— João vem to... Ah, filho, já acordado? Espero que tenha dormido bem.
— Dormi, mãe. Só acordei, assim, por acaso...
— Então tome café logo. Vou sair.
Ela colocou café na minha xícara e me alertou:
— Acabei de pô-lo na garrafa, está bem quente.
— Posso ir ao parque hoje?
— Pode, pode, claro que pode! Na verdade... deve! Vou à casa da minha prima hoje, não há crianças lá, sei que ficaria entediado. Você vai ao parque e na hora do almoço te buscarei.
— Posso ir agora?
— Tome seu café e pode ir.
Tomei meu café às pressas mesmo estando quente ainda. Peguei um pedaço de bolo de cenoura e corri para o parque.
— Vá com calma, João! Ah essas crianças...!
Corri para o parque, mal via a hora de brincar. Quando eu cheguei lá, comendo o último resquício daquele bolo, não sabia qual brinquedo escolher. Todos pareciam igualmente legais, pensei no escorregador, no gira-gira, mas decidi ir brincar na caixa de areia, havia vários brinquedos para se brincar nela. Talvez eu conseguisse fazer um castelo de areia dessa vez, pensei comigo.
Sentei-me, peguei um balde e uma pá pequena. Comecei a enchê-lo de areia. Quando estava bem cheio, virei-o, mas quando eu retirei o balde o monte de areia desmoronou.
— Não é assim que se faz um castelo de areia!
Quando eu olhei para cima havia uma menina de cabelos loiros cacheados, com olhos azuis cor do céu e um vestido e sapatos brancos. Lembrei-me da cachinhos dourados, personagem de uma história que minha mãe leu para mim.
— Não vai falar nada? Quer saber...
Ela se sentou de frente para mim, como se não importasse que o vestido sujaria, pensando no que me disse perguntei a ela:
— Você sabe fazer castelos de areia?
— Sei! Quer que eu te ensine?
— Aham.
— O primeiro é ir colocando a areia devagar...
Ela não me parecia estranha, talvez parecesse normal demais para ser única. Por bem vestida que estava não parecia ser pobre.
— Você costuma vir aqui? — perguntei para puxar assunto.
— Poucas vezes, quando meu pai deixa.
— Eu também só venho quando minha mãe deixa.
— Eu sei!
— Por que não está amassando a areia?
— Porque ela ficará grudada no balde!
Aquilo me pareceu genial! Nunca tinha pensado em como a arela gruda nas bordas quando eu a amasso. Nem liguei para o que ela disse antes, o castelo parecias mais importante.
Pansei em voltar ao assunto anterior, estava curioso sobre aquela garota.
— Seu pai é muito rigoroso?
— Um pouco, mal me deixa sair, mas eu sei que é para me proteger.
— E a sua mãe?
— Minha mãe morreu.
— Ah, sinto muito.
— Não sinta, ela está em um lugar melhor.
—Meu pai me abandonou quando eu era muito pequeno.
— Eu sei! Agora nós terminamos de encher o balde..
— Vai virá-lo?!
— Vou. Só vou arrumar o local onde virarei.
Eu a via ajeitar a areia com as mãos. Lembrei-me das vezes que eu virava o balde no buraco que fazia para retirar a areia.
— Agora eu vou virar!
— Agora retira o balde!
— Não! Temos que garantir que toda a areia cala.
Ela deu tapas no fundo do balde. Mais uma ideia brilhante daquela menina.
— Eu nunca fiz isso...
— Eu sei disso!
Ela retirou o balde, Aquilo para mim era fantástico! O monte de areia não desmoronou, estava intacto, parecia que ainda estava dentro do balde. Aqueia era a menina mais inteligente que já conheci! Ela ajeitava o pé do nosso castelo para não cair.
— Você conseguiu! Fez um castelo de areia!
— Espero que tenha lhe ajudado.
— Ajudou sim! Agora eu sei como fazê-los, obrigado!
— De nada! Bom, agora tenho que ir. Meu pai está me esperando.
Ela levantou-se, começou a tirar a areia do vestido. De repente lembrei-me de uma coisa.
— Ah! Eu esqueci de perguntar qual o seu nome!
— Maria de Lourdes.
— Espero que possamos nos ver de novo.
— Se meu pai deixar...
— Não vai perguntar meu nome?
— Não preciso, já te conheço de outras épocas.
Naquele momento, não sei o que houve. O sol brilhou forte em minha cara, tive que fechar os olhos por conta da claridade. Quando eu os abri, a garota já não estava mais lá.
— João, vamos!
Era minha mãe. Acabara de chegar por trás de mim.
— Mãe, para onde foi a Maria de Lourdes?
- Quem é Maria de Lourdes?
— A menina que estava a brincar comigo.
— Que menina, João?! Você estava sozinho. Isso deve ser fome! Você mal tomou café da manhã! Venha, vamos almoçar!
Ela me puxou para casa. O almoço passou rápido, nem parecia que tinha comido. Passei o resto da tarde pensando em como Maria de Lourdes desaparecera tão rápido. Esqueci-me dela com o passar dos dias. Nunca mais a vi. Mas nunca me esqueci, e nunca me esquecerei como se faz um castelo de areia.
Merci pour la lecture!
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