No alto da enorme e escura montanha de Sanabria, uma roda foi feita entre homens e mulheres em frente à última chama da esperança. De olhos fechados e com as mãos dadas, eles repetiam a palavra, salve-nos, no idioma comum. Yelena, a última descendente da família dos antigos reis, canalizava para tentar impedir que a chama fosse apagada, ao mesmo tempo em que tentava trazer ao mundo, uma nova esperança. Pressionando a barriga de maneira agressiva para baixo enquanto sentia uma dor latejante entre as pernas, ela soltou um último grito de cansaço antes de um fino e agudo grito ecoar por todo o lugar.
Embalando-a em seus braços, ela pode encarar o indefeso ser humano à sua frente. Uma menina, um novo sangue de sua linhagem.
E de repente ao encarar profundamente os olhos do choroso bebê, teve um pequeno vislumbre de mais uma de suas visões. Sangue, trevas, gritos e de repente, luz.
Era algo indescritível, que ela não percebeu que as suas forças se esgotaram.
Sir Barris, seu cavaleiro protetor, ao entrar no círculo para ajudá-la, conseguia ver a expressão de cansaço em seu rosto. Os cabelos escuros grudados sob a testa e o rosto pálido como a neve, era um breve sinal de que algo estava errado. E mesmo que não tivesse forças para mais nada, ela se esforçou e abriu um pequeno sorriso antes de entregá-la.
– Sir Barris – Gesticulou baixo, fechando os olhos logo em seguida.
Ele a fez parar com um pequeno gesto com os dedos. Sabia que o esforço fazia-a sentir dor. Yelena insistiu,segurando firmemente em suas mãos, em um ato de forças finais.
– A escuridão está vindo buscá-la, Sir Barris. O pergaminho sagrado, irá revelar o destino dela através do poder único. Prometa-me, que vai protegê-la dos perigos que se aproximam – Os seus olhos eram de uma súplica sem fim.
– Prometo – E por fim, viu o corpo dela cair sob o chão, sem vida.
Com cuidado, ele deixou o lugar que lhe dava um embrulho no estômago. Era a última lembrança que teria da falecida rainha. Uma lembrança dolorosa e sofrida. O céu parecia tenebroso, com uma mistura de claro e escuro. O vento se tornava cada vez mais forte, e a neve descia do céu com uma certa pressa de cair do chão. Todos que formavam a roda, desapareceram. E a chama sumiu.
O mal estava por vir. E ele a acharia.
Karine Andressa
