Crossover: Devilman x Belas Maldições
AVISOS: Essa fic contém spoilers do fim de ambas as obras, caso não tenha lido uma ou ambas as obras. Menções à violência e gore. Ah, e fic sem beta, então desculpem os erros que sem dúvida tem nessa fic.
E recomendo que escutem a música que me inspirou bastante no tom da fic.
Also desculpem minha insistência em citar John Milton por conta da minha obsessão com Paraíso Perdido.
Tenham uma boa leitura ♡
____________________________
“Com a previsão os males não se impedem,
E imaginados não afligem menos
Do que em sua verídica amargura.”
John Milton
No fim do mundo, um lamento foi ouvido.
"Akira, por favor, não me deixe aqui sozinho!" O silêncio que seguiu o seu lamento só fez com que a bela criatura se sentisse ainda mais solitária.
Desde que os exércitos de demônios e o Devilman degolaram uns aos outros, a terra ficou estranhamente quieta e obscura. Não mais o "paraíso" exuberante que seu pai havia criado todos aqueles milênios atrás, o mundo agora era uma cadeia de rochas estéreis suspensas em um mar de sangue ao redor da moribunda Estrela da manhã. Lá em cima, a lua estava em dois pedaços fragmentados, um testemunho da força impressionante empunhada pelos dois seres de magnitude incompreensível durante a sua batalha final, sua desavença tendo se espalhado pelo mundo inteiro.
O corpo de Akira estava frio em seus braços.
O calor natural do corpo do arcanjo caído era bem acima do de qualquer humano, tornando o frio do cadáver de seu melhor amigo ainda mais evidente ao contato com a sua pele. Lágrimas escorriam pela angelical feição, pingando no peito do ainda meio-demônio. Ele nem sabia que o havia matado com o golpe, a tentativa de mostrar a força e sinceridade em seu coração para seu ex-melhor amigo falhando completamente. Se lembrou da raiva e do desespero que sentiu quando Akira o negou, do gosto amargo da traição, e mesmo assim não era sua intenção machucá-lo ou perdê-lo. Nunca havia sido; mas não havia dúvidas ao se olhar para a parte inferior do corpo em seus braços, a metade do cadáver do meio-demônio perdida no meio da carnificina.
"Você não pode me deixar assim! Eu estou sozinho agora." Sussurrou em súplica, porémseus apelos caíram em ouvidos surdos. Ele não lutou contra as lágrimas enquanto fluíam de seus olhos, ele abraçou Akira rente ao peito, possessivamente.
O grito que preencheu a quietude diante da realização total da sua perda foi abafado pelo som dos sinos das hostes aladas.
Sentados em uma das rochas negras mais elevadas, um anjo e o único demônio restante assistiam ao final do mundo. Olhos azuis solenes e os dourados raivosos respectivamente, tinham uma visão privilegiada daquela tragédia grega.
"Bem, então é isso?" Crowley zombou, a amargura pingando nos "s" em sua língua bifurcada. Aziraphale olhou para o lado, lhe dando atenção. "Tudo o que fizemos foi para nada no final. O mundo acabou graças à Lúcifer, e não ao anticristo, huh? Eu deveria estar surpreso, mas o óbvio é apenas decepcionante."
E de fato, era. Aziraphale concordou silenciosamente com aquele que aprendera a ver como um amigo, mas de nada adiantava analisar o jogo falso ao qual os dois foram levados a participar, porque sentimentos negativos não serviam para Aziraphale no momento. Além do mesmo ser um anjo, e por ser um típico anjo disse, tentando compensar o incompensável:
"Ao menos você sobreviveu à Amon."
"Por pouco. O desgraçado estava ocupado demais com demônios como Sirene e Hastur para prestar atenção em uma fraca cobra."
Aziraphale absteve-se de corrigir o amigo. Crowley era tudo, menos fraco, mas não havia palavras suficientes que fariam o demônio acreditar no anjo; sendo assim, ambos ficaram em silêncio, esperando. Faltava pouco, logo as hostes de Deus chegariam à margem, o som das vozes de seus irmãos cada vez mais próximo.
"Valeu a pena?" Crowley perguntou repentinamente. Era uma questão destinada ao arcanjo chorando abaixo deles, claro, mas tampouco esperava resposta. Crowley a fez sabendo que cairia em ouvidos surdos pela dor.
De qualquer forma, Aziraphale respondeu: "Talvez."
"Eu não vejo méritos em se perder tudo por conta de uma única pessoa. O que ele ganhou com isso? Nada mudou e perdemos." Puxando as pernas rente aos seios, asas negras abaixando até as pontas tocarem a pedra queimada onde estavam sentados, Crowley se abraçou e continuou: "O amor é algo perigoso para nós, anjo, olhe onde isso o levou. Veja o que eu e você sacrificamos em vão." Crowley sibilou com raiva. "Às vezes, me pergunto se Ele criou o amor de propósito, para o bel-prazer de assistir suas crias sofrerem."
Aziraphale nada disse, não tendo resposta diante daquelas palavras. Ele pensou na sua biblioteca perdida, no pudim de pão e manteiga da pastelaria perto do parque que gostavam de frequentar, dos patos e sua assustadora sagacidade. Pensou nos humanos que havia conhecido e feito amizade, na visita que prometera, mas nunca fizera à Adam e Anathema. Principalmente, o anjo pensou nas tardes, e algumas noites, no apartamento de Crowley - o gosto do vinho, as plantas aterrorizadas pelo seu dono, mas saudáveis; a música tocando baixo no rádio e o cheiro de fogo e cinzas inexistentes. Aziraphale pensou na textura da pele do demônio ao seu toque, uma casca que não era completamente eficiente em esconder a forma verdadeira da serpente que existia ali dentro.
Aziraphale nunca teve uma visão muito boa, não como Crowley, mas ele pensou nas poucas vezes em que a possibilidade da amizade deles ser algo mais do que apenas companheirismo — no início forçado e hesitante, mas cuidadosamente cultivado através dos séculos — havia existido e o que, com um pouco mais de falta de ponderação, o anjo poderia ter feito para tornar a ideia em realidade.
E entendeu que, de fato, o amor era perigoso demais para criaturas como eles.
O pouso de Gabriel na negritude do que sobrou da terra trouxe Aziraphale de volta para a realidade. O anjo encarou o mar vermelho com olhos gélidos.
A raiva não era uma sensação que apreciava sentir, mas por um instante Aziraphale compreendeu o sentimento de querer se rebelar contra o destino que os demônios tanto apreciavam.
"Esse é o fim." Crowley murmurou com melancolia. "Oh bem! Foi bom enquanto durou." a serpente então esticou a mão trêmula. "Juntos no começo."
Aziraphale olhou para a palma estendida e, com o coração apertado, aceitou a gentileza da criatura de quem menos esperaria tal ato — mas aquele era Crowley. Ele sempre foi surpreendente das melhores maneiras. O toque foi um conforto e o anjo esticou as asas brancas em suas costas, três delas pairando ao redor de Crowley de forma protetora, um gesto quase tão possessivo quanto o aperto de Lúcifer ao que sobrou do ser humano que ele amou.
"Juntos no fim." Sempre, Aziraphale prometeu a última parte em silêncio, reservada apenas para si mesmo.
E ambos, anjo e demônio, assistiram o julgamento do caído, sua sentença sendo o renascimento do mundo para sua constante destruição.
Pois Deus era egoísta e, como Ele, eram seus filhos.
____________________________
O amor não era um sentimento destinado aos demônios, não. O amor é algo puro, sacro, criado por Deus em sua magnânima virtude, e Ele há muito havia negado a possibilidade de existir qualquer traço remível nesses filhos em particular.
Ignoramos o calor das mãos dadas em confiança e companheirismo entre uma serpente e um anjo.
Ignoramos o calor do abraço e o cândido das lágrimas derramadas de uma criança por um monstro.
O amor não era de valor algum para criaturas em ruína. Assim eles foram levados a acreditar.
_____________________________
É um dia típico em Londres. Chuvoso e cinza, desagradável para os turistas e cotidiano para os moradores da antiga cidade. O som dos carros no trânsito e os pedestres na rua criava uma sinfonia assimétrica, o barulho rodeando a todos como um cobertor de sensações diversas, desde aborrecimento até a completa raiva, e não foi surpresa quando uma briga entre um ciclista e um motorista desatento começou, atraindo olhares daqueles que não tamparam os ouvidos para abafar a loucura do mundo. Crowley aproveitou o sentimento do descontentamento no ar, um peso quente na boca do estômago.
Era quase o suficiente para fazer com que quisesse dar um passeio pela cidade, apesar do tempo detestável, as segundas costumando serem a parte mais divertida da semana nessa era moderna, mas lembrou que já havia feito planos para o dia. Esses planos sendo o tipo do qual não poderia adiar graças à companhia. Crowley olhou para o semáforo vermelho dos pedestres com certa impaciência, desejando ter usado Bentley ao invés de suas pernas, mas prevendo o humor detestável e preferindo poupar seu companheiro do estresse das ruas de Londres — e era melhor evitar o olhar de reprovação de um certo anjo quando ele, inevitavelmente, perderia a paciência e aceleraria além do necessário. Segurança, ha.
Não dando mais do que três longos segundos até o sinal se abrir, a atenção de Crowley foi perturbada por um toque leve em seu braço. Observou distraído a jovem que acabou de se embrenhar entre os pedestres em espera para se colocar logo à frente de todos. Ela é pequena, quase minúscula com o casaco de pele branco que parecia engolir sua figura, então Crowley imaginou que não havia sido difícil para a mesma se engalfinhar entre os corpos em grande maioria vestidos em ternos e jaquetas pretas. Os olhos dourados checaram desinteressadamente os cabelos loiros e o rosto andrógino, reconhecendo algo familiar nos olhos azuis focados na tela do celular em mãos com dedos longos e elegantes — Crowley notou Queen e Snow Patrol na playlist aberta, aprovando silenciosamente o bom gosto.
Perdendo o interesse na adolescente, Crowley estava pronto para voltar a contar o tempo faltando para prosseguir seu caminho quando o celular nas mãos dela tocou, um nome familiar aparecendo na tela — com emojis de coração ao lado, a demonstração de carinho enojando Crowley. Claro, ele não lembrou naquele instante passageiro de julgamento, do nome de um certo anjo em sua agenda, uma rosa desenhada ao lado.
Mas voltando ao que importa.
O sinal ficou verde, mas a serpente não notou. Crowley leu o nome “Akira” na tela e sua visão desvaneceu, a realidade ficando em segundo plano enquanto tudo se movia devagar, o futuro aparecendo em ‘flashes’ para a serpente ler.
Uma confissão nunca dita.
Um beijo não correspondido.
Uma doce garota destinada a ser sempre o principal pivô de tudo.
Um desejo.
Uma promessa quebrada.
Uma traição.
Um castigo.
O apocalipse.
De repente, Crowley enxergou a silhueta de dois seres alados na escuridão do que restou do mundo, o mar morto brilhando diante deles em um intenso vermelho apesar de não existir mais luz.
Juntos no começo. Juntos no fim. Sempre.
Como se sugado por um limpo aspirador, Crowley voltou ao presente enquanto a reencarnação de Lúcifer chegava ao outro lado da rua, um ponto branco no meio do preto e cinza de Londres. Seu pequeno sorriso enquanto falava com a pessoa do outro lado da linha era frágil e Crowley pensou, com um sentimento de pavor distante, como o amor era uma arma de vingança cruel.
Foi então que a noção que o mundo acabaria mais uma vez finalmente o acertou.
Crowley prendeu a respiração, sentindo o pânico apertar suas entranhas. O que ele faria? Ou melhor, o que eles fariam? Eles haviam acabado de detectar o paradeiro do anticristo dessa realidade, e agora Crowley percebeu que teriam que lidar com Satã também, de todos os seres — e lidariam com duas versões dele, se as memórias difusas sobre o que aconteceu na sua última tentativa de deter a guerra entre o céu e o inferno fossem confiáveis.
De repente, Crowley se sentiu cansado de tudo; da humanidade, principalmente, mas também das ruas apertadas da sua cidade, dos passeios ao parque, do doce de um bom vinho e das plantas em seu apartamento; do sofá que tinha uma história, da voz calmante de Freddie Mercury no rádio do Bentley, do cheiro de livro velho em uma grande loja quase sempre fechada. Um homem loiro e macio no meio de tantas palavras perdidas no tempo. Seu coração pulsou com carinho doloroso e, respirando fundo, Crowley esfregou os olhos escondidos pelas lentes escuras do óculos de sol. Ele não era um herói, pelo amor de Cris-
Não, ele não era, mas Crowley era egoísta demais para não tentar salvar os pequenos prazeres que tanto amava. Afinal, foi assim que tudo começou.
O sinal voltou a ficar vermelho e a serpente praguejou. Ele teria que esperar mais dez minutos para salvar o mundo, que infortúnio.
_____________________________
Olha só eu aqui com uma fic de angst novamente. Surpreendendo 0 pessoas.
E to aqui pra acabar com a vida dos meus otps mais uma vez, mas bem, pra ser justa um deles é composto de seres eternos e acho que eles sempre podem dar um jeito, se depender do Aziraphale lol ele tem a força dos livros e de uma espada flamejante do seu lado. Eu até iria escrever eles resolvendo todo o assunto "Ryo despertando como Satã e trazendo o apocalipse pra terra por ser gay e idiota" mas eu não tenho muito tempo antes do fim do desafio pra trabalhar essa ideia + a minha outra fic crossover, então o final fica em aberto mesmo pra gente manter a possibilidade de 50/50 do mundo ainda acabar.
Explicando o título: Amor Sui é latim e resume muito bem o que quis dizer nessa fic porque existe 3 significados para a palavra: o amor dele,amor próprio e egoísmo. Sem dúvida a palavra caiu como uma luva para mim já que todos os três significados estão aqui (embora seja mais a falta do amor próprio do que a existência dele lol) e a fic fala principalmente de amor.
Enfim, espero que tenham gostado.
Comentários e criticas construtivas sempre bem vindos
See ya~♡
Merci pour la lecture!
Nous pouvons garder Inkspired gratuitement en affichant des annonces à nos visiteurs. S’il vous plaît, soutenez-nous en ajoutant ou en désactivant AdBlocker.
Après l’avoir fait, veuillez recharger le site Web pour continuer à utiliser Inkspired normalement.