Enquanto andava disfarçado pelas ruas de Rodorio, Shaka olhava de um lado para o outro para se certificar de que ninguém desconfiasse de sua presença ali. Sabia que alguns dos cavaleiros frequentavam o vilarejo em busca de coisas que prefiria nem pensar, e cruzar com um deles agora não estava em seus planos.
Retornou ao santuário quando o sol já havia dado seu adeus e soube que era tarde apenas pelo posicionamento da lua. Ainda por cima, teria que inventar outra desculpa para Mu, já que combinou de jantar com ele na noite passada e acabou faltando novamente. Ultimamente, andava muito ocupado e não podia contar nada, nem mesmo a ele o que se passava.
Subiu as casas o mais rápido que pôde e sentiu que o amigo o esperava, no entanto, não estava em condições de fazer nada que não fosse cair em sua cama para relaxar e dormir.
Tirou o óculos e os jogou sobre a cama, seguindo até o banheiro. Olhou para seu reflexo do espelho e desamarrou o laço que prendia seus cabelos, colocando-o sobre a pia. Soltou um suspiro e pensou até quando conseguiria manter sua outra identidade e que desculpas mais usaria para que não descobrissem tudo. Detestava mentir, mas não tinha outra alternativa. Pelo menos, não agora.
Fechou a porta e começou a se despir do uniforme que usava, colocando-o sobre a cadeira, junto de sua caneta. Abriu o chuveiro e deixou a água cair sobre seu corpo, enquanto pensava sobre sua vida dupla.
Essa jornada estava lhe custando cada vez mais caro, pois vivia esgotado, sem ter tempo pra nada. Nem mesmo meditar, que era uma das coisas que mais apreciava fazer. Nem isso, conseguia mais.
A grande maioria tinha alguma idéia do porquê acumulava tanto cosmo, mas ninguém sabe o real propósito. O Japão não fica exatamente ali e para seu azar, a deusa Atena tem ido pra lá constantemente. Sinceramente, não sabia como ela ainda não havia descoberto. Deve ser mesmo verdade, o quanto é ingênua para certas coisas.
Como todos sabem, começou seus treinamentos muito cedo e soube pelo ente iluminado que um dia viria a ser um grande guerreiro. No entanto, quando ainda era mais jovem, teve a visita de outro ser que lhe explicou que seria a reencarnação de uma guerreira que protegia uma tal de princesa Serenity. Achou que estava ficando louco por acreditar em um gato falante, mas em sua cultura, aquilo, podia até ser um sinal de que tudo era realmente sério.
Artemis lhe contou sobre tudo e no fim, teria de ir com ele até o Japão atrás da reencarnação da tal princesa. Também disse que teria de encontrar suas outras amigas da vida passada, mas que isso podia levar algum tempo.
Até aí, tudo bem. Só que haviam dois impedimentos: O primeiro, apesar da pouca idade já tinha conquistado a armadura de ouro e tinha suas obrigações para com a deusa; em segundo, era um homem e a todo momento, se referia a ele como se fosse a tal guerreira que voltou.
Olhou para a caneta que estava sobre a cadeira e fechou os olhos, lembrando do primeiro dia de sua transformação. Aquilo sim foi constrangedor e apostava que se Kanon, DM ou Milo o vissem daquele jeito, seria alvo de chacota dos três por toda eternidade. Apesar de colocá-los em seu lugar toda vez que a comparavam a uma certa boneca, não poderia dar o gosto de ter mais outra coisa contra ele.
Que Buda ilumine meu caminho e continue no anonimato, pois os apelidos com certeza seriam o de menos, considerando a reputação de alguns ali.
Fechou o registro do chuveiro e pegou a toalha branca que estava sobre o gancho ao lado do box para sair do banho. Secou o rosto e sentiu a presença de alguém em sua casa. Olhou para as roupas e a caneta e jogou tudo dentro do armário antes de sair.
Assim que abriu a porta, viu Mu de cabeça baixa em frente a sua cama e enrolou a toalha em seu corpo.
— Mu! — chamou e viu o mesmo se virar no mesmo instante com algo em mãos que me lhe fez gelar.
— Boa noite, Shaka. O que é isso? — se aproximou e balançou os óculos, enquanto se aproximava.
Engoliu seco, pensando rapidamente nas desculpas que poderia usar para se esquivar daquele assunto e acabou se esquecendo de que estava praticamente nu diante dele, se não fosse a toalha que estava enrolada em seu quadril. Aquela noite, sem dúvidas, estava sendo uma das mais constrangedoras de sua vida.
— Foi algo que achei na rua do vilarejo e resolvi trazer. — se afastou. — Estava pensando sobre a possível dona e como ela seria…
Mu ficou quieto e sorriu internamente.
Que ótimo. Ele caiu.
— Certo. — disse ele e largou o óculos no mesmo lugar onde estava. — Por que não me avisou que não apareceria em áries? Preparei o jantar e fiquei esperando por você até agora, mas senti seu cosmo aqui e com ver o que estava acontecendo. Sei que você não estava.
Shaka olhou para ele sem jeito e virou para pegar seu pijama dentro do armário.
— Bom, eu fiquei o dia todo meditando e me deu vontade de comer maçã. Então fui até Rodorio. — mentiu.
— De novo? — retrucou e Shaka sabia que já havia aplicado essa várias vezes e, pelo jeito, não estava mais funcionando.
— Pois é… me desculpe. Você sabe que eu tenho que tenho esses desejos malucos de vez em quando. Sem falar nos nossos companheiros… você sabe que eles podem ser bem irritantes quando querem. — respondeu e se virou, vendo-o um pouco cabisbaixo. Com toda razão. Se fosse comigo, também estaria.
— É. — assentiu. — Eu sei. Bom, não vou mais importuná-lo. Amanhã conversamos. — se aproximou do louro e selou sua bochecha com um beijo. — Boa noite.
— Boa noite, Mu. — respondeu e o viu sair do quarto para seu alívio, mas chateado por ele.
Shaka se virou para sua cama e aproximou dela, vendo seu óculos ali. Se deitou e pegou o acessório com a mão direito para colocá-lo sobre os olhos. Fechou os olhos e respirou fundo, tirando-o em seguida e rezando para que Ártemis não lhe procurasse pelos próximos dias.
O grande problema quando se tem uma vida dupla, é que sempre teria que estar preparado para o que viesse e do jeito que as coisas andavam, era bem possível que o gatinho não demorasse um dia para vir atrás dele. Até isso acontecer, teria de estar preparado para enfrentar o megaverso ao lado de suas amigas e da princesa Serenity.
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