zephirat Andre Tornado

Duas velhas amigas reencontram-se, Leia Organa e Amilyn Holdo. Entre recordações, frustrações e ambições, existe um desejo em comum: restaurar a ordem e a paz à galáxia, terminando de vez com a ameaça da Primeira Ordem.


Fanfiction Films Interdit aux moins de 18 ans.

#starwars #LeiaOrgana #AmilynHoldo #guerra #resistência #Primeira-Ordem #liberdade #Guerra-das-Estrelas
Histoire courte
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Capítulo Único


- Ela já chegou, General.


- Ótimo. Irei recebê-la de seguida.


Deixou-se estar de pé, diante da enorme janela panorâmica do cruzador estelar. Contemplava o firmamento negro e insondável e viu-se, num relance, refletida naquele aparente tecido imenso e fundo onde a luz existia em pequenas pulsações. Estrelas, mundos em redor de estrelas, a Força.


Não gostou de se ver, esbatida pela grossa vidraça, como um espectro meio apagado. Conservava a sua energia e a sua teimosia, mas o combate prolongava-se demasiado e ela sentia que já não conseguia controlar todas as variáveis como antigamente. Havia sempre um detalhe que ela ignorava que, mais tarde, se transformaria em mais um problema a resolver. Tinha conselheiros sábios e amigos fiéis, bons combatentes, a certeza de um objetivo justo e a luta era mais necessária do que nunca, mas sentia que precisava de mais, que estava prestes a diluir-se. Seria o cansaço inevitável?


Seria um pressentimento?


Olhou para as suas mãos, dedos decorados com anéis. Tinha envelhecido e nunca tinha deixado de lutar, pensou, um pouco melancólica. Conhecera o júbilo de uma vida regrada, a felicidade de uma vida amorosa, a excitação de uma vida repleta. Isso significava que estava pronta para entregar o seu testemunho e aposentar-se?


Não. A galáxia ainda precisava dela. Mais ninguém tivera a coragem de se erguer contra as vozes melífluas que, no Novo Senado, impunham uma nova ditadura a coberto da democracia, clamando que tinham ganhado as eleições de uma forma clara e sem enganos. Pois o maior artifício estava na base, disfarçado entre os bonitos discursos de que era tudo feito de acordo com as regras. Por detrás do pano, a conspiração para derrubar a Nova República avançava. Por detrás do pano, construía-se uma imensa armada cujo poder de fogo esmagador silenciaria uma eventual revolta.


E ela, Leia Organa, não tivera outra solução a não ser abandonar o sistema Hosniano, refugiar-se num dos poucos sistemas amigos que não caíra na tentação de acreditar nos discursos envenenados da Primeira Ordem e fundar a Resistência.


Não era suposto ter acontecido assim. O Império Galáctico tinha sido derrubado, a organização política da galáctica encaminhava-se para o ressurgimento de uma república forte e capaz de responder às necessidades das populações que se espalhavam pelos inúmeros sistemas da galáxia, nos diversos setores. Havia esperança. Uma nova esperança.


Fora ingénua. Ela e Mon Mothma. Não culpava a ambição dos senadores ricos que quiseram ganhar mais do que a Nova República estava disposta a pagar-lhes, para mantê-los apaziguados e calados. Culpava-se a si mesma por se ter deixado cegar pelo seu próprio orgulho. Se ao menos tivesse vislumbrado melhor as trevas… Se ao menos tivesse sido mais convicta nas suas crenças políticas…


Respirou fundo e deixou, com o firmamento, do outro lado da janela panorâmica, esses pensamentos destrutivos. Ela, na verdade, não tinha tempo para autocomiserações mesquinhas e redundantes. Não trabalhava com o “se”, mas com os factos e o tempo presente. Continuava no jogo, ambiciosa e sim, bastante orgulhosa. No eterno jogo para defender a liberdade.


Leia animava-se com a presença daquela convidada especial que tinha acabado de chegar. Uma antiga amiga de juventude que tinha partilhado com ela o início da sua rebeldia e dos seus sonhos revolucionários, ainda no tempo do Império, ainda no tempo dos perigos.


Conhecera Amilyn Holdo no Senado Imperial, quando as duas fizeram parte de um programa experimental chamado Legislatura Júnior, que acolhia jovens em idade escolar para servir, com projetos vencedores escolhidos pela direção educativa de cada sistema, como senadores experimentais. No fundo eram quase estagiários, sem remuneração e com acesso ao mundo dos mais crescidos.


Ela, Leia, vinha de Alderaan. A outra, Amilyn, vinha de Gatalenta.


Tornaram-se imediatamente amigas, porque enquanto a primeira era espevitada, enérgica e insolente, a segunda seria ponderada, calma e delicada. Daquelas ocasiões em que os opostos se atraem.


Para além de sessões legislativas muito aborrecidas, em que era obrigatório estudar compêndios pesadíssimos de leis diversas, a sua aplicabilidade em casos práticos e discussões participadas em que eram elaboradas propostas de alterações à lei que podiam ser apresentadas pelos senadores séniores de modo oficial, o programa Legislatura Júnior também previa atividades no exterior para estimular uma cultura de desporto entre os jovens políticos.


Essas atividades eram basicamente caminhadas em terreno difícil e exercícios de orientação básica na natureza inóspita de planetas selecionados, que avaliavam a resistência dos participantes. Havia quem desistisse da Legislatura Júnior quando passava um mau bocado nessas atividades, embora fosse um excelente orador ou um demagogo convincente.


Amilyn estava sempre com Leia, as duas tornaram-se inseparáveis, pois apesar do aspeto frágil da nativa de Gatalenta, esta tinha uma característica que cativou desde logo a princesa de Alderaan: a sua resiliência.


Juntas tinham conseguido superar os desafios dos planetas Eriadu e Felucia. Quando chegou a vez de serem largadas em Alderaan, Leia ajudou Amilyn por conhecer bastante bem o território e as suas armadilhas naturais. Confiava tanto na sua companheira senadora que quando o desafio levou-as a Pamarthe, onde Leia devia fazer contacto com a Rebelião para lhes entregar códigos secretos que permitiriam ultrapassar um bloqueio na Orla Exterior que estava a impedir os rebeldes de se abastecerem com armas furtadas ao Império, fez-se acompanhar de Amilyn e contou-lhe, por fim, que pertencia a essa organização clandestina.


Amilyn aceitou a revelação estoicamente, desenhando um sorriso mínimo. Leia percebeu que poderia confiar nela para sempre. Aquele tinha sido apenas o primeiro dia.


Ao fundar a Resistência lembrou-se imediatamente dela e procurou pelo seu paradeiro.


Leia soube que tinha deixado o Senado quando este fora dissolvido por Palpatine e que se refugiara em Gatalenta durante alguns anos. Por alturas da refundação da República arriscou uma eleição, que perdeu e então decidiu deixar a vida pública, pelo menos ao nível galáctico. Dedicou-se à governação do seu planeta, fazendo parte do Conselho das Mães. Estudou meditação e outras matérias mais prosaicas, como estratégia militar. Por alturas da imposição da Primeira Ordem na ordem política da galáxia, em que os seus membros esmagavam e calavam a oposição sem contemplações, impondo-se pela força à República que tremia nas suas fundações, Amilyn passou a ser uma voz opositora desde o seu planeta, escolhendo claramente estar contra esse novo e tenebroso grupo, ajudando, indiretamente, à criação da Resistência.


Assim, quando surgiram as primeiras escaramuças, a general Leia Organa chamou Amilyn Holdo para liderar o braço armado da Resistência e promoveu-a ao vice-almirantado. A sua amiga de juventude revelou-se brilhante no comando e apoiou de forma irrepreensível o almirante Gial Ackbar, sempre que serviram juntos. Depois juntou-se ao almirante Rast Werji Induvat e vinha agora, para uma audiência particular com a general. Holdo julgaria que a entrevista seria por causa da manobra arriscada que efetuara na Batalha da Cintura de Chyron que, contra todas as probabilidades, dera a vitória à Resistência. Fora algo tão fora do vulgar que se comentava com euforia e admiração o que Holdo tinha feito.


Leia chegou à sala de reuniões e encontrou Amilyn Holdo voltada para um quadro holográfico que representava uma paisagem tridimensional de uma ilha no meio de um oceano revolto que se acalmava com a chegada das três luas ao céu noturno. Era um quadro animado e muito raro, naqueles dias em que toda a arte era apreendida pela Primeira Ordem. Sempre que podia, a Resistência recuperava e restaurava obras de arte, pois sabia-se que a maior parte era destruída pela Primeira Ordem, por ir contra o cânone artístico estabelecido pelo seu Líder Supremo, que abjurava tudo o que não condizia com os seus dúbios gostos particulares.


Amilyn Holdo sempre apreciara arte e era, ela própria, uma escultura viva. Alta e elegante, envergava um vestido que lhe acentuava as curvas delicadas num tom verde esmeralda que se confundia com as ondas do oceano no quadro. O seu pescoço comprido era realçado por uma gola do mesmo tecido vaporoso do vestido, que o envolvia num apontamento régio. Usava grandes pulseiras, símbolo da sua posição privilegiada em Gatalenta. Quem a olhasse não diria que era uma fria e concentrada vice-almirante, com uma inclinação natural para a vitória.


- Minha amiga! – chamou a voz forte e rouca de Leia Organa.


Amilyn Holdo voltou-se e dispensou-lhe aquele sorriso mínimo inconfundível.


- Minha querida, é tão bom rever-te.


Deram as mãos.


- Chamei-te porque te queria felicitar pessoalmente pela tua ousadia. O que fizeste na Batalha da Cintura de Chyron vai tornar-se numa lenda.


- Até realizar outro feito mais impressionante que suplante esse.


Leia levantou uma sobrancelha, um brilho nos olhos aguçados.


- A tua ambição tem crescido nestes últimos anos. Vamos sentar-nos. Pedirei um chá e iremos conversar como duas velhas conhecidas. Aqui não seremos a general e a vice-almirante. Sinto falta de uma pausa e quero fazê-la contigo, minha amiga.


Sentaram-se à mesa que servia para as reuniões táticas da Resistência, de frente uma para a outra. Threepio entrou, escoltando o androide que trazia a bandeja com o serviço de chá, um bule, um açucareiro, uma leiteira, duas chávenas, vapor fragrante e adocicado.


Naquela sala, Amilyn era majestosa. Na ponte de comando do cruzador Ninka, uma corveta do modelo Free-Virgillia, conhecida como um bunkerbuster, uma destruidora massiva, tinha a mesma postura imponente e Leia admirou-a pela sua capacidade de controlo. Ela que tivera uma educação de princesa, numa das mais proeminentes famílias reais da galáxia, apreciava a ação e portava-se com demasiada impulsividade sempre que lhe era exigido decidir sob pressão. Não seria nunca capaz de exibir aquela indiferença polida que faria tremer os seus adversários. Antes disso, despachava-os com um disparo laser em cheio. E pronto, assunto resolvido.


Amilyn disse:


- Oh, pensava que iria receber uma reprimenda e não um momento agradável com uma princesa que estimo muito.


- Uma reprimenda? – admirou-se Leia, servindo a chávena de Amilyn.


- Sim, seria o mais lógico. O almirante Induvat ficou chocado com o que eu fiz, presumi que o nosso comandante supremo tivesse ficado também.


- Admito que fiquei chocada, mas conseguiste superar os objetivos da tua missão. Nunca te poderia censurar. Interessa-me sempre pelos resultados e não pelos meios, embora não aceite tudo. Existe um certo código que gosto de seguir e aí temos limites inultrapassáveis!


- Concordo. Nem tudo deve ser permitido ou não nos distinguimos do inimigo. Mas há comandantes que não gostam do improviso e da incerteza.


- Oh, já lutei numa guerra civil contra um inimigo poderoso. Sei por experiência própria que precisamos de guerrilheiros com imaginação quando a frieza dos números está contra nós. – Bebericou um pouco de chá. – Tu és excelente em aliar a paixão à eficiência. São as tuas qualidades inusitadas que fazem de ti uma excelente vice-almirante. Sei que quando precisar de ti, noutra hora de aflição, poderei contar com o teu discernimento ímpar.


- A paixão?! – estranhou Amilyn com uma ponta de divertimento. – Essa não é uma palavra que associam comumente à minha personalidade.


- Esqueces que te conheço, minha cara. Confio em ti deste Pamarthe e sei o que esconde a tua armadura aparentemente inviolável. Aí dentro bate um coração rebelde que anseia por deixar a sua marca no mundo, lutando contra a opressão, a desigualdade, a injustiça e a mentira. E esse coração bate com fervor… com paixão! Minha querida, preciso de mais combatentes como tu, que não hesitam em ir contra tudo e contra todos para que a liberdade vença. É esse o único combate que vale a pena. Pela liberdade.


- Agradeço as tuas palavras, Leia. Mas eu podia perfeitamente fazer o mesmo discurso sobre ti. Tu és a minha inspiração. Hei de sempre viver para que te orgulhes sempre de mim, Alteza.


Sorriram uma para a outra, cúmplices.


Estavam tão mais velhas, a carregar uma imensa bagagem de triunfos e de percalços


- Irei contar sempre contigo, num momento de superior desespero.


- Estarei ao teu lado e farei o que ninguém espera que faça. Irei contra tudo e contra todos, contra o bom senso, contra as regras, contra a sanidade. No fim, a vitória será da Resistência.


Foi uma jura que fizeram naquele dia, que lhes reforçou a amizade e o companheirismo.


Porque as duas, Leia Organa e Amilyn Holdo, eram, de facto, inquebráveis.

27 Octobre 2018 16:21 2 Rapport Incorporer Suivre l’histoire
5
La fin

A propos de l’auteur

Andre Tornado Gosto de escrever, gosto de ler e com uma boa história viajo por mil mundos.

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Megan W. Logan Megan W. Logan
Olá! Tudo bem? Adorei a sua história, ela ficou maravilhosa! O enredo é envolvente, o texto é fluídico e muito emocionante, gostei muito! Beijos!
October 27, 2018, 21:21

  • Andre Tornado Andre Tornado
    Oi! Muito obrigado! Foi só uma pequena one no tema Star Wars, que resulta ser um presente de aniversário. Muito obrigado pelo teu comentário. Beijo! October 28, 2018, 15:40
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