invisibilecoccinella Mary

Tita é uma solitária garotinha de 12 anos que costuma ficar deprimida durante os festejos de fim de ano porque nessa época aflora o sentimento de rejeição, abandono e solidão. Meire, sua mãe, a trata muito mal. Seus amigos a abandonaram. Após as férias ela ingressará na temida sétima série numa escola onde odeia e sofre bullying por parte da perversa Cássia Reis. Nessa virada de ano, todavia, ocorre um fato curioso: Cricri, o cachorrinho de Tita, encontra no quintal uma caixa retangular muito estranha para uma terráquea que está entrando no ano 2000. No entanto não se trata de uma pedra marciana nem dos destroços de uma nave espacial e sim um smartphone. Um aparelho mágico para uma garotinha de 12 anos que escuta suas músicas preferidas em fitas e assiste à televisão de tubo. Um aparelho mágico configurado no ano de 2018, de onde Tita recebe mensagens do grande amor de sua vida que ironicamente atende por Vida... Quer embarcar nessa aventura e saber se Tita encontrará Vida?


Aventure Tout public.

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Será que vai ser sempre assim?

Não é uma virada de ano qualquer. Todas as emissoras de televisão, das pequenas as grandes, estão de plantão para cobrir a chegada do ano 2000. Como dizem insistentemente os jornalistas, já é 2000 em Sidney, Paris, Londres, Moscou, Berlim, Tóquio e dentro de poucos instantes será no Brasil também, em primeiro lugar onde o horário de verão está em vigor, como é o caso de Curitiba.

Tita é uma garotinha de 12 anos que como muitas outras, veste a roupa nova que ganhou no Natal para ver a contagem regressiva com os pais em frente à televisão. Meire das Neves, a mãe dela, detesta datas comemorativas de um modo geral, mas resguarda a superstição de que dá mau agouro dormir na virada.

Tita está sentada no chão da sala com o cachorrinho Cricri, um amável Beagle que também foi seu presente de natal. Ela não nega que está chateada porque queria que houvesse mais alegria e espírito de confraternização nas festas de fim de ano. Como é de costume, o telefone não para de tocar, todavia são os parentes do seu padrasto Horácio que telefonam para desejar feliz ano novo.

Aline, a quem Tita considerava sua melhor amiga, se transformou muito nos últimos meses para agradar um menino por quem está cegamente apaixonada. Adolfo, o seu melhor amigo, também tem uns comportamentos estranhos porque ao mesmo tempo em que diz gostar dela, dá indiretas sobre querer namorar — apesar de Tita se considerar nova demais para isso, nem sequer lhe pediu o número de telefone ou o endereço de casa para não perder o contato durante as férias.

Tita está se sentindo muito sozinha porque acredita que toda garota de 12 anos precisa ter amigos da sua idade, sentir que pertence a algum lugar e às vezes sua vida parece tão previsível que teme se transformar numa miniatura da sua mãe, uma mulher mal humorada que odeia tudo.

O ano 2000 chega com chuva em Curitiba e a queima de fogos por essa razão fica um pouco ofuscada, então Tita acompanha o show de luzes no céu pela televisão imaginando como estão se sentindo aquelas pessoas que estão na areia da praia ou em festas onde há música, alegria, sorrisos e abraços.

Quando acaba a queima de fogos em Copacabana, ainda que a transmissão da RPN prometa se estender até às três da manhã, Meire apanha o controle remoto da televisão e desliga o aparelho:

— Agora acabou a palhaçada! É hora de dormir.

Horácio boceja:

— Ah Meire, é sábado...

— E eu com isso? — retruca ela, apontando na direção da filha que está com o cachorro no colo. — Renata, vá escovar os dentes e já pra cama...

— Mas é sábado, manhê! E é ano-novo e eu estou de férias...

— Eu não gosto de falar duas vezes... — ameaça Meire. — E quero esse guapeca lá fora. É de pequeno que se torce o pepino.

Tita olha para o padrasto que dá de ombros e mesmo magoada coloca Cricri para dormir numa caixinha de papelão forrada com cobertor velho na despensa.

Cricri começa a chorar como faz todas as noites.

— Deixe que chore! — grita Meire.

Tita não está conseguindo dormir, então ouve música no walkman até que o sono chegue ou a pilha do equipamento acabe. Numa de suas fitas está gravada a música Paciência do cantor Lenine, uma das suas preferidas. Ela não chora apenas porque seu cachorrinho não pode dormir ao seu lado na cama e sim porque os festejos de fim de ano preenchem seu coração com tristeza, é quando aflora a solidão por não saber se Félix, seu pai, a ama, por não ter amigos que se preocupem com ela, porque tudo parece sempre igual e essa é a razão que a faz acreditar que ser gente grande é melhor do que ser criança.

— Cala essa boca, cachorro nojento! — berra Meire.

— Ele é só um cachorro... — diz Horácio num tom mais conciliador.

— Você e suas ideias de jerico de trazer cachorro pra casa sabendo que eu não gosto de animal, quanto mais dentro de casa...

— Meire, pare, por favor! — implora Horácio.

Meire arromba a porta do quarto de Tita, coloca o cachorro ali e a menina, que estava imersa em pensamentos mil, se assusta.

— Pra se assustar assim é porque não está em paz com Deus!

Qualquer pessoa que estivesse com o fone de ouvido no escuro e fosse arrebatada por um estrondo no mínimo teria um infarto de tanto susto, porém Meire é insensível e acredita que tudo deve operar do seu jeito.

— Ainda não foi dormir? — pergunta Meire, raivosa, em vez de tentar saber se a menina não estava chateada ou querendo um pouco de carinho ou as duas hipóteses.

— Não estou com sono! — responde a menina.

— Mas eu te mandei dormir!

— Só que eu não estou com sono, manhê.

— Trate de dormir mesmo assim! — decreta a troglodita.

— Eu me deitei, mas estou sem sono. Ou agora é proibido ter insônia também?

— Menina mal educada!

— Sabia que pessoas educadas BATEM na porta do quarto antes de entrar? Eu quase morri de susto.

— Decerto porque estava fazendo o que não presta. Quem não deve não teme.

— Agora sim é que eu não vou conseguir dormir mesmo. Puxa vida, custava bater na porta antes? Eu não arrombo a porta do seu quarto nem se estiver morrendo, custaria fazer o mesmo por mim?

— Acontece, queridinha, que o que pirralha fala não me interessa, então eu abro a porta do jeito que eu quiser, quando eu quiser, porque eu sou a dona dessa porcaria de casa e faço o que eu quiser. Você não tem que dar pitaco em nada, tem que calar a boca e obedecer, só obedecer porque criança não tem querer. — debocha Meire que na maioria do tempo parece odiar a própria filha pela maneira como a trata. — O dia em que você tiver sua casa, aí você que faça o que quiser que não estarei nem aí... Por enquanto eu faço o que eu quiser e você tem que aceitar, tanto é que se me der na telha eu sumo com esse cachorro, então recado dado: se ele aprontar alguma coisa, VOCÊ vai ter que me ressarcir.

— Boa noite? — alfineta Tita, esperando algum indício de humanidade em Meire.

— Desculpa, não sou mamãezinha de novela. — debocha Meire que fecha a porta do quarto da filha com tanta força que poderia se supor que uma forte rajada de vento por ali passou.

— Depois eu é que sou mal educada... — resmunga a garota chorosa e magoada.

Meire grita do corredor:

— Já está tarde pra você brincar com esse maldito cachorro! Vá dormir! Vá dormir ou eu te surro tanto que você vai passar o verão inteiro com as marcas da vara nas costas!

— Tenha mais paciência com a menina, Meire. — adverte Horácio.

— Não vejo a hora que essa desgraça cresça e saia de casa. — pragueja Meire.

Tita se acocora e coloca Cricri no colo, o beija no alto da cabeça e ele retribui com muitas lambidas amorosas. Ela, que quando quer chorar profundamente, afunda o rosto no travesseiro para que Meire não escute, faz isso e volta a ouvir música pensando consigo mesma: minha vida vai ser sempre assim?



Tita adormeceu chorando e acordou horas mais tarde com as patinhas de Cricri arranhando o cobertor. Ela, ainda sonolenta, esfrega os olhos e se senta na cama, abre devagarinho à janela de venezianas porque se Meire ouvir um rangido, é capaz de surtar. O céu ainda está escuro.

— Cricri! — sussurra ela. — O que foi? Ainda é tão cedo...

Cricri choraminga.

— Tá com fome, não tá?

Tita, mesmo com vontade de se deitar de novo para dormir até tarde, calça um chinelo de pano e com o cachorrinho no colo vai até a despensa para colocar ração na vasilha do amigo, lhe oferecer água fresca e verificar se ele fez as necessidades nas folhas de jornal dispostas pelo aposento.

Quando Tita vê que há um buraco no gramado do quintal, sente a espinha arrepiar. Se Meire souber disso, poderá sumir com Cricri.

— Cricri, o que é aquilo?

É lógico que o cachorro não a responde, mas também não a ignora.

— Você não ouviu o que a mamãe disse? Ela falou que se você aprontar alguma coisa vai embora. Você quer ir embora? Você quer me deixar sozinha?

Tita se agacha para fitar Cricri:

— Você me ama, não me ama?

Cricri lambe a mão direita de Tita.

— Cricri, você precisa ser um bom menino, senão a mamãe vai tirar você de mim. Promete pra mim que você sempre vai ser um bom menino? Promete? Promete? Promete pra mim?

Tita descalça os chinelos de pano e nas pontas dos pés corre até o gramado onde há um buraco. Faz muito tempo que a garota perdeu o gosto por brincar de caçar tesouros, no entanto parece que Cricri ainda está nessa fase. Apesar de não ser um baú cheio de joias de ouro, moedas raras e pedras preciosas é uma caixa branca retangular que os terráqueos que vivem nos tempos atuais adorariam receber de presente: um smartphone que só falta ter aplicativo para teletransporte e telepatia.

Tita já viu celulares em novelas, aqueles que parecem até tijolos de tão grandes, mas não imagina que o que tem em mãos veio do futuro.

— Nossa, Cricri! — exclama Tita. — Você acha cada coisa! Que troço estranho!

Quando Tita escuta o piso ranger com os passos pesados de Meire, corre para a despensa com Cricri e leva consigo o “troço estranho”.

Assim que ouve o barulho da descarga e se certifica de que a mãe voltou a dormir, Tita vai para o quarto com Cricri e não deixa de se impressionar com a caixa retangular, abrindo-a e descobrindo um objeto que possui uma tela espelhada. Os fones de ouvido que nem sequer precisam de fio são brancos e estão dentro de um plástico, assim como o carregador e a bateria reserva.

Tita descobre o manual de instruções e curiosa por natureza o lê para saber como manejar aquele equipamento estranho.

— Hum, esse botão aqui serve pra ligar, que bacana!

PÁ!

O aparelho se liga e Tita arregala os olhos quando o sistema operacional lhe mostra um ano que lhe parece bem distante: 2018.

Em 2018, Tita terá 30 anos de idade.

26 Décembre 2018 22:26 5 Rapport Incorporer Suivre l’histoire
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DC Débora Cristine
ameiiiii achei muito engraçado a parte do troço do celular,pq tem crianças que nem sabe o que é isso nem sabe pra que serve mais ja temcrianças que amam a vida deles é o celular tipo meu irmão tem 2 anos de idade e ja ama um celular se tirar dele ele começa a tirar pq ja tem um entendimento do que é um celular e pra que ele serve ameiiiiiiii demais parabéns pela sua criatividade
December 30, 2020, 15:50

  • Mary Mary
    Oieeeee! Eu tinha parado essa história porque na época aconteceu muita coisa ruim que afetou meu emocional, mas fiquei feliz com o seu comentário e vou pensar no caso de reescrever. Imagina só vinte anos atrás uma criança poder ter um celular com joguinhos,poder tirar foto, fazer um monte de coisa legal e ainda poder ver o futuro. Hoje em dia não consigo imaginar um mundo sem celular, sem internet, fiz essa experiência para testar como seria ter a tecnologia de hoje nos de antigamente e fiquei feliz com o seu comentário. Obrigada mesmo. Agradeço o carinho e as palavras gentis. December 30, 2020, 16:52
Cris Torrez Cris Torrez
interesante,quiero ver que sucede mas adelante..sigue así!!
August 15, 2020, 01:28
ll luis lugo
interesante muy bien escrito...usted es toda una experta en escritura :v
February 07, 2019, 01:12

  • Mary Mary
    muchas gracías =) February 07, 2019, 01:37
~

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