boaswain uanine oliveira

Yoongi se considerava um cara ocupado; vivia de plantões no hospital em que trabalhava e quando estava em casa era para cuidar da sua cadela ou dormir. Quase não tinha tempo para respirar, mas se obrigava a, todas as noites, esperar a aparição do homem mascarado cheio de cortes e ferimentos, necessitando de cuidados. Havia chegado à conclusão que podia o oferecer mais do que isso.


Fanfiction Groupes/Chanteurs Interdit aux moins de 18 ans.

#romance #drama #taegi #crossover #ação #demolidor #heróis #super-heróis #bangtan-boys #bts
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O justo e o comum.

Hell’s Kitchen estava mais calma esses dias, não tinha mais aquela vizinhança perigosa pela qual a conheciam, os assaltos eram poucos, homicídios quase nulos e a taxa de violência havia diminuído, comprovavam as pesquisas locais. Taehyung se orgulhava desse fato, por mais que atribuísse essa conquista mais a Jessica e Seokjin, estava satisfeito em participar da pacificação daquele bairro em que crescera e vivera a vida toda, para si, era quase questão de honra.

Um dia já fora uma criança indefesa, sozinha nas ruas desse mesmo bairro, sujeito à violência que o rodeava, e tinha o objetivo de que nenhuma outra criança como ele fosse impedida de viver sua infância pelo radicalismo e falta de segurança que havia levado seu pai embora, mas que ele não deixaria levar mais ninguém. Hell’s Kitchen podia ser um lugar bonito. E, finalmente, estava se tornando.

Graças a Jessica, a mulher mais forte que havia conhecido na vida — literalmente. A morena tinha um jeito peculiar de lidar com caras maus e violência, e junto a isso vinha mais alguns vícios, a boca suja e a falta de educação, mas ela não era má pessoa, afinal, queria, assim como ele, tornar o bairro mais pacífico e seguro. Graças também à Seokjin, um sujeito de poucas palavras, mas que não deixava nada passar — outra vez, literalmente. Grande, intimidante e caladão, mas não hesitava em ameaçar qualquer um que colocasse à prova sua paz interior. Os três não eram melhores amigos, mas se davam bem nas maioria das vezes e conseguiam defender o bairro de toda a violência que se concentrava nele.

Os dois citados discutiam sobre não precisarem de uniformes e que isso era muito bizarro, mas Taehyung quase sempre não se importava e só ria desses debates, não achava que precisava de uniforme, mas já era acostumado e o tecido forte que revestia o traje o protegia de morrer nas ruas quando se aventurava a ir atrás de algum vilão, e, além disso, era justamente aquela roupa escarlate que o fazia não ser Kim Taehyung, e sim, o Demolidor.

Jessica e Seokjin também não tinham “nomes de heróis”, mas Taehyung tinha pessoas para proteger: tinha Namjoon, seu melhor amigo desde a faculdade e agora seu parceiro de trabalho porque a Kim&Kim estava mais do que reconhecida depois de vencer vários casos importantes em meio jurídico; tinha também Yoona, a mulher que tanto tinha apreço, agora também colega de trabalho, e sabia que não aguentaria se algo acontecesse aos dois por causa dele, por isso não podia sair por aí aclamando sua identidade. Ele não podia ver, mas todos os viam.

Taehyung era cego desde garotinho, não via quase nada e, em alguma horas, preferia não ver, fechava seus olhos para as atrocidades que era capaz de presenciar, aquilo que não conseguia impedir. Outras vezes, quando parecia que a única coisa que podia enxergar era um mundo decadente em chamas, ele agradecia a Deus por ter essa deficiência. As faces das pessoas não eram, para ele, suas marcas mais fortes, e sim seu caráter; coisa importante para ele em seu ramo — tanto como advogado, como justiceiro.

Por um momento, enquanto admirava o céu noturno que ficava mais limpo com os astros mais aparentes, a dor no estômago o fez despertar com um resmungo de desconforto e aquilo foi o suficiente para que sua preparação mental para esquecer a dor sumisse e, por mais que estivesse evitando encontrar quem tinha que encontrar, sabia que ali era preciso. Ou então sangraria até desmaiar e acabaria da mesma forma, de qualquer jeito. Havia se metido com uns ladrões violentos, naquela noite e acabou sendo acertado por uma faca; nada muito grave, ele conseguia resistir, mas se não cuidasse logo do corte poderia intensificar sua dor e ter consequências ainda piores.

Estava dizendo para si mesmo, enquanto se arrastava nas sombras da noite, que o único motivo para estar se direcionando ao apartamento no sexto andar na esquina da Holly com a St. Jude era o ferimento agonizante que carregava consigo, mas era mais. Bem mais. Algumas coisas tinham que fazer sentido na cabeça de Taehyung — quando Yoona mudava o toque do celular, aquilo o deixava levemente irritado, porque os sons era o meio dele saber o que estava acontecendo ao seu redor. Mínimos sons já tinham se tornado familiares para ele — o coração batendo, a respiração pesada, um mosquito voando. O silencia o perturbava, mas, de alguma forma também o deixava curioso, talvez fosse por isso suas idas constantes na casa do enfermeiro, toda vez que um cortezinho bobo aparecia — quando estava perto do mais velho, fazia um silêncio absurdo.

Voltava e voltava, desprezando a ideia de que se machucava de propósito porque ainda não tinha ficado completamente louco — rezava que não. Por vezes, como aquela, sem bater na porta, apenas destrancava a janela com um pé de cabra que o enfermeiro deixava do lado de fora justamente para essas ocasiões que já estava acostumado, e adentrava o apartamento que, mesmo sem ver, sabia ser uma bagunça. O enfermeiro, Min Yoongi, não ficava muito em casa, vivia em plantões e turnos, gravando cirurgias e cuidando de bêbados quebrados depois de acidentes; por isso sua casa não era das mais organizadas, mas o Min se esforçava, teimava em dizer que daquela forma as coisas pareciam arrumadas para ele, engolindo a sentença “eu não tenho dinheiro para contratar uma empregada” enquanto a louça acumula na pia.

Adentrou a casa como se fosse sua, e se preocupou em recuperar na memória onde estava a pelúcia da cadela de Yoongi, para não tropeçar nela ao ir para a sala. Esticou a mão, constatando que ali tinha a mesa e então suspirou, aliviado, por não ter entrado no apartamento errado. Escutou, então, a luz do quarto ser acesa e as pantufas calçadas, sabia que era o mais velho acordando pelos barulhos na sua cozinha.

— Não se assuste, sou só eu — murmurou, sorrindo e estendendo as mãos. Não podia ver Yoongi, mas sabia que ele devia estar apavorado com um estranho no meio da sua casa de madrugada.

— Por Deus, Taehyung! Você quer me matar? — riu de si mesmo, pondo a mão sobre o peito e se aliviando por ver o homem na sua frente, trajando o uniforme já familiar, ferido e sangrando. — O que foi dessa vez?

O Kim fez uma careta, segurando com força o corte profundo no abdômen. Não doía tanto assim, na verdade, talvez já estivesse acostumado com a dor, mas não gostava nada de preocupar Yoongi quando chegava urrando de dor e lesões. Sabia que não era nada agradável abrigar alguém como ele, cheio de segredos, máscaras, inimigos; e cuidar de uma pessoa que se negava a mudar os hábitos — mas o que podia fazer? Hell's Kitchen precisava de um defensor.

Mesmo assim, Yoongi nunca hesitou em ajudá-lo. Desde a primeira vez quando Taehyung apagou em uma luta e alguém acabou o levando para um hospital; acordou com Yoongi encaixando seu pulso. Duas semanas depois, estava quase no mesmo estado e precisava que o Min o ajudasse, batendo na porta deste com um sorriso torto e um uniforme parcialmente rasgado.

Tanto que naquele mesmo momento, o enfermeiro segurou sua mão e o levou para a sala, onde ele podia pingar o sangue que precisasse pois era mais fácil de limpar depois, deitando-o no chão e tirando rapidamente seu kit de primeiros socorros mais do que avançados que tinha posto ali, debaixo da mesa de centro, especialmente para as situações em que o herói mascarado aparecia em seu apartamento.

Adorava aquela parte do seu trabalho noturno — tirar a camisa do traje de Taehyung era divertido. Podia corar e a cegueira do outro nunca o permitiria ver sua vergonha ao encarar todos aqueles músculos e cicatrizes que secretamente deixavam Yoongi hipnotizado, quase incapaz de realizar seu trabalho. Assim que o mais novo estava devidamente despido da cintura para cima, expondo seu corte profundo e resistindo bravamente ao não demonstrar a dor imensa que devia estar sentindo, Yoongi preparou as luvas, tirando de dentro da caixa do kit o material necessário para estancar o sangue e fechar aquele corte.

— Queria poder ter autoridade o suficiente para te mandar parar de se arriscar tanto — resmungou, concentrado.

Por um tempo, Taehyung permaneceu calado. Talvez porque se abrisse a boca naquele instante, sairia um urro de dor brutal; ou talvez porque não tinha nada para falar e Yoongi preferia que fosse a segunda opção, apesar de saber que, como advogado, Taehyung sempre teria boas palavras na ponta da língua, se apegava na ideia de que o mais novo concordasse consigo, só não tinha forca de vontade o suficiente para sair da vida perigosa.

— Eu faço o que é preciso ser feito.

— Isso não é resposta, Tae.

Deixou as gazes de lado, catando dentro do kit um curativo especial para colar sobre os pontos feitos.

— É o que eu posso oferecer — argumentou, fazendo menção de se levantar, mas sendo impedido pelo menor. — Hell's Kitchen...

— É um lugar perigoso e que você precisa proteger, porque se não for você se machucando pelas pessoas serão as pessoas se machucando, eu sei, eu sei, mas... Não sei, Tae.

Yoongi suspirou, frustrado porque, diferente de Taehyung, palavras eram as coisas que mais o faltavam. Pior: na frente de Taehyung tornavam-se um emaranhado ainda mais difícil de decifrar, calando o Min por tempo indeterminado um vez que se encontrava sem fala.

— Não sabe?

— Não sei — confessou, desistindo de continuar um diálogo com o outro. — Tenho medo que você se machuque.

— Se eu não me machucar, nunca mais nos veremos — brincou, dessa vez, já com Yoongi distante ao guardar o kit, sentou-se no sofá deixando um gemido alarmante escapar.

— Você é um teimoso — brigou Yoongi, sentando-se no móvel próximo e observando a situação em que, mais uma vez, se encontravam. — Só vem aqui pelos meus serviços, está confessando?

Taehyung riu, segurando o ferimento para ajustar sua respiração. Gostava do senso de humor de Yoongi, o fazia parecer menos herói e mais humano. Seguindo essa mesma linha de pensamento, esses personagens heroicos são os que mais demonstram compaixão, empatia, alteridade e humanidade. Mas humanos? Estão longe de serem humano, isso é o que os separa: a ideologia de que para que alguém tenha humanidade precise ter super poderes. Não era bem por aí. Yoongi não tinha super poderes, mas tinha humanidade o que poderia ser considerado um se "super" fosse uma coisa que a maioria das pessoas não tem. Resumindo, para Taehyung estar ao lado de alguém com humanidade, o fazia se sentir menos herói, mais vulnerável e quebrado (o que na maioria da vezes, ele realmente estava), humano.

— Poderia dizer que é só por causa da sua beleza.

— Aposto que Namjoon me stalkeou no Instagram e te deu um relatório completo. Você não está perdendo muito, eu acho.

— Você é a pessoa mais bonita que já conheci — disse.

O Kim teve que refazer seus conceitos depois que ficou cego. Beleza para ele agora era um conjunto bem complexo de sons, fragrâncias e impessoalidades, singularidades, tom de voz, um batimento cardíaco, as passadas. Feiura ele não via, estava mais para decifrar a mediocridade. Tinha seus dons próprios para enxergar essas coisas. Via a arte com as mãos, não com os olhos.

— Nunca fez aquilo comigo, eu sempre me perguntei o porquê.

— Aquilo?

— Me ver com o toque, a maioria das pessoas cegas faz isso. Como pode dizer que sou bonito?

Era um enfermeiro muito esperto, era verdade, e por um tempo pensar nas palavras certas para aquela resposta calou o Kim, outra vez, logo ele que adorava usar da linguística, curioso pelo silêncio, abatido na sala de estar de um profissional da saúde.

— Eu enxerguei você com meu coração, Yoongi — concluiu. E parou a si mesmo porque pareceu que tinha apenas revelado para si algo que teimava em esconder a algum tempo já. — Sem olhos, sem mãos. Como, inclusive, todos deveriam ver. Ser cego não me fez perder a visão, me fez ganhar novos meios de enxergar e acho que nunca tinha sido capaz de descrever tão bem até te conhecer. Ver pode também deformar a imagem, enxergar não. Isso significa ler com o coração, a mente, o que for, e interpretar.

Yoongi engoliu em seco e se aventurou nos pensamentos: achava que estava entrando em um campo perigoso ao deixar Taehyung voltar e voltar noite após noite, mas não conseguia parar, não com aquele cheiro maravilhoso se sobrepondo ao sangue ferroso, e aqueles olhos perdidos, mas concentrados, aquela boca fina, sempre franzida antes despejar gotas "palavras de advogado". Perigoso não porque ele era um super herói, mas porque sentia-se tentado a se aproximar do Kim cada vez mais. Como estava fazendo naquele mesmo momento, sentando-se ao lado deste.

— Me fez ficar ainda mais curioso, como me interpretou?

— Você está perto — constatou, assim tendo a intimidade de inclinar-se para encostar a cabeça no ombro do enfermeiro, fazendo uma careta pelo movimento afetar seu ferimento. — O tom que você usa para falar comigo, ele não vacila um segundo sequer. Você não tem nenhum tipo de preconceito. Sua camisa está sempre amassada, você não se preocupa com aparência. E a forma como me toc-

O justiceiro fora surpreendido por um toque frio pressionando seus lábios, permaneceu estático por uns segundos até sentir a mão gélido do Min no seu rosto, estimulando-o a se mover. E foi o que fez, capturou o lábio inferior do menor e correspondeu o beijo com suavidade. Nunca iria ter pensado que o beijo de Min Yoongi era de fato tão suave quanto ele fazia parecer pela sua doçura, mas era e de alguma forma tipicamente viciante. Taehyung tateou seu ombro até segurar-lhe pela nuca, trazendo-o para perto. Seu corpo esquentou com o toque do enfermeiro em si, os dedos carinhosos e gentis percorrendo sua derme acabavam mudando os pensamentos do Kim, que já estava há algum tempo influenciado pelo Min para não ceder naquele momento de fraqueza.

E, mesmo assim, se achar forte. Por merecer um beijo daquele homem lindo, por tê-lo o querendo. Por poder protegê-lo. Ao pensar nisso, teve seu lábio mordido, afastando rapidamente as preocupações de sua cabeça para apenas apreciar o momento. Poderia ser que amasse Yoongi de verdade, e aquela não era a primeira vez no dia em que se perguntava isso. Arriscaria ou não, pelo contato que estava tendo deveria ter a resposta, mas apenas ficava mais confuso e mais agarrado ao outro a cada instante que se passava.

Já o enfermeiro, tinha várias dúvidas e aflições, e apesar da boca do outro ser magicamente mais deliciosa do que teria imaginado, aquilo não solucionava nada os assuntos inacabados em seu interior, para falar a verdade, só piorava, deixando-o dependente do sentimento de pertencer ao justiceiro machucado em seu sofá. Yoongi tinha muito com o que se preocupar: contas para pagar, plantões para cobrir, a tela rachada do seu celular e a comida cada vez mais cara para sua cadela, e Taehyung não tinha espaço entre isso tudo, mas ainda assim se intrometia, distraindo Yoongi dos cálculos e boletos, o fazendo andar em círculos no hospital e esquecer de comprar ração. Mas sabia de uma coisa: gostava do Kim. Gostava mais do que deveria e seria sensato gostar.

O Min subiu em seu colo de uma vez, assustando o Kim que o segurou pela cintura firmemente, antes de reclamar pela dor nos ferimentos.

— Yoon-

— Ai, desculpa — murmurou, ajustando-se sobre as pernas do mais novo e afrouxando seu aperto no mesmo para que não pressionasse suas feridas. Sorriu de si para si, encantado com a magia que parecia circundar o corpo dos dois, fazendo o rosto de Yoongi se iluminar e os olhos foscos de Taehyung brilharem ainda mais. Avançou para mais um beijo, sendo recusado com o desviar de lábios do mais novo. — O que foi?

Taehyung suspirou, esticando o braço para alcançar seu par de óculos de lente vermelha para colocá-los, incitando, com esse gesto, o enfermeiro sair de seu colo, sentando-se mais distante no sofá. Não falou nada, apenas se curvou e manteve-se calado, segurando o ombro e o coração de Yoongi com uma força como se fosse esmagar. O Min entendeu o recado, é, já tinha pensado naquilo também. Não era certo, não era comum, não acabaria bem, não deveriam, não podiam. Uma sequência de nãos que o otimismo de Yoongi respondia, feliz e firme, com um “sim” gritante.

Levantou-se do sofá, puxando a blusa grande demais para mais baixo, esticando o tecido barato. Era um sentimento longe de irritação ou mágoa, quase como se conseguisse ler os pensamentos do Kim, se via fissurado na verdade que se negava: eles nunca dariam certo. Trocando beijos na noite? Quando Taehyung está sangrando e Yoongi devia estar dormindo para recomeçar sua rotina cansativa? Era loucura, mais do que isso, até, insanidade! Um justiceiro que se arrisca dia e noite e um... enfermeiro? Como iriam ter encontros? E planos para o futuro? Estabilidade?

— Eu acho que...

— Não, tudo bem — Yoongi o cortou rapidamente. Estava envergonhado, não aguentaria palavras de advogado. — Boa noite, e desculpa.

— Yoongi — Taehyung ainda tentou, mas escutou a tranca da porta do quarto do mais velho, perdendo suas chances de se explicar.

Que tinha motivos: que poderia ser clichê mas não queria magoá-lo e também não queria que o baixinho ficasse em perigo, o que era um bônus para qualquer um próximo ao Kim. Não estava o rejeitando, queria o manter perto, por isso mesmo o cuidado e precaução, era se privar de algo para dar mais oportunidade ao enfermeiro, de conhecer alguém melhor, viver uma vida melhor, se apaixonar por outro, não cego, não justiceiro, também não advogado.

No final, iria acabar como todas as outras noites: Taehyung no sofá e Yoongi na cama, imaginando porquê se permitia aquele teatro de que estava tudo bem dia após dia, sabendo que, não importava o quão cedo acordasse, o Kim não estaria ali para o dar bom dia.



Yoongi suspirou, encostando-se na parede do corredor vazio e aproveitando para tirar um cigarro e isqueiro do bolso, acendendo-o e queimando-o, tentando relaxar os músculos com uma tragada só, mas percebeu que apenas um não iria lhe tirar um estresse. Talvez nem se passasse a vida inteira fumando poderia ter a certeza de que aquele peso de preocupações deixaria seus ombros.

— O destino deve estar querendo que você desabafe comigo — Jungkook disse, empurrando o menor pelo ombro até que os dois estivessem juntinhos, encostados na mesma porta. O mais novo carregava consigo alguns aventais azuis que foram rapidamente deixados de lado quando este encontrou o estante ao lado, roubando então um cigarro do pacote de Yoongi e acendendo-o com a ponto do outro. — Vamos lá, desembucha.

O Min olhou, desconfiado para o mais novo — se conheciam desde o colegial mas Jungkook tinha acabado de chegar no hospital, ainda estava no estágio da faculdade e, mesmo assim, tinha atitudes como aquela, o que fazia Yoongi rir, apesar disso, o melhor amigo era realmente alguém excepcional. E que o conhecia bem demais. Sem espaços para correr, o enfermeiro relaxou os ombros, soltando a fumaça e perdendo o olhar no tecido feio do uniforme.

— Ele tá me deixando louco, Jungkook — admitiu. — Ontem beijei ele.

— Beijou?

— Beijei.

— E ele?

— Me beijou de volta — sorriu, era isso o que importava. — Mas aí...

— Aí...?

— Aí ele parou e não teve mais beijo nenhum, então eu fui dormir — respirou fundo, tragando outra vez e não esperando que o melhor amigo respondesse, mas ele respondeu.

— Ele dormiu lá de novo?

— Sim. E quando eu acordei ele ainda estava, me pediu desculpas e disse que eu tinha entendido mal, que blá blá blá era pra me proteger e aquela não era a hora de arriscar. Pau no cu dele.

— Acho que ele gosta de você.

Yoongi levantou as sobrancelhas, virando-se com um sorriso divertido para o Jeon.

— Acha, é?

— Qual é, Yoongi? O cara nunca ficou tempo o suficiente para te ver pela manhã e coincidentemente no dia seguinte à noite em que vocês se beijam ele decide ficar e te encher de doçuras?

— Ele me deu um fora com palavras de advogado, isso sim.

— Ele deve estar confuso, assim como você — Jungkook continuou defendendo Taehyung, nunca nem tinha visto o rosto do cara mas achava simplesmente lindo a forma como Yoongi o descrevia e desejava do fundo do coração que o mais velho fosse feliz, nem que fosse um tiquinho, dentro da sua cansativa rotina. — Você o ama?

Quase riu. Por favor, Jeon Jungkook, sem perguntas difíceis. Amar? Yoongi queria passar os dias abraçados no corpo morno de Taehyung e lhe fazer cafuné e café quando esse pedisse, daquele jeito que sabia que ele gostava, quente e preto; queria beijar o queixo do maior e lhe contar piadas, lhe fazer cosquinha, poder trancar a porta do quarto e abrigar o Kim embaixo dos lençóis até o convencer de que lutar contra mafiosos não era legal e que de tardezinha era um bom horário para fazer amor. Fumaria junto a ele, Taehyung não iria gostar muito deste detalhe, com certeza, mas podia se entreter com Holly, iria ser uma cena adorável.

Amor era uma palavra forte com significados poderosos e que o enfermeiro não se dava o direito de usar, porque amor acabava em ruínas e ele ainda não tinha encontrado uma exceção que o fizesse acredito que logo ele e Taehyung, um casal que tinha tudo para dar errado, seria diferente.

— Não precisa responder — Jungkook disse por fim. — Já disse tudo.

— Jungkook, você tem que entender: o Taehyung, ele é diferente.

— Cego?

— Diferente de outra forma — divagou, esquecendo o cigarro aceso na ponta dos dedos. — Ele não é do tipo que se aventura numa relação cheia de riscos, mas também não é o tipo que deixa oportunidades passarem. Ou seja: ou ele realmente gosta de mim e quer me proteger ou meu amor não faz a mínima diferença para ele.

— Vamos esperar que seja a primeira opção, né — o Jeon sorriu carinhosamente, apoiando-se no ombro.

É, mas Yoongi não tinha tanta certeza. Mais do que isso: estava apavorado para descobrir, porque em nenhuma das alternativas seu romance daria certo. Suspirou, tragando outra vez antes que a supervisora aparecesse. Sabia que aquela noite seria perigosa, para Taehyung, ele e toda a tensão envolvida.

Queria poder desvendar todos aqueles mistérios sozinhos, se confessar de uma vez e arcar com as consequências, mas tinha tanto medo de perder o Kim, quem cuidaria dele? Alguém iria o substituir? Qualquer um poderia fazer curativos, aliás. Aquela não era a sua realidade — ele foi pro jardim de infância e uma criança normal, fez amigos no colegial, se formou e quis ser enfermeiro, tudo nos parâmetros, se apaixonar por um super-herói não estava nos seus planos e mesmo falhando nessa parte de planejamento do futuro, não conseguia evitar. Queria encaixar Taehyung ali de alguma forma.

Sabia que pelas ruas e os sussurros de Hell’s Kitchen o conheciam de outra forma: Demolidor. Yoongi achava irônico, é, tinha sido demolido, seu coração estava só os troços de uma obra não terminada, mas não havia sido Taehyung a demolir, por isso mesmo a ironia, era demolidor de nada a não ser as hesitações do Min, o real culpado por essa bagunça toda envolvendo arquitetura. Tinha sido um péssimo engenheiro ao não calcular os possíveis danos que teria no futuro ao abrigar o estranho na sua casa.



Decidiu que era melhor não voltar para casa tão cedo assim naquela noite; não perderia muita coisa. Depois de um dia cansativo e seus pensamentos o agonizando entre uma cirurgia e outra, não aguentava mais nem ver a cara do justiceiro mascarado, na verdade estava pensando que mal teria em mandá-lo ir se foder. Por isso, apertou forte a bolsa contra seu peito, escolhendo o caminho mais longo até seu apartamento.

Naquele horário havia quase nenhum movimento, o que era melhor para fumar e se deixar ser levado pelas preocupações mesmo que fossem elas quem Yoongi evitava. Ouvia apenas o som dos próprios passos e a respiração pesada, por isso estranhou aquele sentimento de estar sendo perseguido, mas estava tarde e esquisito pelo bairro, então não achou ruim se certificar, encontrando menos que a sombra atrás de si.

Começou a assobiar, para se distrair — do medo e dos pensamentos nada sutis também. Estava na cara: namorar um herói não era seu lance. Na verdade, talvez a tal da Sra. Foster estivesse feliz com o alienígena loiro, ou a Sra. Potts estivesse de bem beijando um cara numa armadura, talvez fosse sim para elas, mas não para si. Taehyung era diferente de Thor ou Homem de Ferro, ele tinha mais justiça do que coragem, mais paixão do que força, era um homem, não um deus ou um robô. Um homem que nem todos os outros, mas que se metia com o perigoso e arriscado, e Yoongi não sabia se aguentaria isso.

Mexeu na franja, impaciente.

— Por que tão complicado, Tae?

Fora surpreendido por uma mão quente na sua boca, impedindo-o de gritar de susto, e sentiu rapidamente a dor nas costas quando fora arremessado contra o portão do estabelecimento a sua frente. Mas que porra? Abriu seus olhos, assustados, lidando com a imagem de uma mulher ruiva de cabelos longos e uma roupa preta que parecia camuflar seu corpo esguio entre as sombras da noite, além de metade do rosto ser pintado como se estivesse em uma imagem preto e branco. Yoongi sentiu medo. As unhas da ruiva logo foram parar em sua garganta, sua força era inimaginável, levantando o baixinho no ar e tendo os olhos mudando para um verde muito mais brilhoso.

— Você conhece ele? — rugiu, ameaçadora.

Yoongi não respondeu, estava tremendo.

— Você conhece o Demolidor? — gritou outra vez a ruiva. — Onde ele está?

— Não sei — chorou, pronunciando com dificuldade.

A mulher o soltou e se afastou, com um risinho cúmplice. Por um momento, quando finalmente voltou a respirar normalmente, achou que tinha finalmente acabado, que ela iria embora e o deixaria em paz, mas logo sentiu algo duro na sua face, caindo bruscamente no chão frio e com seus pertences saltando para fora da bolsa. A mulher tinha chutado seu rosto sem dó, fazendo um corte na diagonal de sua bochecha que agora sangrava.

— É mentira!

O enfermeiro se encolheu todo, com medo. Só tinha sido acertado no rosto, mas o corpo inteiro doía e com a ruiva gritando para si, tão perto, era insuportável. Pensou em Taehyung, que chegava todos os dias com machucados piores, como ele tinha essa resistência toda e Yoongi já estava chorando?

— Deixe-o em paz — a voz grave que o enfermeiro bem conhecia se fez presente na noite, surpreendendo os dois na cena. Yoongi apenas levantou os olhos, soube que iria dar errado assim que o sorriso sádico da mulher apareceu. Logo atrás dela, o Demolidor. — Deixe ele ir, Mary.

O Min se sustentou nos cotovelos, mal conseguia se mexer no meio daquela tensão toda, estava tremendo de pavor. Taehyung parecia neutro, calmo, indiferente. Quis gritar com o justiceiro, era culpa dele, afinal. Dele e desse coração impulsivo que Yoongi tinha. Impulsivo, burro, inconsequente...

— Primeiro, nunca mais me chame de Mary. Ela é fraca e ingênua, e você sabe muito bem da força que eu tenho. Segundo, o garoto é assim tão importante?

Nenhum dos dois se mexeu ou disse nada. A neblina passava fina naquele horário, pintando tudo de branco e embaçado. Yoongi notou uma barra de ferro ao seu lado, se conseguisse acertar a ruiva com aquilo poderia correr até achar um lugar para se esconder. Esticou a mão aquele tantinho que era o necessário, mas foi parado quando sentiu os cabelos sendo puxados.

— Você fica paradinho — Mary ou sei lá quem fosse murmurou próxima a si.

— A-ah — o Min não conseguiu segurar aquele gemido de dor que mostrava o quão fraco era.

Um calor atingiu seus pés quando um conjunto de caixas de papelão começou a pegar fogo. Seus olhos se alarmaram — estava muito próximo de sua pele.

— Não — choramingou.

— Tá ficando quente agora, Demolidor, vai querer que o enfermeiro queime? Piada de mau gosto, desculpe.

— Última chance, solta ele, Mary. Agora — proferiu pausadamente.

— Meu nome não é Mary!

Após o estridente grito da ruiva, tudo que Yoongi sentiu foi calor. Primeiro, o fogo em contato com seus pés. Segundo, o suor escorrendo pela sua testa assim que foi largado para o lado e Mary jogada contra o mesma portão que minutos antes era ele. Terceiro, o calor em seu peito ao ver como os ferimentos do Kim eram feitos. Já estava acostumado às feriadas e machucados, aqueles que logo cicatrizavam, o sangue, a carne exposta, mas presenciar o deixou sem fôlego.

A ruiva acertou uma série de golpes no outro, fazendo-o cair no chão. A mente de Yoongi sussurrou um "por favor" baixinho. Não iria suportar perder Taehyung. Já o perdia todas as manhãs, para sempre seria devastador.

Viu os passos se aproximando de si e tentou se recuperar das emoções que o agonizavam e deixavam-o tonto, mas não escapou dos braços fortes de Mary, arrastando-o para perto do corpo fraco do Kim.

— Ele vai ser o próximo — ela intimou. — E não vai ser o último até que você saia do meu caminho.

Taehyung sentiu pelas lágrimas de Yoongi. Foi ali que teve certeza, quando pensou que se fechasse os olhos por um segundo, não iria mais reconhecer a respiração cansada, o batimento calmo e mais um conjunto de outros fatores que faziam Yoongi ser a pessoa com quem o Kim queria acordar todos os dias. Por isso não podia se deixar vencer naquele momento, não por orgulho ou honra, mas por amor.

Resgatou do seu âmago forças que antes tinha certeza não existirem, e conseguiu se pôr de pé, impedindo, inicialmente que Mary, ou Tyfoid que era a personalidade presente ali, o atacasse, conseguindo dar o primeiro golpe, agarrando-a pelo pescoço e girando no ar, fazendo com que a mulher caísse, batendo a cabeça no chão e desmaiando de imediato. Soube porque não ouvira mais o descompasso da adrenalina.

E só assim pôde respirar finalmente, sentindo a caixa torácica quase explodir pela tensão. O resmungo baixo de Yoongi o despertou, então, e mesmo que partes suas doessem, ajoelhou-se perto do baixinho, tentando toca-lo para certificar-se do seu bem estar.

— Yoongi — murmurou, achando seus dedos trêmulos.

— Sai de perto de mim — gritou em um estalo, levantando-se cambaleante e obrigando a se afastar dali, da cena, de Taehyung, da dor.

Ordenava para correr mais rápido, mas a única coisa que fazia era se apoiar nas paredes e ir saltitando para onde pudesse se esconder, de si mesmo.

— Yoongi! Para!

A voz do Kim o fez chorar e com os olhos embaçados, os músculos fatigados e a mente terrivelmente cansada, a única coisa que pôde fazer foi diminuir a velocidade, entrando em um beco escuro. Logo que o mascarado o alcançou, Yoongi tentou recuar, puxando o braço, mas foi preso pelo toque macio das mãos no seu rosto, do corpo esguio encostando no seu e o esmagando suavemente contra a parede de tijolos, a respiração quente contra seu rosto e a testa grudada na sua. E ainda tentou resistir, batendo contra o peito do Kim, mas não durou muito tempo. Aquele toque era mais esclarecedor do que a própria luz.

— Não — sussurrou, agarrando as mãos do maior e fechando os olhos para não ceder àqueles lábios tão próximos e tentadores. — Não, Taehyung, me solta.

— Yoongi, eu sinto muito — disse baixinho, acariciando o rosto do menor. — Eu sinto muito, por favor. Não vai acontecer outra vez.

— Não, eu tô com medo — chorou, abraçando o mascarado com força e não se importou com seus ferimentos ou os dele. Apenas o abraçou.

— Está tudo bem agora, vou cuidar de você.

Amava Taehyung, não desistiria dele nem se fosse capturado e torturado. A paixão o cegava, só conseguia enxergar vermelho escarlate. Naquela noite, não dormiu em sua casa. Sentiu saudades da Holly, mas não reclamou do perfume doce dos lençóis em que estava enrolado e nem do calor daquele cheiro de Taehyung a qual amava em segredo. Todo o corpo (e até a alma) doía, mesmo assim fechou os olhos, caindo no sono lentamente ao ponto de ver o maior já sem seu traje próximo a cama, não o observando, mas o sentindo.

Quando acordou, gradualmente, porque não era dessas pessoas de acordar disposto e dar sorrisos aos pássaros, não havia nada para si a não ser um bilhete e curativos nos cortes. Com a luz do sol, conseguia visualizar melhor a casa do seu herói: era organizada e luxuosa, conseguia imaginar Taehyung mobiliando-a às cegas, mesmo assim, o lugar tinha cor e beleza. Esticou-se e foi procurar sua dignidade no banheiro, reparando nas marcas coloridas em sua pele eu pareciam se destacar sobre sua pele branquinha, mas também nos curativos e esparadrapos que o Kim colocara enquanto dormia. Só depois de estar com a consciência no lugar, raciocinando como deveria, que foi ler o bilhete encontrado ao lado da cama.

A letra era mais garranchada do que o normal, mas isso o fez sorrir, buscando os óculos de leitura na bolsa para tentar compreender a escrita.


“O dia em que você me beijou, eu enlouqueci. Como um homem tão lindo e bom pode querer algo comigo? Somos amigos, Yoongi e isso significa que devo proteger e cuidar de você sempre, mas estou falhando nesse quesito e você é bom demais pra isso, pra mim.

Não quero machucar você, não aguentaria esse peso sobre meus ombros, então admito que o melhor por ora é nos afastarmos. Sinto com as escolhas que estou tomando, mas é para o seu bem, prometo.”


A rubrica embaixo denunciava: Taehyung não queria mais se encontrar com ele, nada de machucados ou curativos, agulhas e sorrisos, tinha tudo se esparramado no chão como leite caindo da caixa. Yoongi deixou o papel deslizar pelos dedos, sentando-se na cama confortável do mais novo. Os olhos ameaçaram transbordar, mas ele mesmo tratou de fungar rapidamente, esquecendo do conteúdo do bilhete como prevenção.

Na noite anterior, o Kim segurou seu rosto com tanta paixão, ficou tão próximo, o deitou na cama e cuidou de si. Aquilo Yoongi não deixaria passar, precisava saber se Taehyung sentia o mesmo, não o deixaria escapar, estava certo disso. Foi até a cozinha, tirou um pão, passou manteiga, voltou no quarto, roubou uma camiseta do Kim, explicou toda a situação para Jungkook, ele o xingou, tentou criar um discurso na sua cabeça, mas tudo foi por água à baixo por volta das onze.

Taehyung passou pela porta já tirando o paletó, mas se impediu de fazê-lo ao notar a presença do Min na sua sala.

— Ainda está aqui — soou mais como uma pergunta, fazendo o estômago do enfermeiro gelar como sorvete.

— Sim — murmurou.

— Por quê?

Yoongi engoliu em seco: se tinha uma hora para despejar seus sentimentos, era aquela, mas por algum motivo travou olhando para a imagem séria e centrada de Kim Taehyung.

— Eu pensei que, talvez você me ouvisse se não estivesse todo machucado. Lesões podem mudar o psicológico de alguém, estudei isso no terceiro semestre.

— Yoongi, diga o que quer.

Na cabeça do enfermeiro parecia radical demais deixar todos os seus sentimentos saírem daquela forma desenfreada para alguém que ele conhecia apenas as cicatrizes, mas, no fundo do coração, pouco se importava, estava amando Taehyung tanto tanto que dizer ou não dizer não faria diferença, aquele sentimento já era seu. O justiceiro poderia nem gostar tanto assim dele, aquele beijo podia ser só coisa carente de madrugada, mas para o Min significava mais. Nunca se prendeu a ninguém ou nada como estava preso em Taehyung e na ideia de tê-lo para si.

— Eu quero... Quero que você apareça a noite não só com ferimentos, mas também com flores, chocolates ou só um DVD do seu filme favorito – o meu é A Fantástica Fábrica de Chocolate, aliás. E não quero que venha apenas pela noite, mas também de manhã, de tarde. Pode passar o dia todo comigo, não me importo, eu quero isso! Por Deus, você não sabe como eu quero!

— Yoongi...

— Me deixa falar — respirou profundamente a coragem que tinha guardado dia após dia. Aquele momento era seu. — Eu ainda guardo a atadura do dia em que nos conhecemos; não me ache estranho. Eu só esqueci e esqueci dia após dia até começar a gostar das memórias que ela me traziam. Taehyung, você nunca vai entender como eu enxergo o mundo, mas ultimamente a única coisa que vejo é você. Tô perdendo o juízo, peso e plantões porque, porra, você luta e chega sempre ferido e eu tenho muito muito medo que você simplesmente pare de aparecer. Eu preciso, preciso cuidar de ti.

As palavras iam atropelando umas a outras e embora o Min fosse apaixonado por quem via, agora estava choroso. Sua voz demonstrava bem isso, assemelhando-se a pregos passando por sua garganta. Mesmo jogando os pregos fora e os martelando na cabeça teimosa do justiceiro, ainda faltava muito cimento para a sua construção.

— Yoon...

— Preciso terminar isso, é sufocante para mim, Tae, eu sei que você tem obrigações e que muitas pessoas dependem de você, mas eu, eu também, e muito aliás-

— Não — murmurou furioso, atacando os lábios do enfermeiro repentinamente com ainda mais fúria e desejo, como um tiro cego no escuro. Yoongi se rendeu rapidamente, relaxando os ombros e engolindo choro, prego e cimento apenas para conseguir sentir bem a língua do Kim encontrando a sua. Logo as mãos de Taehyung, lentas, mas curiosas, estavam na cintura do mais velho, assim como as do Min se enroscaram nos fios do justiceiro, esquentando sua pele, arrepiando seus pelos, o dando aquela sensação gelada na barriga de paixão adolescente. Esquivou-se dos lábios quentes do enfermeiro apenas para apalpar seu rosto em uma carícia cega de um coração que via além da conta. — Eu também, Yoongi, mas é tão complicado...

— Cala a boca, Taehyung, por favor, só... — sorriu, extasiado, abraçando o Kim e praticamente o esmagando entre os braços. — Só cala a boca.

Como mandado, o Kim se parou em seu discurso, aquilo não importava mesmo naquele momento, mas manteve a boca aberta, conseguindo um beijo ainda mais intenso do enfermeiro, abrigando-o no seu colo da forma como tinha feito noites passadas. E a sensação era ainda mais maravilhosa. Conseguia se prender e se contentar com a boca colada na sua, com aquela diversão silenciosa dos dois produzindo estalos, das mordidas e línguas, mas não se segurava para o desconforto que Yoongi causava se remexendo todo sobre uma área tão sensível, e, Taehyung sabia: ele fazia isso de propósito.

— Namjoon pode aparecer a qualquer momento — murmurou.

— Então me leva pro seu quarto, Demolidor — disse, ainda enchendo a face do Kim de beijos e carícias (algumas não tão suaves ou carinhosas), mas se agarrando inteiro ao corpo do maior que o carregou até o quarto, demorando poucos segundos com a trava da porta. Respirou fundo, não deixando que outro tipo de hesitação lhe preenchesse a mente antes de tirar a camisa.

— Luz acesa ou apagada?

Yoongi sorriu, satisfeito e feliz: podia visualizar todos os traços que amava no rosto do grandão, que ele nem sabia da beleza que tinha e podia passar os lábios na pele áspera mas igualmente bela. Tudo seu. Seria trágico estar apaixonado por um herói e se colocar em risco por essa paixão, se não fosse absurdamente romântico e motivador para o Min, cego de amor.

— Tanto faz, eu só consigo enxergar vermelho. Vermelho escarlate.

2 Juillet 2018 23:04 0 Rapport Incorporer Suivre l’histoire
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La fin

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uanine oliveira i was a little bit lost, but i'm not anymore

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