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1. Sonho

Eu posso vê-la, cada parte dela. Posso sentir sua fragrância. Posso ver seus cabelos azuis balançarem. Aquele vestido azul combinando com a cor de seus cabelos, aqueles olhos que penetram em mim e me trazem paz. É, eu sei que a amo, eu sinto isso, mas tudo parece um sonho. Como amar alguém que eu não conheço? Alguém que eu nunca vi? Como amar... um sonho?

Eu acordo suado e assustado. O sonho! O que é esse sonho? Esse sentimento? Sinto meu coração acelerado. “Droga! Foi apenas um sonho”, penso comigo mesmo.

— Preciso parar de comer antes de dormir.

Ouço alguém bater na porta.

— Sato, já acordou? Não vá se atrasar para o colégio!

Ah! Minha emocionante vida de colegial. Como anseio as férias logo.

Eu sou Sato Kagoya, estudante do terceiro ano no Colégio Natsume, na cidade de Tokyo, Japão.

— É melhor me apressar! – Corro para o banheiro e tomo meu banho. Meu colégio é um dos mais rígidos da cidade, porém, quando me formar, terei várias oportunidades em faculdades boas. Ou pelo menos é isso que eu espero. Em seguida, tomo meu café da manhã, mas algo ainda me chama a atenção, os relances do sonho. O que foi aquilo? Que sentimento foi aquele?

— Sato! Suas coisas!

Essa é minha irmã mais velha, cabelos longos e castanhos, e olhos escuros. Nossos pais morreram em um acidente de carro. Eu e ela moramos sozinhos desde então, ela trabalha de tarde e quando chega, eu já estou dormindo. É uma empresa boa, conseguimos viver bem. E eu, bem! Eu estou atrasado!

O caminho para meu colégio é longo, preciso pegar um trem, que normalmente é bem cheio de pessoas. Hoje não é diferente. Eu não sou muito fã de multidões, lugares cheios de pessoas, tudo isso me deixa desconfortável.

— SATO! – Esse que grita meu nome no trem e vem em minha direção é Kasaki. Pode se dizer que ele é meu melhor amigo. Nos conhecemos desde o primeiro ano. O sonho dele é ser arquiteto. Bem, o meu, eu sempre sonhei em ser... Eu não sei bem o que eu quero ser, essa é a verdade. – Consegui o número da Naomi!

— Isso explica a empolgação!

— Ah! Vamos lá, um garoto no terceiro ano que não tem uma namorada, ou nem se interessa por garotas. – Reparo no olhar do Kasaki, sei exatamente o que eu ele vai dizer. – Você é estranho, sabia?

Acertei. Todos me chamam de estranho, mas a verdade é que não tem uma garota na escola que me chame a atenção. Todos estão sempre presos no mesmo mundo; popularidade, festas, tecnologia. Eu somente gosto de ler e desenhar, eu gosto de ir até as montanhas do interior e fazer meus desenhos lá quando posso.

— Não tem garotas interessantes em Tokyo! – respondo de maneira fria. Ele precisava disso.

— Bobagem! E a Tsumada? – Kasaki me olha com aquele olhar perverso. Os cabelos negros dele combinam com o sorriso maléfico. – Você sabe que ela gosta de você.

— Ótimo para ela. Isso quer dizer que ela tem bom gosto. – Touché Kasaki, toma essa.

— Tá ficando esperto nas respostas.

Tsumada é a quarta garota mais bonita do terceiro ano. Alta popularidade. O pai dela é dono de uma empresa de importações. Resumindo, tem tudo o que quer. Alta, cabelos loiros e um rosto bem bonito, mas essas coisas, para mim, são supérfluas.

Na minha escola existe um ranking de garotas, a primeira é Sajima, ela é comparável a uma deusa. Cabelos negros, lisos e longos. Olhos roxos que são invejáveis. Ela trabalha como modelo e já tem uma boa fama. A segunda é Tamada, a irmã mais velha da Tsumada, resumindo elas são praticamente iguais. Isso na minha opinião. A terceira é Naomi, a ruiva de olhos verdes. Kasaki é apaixonado por ela, e ganhar o telefone dela é quase como se formar, para mim. Antes delas, tinha uma outra garota que ficava na primeira posição, eu não lembro o nome dela, nem seu rosto. Somente lembro que ela tinha lindos cabelos azuis, e olhos lindos. Era começo de semestre, ela se diferenciava, era a mais bonita, porém sua popularidade era precária, andava sozinha e quase não fazia amizades. Ela saiu logo nos primeiros meses, e agora eu já estou para me formar. Bem, esse é o meu colégio, acabei de chegar.

Mas no final das contas, nada disso importa para mim. E eu ainda não entendo o meu sonho!