Enquanto observo meu amado dormir tranquilamente, observo suas feições tocando-as com delicadeza e pensando no quanto tenho sorte por tê-lo ao meu lado.
Para muitos, se relacionar com alguém como ele, significaria levar uma vida regada de problemas, muitas deles sem solução. No entanto, sua maldição mal vista por muitos, para mim era justamente o contrário. Talvez, não entendam a real situação de se apaixonar por uma criatura sobrenatural. Se disser que não tive medo, estarei sendo hipócrita, mas conforme passava o tempo, o amor que crescia dentro de mim, me fazia afastar todas as inseguranças. E agora, meu único medo é que um dia ele me deixe e não possa mais vê-lo.
Nunca havia tido um relacionamento duradouro antes e meu último namoro – o qual durou exatos dezessete dias – me deixou realmente abalado. Me deixei levar, a cada dia, por aquela paixão avassaladora e pensei que o que sentia por ele era recíproco, mas me enganei. Me iludi e paguei o preço por mais um amor não correspondido, ao vê-lo aos beijos com outro garoto na festa de uma amiga que temos em comum.
Daquele dia em diante, desisti dessa coisa chamada amor e pensei que tal sentimento não era uma coisa feita para todos. Me sentia o pior dos seres, vendo meus amigos, aos poucos, abandonarem a solteirice para engatarem um relacionamento sério com alguém. Como sempre, fiquei para trás e comecei a sair sozinho, pois 'segurar vela’ não era algo que eu apreciava, digamos assim. E, foi numa noite quente de verão, como esta que faz hoje, que o conheci.
Após passar algumas horas no parque que havia se instalado na cidade (para a alegria dos jovens daqui), resolvi ir a pé até minha casa. Sei que vão me achar maluco por ter feito isso quando já passava das onze da noite, mas quando se está desiludido com o mundo, parece que coisas assim se tornam mínimas.
Além do cara que me colocou um pelo par de chifres, meu rendimento na escola havia caído e pra completar, meu chefe comunicou aos funcionários que faria alguns cortes na empresa. E, claro, que o meu estava na reta. O que mais me faltava acontecer? Sim, meus amigos... Sempre pode ser pior. Sempre.
Estava passando próximo do parque que tinha no caminho para casa, e claro que não fui besta de ficar andando devagar por ali. Sabia bem que a má iluminação dele favorecia a ação de alguns marginais que ficavam escondidos por só esperando o momento certo para agir. Quando pensei que havia passado despercebido, ouvi alguns passos atrás de mim e acelerei mais o passo, só não contava que na próxima esquina teria a surpresa de ser surpreendido por outro sujeito. Parei antes de me aproximar e olhei para trás, vendo o outro se aproximar com algo que reluzia entre os dedos de sua mão direita. Engoli seco e voltei a olhar para o outro que havia tirado um canivete do bolso. Meu coração disparou e tudo que fiz foi tentar fugir dali.
Após correr poucas quadras, senti que não conseguiria mais continuar e diminuí os passos. Assim que me fecharam contra a parede de madeira de uma construção, senti meu estômago ser golpeado e caí no chão, sentindo minhas costelas serem chutadas. O velho gosto de sangue, do qual eu não sentia há anos, impregnou minha boca e minha cabeça rodou com o chute certeiro que levei na lateral de minha cabeça. Abri e fechei os olhos devagar, até que apaguei.
No intervalo de tempo de minha inconsciência, acordei uma vez e outra, somente para perceber que estava sendo carregado e voltava a desmaiar.
Não sei quanto tempo se passou depois, mas quando abri os olhos, vi alguém passar um pano molhado suavemente sobre meu rosto e voltei a fechar os olhos. A penumbra não me deixava ver quem estava ali, mas tinha certeza de duas coisas: Ou estava seguro, ou estava enrascado de vez.
Abri os olhos novamente e vi um brilho estranho no olhar de quem me cuidava e sua voz calma ressoou em meus ouvidos, me trazendo a paz que havia perdido naquela rua escura.
— Como se sente? — perguntou e involuntariamente abri um sorriso, mesmo não sabendo o porquê daquilo. Talvez tivesse ainda afetado. Hoje, penso que não.
— Melhor, eu acho… — tentei me ajeitar, mas senti uma dor aguda no abdômen e soltei um gemido de dor.
— Ei, ei! Não faça isso! — ele fez com que voltasse a me deitar e obedeci. — Você está machucado. Receio que tenha fraturado suas costelas.
Olhei para ele, ainda sem ver seu rosto e soltei um riso, mas aquilo me custou outra pontada.
— Ai, droga! — fechei meus olhos. — Quem é você? Onde eu estou? O que pretende fazer comigo? Ai! — apertei meus olhos e sua mão encostou em meu rosto. Abri meus olhos novamente, notando algo diferente por trás daqueles olhos e e entreabri os lábios ao ver seu rosto. — Vo-você… é um…
Sua mão se afastou de meu rosto e o vi se levantar da cama. Meu coração novamente palpitava com um medo ainda maior. O que eu pensava ser apenas uma lenda, estava bem diante de mim.
— Eu não vou lhe fazer mal… — disse e espiou algo pela janela algumas vezes, como se tivesse receio de algo.
— Como eu vou saber? Você me trouxe pra um lugar que não tenho a mínima noção de onde seja, e além do mais você é um…
— Deveria ter deixado você lá? — grunhiu. — Mas que belo filho da mãe e ingrato você é…
Ouvi aquilo e tentei me levantar, mas não pude. A dor aumentou e antes que ele pudesse se aproximar, olhou pela janela e saiu por ela rapidamente como se tivesse medo de algo. Ficar sozinho naquele lugar foi ainda mais assustador para mim e pra piorar, minhas coisas haviam sido roubadas. Estava incomunicável, incapacitado e vulnerável.
Decidi fazer um único esforço e me sentar rapidamente, para ver se enxergava algo a minha volta. Porém, a dor lancinante que senti me fez suar frio e tudo que pude ver antes de desmaiar novamente foi parte da lua refletida pela janela.
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