Ao soar o último toque o sinal, de todas as salas, massivamente, saíam alunos muito eufóricos com a chegada das férias.
Aquela sensação de liberdade não era muito diferente para Aurora. A menina de longos cabelos negros, mais discreta, esperava os seus colegas — que concluíam o ensino médio, também — acompanhada de Júlia, sua “melhor” amiga. Apesar de serem vistas juntas, muito próximas, Aurora não a classificava como uma simples amiga. Muito pelo contrário. Júlia era tão grudenta, com seus olhos de um azul muito aprazível e irritante, que a outra apenas a tolerava.
Por fim, ao ver a palavra “APROVADA” destacada em negrito, ao lado de seu nome — Aurora idem —, Júlia pulou de alegria, deixando a “amiga” com muita vergonha alheia. Despedia-se, contentíssima, de sua turma, enquanto a de cabelos negros a esperava, escorada à grade da recepção, com um semblante macabro e sorumbático.
— ‘Pra quê tudo isso, bicho? — indagou muito impaciente, Aurora.
Ambas começaram a caminhar à saída.
— Pois estou muito feliz! — replicara Júlia, seus olhos brilhando. — E, também, porque irei sentir falta de meus colegas!
Aurora riu com escárnio.
— Tudo um bando de falsos...
Muito incomodada com o tom de voz de sua amiga, Júlia resolveu mudar de assunto.
— E você? Não vai me dar o seu contato para que possamos nos falar durante as férias?
A passarela de carros estava muito agitada. Uns corajosos corriam para atravessar a pista quando alguns veículos sumiam de vista. Ambas as garotas esperavam uma brecha para fazerem o mesmo. As buzinadas sinistras não pareciam amedrontar os jovens.
— O quê? Mas é claro que não! — exclamara a morena, suas sobrancelhas cerradas.
O semblante da outra garota mudou-se para algo ofendido.
— Por que não?
— O que mais quis foi me livrar da escola e... — ela hesitou ao completar, fitando os dois lados da pista —... de você.
— Então quer dizer que nunca mais iremos nos ver? — frisou Júlia, sua voz embargada.
— Sim — disse secamente. — Até nunca mais.
— Aurora! Espera!
Mas a dita-cuja não a ouviu. No momento que pôs os pés no meio da pista, não percebeu um carro desgovernado indo em cheio à sua direção. O tempo aparentou ter congelado aos berros desesperados e sôfregos de Júlia enquanto o pavimento cinzento metamorfoseava-se com o mais belo tom carmesim do sangue de Aurora.
Era tarde demais!
O motorista fugiu com medo!
Uma roda de pessoas lamentava ao redor do cadáver desfigurado e troncho, pálido e ainda cálido, suas vísceras expostas decorando com morbidez o ambiente outrora agitado com a alegria juvenil.
Júlia havia se aproximado. Seu rosto ainda estampava o horror que presenciara, a face com a rigidez da tragédia. Uma lágrima solitária escorreu em sua bochecha fortemente rubra. Olhou de relance para o corpo da amiga que, de certa forma, moldou-se à aparência triste e sombria que ela tinha diariamente.
— Até nunca mais...
A garota tinha murmurado antes de volver-se e ir embora. Não se sabia se ela estava sendo sarcástica diante da fatalidade.
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