Após um grande mal entendido na casa de aquário, o clima entre o seu guardião e o cavaleiro de gêmeos não era nada bom.
O mais velho recém havia chegado de uma longa missão e antes de mais nada, preferiu subir até a décima primeira casa para ver seu amado Camus.
O que não contava mesmo, era presenciar uma cena que sua mente teimava em lhe lembrar a todo instante.
— Vai negar para mim, o que os meus olhos viram, Camus?? — disse Saga aos berros.
— Saga… — se aproximou e encostou a ponta dos dedos sobre seu ombro.
— Não me toque! — disse e se afastou — Eu não sei como pude acreditar em você… Como eu pude me enganar tanto… Como? — disse, enquanto caminhava de um lado para o outro.
Sem saber como tentar contornar aquela situação, Camus optou pelo silêncio. O que aconteceu era inegável, por mais que tivesse sido apenas um mal entendido. Jamais pensaria em trair a pessoa que mais amava no mundo, mas o conhecia bem pra saber que ele não acreditaria. Só de pensar que aquilo pudesse ser o fim do seu relacionamento, ele já tremia. Saga era praticamente como seu esposo.
Saga parou de caminhar e segurou o rosto com a mão destra. Ainda chocado pela visão que foi o estopim para toda aquela discussão, se virou para o aquariano e lhe fitou.
— Como você pôde fazer isso comigo? Onde foi que eu faltei com você, Camus? O que ele te fez por você, que eu não tenha feito? Me fala, Camus!!! Me diga onde eu errei! Me diga se você o prefere, ao invés...
— Chega, Saga! Você já está me ofendendo assim!
— Ofender? — soltou um riso debochado. — Eu vejo você aos beijos com aquele imbecil aqui, depois de passar dez meses fora e vem falar como se tivesse razão… imagino o que devam estar falando de mim. Me poupe desse seu falso moralismo, porque você fede a traição! — disse e sentiu o peso da mão do ruivo ao lhe esbofetear o rosto.
Camus se virou, para esconder as lágrimas que derramava e gritou:
— Sai daqui, Saga! Sai da minha frente, antes que eu me descontrole de vez! Saia da minha casa!
Quando notou que seu amado já não se fazia mais presente em aquário, Camus deixou o choro sair. Lamentou por permitir que Milo se aproximasse demais e se culpou por isso. Foi advertido sobre sua proximidade com escorpião, mas não via mal, já que sempre foram bons amigos. Ingenuidade? Sim. Fechou os olhos para o que parecia fato para todos, menos para ele.
Caminhou até a entrada de sua casa e viu algo brilhando no chão. Se aproximou e viu uma jóia aos seus pés. A jóia que tanto lhe deu trabalho para confeccionar como uma prova de seu amor por Saga, estava partida ao meio. Partido, também, estava seu coração que fora pisado sem contestações. Impiedosamente. Dolorosamente.
Pegou os dois fragmentos de cristal e os fechou em sua mão. Olhou para a entrada de sua casa e sentiu a brisa fria. Convidativa. Se levantou e deu alguns passos até vislumbrar a luz do luar lhe beija o rosto por um instante. Traiçoeiramente, outra lágrima escorreu. Abriu a palma da mão e inclinou o rosto para ver uma última vez o símbolo de seu amor. A lágrima caiu sobre um dos fragmentos e trouxe com ela um barulho quase inaudível. Imperceptível. Era o seu desespero.
Olhou para as casas abaixo e deu mais alguns passos para ver aquela que costumava ser a sua. Um estrondo foi ouvido no céu, o que fez com que olhasse para as nuvens. Alguns pingos caíram sobre seu rosto, mas permaneceu ali. Imóvel. Sentiu parte da daquela tempestade, pois também continha uma em seu interior. Uma tormenta de sentimentos e emoções. Devastadora.
Os deuses compartilharam de sua dor e lhe proporcionaram um abraço através daquela chuva torrencial. Copiosa como seu choro. Fechou os olhos e fitou o chão. Por mais que seu corpo fosse atingido daquela forma intensa e fria, seu interior ainda mantinha uma chama acesa. A dor tentava assolar sua esperança, mas tinha convicção da justiça. Acreditava nisso. Lutava por isso.
Deu o primeiro passo até as escadarias e decidido, começou a seguir até o seu destino. Se não conseguisse, ao menos teria tentado. Era um idealista e não aceitaria se prostrar diante das dificuldades, por mais que elas dificultassem seu caminho.
Ao chegar na oitava casa, Milo estava à sua espera. Os olhos azuis denunciavam sua culpa. O rosto marcado, provavelmente por seu amado, também continha outro sinal: Arrependimento.
Os azuis fitaram os escarlates e sem precisar que algo fosse dito, apenas o desprezo fez o trabalho. Tão eficiente era o seu olhar. Um olhar que o escorpiano jamais esqueceria por toda a sua vida. O amor lhe custou caro. A amizade jamais seria retomada e resignado com tal fato, viu seu amor desaparecer de sua vista.
Saga tentou se livrar do que sentia. Quebrou coisas, socou algumas paredes… por fim segurou uma garrafa de whisky que havia ganho de seu irmão e sorveu boa parte do líquido amargo. Fechou os olhos, sentindo aquele gosto arranhar sua garganta e viu o quanto estava desesperado. Não bebia, mas a imagem vívida do cavaleiro ao seu lado, ainda permanecia presa em seus pensamentos. Ele precisava arrancar aquelas memórias de sua mente. Tão desesperador. Fora arrebatado pelo poder que por tantas vezes foi o seu forte. Tantos foram os inimigos que sofreram seu golpe e ficaram à sua mercê. Pôde finalmente entendê-los. Estava entregue. Rendido. Escravo das peças que sua mente lhe pregava. Se sentiu fraco por amar… se sentiu fraco por Camus ser a razão de seu viver.
Um barulho estridente ecoou em gêmeos. O líquido escorria pela parede devagar. Se sentiu impotente. Todas as bebidas do mundo não seriam suficientes para fazer esquecê-lo. Naquela altura, já não sabia se queria. Não mais.
Sentiu o cosmo do ruivo se aproximar de sua casa e pensou se não fosse um devaneio seu. Talvez fosse apenas a bebida trazendo seu efeitos indesejáveis, ou desejáveis. Seja como for, o desejo de que aquilo não fosse apenas um sonho, aumentou. Conforme a percepção do cosmo ficava mais forte e evidente, sua razão se enfraqueceu. Não conseguiu anular suas emoções. Buscou forças para se levantar e deu alguns passos até que caiu. Fechou os olhos e os abriu, sentindo tudo em sua volta girar. Seus sentidos já o haviam abandonado. Ouviu uma voz lhe chamar, mas não estava mais em condições para permanecer consciente. Apenas fechou os olhos novamente e se entregou à aquela sensação desoladora de fracasso e solidão.
O ruivo se desesperou ao ver Saga no chão e correu para ampará-lo. Abraçou seu corpo forte e acariciou sua face abatida. Olhou para os cacos da garrafa espalhados pelo chão e sentiu o cheiro forte de álcool impregnado não somente no ambiente, como em seu amado.
— Por que você teve que beber, mon amour? Você não costuma fazer isso… — disse e o acomodou em seus braços para levar até seus aposentos.
Chegando lá, seguiu até o banheiro com o louro em seus braços e abriu o registro forte. Sentou no chão e o acomodou sobre o seu colo, enquanto o abraçava. Olhou para seu rosto e começou a cantarolar uma canção triste que lhe remetia sua estimada França:
Ne me quitte pas
Il faut oublier
Tout peut s'oublier
Qui s'enfuit déjà
Oublier le temps
Des malentendus
Et le temps perdu
A savoir comment
Oublier ces heures
Qui tuaient parfois
A coups de pourquoi
Le coeur du bonheure
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Moi je t'offrirai
Des perles et des pluie
Venues de pays
Où il ne pleut pas
Je creuserai la terre
Jusqu'après ma mort
Pour couvrir ton corps
D'or et de lumière
Je ferai un domaine
Où l'amour sera roi
Où l'amour sera loi
Où tu seras reine
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Je t'inventerai
Des mots insensés
Que tu comprendras
Je te parlerai
De ces amants-là
Qui ont vu deux fois
Leurs coeurs s'embraser
Je te racontrai
L'histoire de ce roi
Mort de n'avoir pas
Pu te rencontrer
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
On a vu souvent
Rejaillir le feu
De l'ancien volcan
Qu'on croyait trop vieux
Il est paraît-il
Des terres brûlées
Donnant plus de blé
Qu'un meilleur avril
Et quand vient le soir
Pour qu'un ciel flamboie
Le rouge et le noir
Ne s'épousent-ils pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Je ne vais plus pleurer
Je ne vais plus parler
Je me cacherai là
A te regarder
Danser et sourire
Et à t'écouter
Chanter et puis rire
Laisse-moi devenir
L'ombre de ton ombre
L'ombre de ta main
L'ombre de ton chien
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ao pronunciar o último verso, sua voz mal conseguiu sair. Estava embargada. As lágrimas se misturaram com a água do chuveiro e olhou preocupado para seu amado. Passou os dedos pela pele fria e úmida e soltou um sorriso. Saga dava os primeiros sinais de que seus sentidos haviam retornado.
Ao abrir os olhos devagar e ter a visão de seu anjo ali, pensou ter morrido. Levou a mão até o rosto do ruivo e o acariciou, constatando que não era uma visão ou um sonho. Soltou um sorriso e voltou a fechar os olhos.
— Pardon. — sussurrou.
Camus beijou seus lábios e afagou seus cabelos.
— Não se esforce, mon ange…
— Je t’aime, mon amour. S'il vous plaît, Camus. Ne me quitte pas…
— Jamais, mon amour. Jamais.
O grego sorriu e repousou nos braços de seu amado, feliz. Camus o abraçou e sorriu como nunca. Teve sua alegria recuperada, graças ao único homem que amava. O único que lhe completava. Saga de gêmeos, seu único amor. Unicamente seu.
Merci pour la lecture!
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