nilo_nobre Nilo Nobre

Coletânea de contos curtos. Aqui você vai encontrar de tudo um pouco, contos e poesias sobre os mais variados temas. Tecnologia, folclore, sertão, distopias e muito mais. Já viu um poema sobre nossa sociedade todo escrito com palavras que começam com a letra "S"? Vai lá no capítulo 3 e confere. 😆 Todos os textos desta coletânea foram escritos nos desafios semanais do Escambaclube.


Histoire courte Déconseillé aux moins de 13 ans.

#coletânea #ficção científica #horror #fantasia #tecnologia
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Laboratório do futuro

Dr. Ricardo de Oliveira foi o primeiro brasileiro a ganhar o prêmio Nobel de Física ao descobrir uma terceira dimensão na sobreposição quântica. Em 2020 os cientistas estavam tentando entender como as partículas quânticas estavam em dois lugares ao mesmo tempo. Em 2021 o Dr. Ricardo descobriu que havia uma terceira posição e que ela era temporal.

Entretanto, isso já era passado. O físico estava trabalhando agora com um projeto muito mais ambicioso. Com a verba que conseguiu capitanear a partir de seu prêmio, ele construiu um laboratório específico, no qual trabalharia até conseguir realizar um experimento que lhe permitisse ver uma realidade de outro tempo. Como os experimentos dessa natureza envolvem a investigação dos estados das moléculas enquanto partículas ou ondas, o laboratório do Dr. Ricardo foi construído de forma a captar as ondas temporais, algo como luzes de outra época. E seus captadores supersensíveis registrariam essa luminosidade em uma tela. Era como se ele estivesse esperando captar um vídeo ou foto do futuro.

Tudo estava pronto para realizar o experimento. Pela natureza delicada da escrita com a luminosidade que ele esperava captar, o laboratório funcionava como uma grande câmara escura para revelação, apenas com uma leve iluminação vermelha que não interferiria em seus captadores. Dr. Ricardo havia trabalhado e esperado muito por esse momento.

Quando ele ativou a chave principal do equipamento, houve uma oscilação brusca de energia. As luzes vermelhas piscaram e apagaram. Ele começou a ficar decepcionado pela falha até que um ponto luminoso surgiu no centro da sala, entre o pesquisador e o captador que receberia o vídeo de outra era. O homem ficou olhando para o pequeno ponto, perplexo. Não parecia muita coisa, mas já era um avanço. Só teria que recalibrar tudo e tentar de novo.

O pequeno ponto luminoso então começou a se expandir. E aumentou até se tornar uma circunferência luminosa com diâmetro que se aproximava ao tamanho de um homem adulto. O pesquisador ficou olhando para aquele túnel luminoso, fascinado e com a curiosidade a mil. Quantas novas perguntas aquele evento traria? Quantas novas possibilidades para explorar?

Então, ele viu uma sombra no túnel. Um vulto esguio que parecia um homem usando uma espécie de capa, mas que se estendia muito rente ao corpo. Como se usasse um grande vestido e seus braços estivessem escondidos dentro desse manto. Ao longe, ele percebeu que a figura também possuía uma espécie de capacete que tornava sua cabeça muito grande em relação ao resto do corpo. Esse provável capacete refletia as luzes do túnel como se fossem milhares de monitores em miniatura, cada um reproduzindo um vídeo diferente.

O físico continuava paralisado diante daquela imagem. Estava confuso com as sensações que sentia. Quais maravilhas aquele viajante poderia contar? Quantos novos avanços ele poderia aprender? Ao mesmo tempo sentia um terror inexplicável. Uma mensagem de perigo iminente que o fazia querer sair dali o mais rápido possível e nunca mais olhar para trás.

O viajante continuou a se aproximar devagar. Visto contra a luz do túnel não era possível identificar muitos detalhes, mas, conforme chegava mais perto, o cientista pôde perceber que o manto era na verdade como uma casca cartilaginosa de cor escura, algo que lembrava a membrana das asas de um inseto, a qual envolvia a figura e lhe deixava com o aspecto humanoide. Ele percebeu também um cano escuro e pontudo que se estendia de uma protuberância que seria o queixo do viajante, imaginou que talvez fosse algum tubo para respiração. O ser se aproximou até colocar a mão na cabeça do pesquisador. Ele sentiu uma espécie de vertigem muito forte, seguida de uma repentina fraqueza em seu corpo. E tudo ficou escuro.

Um som ensurdecedor e o impacto de ar causados pela detonação de uma bomba bem próximo de sua localização o acordaram de supetão.

Atordoado, o físico olhou em volta buscando compreender o que estava acontecendo. Ele percebeu que não estava mais em seu laboratório. O lugar onde estava agora parecia o térreo de um prédio abandonado, cujas colunas e paredes apresentavam inúmeros buracos e rachaduras, como se tivesse sido alvo de alguma prática de artilharia militar.

Lá fora, ele podia ouvir o som dos tanques, a marcha dos soldados, e as pessoas correndo em meio ao caos da batalha. Disparos e gritos de desespero ecoavam no ar, intercalados pelas explosões de mísseis e pelo ribombar de armas de grosso calibre. Ele percebeu que estava vendo um local em guerra. Mas onde seria isso? Quem estaria combatendo?

Em meio aos escombros do prédio abandonado ele olhou ao redor até encontrar um velho jornal. Na manchete principal se lia: Governo avança nas medidas militares para combater os comunistas. Olhou a data: Brasil, fevereiro de 2035.

Como isso era possível? Não havia nenhuma ameaça comunista desde a queda do muro de Berlim em 1989. Então, a compreensão da realidade lhe atingiu como um soco no estômago. A polarização gerada pelas redes sociais na década de 2020 havia radicalizado os cidadãos a ponto de estourar uma guerra civil aberta. Aquilo que ele estava presenciando era o futuro. Decidiu que precisava dar um jeito de voltar e impedir que tudo chegasse àquele ponto.

Como ele poderia voltar? Estava perdido em meio a tantos sentimentos conflitantes. Saber daquele futuro lhe trouxe uma angústia que nunca havia experimentado. O que aconteceria com sua família? E com seus amigos? Sentiu uma falta de ar repentina que julgou ser mais uma de suas crises de ansiedade. Desta vez, pela descoberta do que estaria para acontecer com todos aqueles que amava. A falta de ar foi lhe tirando a consciência e, logo após, desmaiou.

Acordou em um lugar escuro com um grande túnel luminoso e logo percebeu que estava de volta ao laboratório. Um sentimento de urgência tomou conta de seu ser. Ele precisava fazer tudo que estava ao seu alcance para impedir que aquele futuro ocorresse, mas algo estava errado. Ele não conseguia se mexer.

Não se sentia paralisado por medo. Na verdade, estava com tanta adrenalina no sangue que conseguiria correr uma maratona. Ainda assim, não conseguia sair do lugar.

Ele então lembrou do viajante que havia lhe mostrado o futuro e tentou olhar em volta para localizá-lo. Sentiu mais uma vez seu coração acelerar pela sensação de inexplicável terror que experimentou ao ver aquele vulto. Ao tentar mover a cabeça, sentiu um leve desconforto na nuca, seguido de um bloqueio, mas ainda conseguiu se mover o suficiente para ver de perto a criatura que atravessou o portal. Ao visualizar aquilo àquela distância, tremeu de pavor.

O grande tubo que se estendia da cabeça da criatura, pelos cálculos do físico, deveria estar conectado de alguma forma à sua nuca. Agora ele percebia que não era um capacete, mas grandes olhos, nos quais milhares de pequenas imagens apareciam em cada segmento ocular. Ao vê-las de perto, ele percebeu que as imagens eram desconexas, mas algumas lhe eram familiares como memórias de infância.

Ele tentou por várias vezes se livrar do abraço da criatura, mas sem sucesso. Sentia suas forças, seu conhecimento e seus sentimentos serem drenados enquanto continuava incapaz de oferecer qualquer resistência. Aos poucos, até seus pensamentos pareciam estar se esgotando e tudo estava mergulhando em uma profunda escuridão.

Então lhe veio o desespero. Aquela angústia que ele sentiu ao visualizar o que o futuro aguardava, mas muito pior do que a primeira vez. Agora, além do fardo daquele conhecimento apocalíptico, havia também o desespero de se sentir impotente de fazer algo para alterar o curso da história. Ele sabia que o que aconteceria era horrível e sentia que seria incapaz de fazer algo a respeito. Sua família e seus amigos estariam no escuro contra a catástrofe que estava para chegar. Ele sentiu todo o remorso pelas coisas que fez e não teve tempo ou coragem de se desculpar. Sentiu um grande arrependimento por tudo que nunca conseguiu fazer.

Naqueles últimos instantes de desespero e pavor, viu a criatura sorrir.

Então, tudo escureceu.

27 Mars 2023 20:18 0 Rapport Incorporer Suivre l’histoire
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