre diabo mais personalidade do que o planejado kkkkkkk e poxa fico muito feliz que minha escrita te agrade tanto, to sempre tentando melhorar, mas só de saber que conduzi a narrativa de forma satisfatória já me deixa orgulhosa ♡ e nossa leia sim As Cronicas, são livros ótimos (especialmente os 3 primeiros) e tem personagens extremamente maravilhosos (além de ser um puta surubão kkkkkk) ah e leia os poemas do Temer ;3 isso é fato real, não um headcanon lol enfim, muito obrigada por comentar sweet, see ya ♡ April 01, 2019, 01:33
Ayzu Saki Ayzu Saki
Se alguém me falasse que me fariam gostar algum dia do Temer chamaria de doido. Mas cá estamos. Isso foi genial, mas admito que cuspi o café de rir quando vi os personagens desse crossover hahaha, o mais criativo que vi até agora
March 29, 2019, 17:45

  • LiNest LiNest
    Digo que faria o mesmo que vc se me dissessem que eu iria gostar de escrever sobre o Temer, mas o mundo é um lugar estranho kkkkkkk e muito obrigada por ler e comentar, e eu me desculparia pelo seu café, mas essa é a melhor reação ever pra esse nonsense XD March 30, 2019, 02:53
Yuui C. Nowill Yuui C. Nowill
VOCÊ. É. GENIAL. SIMPLESMENTE GENIAL. G-E-N-I-AL. EU TÔ BOQUIABERTA KKKKKK Eu não conheço as crônicas vampirescas porque não gosto da Anna Arroz, mas tudo bem, não tem problema. Eu não vou poder adivinhar quem era o outro vampiro ç_ç MAS MEU DEUS o Marius transformando o Temer em vampiro, o Daniel todo mordido de ciúme... A CENA DA ESPOSA DO TEMER COM ELE, EU ENTREI EM CONFLITO INTERNO, PORQUE EU NÃO SABIA COMO REAGIR. EU IMAGINEI ISSO E----------- NOONONONONONONONONONO JUST NOOOOOOOOOOOOOO, mas faz sentido. E MEU DEUS O DANIEL QUEIMANDO OS LIVROS DO TEMER COM A DEDICATÓRIA KKKKKKKKKK SOCORRO. E eu não entendi por que o Marius não se lembrava do Temer? Ou foi ironia? Eu fiquei relativamente triste :'( Poxa, coitado do Temer, vai kkkkkkkk ele tentou pelo menos. MAS NOSSA QUE FANFIC GENIAL EU TÔ URRANDO ISSO FOI DE LONGE O MELHOR CROSSOVER QUE EU VI! PARABÉNS LINE DE VERDADE KKKKKKKKK AI EU TÔ RACHANDO O BICO PRINCIPALMENTE COM O FINAL. E adorei a descrição do Rio de Janeiro e das ondas no ano novo também!
March 28, 2019, 03:57

  • LiNest LiNest
    AWN MUITO OBRIGADAAAAA! Sério Yuui, teu comentário vale ouro, deuses vc é super fofa ♡ e te darei uma dica sobre o outro vampiro lol é um politico br famoso que o nome começa com S e termina com Y, bem decrépito até kkkkkkk mas respondendo tua pergunta, o Marius não lebrou do Temer de primeira porque ele não foi exatamente alguém marcante na vida do vampiro e, para o Marius, poucas coisas valem a pena ser mantidas quando vc vive o tempo como um piscar de olhos, tipo o tempo dele no Rio no máximo pareceu dias sabe? E depois que ele jogou o trabalho nas mãos de outro vampiro, bem, não havia porque se preocupar com um brinquedo temporário. Mas pra ser justa, ele tá meio ooc pra encaixar aqui na fic, então é apenas uma caracterica exarcerbada. O DANIEL NÃO SUPORTANDO O TEMER É APENAS MARAVILHOSO DE ESCREVER! Tenho certeza que se ele estivesse no Brasil entre 2017 e 2018, ele ia participar da campanha "Fora Temer" só pelos lulz kkkkkkkk e deuses muito obrigada pelos elogios, sério, eu dediquei muito de mim nesse crossover, foi exaustivo, frustante, e incrivel escrever essa fic então vc achar a melhor do desafio é uma honra (principalmente porque vc é minha maior concorrente aqui, tua escrita é fenomenal) Enfim, muito obrigada por ler e comentar ♡=(´▽`)=♡ March 28, 2019, 04:17
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