Após ajudar algumas pessoas do vilarejo, pensei em visitar meu amigo, pois já fazia algum tempo que não nos víamos devido a uma série de coisas que tínhamos de cumprir para que o mundo celestial voltasse ao que era antes do confronto contra Shiva.
Cheguei a ficar alguns metros da casa de Ryouma, mas ao ver sua esposa pela janela, pensei não ser uma boa idéia aparecer do nada em sua casa. Não queria causar nenhum desconforto, já que sempre me sinto envergonhado perto dela e noto em seu olhar que se incomoda da mesma forma e da última vez que estive lá, ainda tive que ouvir dele que deveria me casar com Lengue, o que eu acho um absurdo. Só eu sei, o quanto ela ainda sente a falta do mestre Indra e que sofre em silêncio, tendo apenas as boas memórias de quando ele ainda não havia despertado para o mal.
O fato é que ficamos mais próximos e não vou negar o quanto gosto dela, mas sei que seria apenas ilusão pensar que um dia ela pudesse amar outra pessoa e que essa pessoa pudesse ser eu. Éramos amigos, sem falar que me sentiria um traidor dos sentimentos de meu amigo, Mariichi.
O que também me deixou chateado, foi Ryouma ter se casado sem que eu soubesse da existência de uma namorada antes. Sem falar, que ele não havia dado minha falta durante o casamento, sendo que eu estava em apuros. No entanto, relevei. Ele era meu melhor amigo e deva terroso suas razões para isso.
Segui dali para minha casa e no caminho, resolvi parar para me refrescar um pouco no lago. Assim que molhei o rosto, olhei para o céu e me perdi naquele misto de cores, admirando a beleza de nosso mundo. Eu faria de tudo para que tudo se estabelecesse agora. Ainda que Vishnu não estivesse mais entre nós, acredito em Rakesh. Ainda que seja jovem e inexperiente, o tempo lhe trará o que for preciso para seu crescimento como substituta de nossa honorável deusa.
Ainda distraído com meus pensamentos, fui pego de surpresa por Leiga, que havia sentado ao meu lado sem eu notar e ele soltou um riso, passando uma de suas penas sobre a maçã de seu rosto.
— Que foi, queridinho? Assustei você, por acaso? — perguntou com aquele mesmo olhar de deboche como sempre e desviei o meu envergonhado por minha reação. Ele voltou a rir. — Você tem estado tão estranho, Hyouga… até Ryouma comentou esses dias. Olhei para ele e franzi o cenho.
— Ryouma? O que ele disse? — perguntei e vi o ruivo cruzar os braços, colocando a pena sobre a ponta do queixo.
— Que você não o visita mais. Que fica sem jeito na presença da esposa dele, essas coisas…
Voltei o olhar para o lago e fiquei em silêncio. Era bem uma verdade que eu havia me afastado de meu amigo, mas isso não queria dizer que queria ficar longe dele. Eu só ainda não havia me habituado com a ideia de que ele tinha uma vida diferente agora. Me sentia sozinho agora. Primeiro Mariichi, agora ele.
— É… pelo jeito é sério mesmo. — comentou e voltei a olhar para ele.
— O que disse?
— Nada não. Estava apenas pensando alto.
Dei de ombros e continuei olhando para o lago.
— Você deveria se casar também Hyouga. —comentou após alguns minutos em silêncio e olhei para ele seriamente.
— Você não tem o que fazer, Leiga? — ele revirou os olhos e soltou um suspiro.
— Tenho, mas confesso que só de ver toda beleza de nosso mundo ser restaurada, ainda que aos poucos, me traz de volta a velha paz que eu havia esquecido com tudo que aconteceu. — disse ao sorrir. Balancei a cabeça para os lados, pois aquilo era bem típico dele e me levantei.
— Bom, eu vou indo. Foi um prazer revê-lo, Leiga. — disse ao bater minhas roupas e dar alguns passos.
— Eu tenho outra coisa para falar com você. — perguntou e eu parei.
— Outra coisa? — perguntei ao me virar para ele. — Que coisa?
— Lengue irá casar em breve. — disse ele e fiquei sem reação. Comi aquilo era possível? Até pouco tempo estava pensando que ela não se casaria com ninguém pelo que houve com Indra e agora essa notícia do nada. Por que eu sempre sou o último a saber das coisas?
— Deixe de brincadeiras, Leiga. Isso não tem graça, sabia?
— Brincadeira? — se levantou e alongou os braços pra trás. — Não é brincadeira, queridinho. Ela vai casar sim. Até pediu para que eu avisasse você.
— Ela o que? Por que ela não veio falar comigo sobre isso? — ele revirou os olhos e passou por mim, dando um tapinha no meu ombro.
— Você deveria melhorar essa sua percepção, Rei Celestial. — piscou o olho. — O recado tá dado. Até outra hora.
Assenti, vendo-o se afastando dali e levei a mão até meu cinto para pegar meu Shakti. Eu tinha que averiguar isso de perto e não perderia um minuto a mais sem saber se aquilo era mesmo verdade.
Segui até a casa de Lengue o mais rápido que pude e chegando lá, vi que não estava em casa e procurei saber se alguém ali perto sabia onde ela estava. Como ninguém soube dizer, acabei por ficar ali mesmo e esperar até a hora que ela retornasse.
—
Após algum tempo, acabei cochilando sentado próximo de sua porta e senti uma mão sobre meu ombro. Ao abrir os olhos e levantar o rosto para ver quem era, me levantei no mesmo instante, alinhando minhas roupas sem jeito.
— Lengue! Oi… — sorri sem graça. — Desculpe, eu não vi você chegar e…
— O que faz aqui, Hyouga? — perguntou seriamente.
— Eu… — abaixei a cabeça e cocei a nuca, arrependido por estar ali. Eu não deveria ter aparecido daquele jeito, mas agora era tarde demais. — Eu soube do seu casamento. — engoli seco e ela baixou o olhar por um instante, voltando seu olhar para mim.
— É. Até que enfim você soube… — se virou para a porta para abrir. — Da próxima vez, é melhor eu mesmo dar o recado. — resmungou e segurei seu braço antes que ela entrasse.
— E por que não deu? Por que pediu para outra pessoa me comunicar algo tão importante pra você? — perguntei ao encarar seus olhos e ela puxou o braço.
— Você não foi o único. Agora, com licença. Estou cansada.
Vi ela entrar e assim que fechou a porta, abaixei a cabeça. Não podia crer que ela me trataria com tamanha frieza, mas talvez houvesse uma razão para aquilo, assim como Ryoma teve.
Subi em minha Shakti, visto que ela parecia não querer falar comigo e voltei para minha casa. Assim que cheguei, larguei minhas coisas sobre a mesa e deitei em minha cama. Não parava de pensar em Lengue e em todos os momentos que tive ao seu lado e algumas imagens suas não saíam de minha cabeça. Passei as mãos sobre o rosto, tentando afastar aquilo de minha mente, mas foi em vão. Custei para dormir, tendo de rolar para um lado e outro sem sono e só fui conseguir, quando estava para amanhecer.
Ouvi algumas batidas na porta e me virei para o lado, cansado. As batidas soaram novamente e abri os olhos, passando as mãos pelo meu rosto.
— Já vai! — me sentei na cama para calçar as sandálias e passei um pouco de água sobre o rosto, antes de atender a porta.
Assim que a abri, tive uma surpresa: Era meu amigo, Ryouma.
— Nossa, que cara! — riu e bateu de leve em meu ombro. — Bom dia, amigo.
— Ryouma, amigo. Que surpresa. Entra! — dei espaço para que ele entrasse e fechei a porta, tirando algumas bagunças do caminho. — Desculpe, não tive tempo de arrumar nada e…
— Você sabe que eu não reparo, relaxe.
— Está bem. Está com fome? Sede? Posso te oferecer algo?
— Não se preocupe, amigo. Na verdade, estou vim até aqui porque fiquei preocupado.
— Preocupado? — ergui uma sobrancelha.
— É. Você não apareceu mais em minha casa e mal vejo você… Leiga me contou que o encontrou ontem e também ficou preocupado.
— Leiga… — estreitei o olhar e apertei o punho. — Sabia que ele iria procurar você. Quando eu ver ele, eu...
— Então há mesmo uma razão? — perguntou e suspirei.
— Não. Não é nada. É só cansaço mesmo.
— Hum. — me olhou desconfiado e desviei o olhar do seu, pois sabia que aquela conversa não pararia ali. — É sobre o casamento, não é? — olhei para ele corado e balancei a cabeça para os lados.
— Não! De onde tirou isso?
Ele soltou um riso e fiquei ainda mais sem jeito.
— Por que continua negando pra mim que gosta dela? Aliás, você não nega só pra mim, está negando a si mesmo que a ama.
— Não estou negando nada, Ryouma. Você é que está vendo coisa onde não tem! — me levantei irritado para pegar o jarro de água e notei que ele havia ficado em silêncio.
— Desculpe, amigo. Eu não quis deixar você chateado.
— Tudo bem. — sentei perto dele e olhei um tanto triste. — Eu que lhe devo desculpas. Talvez você tenha razão, mas agora não faz diferença.
— Hyouga… talvez não seja tarde. Por que não a procura? — perguntou e olhei para ele desanimado.
— Eu fui. — suspirei. — Ela não me deu chance, Ryouma. Não me deu chance de falar.
— Hum. Talvez esteja chateada com algo. Vocês brigaram?
— Não! Claro que não.
— Bom, acho que não deva desistir.
— Ryouma, você já parou pra pensar no que está fazendo? Ela vai casar com outra pessoa. Provavelmente esteja apaixonada por ele. Eu não tenho chance.
— Tem razão. Me desculpe, meu amigo. — se levantou e parou em minha frente. — Tenho que ir agora.
— Está bem. — me levantei para acompanhá-lo. — Vou acompanhar você.
O levei até a porta e antes de vê-lo ir embora, o abracei, sentindo-o retribuir.
— Obrigado por vir.
— Não precisa agradecer e espero que você passe a me visitar. Sei que se sente sem jeito por eu ser casado agora, mas nada mudou.
— Está bem. — me afastei e ele tocou meu ombro.
— Fique bem. — assenti e o vi subir em seu Shakti e ir embora.
Voltei para dentro, fechando a porta e pensei nas coisas que ela havia dito para mim mais cedo.
—
Após tomar banho e comer alguma coisa, resolvi sair um pouco para meditar. Procurei por um lugar longe de tudo e fiquei por lá até que aquela maré de pensamentos desaparecesse por completo.
— Hyougaaaa! Hyouga!! — abri os olhos ao ouvir aquela voz me chamando e vi Shurato em cima de sua Shakti, acenando para mim sem parar. — Hyouga!
— Shurato! — me levantei e acenei de volta, vendo se aproximar de onde eu estava. Olhei para o penhasco a frente e depois para ele e sorri.
— O que faz aqui sozinho?
— Meditando.
— Ah, sim. — sorriu sem graça. — Soube que a Lengue vai se casar. Conhece o noivo dela? — perguntou e baixei o olhar, sentindo tudo aquilo voltar a tona. Péssima hora pra encontrar com Shurato.
— Não. Não conheço. — peguei minha Shakti para sair dali.
— Ah, onde você vai? Pensei que poderíamos treinar um pouco juntos. O que acha? Sabe, não levo bem o jeito para essa coisa de meditação e talvez você pudesse me ajudar.
— Depois, Rei Shura. Depois. — disse e saí dali, de volta para minha casa.
Assim que cheguei lá, vi Lengue parada de frente para a minha porta e engoli seco. O que ela estava fazendo ali? Droga! Eu não estava pronto para vê-la naquele momento, mas não havia nada que eu pudesse fazer. Ela, inclusive, já tinha me visto.
— Hyouga!
— Lengue…
Ela se aproximou de mim e tentei ao máximo não demonstrar o quanto sua presença ali havia me afetado.
— Eu vim aqui… — abaixou a cabeça. — para pedir desculpas. Eu não deveria ter tratado você daquela forma. — disse e me aproximei, olhando para ela de perto. Quase pude sentir seu perfume floral.
— Por que me pede desculpas? Você não fez nada. — ela olhou para mim com aqueles belos olhos de cor escarlate e desejei mais do que tudo abraçá-la, mas me contive.
— Eu… eu preciso falar com você.
— Está bem. Venha comigo. — disse e abri a porta de minha casa para ela. — Está um pouco bagunçado, não repare.
— Não vou. — disse e parou próxima da mesa e juntos suas mãos e cabeça baixa.
Me aproximei em seguida, oferecendo-lhe algo para beber, mas ela negou. Parecia inquieta, assim como eu estava com sua presença ali, mas deixei que ela começasse o que tinha para me falar.
— Hyouga, eu preciso saber o porquê de ter ido até minha casa ontem a noite. — perguntou ao me encarar séria. Respirei fundo, olhando para seus olhos intensamente e lhe respondi:
— Queria saber de sua boca se você iria se casar mesmo. — disse e vi seus olhos me encararem com surpresa.
— Que diferença faz você ter ficado sabendo por outra pessoa? — me aproximei mais, vendo seu rosto ruborizar e me senti da mesma forma.
— A diferença é que é você. É você quem vai casar. Eu me importo. Eu me importo com você, Lengue. Me importo mais do que pensa, até mais do que eu costumava pensar. — abaixei a cabeça.
— Hyouga…
— Não faz diferença alguma agora. — voltei a olhar para ela. — Eu não me permitia olhar para você por causa de meu amigo e quando soube que você amada o mestre Indra, minhas esperanças com você praticamente desapareceram. Eu não queria ferir a memória de meu amigo, não queria ferir a sua… eu guardei esse sentimento bem fundo… trancado para que não houvesse tristeza. Não queria que soubesse para não se sentir culpada, mas sinto que você deve saber agora. Eu sempre a admirei. Sempre tive um carinho especial por você. Sei que encontrou outra pessoa e ainda estou inconformado de eu não ser ela, mas lhe desejo toda felicidade. Se você estiver feliz, eu ficarei feliz.
Vi seus olhos marejarem e senti as lágrimas escorrerem pelo meu rosto. Em seguida, ela me abraçou forte e retribuí seu abraço da mesma forma, depositando um beijo sobre o topo de sua cabeça. A afastei, limpando suas lágrimas e sorri.
— Eu fico feliz só de se importar comigo. Obrigado, Lengue.
— Hyouga… eu… eu não vou mais me casar.
Entreabri os lábios com o que ela havia me dito e a afastei sem acreditar. O que ela está dizendo? Não vai? Então…
— Lengue, o que está dizendo? Eu não queria deixar você confusa, eu…
— Eu te amo, Hyouga! Eu não posso casar com uma pessoa que não amo. — disse e vi mais algumas lágrimas caírem de seus olhos. — Eu pensei que você não sentia nada por mim e eu não queria passar o resto de minha vida sozinha, então aceitei o pedido de uma pessoa que dizia gostar de mim, mas… mas agora é diferente! Eu não posso me casar com ele, pois agora sei de tudo.
— Lengue… — me aproximei, tomando-a em meus braços e enxuguei suas lágrimas antes de beijá-la pela primeira vez.
—
Pouco tempo depois, celebramos nosso casamento junto aos nossos amigos que apoiaram nosso relacionamento felizes. Soube que houve uma participação direta deles para que Lengue pensasse melhor a respeito de seu primeiro noivado, mas não fiquei chateado. Talvez, se não fosse por eles, nada daquilo podia estar acontecendo e minha Lengue poderia estar nos braços de outro.
Hoje, ao ver nosso primeiro filho nascer, senti uma nova sensação indescritível por ela ter me proporcionado a chance de ser pai. Eu a amava ainda mais e agora, nosso querido filho.
— Como ele vai se chamar, meu amor? — perguntou baixinho para não acordá-lo e me veio a imagem de meu querido amigo. Ele foi especial para nós dois.
— Mariichi. Ele vai se chamar Mariichi. — disse e beijei seus lábios, passando a ponta do dedo sobre o rostinho de nosso amado filho.
Os abracei, tendo a certeza de que tudo que havíamos passado juntos, não era um simples acaso. Estávamos destinados a ficar juntos e com a benção dos deuses, poderíamos ser finalmente felizes. Nós três, uma família.
Merci pour la lecture!
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