Sakura
Eu corria, corria para salvar a minha vida, corria para longe dele, corria para esquecer tudo que havia acontecido, mas estava exausta, exausta por amá-lo, exausta por correr dele, exausta por ter sempre sido aquela garota tonta e irritante que dizia amá-lo e que sempre acreditou que ele voltaria, talvez não por mim, mas, sim, por ele mesmo.
Senti minha vista ficar turva. Estava esgotada, sentia minhas forças sumindo de todo o meu ser e já não sentia mais a dor em meu ferimento, muito menos meu coração despedaçado. Pisei em falso no pico daquele monte e de repente tudo que eu sentia era o vento contra meu corpo. Eu estava caindo, eu apaguei.
Senti minha ferida arder, estava morta? Sempre achei que, quando o fim de minha vida chegasse, não iria sentir absolutamente nada; sem dor, sem sofrimento, sem desespero, sem corações partidos. Achava que não ia sentir cheiro… Isso! Foi isso que me trouxe à realidade: um cheiro amadeirado com hortelã, para mim, melhor cheiro não existe.
Sentia que esse era o cheiro que me amarrava à vida. Que se ele sumisse, eu jamais voltaria. Me apeguei a ele com as minhas últimas forças, pois sabia que um dia eu reconheceria esse cheiro novamente, o cheiro que me lembrava da vida. De repente uma dor insuportável tomou meu corpo, senti uma singela lágrima escorrer pelo meu olho.
— Me desculpe, Sakura, não vi o buraco. — Era ele, Kakashi, aquela voz única dele, voz de cansado, e esse cheiro com certeza vinha dele. Sim, o cheiro que me despertou.
Meu rosto repousava em um lugar macio, e de repente apaguei de novo. E se eu realmente estivesse morta? Mas por que Kakashi? Sempre ouvi dizer que, quando estamos no nosso último momento de vida, lembramo-nos daquelas pessoas que amamos, então por que não as vi? Amava tantas pessoas: meus pais, por mais que eles já não se encontrassem entre nós, eu os amava minha porquinha Ino; minha Shishou Tsunade-sama; Naruto, com aquele jeito desengonçado; Sasuke... não, não amaria mais ele, não depois do que ele fez para mim, isso já estava decidido. Amava Kakashi-Sensei, que desde quando meus pais se foram cuidou de mim. Sim, eu o amava por ele sempre cuidar tanto de mim, era como se ele fosse meu irmão mais velho; estava sempre ali.
Era acostumada a pensar que amava o Sasuke desde minha infância, mas será que isso realmente era amor? Será que não dizia o amar só porque todas as meninas diziam o mesmo? Será que eu o amava? O que realmente era o amor? Eu queria conhecê-lo um dia, poder dizer que realmente amei. Enquanto isso não acontecesse, iria seguir amando meus amigos e todos que nunca me abandonaram.
Decidi não pensar mais nisso, só iria viver o momento e lutar pela minha vida. Não queria morrer, não queria deixar as pessoas, ou não queria que elas me deixassem, não queria virar uma simples lembrança ou nem isso. será que alguém se lembraria de mim se eu fosse embora? Será que colocariam flores no meu túmulo? Ou melhor, eu teria um? Será que meu nome seria escrito na pedra dos ninjas que morreram com honra, ou eu seria simplesmente esquecido? Várias dessas perguntas circulavam em meus pensamentos.
“Kakashi, não me deixe partir. Lute por mim. Ainda não é a hora, não quero morrer, tenho tantas coisas para viver. Por favor, Kakashi, não desista”, pensei antes de ficar inconsciente novamente.
[...]
Kakashi
Acordei com o sol na minha cara. Não entendia como sempre me esquecia de fechar a cortina antes de dormir, era sempre a mesma coisa.
Levantei da cama e fui ao banheiro fazer minha higiene matinal, para despertar e mandar embora toda a preguiça; hoje teria um dia cheio de afazeres.
Saí do banho, me troquei, vestindo-me com o habitual traje de ninja da folha. Fui até o espelho, coloquei minha bandana e lembrei-me de Óbito. Por vários motivos prometi a ele que veria o mundo com seus olhos, mas não me sentia digno disso. Pensava que ele me entenderia, ou talvez não, sabia que jamais me livraria da culpa. Ainda olhando pelo espelho, vi um ANBU na janela.
— Yo, Kakashi-senpai. — Era Tenzou.
— Yo, Tenzou — respondi.
— Ora, Senpai, já lhe disse para não me chamar assim, agora é Yamato — disse-me com cara de zangado. — O que você acha que as pessoas me perguntariam se ouvissem você me chamando assim? Tsunade-Sama lhe arrancaria o pescoço.
— Sumimasen, Tenzou. — Ri descontraído.
— Ora, senpai, você não tem jeito mesmo! — disse rindo, mas em um momento já estava sério de novo. — Tsunade-Sama lhe chama, disse que é sério e que tem a ver com a Sakura.
— Diga que já vou — disse, perdendo o ar da graça.
“Ora, o que será que aconteceu com minha pequena? Minha? Desde quando? Se controle, Kakashi!”, pensei. Melhor me apressar.
Cheguei à janela do prédio da Hokage e percebi em seus olhos o cansaço e em seu bafo o cheiro de saquê.
— Kakashi, que bom que não se atrasou... tanto — disse Tsunade com cara de descaso, parecia aflita. — Sakura sumiu. Sei que não abandonou a vila, mas não sei o que pode ter acontecido, então sua missão é descobrir. Ela não sumiria assim do nada, conheço minha pupila — disse com voz de choro, dava para perceber a preocupação em sua fala.
— Sakura jamais sumiria sem um motivo — respondi.
— É claro que não, Kakashi — disse, com cara de quem procurava lembrar-se de algo, no segundo seguinte, vi o brilho no olhar de quem descobriu o que aconteceu. — Mas é claro! Como não pensei nisso antes? Kakashi, tenho certeza de que sei o que aconteceu! — disse com convicção.
— Are Are Tsunade-Sama, diga-me logo, estou preocupado — respondi.
— Lembro-me de ter marcado com Sakura para vir aqui noite passada, iria lhe passar uma missão. Marcamos às 19 horas, aproximadamente, e lembro que perto desse horário Naruto esteve aqui... aquele baka. Vou acabar com ele se algo grave acontecer com a Sakura — disse preocupada. — Continuando, Kakashi, Naruto esteve aqui e disse que viu Sasuke Uchiha na fronteira, pensou em ir atrás dele, mas achou melhor me notificar, por estar ao redor da vila. E temeu que algo de ruim acontecesse.
— Sakura foi atrás dele — completei, já saindo pela janela
— Kakashi, por favor, traga-a de volta — disse com a voz embargada de choro.
“A protegerei com a minha vida, hime, estou indo”, pensei determinado.
Corria o mais rápido que conseguia. Sentia minhas pernas cansadas, mas só de pensar em Sakura ferida, sentia a raiva tomar conta de mim e minhas forças aumentarem. Estava à frente da fronteira, procurava por destroços para ver se houve luta. Não achei nada.
“Vamos, Sakura, deixe-me acha-lá", pensei angustiado.
Subi na árvore mais alta que avistei, olhei para baixo, e nada. De repente senti um vento forte contra mim, bagunçando meus cabelos prateados, e virei o rosto a favor do vento, foi quando eu a vi. Tinha certeza de que era ela: m ponto rosa caindo rápido do penhasco, me desesperei. Corri, corri até não sentir mais as minhas pernas, não poderia a deixar cair. Seria terrível, ninguém jamais a reconheceria. Fiquei frustrado.
Concentrei meu chakra nos pés e subi o penhasco de onde ela caía. Subi muito rápido, usei toda a velocidade de conseguia, a vi passar do meu lado e pensei em agarrá-la, mas nós dois cairíamos, e a intenção não era morrermos, nem a deixar morrer.
“Pense, Kakashi, vamos, pense logo”, pensei com pressa, e então grudei o pergaminho mais grosso que tinha com uma kunai e pulei segurando a ponta dele. Inclinei meu corpo para baixo, pegando impulso com a cabeça para baixo e os pés para cima, segurei minhas mãos ao lado de meus bolsos e desci. Fechei os olhos por um segundo e quando abri já tinha Sakura em meus braços. Suspirei aliviado.
— Te peguei, pequena. Te peguei e não vou te deixar morrer, não hoje — disse aliviado.
Estávamos a poucos metros perto do chão, ajeitei Sakura em minhas costas e pulei. Senti minhas pernas latejarem por sustentar mais peso do que o normal durante os pulos e por ter corrido feito doido, mas não me arrependia, correria novamente quantas vezes fosse preciso para salvá-la.
Peguei-a em meus braços, afastei seus cabelos rosados de seu rosto e a fitei. Parecia com dor, cansada e seus batimentos estavam fracos. Beijei sua testa e vi suas pernas desnudas mostrando que houve luta, e sua camiseta, que normalmente era maior que seus shorts, para não atrapalhar os movimentos, estava rasgada. Coloquei-a sentada, encostada em um dos meus joelhos para sustentar seu corpo, tirei meu colete de jounin e minha camiseta de manga longa do uniforme e a vesti por cima de suas roupas, estava ventando, mas preferia proteger a ela do que a mim.
Fiquei com a regata que normalmente usava por baixo da camiseta de manga longa e peguei meu colete nas mãos; os bolsos estavam vazios, então enrolei até ficar fofo o suficiente para apoiar a cabeça dela nele como um travesseiro substituto. Peguei-a no colo de novo e preferi ir andando, já que minhas pernas doíam.
Cansado de andar, sentindo uma exaustão enorme em meu corpo, não conseguia respirar direito. De repente pisei em falso, não vendo o buraco na minha frente. Olhei para Sakura em meus braços e vi que tinha uma cara de dor e escorria uma lágrima de seus olhos.
— Me desculpe, Sakura, não vi o buraco — disse, sentindo a dor dela como se fosse minha.
“É melhor eu prestar mais atenção no caminho, me perdoe, hime, mas aguente mais um pouco já estamos chegando”, pensei comigo.
Kakashi
Avistei o portão de Konoha e suspirei aliviado. Quase não tinha mais forças para continuar andando, o que sempre me fazia seguir em frente era o pensamento de que Sakura precisava de um médico, e não qualquer médico, e sim de Tsunade, pois seu estado era grave.
Olhei para o portão e vi Genma. Assim que ele me reconheceu, veio ao meu encontro, olhou bem para mim com riso debochado, o que me fez perceber que minha aparência devia estar horrível, até porque sentia meu rosto sujo, meus braços, e até meus cabelos prateados deviam estar pretos, mas seu sorriso não durou muito quando seus olhos acharam os cabelos rosados. Percebi sua feição mudar de deboche para preocupado.
— Genma, avise Tsunade que trouxe Sakura. Mande-a ir correndo ao hospital, avise-a de que é grave. — Vi em seus olhos que ele sabia que a conversa tinha sido encerrada, logo ele desapareceu em uma cortina de fumaça.
Vi Gai se aproximando, mas não tinha tempo para ficar dando explicações, sabia que se olhasse bem em meu rosto, ele perceberia.
— Kakashi, você está horrível, cadê a sua força da juven... — Suas palavras foram encerradas assim que avistou Sakura em meus braços. — Você parece cansado, quer que eu a leve? — Sabia que poderia contar com Gai para levar Sakura até Tsunade em segurança, mas alguma coisa me impedia de entregá-la, então logo pensei em recusar a ajuda.
De repente senti um peso sumir de meus braços, olhei para Gai e vi que ele estava com Sakura, e suspirei procurando palavras para retrucar com a ideia de Gai a levar, mas quando puxei o ar de volta para meus pulmões, minha vista escureceu e de repente perdi minha consciência.
“Não, deixe que eu a levo”, foi a única coisa em que pensei em dizer.
Merci pour la lecture!
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