aciltransferase Lehninger

Antes de colocar a pipeta nas mãos de Albafica, perguntou se o pisciano tinha algum compromisso para aquela noite, recebendo um direto “provavelmente” como resposta. Não era a primeira vez que flertava com o de cabelos azulados, ainda que não fosse correspondido. Devido à resposta ambígua, Minos garantiu que ia esperar por uma definitiva até o final do dia, palavras estas recebidas com pouco caso pelo outro


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Os ponteiros do relógio de pulso recoberto por uma das mangas do grosso sobretudo negro delatavam 19:18. O céu já havia escurecido e estrelas lhe adornavam juntamente de um lua minguante. O campus contava com pouquíssimas pessoas daquele lado, o silêncio noturno era quase palpável. Aqueles ainda presentes eram discretos, quase como se não estivessem ali.

Minos usou o indicador esquerdo para afrouxar o cachecol azulado em seu pescoço, mas se arrependeu no instante seguinte, assim que sua pele reclamou da temperatura. O frio estava intenso e a sensação que tinha de estar sendo sufocado não era mais que fruto de sua imaginação; na verdade, estando intrinsicamente ligado ao fato de se encontrar relativamente nervoso. Ao lado de uma das entradas da Faculdade de Ciências da renomada Universidade de Estocolmo, onde estava trabalhando como professor e pesquisador há quase sete meses, esperava uma certa figura passar por aquelas portas, indo a seu encontro. Ou... Não exatamente, a bem da verdade. Mencionar a aparição era o suficiente, visto que Minos não sabia se Albafica havia mudado de ideia quanto a seu convite; encontrava-se ali justamente para descobrir a resposta, pois o pisciano fizera questão de ser ambíguo.

Albafica, ao contrário de Minos, não era um estrangeiro. Sueco, trabalhava como professor, tendo de uns tempos para cá diminuído o ritmo da vida como pesquisador, mas não totalmente, visto que tal detalhe estava interligado ao meio acadêmico, de qualquer maneira. Albafica era biólogo, doutor em Biologia Marinha, ao passo que Minos era farmacêutico, doutor em Bioquímica, tendo construído sua formação na Universidade de Oslo, em sua terra natal, a Noruega.

Nos primeiros dias como funcionário na Universidade de Estocolmo, aproximou-se de Aiacos, um rapaz de Nepal e professor da Faculdade de Ciências Sociais. A amizade fluiu natural e rapidamente, pois, ainda que não compartilhassem de praticamente nada em comum, conseguiam se entender e mantinham uma harmonia quase palpável. Havia a distância entre os departamentos, mas não era um problema. Foi em um intervalo, enquanto bebericava um café com Aiacos, que Minos avistou Albafica pela primeira vez. Ainda era sua primeira semana na universidade, conhecia poucas pessoas e quase todos os rostos compactuavam uma novidade. Albafica acompanhava um homem de cabelos longos e de um loiro levemente esverdeado, ambos conversavam de maneira sutil enquanto esperavam por sua vez na fila da cafeteria do refeitório da faculdade. Bastou um discreto sorriso de Albafica – direcionado ao homem ao seu lado, claro – para que Minos se sentisse completamente atraído pelo dono das madeixas azuis.

Mais tarde, pôde descobrir que Albafica era professor de Biologia Marinha e o rapaz ao seu lado se chamava Shion, professor de Fisiologia Humana e um dos possíveis sucessores para o cargo de diretor do departamento de ciências. Eram amigos e, a julgar pelo fato de o primeiro não ser visto com muitas pessoas, também eram próximos. Albafica era uma pessoa reservada e de poucas palavras, no entanto, grosso jamais. Educado e solícito, não cortava uma pessoa que lhe puxasse para uma conversa, mesmo que não quisesse ali permanecer.

Minos, por outro lado, era bem sociável. Ganhava facilmente a simpatia das pessoas e estava sempre disposto a um diálogo esporádico, embora não se comparasse à amizade que tinha com Aiacos. Sabia o que e como falar na hora certa, o que, mesmo não sendo de propósito, acarretou em lhe tornar conhecido na Faculdade de Ciências.  Enquanto alguns lhe consideravam simpático, outros alegavam ser falsidade e manipulação. Apesar de se sentir ofendido com as segundas acusações, não procurava saber as pessoas que originavam tais afirmações levianas a seu respeito.

Acabou por se aproximar relativamente também de Lune, um professor da Faculdade de Direito, justamente por serem do mesmo país. Era de um conforto imenso poder conversar com alguém usando a língua materna, proporcionava-lhe uma nostalgia surreal. A língua mãe do país que agora residia não deixava de ser bela e agradável tanto para falar como para ouvir, mas nada se comparava à sua amada Noruega, aquela que havia deixado apenas por fins profissionais.

Ao ouvir as portas de vidro se movendo, pareceu despertar de um transe. Virou-se em direção à pessoa que havia acabado de sair da universidade, encontrando quem tanto esperava. Albafica vestia um sobretudo acinzentado por cima das roupas assim como suas mãos estavam nos bolsos deste em uma tentativa de se aquecer. No momento em que viu Minos, arqueou discretamente as sobrancelhas; apesar de não duvidar das palavras do norueguês, visto que este não pensava duas vezes antes de colocar em prática o que dizia, sendo inclusive um motivo pelo qual seus colegas de trabalho evitavam lhe desafiar, Albafica não levou realmente a sério quando Minos lhe disse que iria esperar uma resposta.

No início do dia, Albafica precisou ir ao laboratório de Enzimologia, pois a parte reguladora da pipeta de um de seus alunos da pós, durante a prática, havia travado. Não era uma pipeta automática comum, sendo pouco usada por alunos de graduação, o que lhe fez se deslocar aos laboratórios da área bioquímica, pois certamente haveria uma sobrando por ali. Encontrou o que procurava na Enzimologia, no entanto, como uma espécie de bônus, encontrou também Minos, ainda que este não usasse aquele ambiente; seu laboratório era o de Bioquímica Clínica e ficava localizado um andar acima. Antes de colocar a pipeta nas mãos de Albafica, perguntou se o pisciano tinha algum compromisso para aquela noite, recebendo um direto “provavelmente” como resposta. Não era a primeira vez que flertava com o de cabelos azulados, ainda que não fosse correspondido. Devido à resposta ambígua, Minos garantiu que ia esperar por uma definitiva até o final do dia, palavras estas recebidas com pouco caso pelo outro.

E, agora, estavam ali.

― O que faz aqui? ― o biólogo indagou sem pensar duas vezes.

– Olá também, meu caro. Ainda em dúvida sobre ter ou não um compromisso para esta noite?

Albafica considerava Minos um estúpido. Era tão polidamente educado que até os flertes soavam bem, quase como se estivesse proferindo apenas um “boa noite”. Recusava há meses todas as investidas, desconsiderando todas as palavras com duplo sentido que lhe eram direcionadas, mas, com o passar do tempo, a facilidade com a qual negava o norueguês foi se desfazendo, mesmo que lentamente. Além de ser, como de praxe, polidamente educado, era gentil, inteligente e sedutor; o sotaque carregado era uma das características mais marcantes deste último adjetivo. Não podia negar que também se tratava de um homem bonito, e, ademais, era certo afirmar que, durante os quase sete meses trabalhando ali, seus flertes eram direcionados somente a Albafica; comentário este feito pelo próprio Shion quando o de cabelos azuis falou sobre cogitar a possibilidade de Minos estar apenas brincando consigo.

― Somos professores. Temos sempre algum compromisso. Imaginei que você passasse suas noites conversando com Krebs.

Ver Albafica saindo um pouco de sua linha de seriedade, mesmo que usando do sarcasmo para tal, fez as comissuras labiais de Minos se curvarem em um pequeno sorriso de canto. Ansiava por um momento descontraído com o pisciano, embora, para este, tudo estivesse exatamente normal naquele momento.

― Krebs pode esperar. Acredito que suas baleias também. Tenho curiosidade em como é falar baleiês.

― Hahahah ― Albafica reproduziu de modo mecânico, garantindo a seriedade de seu olhar ― Engraçado, como de praxe. Agora, se me permite...

As palavras ficaram no ar e o sueco deu as costas, preparado para ir embora. Ao dar os primeiros passos, sentiu algumas de suas madeixas serem tocadas; ao olhar para o causador, encontrou-o com um estranho brilho no olhar ― recoberto por alguns fios da franja que caíam sobre a fronte, como de costume ― e com os dedos emaranhados nas pontas de parte de seus cabelos azuis, que, por serem longos, continuavam ao alcance de Minos mesmo naquela posição. O farmacêutico tinha como costume manter contato visual com todas as pessoas que falava, algo compartilhado por Albafica. Azul no lilás, lilás no azul. Seus olhares, ambos serenos, poderiam muito bem travar uma silenciosa batalha.

Mas, naquele momento, o pisciano pôde vê-lo com o olhar distraído, fitando suas madeixas. A vontade do norueguês era de acariciar aqueles cabelos, sentindo por mais tempo a textura e a maciez características, aproximando-se para aspirar o inebriante cheiro emanado, mas reconhecia os limites e respeitava Albafica. Como dito, era um homem polidamente educado e jamais permitia que seus flertes ultrapassassem as barreiras com o respeito. Sabia que o biólogo era um homem sério e centrado que nunca admitiria o rompimento desses limites.

― Não seja tão cruel, Albafica ― permitiu que os fios alheios escorressem por entre seus dedos, recolhendo a própria mão logo em seguida  ― Garanto que irá gostar.

Não era um tiro no escuro. A ideia que Minos tinha em mente certamente iria agradar Albafica. Como um bom observador, o norueguês já tinha noção de alguns gostos do outro, e, por sorte, até que tinham certas coisas em comum.

― Tenho coisas a fazer. E você também.

― Uma noite não irá atrasar o que temos a fazer. Somos competentes. Sabe disso.

Albafica suspirou. Minos era insistente e sabia exatamente quais palavras usar. A verdade era o argumento mais cru e eficaz.

― Um dos meus alunos irá se apresentar esta noite em algo importante para ele. Garanti que estaria presente.

O norueguês mudou a expressão em suas feições. Estava a ponto de ligar certos fatos, mas precisava ter certeza de sua suposição.

― Irá se apresentar em...?

Albafica não se prontificou em dar a resposta almejada. O interesse repentino de Minos naquele ponto lhe instigou a se certificar do que se tratava tudo aquilo.

― Algum motivo para seu interesse?

Recebendo uma curta pergunta em troca de sua indagação, o de cabelos platinados novamente permitiu que o sorriso de canto aparecesse em sua face. O jeito ponderado de Albafica lhe era incrível, a maneira como trilhava caminhos distintos em meio ao diálogo para se certificar de que não haveria surpresas. Admirava Albafica como um todo, poderia elogiá-lo por um dia inteiro e adjetivos ainda iriam sobrar. Podia-se dizer que era fascinado pelo biólogo, mas tal afirmação seria considerada como exagero pelo sueco.

― Se a participação de seu aluno for em uma orquestra marcada para as 20:30 em um local próximo à praça Sergels Torg, sim.

As feições no rosto do biólogo demonstraram surpresa imediata. Vendo-o com a boca parcialmente entreaberta e os olhos que conseguiam expressar todo um monólogo, o farmacêutico constatou que havia acertado em cheio quanto à suposição de instantes atrás. Animou-se com a descoberta e não foi capaz de contê-la nem por alguns segundos. Após um breve e discreto riso, revelou, antes que Albafica pudesse indagar a respeito de seu divertimento perante o silêncio:

― Assumo que não esperava por isso. Minha intenção era lhe convidar para assistir ao concerto, mas, agora, me resta apenas pedir para acompanhá-lo.

Minos estendeu uma de suas mãos em direção ao pisciano. Após alguns rápidos instantes em que Albafica pôde processar bem a surpresa e o desenrolar da situação até ali, moveu uma das mãos que se encontrava dentro do bolso do sobretudo, ato que gerou expectativas para o homem à sua frente. Contudo, segurava nos dedos um par de luvas pretas, estas que colocou em si logo em seguida. Estava ignorando a mão estendida de Minos, mas sua atitude não desapontou o norueguês, que apenas sorriu enquanto lhe observava.

Para Albafica, o farmacêutico era inabalável. Ainda que recebesse as respostas mais curtas e grossas ou até mesmo não recebesse nada, sua pose serena não se alterava. Por vezes, muito pelo contrário: quanto mais era recusado, parecia se tornar mais gentil.

Após um breve olhar trocado, o biólogo virou-se, mas não deu passo algum à frente. Em meio ao silêncio não interrompido por Minos, deu o aviso, deixando tantas outras palavras subentendidas:

― Não fique tão perto.

O norueguês sorriu, agora de maneira mais animada que anteriormente. Murmurou um “como quiser” e se pôs ao lado do outro, acompanhando-o em seu trajeto.

11 Décembre 2018 01:22 1 Rapport Incorporer Suivre l’histoire
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La fin

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Lehninger Apenas um amontoado de poeira estelar.

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Urutake Hime Urutake Hime
Ah, que maravilha foi encontrar esta Minos x Albafica, fiquei sorrindo o tempo todo enquanto lia. Adoro esse casal, só escrevi sobre eles uma vez, mas deu tanta vontade de escrever de novo... Amei sua forma de descrever os ambientes e emoções, além de não deixar nenhuma ponta solta sobre quem eles eram e como se conheceram. Os flertes de Minos merecem uma chance, espero que depois de assistir a orquestra, eles puderam tomar alguma coisa juntos... *Viajando* Enfim, está maravilhoso e me encantei com sua escrita, se escrever mais sobre eles, com certeza irei ler! ❤
May 31, 2019, 16:24
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